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Resumo
1
Palavras-Chave: Política fiscal, estimação bayesiana, capital público, análise de
bem estar.
Abstract
In this article we estimated a DSGE model with fiscal shocks (tax rate, consump-
tion and investment) for Brazil, using bayesian methods. Differently from previous
literature, we estimated the public capital elasticity on production function and the
utility attributed to the government consumption by the families. Moreover, we con-
sidered two different production functions, one with constant returns to scale and an-
other with increasing returns to scale. The mean public capital elasticity was estimated
as 0.10 and 0.25, depending on which one we used, and the utility of government con-
sumption was estimated as half of the private consumption. Although the productivity
shocks were the main driving force of output, private consumption and private invest-
ment, the tax rate shocks are the main source of variation on hours worked, and have
a significant role on explaining output, private investment and private consumption.
Government consumption does not help in explaining the economy volatility, which is
not the case of government investment, especially in the increasing returns case. The
welfare analysis indicates that the public spending composition should be more tar-
geted on investment and the tax burden should be lowered. Comparing with the Pareto
optimum, the decentralized economy yields a high welfare loss.
Keywords: Fiscal policy, bayesian methods, public capital, welfare analysis.
JEL Class: E62; E32.
2
1 Introdução
O estudo dos ciclos econômicos tem se beneficiado amplamente do desenvolvimento
dos modelos DSGE (dynamic stochastic general equilibrium). Por serem baseados no
comportamento ótimo dos agentes em resposta ao ambiente econômico (microfunda-
mentos) estes modelos não estão sujeitos à crítica de Lucas (1976). Além disso, esses
modelos utilizam a mesma estrutura básica usada na análise de crescimento de longo
prazo (Solow, 1956, Ramsey, 1928), unificando assim a teoria macroeconômica de
curto e longo prazo. Não por acaso, os banco centrais de diversos países tem procu-
rado desenvolver modelos DSGE para seus respectivos países, visto que estes são uma
ferramenta extremamente útil na decisão de política econômica e previsão dos agrega-
dos macroeconômicos. Alem disso, com o desenvolvimento de técnicas bayesianas de
estimação, tornou-se mais viável a estimação dos parâmetros estruturais que governam
o comportamento do modelo.
A literatura de modelos DSGE bayesianos para o Brasil ainda é escassa, princi-
palmente no que se refere aos impactos da política fiscal nos ciclos econômicos. Um
dos primeiros estudos neste sentido é o modelo desenvolvido pelo Banco Central de-
nominado SAMBA (Stochastic Analytical Model with a Bayesian Approach). Neste,
é desenvolvido um modelo com rigidez de preços para uma pequena economia aberta
em que a autoridade monetária persegue uma meta de inflação e a autoridade fiscal
uma regra de gastos levando em conta uma meta de superávit primário. Além disso,
40% dos consumidores são considerados como não tendo acesso ao mercado de capi-
tais e de credito e, portanto, consomem toda a renda do trabalho a cada período (não-
ricardianos).
Em um estudo bastante similar, mas utilizando um arcabouço de economia fechada
e com o objetivo de estimar a proporção de consumidores não-ricardianos, Silva e Por-
tugal (2010) concluem que choques nos gastos do governo têm um impacto negativo
sobre o consumo, mesmo em um modelo em que existem agentes não-ricardianos. Isto
se deve à baixa presença relativa deste tipo de consumidores para o Brasil, estimada
em torno de 10%.
Carvalho e Valli (2010) estimam um modelo em que a autoridade fiscal brasileira
segue uma regra para o superávit primário, o investimento público e as transferên-
cias, sendo que o gasto em consumo é a variável de ajuste. Neste caso, choques
que levem a uma diminuição do superávit primário em relação à meta levam a um
3
aumento na demanda, gerando uma elevação do produto e do consumo dos agentes
não-ricardianos. Surpreendentemente, também ocorre um aumento no consumo dos
agentes ricardianos, pois este choque leva a uma diminuição do investimento, devido
ao aumento no preço do mesmo.
Diferentemente dos artigos mencionados, utilizamos o método de estimação baye-
siana para um modelo DSGE sem fricções1 , sendo que a única alteração em relação
ao modelo neoclássico é a presença de choques fiscais (tributação, consumo e inves-
timento), onde os gastos em consumo do governo entram na função de utilidade das
famílias e os gastos em investimento do governo entram na função de produção das
firmas (capital público), sendo financiados via tributação sobre a renda. Neste caso,
não existe papel para a política monetária, sendo que podemos focar mais diretamente
no papel da política fiscal.
Sendo assim, utilizamos dados anuais de 1950 a 2003, o que nos permite usar
a série de investimento público nas estimações, de modo a identificar o parâmetro de
produtividade do capital público na função de produção, pois esta série de investimento
não está disponível em freqüência trimestral. Apesar de existirem estudos de cresci-
mento de longo prazo que buscam analisar o impacto do capital público no produto
e na produtividade total dos fatores (Ferreira e Malliagros (1998), Mussolini e Teles
(2010)), não existem estimativas diretas deste parâmetro para a função de produção
brasileira. Carvalho e Valli (2011) calibram este parâmetro de modo que a remunera-
ção do mesmo em steady state paga pelos produtores de bens intermediários apenas
compense a depreciação. Em nosso estudo, assim como em Lansing (1998), Baxter e
King (1993) e Ambler e Paquet (1996), o capital do governo é um bem público provido
sem custos para as firmas.
Adicionalmente, consideramos duas especificações para a função de produção,
uma com retornos constantes de escala e outra com retornos crescentes de escala.
Aparentemente, não existe um consenso na literatura sobre a melhor especificação
a ser usada, sendo que alguns estudos têm optado pela primeira hipótese e outros pela
segunda. Também estimamos o parâmetro relacionado ao consumo do governo na
função de utilidade dos agentes privados e os parâmetros que determinam o compor-
tamento dos choques fiscais.
1
Araújo Jr. (2009) também estima um modelo DSGE para o Brasil sem fricções (exceto por custos
de ajustamento do capital), mas não considera a política fiscal no modelo, focando no papel dos choques
tecnológicos investimento específicos em uma economia aberta.
4
No nosso caso, não faz sentido estipular uma regra de superávit primário, uma vez
que este tipo de política só passou a ser implementada de fato em 1999, com o surgi-
mento do sistema de metas de inflação. Assim sendo, abstraímos da possibilidade do
governo financiar seus gastos via emissão de dívida, ou seja, definimos que o governo
mantém o orçamento equilibrado a cada período. Analisamos o papel dos choques
fiscais na volatilidade das variáveis privadas através da decomposição da variância e
fazemos uma análise de bem estar em relação a mudanças hipotéticas na política fiscal,
e em relação ao ótimo de Pareto (planejador central).
Na seção 2 é apresentado o modelo estudado. Na seção 3 são apresentados o
método de estimação bayesiano e os resultados. Na seção 4 é feita a decomposição
da variância do erro de previsão, e na seção 5 a análise de bem estar. Finalmente, as
conclusões são apresentadas na seção 6.
2 Modelo
Nesta seção desenvolvemos um modelo DSGE com choques fiscais. Os gastos em
consumo do governo geram utilidade para as famílias e o estoque de capital do go-
verno entra na função de produção como um insumo adicional aos insumos privados,
aumentando a produtividade da economia. A justificativa em separar os dois tipos de
capital seria de que o capital público e privado não seriam substitutos perfeitos no pro-
cesso produtivo.2 São utilizadas duas especificações para a função de produção, uma
com retornos constantes de escala e uma com retornos crescentes de escala.
2.1 Famílias
Considere uma economia fechada habitada por um continuum de famílias idênticas no
intervalo [0,1] em um horizonte de tempo infinito. As preferências das famílias são
dadas por
∞
X
E0 β t [lnct − ψht ] (1)
t=0
ct = cpt + γcgt
2
Para uma discussão teórica sobre a separação do capital entre público e privado ver Barro (1990) e
Barro e Sala-i-Martin (1992).
5
onde ct é um agregador de consumo no moldes de Barro (1981) em que γ > 0,
cpt é o consumo privado e cgt é o consumo do governo. Neste caso, uma unidade de
consumo do governo gera a mesma utilidade que γ unidades de consumo privado, ou
seja, cp e cg são substitutos perfeitos, mas (possivelmente) não na razão de um para
um. Além disso, Et é o operador esperança condicional ao conjunto de informação no
período t, 0 < β < 1 é o fator de desconto, ht são as horas trabalhadas e lt é o lazer,
onde lt = 1 − ht . Esta é uma especificação do tipo trabalho indivisível desenvolvida
por Hansen (1985). A restrição orçamentária das famílias é
2.2 Firmas
As firmas competitivas utilizam capital e trabalho alugado para produzir bens yt ,
tomando como dado o estoque de capital público kgt e os preços dos insumos, de
acordo com a função de produção Cobb-Douglas
θ θ
yt = ezt kptp hθt h kgtg . (4)
Assim, temos uma adaptação do modelo de Barro (1990) para uma economia sem
crescimento endógeno, isto é, estamos supondo θg < 1 − θp . Do problema de maxi-
mização de lucros das firmas temos que os fatores de produção são pagos pelos seus
produtos marginais
θ θ
wt = θh ezt kptp hθt h −1 kgtg (5)
θ −1 θ
ut = θp ezt kptp hθt h kgtg . (6)
6
Consideramos duas especificações alternativas para a função de produção:
2.3 Governo
O governo tributa a renda e mantém o orçamento equilibrado de acordo com
2.4 Choques
A taxa de impostos sobre a renda τt , e as parcelas de gastos do governo em consumo
e investimento como proporção da renda, ϕcgt e ϕigt respectivamente, seguem um
processo auto-regressivo de primeira ordem bem como o resíduo de Solow zt
7
τt+1 = (1 − ρτ )τ + ρτ τt + τ t+1 (10)
onde as variáveis sem o subscrito de tempo são os valores de steady state, 0 < ρx <
1 e x são choques normalmente e independentemente distribuídos da variável x, com
média zero e desvio padrão σx . Assumimos que os choques não são correlacionados
entre si, isto é, corr(i , j ) = 0, ∀i 6= j.
Assim, as famílias escolhem a seqüência de valores {cpt , ht , kpt+1 }∞
t=0 de maneira
maximizar o valor esperado descontado da utilidade (1) com base nas expectativas
a respeito dos preços futuros (5) e (6), dada a restrição orçamentária (2), as leis de
formação do capital privado (3) e público (8), e os valores iniciais kp0 , kg0 , z0 , τ0 , ϕig0
e ϕcg0 .
3 Estimação
Nesta seção utilizamos o método bayesiano de maneira a estimar os principais parâ-
metros de interesse do modelo descrito anteriormente. Recentemente, a estimação
bayesiana de modelos DSGE tem sido amplamente utilizada na literatura macroe-
conômica, sendo em geral preferida à estimação por máxima verossimilhança, pois
além de considerar a informação contida nos dados, utiliza de informações a priori dos
parâmetros, o que facilita a identificação dos mesmos. Diferentemente da abordagem
estatística clássica, os parâmetros são considerados variáveis aleatórias, e, portanto,
têm uma distribuição de probabilidade associada a elas.
De acordo com Villaverde (2009), na abordagem bayesiana não faz muito sentido
pensar em uma amostra como a realização de um processo gerador de dados, no sentido
de que todos os modelos são "falsos". Consequentemente, o objetivo não é estimar
o valor "verdadeiro"de um determinado parâmetro e sim buscar uma boa descrição
dos dados. Relacionado a esta idéia está o fato de que o método bayesiano trata a
incerteza em relação a diferentes teorias da mesma maneira que trata a parte estocástica
da própria teoria (Sims, 1996), ou seja, é uma maneira de lidar com o problema de má
especificação dos modelos.
Utilizamos as séries de dados anuais das contas nacionais do IBGE para o período
8
de 1950-2003.3 São usadas quatro séries na estimação: O logaritmo do produto interno
bruto (PIB), a carga tributária/PIB, o investimento do governo/PIB e o consumo do
governo/PIB. O produto interno bruto e o consumo do governo foram deflacionados
pelo deflator implícito do PIB e o investimento público pelo deflator da formação bruta
de capital fixo. A carga tributária em relação ao PIB foi obtida somando-se a receita
das três esferas de governo do IBGE4 e dividindo este valor pelo PIB. De maneira a
extrair o componente cíclico das séries, filtramos o produto por uma tendência linear,
sendo que para as demais séries calculamos os desvios em relação a média no periodo.
Considere o vetor de parâmetros Θ a ser estimado e uma distribuição de proba-
bilidade a priori p(Θ) associada a ele. Além disso, considere um vetor de variáveis
observáveis X T = {xt }Tt=0 com uma distribuição marginal p(X T ) e uma função de
verossimilhança condicional p(X T /Θ) . De acordo com o teorema de Bayes temos
que a distribuição a posteriori é dada por:
p(X T /Θ)p(Θ)
p(Θ/X T ) =
p(X T )
ou
9
Tabela 1: Distribuição a priori
parâmetros de persistência dos processos AR(1) possuem distribuição beta com me-
dia 0,5 e desvio padrão 0,2. O desvio padrão dos choques possui distribuição inversa
gamma com média 0,01 e desvio padrão 0,2. Estes valores indicam distribuições bas-
tante flexíveis em termos da especificação a priori imposta sobre os parâmetros.
A elasticidade do produto em relação ao capital público (θg ) possui distribuição
normal com média 0,05 e desvio padrão 0,1. Esta média está bem próxima do valor
calibrado por Ambler e Paquet (1996) e Lansing (1998). Outro parâmetro de interesse
é aquele que indica a utilidade dada pelas famílias ao consumo do governo (γ), para o
qual assumimos uma distribuição a priori beta com média 0,3, mesmo valor calibrado
por Ambler Paquet (1996), e desvio padrão 0,2.
Os parâmetros que não são de principal interesse neste estudo foram calibrados, de
maneira a facilitar a estimação. A participação do trabalho na renda (θh ) foi definida
em 60%, valor de acordo com a evidência empírica (Gomes et. al, 2003). A remunera-
ção do capital privado (θp ) foi definida em 40% para o modelo com retornos crescentes
de escala e calculada como resíduo (1 − θg − θh ) no modelo com retornos constantes.
Seguindo Cooley e Prescott (1995) a proporção do tempo das famílias dedicada ao
trabalho (h) foi estipulada em 0,31.
Os outros parâmetros do modelo foram calibrados a partir das condições de equi-
líbrio avaliadas no steady state.6 Para o fator de desconto (β) utilizamos o valor 0,94
6
Os valores de steady state correspondem a média no período 1950 a 2003. Os estoques de capital
público e privado são de Morandi e Reis (2003). As séries restantes foram obtidas nas contas nacionais
10
para o modelo com retornos constantes de escala e 0,92 para o modelo com retornos
crescentes de escala, sendo que para o parâmetro de desutilidade do trabalho (ψ) uti-
lizamos 2,25. Estes foram obtidos através das equações de Euler do consumo privado
e das horas trabalhadas, respectivamente. As taxas de depreciação do capital privado
(δp ) e público (δg ) foram calculadas de acordo com as leis de formação dos mesmos,
com valores de 0,1 e 0,09, respectivamente.
11
Tabela 2: Distribuição a posteriori
do que no caso dos gastos em consumo, devido ao elevado custo político de se alterar
este ultimo.9 Em termos de volatilidade, os choques de produtividade apresentam um
desvio padrão de duas a três vezes maior que o desvio padrão dos choques fiscais,
sendo que os choques sobre a tributação são aqueles com maior variância dentre os
que determinam a política fiscal.
O modelo com retornos constantes de escala estima uma elasticidade média para
o capital público na função de produção em torno de 0,10, o que implica em uma
elasticidade para o capital privado de 0,30. Neste caso, o lucro econômico representa
10% do PIB. Contudo, a média de θg é estimada com bastante incerteza em relação à
distribuição a posteriori, com um intervalo de confiança que inclui como limite inferior
um valor próximo a zero. Porém, no caso do modelo com retornos crescentes de escala
este valor é bem maior, em torno de 0,25, sugerindo que o capital público tem um
impacto bastante importante no processo produtivo. Esses valores são menores do que
o estimado por Aschauer (1989) para a economia americana (0,39) e Kamps (2004)
para um painel de países da OECD (0,31), e maiores do que o estimado por Otto e
Voss (1998) para a Austrália (0,06). Entretanto, cabe mencionar que nesses estudos
9
Por exemplo, Calderón, Easterly e Servén (2003) calcularam que o ajuste fiscal feito no Brasil, em
resposta à crise da divida da década de 80, foi baseado em uma forte queda do investimento público.
12
não é usado o método bayesiano de estimação de um modelo DSGE.
O parâmetro que mede a utilidade dada pelas famílias ao consumo do governo ap-
resenta média de 0,53, ou seja, para os agentes privados este tipo de gasto do governo
gera uma utilidade cerca de metade do que a utilidade gerada pelo consumo privado.10
Assim como no caso anterior, este parâmetro apresenta um intervalo de confiança bas-
tante amplo. Este resultado é bastante diferente do encontrado por McGrattan (1994)
para os dados americanos, usando o método de máxima verossimilhança, onde não é
possível rejeitar a hipótese de que este parâmetro é zero. Por outro lado, Aschauer
(1985) estima um valor em torno de 0,23, também para a economia americana.
4 Decomposição da variância
A Tabela 3 apresenta a decomposição da variância (assintótica) do erro de previsão
para o produto e variáveis privadas, todas baseadas na moda da distribuição a pos-
teriori. De uma maneira geral, tanto para o modelo com retornos constantes como
para o modelo com retornos crescentes, os choques de produtividade explicam a maior
parte dos movimentos no produto, consumo privado e investimento privado. Como
visto na seção anterior, os choques de produtividade apresentam a maior persistência
e o maior desvio padrão dentre os choques estimados. Dada a simplicidade do nosso
modelo, é provável que outros tipos de choques (por exemplo, investimento-específico
e monetário) estejam sendo considerados como choques de produtividade. Na ver-
dade, o fato da moda estimada para θg ser mais elevada para o modelo com retornos
crescentes, faz com que o impacto dos choques no investimento do governo sobre as
variáveis privadas seja maior em comparação com o modelo com retornos constantes,
diminuindo assim a importância dos choques de produtividade.
Na especificação com retornos constantes, os choques na tributação explicam cerca
de 16% da variação no produto sendo que os gastos do governo em investimento ex-
plicam em torno de 3%. Assim, oscilações na produtividade explicam mais de 80%
do produto. Já na especificação com retornos crescentes, os choques no investimento
do governo afetam consideravelmente o produto, contribuindo com 23% da variação
do mesmo. Em ambas as especificações o consumo do governo não parece afetar o
produto.
10
Consideramos também a possibilidade de o consumo do governo gerar uma utilidade maior que o
consumo privado definindo γ ∈ (0; 2]. Os resultados foram virtualmente idênticos.
13
Tabela 3: Decomposição da variância do erro de previsão
14
variáveis públicas (U ∆ ). Para tal, utilizamos a moda estimada de θg e γ, e os valores
calibrados para os demais parâmetros. Seja
temos que
15
Tabela 4: Ganho de bem estar (%) de alterações na política fiscal
de três vezes maior. Cabe lembrar também que os valores calibrados para o fator de
desconto e a elasticidade do capital privado são diferentes para os dois modelos. Por
exemplo, um aumento de 2 pontos percentuais no investimento do governo/PIB (de
3,8% para 5,8%) acompanhado de uma diminuição de mesma magnitude no consumo
do mesmo (de 13,2% para 11,2%) gera um ganho de bem estar de 4,81% no primeiro
caso e de cerca de 30% no segundo. Podemos ver que, apesar do consumo do governo
gerar utilidade para as famílias, aumentar a parcela do PIB destinada a este gasto em
detrimento do investimento gera uma perda de bem estar.
Como a tributação sobre a renda (τ ) tem um efeito distorcivo sobre a decisão ótima
dos agentes, uma diminuição na mesma gera um ganho de bem estar, mesmo com
uma diminuição de igual magnitude nas transferências (tr/y). Assim como no caso
anterior, este efeito é maior no modelo com retornos crescentes. Uma diminuição de 2
pontos percentuais na tributação (de 23,1% para 21,1%) gera um aumento de bem estar
entre 2,03% e 5,5%. A titulo de comparação, Pereira e Ellery Jr. (2009) calcularam
que uma diminuição da tributação sobre o capital de 34,5% para 31% geraria um ganho
de bem estar de 3,71% em um modelo de economia aberta para o Brasil.
Um aumento de 1 ponto percentual no investimento público financiado por um
aumento de mesma magnitude nos impostos leva a um ganho de bem estar bastante
elevado no modelo com retornos crescentes (12,81%) e têm um efeito considerável
16
Figura 1: Investimento do governo e bem estar - Retornos constantes de escala
-34
-36
-38
U tilid a d e
-40
-42
-44
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35
ig/y
17
no caso de retornos constantes (1,30%). A Figura 1 exibe este tipo de exercício, mas
para diferentes variações no investimento do governo em relação ao PIB, financiados
por variações na carga tributária, no caso de retornos constantes de escala. Como este
modelo é bastante parecido ao de Barro (1990), ele também gera um gráfico do tipo U
invertido, onde o bem estar é uma função do investimento público/PIB12 .
Podemos ver que aumentar o investimento do governo, gera um ganho de bem estar
somente se a economia se encontra do lado esquerdo do ponto ótimo, onde o mesmo
é em torno de 7% do PIB. De fato, o investimento médio no período foi de 3,8% do
PIB, logo a tributação poderia ser aumentada em torno de três pontos percentuais. Em
outras palavras, um aumento no investimento público via aumento na tributação, ainda
que tenha um efeito perverso sobre a alocação ótima dos agentes, seria benéfico para
a economia, pois geraria um produto (consumo) maior devido ao aumento do capital
público.
Por fim, uma elevação em gastos com consumo do setor público através de uma
carga tributária mais elevada gera uma perda de bem estar maior que no caso em que o
aumento na tributação é repassado para os consumidores via transferências lump-sum,
no modelo com retornos constantes. Este resultado pode estar associado ao fato de
que o consumo do governo gera uma utilidade cerca de metade do valor gerado pelo
consumo privado, ou seja, é melhor para as famílias escolherem como gastar o valor
tributado, do que deixar o governo simplesmente usar este recurso em consumo. Por
exemplo, um aumento na carga tributária em 1 ponto percentual gera uma perda de
bem estar de 1,36% no primeiro caso e de 1,05% no segundo, no modelo com retornos
13
constantes.
18
maximizar (1) sujeito a restrição de recursos da economia cpt + cgt + ipt + igt ≤ yt .
Neste caso, como γ estimado é menor do que um, e cp e cg são substitutos perfeitos
(não na razão de um para um), temos que o gasto ótimo em consumo do governo é zero,
pois o consumo privado gera maior utilidade para as famílias e custa a mesma coisa
em termos de produto.14 Já os investimentos público e privado ótimos em proporção
do produto no steady state, bem como o consumo privado são, respectivamente,
ig θg δg
=
y δg + 1−β β
ip θp δp
=
y δp + 1−β β
cp θg δg θp δp
=1− 1−β
− .
y δg + β δp + 1−β β
19
Tabela 5: Ganho de bem estar - Planejador Central
GBE cg /y ig /y cp /y ip /y
Retornos constantes 28,03% 0,0% 4,9% 75,0% 20,2%
Retornos crescentes 243,47% 0,0% 12,1% 65,8% 22,1%
Dados (1950-2003) - 13,2% 3,8% 66,0% 17,0%
No modelo com retornos constantes, o ganho de bem estar é de 28%. Este valor
é similar ao encontrado por McGrattan (1994) quando considerada uma situação em
que as taxas de impostos sobre o capital e o trabalho fossem substituídas por impostos
lump-sum. Para o planejador central, o investimento privado deveria ser em torno de
20% do PIB, ou seja, 3 pontos percentuais maior do que a média de 1950 a 2003. O in-
vestimento do governo no período está cerca de 1 ponto percentual abaixo do ótimo, ao
passo que o consumo do governo deveria ser nulo. Como explicado anteriormente, isto
se deve ao fato de o consumo do governo gerar uma utilidade menor que o consumo
privado. No modelo com retornos crescentes o investimento público ótimo deveria ser
em torno de 12% do PIB, o que faria com que cerca de 34% do produto fosse poupado.
15
O ganho de bem estar nesse caso seria em torno de 243% . Novamente, esta dife-
rença de resultados é explicada em parte pela diferença de produtividade do capital
público em cada especificação. Ainda assim, esse valor nos parece demasiadamente
elevado.16
6 Conclusão
Neste artigo utilizamos o método de estimação bayesiana para um modelo DSGE com
choques fiscais (tributação, consumo e investimento) e capital público para o Brasil.
Para tal, consideramos duas especificações para a função de produção, uma com re-
tornos constantes de escala e uma com retornos crescentes de escala. Os resultados
15
Utilizando um modelo com retornos crescentes de escala similar ao nosso, Turnovsky (2004) cal-
cula que o investimento ótimo nos EUA deveria ser em torno de 9,7% do PIB quando a elasticidade do
capital publico na função de produção é calibrada no valor de 0,2.
16
Além disso, como κ depende do fator de desconto, e β = 0, 92 no modelo com retornos crescentes,
o ganho de bem estar é maior. Por exemplo, assumindo o mesmo fator desconto do caso com retornos
constantes, ou seja, β = 0, 94, o ganho de bem estar se reduz para cerca de 148%.
20
da estimação ficaram muito parecidos para os dois modelos, exceto para o parâmetro
que mede a elasticidade do produto em relação ao capital público na função de pro-
dução. Este apresentou um valor médio de 0,10 para a especificação com retornos
constantes de escala e um valor médio de 0,25 para a especificação com retornos cres-
centes de escala. Entretanto, o valor da densidade marginal da distribuição a posteriori
foi praticamente o mesmo para as duas especificações, de maneira que não foi possível
determinar qual modelo se ajusta melhor aos dados.
A utilidade associada pelas famílias ao consumo do governo foi estimada como
correspondendo à metade da utilidade associada ao consumo privado. Os choques fis-
cais mostraram-se persistentes ao longo do tempo, sendo que o investimento público/PIB
apresentou a menor persistência. Entretanto, o desvio padrão estimado para os choques
fiscais foi relativamente pequeno se comparado ao desvio padrão dos choques de pro-
dutividade, sugerindo que estes não poderiam ser os principais causadores dos ciclos
econômicos. De fato, como comprovado pela decomposição da variância, os choques
de produtividade explicam a maior parte dos movimentos no produto, consumo privado
e investimento privado. Entretanto, os choques na taxa de impostos são os que mais
contribuem para a variação nas horas trabalhadas e têm um papel bastante significativo
sobre o investimento privado e o produto. Além disso, choques no investimento do
governo ajudam a explicar mais de 20% dos movimentos no consumo das famílias e
em torno de 18% no investimento privado, na especificação de retornos crescentes de
escala.
A análise de bem estar demonstrou que aumentar o investimento do governo através
de uma diminuição no consumo do mesmo gera um ganho de bem estar considerável,
mas a magnitude deste valor depende bastante da especificação considerada para a
função de produção. Reduções na taxa de impostos também levam a uma melhora na
utilidade das famílias, mesmo com uma diminuição de igual magnitude nas transfe-
rências. Um aumento do investimento público financiado por uma elevação na carga
tributária tem um efeito positivo para o modelo com retornos constantes e bastante ele-
vado para o modelo com retornos crescentes, ao passo que um aumento do consumo
do governo via aumento dos tributos gera uma perda de utilidade, nos dois casos. Em
relação ao ótimo de Pareto, a economia descentralizada gera uma perda de bem estar
de cerca de 28% a 243%, dependendo dos retornos de escala considerados.
Em suma, os resultados da decomposição da variância foram sensíveis em relação
à função de produção utilizada, assim como os resultados da análise de bem estar,
21
não tanto em termos qualitativos, mas em termos quantitativos. De uma maneira geral,
estes apontaram para uma mudança na composição do gasto público em favor do inves-
timento e uma diminuição na carga tributária. Mesmo assim, qualquer recomendação
de política pública seria precipitada antes que um estudo mais detalhado seja feito
sobre os retornos de escala da função de produção que considera o capital público e
privado como insumos separados.
22
Referências
[1] Ambler, S., e Paquet, A. (1996) “Fiscal spending shocks, endogenous govern-
ment spending, and real business cycles.” Journal of Economic Dynamics and
Control, 20, 237-56.
[2] Araújo Jr., E. A. (2009) “Investment-Specific Shocks and Real Business Cycle
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Econometria, 2009, Foz do Iguaçu.
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25
Figura 2: Distribuição a posteriori - Retornos constantes de escala
50 100 200
0 0 0
0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05
6 10
4
4
5 2
2
0 0 0
0.2 0.4 0.6 0.8 1 0.2 0.4 0.6 0.8 1 −0.2 0 0.2 0.4
26
Figura 3: Distribuição a posteriori - Retornos constantes de escala
gamma
1.5
0.5
0
0 0.5 1
27
Figura 4: Distribuição a posteriori - Retornos crescentes de escala
50 100 200
0 0 0
0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05
300 10
10
200
5 5
100
0 0 0
0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0.2 0.4 0.6 0.8 1
6 4
10
4
5 2
2
0 0 0
0.2 0.4 0.6 0.8 1 0.2 0.4 0.6 0.8 1 −0.2 0 0.2 0.4 0.6
28
Figura 5: Distribuição a posteriori - Retornos crescentes de escala
gamma
1.5
0.5
0
0 0.5 1
29