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ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS – EFLCH

Curso: História - Vespertino

ENZO AUGUSTO SOARES SIQUEIRA

PRÉ-PROJETO

Guarulhos

2019
Tema

Será abordado neste pré-projeto sobre uma questão um tanto desconhecida da


maioria do povo brasileiro, a organização nacionalista nipo-brasileira conhecida como
Shindo Renmei, ou “Liga do Caminho dos Súditos”, em português, a qual, durante os
anos 40, assombrou e polarizou a colônia japonesa com seu fanatismo; defensora
veemente da tradição japonesa e, em especial do yamato damashii, o “espírito japonês”,
isto é, o conjunto de valores da cultura japonesa. Diz-se de uma polarização visto que os
Nikkei, os japoneses e seus descendentes que moram fora do Japão, fragmentaram-se em
Kachigumi e Makegumi, “vitoristas” e “derrotistas”, respectivamente, após a derrota do
Japão na Segunda Guerra Mundial, os primeiros, representando cerca de 80% da
população, de condições sociais mais precárias, de baixa escolaridade e desejosos de
retornar à sua terra natal, estes negavam a rendição do Japão e compunham a Shindo
Renmei; os segundos, alcunhados de “corações sujos” por sua contraparte, eram
constituídos de indivíduos de maior erudição e adaptação ao território brasileiro, além
de serem detentores de riquezas consideráveis, além de serem alvo dos ataques
daqueles.1

Problemática

Um evento exótico como este pode levantar diversas questões pertinentes, dentre
estas há a contumácia, a teima dos nipo-brasileiros no negacionismo da rendição do
Japão.

Para isso, deve-se compreender os fatores que levaram à insurgência de tal


movimento.

1
DA SILVA, Carlos Leonardo Bahiense, Em nome do imperador: reflexões sobre a Shindo Renmei e sua
campanha pela preservação da etnicidade japonesa no Brasil (1937-1950). Dissertação de Mestrado –
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2006, p. 49.
Dentre estes, observam-se os jornais, por exemplo, o Diário da Noite, o qual
prestou grande cobertura do acontecimento, registrando o isolamento que a colônia
sofreu durante o período da Guerra, em que jornais em japonês e rádios eram proibidos,
bem como a origem desta no ano de 1942 em Marília pelo ex-coronel japonês Junji
Kikawa, em que se destinava, a princípio, na destruição da produção de seda e hortelã,
responsáveis pela criação de paraquedas e de explosivos mais potentes,
respectivamente.2

Ademais, tem-se de levar em conta o ascendente sentimento xenófobo em


relação aos asiáticos, visto novamente no Diário da Noite, com a ilegalidade de escolas
que ensinassem o idioma nativo dos imigrantes3, em apoio a esta ideia, deve-se levar em
conta os escritos de Carlos Leonardo Bahiense da Silva 4 e Fernando Morais5, os quais
descrevem este receio do “perigo amarelo”, principiado pelo caráter inassimilável da
comunidade japonesa, reclusa da sociedade brasileira, não obstante, havia também o
pensamento eugenista, o qual considerava a etnia japonesa como inferior.

Outrossim, um dos aspectos mais marcantes que concebeu a Shindo Renmei e


outras sociedades secretas, como a Zen-Hei-Tai6, foi a educação xintoísta dos japoneses,
que sacralizava a origem de sua pátria e o seu imperador 7, criando uma noção de uma
“invencibilidade” do Japão perante o restante das Nações8, junte isto ao fato de que por
um período de 2600 anos o Japão jamais perdeu uma batalha até a Segunda Guerra
Mundial9.

Consequentemente, num contexto igual a esse, em que se verificou uma


população majoritariamente pobre, sem meios de comunicação acessíveis para se
informar das notícias que percorrem o mundo e que tem o costume de venerar seu

2
História do Terrorismo Nipônico – Diário da Noite – São Paulo – 11 de maio de 1951 – Edição 08093 –
p. 9.
3
Cem Escolas Japonesas Foram Fechadas nos Últimos Quatro Anos na Alta Paulista – Diário da Noite –
São Paulo – 4 de abril de 1946 – Edição 06550 – p. 1.
4
DA SILVA, Carlos Leonardo Bahiense, Em nome do imperador: reflexões sobre a Shindo Renmei e sua
campanha pela preservação da etnicidade japonesa no Brasil (1937-1950). Dissertação de Mestrado –
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2006, p. 17.
5
DE MORAIS, Fernando Gomes, Corações Sujos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 26.
6
Articula-se a Organização Terrorista “Zen-Hei-Tai” – Correio Paulistano – São Paulo – 5 de novembro
de 1952 – Edição 29625 – p. 2.
7
DA SILVA, Carlos Leonardo Bahiense, Em nome do imperador: reflexões sobre a Shindo Renmei e sua
campanha pela preservação da etnicidade japonesa no Brasil (1937-1950). Dissertação de Mestrado –
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2006, p. 5.
8
Matou um Patrício e Feriu Outros Três – Diário da Noite – São Paulo – 11 de março de 1952 – Edição
08342 – p. 2.
9
DE MORAIS, Fernando Gomes, Corações Sujos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 8-9.
soberano, contemplou-se uma significativa aprovação popular, com possíveis centenas
de milhares de associados, gerando arrecadações de milhões de cruzeiros por mês10;
uma sabotagem sistemática das lavouras realizada por aproximadamente metade do
contingente dos Nikkei11, altamente armados12 e propulsores de pesada propaganda para
a persuasão de seus compatriotas13.

Além disso, essa exacerbada resistência dos Kachigumi é observada mesmo após
a decadência da Shindo Renmei, na ação de outros agrupamentos similares, como Zen-
Hei-Tai a qual continuava a perseguição contra os “corações sujos”, todavia seu ápice
foi visto em pleno 1946, ano de radicalização da Liga do Caminho dos Súditos, já que,
numa reunião das personalidades mais importantes da colônia japonesa no Palácio dos
Campos Elíseos, onde o embaixador Macedo Soares tentaria convencê-los a abdicar de
seu radicalismo, contudo ele não estava sozinho, estava presente o representante
diplomático da Suécia, que era igualmente o encarregado dos interesses japoneses no
Brasil, este proferiu os dizeres do próprio imperador Hirohito contidos num rescrito,
cujas palavras insinuavam que seus súditos no Brasil deveriam conformar-se com a
“dolorosa verdade”, entretanto, eles, pelo contrário, demonstraram-se rígidos e
inflexíveis, como já o fizeram anteriormente, mesmo perante as afirmações de seu
monarca14.

Por último, antes de finalizar este texto, mostra-se necessário lembrar que as
forças brasileiras não permaneceram imóveis diante do que acontecia, invocando, para
isso, a figura do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS), fato este
verificável na obra de Rogério Dezem15.

10
A Organização Possuía mais de Cem Mil Associados – Diário da Noite – São Paulo – 4 de abril de
1946 – Edição 06550 – p. 10.
11
Sabotagem Sistemática de Cerca de 50 por cento da Colônia Japonesa – Jornal de Notícias – São Paulo
– 12 de abril 1946 – Edição 00001 – p. 12.
12
Grande Quantidade de Armas em poder da “Shindo Remmei” – Diário da Noite – São Paulo – 5 de
abril de 1946 – p. 8.
13
E por que as Vítimas Sucumbem? – Diário da Noite – São Paulo – 2 de abril de 1946 – p. 10.
14
Eles não Entendem... – Jornal de Notícias – São Paulo – 21 de julho de 1946 – p. 2.
15
DEZEM, Rogério Akiti. Shindô-renmei: Terrorismo e Repressão – Inventário DEOPS Módulo III –
Japoneses. São Paulo: Arquivo do Estado/Imprensa Oficial, 2000, p. 208.
REFERÊNCIAS

DA SILVA, Carlos Leonardo Bahiense, Em nome do imperador: reflexões sobre


a Shindo Renmei e sua campanha pela preservação da etnicidade japonesa no Brasil
(1937-1950). Dissertação de Mestrado – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
Seropédica, 2006, p. 141.

Este artigo de Carlos Leonardo Bahiense da Silva é relevante para este pré-
projeto visto seu olhar aprofundado sobre o tema e um foco mais ampliado em questões
sociais envolvendo a Shindo Renmei.

DE MORAIS, Fernando Gomes, Corações Sujos. São Paulo: Companhia das


Letras, 2000, p. 316.

Já este livro destaca-se pela precisão cirúrgica com que trata e narra as ações e o
percurso tomado pela Shindo Renmei, sendo essencial para uma melhor compreensão do
assunto para todos aqueles que se interessarem.

DEZEM, Rogério Akiti. Shindô-renmei: Terrorismo e Repressão – Inventário


DEOPS Módulo III – Japoneses. São Paulo: Arquivo do Estado/Imprensa Oficial, 2000,
p. 208.

Por fim, tem-se o livro de Rogério Dezem, o qual faz parte de uma coletânea de
obras que retratam documentos pertencentes ao DEOPS, neste caso, envolvendo os
japoneses.

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