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,.., A
E SACRIFIC/O SOCIAL
• Gláucia Maria Vasconcellos Vale * PALAVRAS·CHAVE: Japão, eficiência econômica, qualidade
Economista, pós-graduada em Economia Internacional de vida.
(DENUniversité Paris I, Sorbonne, Panthéon),
Professora da PUC/MG, Coordenadora de Pesquisa e
Desenvolvimento do SEBRAE.
*ABSTRACT: The author makes an evaluation of the Japanese
economic performance, by using some "sucess indicators":
* RESUMO: A autora analisa a performance da economia ja- static efficiency, dinamic efficiency, national income' s growth
ponesa, através de alguns "indicadores de sucesso" de uso rate, consumer satisfation and income distribution. A search
corrente: eficiência estática, eficiência dinâmica, taxa de was conducted covering the industrial organization and
crescimento da renda nacional, satisfação do consumidor e enterprise environment, showing some vulnerable aspects of
perfil de renda. Faz uma minuciosa incursão no terreno da the so called "Japanese miracle".
organização industrial e no ambiente empresarial do país,
demonstrando os pontos vulneráveis do chamado "milagre
japonês" * KEY WORDS: [apan, economic efficiency, quality of life.
Copyright ©1992, Revista de Administração de Empresas I EAESP I FGV, São Paulo, Brasil. 45
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Mesmo fora dos grandes grupos em- cesso de modernização com economias
presariais pode-se observar a forte ten- externas geradas pelas grandes organiza-
dência associativista das empresas. O Ja- ções, através da oferta conjunta de matéria-
pão possui aproximadamente 50.000 coo- prima, capital humano e mercado.
perativas empresariais, reunindo perto de Mas a cooperação empresarial convive
80.000 empresas associadas. Existe um com um ambiente de grande competição,in-
banco unicamente voltado para o financia- tensificada, atualmente, pelo processo de
mento desses empreendimentos coletivos reconversãoindustrial que atravessa o país.
- o "Shoko Chukin Bank", associado aos O começo da década de 1970 marca o
movimentos de relocalização industrial em final de um ciclo de taxas elevadas de
curso no país. Atualmente o banco tem di- crescimento econômico, que vinha se
rigido seus financiamentos para a cons- mantendo desde o início do século, so-
trução de distritos industriais - "Danchi" mente prejudicado pela Segunda Guerra
- para abrigar empresas cooperativas. Mundial e pelo período de reconstrução
que se seguiu. Três eventos externos vie-
ram afetar, significativamente, a economia
••••••••••••••••••••••• japonesa: os dois choques sucessivos do
A parcela de renda familiar alocada petróleo em, respectivamente, 1973e 1978,
em gastos com alimentação, embora e a grande valorização do yen em 1985.
Embora a economia tenha demonstrado
venha declinando nas últimas grande capacidade de adaptação à nova
décadas, é ainda bastante elevada, realidade, as conseqüências, a nível inter-
face a parâmetros dos demais países no, foram penosas. Ao lado desses eventos,
desenvolvidos. Em 1970, o coeficiente outros fatores externos vêm contribuindo
de Engels foi de 25%. para gerar mudanças, como as pressões
para uma maior liberalização da economia
••••••••••••••••••••••• para produtos estrangeiros e contra a pe-
netração de produtos japoneses no oci-
dente.
Uma outra característica bastante pecu- O Japão está entrando numa nova fase
liar do modelo industrial japonês, que de seu processo de desenvolvimento eco-
constitui, também, indicador do grau de nômico, que pode ser caracterizada pela
integração empresarial existente, é a or- redescoberta de seu mercado interno, pela
ganização por linhas de produção, for- ênfase em empresas intensivas em pro-
mada por empresas independentes, mas gresso técnico e pela tendência a uma
que funcionam como se fizessem, coleti- crescente diferenciação de produto, para
vamente, parte de uma linha de montagem atender a uma demanda mais personali-
de um mesmo empreendimento, a exem- zada e exigente.
plo dos produtores de talhares e faqueiros Se durante a fase de rápido crescimento
da cidade de Tsubame, que é, individual- econômico as empresas competiam entre
mente, a maior produtora desses artigos no si, basicamente, através de preços, a partir
mundo. Nesse local, existem mais de 200 de meados de 70a competição intensificou-
pequenas e médias empresas, possuindo, a se. A diferenciação de produtos, a especia-
maior parte delas, menos de 20 emprega- lização, a excelência empresarial passam a
dos. Cada empresa especializou-se numa ser variáveis cada vez mais importantes.
etapa específica do processo de produção Esse novo ambiente vai exigir das empre-
e trabalha de maneira integrada com as sas mudanças na maneira de encarar o
outras empresas. Essas empresas organi- mercado, explorar novas tecnologias e ad-
zam-se numa espécie de associação, que se quirir vantagens comparadas específicas.
encarrega da coordenação do processo de Muitas empresas, sobretudo de menor
produção e da promoção mercadológica porte, não estão conseguindo sobreviver.
5. ISHIKURA, Mitsuo. "Producing
district industry and pro motive
do produto. No período 1974/1984, a taxa de mortali-
measures".ln: EvolutionofPoliceand Como salientado por Mitsuo Ishíkura", dade das pequenas e médias empresas foi
Changing Condiction of Small and , os japoneses conseguiram modernizar a de 54%, o que indica que perto de 2.7 mi-
Medium Sizes Enterprise in Japan, produção técnica de seus pequenos esta- lhões de empresas encerraram suas ativi-
Osaka, OITC, 1989. belecimentos, além de reforçar esse pro- dades.
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os tratados comerciais que haviam sido soube, de maneira eficiente, traduzir isto
negociados por Tokugawa e levaram a em políticas voltadas para o apoio às em-
cabo urna série de reformas de base. Foram presas. Através de urna atuação ativa, es-
criados os Ministérios de Finanças, da timulando e direcionando o setor privado,
Marinha, das Forças Armadas e da Edu- o governo tem definido claramente priori-
cação. Este último levou apenas três déca- dades de desenvolvimento e redirecionado
das para concluir um ambicioso programa as atividades de ramos industriais tradicio-
de educação universal. Foi também reali- nais para ramos mais modernos, intensivos
zada urna reforma fiscal, que instituiu um em progresso técnico. Para facilitar sua
imposto sobre a propriedade da terra, o missão, o governo parece contar com o re-
que permitiu ao governo construir ferro- conhecimento da nação da importância do
vias, linhas telegráficas e outros equipa- seu papel corno promotor e líder do pro-
mentos na área de infra-estrutura. Foram cesso de desenvolvimento, em conjunto
criadas indústrias em ramos considerados com as grandes lideranças empresariais,
estratégicos e enviados observadores para que se manifestam através de poderosas
os países ocidentais em busca de novos associações - Keidanren, Nikkeiren,
conhecimentos e tecnologias que pudes- Nissho, Keizai.
sem ser assimiladas pelas empresas japo- Essas organizações econômicas tiveram
nesas recém-criadas. A maior parte dessas um papel fundamental durante o processo
empresas foi, posteriormente, passada de desenvolvimento e de consolidação da .
para as mãos da iniciativa privada. Mas o economia japonesa, funcionando corno
governo continuou a dedicar-se à tarefa de mecanismos mobilizadores de consenso.
reforçar as empresas, através de subsídios Gerald L. Curtis", na sua análise da influ-
e privilégios especiais. ência que os grandes grupos empresariais
exercem sobre o meio político japonês, re-
••••••••••••••••••••••• conhece que o Japão possui mecanismos
únicos para facilitar o contato e a interação
No período 1901/1913 a produção entre suas elites.
industrial japonesa cresceu, em média Embora o governo exerça um papel re-
11 % a.a., contra 3.6% nos Estados levante, no que diz respeito ao desenvol-
Unidos, 2.4% no Reino Unido e vimento tecnológico do país, através de
4.7% na Alemanha. medidas de incentivo e estímulo ao setor
privado, é, na verdade, no segmento em-
••••••••••••••••••••••• presarial privado, que tem lugar a grande
corrida na área de pesquisa e desenvolvi-
No novo arranjo institucional do pós- mento, chave para o futuro do Japão. Os
guerra, o Ministério da Indústria e Co- gastos do país com pesquisa e desenvolvi-
mércio Internacional - MITI - encarre- mento ultrapassaram 9.000bilhões de yen
gou-se de definir objetivos e estratégias em 1986,o que representou 3.5% da renda
para segmentos industriais específicos. nacional, Desse total, 79% foi investido
Através desse Ministério passava todo pelo setor privado. Essa participação des-
processo de transferência de tecnologia toa, significativamente, da encontrada em
ocidental, tão importante no desenvolvi- qualquer outro país. Nos Estados Unidos,
mento industrial japonês. O MITI zelava por exemplo, as empresas participam com
para que a melhor tecnologia fosse adqui- 50% das fontes de recursos para Pesquisa
rida, sob as melhores condições e visando e Desenvolvimento, enquanto que o go-
à sua difusão no ambiente de negócios do verno entra com o restante. No Reino
país. Unido, a participação do setor privado é de
No entanto, enquanto o governo dita as 50.2%,na Alemanha, de 55.2%,na França,
7. CRAIG, A. L. "Functional and diretrizes que irão nortear o crescimento de 41.6%. No Brasil, a participação das
dyslunctional aspects 01government
das empresas, conserva-se urna ampla empresas privadas é inferior a 10%.
bureaucracy'. In: VOGEL, E. V. Op.
cil. margem de manobra para a iniciativa pri- A natureza das relações empresariais
vada. Segundo Albert M. Craíg", no seu também funciona corno urna fonte de es-
8. CURTIS, Gerald L. "Big business estudo sobre a burocracia japonesa, o ob- tímulo para a geração e a difusão de
and political inlluence'.ln: VOGEL, jetivo do Japão no pós-guerra tem sido inovação. Sobretudo no interior dos gran-
E. V.Op. cil. crescimento econômico, e a burocracia des grupos empresariais, existe um pro-
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mia é a relação produtividade da mão-de- or à média ocidental, que está hoje abaixo
obrai custo da mão-de-obra. Um estudo de 40 horas. Entre as grandes e as peque-
publicado pelo Dresdner Bank AF, na nas empresas existe uma diferença sema-
Alemanha, salienta que os baixos custos da nal de cinco horas e meia. Também o nú-
mão-de-obra, por um lado, ou, por outro, mero de dias de trabalho na semana não é
a sua elevada produtividade, não seriam, fixo. Aproximadamente 97% das empresas
por si SÓ, suficientes para dar ao país uma de grande porte oferecem regime de fim de
vantagem diferenciada na esfera interna- semana de dois dias, enquanto apenas 43%
cional. Apresenta uma comparação entre das empresas de pequeno porte fazem o
índices de produtividade e salário de dife- mesmo. Além do fato de a jornada de tra-
rentes países desenvolvidos, demonstran- balho no Japão ser muito longa, o traba-
do que o Japão possui as melhores condi- lhador não usufrui, plenamente, de suas
ções de competitividade, com o mais baixo férias. Enquanto pode tirar, em média, 14.8
"salário eficiência" ou seja, com um salário dias de férias remuneradas por ano, ele, na
médio relativamente mais baixo em rela- verdade, costuma tirar apenas 8.8 dias.
ção a outros países pesquisados e, ao mes- Seus gastos pessoais com lazer são ainda
mo tempo, apresentando uma produtivi- bastante limitados. Em 1987, a parcela da
dade relativamente mais alta. O valor da renda média familiar alocada neste item foi
produção, para cada unidade de custo de inferior a 6%.
produto, é, no Japão, 39% mais alto que na
Alemanha. • ••••••••••••••••••••••
TAXA DE CRESCIMENTO NA RENDA
Cerca de 42 % das empresas
NACIONAL, POUPANÇA E LAZER subcontratadas de pequeno e médio
porte, classificadas como possuindo
Os indicadores de sucesso do modelo excelentes habilidades gerenciais,
japonês, em relação a esta variável, são estão realizando pesquisa e desenvol-
muito bons. O país apresenta taxas eleva-
das de poupança. Durante os anos 60, essas
vimento com suas subcontratantes.
taxas foram duas a três vezes superiores às •••••••••••••••••••••••
existentes no Ocidente, chegando a 40% do
PNB. Em 1987, a propensão média para Com taxas elevadas de poupança,
poupar foi da ordem de 24%. Alguns fa- grande motivação e capacidade de traba-
tores vêm contribuindo para isto, como a lho do empregado, além de relações tra-
conhecida frugalidade do japonês, a ne- balhistas bastante estáveis, a performance
cessidade de as famílias economizarem do Japão, no que diz respeito às taxas de
para enfrentar o período de aposentadoria, crescimento da renda nacional, tem sido,
mal resguardado pelo Estado, a necessi- inquestionavelmente, a melhor do mundo.
dade de oferecerem boa educação para os Isto pode ser melhor visualizado pela
seus filhos, numa sociedade onde o acesso apresentação das taxas de crescimento de
às melhores escolas é fator determinante sua economia ao longo deste século. No
de mobilidade e sucesso profissional, a período 1901/1913, a produção industrial
necessidade de economizarem para a japonesa cresceu, em média, 11% aa., con-
aquisição da casa própria, num país onde tra 3.6% nos Estados Unidos, 2.4% no Rei-
os salários relativos não são elevados e o no Unido e 4.7% na Alemanha. Durante o
preço da terra é o maior do mundo. Soma- período 1913/1938, enquanto a taxa de
se a isto a tendência de as empresas inves- crescimento de produção industrial japo-
tirem grande parte de seus lucros, sendo nesa continuava alta - 8% aa. -, a dos
relativamente baixa a taxa de apropriação Estados Unidos foi de 1.4%, a do Reino
privada. Unido de 1.6%,a da Alemanha de 1.7%.O
Por outro lado, o tempo de trabalho no crescimento do país neste século somente
Japão é bastante elevado, face a parâmetros ficou realmente comprometido durante a
ocidentais. Embora o número de horas guerra e no pós-guerra, na fase de recons-
trabalhadas por semana varie bastante trução. Esse processo estendeu-se até 1955,
entre as unidades produtivas, a média é de quando, então, a economia atingiu nova-
41 horas e 40 minutos, o que é bem superí- mente os níveis anteriores à guerra, en-
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trando na fase de rápido crescimento, que dia, 72.000 yen/ano e o japonês 369.000
vai durar até o início de 1970. yen. No que diz respeito ao item habitação,
embora as residências japonesas sejam, em
SATISFAÇÃO DO CONSUMIDOR E QUALIDADE geral, muito pequenas - média de 40m2
DE VIDA DA POPULAÇÃO - A REVERSÃO DE por família - e geralmente situadas longe
EXPECTATIVAS do local de trabalho, não são acessíveis
para todos os trabalhadores. O preço mé-
o Japão tem apresentado taxas elevadas dio de uma residência no país equivale, em
de crescimento econômico, em detrimento média, a 5.7 vezes o salário anual de um
de uma maior satisfação do consumidor. O trabalhador, enquanto nos Estados Unidos
processo de rápido crescimento não gerou e na França esta relação é de três vezes.
uma melhoria proporcional na qualidade Esses dados vêm demonstrar que apesar
de vida da população, que apenas agora de o Japão ter se transformado em uma
começa a vislumbrar outros objetivos as- grande potência econômica, o atual padrão
sociados ao desenvolvimento, tais como de vida de sua população ainda deixa
mais tempo e melhores condições para muito a desejar. Essa constatação pode ser
lazer, melhores condições ambientais, melhor observada através de um indicador
melhoria no sistema previdenciário. A mais geral, o Coeficiente de Engels. A
qualidade de vida da população é bem parcela de renda familiar alocada em gas-
inferior à encontrada em outros países de- tos com alimentação, embora venha decli-
senvolvidos. nando nas últimas décadas, é ainda bas-
Apesar do desempenho excepcional da tante elevada, face a parâmetros dos de-
economia em termos de crescimento da mais países desenvolvidos. Em 1970, esse
renda nacional, somada ao fato de a renda coeficiente foi de 25%. No período 1980/
per capita ser a maior do mundo, o país 1985, enquanto a porcentagem da renda
ainda não atingiu um nível de qualidade familiar gasta com alimentação foi de 19%
de vida compatível com o existente nos no Japão, nos Estados Unidos foi de 13%e
países mais desenvolvidos do Ocidente. na Bélgica, Nova Zelândia, Áustria, Reino
Um estudo realizado por três sindicatos, Unido, Alemanha Ocidental, França, Ca-
localizados no Japão, Alemanha e Estados nadá, Suíça, Suécia, Noruega esse coefici-
Unidos permite uma comparação do pa- ente foi inferior. No caso da Noruega, esse
drão de vida da população japonesa. Fo- coeficiente foi de 5%. No Brasil, ele foi de
ram pesquisadas oito famílias japonesas, 35%.
seis americanas e cinco alemãs, tomando- Apesar de o Japão ser dos maiores pro-
se como referência o mês de outubro de dutores de aparelhos eletrônicos, tendo
1987.11Embora o salário médio regular por produzido 17 milhões de aparelhos de te-
hora, excluindo-se as horas extras, fosse levisão em 1985, a relação aparelhos de
muito similar nos três países, a média de TV/ população é bastante inferior à
horas trabalhadas no Japão era bem supe- americana. Em 1985, o Japão apresentava
rior à dos demais: 2.387horas/ ano, contra uma média de, respectivamente, 787/580
2.027 nos Estados Unidos e 1.651 na Ale- aparelhos de rádio e TV para cada grupo
manha. Se considerado o poder aquisitivo de 1.000 habitantes, enquanto os Estados
dos salários, o Japão fica, também, em Unidos apresentavam 2.101/798.
desvantagem. Dado o elevado custo de O sistema de seguridade social, embora
vida do país o trabalhador japonês gasta venha sendo aperfeiçoado, é ainda muito
relativamente mais em bens de consumo, incipiente. A aposentadoria representa um
tais como alimentação e vestuário. Parcela sério problema social. Ocorre muito cedo,
significativa de seu salário é alocada nes- quando o empregado está ainda em plena
ses itens. O japonês gasta 7.4 vezes mais forma, nos seus 50/55 anos, gerando uma
que o trabalhador americano em roupas e queda abrupta de renda. O pai de família
2.1 vezes o que gasta o alemão. aposentado, que não possuir uma pou-
O japonês também gasta muito com a pança acumulada ao longo de seus anos de
educação dos filhos. A pesquisa indicou trabalho ou não conseguir um novo em-
que, enquanto o trabalhador americano é prego, em geral em empresas menores as- 11. Citado por OIT· Organisacion
beneficiado por um ensino publico básico sociadas ao seu antigo empregador, passa Inlernacionale dei Trabajo,
de boa qualidade, o alemão gasta, em mé- por muitas dificuldades. Actualidad Sociolaborial, nº 4/1988.
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co. Nesse aspecto, muitas das restrições ta taxas elevadas de poupança, seu padrão
que vêm comprometer a sua eficiência es- de consumo é de grande austeridade. Parte
tática, ou seja, sua capacidade de alocação significativa de sua renda é, ainda hoje,
ótima de recursos num determinado perío- alocada para gastos com alimentação. Suas
do de tempo, acabam funcionando como condiçõesde habitação são bem inferioresàs
estímulos para uma melhor eficiência di- encontradas em outros países desenvolvi-
nâmica. Este é o caso, por exemplo, da es- dos. A moradia padrão é relativamente mais
trutura associa tivista e oligopolizada de cara, em geral de pequeno porte e localiza-
sua economia, que vai facilitar a difusão do da longe do local de trabalho. Muitos dos
progresso técnico e a negociação de inte- serviçose benefíciossociaise previdenciários
resses entre o setor privado e o governo. gerados pelo Estado são ainda incipientes e
Também na baixa mobilidade de sua mão- suas falhas atingem particularmente alguns
de-obra, com sua relativa rigidez, em vir- segmentos mais vulneráveis da população,
tude dos princípios de emprego vitalício e tais como os aposentados, os trabalhadores
de antigüidade, pode-se encontrar parte da de tempo parcial, as mulheres, os trabalha-
explicação da grande identidade de inte- dores estrangeiros.
resses entre trabalhadores e sindicatos com Esses segmentos também têm sido os
as empresas. mais sacrificados pela atual lógica de acu-
mulação. Através de mecanismos de re-
••••••••••••••••••••••• dução e ampliação de seu contingente de
" Dizem que nós, os japoneses, trabalhadores móveis e de suas relações
com a pequena empresa subcontratada, a
copiamos todo mundo e é
grande empresa japonesa preserva sua
verdade. Primeiramente copiamos flexibilidade em momentos de mudança
os coreanos, depois os chineses, no ambiente de negócios. Estimulando a
depois os ingleses e depois os aposentadoria precoce de seu pessoal, ad-
americanos. Sempre o que nos parecia ministra a massa salarial e preserva o sis-
tema de emprego vitalício sem compro-
o melhor no mundo para ser
meter a sua competitividade.
copiado. Agora não sabemos mais Por outro lado, é inquestionável que os
quem copiar. Talvez copiemos sacrifícios gerados por esse processo de
nós mesmos." crescimento econômico estejam sendo mais
igualmente distribuídos pela população,
••••••••••••••••••••••• embora alguns segmentos sofram mais do
A capacidade de trabalho e de sacrifício que outros. Isto pode ser constatado pela
de sua população, que vem mantendo ta- análise do fator "perfil de renda", onde fica
xas elevadas de poupança e um patamar patente que o país atingiu um patamar de
muito reduzido de lazer, tem tido reflexos distribuição de renda dos menos concen-
significativos a nível das taxas de cresci- trados do mundo.
mento da renda nacional. Esse fator cons- Avaliando-se as perspectivas de evolu-
titui um ponto-chave para compreensão do ção da economia japonesa, é importante
chamado "milagre japonês" do pós-guerra. considerar hoje que determinadas variá-
Indica que a acumulação, visando ao veis, eventualmente, poderão vir a funcio-
crescimento econômico, constitui, ainda nar como restrição à atual lógica de acu-
hoje, o motor propulsor e legítimo da so- mulação que rege a sociedade, e que não
ciedade. faziam parte do contexto econômico do
No entanto, é na análise da variável pós-guerra:
"satisfação do consumidor" que reside o
ponto vulnerável do modelo econômico 1. Crescente reconhecimento de que
japonês. A atual qualidade de vida de sua existem outros objetivos ligados ao pro-
população não está consistente com o pa- cesso de crescimento econômico:
tamar que o país atingiu na esfera econô- Até o momento não foram contempla-
mica internacional. Ao mesmo tempo em dos objetivos de crescimento econômico
que a jornada de trabalho é mais longa do associados à melhoria na qualidade de
que a existente em outros países desen- vida da população. Surgem, no entanto,
volvidos e o trabalhador japonês apresen- evidências de que essa situação está em
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