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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DISCIPLINA: RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
PROFESSOR: SANDRO MARTINS DE ALMEIDA SANTOS

GABRIELA FERNANDES KURATOMI MIRANDA


MATRÍCULA: 112926

RESENHA DO TEXTO “UMA ABORDAGEM CONCEITUAL DAS NOÇÕES DE RAÇA,


RACISMO, IDENTIDADE E ETNIA” DE KABENELE MUNANGA

VIÇOSA, MG
2023
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1. O CONCEITO DE RAÇA

No texto apresentado, o professor Kabengele Munanga aborda os termos raça, racismo e etnia,
explicando as origens e usos dos conceitos.
Para o professor, o termo “raça” foi usado primeiramente pelo naturalista Carl Von Linné para
classificar plantas em classes. Porém, apenas em 1684, esse conceito foi utilizado pelo francês
François Bernier para classificar as pessoas através de suas diferenças e assim atuando nas classes
sociais, mas ainda se mantendo nos limites da França. Os francos eram a nobreza, dotados de
sangue puro, em contraposição aos gauleses, os plebeus.
Com a descoberta de povos “diferentes”, os europeus queriam explicações para tal
diversidade. Primeiramente utilizaram a bíblia para descobrir se aqueles povos descendiam de
Adão, porém os iluministas questionaram tais teorias. Assim resolveram utilizar a “raça” para
classificar tal variabilidade racial.
Para classificar os povos eram precisos critérios, e o primeiro a ser utilizado foi a cor da pele,
no séc. XVIII, dividindo a espécie humana em raça branca, negra e amarela. Entretanto, era um
critério artificial, pois pessoas com a mesma cor de pele não são necessariamente geneticamente
próximas, assim como pessoas podem ter cores de pele diferentes e terem ligações genéticas.
Já no séc. XIX, alguns outros critérios foram utilizados para classificar a humanidade, como a
forma do nariz, dos lábios, do queixo, do formato do crânio etc. E no séc. XX usaram o sangue, cuja
química presente nele determinaria a divisão das raças. A junção de todos os critérios dividiu os
povos em dezenas de raças, sub-raças e sub-sub-raças.
Estudiosos dos campos das ciências naturais concluíram que a raça não é algo biológico. Esse
conceito é, na realidade, uma construção social para explicar a diversidade humana, que não existe
para a biologia. Ou seja, utilizar de teorias biológicas para definir as raças não faz sentido, visando
que foram os homens que definiram as diferenças com base em achismos e ideologias, para tentar
explicar a superioridade da raça branca e assim criar uma hierarquização racial, algo que perdura até
hoje. Os europeus queriam legitimar a dominação racial de outros povos que eles consideravam
inferiores e incivilizados.
Sendo assim, é perceptível que o conceito “raça” não passa de uma teoria pseudocientífica,
baseada em ideologias, que acarretaram a hierarquização racial e consequentemente o racismo, que
tem efeitos atualmente, sendo o grande responsável pela desigualdade social. As diferenças raciais
ocorrem a partir de processos adaptativos ao meio em que os povos vivem, por isso não há “raça”
pior ou melhor.
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2. O CONCEITO DE RACISMO

O conceito de racismo surgiu em 1920 e passou por diversas definições e interpretações, o que
dificultou nas buscas por soluções. Ele acredita que as raças são naturalmente hierarquizadas, pois
considera que as características intelectuais e morais de um povo dependem de suas características
físicas e biológicas.
A primeira origem do racismo vem de um mito bíblico, em que cada filho de Noé
representaria uma raça, e um dos filhos, que seria a raça negra, zomba de seu pai e é amaldiçoado a
ter seus filhos escravizados. A segunda origem se baseia na observação das características físicas
que influenciam os comportamentos dos povos.
O racismo parou de se basear na biologia a partir dos anos 70. Isso fez com que outras
minorias, como mulheres, homossexuais etc. usassem desse termo para denunciar os preconceitos
que sofriam, o que acabou esvaziando seu significado real e o banalizando.
Atualmente, esse preconceito se alimenta do conceito de etnia, termo criado em contraposição
à raça, na tentativa de substituir o antigo termo “raça”. Sendo assim, é preciso levar em
consideração as questões históricas e culturais para analisar o racismo hoje em dia, que se molda
baseado em diferenças culturais e identitárias.
O racismo perpetua até hoje, e no Brasil o mito da democracia racial atrasou ações que
buscassem resolvê-lo.

3. O CONCEITO DE ETNIA

A raça se baseia nas características físicas, já a etnia abrange questões socioculturais e


históricas. Dentro de uma “raça” podem haver várias etnias, como por exemplo a etnia Yamato que
está dentro da raça amarela. Um mesmo país pode contar com a existência de variadas etnias,
mesmo possuindo apenas 1 raça, pois nem toda a população necessariamente possui a mesma
cultura, língua, religião e território, havendo assim a necessidade de uma subdivisão.
O racismo se reformulou com base na etnia, por isso não se limita a raça ou traços físicos, e
sim leva em consideração também as identidades culturais. Segundo Kabengele “As vítimas de hoje
são as mesmas de ontem e as raças de ontem são as etnias de hoje”.
Tanto o conceito de raça quanto o de etnia sofrem por manipulações ideológicas. Ao longo da
história, ficou claro que o homem branco buscou legitimar seus preconceitos científicamente, mas
que na realidade sempre colocou acima de tudo suas próprias crenças a fim de se provar superior.

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