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Don Fausto escribía en cualquier momento, a veces en el mismo libro que leía,
o en un papelucho que encontraba por ahí; también se empeñó en dejar escrito
retazos de su vida en varios de sus libros publicados, en la idea de que no le
iba a quedar tiempo para publicar su autobiografía. Siempre con la sospecha
de que iba a ser asesinado o morir a causa de cualquiera de sus dolencias, que
en la última etapa de su vida arreciaron. Y también porque cada edición de sus
obras era un vía crucis, aparte del parto difícil de parir cada obra. (REINAGA,
Hilda, 2014: 12)
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Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), doutorando em História, apoio CAPES.
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da história para um futuro em que a sociedade retorne à perfeição uma vez conquistada, não
abrindo mão do desenvolvimento técnico e tecnológico benéfico para esse processo.
Assim, Reinaga pôde negar o marxismo, a filosofia europeia, e a história oficial e buscar
a construção de um pensamento índio a partir de suas próprias referências culturais. No entanto,
a filosofia da história ocidental e moderna, cujo personagem Fausto é a grande representação
literária e cujo nome foi adotado por José Félix Reinaga como nome próprio1, manteve-se
impregnada no discurso e no pensamento reinaguista e sobre esta questão este ensaio se detém.
A escolha do nome Fausto (baseado em Goethe) e o sentimento de ser o próprio, parece ser o
vestígio inicial que mostra a importância da filosofia da história moderna para o pensamento de
Reinaga.
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José Félix Reinaga era seu nome de batismo. Segundo ele próprio, o nome Fausto foi adotado no período em que,
após o secundário, conheceu a obra de Goethe. “Años después de haber dejado el colegio secundario, junto al
poeta Octavio Campero y al filósofo Francisco Lazcano, me sumergí en el oleaje desbordante del mundo
intelectual. Era la época en que me topé con Goethe. Leí su vida y su obra. Me aprendí de memoria los pasajes de
su amor con Margarita. Por encima de la distancia, tiempo, época, y lugar que me separaba de la núbil doncella y
del viejo taumaturgo, no sólo que yo me creía, sino que me sentía aquel ‘Fausto’ de Goethe… Sepulté mi nombre
de pila ‘José Félix’ y me puse el nombre de Fausto” (REINAGA, 2014: p. 44) Negrito do autor.
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As divisões do pensamento de Reinaga aqui utilizadas estão proposta por CRUZ (2014).
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aquelas que viviam alheias à sociedade branca que dominava o poder político e econômico. Já
o indigenismo, aliado principalmente do marxismo através da leitura dos marxistas peruanos
Mariátegui e Val Cárcel, deu ao autor a percepção de que a “maioria nacional”, de origem índia,
seria a grande responsável pelas mudanças sociais necessárias e apontadas pelos dois pontos
anteriores. Aqui a visão sobre o índio ainda estava subordinada à necessidade da revolução
socialista/comunista e a construção nacional boliviana. Veremos mais à frente a mudança desse
ponto que sai do indigenismo para o indianismo.
Nesta etapa, a escrita sobre a história boliviana e a análise produzida por Reinaga estava
preocupada em solucionar os problemas nacionais que, em geral, estavam ligados à pobreza de
grande parte da população, formada quase que exclusivamente por índios. Essa preocupação
fazia parte das preocupações de outros intelectuais bolivianos desde o século XIX, era a
“questão indígena”. Assim, Reinaga vai em busca das explicações históricas para essas
problemas e tenta oferecer respostas que possam permitir o desmantelamento dessas condições
que atrasavam o país. A defesa de Fausto no início de seu primeiro livro, intitulado Mitayos y
Yanaconas, de 1940, é clara acerca da questão:
Quien se sienta sinceramente nacionalista, debe ante todo, saber dónde actúa
y qué se propone. Conocer y amar a su tierra, a su pueblo. Conocer y amar a
su tierra, a su pueblo. Conocer con la ayuda de todos los medios que la
civilización pone al alcance del hombre. Y a la luz de la verdad y la ciencia;
de la experiencia y realidad, esculpir, hacer en su alma y corazón: convicción
y fe de nacionalidad. Y el primer paso del conocimiento es comprender, a
través de la historia la cuestión social palpita en la carne de Bolivia.
(REINAGA, 1940: 9)
autoritário, o partido buscava tomar o poder e modernizar a nação, pauta cara inclusive para um
nacionalista de esquerda como Reinaga.
Entre 1940 e 1953, após a Revolução de abril de 1952, levada à cabo pela população em
armas e que colocou no poder o MNR sob a liderança de Victor Paz Estenssoro, Reinaga
publicou diversos livros, são eles: Victor Paz Estenssoro (1949), Nacionalismo Boliviano
(1952) e Tierra y Libertad (1953), Belzu. Precursor de la revolución nacional (1953), Franz
Tamayo y la revolución boliviana (1956), Revolución, Cultura y Crítica (1956), El pensamiento
mesiánico del pueblo ruso (1960) e Alcides Arguedas (1960). Nestes livros a sua preocupação
estava voltada para a história e a definição da nação e do nacionalismo que lhe daria origem e
para a liderança que despontava naquele momento, além dos intelectuais que tratavam do
“problema indígena” na Bolívia. Os últimos livros desta fase, de Revolución, Cultura y Crítica
pra frente, são o período de transição para o Indianismo, onde as questões filosóficas, éticas e
históricas começam a ser discutidas mais profundamente. Todos esses livros, compõem, junto
à Mitayos y Yanaconas, a primeira etapa do pensamento de Reinaga, segundo a proposição de
Gustavo Cruz (2014).
A atuação política (tendo sido deputado) e dentro do partido que chegou ao poder
executivo, permitiu a Reinaga ter uma visão geral sobre o processo histórico-político que criava
a institucionalidade boliviana e que organizava a sociedade de tal forma que a maioria da
população, índia, permanecia afastada da vida nacional pela própria maneira como eram
conduzidas as políticas do Estado, mas também como as relações eram mediadas por um
racismo entranhado nas elites políticas e econômicas, mesmo aquelas que se diziam
nacionalistas ou de esquerda. Sua desilusão com o resultado da Reforma Agrária decretada em
1953, fez com que a primeira “crise de consciência” de Reinaga se desenrolasse e permitisse a
formulação da ideia de que o índio deveria ser responsável pela sua própria libertação, uma vez
que o Estado boliviano tinha sido construído no intuito de alijá-lo do poder por uma posição
racista difundida desde o período colonial.
Em sua autobiografia, Reinaga afirma esse primeiro momento como aquele de sua
tomada de consciência índia. A narrativa de Fausto sobre esses anos busca mostrar sua atuação
política e sua escrita conjugadas na luta pela maioria nacional (como ele se referia à população
índia por ser ela, de fato, a maior parte da população), porém sem o apontamento das questões
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raciais que impediam os avanços políticos. Esta fase está intrinsecamente ligada à ação política
em uma Bolívia nacionalista pós-Guerra do Chaco. Ao final deste período, desiludido com a
Revolução de 1952, o autor, já com seus 46 anos, passa a tentar explicar os fracassos que viu
de 52 e reinterpretar as possibilidades revolucionárias para a Bolívia a partir de um novo
paradigma, qual seja, a condição de subalternidade do índio está baseada num pensamento
colonizado e racista da elite branca-mestiça que vê o índio como um ser inferior a partir dos
padrões europeus. Assim, surge a segunda etapa, a Indianista.
Indianismo
Antes dessa segunda etapa, Reinaga tinha passado por uma intensa vida política que o
levou a diversas partes do mundo, inclusive a União Soviética (URSS) quando, segundo ele,
pôde perceber as limitações do modelo marxista que excluía indivíduos por suas ascendências
étnicas, que queria apagar as diferenças em prol de um modelo ocidental de humanidade. Para
o autor, a experiência que teve na URSS e a subsequente ida a Espanha franquista, lhe deu
subsídios para entender que o problema estava na filosofia ocidental que gestava os regimes
despóticos e autoritários, fossem de esquerda ou de direita, e que subalternizavam as pessoas
não-brancas. Nesse sentido, as leituras de Franz Fanon também lhe ajudaram a tomar essa
posição.
A fase indianista foi frutífera em termos de publicações, nela Reinaga publicou El Cuzco
que he sentido (1963), El indio y el cholaje boliviano. Proceso a Fernando Diez de Medina
(1967), La intelligentsia del cholaje boliviano (1967), El indio y los escritores de América
(1968), a triologia central do Indianismo, La Revolución india (1970), Manifiesto del Partido
Indio (1970) e Tesis india (1971) e, por fim, América india y Occidente (1974). Nesse período
o foco principal de Reinaga esteve voltado para o problema histórico da subalternidade do índio
e da necessidade da uma revolução. A comparação foi um recurso muito utilizado pelo autor,
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uma vez que buscava demonstrar as virtudes índias em contraposição aos defeitos da sociedade
ocidental que, segundo ele, impregnavam o pensamento inclusive de índios e mestiços e que
seria responsável pelos problemas das sociedades americanas, notadamente aquelas com
maiorias índias, por isso a busca por tratar de temas como o pensamento intelectual criolo.
Em seu livro El indio y el cholaje boliviano Reinaga faz uma forte crítica à Fernando
Diez de Medina, escritor pretensamente indigenista que o autor vê como símbolo do
pensamento colonizador da elite branca-mestiça boliviana. A citação é longa, mas demonstra
bem tanto a posição de Reinaga sobre o índio como sobre a elite intelectual branca-mestiça
encarnada em Diez de Medina.
Un pueblo oprimido, una Nación explotada, una raza discriminada, segregada
y esclavizada, que por paradoja constituye las nueve décimas partes de la
población de Bolivia, con una clara conciencia de su situación y condición, no
puede desear ni hacer otra cosa en la vida, que luchar por su libertad. Luchas
hasta la victoria de su propia Revolución: La Revolución india que: a) barrerá
de la conciencia social y de los hechos, la infamia de la segregación racial que
con tanta saña practica el cholaje contra el indio; b) que las riquezas naturales,
como el oro, el petróleo, el estaño, el hierro, la goma, la castaña, la lana de
vicuña, alpaca, etc., los cholos no entregará ya al imperialismo yanqui, sino
que quedarán para beneficio de los hijos de Bolivia; c) al indio que solloza
hambriento, semidesnudo, descalzo, analfabeto, al indio que duerme sobre
tierra pelada, sin luz ni calor, al indio que no tiene Patria, al indio esclavo y
apátrida la Revolución india le dará una Patria, pero sobre todo le dará Poder,
para rehacer en el viejo Kollasuyu una sociedad justa y libre, vale decir, una
Patria democrática y socialista.
El escritor Diez de Medina no entiende este lenguaje. Su espíritu cholo se
asusta como si se presentaran a su vista desbocados los caballos del
Apocalipsis. El quiere al indio (1) un manso animal; eterno asno de
explotación. El quiere al indo, igual que a su montaña, hecho un paisaje y nada
más. Un paisaje, para hacer retratos, cuadros de estérica literaria,
disquisiciones mitológicas o “filosóficas”. Lo que quiere al indio y su Titicaca,
su altipampa, su Illimani, su Tiahuanacu y su Calamarca; lo quiere al indio y
a “su eterna compañera” la esbelta llama; lo quiere en fin, al indio y a su
cadena de montañas de armiño, solamente, exclusivamente y taxativamente
como “materia prima” de negocio literario lucrativo contante y sonante.
(REINAGA, 1964: 77-79)
Neste trecho, Reinaga expressa, através de sua crítica a Diez de Medina, a crítica que
ele faz aos intelectuais brancos-mestiços que, em geral, viam os índios como peças exóticas que
ficavam lindas em telas e livros, mas que não tinham poder transformador e que eram primitivos
por natureza. Ao mesmo tempo, Reinaga contrapõe uma posição inversa, onde o índio pode ser
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produtor de seu destino, um destino virtuoso não somente para si, mas para a sociedade como
um todo.
Essa fase do pensamento de Reinaga corresponde à sua atuação no sentido de produzir
um partido índio, haja vista a experiência traumática com os partidos que fez parte no período
anterior. A desilusão com o marxismo e com o nacionalismo branco-mestiço, fez Reinaga
buscar alternativas, a principal delas é o Indianismo que produziria uma Revolução e que
precisaria organizar os índios em torno desse projeto através de um partido de índios. Em sua
autobiografia esse momento aparece como aquele fruto de uma epifania causada por suas
viagens, principalmente para Cuzco, onde refletiu sobre a grandeza da sociedade inca que foi
perdida mas que poderia ter seus valores retomados, uma vez que eles ainda estariam presentes
na população índia.
Novamente, a experiência e a busca de um caminho para sua vida levou Fausto Reinaga
a modificar seu pensamento. Uma vez mais, a filosofia da história moderna aparece como
elemento articulador desse pensamento e da proposta. Um passado exemplar que gera uma
consciência política que produz, no presente, uma mudança que levará a uma Revolução
inevitável, sendo o futuro a consequência imediata dessa revolução.
Esta etapa do pensamento de Reinaga também sofreu grande influência da tensão da
Guerra Fria. Ao mesmo tempo em que o autor se transforma num fervoroso anticomunista, ele
também se torna um ferrenho antiocidente. Para ele, o comunismo ou o liberalismo são frutos
da mesma matriz ideológica e filosófica do ocidente, portanto, produzem os mesmos problemas
para a humanidade. A guerra atômica, para ele, é o símbolo da destruição produzida pela
filosofia ocidental, e nela é possível enquadrar tantos a potência capitalista quanto a potência
comunista. Para Reinaga, o caminho seria uma outra filosofia, uma que produzisse uma
sociedade diferente da ocidental e, para ele, essa filosofia deveria sair dos índios ou outros
povos autóctones da terra conhecidos como indígenas. Essa posição tomou cada vez mais força
no pensamento de Reinaga e criou uma nova “crise de consciência” que o levou a rejeitar o
Indianismo e propor o Amautismo, ou pensamento amáutico, como alternativa à razão e ao
pensamento ocidentais.
Amautismo
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Sol es quien engendra, quien hace la vida de los seres terrestres. Porque sin el
Sol no hay vida, no hay pensamiento. En consecuencia, el hombre piensa
gracias al fluido del Padre Sol. El pensamiento, de una u otra manera es
energía hecha luz, luz solar.
Pensar es conocer. Saber.
¿Conocer qué? ¿Saber qué?
Conocer, saber qué es, cómo es, para qué es: “Lo que Es”. Y, ¿qué es lo que
Es”?
El Cosmo es “lo que Es”.
¿Qué existe? Existe el Cosmos. El Cosmos es el Ser.
Y, ¿qué es el hombre? ¿Cuál su destino? Para qué existe?
El hombre es la conciencia del Cosmos. Su destino es ser Cosmos consciente.
Existe para la Verdad, la Libertad y el Bien. (REINAGA, 1978: 26-27)
A contraposição que Reinaga criou buscava afirmar uma ideologia humanista total,
porém, partindo de uma concepção holística da vida e não mais de uma concepção
antropocêntrica ou teocêntrica que caracteriza o pensamento ocidental, segundo ele. O
amautismo seria então a alternativa, e retiraria suas premissas e seu fazer dos povos índios não
somente das Américas, mas também do mundo todo, em busca dessa vida holista, de volta a
uma vida de contato integral com a Terra, na busca do bem total. A Revolução passa a ser uma
ação interna de cada pessoa, não mais um movimento social que produziria uma mudança, mas
um movimento existencial que produziria um futuro harmonioso.
Apesar dessa forte mudança no caráter de seu pensamento, Reinaga permanece com
uma concepção de filosofia da história moderna, como venho apontando desde o início deste
ensaio. A ideia de um curso linear em que o passado, o presente e o futuro estão intrinsecamente
ligados e respectivamente subordinados, está presente ainda no pensamento amáutico, porém,
nesta fase, há uma busca por parar esse tempo, a negação dele próprio. Ou seja, ao acreditar
que existe esse processo de sucessão infinito, o autor busca alternativas para pará-lo, para fazê-
lo tomar novo curso.
Nesse processo, Reinaga continua sua posição de negar o tempo presente, assim como
fez negando o nacionalismo dos anos 40 e 50, negando a Revolução de 52 e negando o
movimento indianista possível nos anos 70, pra citar os exemplos já citados anteriormente.
Assim, a ânsia moderna da negação do presente, base da concepção de Filosofia da história
moderna, está claramente presente em toda a obra de Reinaga. Para deixar mais clara essa
questão, cito as palavras de Michael Jaeger de sua análise sobre o pensamento revolucionário
moderno:
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Tanto para a revolução política como para a revolução econômica dessa época,
o princípio da negação é constitutivo. Isso se torna particularmente evidente
no âmbito da política revolucionária, a qual nega continuamente o estado de
coisas vigente, reconhecido como corrupto e, portanto, como inimigo mortal.
Na consciência dos revolucionários, o processo movido pela revolução é
idêntico ao processo do movimento histórico. As sentenças proferidas pelos
tribunais da Revolução, assim o quer a autoconsciência revolucionária, estão
integradas à lógica processual da história e, como negação permanente do
respectivo presente político e social, promovem e executam o progresso.
(JAEGER, 2007: 312)
Assim, Fausto Reinaga mantém uma lógica moderna de pensar o curso da História, ou
seja, usa a Filosofia da História moderna, mas modifica seu pensamento a partir de sua
experiência de vida, de acordo com o que estou chamando aqui de Filosofia de vida, entendida
como o conjunto de premissas (e as ações que delas derivam) que organizam o viver individual,
sendo essas premissas de caráter moral, ético, histórico, político e econômico.
Considerações finais
Fausto Reinaga foi um militante e um intelectual. Viveu sua vida na política e na escrita,
sendo uma complemento da outra. Por sua formação inicial e sua atuação, Reinaga se deparou
com os problemas centrais da sociedade boliviana e buscou respostas históricas para eles.
Assim, a cada nova fase de vida em que viveu e agiu sobre seu contexto, pôde pensar e formular
seu pensamento, seu marxismo, seu indianismo e seu amautismo. Os contextos da vida de
Reinaga fazem parte de sua obra, como não poderia deixar de ser, uma vez que ela é fruto dos
embates da vida individual e coletiva do seu autor com a sociedade em que viveu.
Por isso, me parece que a autobiografia exposta em seus livros não é apenas um
movimento pela busca de contar a própria história, mas a prova de que a vida do autor estava
intimamente ligada com o que ele pensava, ou melhor ainda, sua vida lhe dava os problemas e
as possibilidades de buscar soluções. Na obra de Reinaga, a vida não aparece apenas como parte
inseparável de qualquer obra humana, mas aparece como aquela parte que dá motivo, razão,
ímpeto, mote, empiria e direção para a obra e imprime nela as suas vicissitudes, suas mudanças,
suas reviravoltas. O devir do autor impulsionou a obra, criou-lhe fraturas, mudou-lhe o
caminho.
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Referências
CRUZ, Gustavo R. Los senderos de Fausto Reinaga. Filosofía de un pensamiento indio. La Paz:
Plural Editores, CIDES-UMSA, 2013.
________. (1970) La Revolución india. 2ª ed. La Paz: Ediciones Fundación Amáutica Fausto
Reinaga, 2001.
________.: Tierra y libertad. La revolución nacional y el indio. La Paz: Ediciones Partido Indio
de Bolivia, 1953.
REINAGA, Hilda. Prefacio. In: REINAGA, Fausto. Mi vida. La Paz: Ediciones Fundación
Amáutica Fausto Reinaga, 2014