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Recursos de apoio ao desenvolvimento do

processo de RVCC, nível secundário

Área de Competências-Chave

Cultura, Língua e Comunicação

RECURSOS DE APOIO À EVIDENCIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Núcleo Gerador 5 – TECNOLOGIAS DE


INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
DR3 – Tema: Media e Informação

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Tema 3: Media e Informação
COMPETÊNCIA: Relacionar-se com os mass media, reconhecendo os seus impactos na
constituição do poder mediático e tendo a percepção dos efeitos deste na regulação
institucional.

Meios de comunicação social (mass media)


“Mass media” é uma palavra inglesa que significa intermediário ou suporte de massas.
Os “mass media” são ao mesmo tempo canais de difusão e meios de expressão que se dirigem não a
um indivíduo personalizado mas a um “público-alvo"
definido por características socioeconómicas e
culturais, em que todos os recetores são anónimos.”
(A. Moles, La Communication et les mass media,
Gérard-Marabout, 1971)
O telefone não entra na categoria dos “mass
media". O cinema, a rádio, a televisão, a internet, a
imprensa, o livro (com algumas reservas), a publici-
Disponível na Internet:
http://hubpages.com/entertainment/Thepowerofthemassme
dade mural são “mass media". O teatro, na sua forma
diainAmerica social corrente, é-o sob
A minha aldeia
fortes reservas: não
existe nele um caráter de amplificação devido ao medium em si, nem ao Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
anonimato do público-alvo.
Aqui me encontro e confundo
Marc Angenot, Glossário da crítica contemporânea com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence.

Bate o sol na minha aldeia


Mundo em toda a parte com várias inclinações.
Angulo novo, nova ideia;
outros graus, outras razões.
Hoje, as notícias chegam no mesmo dia, vindas de todas as partes do Que os homens da minha aldeia
são centenas de milhões.
mundo. Ouvem-se em todas as vendas e nos numerosos cafés que abriram
na Vila. As telefonias gritam tudo que acontece à superfície da terra e das Os homens da minha aldeia
águas, no fundo das minas e dos oceanos. O mundo está em toda a parte, divergem por natureza.
O mesmo sonho os separa,
tornou-se pequeno e íntimo para todos. Alguma coisa que aconteça em a mesma fria certeza
qualquer região todos a sabem imediatamente, e pensam sobre ela e os afasta e desampara,
rumorejante seara
tomam partido. Ninguém já desconhece o que vai pelo mundo. E alguma onde se odeia em beleza.
coisa está acontecendo na terra, alguma coisa de terrível e desejado está
Os homens da minha aldeia
acontecendo em toda a parte. Ninguém fica de fora, todos estão formigam raivosamente
interessados. com os pés colados ao chão.
Nessa prisão permanente
A Vila dividiu-se. Cada café tem a sua clientela própria, segundo a con-
cada qual é seu irmão.
dição de vida. O Largo que era de todos, e onde apenas se sabia aquilo Valência de fora e dentro
que a alguns interessava que se soubesse, morreu. Os homens separaram- ligam tudo ao mesmo centro
numa inquebrável cadeia.
se de acordo com os interesses e as necessidades. Ouvem as telefonias, Longas raízes que imergem,
lêem os jornais e discutem. E, cada dia mais, sentem que alguma coisa todos os homens convergem
no centro da minha aldeia.
está acontecendo.
Manuel da Fonseca, "O Largo", in O Fogo e as Cinzas António Gedeão

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"A rádio anuncia, a televisão mostra, o jornal explica. "
(G. Quénelle)

Meios de comunicação de massa

Meios de comunicação de massa são os meios ou canais de comunicação usados na transmissão de


mensagens a um grande número de recetores. Nas relações sociais de comunicação (dia-a-dia), os meios
de comunicação de massa mais comuns são os jornais, as revistas, o rádio, a televisão e, mais
recentemente, a Internet. As obras de cinema, de teatro e de outros tipos de artes também se tornaram
meios de comunicação de massas, mas artísticos.
O jornal foi o primeiro meio de comunicação de massa criado pelo homem: originário dos documentos
informativos dos navegadores do século XVI, esse meio originalmente impresso tomou a forma que tem
hoje em 1836, na França; (...). Veracidade, imparcialidade, objetividade e credibilidade são as "qualidades
que garantem o sucesso de um jornal (...). A função principal da linguagem nesse meio de comunicação é
referencial ou informativa. (...)
O rádio ainda é o meio de comunicação mais popular que existe já que para ter excesso às mensagens
que ele veicula o recetor não precisa de ler nem de escrever: o rádio é um meio que se utiliza da
linguagem verbal oral, a linguagem que
todos os ouvintes sabem usar desde
que aprenderam a falar. (...)
A televisão surgiu nos anos 40 (séc.
XX) nos Estados Unidos. É um
"liquidificador cultural", pois é capaz de
diluir cinema, teatro, música, dança,
literatura, etc., num só espetáculo,
além de ser um meio de
entretenimento. É um dos meios de
comunicação mais poderosos, aquele
que mais influencia o recetor, portanto
o meio mais persuasivo que existe, é
Disponível na Internet:
responsável por uma relação social http://desconversa.com.br/filosofia/questoes-comentadas-quais-os-principais-tipos-
de-democracia/
abstrata, passiva e modeladora dos
acontecimentos: o recetor recebe a mensagem pronta através de imagens que consome imediatamente,
sem que haja tempo de refletir sobre elas (...). Para além disso, é um veículo de comunicação que nada
exige do recetor em termos de esforços e de conhecimentos: não é preciso saber ler e escrever, basta
girar um botão (o que não requer prática nem habilidade) para se ter acesso à sua programação, que tam-
bém não é da escolha do recetor, mas sim uma programação imposta a ele pelas emissoras. Dessa forma,
a televisão é o mais eficiente balcão de anúncios dos produtos nacionais e estrangeiros que, devido à
força persuasiva desse meio, são consumidos desesperadamente pelos telespetadores, até mesmo os
produtos que não tenham qualquer utilidade para ele. (...)
A Internet tornou-se o mais novo e mais eficaz meio de comunicação de massas. Por isso, ainda é o
menos abrangente, já que para ter acesso a ele, é preciso ter, por exemplo, um computador, uma placa
de "fax modem", uma, linha telefónica,...
In http://portalrosabeloto.sites.uol.com.br/apostilas/meios_comunicacao_massa.htm, julho de 2010

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Da necessidade do jornal

Há quem, responsável, diga que não precisa de jornais. Afinal, a civilização pós-escrita, que não deixará
de ter lamentáveis semelhanças com a ante-escrita... Não podemos negar que, para um primeiro "flash"
sobre certos factos ou ideias, poderá chegar uma notícia televisiva, mas, meus senhores, para um
suficiente conhecimento do complexíssimo Mundo em que vivemos, para que possamos fazer crítica
fundada do que vemos ou nos dizem, em suma para
basear as ideias que temos que formar, por amor de
Deus!, não são aqueles segundos - que a Televisão
mede-se em segundos - que nos podem servir.
O hábito de ler o jornal, tão salutar e tão necessário,
cada vez mais necessário no meu pensar, está-se
perdendo? Nem o diria, mas que haja quem suponha de
somenos importância a obrigação que todos temos de
conhecer e, mais do que conhecer, avaliar o que vai
pelo Mundo, pois choca-me muito e nada de bom me
augura no futuro do meu país.
Disponível na Internet:
Deixar continuar a pensar assim? Acho muito mal. O https://gustavosirelli.wordpress.com/jornais-do-mundo/
jornal é a imprescindível cultura do dia-a-dia, a
atualização necessária do nosso saber. Cultura de jornal? Não só, mas também. Imprescindível, em minha
opinião. Hoje, no Mundo tudo muda todos os dias e nós, para sermos homens do nosso tempo, temos de
estar a par de tudo quanto se passa.
Mais ainda quando os espaços se tornam maiores e maior se torna a área que nos pode influenciar.
Que hoje não será menor do que o Mundo inteiro.
Remédios? Pois só vejo um: meter o vício do jornal com o balbuciar das primeiras letras. Recordo-me
de um velho filósofo que conheci e que muito se gabava de ensinar os netos a ler pelo seu jornal de todos
os dias. Assim, dizia, habituar-se-iam a ler todos os dias um livro diferente e atualizado, e a não admitir
como dogma o texto da sua escola, sempre o mesmo e às vezes bem ultrapassado.
Almeida e Sousa, in "JN", 1986-02-10

A construção da notícia

Na novela ou no conto, o mais importante é o desfecho, e escreve-se sempre no final. Na notícia, o


mais importante é o lead (dados essenciais do acontecimento que se relata) e redige-se sempre no
princípio.
Dá-se como exemplo dessa diferença de técnica entre o conto e a notícia a história de dois amigos que
vão à caça. No conto, todas as primeiras páginas são dedicadas a descrever os preparativos e as
peripécias, para se dizer no desfecho do parágrafo final como um caçador matou outro porque o
confundiu com um animal entre os arbustos. Na notícia, pelo contrário, conta-se o acidente o primeiro
parágrafo, relatando-se os por menores depois.
Escrever o mais importante no princípio é a lei fundamental do jornalismo moderno, porque não
há leitor atual com tempo bastante para ler completas todas as informações do jornal de um dia. A rádio,
a televisão e o cinema exigem e consomem também muitas horas diárias da sua atenção para inteirá-lo
do que se passa no Mundo.
Ricardo Cardet, Manual de Jornalismo, 1977

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Pensar os jornais

À nossa frente, diante dos nossos olhos, vários objetos que tomamos por indissociáveis do "nosso
mundo" desaparecem, uns lenta, outros rapidamente, de um dia para o outro. Já vi desaparecerem as
máquinas de escrever, os copiógrafos, a tipografia a chumbo, os selos do correio, o rolo de fotografias, o
gravador de fita, as disquetes, o telex, o fax, o vídeo, etc., etc.
Olhando à nossa volta, outros objetos estão também a ir-se embora: que necessidade tenho eu de vir
a esta estante de CD de música que
gravei no iPod, podendo agora
transportar toda a minha discoteca de
aparelho para aparelho sem precisar de
mais nada? Ao lado, os vídeos em VHS
juntam aos discos em vinil e suponho
que, a prazo, os DVD irão fazer-Ihes
companhia. Os selos, a mesma coisa, hoje
já quase que não se usam no correio,
para serem emitidos apenas para
colecionadores. O dinheiro pouco a
pouco é substituído pelos cartões e todos Disponível na Internet:
http://goias24horas.com.br/8680-jornais-revistas-e-livros-impressos-ja-terao-acabado-ate-
os cartões convergem para um só. A 2025-e-tambem-as-tvs-aberta-e-a-cabo/

rápida mudança do tempo vivido dos


objetos torna obsoleto qualquer filme de ação científica que tenha mostradores analógicos em vez de
digitais, porque nós sabemos que o futuro não substituiu apenas as alavancas por botões, mas acabou
com os mostradores redondos em que um ponteiro podia indicar um drama quando se aproximava do
vermelho. Hoje, só para os filmes submarinos da Segunda Guerra Mundial.
E será assim para estes objetos que tenho à minha frente, feitos de muitos hectares de florestas, esta
pilha de jornais? Estão também a ir-se embora, pouco a pouco, sem nós vermos, nem nós querermos?
Talvez em geral, sim, em particular para os jornais feitos ao modelo antigo, entre o jornal generalista e
aquilo que se chama hoje "imprensa de referência".
Vejamos o caso português, em que há várias coisas evidentes que os jornais "de referência" não
quiseram ver nem entender. Uma delas é que hoje um leitor em papel pode ler a "imprensa popular",
opção que não tinha no passado.
Quando só havia jornais vergados ao peso de si próprios como instituições, protegidos por um mundo
em que a institucionalização era garantida entre outras coisas pela censura - que eliminava o "popular"
(sentimentos fortes, crime, inveja social, críticas aos poderosos, voyeurismo, violência em geral, medos,
etc.) -, a "imprensa popular" não existia.
Acabada a censura e envelhecidos os modelos dos jornais "de referência" numa sociedade em
mutação, em que a ascensão das massas aos consumos "culturais" se dava pela primeira vez, era natural
que uma parte dos públicos forçados até então pela ausência de alternativa escolhessem. Já não tinham
apenas o Diário de Notícias, ou o Diário de Lisboa, ou o Século, ou o Diário Popular, ou o Comércio do
Porto, ou o Primeiro de Janeiro, mesmo com as suas nuances, mas podiam começar a comprar o Correio
da Manhã e, mais tarde, a imprensa tablóide, que é uma outra variante de "imprensa popular".
(... ).
José Pacheco Pereira, Público, 17 de Fevereiro de 2007

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Jornais: espécie de vias de extinção

O jornalismo de referência, segundo dizem, está cada vez mais parecido com o lince-da-malcata. É
uma espécie em vias de extinção. Aguardo por um documentário da National Geographic na redação do
DN. Uma ação aparatosa da Greenpeace na
avenida da Liberdade. Cartazes escritos a letras
gordas "parem a matança". Nos últimos três
anos, entre efetivos e interinos o Diário de
Notícias teve seis diretores. O Público
reestruturou-se de cima a baixo e cremou o
velho logótipo. O Expresso reestruturou-se de
baixo a cima e expulsou o velho guru. Os
leitores, esses, continuam a acenar com a mão:
adeusinho. A maneira fácil de encarar o
problema é falar na iliteracia ou nos novos
media - dois extremos. O mesmo argumento:
não há espaço para os jornais. A maneira mais
difícil é admitir que a qualidade do que se Disponível na Internet:
https://fichacorrida.wordpress.com/tag/santiago/
imprime é, no mínimo, duvidosa. Porquê?
Porque jornais e jornalistas funcionam em circuito fechado. Escrevem para as fontes e para os colegas
como se os leitores não fossem aqueles para os quais trabalham, mas aqueles que têm o dever moral de
os ler. Porque são superficiais. Confundem a construção das notícias com o relato do que dizem as partes
em confronto, recusando a análise e comprometendo um jornalismo adulto e sofisticado. Porque têm
demasiados preconceitos. Deixam de lado dezenas de boas histórias, etiquetadas como "popularuchas",
esquecendo que a grande distinção entre um jornal de referência e um popular não está na escolha das
notícias mas no seu tratamento. Porque lhes falta agressividade. O jornalismo português não está a
cumprir o seu dever de vigilância sobre os poderes não irrita ninguém, não incomoda, é bem comportado,
pouco curioso, insosso.
Porque há um défice de criatividade. Existem canais de 24 horas de notícias, informação online, diários
gratuitos, mas os jornais continuam a encher páginas com noticiário morto na véspera em vez de
centrarem os seus recursos nas histórias que são só suas. Os leitores não são estúpidos. Os jornais de
referência é que se estão a transformar nos dodós do século XXI. Extintos por incapacidade de adaptação.

João Miguel Tavares, Diário de Notícias, 24 de fevereiro de 2007

Rádio: a preciosa caixa

De facto, era sol-posto; pelos atalhos, os ceifeiros recolhiam aldeia. Mas, nessa tarde, vieram todos
direito à venda, onde entraram com um olhar admirado. Uma voz forte, rápida, dava notícias da guerra.
Só de lá saíram depois de a voz se calar. Cearam à pressa, e voltaram. E era já alta noite quando
recolheram a casa, discutindo ainda, pelas portas, numa grande animação.
Um sopro de vida paira agora sobre a aldeia. Todos sabem o que acontece fora dali. E sentem que não
estão já tão distantes as suas casinhas humildes. Até as mulheres vêm para a venda depois da ceia. Há
assunto de sobra para conversar. E grandes silêncios quando aquela voz poderosa fala de cidades

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conquistadas, divisões vencidas, bombardeamentos, ofensivas. Também silêncio para ouvir as melodias
que vêm de longe até à aldeia, e que são tão bonitas!...
Acontece até que, certa noite, se arma uma festa na
venda do Batola. Até as velhas dançaram ao som da
telefonia. Nos intervalos, os homens bebiam um copo,
junto ao balcão; os pares namoravam-se, pelos cantos.
Por fim, mudou-se de posto para ouvir as notícias do
mundo. Todos se quedaram, atentos. (...)
E os dias custaram tão pouco a passar que o fim do
mês caiu de surpresa em cima da aldeia de Almancil.
Era já no dia seguinte que a telefonia deixaria de ouvir-
Disponível na Internet:
se. Iam todos, de novo, recuar para muito longe, lá http://sarahistoriams.blogspot.pt/2011/05/nas-ondas-do-radio.html
para o fim do mundo, onde sempre tinham vivido.
Foi a primeira noite em que os homens saíram da venda mudos e taciturnos. Fora, esperava-os o
negrume fechado; E eles voltavam para a escuridão; iam ser, outra vez, o rebanho que se levanta com o
dia, lavra, cava a terra, ceifa e recolhe vergado pelo cansaço e pela noite. Mais nada que o abandono e a
solidão. A esperança de melhor vida para todos, que a voz poderosa do homem desconhecido levava até
à aldeia, apagava-se nessa noite para não mais se ouvir.
Dentro da venda, o Batola está tão desalentado como os ceifeiros. O mês passou de tal modo veloz
que se esqueceu de preparar a mulher. Sobe ao balcão, desliga o fio e arruma o aparelho. Um pouco
dobrado sobre as pernas arqueadas, com o chapeirão a encher-lhe a cara de sombra, observa
magoadamente a preciosa caixa.
Manuel da Fonseca, "Sempre É uma Companhia", in O Fogo e as Cinzas

Quando a telefonia chegou à aldeia

Da velha aldeia, nada restava intacto. A ruela primitiva, de casas irmanadas pela vida dos moradores,
ramificava-se, e novas casas surgiam acima dos telhados, que o musgo esverdinhara. [...]
Como as noites já eram tépidas, Ti Paulino pôs mesas no parreiral, atrás da loja, e comprou gordo
borrego para prémio dum campeonato de chinquilho. A ideia criou adeptos, e o taberneiro esfregou as
mãos de contentamento. Dias depois, porém, o Borges alvoroçou o lugarejo e o rival, ao distribuir
prospetos multicores que anunciavam:
Abertura ao Público do novo retiro do operário. Comidas e dormida. Vinhos e mercearias das melhores
procedências por grosso e a retalho. Preços especiais. Os proprietários saúdam a freguesia com uma pipa
de vinho à descrição.
Logo de manhã, a casa encheu-se de gente, como numa romaria. Homens pressurosos de esvaziarem a
pipa; mulheres que tudo apreçavam, sem se decidir por coisa alguma, deslumbradas; de gatas, por entre o
povoléu, crianças maltrapilhas apanhavam confeitos, que o Borges lhes atirava solenemente. Mas a
surpresa maior foi à hora do meio-dia, quando, não se soube como, se ouviu o hino nacional.
Ti Paulino veio à porta, atónito, de rodilha no ar. As notas vibrantes da música reavivaram-Ihe cenas de
barricadas e comícios. De repente, porém, nervoso e rubicundo, desceu a rua a passo lesto e em mangas
de camisa
- Aconteceu-lhe alguma desgraça, Sr. Paulino? - inquiriu Amaro, que chegava.
- Então não vê aquele patife?! Um trauliteiro de arrocho toda a vida, e a tocar A Portuguesa!
É mesmo provocação!
- A telefonia é que toca, Sr. Paulino.
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- Seja quem for! Estoiro-Ihe cos instrumentos maila cara. Bandeirinha!
Mas quando entrou na loja do outro quedou-se a olhar
para a caixa de música, donde saíam falas de pessoa
invisível, logo seguidas de um fado plangente. Os
fregueses, boquiabertos, escutavam em silêncio. E o
Borges, solícito, arredou-se do balcão para cumprimentar o
visitante.
- Faço muito gosto, colega... Pode entrar.
- Grande melhoramento este, hem, Ti Paulino! -
exclamou Chico Moleiro, quase bêbado.
-Isto é que é progresso.
O velho embatucou com a surpresa, lançou um olhar de
Disponível na Internet:
desprezo ao concorrente e saiu como entrara. https://thebackstageblog.wordpress.com/page/28/
Na taberna ficou a ver vagamente os barrotes
carunchosos do teto, quanto as moscas, em sossego, zuniam sobre queijos ressequidos nas prateleiras.
Pensava na caixa misteriosa que lembrava um gramofone, mas não tinha discos nem campânula. Mais do
que o mostruário, a balança automática e outras coisas apenas entrevistas, aquela caixa estranha era a
sua ruína.
“Quanto custaria uma igual, que também tocasse o hino da República?”.

Soeiro Pereira Gomes, Engrenagem, (adaptado)

Uma palavra pode valer mais do que mil imagens


Na rádio não há cor?! Não há movimento?! Não há rostos com sorrisos e lágrimas?! Não há expressões
de desespero e de alegria?! Não há paisagens?!
Aquilo que à partida, pode parecer uma desvantagem e a maior dificuldade de transmitir informação
em rádio é, porventura, a sua maior riqueza e o maior desafio que se coloca a quem trabalha neste meio
de comunicação. De facto, o profissional ou o amador de rádio deve ser “os olhos e os ouvidos” do
público a que se dirige.
Quer esteja a conduzir um programa em estúdio, quer esteja a
fazer uma reportagem, a sua maior preocupação deve ser
descrever o acontecimento de forma tão fiel e pormenorizada
quanto possível: trata-se, no fundo, de usar a palavra para
retratar o acontecimento, o local, a cor, as pessoas... Pelo
microfone devem passar os sons ambientes, por forma a que os
ouvintes possam visualizar o que está a ser contado.
Quando falamos em sons, devemos ter presente que em rádio
o conceito de som é muito amplo: uma simples respiração ou um
Disponível na Internet:
silêncio podem ser, e são, formas de comunicação... https://www.youtube.com/watch?v=QpLkfEVTUqQ
A palavra e a música estão para a rádio como a imagem está
para a televisão, mas a relação com o destinatário é muito mais intimista e de mais fácil receção: a rádio
não exige exclusividade - podemos estar a ler, a trabalhar, a viajar e tê-Ia sempre como companhia. É um
veículo de transmissão rápida das notícias do mundo longínquo ou do acontecimento da nossa rua.
Ininterruptamente, em múltiplas frequências, e oferecendo uma grande diversidade de estilos e perfis, a
radiodifusão continua a ser o meio mais rápido de comunicação. Para “entrar no ar”, basta alguém, ao
telefone, dar conta de uma qualquer notícia, em qualquer lugar.

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Para muitos, a rádio ainda é o principal meio de informação: acordar de manhã com o som da
telefonia para saber “como está o mundo” é um gesto que quase todos fazemos diariamente. Para
outros, a rádio serve de companhia, oferecendo os mais variados géneros de música, e permite uma
interação com o ouvinte. Quando não há imagem visual, há mais espaço para a imaginação. [...]

Aranha, Ana “O Desafio da Rádio” Instituto de Inovação Educacional

A rádio: do radiodrama à webradio


Há cem anos, a rádio gatinhava. Dominada que estava a sua base tecnológica, ensaiava a modulação
da voz e do som e aventurava-se em experiências de alargamento do seu raio de ação. Nos anos 20 e 30,
este meio revolucionário foi utilizado para testar (ou constatar) o impacto na sociedade: a emissão
ficcionada da reportagem de um maremoto pela Rádio Paris, em 1924, ou, mais ainda, o programa "A
guerra dos mundos", de Orson Welles, em 1938. A experiência sinalizava o desenvolvimento de uma das
facetas que afirmaria o novo meio - o
radiodrama - e, com ele, o entretenimento. A
1.ª Guerra Mundial levaria o meio
radiofónico ao seu apogeu, na vertente da
informação, mas também da
contrainformação e da propaganda.
Acentuava-se, deste modo, a configuração
de um dispositivo tecnológico e comunicativo
que haveria de fazer o seu caminho, não se
substituindo, mas antes
complementando os meios existentes. E
adquirindo novo fôlego com o transístor, com
Disponível na Internet:
a proximidade das rádios locais e http://www.rclamego.pt/jornalonline/?p=22110
comunitárias e, mais recentemente, com a
webradio.
No entanto, não foi bem este o cenário que sonhou e defendeu, por exemplo, Bertold Brecht, o qual
pugnou, desde o final dos anos 20, mas sobretudo na sua Teoria da Rádio, de 1932, por um meio de real
comunicação interativa e não de sentido único:
A rádio - escreveu ele - seria o melhor aparelho de comunicação possível na vida pública, uma vasta rede de
canais. Isto é, poderia ser, se soubesse proporcionar não apenas a receção, mas também a transmissão; deixar o
ouvinte falar, tal como lhe permite ouvir; incentivá-lo ao relacionamento, em vez de isolá-lo. Nesta lógica, a rádio
deveria deixar o ramo do fornecimento e passar a organizar os ouvintes como fornecedores. Qualquer tentativa por
parte da rádio para conferir um caráter verdadeiramente público a ocasiões públicas representa um passo na direção
certa.
Em vez de ser um meio de distribuição (da palavra, da música, da notícia), deveria, antes, assumir as
potencialidades técnicas que poderiam fazer dele motor e paradigma da comunicação bidirecional,
partindo de múltiplos polos de enunciação, uma efetiva comunicação em rede. Apesar dos que entendem
que essa é à natureza efetiva da rádio, julgo que a história deste meio documenta e sugere um outro
modo de ser e estar, em que a difusão se sobrepôs à interação, mesmo tendo em conta a criatividade de
muitos profissionais, ao longo do tempo, para atenuar os efeitos da unidirecionalidade.

Manuel Pinto, Prefácio in Portela, Pedro.(2011) Rádio na Internet em Portugal. Ribeirão: Edições Húmus, Lda
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A essência da rádio

Ao longo dos tempos, vários têm sido os autores que procuraram contribuir para a definição das
características essenciais do "primeiro e mais mágico dos media eletrónicos", refletindo não só a
multiplicidade perspetivas que essa
definição compreende como também
a irrequietude intrínseca à própria
rádio, fruto da sua constante
evolução.
A característica mais distintiva da
rádio é a acumulação, que passa pela
possibilidade de realizar outras
atividades em simultâneo com a sua
escuta, como sejam, ler o jornal,
conduzir, cozinhar, trabalhar ou
qualquer outra tarefa quotidiana. Isto
garante à sua ação um imediato
Disponível na Internet:
impacto social e uma grande http://mkkwebradio.blogspot.pt/2013_02_01_archive.html
capacidade de intervenção, na medida
em que uma informação ou notícia transmitida é rapidamente assimilada pela audiência e por si repetida.
Assim, a instantaneidade e a espontaneidade são também duas das suas características intrínsecas,
fazendo da rádio um meio "massivo, explosivo e mobilizador".
Com a evolução verificada ao longo dos tempos, nomeadamente a introdução de emissões em direto e
a multiplicação de géneros radiofónicos, outro elemento essencial ganhou consistência: a simultaneidade.
(...)
É o uso social e cultural a que a rádio está sujeita que faz dela um importante meio de "recriação do
mundo real e de criação de um mundo imaginário e fantástico", pelo que, na medida em que a sua
linguagem for capaz de se aproximar social e culturalmente dos códigos do recetor, de fazer parte do seu
dia-a-dia, melhor será o nível de comunicação obtido. Daí que, se atentarmos nas dimensões
comunicativa, expressiva e difusora da rádio, possamos entender a sua linguagem como sendo o conjunto
constituído pelos código simbólicos da palavra, da música, dos efeitos sonoros e do silêncio. E, na
interpretação destes símbolos, a envolvente social é não só determinante como contribui para a
constante evolução do seu significado.
O desejo de universalidade da rádio obriga-a a adotar um discurso capaz de ser também assimilado
pelas camadas mais desfavorecidas. O facto de a rádio instrumentalizar uma linguagem simples e popular,
muito mais próxima da fluência da oralidade do que do rigorismo da escrita, gerou a desconfiança das
classes ditas cultas, que para ela olharam com desdém, aliás à semelhança que ocorreu com o cinema e
com a televisão. Mas foi exatamente esta abrangência alargada do discurso radiofónico que fez dele um
meio de intervenção junto das massas. Isto não quer dizer que a linguagem coloquial utilizada na rádio,
similar ao que utilizamos quotidianamente na comunicação interpessoal, tenha que ser contrária a
correção gramatical. Mas a erudição linguística dificulta a comunicação, uma vez que se torna difícil para
o recetor acompanhar o sentido integral de uma frase rebuscada num meio que não permite voltar atrás
no processo de compreensão. Mas a adoção de uma linguagem oral mais simplificada deverá ser feita de
um modo tal que se possa "dizer o máximo, com o mínimo palavras, mas sem forçar" pois em rádio "só se
complica quando alguém não sabe o que dizer, nem como dizê-lo de modo simples".

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Mas palavra é apenas uma parte da linguagem da rádio, um dos elementos sonoros que a constituem
enquanto meio de comunicação. A essência da rádio consiste justamente em oferecer a totalidade
somente por meio sonoro. A fruição da rádio será tanto mais intensa quanto mais o ouvinte for educado
no sentido de dispensar a tradução em imagens
mentais daquilo que escuta. A este respeito vale a
pena recordar as palavras de Orson Welles, quando
instado a comentar as qualidades da televisão: "Ah,
mas na rádio o ecrã é muito mais amplo!" (...)
O som, entendido enquanto palavra falada ou
música é, assim, indutor de imagens evocativas,
emanadas de uma experiência sensorial integral, que
permite ao ouvinte "ver, tocar, cheirar e até provar -
imaginando" Mesmo o silêncio é um elemento
fundamental para que o ouvinte "não seja recetor
Disponível na Internet:
passivo e crie sua própria cenografia num espaço http://moviespix.com/entrevista.html
infinito de escuridão. A própria ausência de som
sublinha a sua importância enquanto elemento significante no meio radiofónico, sendo mais uma peça
essencial na formação e materialização da imagem mental que surge naturalmente no ouvinte, como
resposta ao estímulo provocado pela mensagem difundida pela rádio que, por ser descodificada
diferentemente por cada um, adquire uma característica indesmentível de individualidade.
A música, elemento sonoro capaz de "desenhar imagens na alma”, é a "mais pura corporificação
da essência da rádio" na medida em que apresenta elevadas qualidades de expressão, derivadas das suas
dinâmicas rítmicas, melódicas e harmónicas, por vezes houve que defendesse a ideia de que em rádio, a
palavra deveria ser reduzida ao mínimo, para dar lugar à música, na linha do que hoje parece estar a ser
concretizado graças ao uso de computadores geradores de playlists. Outros contudo, foram discordando,
valorizando a palavra, que em rádio é também notícia, como porta de entrada para a intimidade,
entrelaçando o ouvinte num convite irrecusável à escuta, a desvendar de emoções. Porque a rádio "'não
necessita de rosto" estão criadas as condições para a intimidade, que são sublinhadas nos momentos de
audição solitária, preferencialmente noturna, em claro contraste com a escuta familiar ou comunitária
que marcou os seus primeiros anos.
Marshall McLuhan (1964), apesar de também lhe reconhecer a capacidade para a criação da
intimidade, olha para a rádio como um meio que em simultâneo propicia a recuperação de vivências
comunitárias:
“A cultura letrada incentivou um individualismo extremo e a rádio atuou num sentido exatamente
inverso, ao fazer reviver a experiência ancestral das tramas do parentesco do profundo envolvimento
tribal.”
No entendimento de McLuhan, o reavivar da fala humana, cuja essência estava civilizacionalmente
esquecida, é o principal aspeto da mudança introduzida pela rádio, recuperando um relacionamento
tribal que a imprensa tinha ajudado a soterrar, enquanto tecnologia do individualismo. Com a chegada
daquele meio deu-se a retribalização da Humanidade e a "'quase imediata reversão do individualismo
para o coletivismo, fascista ou marxista" (McLuhan, 1964). A rádio é, assim, a tecnologia da tribo, capaz
de recuperar "o sentido de comunidade, a voz do quarteirão, o localismo, a magia tribal antes soterrada
na memória, o acesso ao mundo não visual, a comunicação íntima e particular de pessoa a pessoa". Ou
seja, o discurso dirigido a comunidades locais e, dentro destas, a cada ouvinte em particular deve ser
considerado intrinsecamente constituinte da essência do meio.

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E, neste esforço de aproximação individualizada, "cria a ilusão nas pessoas de que os programas são só
para elas", dirigindo-se de uma forma tão íntima que o que ganha significado é a imagem criada no
interior de cada um, razão pela qual não é frequente a audição coletiva das emissões.

in Portela, Pedro.(2011) Rádio na Internet em Portugal. Ribeirão: Edições Húmus, Lda

Televisão: terrível arma de contágio

No bar-restaurante, pois, éramos nós e um casal italiano os sobreviventes. A patroa, de gestos


distraídos, limpava e relimpava a baixela, enquanto ia seguindo o programa da televisão. Quando o
cozinheiro, palitando os dentes, veio lá de dentro para se lhe associar, agora que terminara a sua lida,
ambos comentaram as imagens. E comentavam-nas com miolo. Aquilo era um programa para civilizados
e eles como civilizados reagiam. Também eu me fui sentindo seduzido por aquela subtil e engenhosa
interpretação do quotidiano através de desenhos que a ágil câmara animava. O ritmo e as mudanças de
planos eram vivíssimos. Quando se impunha,
aparecia o rosto comunicativo do locutor, olhos
nos olhos dos espetadores, sem um gaguejo ou
o cabotinismo na fala, sem o amaneiramento
das vedetas de pataco. Depois seguiram-se as
atualidades, e nessa altura o locutor foi rendido.
Este segundo tinha a voz mais cheia e vibrátil e
graduava-se com emoção. Éramos levados a
supor que ele participara dos acontecimentos
que narrava, e nós próprios, sob esse clima de
convicção, também nos sentíamos heróis ou Disponível na Internet:
testemunhas do que as imagens iam revelando. https://www.google.pt/search?noj=1&biw=1440&bih=775&tbm=isch&sa=1&q=h
istoria+rtp&oq=historia+rtp&gs_l=img.3..0i24.11811.13008.0.13312.3.3.0.0.0.0.8
Tem magia, a televisão. É o mundo em nossa 4.231.3.3.0....0...1.1.64.img..0.3.230.SI_py5XyMoo#imgdii=HicOVmvpn5jlAM%3A
%3BHicOVmvpn5jlAM%3A%3B1ZxMc3pVmG561M%3A&imgrc=HicOVmvpn5jlAM
casa. Eu, que a abomino, tão usurpadora tem sido dos nossos hábitos, do %3A que nos restava de convívio,
quando o dia chega ao fim e nos espera um familiar, um livro, um desenferrujar de ideias numa roda de
amigos eu, que a abomino sobretudo porque, entre nós, ela é um incitamento à estupidez e à mediocri-
dade, acho-me a não saber resistir-lhe, mesmo quando me agonia.
Por isso, ali estava eu, de pescoço torcido, a tentar não perder um fotograma. É certo que o programa
merecia-o, visto que em França, na Itália e na Suíça, únicos países em que tenho apreciado, embora pela
rama, o nível desigual da sua televisão, há pelo menos um limiar de respeito pelo espetador e ninguém
pensa em servir-se desta terrível arma de contágio para proceder a uma lavagem dos cérebros com o
único objetivo de embrutecer as gentes.

Fernando Namora, Diálogo em Setembro

Enterro televisivo
“Uns olham para a televisão. Outros olham pela televisão.”
(Dito de Sicrano)

Estranharam quando, no funeral do avô Sicrano, a viúva Estrelua proclamou:


- Uma televisão!

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- Uma televisão o quê, avó?
- Quero que me comprem uma televisão.
Aquilo, assim, de rompante em plenas orações.
Dela se esperava mais ajustado desejo, um ensejo solene de tristeza, um suspiro anunciador do fim. Mas
não, ela queria naquele mesmo dia receber um aparelho novo.
- Mas o aparelho que vocês tinham avariou?
- Não, já não existe.
- Como é isso, então? Foi roubado?
- Não, foi enterrado.
- Enterrado?
- Sim, foi junto com o corpo do vosso falecido pai.
Tudo havia sido congeminado junto com o coveiro. A televisão, desmontada nas suas quantas peças, tinha
sido embalada no caixão. Era um requisito de quem ficava, selando a vontade de quem estava indo.
Na cerimónia, todos se entreolharam. O pedido era estranho, mas ninguém podia negar. O tio Ricardote
ainda teve a lucidez de inquirir:
- E a antena?
Esperassem, fez ela com a mão. Tudo estava arquitetado. O coveiro estava instruído para, após a
cerimónia, colocar a antena sobre a lápide, amarrada na ponta da cruz, em espreitação dos céus. Aquela
mesma antena, feita de tampas de panela, ampliaria as eletrónicas nos sentidos do falecido. O velho
Sicrano, lá em baixo, captaria os canais. É um simples risco a diferença entre a alma e a onda magnética.
Por razão disso, a viúva Estrelua pediu que não cavassem fundo, deixassem o defunto à superfície.
- Para apanhar bem o sinal - explicou a velha.
O Padre Luciano se esforçou por disciplinar a multidão, ele que representava a ordem de uma só voz
divina. Com uns tantos berros e ameaças ele reconduziu a multidão ao silêncio. Mas foi sossego de pouca
dura. Logo, Estrelua espreitou em volta, e foi inquirindo os condoídos presentes:
- E o Bibito, onde está?
- O Bibito?- se interrogaram os familiares.
Ninguém conhecia. Foi o bisneto que esclareceu: Bibito era o
personagem da novela brasileira. A das seis, acrescentou ele, feliz por
lustrar conhecimento.
- E a Carmenzita que todas as noites nos visita e agora não comparece!
De novo, o bisneto fez luz: mais uma figura de uma telenovela. Só que
mexicana. O filho mais velho tentou apaziguar as visões da avó. Mas
qual Bibito, qual Carmen?! Então os filhos de osso e alma estavam ali,
lágrima empenhada, e ela só queria saber de personagem noveleira?
- Sim, mas esses ao menos nos visitam. Porque a vocês nunca mais os
vimos.
Esses que os demais teimavam em chamar de personagens, eram esses
que adormeciam o casal de velhotes, noite após noite. Verdade seja
escrita que a tarefa se tornava cada vez mais fácil. Bastava um repassar
de cores e sonos para que as pestanas ganhassem peso. Até que era só
ligar e já adormeciam.
- Quem vai ligar o aparelho hoje?
- É melhor não ser você, marido, porque noutro dia adormeceu de pé.
De novo, o padre invocou a urgência de um silêncio. Que ali havia tanto filho e mais tanto neto e ninguém
conseguia apaziguar a viúva? Os filhos descansaram o padre. Que sim, que iam conduzi-la dali para o
resguardo da casa. Estrelua bem merecia o reparo de uma solidão. E prometeram à velha que não
precisava de um outro aparelho, que eles iriam passar a visitá-la, nunca mais a deixariam só. A avó sorriu,
triste. E assim a conduziram para casa.

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Aquela noite, ainda viram a avó Estrelua atravessar o escuro da noite para se sentar sobre a campa de
Sicrano. Deu um jeito na antena como que a orientá-la rumo à lua. Depois passou o dedo pelos olhos a
roubar uma lágrima. Passou essa aguinha pela tampa da panela como se repuxasse brilho. De si para si
murmurou: é para captar melhor. Ninguém a escutou, porém, quando se inclinou sobre a terra e disse
baixinho:
- Hoje é você a ligar, Sicrano. Você ligue que eu já vou adormecendo.
Mia Couto, O Fio das Missangas

Apontamentos & desapontamentos: a televisão é para estúpidos

A frase é do escritor e editor Luiz Pacheco (1925-2008) numa entrevista conduzida por João Paulo
Cotrim, quando este lhe perguntou se «a televisão está a matar a literatura – «A televisão não mata nada!
A televisão é para estúpidos!»,
confessando depois, no entanto, que
tendo recusado ter televisor até
pouco tempo antes, fora «apanhado
pelo fascínio do pequeno ecrã» e via
tudo (de tudo dizendo mal) –
telenovelas, séries,
concursos...Groucho Marx (1890-
1977), costumava dizer: «Acho a
televisão muito educativa – logo que
alguém a liga, vou para outra sala ler
um livro. No fundo, as duas frases
dizem a mesma coisa, por palavras e Disponível na Internet:
https://acporto.wordpress.com/2013/09/01/televisao-burra/
com intensidades diferentes.
RayBradbury (1920), numa
entrevista dada em 25 de Julho ao El País, coloca a mesma questão, da sobrevivência do livro face à
concorrência da televisão e, sobretudo, desde há uma década, da Internet e das novas tecnologias da
informação em geral. Vamos então tentar saber se, de facto, como disse, com frontal brutalidade, o
Pacheco, «a televisão é para estúpidos». É óbvio que Luiz Pacheco se referia à dependência da televisão
que afeta muitas pessoas e não ao meio televisivo em si, um invento notável que, bem utilizado, poderia
ser um poderoso instrumento de difusão cultural. Só não o é porque tem sido posto ao serviço de
ideologias e de interesses económicos, criando dependências perversas (como todas as dependências) – a
Internet, outro meio potencialmente disseminador de cultura e possível eixo estruturante da
aprendizagem e do saber acumulado, tem vindo a ser utilizado também para fins criminosos – redes de
pedofilia, incluídas – sem que se possa negar os seus benefícios.
Sempre que se abre um caminho, seja uma rota marítima ou aérea, seja uma estrada, há sempre
piratas e salteadores que saem ao caminho dos viajantes. Não vamos, por esse motivo, deixar de abrir
caminhos.
Ficar um dia em frente do televisor, vendo séries, telenovelas, concursos, é, de facto uma estupidez, um
atentado contra a vida. A televisão é usada como meio de estupidificação, de criação de uma «ideologia
de massas» consonante com os interesses de uma minoria. Um grande exército de agentes está na base
dessa «ideologia» – desde os criadores de programas aos criativos das agências de publicidade, por
exemplo.

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As estatísticas que nos informam do tempo que crianças e adultos de diversas faixas etárias passam
diariamente em frente dos televisores, são aterradoras. Um inquérito feito em São Paulo, revela que 87%
das pessoas com mais de 60 anos veem televisão durante todo o dia. Uma pesquisa levada a cabo pelo
Center for Media Education, dos Estados Unidos, mostra que as crianças de todo o mundo, vêem de três a
quatro horas de televisão diária. Para a maioria de crianças e adolescentes (entre os três e os 17 anos) a
principal atividade é a televisão. Principalmente
para os idosos, a televisão é uma forma de
suprir carências afetivas, a solidão provocada
pela viuvez, pela morte dos amigos e familiares,
causando uma desertificação da sua vida social,
etc.
Por outro lado, ao não exigir qualquer
esforço das funções cognitivas, limita a
imaginação, o que se torna particularmente
grave entre os jovens. Nos telespetadores Disponível na Internet:
https://acporto.wordpress.com/2013/09/01/televisao-burra/
assíduos, reduz a capacidade e a velocidade da
leitura, provoca a obesidade, prejudica a postura,
tem influência no desempenho sexual (piorando-o), altera o sono, afeta as relações sociais… Resumindo,
a teledependentes é uma patologia com consequências colaterais graves se não for tratada. E não adianta
emitir conceitos morais – a televisão, até ser substituída por outro suporte mais apelativo, vai continuar a
absorver as atenções de todos, crianças e adultos. É um mal iniludível.
Transformar um mal numa coisa boa nem sempre é impossível. Neste caso, tratava-se de aproveitar o
sortilégio da TV para educar, ensinar e divertir, claro. Não deixando de incentivar os telespetadores a
viverem a vida que acontece para lá da janela do pequeno ecrã. Contudo, o objetivo de quem controla
esse e outros meios não é criar programas de boa qualidade – é engendrar programas «apelativos» –
redes que apanhem os otários distraídos. Como, há alguns anos, me disse ironicamente Mr. Hugh House,
alto responsável da BBC, queixando-me eu da má qualidade da televisão em Portugal, a função da
televisão é, precisamente, não ter qualidade.
Quando João Paulo Cotrim pergunta a Pacheco se a Televisão não matará o livro, está a citar a frase de
Victor Hugo– «cecituera cela» – isto matará aquilo – referindo-se ao livro impresso, ao invento de
Gutenberg, que mataria a arte gótica, a arquitetura, a escultura, a iluminura, a glosa medieval, como
forma de comunicar com as massas. Foi uma preocupação do final do século XV que, como se viu, era
infundada – o livro, a arquitetura, a escultura,
conviveram pacificamente até hoje.
Numa entrevista ao El País, Ray Bradbury, foi
aos arames quando lhe falaram no Kindle – «Isso
não são livros. Os livros apenas têm dois cheiros: o
cheiro a novo, que é bom, e o cheiro a livro usado,
que é ainda melhor.» Como muitos de vós sabeis,
o Kindle é um pequeno equipamento criado pela
Amazon, uma empresa norte-americana, com a
função principal de ler livros digitais (e-books),
podendo armazenar cerca de 1500 livros, podendo
Disponível na Internet: arquivar música (no formato MP3), atualizar páginas
https://acporto.wordpress.com/2013/09/01/televisao-burra/
da Internet, entre outras funções. Isto sem que se
possa aduzir o velho argumento (a favor da sobrevivência do livro) de que «não se pode levar um
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computador para a cama» – o Kindle tem um tamanho semelhante ao de um livro e um peso também
equivalente. Recentemente, em maio deste ano, foi lançado o KindleDX, com um displayde 24,6 cm na
diagonal, uma vez e meia maior do que a versão standard, e que permite ler jornais e aceder aos
formatos PDF, MP3 e TXT.
Eu não seria tão radical quanto Bradbury na recusa liminar desta inovação. Também pertenço a uma
geração que tem uma forte relação afetiva com o livro tradicional – o cheiro do papel novo, da tinta
acabada de secar, a volúpia com que se examina a textura mais rugosa ou mais calandrada das páginas, o
vício de tentar avaliar a gramagem, esfregando a folha
entre o polegar e o indicador, a análise atenta do
grafismo, a busca das gralhas, o odor dos livros
usados… Não se pode, à partida, no entanto, recusar
uma invenção que evitaria o derrube de florestas
inteiras e permitiria sem ocupação de espaço aceder a
enormes bibliotecas. Sobretudo para obras de
referência, para livros de estudo.
O Kindle, e os suportes que lhe sucederem, não
matarão o livro – antes o perpetuarão com outra
forma. Não haverá tão cedo Kindle que possa substituir Imagem disponível em:
http://www.controversia.com.br/blog/13694
o requinte de, por exemplo, uma edição de arte.
Haverá sempre quem não dispense os livros em papel alinhados em estantes – os «loucos dos livros», de
que, há 500 anos, nos falava o alsaciano Sebastian Brant na sua «Stultiferanavis».
A televisão não é para estúpidos. A televisão foi um invento brilhante, mas é, muitas vezes, controlada
por estúpidos, por sua vez manipulados por bandalhos espertos e codiciosos que nos querem
estupidificar (e, segundo as estatísticas, estão a conseguir). O inteligente escritor e editor Luiz Pacheco
era isto que, por certo, queria dizer.

In Blog Aventar. Loures, Carlos. [Consultado em 2015-95-03 21:33:00]. Disponível na Internet:


http://aventar.eu/2009/08/19/apontamentos-desapontamentos-a-televisao-e-para-estupidos-sobre-a-tele-dependencia/

A Escrita - A Imprensa - O Digital

A escrita na antiguidade fenícia ou grega provoca uma rutura no processo histórico e altera a forma de
organização social, incluindo o estabelecimento de hierarquias e das relações de subordinação.
Na passagem da Idade Média para o Renascimento, com a tipografia de Guttenberg, a escrita, que com
os seus signos abstratos permitira novas formas de poder, ganha um novo papel social, instituindo um
espaço público que obriga à instauração de uma ordem disciplinar numa sociedade que necessita de
controlar a sua imagem e a sua honra.
A tecnologia da imprensa e a expansão das universidades tornam-se decisivas na nova ruptura
cultural, que irá possibilitar a Renascença, a Reforma e as revoluções científicas. O século XVlI consente a
ascensão dos média e do jornalismo de escritores que procuram criar opinião pública. Com o século XX, o
audiovisual impulsiona esse poder da imprensa.
O final do século xx regista o aparecimento de novos dispositivos comunicacionais, que revolucionam a
transmissão e o cruzamento de informações, nomeadamente com a Internet e o recurso aos multimédia.
o fluxo comunicacional unívoco passa a biunívoco e interativo, alterando as práticas discursivas. E estes
novos dispositivos tecnológicos passam a ser fundamentais às estruturas sociais, mas sobretudo às
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estruturas económicas. Afirma Rosalind Steele que o grande benefício das modernas tecnologias da
comunicação é permitirem-nos um acesso fácil ao
conhecimento e à experiência de outras pessoas,
bem como a grandes bases de dados e fazerem-no
no momento em que precisamos da informação e
no contexto de problemas reais.
A escrita permitiu a história, a tipografia abriu
caminho à Idade Moderna, o digital inicia uma nova
era. As novas tecnologias as aplicadas à química, à
física, à biologia e a outras ciências, mas também ao
campo humanístico, irão provocar mudanças
radicais nos conceitos, nos conhecimentos, na Imagem disponível em: http://goias24horas.com.br/8102-morte-dos-
jornais-impressos-nem-migrando-para-a-internet-grandes-veiculos-vao-
cultura e, provavelmente, no dinamismo do sobreviver/
pensamento. Como afirma Freeman Dyson
(1998:112), “estamos a desfazer em pedaços o mundo estático dos nossos antepassados a substituí-lo por
um novo mundo que gira mil vezes mais depressa”. Mas, como ele, acreditamos no “princípio da máxima
diversidade” de que “as leis da natureza são feitas de maneira a tornarem o universo tão interessante
quanto possível (ibid.: 122).
In Escola do Futuro – Sedução ou Inquietação? As Novas Tecnologias e o Reencantamento da Escola .

A angústia do jornalista perante a Internet

A informação deixou de ser uma palestra e transformou-se numa conversa

De cada vez que tem lugar um acontecimento que concentra as atenções do mundo, como agora
sucede no Haiti, torna-se evidente que os canais que utilizamos para nos mantermos informados
mudaram de forma radical nos últimos dez anos.
É verdade que ainda continuamos a recorrer aos media tradicionais como a TV e os jornais
(frequentemente através dos seus sites) e a ver as suas reportagens e a ler os seus artigos, mas ninguém
que queira saber o que se passa no terreno e compreender os factos para além da superfície se fica por
aí. O facto de podermos hoje ler e ver na Internet, sem mediação, os relatos dos indivíduos comuns que
protagonizam estes acontecimentos, os testemunhos dos voluntários das organizações humanitárias, a
par de blogues de jornalistas no local (locais ou estrangeiros, free-lance ou não) fornece à informação a
que temos acesso uma riqueza incomparável. Durante anos tentámos vender a ideia (convictamente, nos
melhores casos) de que o jornalismo era a única forma de aceder a informação rigorosa e independente
sobre os acontecimentos do mundo. Se isso foi verdade alguma vez, hoje já não é certamente.
Sempre soubemos que não existiam fontes de informação desinteressadas, mas hoje é evidente que a
única informação independente é a que se obtém através de uma multiplicidade de fontes e a que
promove a participação dos cidadãos (os leitores sabem sempre mais que os jornalistas). Essas fontes
independentes estão aos milhões na Internet, nos blogues, nas redes sociais, no Youtube, no Flickr, no
Twitter, em novos serviços que emergem todos os dias e que não precisam de um modelo de negócio,
porque não vivem disso. Foram eles que nos disseram o que estava a acontecer na Birmânia, no Irão, e
agora no Haiti continuam a fazê-lo.

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Podem permitir-nos prescindir dos media tradicionais? Não é essa a questão. Os media tradicionais
estão a morrer porque estão a cometer harakiri, não porque alguém os queira destruir. E os leitores
certamente que não querem substituir-se
aos jornais. Só que são aqueles, "as pessoas
antes conhecidas como a audiência", na
expressão feliz de Jay Rosen, que têm mais
histórias para contar, que sabem mais, que
têm opiniões mais ricas e até posições mais
isentas. Cada um deles? Não. Todos juntos.
É por isso que continua a ser espantosa a
forma tímida (ou inexistente) como a
imprensa tradicional ignora este recurso - o

mais abundante e o mais rico recurso Imagem disponível em: http://g1.globo.com/jornalhoje/0,,MUL1227955-16022,00-


ACERVO+DA+BIBLIOTECA+BRITANICA+DISPONIVEL+NA+INTERNET.html
informativo do planeta - e, com raras
exceções, lhe passa ao lado, com tímidas olhadelas de soslaio.
Como têm explicado muitos gurus do novo jornalismo - Dan Gillmor, Jeff Jarvis, ainda Jay Rosen - o
jornalismo deixou de poder viver numa estrutura vertical, onde uns falam e os outros ouvem. A
informação deixou de ser uma palestra e transformou-se numa conversa. As ferramentas existem e as
pessoas estão a usá-las. O que é triste é que os media, devido ao corporativismo dos seus jornalistas, ao
desânimo dos seus dirigentes, à ignorância dos seus gestores, à ganância dos seus proprietários,
continuam a tentar fazer tudo o que podem para deixar tudo na mesma. Não vai ficar. Se os jornalistas
não quiserem entrar na conversa que o fluxo de informação já é, serão condenados à irrelevância.
O que não faz sentido é que, no momento em que há um novo jornalismo para inventar - e um
jornalismo que merece entusiasmo, onde a criatividade e a participação cidadã assomam por todas as
frinchas -, os media fiquem à espera da morte, repetindo sem o perceber o mantra louco que diz que a
Internet é o futuro. O futuro passou-lhes debaixo do nariz e eles não deram por isso.
Por José Vítor Malheiros, in Publico de 26-01-2010

O poder dos media e a alteração dos paradigmas culturais

Recentemente, num colóquio realizado na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de Braga


sobre temáticas de comunicação, tive uma intervenção em que sustentava esta tese: A Idade Média
acabou. Também a "Idade dos média" pode acabar. Ora, alguns dos temas versados nestes últimos dias,
primeiro no seminário organizado pela Universidade do Minho e com o apoio da RTP, a propósito da
celebração dos 50 anos do "Telejornal", e depois, na Conferência Anual, promovida pela ERC, sobre "A
Comunicação Social num contexto de crise e de mudança de paradigma", dão-me alguma oportunidade
para retomar algumas das ideias desta hipótese de tese: A "idade dos média pode acabar".
Quando digo a "idade dos média" prefiguro aquele período que se foi formando desde a segunda
metade do século XIX, com o surgimento da imprensa empresarial, reunindo depois a rádio como grande
média nos anos 30 do século XX e a televisão a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Constituiu-se
assim aquele sistema "dos meios de comunicação de massa". Hoje, com a proliferação de múltiplos e
diferentes "dispositivos tecnológicos" está criado um novo sistema informacional. Esses "revolucionários"
suportes tecnológicos (a Internet e seus derivados, como o Messenger e os e-mails, os blogues, o Twiter,

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o Facebook, etc. e, por outro lado, os telemóveis, os "sms", os "ipods" os "iphones", etc.) formam uma
constelação de "meios/média" cada vez mais articulados que vem alterar o paradigma comunicacional.
Deste modo, transitou-se do "sistema de comunicação de massa" para o sistema de "comunicação em
rede". De um sistema de média centrado numa circulação informativa de um "emissor configurado"
(jornal, a rádio, a televisão) para um "recetor indistinto" (os diversos e diferentes públicos). Passou-se
para um sistema cuja produção e
circulação de informação é
descentrada, quase infinita, e não
regulada. De certa maneira, cumpre-se
a utopia de Bertold Brecht, cada cida-
dão pode ser, a um só tempo, emissor e
transmissor de informação. Esta
"revolução" está a provocar um Imagem disponível em: http://www.cronic.com.br/tablet-flexivel-pode-substituir-jornais-e-
tsunami no "mundo organizado" do revistas-no-futuro/

tradicional sistema mediático. E com


alguns efeitos que exigem ser reconfigurados, tais como: uma perda evidente de audiências e de
influência no espaço público, uma tendente queda da legitimação social de quem está instituído para dar
e garantir a informação mais exata, uma profunda interrogação no papel profissional do jornalista e da
função social do jornalismo, e da própria continuidade dos "média tradicionais". Da sua "morte" ou seu
futuro. Estamos perante uma miríade de problemas que a mudança do paradigma comunicacional veio
trazer e que requer a reinvenção de processos organizacionais e profissionais.
Todos se rendem à mudança das plataformas. Porém, mais uma vez, surge a resistência cultural à
mudança do paradigma. Não obstante a autoridade do conferencista Jeffrey Cole não creio que os jornais
vão acabar. Tudo deve ser contextualizado em relação ao espaço e ao tempo. Mas é à luz do novo para-
digma que devem ser discutidas questões tão importantes como a regulação e autorregulação dos média,
a propalada "asfixia democrática" ou até a agora denunciada nossa descida em liberdade de Imprensa.
Provavelmente acabou uma era. Não os média antigos e novos. Terei de voltar a este assunto.

Paquete de Oliveira, [artigo de opinião) Jornal de Notícias, 22 de outubro de 2009. In


http://jn.sapo.ptlpaginainicial!interior.aspx?contenUd=13 97 3 61, Maio 2010

A missão de jornalista

O jornalista tem na sociedade uma influência muito mais profunda que a do mestre-escola e
responsabilidades muito mais sérias e muito mais graves. É o jornal que refere e que explica ao povo os
diferentes fenómenos da sua vida política, da sua vida social, da sua vida económica. É o jornal que faz a
crítica das instituições e dos costumes. É o jornal que eleva ou que deprime o nível da inteligência pública.
É o jornal que fixa para a multidão o ponto de vista nas altas questões da honra, da dignidade e do dever.

Ramalho Ortigão, As Farpas, vol. 11 (1871)

Efeitos dos meios de comunicação social

Sustentou-se durante muito tempo que os mass media, e em particular a televisão, levavam a manter
o conformismo social, reforçando o apego aos valores tradicionais. Era talvez verdade num primeiro
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tempo, quando os "comunicadores" procuravam sistematicamente a aprovação de um público
maioritário, oferecendo-Ihe espectáculos próprios para obter o acordo de todos ou de quase todos e, por
conseguinte, evitando as audácias que se arriscavam a ir contra os preconceitos. Uma política de
programas baseada unicamente numa
obediência sem matizes aos resultados das
sondagens e dos inquéritos de audiência fazia
afastar todas as emissões que só recolhessem os
favores de uma minoria. Entretanto, os efeitos
de saturação de uma e outra parte, a
multiplicação das fontes de difusão, produzindo
uma concorrência mais severa entre os media,
contribuíram para modificar este esquema, e
acontece, pelo contrário, que se procura
conquistar públicos novos e fragmentários, ou,
então, se tenta forçar a atenção saindo de
caminhos batidos. Foi assim que, há pouco, se
puderam ver as cadeias de televisão, nos países
de livre concorrência, abandonar a tendência
para o conformismo para dar prioridade às
Imagem disponível em:
diversas formas de contestação social. Em https://comunicacaoemmassa.wordpress.com/2013/05/31/a-preocupacao-
social-com-os-mass-media/
resumo, é bastante provável que, também neste
ponto, os mass media só reforcem, amplifiquem e precipitem evoluções de que não são causas diretas.
(...)
Quanto aos efeitos culturais, seria igualmente possível estudar as flutuações das influências da difusão
coletiva entre a cultura popular, a cultura clássica, a cultura de elite, a cultura de massa e, mais
genericamente, pôr a questão de saber se os novos media contribuem para elevar ou baixar o nível de
cultura de uma população. Mas isto supõe, em primeiro lugar, que haja acordo sobre as finalidades da
cultura e, de qualquer maneira, os efeitos neste domínio não podem ser os mesmos para todas as
categorias de público. Por exemplo, nos "intelectuais" e nas pessoas que possuem um nível de instrução
superior, o uso da televisão pode fazer diminuir o tempo consagrado à leitura, ao passo que o pequeno
ecrã traz um contacto com a produção cultural a pessoas pouco instruídas que, de qualquer maneira,
nunca leriam um Iivro. (...)
Jean Cazeneuve, Guia Alfabético das Comunicaçäes de Massas

Arma do jornalismo

A maravilhosa invenção de Guttenberg, que poderia ser sempre um poderoso instrumento do bem, um
foco de luz, um ensino de virtudes, uma fonte de verdadeira civilização, tem sido, em grande parte, o revés
de tudo isto, uma extraordinária sementeira de males de todo o género, de que o mundo tem colhido
deploráveis frutos, que lhe são, de nenhum modo compensados, em igual proporção, pela imprensa
moralizadora.
Não me refiro aos livros, conquanto, na boa e nas más horas, seta também importantíssima a sua
influencia. Refiro-me principalmente, aos jornais, que são hoje, em toda a parte, o livro do povo.
Pode um mau livro fazer grave dano, não há dúvida, mas a ação deletéria do veneno, que destila gota
a gota diariamente no seio das multidões, que, de ordinário, não lhes sobra tempo para os livros, é
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infinitamente mais certa e eficaz. O efeito do mau livro é lento, menos vivo, e produz-se, na máxima parte,
de cima para baixo. Pelo contrário, o efeito do mau jornal é mais rápido, é simultâneo em todas as classes;
e até se manifesta, principalmente, de baixo para cima. O livro pressupõe no leitor uma certa cultura, que,
às vezes, o jornal nem possui nem carece de exigir aos seus leitores, se é que frequentemente não conta
com a ausência dela.
João de Lemos, Serões d'Aldeia

A influência da comunicação social e manipulação da opinião pública

Vivemos numa atualidade em que a televisão aposta muito em novelas e desenhos animados
violentos. Será isto uma boa influência? Vejamos: as novelas retratam a vida do público ou tentam criar
uma imagem do dia-a-dia de cada indivíduo, mas se analisarmos bem, quantos divórcios ocorrem em
cada novela? Quantas crianças faltam às
aulas? Quantas desobedecem aos pais?
Quantas fazem asneiras? No meu ponto de
vista as pessoas por vezes esquecem-se que
aquilo é ficção e que a vida é a realidade.
Algumas ficam preocupadas com o que
aconteceu na novela e esquecem-se dos
problemas do dia-a-dia. Outras seguem a
novela como exemplo e não se preocupam se
desrespeitam os pais, os educadores e outros
indivíduos.
Imagem disponível em: http://thoth3126.com.br/midia-dos-eua-as-6-
Isto é considerado normal, pelo menos na corporacoes-que-controlam-a-informacao/

novela. A título de exemplo, num artigo que


abordava a questão da falta de civismo visível desde os mais novos, podia ler-se que uma criança por
volta dos 13 anos colocou uma câmara de filmar nos balneários femininos, tendo essa ideia sido retirada
de uma novela que é transmitida no horário nobre da televisão.
Por outro lado, a televisão tem um efeito preponderante na educação, como é o caso dos
documentários, debates, etc., que desenvolvem uma cultura melhor, uma melhor argumentação, um
aprofundamento de novas linguagens e uma visão do mundo que não está ao alcance de todos os indiví-
duos, podendo contribuir para mudanças de atitude e de respeito pela diversidade.
A publicidade em ajudas humanitárias também tem uma grande importância, porque mostra às
pessoas os problemas a que a humanidade está sujeita. (...) A televisão é muito utilizada para efeitos de
marketing, influenciando o público a comprar determinados produtos. Na altura do Natal são imensas as
publicidades feitas a todo o tipo de brinquedos, para que as crianças peçam aos seus pais aquela boneca
que viram na televisão ou aquele carro e para não falar na quantidade de propaganda feita aos
telemóveis. É um absurdo, leva a que as pessoas queiram comprar um outro topo de gama porque tem
mais funcionalidades, ou porque é mais bonito, ou porque cabe no bolso ou até porque dá para vestir
com umas calças mais apertadas. De facto é impressionante como a televisão influencia o consumismo da
população.
A opinião pública, como o próprio nome indica, é a opinião que o público tem. No entanto, cria alguma
controvérsia porque a opinião sobre um tema não é a mesma para todos os indivíduos. Essa opinião varia

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consoante a sua educação ou a sua ética. A opinião é o consenso entre a observação do meio comparada
com a ética individual. Jamais existirão dois indivíduos com a mesma ética.
Acontece que uma manifestação de um grupo, quando analisada pelo governo, não englobará o todo
[a população em geral). A única forma de tornar esta manifestação numa dita opinião pública é recorrer
aos media, que é quem verdadeiramente exerce pressão e influência no governo e na opinião pública. No
entanto, alguns media atendem a interesses dos grupos que as comandam, fazendo prevalecer a opinião
do grupo económico-politico que controla a comunicação e
passando ao povo a versão que bem quer da opinião pública.
A televisão influencia, e muito, o consumismo da população.
Em muitos dos casos só se compra um produto porque
apareceu na televisão. Por exemplo imaginemos que estamos a
comprar um perfume e hesitamos em qual das marcas
escolher; muito provavelmente vamos comprar a marca de que
mais nos falaram. Ora o mesmo acontece no caso de estarmos
numa cabina de eleições. Se estivermos indecisos em qual dos
políticos votar, votamos no que mais ouvimos falar.
[...) Mas o que nos garante que essa informação que a TV
transmite é a realidade? O político pode muito bem ir a uma
festa do povo, uma feira por exemplo, e chamar os media para
assim influenciar a opinião pública. É o que se vê hoje, em dia
de campanha. É difícil dizer qual o político mais "bondoso"; Imagem disponível em:
http://olharsocialista.blogspot.pt/2010/08/ditadura-da-tv-
eles visitam lares, escolas, etc. De certo modo é isto que o nas-eleicoes.html
público quer, mas também é pedida a maior das sinceridades,
que por vezes não é cumprida. Apenas como exemplo e não querendo dizer nada em concreto: "O
presidente dos EUA, no dia do atentado de 11 de Setembro de 2001, encontrava-se no meio de uma sala
de aula com crianças quando o informaram que as torres gémeas tinham sido atacadas". Pode ter sido
apenas uma coincidência mas... e se não foi? (...)
O jornalismo pode ser também usado como forma de manipulação da opinião pública. O trabalho
jornalístico consiste em recolher várias informações dispersas e distribuí-las pelos meios de comunicação.
O consumidor que lê um jornal ou assiste a um noticiário não tem como verificar se essa noticia
realmente aconteceu. Ele confia no jornal ou no noticiário. Esta incapacidade de comprovação leva a que
possam ocorrer noticias irreais apenas para o aumento das audiências ou para manipulação da opinião
pública. (...)
G. Martins, Influência da comunicação social na opinião pública. Trabalho realizado no âmbito da disciplina
de Ética, Comunicação e Sociedade. 2007: Escola Superior de Tecnologia de Tomar. (adaptado)

A sociedade de informação

As manifestações da ‘Sociedade da Informação’ rodeiam o nosso quotidiano, afectam o


comportamento das organizações e influenciam o pensamento estratégico das Nações.
Mas o que significa, afinal, essa expressão “Sociedade da Informação”? Por que razão as empresas
alteram o seu rumo e as Nações têm necessidade de reflectir estrategicamente em função deste novo
estádio da sociedade? Como será possível retirar o máximo proveito da revolução da informação em
curso? Será que estamos em condições de também poder beneficiar desta nova forma de organização da
sociedade? Haverá barreiras a transpor e estará ao nosso alcance a vontade e a energia para as vencer?
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Será que o espaço geopolítico europeu em que nos inserimos tenderá a reforçar a sua coesão em função
do desenvolvimento da Sociedade da Informação ou as forças subjacentes ao seu crescimento
contribuirão para cavar um fosso maior entre os países mais desenvolvidos e os que, como Portugal,
procuram a convergência com os primeiros?
A expressão “Sociedade da Informação” refere-se a um modo de desenvolvimento social e
económico em que a aquisição, armazenamento,
processamento, valorização, transmissão,
distribuição e disseminação de informação
conducente à criação de conhecimento e à
satisfação das necessidades dos cidadãos e das
empresas, desempenham um papel central na
actividade económica, na criação de riqueza, na
definição da qualidade de vida dos cidadãos e
das suas práticas culturais. A sociedade da
informação corresponde, por conseguinte, a uma
Imagem disponível em:
sociedade cujo funcionamento recorre http://moodle.ipiaget.org/moodle_2010_projecto/course/info.ph
crescentemente a redes digitais de informação. p?id=49
Esta alteração do domínio da actividade económica e dos factores determinantes do bem-estar social é
resultante do desenvolvimento das novas tecnologias da informação, do audiovisual e das
comunicações, com as suas importantes ramificações e impactos no trabalho, na educação, na ciência,
na saúde, no lazer, nos transportes e no ambiente, entre outras.
Uma das abordagens mais correntes considera que a transição da sociedade industrial para a
sociedade pós industrial é uma mudança ainda mais radical do que foi a passagem da sociedade pré-
industrial para a sociedade industrial. Em particular, prevê-se que, na sociedade pós-industrial, não serão
nem a energia nem a força muscular que liderarão a evolução, mas sim o domínio da informação. Nesta
óptica, os sistemas da sociedade, humanos ou organizacionais, são basicamente pensados como
“sistemas de informação”.
As tecnologias da informação e da comunicação são já parte integrante do nosso quotidiano.
Invadiram as nossas casas, locais de trabalho e de lazer. Oferecem instrumentos úteis para as
comunicações pessoais e de trabalho, para o processamento de textos e de informação sistematizada,
para acesso a bases de dados e à informação
distribuída nas redes electrónicas digitais, para além
de se encontrarem integradas em numerosos
equipamentos do dia-a-dia, em casa, no escritório,
na fábrica, nos transportes, na educação e na saúde.
A sociedade da informação não pertence a um
futuro distante. Assume uma nova dimensão no
modelo das sociedades modernas. Os computadores
fazem parte da nossa vida individual e colectiva e a
Internet e o multimédia estão a tornar-se
Imagem disponível em: omnipresentes. Contudo, tal como a rádio não
http://moodle.ipiaget.org/moodle_2010_projecto/course/info.p
substitui os espectáculos ao vivo, a televisão não faz
hp?id=49
as vezes da rádio, o cinema não fez desaparecer o teatro, estes novos meios também não irão substituir
os livros e outros meios tradicionais, mas simplesmente acrescentar as suas capacidades adicionais ao
leque das opções disponíveis. Há, também, a percepção de um fenómeno de turbulência provocado pela
sucessiva introdução de novas tecnologias. O tempo individual e colectivo é acelerado, impondo
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reajustamentos de valores e de comportamentos, devido à obsolescência de anteriores paradigmas
elaborados sobre uma base tecnológica diferente. O atraso ou a recusa desses ajustamentos, algo natural
em resultado da inércia social, corresponderão a um menor crescimento económico e a um decréscimo
do bem-estar.
(…) A Sociedade da Informação desenvolveu-se no quadro de economias de mercado. Às instituições
públicas tem cabido fundamentalmente um papel regulamentador para evitar desequilíbrios e injustiças
que possam decorrer do funcionamento livre das forças de mercado, assim como um papel dinamizador
indispensável. A emergência da sociedade da informação tem tanto de imprevisível como de riqueza em
oportunidades para os cidadãos, para as empresas e para as Nações, que se saibam apetrechar de forma
a não deixarem escapar os benefícios decorrentes.
Com o advento da revolução digital e da concorrência
à escala global, muitas empresas começaram a explorar
as novas oportunidades de mercado, desenvolvendo
áreas de negócio até então inexistentes. O crescimento
do mercado das comunicações móveis, a explosão da
Internet, a emergência do comércio electrónico, o
desenvolvimento da indústria de conteúdos em
ambiente multimédia, a confluência dos sectores das
telecomunicações, dos computadores e do audiovisual,
demonstram o enorme potencial das tecnologias de
Imagem disponível em:
informação para gerar novas oportunidades de emprego,
https://professortecnologias.wordpress.com/2013/11/0
estimular o investimento e o desenvolvimento acelerado 3/o-papel-do-educador-na-sociedade-da-informacao/
de novos sectores da economia.

In TIC – Cadernos Técnicos. Associação Industrial do Minho [Consultado em 2015-10-05 15:23] Disponível na
Internet em: http://www.aiminho.pt/imgAll/file/Manuais/TIC.pdf

A desinformação na época da informação


Vivemos na era da informação. À distância dum clique sabemos o que se passa do outro lado do
mundo. Visitamos museus, conhecemos ruas de cidades desconhecidas, vemos atentados terroristas
quase em directo, subimos ao Everest ou descemos às fossas das Marianas e tudo sem sair do sofá.
Sabemos, em segundos - literalmente - que um hotel está sequestrado e, ainda a água não regressou ao
mar e já sabemos que houve um tsunami. Ainda os prédios estão a vacilar e já todos sabemos que houve
um sismo no outro lado do mundo. Nadamos com tubarões e caçamos com os leões na segurança da
nossa sala. Vamos a Plutão ou ao Sol sem sair da Terra.
Gosto, sinceramente, de viver nesta era. Em que ouço um estrondo às dez da noite e abro o facebook
e fico a saber que explodiu um paiol em Sesimbra. Em que ouço as sirenes dos bombeiros e um site de
noticias me diz que há um incêndio na Arrábida.
Gosto que haja blogs que me dão a conhecer a realidade doutros países, que me ajudam a conhecer
melhor o mundo em que vivo (ainda que haja coisas, neste mundo, que eu preferia não conhecer).
E gosto de poder pesquisar sobre tudo e sobre nada sem sair do conforto do lar. De estar aqui,
sentadinha, e poder descobrir o que me apetecer, procurando, visitando, questionando. É a era da
informação no seu melhor.

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Mas, e tinha de haver um mas, esta é também a era da desinformação, dos boatos, do diz que disse,
das noticias sem nexo. De meias verdades que se tornam
mentiras completas. E tudo porque muitos seres humanos
são preguiçosos e acreditam em tudo o que lêem.
Já uma vez falei aqui sobre algumas notícias que são
partilhadas até à exaustão sem qualquer cuidado em averiguar a
sua veracidade. Uns meses mais tarde... tudo na mesma ou ainda
pior.
No dia dos atentados em Paris, passava em nota de rodapé
duma das televisões portuguesas que um campo de refugiados
estava a arder. Era a única estação que falava nisso e eu fui
pesquisar no google se era verdade. Era. Em Outubro deste ano
um campo de refugiados ardeu, resultante da explosão duma
bilha de gás. Não em Calais como diziam nessa nota de rodapé
Imagem disponível em: http://blogs.salleurl.edu/tic-
mas no norte da Tailândia. entornos-educativos/

Refugiados que odeiam viver em Portugal. Circula, por ai,


uma noticia que diz que os refugiados que cá vivem estão desiludidos e se querem ir embora. Uma leitura
mais atenta mostra que isto aparece num site conhecido por divulgar falsas notícias. Infelizmente
continua a ser partilhado e a dar visibilidade ao site...
Torre Eiffel destruída por mísseis jihadistas... está até dá vontade de rir, não fosse verdade que está a
ser partilhada vezes sem conta. Com direito a fotos e tudo. Não acham que, se fosse verdade, os serviços
noticiosos de todas as estações de televisão ou os sites credíveis dariam essa notícia?
Por ultimo, o inicio da terceira guerra mundial confirmado pela ONU. Mais uma vez... Não acham que,
a ser verdade, o mundo noticioso parava para falar nisso?
Meus caros. Estamos na época da informação. Nunca tanta informação esteve disponível. Somos uns
privilegiados. Aproveitem esse privilégio para estarem informados, não para partilharem desinformação.

Magda L. Pais, In StonArt Portugal, publicado em 2º de novembro de 2011 em:


http://stoneartportugal.blogs.sapo.pt/a-desinformacao-na-epoca-da-informacao-262480

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