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A
ção Direta, uma etnografia
Um livro deste tamanho não é comum nos dias de hoje. Certamente não tinha sido meu
plano inicial. Quando decidi começar a escrever algumas de minhas experiências sobre Ação
Direta sob uma perspectiva etnográfica, tinha a intenção de escrever um livro mais ou menos
curto. Mas, quanto mais escrevia, mais o tema parecia se desenvolver. Percebi que estava
diante de um dilema muito comum da escrita etnográfica: questões que pareciam simples e
óbvias a qualquer um que tenha passado anos entre um determinado universo cultural, mas
que necessitam de muita didática para transmitir a alguém que não teve tais experiências. Algo
parecido aconteceu comigo quando voltei à Chicago de minha pesquisa de dissertação, feita em
Madagascar, há muitos anos atrás. Lembro que me preocupava o quanto que tinha para falar.
Senti que no máximo tinha duas ou três observações interessantes sobre a comunidade que
estava estudando. Então, no momento em que comecei a escrever, percebi que para explicar
todas minhas observações a alguém que não era de uma comunidade rural Malagasy,
demandaria pelo menos 100 páginas. Quando terminei de escrever, percebi, também, que a
maioria dos leitores provavelmente achariam a dissertação mais interessante do que qualquer
coisa que pensava ser “A questão principal”.
Considere este livro, portanto, um tributo à contínua relevância da escrita etnográfica.
Por “Escrita etnográfica”, me refiro àquela que visa descrever os contornos de um universo
social e conceitual, de modo que seja teoricamente atualizado, mas não, em si mesmo,
simplesmente desenvolvido para defender um argumento único ou teoria. Houve uma época
em que a descrição minuciosa de um sistema político, cerimonial ou de troca na África ou na
Amazônia era considerada uma valiosa contribuição, em si mesma, ao conhecimento humano.
Não é mais o caso. Um antropólogo vindo da África ou Amazônia, e até mesmo de algumas
partes da Europa, ainda pode se livrar de escrever tais descrições. Atualmente, o consenso
acadêmico nos Estados Unidos (o qual um jovem estudante seria ingênuo em ignorar) é o de
que seria necessário fazer de conta de que os relatos etnográficos de alguém são realmente
feitos para se ter uma observação mais abrangente. O que é realmente uma pena. Por um lado,
acredito que limita o potencial do livro de sobreviver ao longo do tempo. Etnografias clássicas,
afinal, podem ser reinterpretadas. Novas etnografias- mesmo sendo engenhosas- dificilmente
apresentam materiais suficientes que permitam uma possível releitura; e seu conteúdo tende a
ser precisamente orientado em torno de um argumento específico ou catálogos de argumentos
relacionados.
Portanto, aviso ao leitor: Não existe, particularmente, um argumento específico neste
livro- a não ser o de que o movimento aqui descrito vale muito a pena ser estudado e refletido.
Isto não significa que está desprovido de argumentos teóricos. Faço alguns deles ao longo do
livro: sejam eles sobre o papel ideológico de grandes e extensos objetos de estudo, as
implicações políticas da palavra “opinião”, a similaridade entre a escrita de notícias em jornais
e a escrita épica de Homero ou o papel cosmológico da polícia na cultura Americana. O que faz
deste livro um trabalho etnográfico no sentido clássico do termo é, como coloca Franz Boas,
que o geral está a serviço do particular- exceto, talvez, às reflexões finais. A teoria é utilizada
para ajudar na tarefa da descrição. Anarquistas e movimentos de Ação Direta não estão nas
ruas para permitir que um acadêmico faça um apontamento teórico ou para dizer que uma
teoria rival está errada (mais do que fazem a ideia de rituais de transe Balineses ou tecnologias
de irrigação Andinas), e faz de mim um arrogante sugerir o contrário.
Prefiro pensar que, como resultado, o interesse neste livro pode permanecer não
apenas para aqueles que, motivados por uma curiosidade histórica, desejam entender como foi
estar presente nesses eventos, mas para perguntar as mesmas questões que os atores presentes
nesses movimentos estavam fazendo, sobre a natureza da democracia, autonomia e as
possibilidades- ou, nesse caso, dilemas, limitações- de estratégias de ações políticas
transformadoras.
Alguns Agradecimentos
É muito difícil escrever agradecimentos em um livro como esse. Não se pensa facilmente em
incluir todos por medo de sugerir que alguém é menos digno de agradecimentos. Mas posso
começar por agradecer o amor e apoio de meus amigos e família, e meus apoiadores em Yale
durante os eventos lamentáveis que ocorreram, até certo ponto, como resultado na própria
pesquisa em que este livro se baseia. No período durante o qual eu estava conduzindo minha
pesquisa, e depois a escrita, esse livro foi um estresse contínuo e uma tragédia pessoal:
marcado por uma grave doença e eventual morte de meu irmão e minha mãe, tudo isso junto
ao cenário de ter que lidar com campanhas intermináveis e bizarras de alguns elementos no
corpo docente de Yale que estavam aparentemente determinados a me demitir de qualquer
maneira. Não entrarei em detalhes, mas gostaria de agradecer, primeiramente, meus colegas
de Yale que me deram todo suporte e senso de comunidade que tornou a convivência neste
lugar possível: Jennifer Bair, Bernard Bate, Richard Burger, Kamari Clarke, Hal Conklin,
Michael Denning, Saroja Dorairajoo, Ilana Gershon, Paul Gilroy, Thomas Blum Hansen,
Natalie Jerimijenko, Bun Lai, Enrique Mayer, Sam Messer, Marilda Menezes, John Middleton,
Karen Phillips, Dhooleka Raj, Iman Saca, Lidia Santos, Jim Scott, Mary Smith, John Szwed,
Thomas Tartaron, Frederic Vandenberge, Immanuel Wallerstein, David Watts, e Eric Worby,
para nomear alguns. Amigos e colegas fora de Yale que me deram ajuda e me encorajaram
neste projeto formam uma lista longa demais. Eu gostaria de também agradecer, por nome,
todos os que me ajudaram depois que o departamento decidiu rescindir meu contrato, mas isso
seria impossível. Quase cinco mil pessoas assinaram a petição que os estudantes de Yale
criaram; vários departamentos (Chicago, Sussex, Glasgow, Manchester) e organizações indo de
Global Studies Association ao Canadian Union of Postal Workers escreveram cartas coletivas
ao departamento pedindo explicações (é claro que não receberam nenhuma), assim como
fizeram vários acadêmicos individualmente. Acima de tudo, eu gostaria de agradecer aos
estudantes da Yale, e novamente esta lista não é de forma alguma compreensiva- e fortemente
ponderada para aqueles que eu vim a conhecer nos meus últimos anos em Yale- mas eles
sempre foram minha maior inspiração ali: Muhammad Ikraam Abdu-Noor, Ahmed Afzal,
Colleen Asper, Ping-Ann Ado, Omolade Adunbi, Nikhil Anand, Caitlin Barrett, Kalanit
Baumhauft, Ben Begleiter, Nina Bhatt, Rebecca Bohrman, Sheridan Booker, Devika Bordia,
Lisa Allette Brooks, Elizabeth Busbee, Lucia Cantero, David Carston-Knowles, Durba
Chattaraj, Linda Chhay, Kate Clancey, Robert Clark, Seth Curley, Anthony Dalton, Amelia
Frank-Vitale, Antonios Finitsis, Thomas Frampton, Emily Friedrichs, Ajay Gandhi, Vladimir
Gil, Josh Gordon, Jessica Gussberg, Annie Harper, Joseph Hill, Emily Hitch, Jennifer Jackson,
Nazima Kadir, Kristin Kajdzik, Csilla Kalocsai, Brenda Kondo, Adrian LeCesne, Moon-Hee
Lee, Kat Lo, Molly Margaretten, Andrew Mathews, Madeleine Meek, Christina Moon, Yancey
Orr, Simon Moshenberg, Jason Nesbitt, Nana Okura, Juan Orrantia, Jonathan Padwe, Richard
Payne, Anne Rademacher, Mieka Ritsema, Elliot Robson, Phoebe Rounds, Arian Schulze, Colin
Smith, Olga Sooudi, Sarah Stillman, Will Tanzman, Jordan Trevino, Karen Warner, Kristina
Weaver, e Tiantian Zhang.
Referir-me aos meus amigos ativistas traz um problema ainda mais estranho: é bem difícil
saber quem eu posso chamar pelo nome- isto é, aqueles cujos nomes legais eu realmente sei. Eu
vou dizer apenas alguns, porque sei que eles não se importariam: Majeed Balavandi, Autumn
Brown, Ayca Cubukcu, Crystal Dubois, Mike Duncan, Todd Eaton, Neala Byrne, Beka
Economopolos, Stefan Christoff, Shawn Ewald, Heather Gautney, Andrej Grubacic, Harry
Halpin, Eric Laursen, Bob Lederer, Brooke Lehman, Yvonne Liu, Daniel McGowan, Michael
Menser, Dyan Neary, Ana Nogueira, Priya Reddy, Ramor Ryan, Mac Scott, Danielle Leah
Sered, Ben Shepherd, Stephven Shukaitis, Marina Sitrin, John Tarleton, Lesley Julia Wood. A
todos da DAN de NY e a ACC; todos da IWW e a recém-fundada SOS; todo mundo que
procurou pelos rascunhos, ou fragmentos destes, para pontuar inúmeras coisas que entendi
errado; mas, de verdade, todos aqueles cujos nomes aparecem nesse texto merecem meus
agradecimentos, e muito mais. Essas são as pessoas que me deram um novo senso de
esperança para o mundo em um momento que poderia ser o pior da minha vida. Não tenho
nada mais do que amor por essas pessoas.
Obviamente existem alguns indivíduos que devo destacar: Lauren Leve, first and foremost,
Eric Graeber, Ruth Graeber, Andrej Grubacic, Nhu Le e Stuart Rockefeller. Gostaria de
agradecer Charles Weigl, meu editor, e todos da AK Press.
Comecei este projeto com nada mais do que eu e meu próprio otimismo. Eu o persegui com um
entendimento cada vez maior que, não importa o quão sombrio e quão perigoso os lugares que
alguém pode estar, viver como um rebelde- com a constante consciência das possibilidades de
transformação revolucionária e entre aqueles que sonham com isso- é certamente a melhor
maneira que alguém pode viver.