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O PERIGO JAPONÊS*
Priscila Nucci**
Resumo: Abstract:
Por meio da análise de uma série de By analyzing Vivaldo Coaracy´s articles
artigos de Vivaldo Coaracy publicados published in the Jornal do Commercio, in
no Jornal do Commercio em 1942 e, 1942, and republished in the book O
posteriormente, reeditados sob o título Perigo Japonês (1942), my goal is to
O Perigo Japonês (1942), busco indicar indicate characteristics of the racist
certas características das imagens e images and speeches against Japanese
discursos racistas contra os japoneses in the period of the World War II. The
no período da II Guerra Mundial. characteristics that stand out are the
Sobressaem como características desses animalization and the dehumanization of
textos, a animalização e a desumanização Japanese and their descendants in Brazil.
dos japoneses e de seus descendentes
no Brasil. Keywords: Vivaldo Coaracy, Anti-
Japanese discourse, Racism.
Palavras-chave: Vivaldo Coaracy,
Antiniponismo, Racismo.
1
Observo que as citações deste livro, utilizadas aqui, obedecerão às regras ortográficas
atuais.
2
“Vivaldo Vivaldi Coaracy (Rio de Janeiro, 1882-1967). Formado em engenharia,
escritor e jornalista, destacando-se como memorialista do Rio de Janeiro”. (Comissão
de Elaboração da História dos 80 Anos da Imigração Japonesa no Brasil, 1988, p. 161).
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A análise sobre as imagens de animalidade inscritas na fonte deve-se muito às reflexões
de Maria Sylvia Carvalho Franco sobre o liberalismo (Cf. FRANCO). Para uma análise
da construção dos imigrantes como perigo para a nação corporificada, Cf. LENHARO,
1986, em especial o capítulo 4: Preconceitos de sangue.
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Grifos meus.
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Grifos meus.
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O Brasil era um dos poucos países que ainda recebiam imigrantes japoneses até o
começo da II Guerra Mundial (vários países haviam proibido a imigração japonesa
para seus territórios, entre os quais os Estados Unidos e outros países sul-americanos).
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“se queremos que no futuro [...] este pedaço da América seja habitado por um
povo branco ou por um povo amarelo” (COARACY: 143).
Para o articulista do Jornal do Commercio, os governos dos países
“civilizados” deveriam, portanto, tomar alguma atitude contra o “perigo japonês”.
As diretrizes apontadas falam claramente em esmagamento do inimigo, de uma
“humilhação inexorável” que atingisse mortalmente o orgulho nacional do Japão,
que destruísse a crença do povo japonês de ser uma raça sagrada (COARACY:
150-1), o que nos remete à utilização posterior das bombas atômicas contra as
cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki e às justificativas dadas pelo
governo norte-americano, além do apoio dado por outros países a esta medida
(Cf. BENEDICT).
E no Brasil, se deveria evitar “o câncer prolífero”, representado pelos
japoneses que não se deixavam, e que nem poderiam segundo o autor e outros
antinipônicos, ser “absorvidos” pelo corpo social brasileiro (COARACY: 156). O
japonês, “etnicamente indigesto”, economicamente um concorrente, cujos filhos
e netos seriam sempre súditos fiéis do imperador do Japão, não poderia mais
ser aceito como imigrante, nem após a guerra, para o que deveriam se congregar
o governo e o Conselho de Imigração e Colonização: