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RELATÓRIO FINAL DE ATIVIDADES PIBIC - CNPQ

2022-2023

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA


DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

ANÁLISE DOS IMPACTOS DAS REGRAS FISCAIS NA ESTABILIDADE


ECONÔMICA: UM ESTUDO COM MODELO DSGE NO CONTEXTO BRASILEIRO

LABORATÓRIO DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E MACROECONOMIA


COMPUTACIONAL
ORIENTADOR: Cássio da Nóbrega Besarria
ESTUDANTE: Vitória Gealânzia Marques Delmiro da Silva
CURSO: Ciências Econômicas

JOÃO PESSOA – PARAÍBA


2023

0
ABSTRACT

Economic stability and financial sustainability are essential pillars for a country's
sustainable growth in a complex global scenario. Faced with the fiscal challenges
facing nations, the implementation of effective fiscal rules has emerged as a widely
debated strategy to ensure fiscal discipline and responsibility in public finances. The
main objective of this project is to explore the relevance of fiscal rules in preserving
economic stability and to analyze their impact in the specific context of Brazil. In
particular, it proposes the construction of a dynamic stochastic general equilibrium
(DSGE) model, based on existing studies, in order to understand how different fiscal
rules affect significant macroeconomic variables. By using the DSGE model, the aim
is to provide a more in-depth and informed analysis of the economic implications of
these rules, contributing to the understanding of fiscal policies in the national context.

Keywords: Fiscal rules, DSGE model, Fiscal policies

1
RESUMO

A estabilidade econômica e a sustentabilidade financeira constituem pilares


essenciais para o crescimento sustentável de um país em um cenário global
complexo. Diante dos desafios fiscais que as nações enfrentam, a implementação
de regras fiscais eficazes têm emergido como uma estratégia amplamente debatida
para garantir a disciplina fiscal e a responsabilidade nas finanças públicas. Este
projeto tem como objetivo primordial explorar a relevância das regras fiscais na
preservação da estabilidade econômica e analisar seu impacto no contexto
específico do Brasil. Em particular, propõe-se a construção de um modelo de
equilíbrio geral dinâmico estocástico (DSGE), fundamentado em estudos existentes,
visando compreender de que maneira distintas regras fiscais afetam variáveis
macroeconômicas de significância. Ao recorrer ao modelo DSGE, pretende-se uma
análise mais profunda e informada das implicações econômicas dessas regras,
contribuindo para a compreensão das políticas fiscais no contexto nacional.

Palavras-Chave: Regras Fiscais, Modelo DSGE, Políticas Fiscais.

2
1. Introdução

Ao longo das últimas décadas, o desenvolvimento de regulamentações fiscais


tornou-se uma estratégia comum adotada por muitos países para gerir os desafios
económicos, limitar os défices fiscais e garantir a estabilidade macroeconómica. No
cenário brasileiro, as questões relacionadas à estabilidade econômica e financeira
são calorosamente debatidas e frequentemente preocupantes. O país enfrenta
desafios na gestão das finanças públicas, no crescimento da dívida e na resiliência à
adversidade.

Em resposta a estes desafios, estudos anteriores exploraram o impacto das


regulamentações financeiras e da austeridade. Autores como da Nóbrega Besarria
et al. (2021) destacam a eficácia das regulamentações fiscais na redução dos
défices e da dívida pública, além de estabelecer expectativas claras para os actores
económicos. No entanto, continuar a implementar a austeridade em tempos de
incerteza económica coloca desafios significativos (De Jesus et al., 2020).

No Brasil, a trajetória das finanças públicas tem muitos altos e baixos. A crescente
dívida pública e a necessidade de uma reforma fiscal refletem a complexidade da
situação financeira. A implementação pelo PEC de um limite máximo de gastos em
2016, limitando o crescimento dos gastos, gerou debates sobre a alocação de
recursos em áreas-chave como saúde e educação. Recentemente, o governo
brasileiro anunciou uma proposta de nova regulamentação fiscal, substituindo o
limite de gastos da PEC. Esta proposta visa combinar flexibilidade e objetivos-chave
de resultados para melhor equilibrar despesas e receitas públicas. No entanto, a
implementação eficaz destas regras levanta questões sobre o seu impacto
macroeconómico e social.

Neste contexto, este artigo tem como objetivo analisar o impacto das
regulamentações fiscais no Brasil, examinando a interação entre a política monetária
e a política fiscal. Através do modelo DSGE, exploraremos as implicações destas
regras para a estabilidade da dívida pública, bem como o seu impacto no bem-estar
social e na produção. Ao examinar diferentes regras financeiras e as suas

3
consequências, pretendemos fornecer informações valiosas para a formulação de
políticas económicas mais fortes e sustentáveis.

Na seção 2 apresentamos uma análise detalhada dos modelos DSGE utilizados em


nosso estudo. A Seção 3 destaca os principais resultados obtidos em nossas
simulações e discute suas implicações. Por fim, a Seção 4 apresenta as principais
conclusões do nosso estudo, enfatizando a importância de abordagens equilibradas
para garantir a estabilidade econômica e financeira no Brasil.

2. O modelo

O modelo DSGE neokeynesiano aqui apresentado foi desenvolvido com o objetivo


de capturar as principais características da economia brasileira, embasado em
fundamentos teóricos estabelecidos por Cavalcanti, Vereda, Doctors, Lima e
Maynard (2018). Em resposta ao intenso debate nacional sobre questões fiscais e
estratégias para conter o crescimento da dívida pública, este modelo incorpora uma
restrição nos gastos governamentais (G). Essa abordagem visa avaliar o impacto da
austeridade fiscal nas variáveis macroeconômicas, bem-estar geral e volatilidade
econômica em um ambiente afetado por choques na política monetária.

A despesa governamental é desagregada em consumo de bens e serviços (C𝑔),


𝑞
transferências sociais para famílias (TR) e subsídios imobiliários (𝑡 ). O governo é
concebido como uma entidade dividida em uma agência financeira responsável pela
política fiscal e uma autoridade monetária encarregada da política monetária. As
autoridades fiscais coletam impostos que financiam o consumo do público,
assistência social, subsídios habitacionais para famílias de baixa renda e
investimentos públicos. Os impostos incidem sobre o consumo das famílias, renda
do trabalho e ganhos de capital. A autoridade monetária ajusta a taxa de juros
nominal de acordo com a inflação em relação à meta e a produção em relação ao
estado estacionário, seguindo a regra de Taylor.

Em consonância com a literatura de De Jesus et al. (2020), o modelo considera dois


tipos de famílias: pacientes (ricas) e impacientes (pobres), para examinar como as

4
famílias se beneficiam do consumo governamental. O governo entra na função de
utilidade das famílias. Ambos os tipos de famílias recebem um subsídio único do
governo. Famílias pacientes contribuem para o emprego no setor público e privado,
acumulam capital físico e imobiliário e têm acesso irrestrito aos mercados
financeiros, podendo adquirir títulos do governo. Por outro lado, famílias impacientes
fornecem mão de obra, tanto para empresas quanto para o setor público, e têm
acesso limitado aos mercados financeiros, sendo necessário oferecer garantias para
aquisição de títulos governamentais.

O setor empresarial é dividido em atacado e varejo. Empresas atacadistas


produzem bens intermediários utilizados pelas empresas varejistas na criação do
produto final. Empresas varejistas operam em um ambiente de concorrência
perfeita. O produto final é consumido tanto por famílias pacientes quanto por famílias
impacientes, além do governo. Empresas atacadistas, por outro lado, operam em
um ambiente de competição monopolista.

A presença de concorrência imperfeita é um elemento fundamental no modelo Novo


Keynesiano e no modelo DSGE, conforme destacado por Torres (2015). Essa
característica engloba o poder de mercado na determinação dos preços nominais
das empresas. Autores como Rotemberg (1982), Mankiw (1985), Svensson e
Winbergen (1987), Blanchard e Kiyotaki (1987) e Rotemberg e Woodford (1997)
desenvolveram modelos que levam em consideração a concorrência imperfeita.
Outra característica fundamental incorporada neste modelo é a possibilidade de o
trabalho ser um elemento de barganha distinto para as famílias. Isso implica que as
famílias têm o poder de determinar os salários, o que resulta na inclusão da rigidez
salarial no modelo, conforme também abordado por Christiano e Eichenbaum (1992)
e Canzoneri, Cumby, Diba e Mykhaylova (2006).

Esta construção do modelo DSGE visa oferecer uma representação realista das
características econômicas do Brasil, permitindo uma análise aprofundada do
impacto das políticas fiscais e monetárias em um ambiente neokeynesiano. Na
próxima seção, detalharemos os principais resultados obtidos por meio deste
modelo e discutiremos suas implicações para a economia brasileira.

5
2.1 Famílias
2.1.1 Família Pacientes
A utilidade das famílias pacientes depende dos níveis de consumo, do patrimônio
imobiliário e do tempo de lazer. Assim, as famílias pacientes possuem a seguinte
função utilidade:


𝑇
𝑈𝑡 ( 𝐶'𝑡, 𝐿'𝑡 , 𝐻'𝑡) = ∑ (β' ) [log 𝐶'𝑡 + log( 1 − 𝐿'𝑝,𝑡 − 𝐿'𝑔,𝑡) + 𝑙𝑜𝑔 𝐻'𝑡] (1)
𝑇=0

Onde o β' ∈ (0, 1) é o fator de desconto das famílias pacientes, e 𝐶'𝑇 denota o

consumo total das famílias pacientes. O componente 𝐶'𝑡 = 𝐶'𝑝,𝑡 + µ𝑃𝐶𝑔,𝑡; 𝐶𝑔,𝑡 é o

consumo governamental1 que fornece bens e serviços para as famílias; 𝐶'𝑝,𝑡

representa a parte privada do consumo das famílias pacientes; µ𝑝 é o parâmetro que

mede o grau de substituição entre o consumo privado e o consumo de


bens/serviços públicos das famílias pacientes; 𝐿'𝑝,𝑡 e 𝐿'𝑔,𝑡 são as horas trabalhadas

para as empresas e para o setor público, respectivamente; e 𝐻'𝑡 é a quantidade de

propriedades imobiliárias das famílias pacientes2.


A forma funcional da função utilidade3 das famílias é sugerida pela equação de
Iacoviello (2005), que inclui bens duráveis, representados pelos bens imobiliários
das famílias. A expressão 𝐶'𝑡 = 𝐶'𝑝,𝑡 + µ𝑝𝐶𝑔,𝑡 utilizado por Barro (1981), Aschauer

(1985), Christiano e Eichenbaum (1992) e McGrattan (1994). Neste caso, o consumo


total das famílias é definido como a combinação linear do consumo privado e
público. Logo, as famílias doentes são confrontadas com a seguinte restrição
orçamental:
𝑐 ι 𝑘
( 1 + 𝑇 ) 𝐶'𝑡 + 𝐼'𝑝,𝑡 + 𝑏'𝑡 = (1 – 𝑇 ) (𝑊𝑝,𝑡 𝐿'𝑝,𝑡) + (1 – 𝑇 ) 𝑅𝑘,𝑡𝐾'𝑝,𝑡−1 + 𝑅𝑡−1𝑏'𝑡−1/π𝑡 + 𝑞𝑡∆𝐻'𝑡 + 𝑇𝑅𝑡

(2)

1
O consumo do governo é estabelecido com uma proporção fixa do PIB (19%).
2
Tal como no trabalho Iacoviello (2005), nesse trabalho, acreditamos que não há depreciação de
imóveis.
3
Tal como no trabalho de Iacoviello (2005), assumimos que o património imobiliário e o consumo são
separáveis. Bernanke (1984) estudou o comportamento conjunto do consumo de bens duradouros e
não duradouros e concluiu que a separabilidade entre os dois tipos de bens é uma boa aproximação.

6
Onde π𝑡 é a taxa bruta de inflação (π𝑡= 𝑃𝑡/ 𝑃𝑡−1); 𝑃𝑡 representa o nível geral de

preços; 𝑅𝑡 representa a taxa de juro nominal da economia; 𝑏'𝑡 é o número de

obrigações públicas títulos públicos detidos pelas famílias pacientes (


𝑏'𝑡 = 𝐵'𝑡/𝑃𝑡); 𝑅𝑘,𝑡 denota a taxa de remuneração do capital em termos nominais; 𝑞𝑡

refere-se aos preços dos imóveis (𝑞𝑡=𝑄𝑡/ 𝑃𝑡); ω𝑝,𝑡 (ω𝑝,𝑡=𝑊𝑝,𝑡/ 𝑃𝑡) e ω𝑔,𝑡 (ω𝑔,𝑡= 𝑊𝑔,𝑡/ 𝑃𝑡

) são os salários reais dos sectores privado e público, respectivamente; 𝐼'𝑝,𝑡 é o

nível de investimento realizado pelas famílias pacientes; 𝑇𝑅𝑡 significa a transferência


𝑐 ι 𝑘
governamental para as famílias e é determinada exogenamente; e 𝑇 , 𝑇 , e 𝑇 são as
taxas de imposto sobre o consumo, os rendimentos do trabalho e a remuneração do
capital, respetivamente.
O processo de acumulação de capital pode ser ilustrado pela seguinte expressão:

𝐾'𝑝,𝑡= (1– δ𝑘) 𝐾'𝑝,𝑡−1 + 𝐼'𝑝,𝑡 + ϵ𝑘,𝑡 (3)

Onde δ𝑘 representa a taxa de depreciação do capital físico e ϵ =


𝑘,𝑡
ψ𝑘
2δ𝑘 ( 𝐼'𝑝,𝑡
𝐾'𝑝,𝑡−1
− δ𝑘 ) 2

representa o custo de ajustamento do capital.


Substituindo (3) em (2), obtém-se a seguinte equação:

𝑐 ι
(
(1 + 𝑇 ) 𝐶'𝑡 + 𝐾'𝑝,𝑡– (1– δ𝑘) 𝐾'𝑝,𝑡−1+ ϵ𝑘,𝑡 + 𝑏'𝑡 = (1– 𝑇 ) ω𝑝,𝑡𝐿'𝑝,𝑡 + ω𝑔,𝑡𝐿'𝑔,𝑡 ) +

(1 − 𝑇𝑘) 𝑅𝑘,𝑡𝐾'𝑝,𝑡−1 + 𝑅𝑡−1𝑏'𝑡−1/π𝑡 + 𝑞𝑡∆𝐻'𝑡 + 𝑇𝑅𝑡 (4)

𝑐
Na restrição orçamental acima referida, a expressão (1+ 𝑇 )𝐶'𝑡 representa o total

nível de consumo das famílias pacientes. Nesse contexto, o consumo do governo


também é tributado, pois está inserido em 𝐶'𝑡. A expressão 𝐾'𝑃,𝑇 − 1 − δ𝑘 𝐾'𝑝,𝑡−1 ( )
detona o investimento real das famílias de pacientes. 𝑅𝑡−1𝑏'𝑡−1/π𝑡 representa a

remuneração de títulos públicos em termo reais e 𝑞𝑡∆𝐻'𝑡 representa a rentabilidade,

em termos reais, do patrimônio imobiliário das famílias pacientes. A expressão

7
(1 − 𝑇ι)(ω𝑝,𝑡𝐿'𝑝,𝑡 + ω𝑔,𝑡𝐿'𝑔,𝑡) é a renda do trabalho das famílias de pacientes, e

(1 − 𝑇𝑘)𝑅𝑘,𝑡𝐾'𝑝,𝑡−1 é a remuneração do capital físico.

2.1.2 Família Impacientes

A função de utilidade das famílias impacientes é idêntica à das famílias pacientes:


𝑇
𝑈𝑡 ( 𝐶''𝑡, 𝐿''𝑡 , 𝐻''𝑡) = ∑ (β'' ) [log 𝐶''𝑡 + log( 1 − 𝐿''𝑝,𝑡 − 𝐿''𝑔,𝑡) + 𝑙𝑜𝑔 𝐻''𝑡] (5)
𝑇=0

em que β'' ϵ (0, 1) é o fator de desconto das famílias impacientes; β'' < β' ; 𝐶''𝑡

representa o consumo das famílias impacientes, de tal forma que 𝐶''𝑡= 𝐶''𝑝,𝑡 + µ𝑖𝐶𝑔,𝑡

é o consumidor privado das famílias impacientes; 𝐿''𝑝,𝑡 refere-se às horas

trabalhadas para o setor público; e µ𝑖 é o parâmetro que mede o grau de

substituição entre o consumo privado e o consumidor de bens/serviços públicos das


famílias impacientes.
Logo, as famílias impacientes enfrentam a seguinte restrição orçamentária:

(1 + 𝑡𝑐)𝐶''𝑡 + 𝑏''𝑡 = ( 1 −𝑡
ι
)( ) ( 𝑞
)
ω𝑝,𝑡𝐿''𝑝,𝑡 + ω𝑔,𝑡𝐿''𝑔,𝑡 + 𝑅𝑡−1 𝑏''𝑡−1/π𝑡+ 1 − 𝑡 𝑞𝑡∆𝐻''𝑡

+ T 𝑅𝑡 (6)

onde (1 + 𝑇𝑐)𝐶''𝑡 detona o nível total de consumo das famílias impacientes;

𝑅𝑡−1 𝑏''𝑡−1/π𝑡 refere-se à rentabilidade, em termos reais, dos títulos públicos

adquiridos pelas famílias impacientes; 𝑞𝑡∆𝐻''𝑡 representa um subsídio imobiliário do

governo para as famílias pobres; e 1 − 𝑡 ( ι


)( )
ω𝑝,𝑡𝐿''𝑝,𝑡 + ω𝑔,𝑡𝐿''𝑔,𝑡 representa a renda

do trabalho das famílias impacientes.

8
Além disso, tal como no trabalho de Iacoviello (2005), famílias impacientes e com
restrições no mercado obrigacionista podem ser representadas pela seguinte
equação:

( ) (
𝑅𝑡𝑏''𝑡 = π𝑡+1𝑚ω ω𝑝,𝑡𝐿''𝑝,𝑡 + ω𝑔,𝑡𝐿''𝑔,𝑡 + π𝑡+1𝑚𝑞 𝑞𝑡+1𝐻''𝑡 ) (7)

onde 𝑚ω é a parcela do rendimento salarial da família que deseja ser usada como

garantia para um empréstimo, e 𝑚𝑞 é a parcela do valor da propriedade que também

é usada como garantia. Esses termos (𝑚ω e 𝑚𝑞) também são conhecidos como

Loan-to-Value. Se 𝑚ω = 0 e 𝑚𝑞 = 0, as famílias pobres são excluídas dos mercados

financeiros.

2.2 Empresas
2.2.1 Empresas de varejo

O produto final da economia é produzida pelas empresas varejistas através da


seguinte tecnologia:

1 ψ−1 ψ
⎡ ⎤
𝑌𝑡 = ⎢∫ 𝑌𝑗,𝑡ψ 𝑑𝑗⎥ ψ−1
(8)
⎢0 ⎥
⎣ ⎦

em que 𝑌𝑗,𝑡 representa o produto intermediário, 𝜓 é a elasticidade de substituição

entre os bens intermediário, e 𝜓 > 1. Este método de agregação dos bens


intermédios é designado por agregação de Dixit-Stiglitz. Este parâmetro representa
a margem de lucro no mercado de bens no mercado de bens. Os varejistas
maximizam os lucros sujeitos à função de produção, dado o preço dos dos bens
intermediários, 𝑃𝑗,𝑡, e o preço do produto final, 𝑃𝑡.

O resultado final da economia é representado por

. 𝑌𝑗,𝑡 = ( )
𝑃𝑗,𝑡,
𝑃𝑡
−ψ
𝑌𝑡 (9)

9
A expressão acima implica que a procura do bem intermediário 𝐽 é uma função da
sua diminuição relativa no preço e do aumento na produção do bem final.

2.2.2 Empresas de atacado

As empresas atacadistas utilizam como insumo mão de obra fornecida pela


família do paciente e família impaciente (𝐿𝑝, 𝐿𝑔), capital privado fornecido pela

família do paciente (𝐾𝑝) e capital público (𝐾𝑔). Neste caso, o sector público ajuda o

sector privado altamente produtivo, fornecendo infraestrutura através de capital


público, como resultado do seguinte processo:

( )
𝐾𝑔,𝑡 = 1 − δ𝑘 𝐾𝑔,𝑡−1 + 𝐼𝑔,𝑡 (10)

𝑔
onde 𝐼𝑡 é o investimento público, que é determinado exogenamente pelo governo.

A função de produção das empresas atacadistas é do tipo Cobb-Douglas e pode ser


representada pela seguinte expressão:

α
( )
𝑌𝑗,𝑡 = 𝐴𝑡 𝐾𝑝,𝑗,𝑡 (𝐿𝑝,𝑗,𝑡) γ(𝐾𝑝,𝑗,𝑡𝐿𝑝,𝑗,𝑡) 1−α−γ
(11)

Cada empresa determina as escolhas dos insumos a serem usados para


minimizar seu custo sujeito à função de produção.
Com base nas primeiras condições, é possível encontrar o salário nominal do setor
privado (𝑊𝑝,𝑡) e o retorno sobre o capital físico (𝑅𝑘,𝑡).

Supõe-se que os atacadistas decidam o que produzir em cada período de acordo


com a regra de fixação de preços, como no estudo de Calvo (1983). Esta regra
afirma que em cada período de 𝑡 , uma fração (1 - θ) tem 0 < θ < 1, entre empresas

selecionadas aleatoriamente e essas empresas podem escolher o preço de seus


produtos para o período. As restantes empresas mantiveram inalterados os preços
do período anterior.

10
Portanto, o problema da empresa capaz de ajustar preços é:


max: 𝐸𝑡 ∑ (βθ)
𝑖=0
(𝑃
𝑖 ∗
𝑌
𝑗,𝑡 𝑗,𝑡+𝑖
− 𝐶𝑇𝑗,𝑡 ) (12)

em que θ é o fator de rigidez no reajuste de preços e CT representa o custo total.


Assim, o nível de preços é obtido pela seguinte equação:

1
1−ψ ∗1−ψ
𝑃𝑡 = ⎡⎢θ𝑃𝑡−1 + (1 − θ)𝑃𝑡 ⎤⎥ 1−ψ
(13)
⎣ ⎦

2.3 Governo
2.3.1 Política Fiscal

As autoridades fiscais são responsáveis ​pela arrecadação de impostos e pela


emissão de títulos para financiar investimentos e gastos públicos. A receita
tributária do governo (𝑡𝑡) é composta pelo imposto sobre o consumo das famílias

(𝑇𝑐), sobre a renda do trabalho (𝑇ι) e sobre a remuneração do capital (𝑇𝑘).


Assim como no estudo de Cavalcanti, Vereda, Doctors, Lima e Maynard (2018), o
limite orçamentário do governo é determinado da seguinte forma:

𝑑𝑡 𝑅𝑡−1𝑑𝑡−1 𝑆𝑃𝑡
𝑌𝑡
= 𝑌𝑡
– 𝑌𝑡
(14)

onde 𝑆𝑃𝑡 representa o superávit primário real do governo, e 𝑑𝑡 é o valor real da

(
dívida pública como proporção do PIB 𝑑𝑡 = 𝐷𝑡/𝑃𝑡 = 𝑅𝑡𝑏𝑡 ; a variável 𝑏𝑡 é o total )
montante de títulos públicos (𝑏𝑡= 𝑏' 𝑡 + 𝑏''𝑡).

O excedente primário em proporção do PIB é dado pela diferença entre a total


das receitas fiscais em proporção do PIB e o total das despesas da administração
pública em proporção do PIB durante o mesmo período:

𝑆𝑃𝑡 𝑇𝑡 𝐺𝑡
𝑌𝑡
= 𝑌𝑡
– 𝑌𝑡
(15)

11
onde

𝐺𝑡 𝐶𝑔,𝑡 𝑇𝑅𝑡 𝐼𝑔,𝑡


𝑌𝑡
= 𝑌𝑡
+ 𝑌𝑡
+ 𝑌𝑡
(16)

𝑘 𝑐 𝑞
ι
(
𝑇𝑡 = 𝑇 ω𝑝,𝑡𝐿'𝑝,𝑡 + ω𝑔,𝑡𝐿'𝑔,𝑡 + ω𝑝,𝑡𝐿''𝑝,𝑡 + ω𝑔,𝑡𝐿''𝑔,𝑡 𝑇 𝑅 𝐾 ) 𝑘,𝑡 𝑝,𝑡 ( )
+ 𝑇 𝐶'𝑡 + 𝐶''𝑡 – 𝑇 𝑞𝑡

∆𝐻''𝑡 (17)

Subsequentemente, assume-se que o governo poderá implementar duas regras


orçamentais - o AE 95/2016 e a regra alternativa - que limitaram a despesa pública,
de modo a que estas restrições possam ser comparadas com o modelo sem regras
orçamentais (baseline)4.

2.3.2 As regras da política fiscal

A regra de substituição baseia-se na proposta por Wesselbaum (2017) para o


caso da economia dos EUA. Tal como neste livro, o autor procurou avaliar o
impacto de um choque contracionista da política monetária numa economia com
restrições financeiras Wesselbaum, (2017). A regra da substituição caracteriza-se
como uma restrição orçamentária aos gastos públicos. A despesa pública baseia-se
na dívida pública e no ciclo económico. Esta regra pode ser representada pela
seguinte expressão:

𝐺𝑡= – γ𝑑𝑑𝑡 - γ𝑦 𝑌𝑡 (18)

onde 𝐺𝑡 representa os gastos do governo, 𝐷𝑡 representa o valor real da dívida

pública, 𝑌𝑑 ≥ 0 representa o objetivo de estabilização da dívida e γ𝑦 ≥ 0 representa o

objetivo de estabilidade do ciclo económico. O sinal 𝑌𝑑 indica que quando o

montante da dívida pública excede esse nível, quando o ciclo econômico está no
seu pico, o governo deve reduzir a sua participação na economia.
4
No modelo de base, a despesa do governo é dada por Gt = Cg,t + TRt + Ig,t.

12
Neste caso, esta regra estabelece uma relação inversa entre gastos públicos, dívida
e ciclo econômico.

A regra subsequente é representada pela PEC do teto de gastos e, neste caso, o


gasto público atual é igual ao gasto passado corrigido pela inflação. Em outras
palavras, o gasto público brasileiro é congelado em termos reais. A expressão a
seguir representa essa regra:

( )
𝐺𝑡= 1 + π𝑡−1 𝐺𝑡−1 (19)

em que 𝐺𝑡 se refere às despesas públicas correntes corrigidas pela inflação.

2.3.3 Política Monetária

A autoridade monetária aplica uma meta de inflação e determina a taxa de juros


utilizando a regra proposta por Taylor (1993). Assim como no estudo de Cavalcanti,
Vereda, Doctors, Lima e Maynard (2018), a função de resposta do banco central é
dada pela seguinte expressão:

( ⎣) ( ) ( )
𝑅𝑡 = ϕ𝑅𝑅𝑡−1 + 1 − ϕ𝑅 ⎡⎢ϕπ 𝐸𝑡(π𝑡+𝑝)π𝑡 + ϕ𝑌𝐸𝑡 𝑌𝑡+𝑧 ⎤⎥ + 𝑒𝑅,𝑡

(20)

Esta regra especifica que a taxa de juro nominal atual depende de uma componente

inercial ou componente desfasada (𝑅 );


𝑡−1
do desvio da inflação esperada em

relação a um objetivo definido pela definido pela autoridade monetária; o hiato do


produto, representado pelo desvio do produto do seu valor em estado estacionário; e
um choque i.i.d. de política monetária, 𝑒𝑅,𝑡. Os índices p e z são números inteiros

que assumem qualquer valor.

2.4 Choques

13
O modelo inclui seis choques exógenos: choque de rendimento agregado, 𝑒𝐴,𝑡;

choque de política monetária, 𝑒𝑅,𝑡; choque de investimento público, 𝑒𝐼,𝑡; choque

salarial,𝑒𝑊,𝑡; um choque de horário público,𝑒𝐼,𝑡e choque de transferência

governamental, 𝑒𝑡𝑟,𝑡. Assume-se que todos os choques são 𝑖𝑖𝑑 0, σ𝐼 ( ) em que

𝑙 = 𝐴, 𝑅, 𝐼𝑔, ω𝑔, 𝑙𝑔, 𝑇𝑅. Os processos estocásticos que define a evolução de

𝐴𝑡, 𝑒𝑅,𝑡, 𝐼𝑔,𝑡, ω𝑔,𝑡, 𝐿𝑔,𝑡 e 𝑇𝑅𝑡 são dados pelas seguintes expressões:

𝐴𝑡 = ρ𝐴𝐴 + 𝑒𝐴,𝑡 (21)


𝑡−1

𝑒𝑅,𝑡 = ρ𝑒𝑒𝑅,𝑡−1 + ϵ𝑅,𝑡 (22)

𝐼𝑔,𝑡 = ρ𝐼𝐼𝑔,𝑡−1 + 𝑒𝐼,𝑡 (23)

ω𝑔,𝑡= ρωω𝑔,𝑡−1+ 𝑒ω,𝑡 (24)

𝐿𝑔,𝑡= ρ𝐿𝐿𝑔,𝑡−1 + 𝑒𝐿,𝑡 (25)

𝑇𝑅𝑡= ρ𝑡,𝑟𝑇𝑅,𝑡−1 + 𝑒𝑡𝑟,𝑡 (26)

2.5 Equilíbrio

O equilíbrio nessa economia é caracterizado por um conjunto de alocações de


residências, empresas e governos. Dada a política fiscal adotada pelo governo ,
𝑐 𝑙 𝑘 𝑞
{𝑡 , 𝑡 , 𝑡 , 𝑡 , γ𝑑, γ𝑦 , 𝐶𝑔,𝑡, ω𝑔,𝑡, 𝑇𝑅𝑡 , 𝐿𝑔,𝑡}∞𝑡 = 0

o equilíbrio competitivo é caracterizado por um conjunto de decisões domésticas



{𝐶'𝑡, 𝐶'𝑝,𝑡, 𝐶''𝑡, 𝐶''𝑝,𝑡, 𝐿'𝑝,𝑡, 𝐿''𝑝,𝑡, 𝐻'𝑡, 𝐻''𝑡, 𝑏'𝑡, 𝑏''𝑡, 𝐼𝑝,𝑡} 𝑡=0


;por uma sequência de oferta de capital privado e público 𝐾𝑝,𝑡, 𝐾𝑔,𝑡 { } 𝑡=0
; por uma

sequência de preços {𝑃𝑡, 𝑃𝑗,𝑡, 𝑅𝑘,𝑡, 𝑞𝑡, ω𝑝,𝑡} 𝑡=0
; pela taxa de juros nominal da

economia 𝑅𝑡{ } 𝑡=0
, que é compatível com a solução do problema do consumidor,

com o problema dos atacadistas e varejistas, com as restrições orçamentais do


Estado e com a regra de política monetária. O equilíbrio também é caracterizado por
uma sequência de choques, e suas condições são satisfeitas.

14
3. Estimativa Bayesiana

Nesta seção, discutimos nossa metodologia de estimativa e avaliação do modelo. A


solução do modelo DSGE é obtida a partir da aproximação de Taylor de primeira
ordem das condições de equilíbrio em torno do valor de equilíbrio não aleatório.
Sendo a solução do modelo o espaço de estados e o vetor das variáveis
​observadas, o modelo é estimado pela técnica bayesiana. Especificamente, o
algoritmo Metropolis-Hastings, que é o método das séries de Monte Carlo Markov
(MCMC), foi utilizado para obter a seguinte distribuição de probabilidade dos
parâmetros. Duas séries independentes, cada uma composta por 400.000
pesquisas, foram geradas usando o algoritmo Metropolis-Hastings. A aceitabilidade
média ao longo das duas séries é de cerca de 34% e a convergência é avaliada
pelos métodos propostos por Brooks e Gelman (1998). As estatísticas de interesse
são então calculadas com base na distribuição de probabilidade ergódica posterior
comum dos parâmetros estruturais.

3.1 Dados

Para estimar o modelo DSGE são utilizadas três variáveis ​para cada trimestre:
PIB real, taxas de juro nominais e consumo das famílias. Essas variáveis ​foram
escolhidas por serem as variáveis ​endógenas mais relevantes. As variáveis
​utilizadas são logarítmicas naturais e ajustadas sazonalmente. O modelo foi
estimado utilizando o software Dynare em Matlab. O PIB real é retirado do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (conta nacional trimestral), a taxa de
juros nominal é a SELIC (Sistema Especial de Acompanhamento e Pagamentos)
retirada do Banco Central do Brasil e o consumo das famílias é a taxa final. O
consumo das famílias é calculado pelo IBGE.

3.2 Calibração e Distribuições

Alguns parâmetros permanecem fixos durante a estimativa, enquanto outros são


estimados. Para que os parâmetros se mantiveram fixos, optou-se por utilizar
valores da literatura pertinente (Christiano e Eichenbaum, 1992; Lim e McNelis,
2008; Silva, Paes e Ospina, 2014; Cavalcanti, Vereda, Doctors, Lima e Maynard,

15
2018, Wesselbaum, (2017). A Tabela 3 no Apêndice (A) fornece uma breve
descrição desses parâmetros.

Para os parâmetros estimados, a opção é utilizar uma pré-distribuição semelhante à


utilizada na literatura pertinente. Para os parâmetros que indicam o grau de
substituição entre o consumo privado e o consumo de bens e serviços públicos, e ,
utilizamos uma distribuição beta anterior com média de 0,50, valor encontrado no
Brasil por Ferreira e Nascimento (2005), Santana, Cavalcanti e Paes (2012) e
Bezerra, Pereira, Campos e Callado (2014), com desvio padrão de 0,02 para
ambos. Para os parâmetros da regra de Taylor, utilizou-se a pré-distribuição e os
valores dos hiperparâmetros que aparecem com frequência na literatura (Smets e
Wouters, 2003). O parâmetro que rege a resposta do banco central às alterações de
preços, 𝜑𝜋, é definido como 1,5, de acordo com a regra de Taylor. Para o coeficiente
que mede a resposta do banco central ao hiato do produto, 𝜑𝑌, utilizamos uma
distribuição pré-normal com média de 0,125 (Carvalho, Silva e Silva, 2013).

Para o parâmetro indicador da participação do capital físico na função de produção,


à semelhança de Cavalcanti, Vereda, Doctors, Lima e Maynard (2018), aplicamos a
distribuição normal anterior com média 0,30 e desvio padrão 0,05. Por fim, para
todos os parâmetros autorregressivos, utilizamos a distribuição beta anterior com
média de 0,95 e desvio padrão de 0,02.

3.3 Resultados e Estimativas

Esta subseção apresenta os resultados da estimação do modelo DSGE. As Tabelas


4 e 5 do Apêndice (A) mostram a média, o desvio padrão e os valores do limite
inferior (MDP Inf) e limite superior (MDP Sup) do intervalo de confiança da
densidade, respectivamente, após máximo (MDP) de 95% foram estimados dos
parâmetros estimados por inferência bayesiana para os três tipos de modelos.

De forma geral, pode-se observar que os parâmetros apresentam muito pouca


variação entre os três modelos, sendo as médias posteriores muito próximas entre si
entre os três modelos. Os resultados da pesquisa demonstram que os dados
brasileiros fornecem muitas informações sobre a quantidade de trabalho doméstico

16
na produção de bens intermediários, devido ao último valor deste parâmetro nos
três modelos distintos, significativamente do valor anterior. Este resultado contrasta
com os resultados de Gomes e Mendicino (2015) e Silva e Besarria (2018) para a
economia brasileira; esses autores obtiveram valores posteriores idênticos aos
valores iniciais que utilizaram. Finocchiaro e Heideken (2013) também encontraram
resultados semelhantes para o Japão e o Reino Unido, e Silva e Besarria (2018)
também encontraram resultados semelhantes.

Relativamente aos parâmetros da função de resposta do banco central, o parâmetro


que mede a resposta do banco central às alterações nas expectativas de inflação é
positivo e maior que o consenso nos três modelos de estimação, em linha com o
princípio de Taylor. Da mesma forma, a medida de resposta às variações do produto
é positiva. Estes dois parâmetros sugerem o comportamento de um banco central
operando sob um mecanismo flexível de metas de inflação, atribuindo pesos tanto à
inflação como ao lado real da economia. Silva e Besarria (2018) também
encontraram resultados semelhantes. Os parâmetros para o investimento público e
os choques tecnológicos estão ambos acima da média anterior, sugerindo que estes
choques são mais persistentes do que inicialmente hipotético. Além disso, os
parâmetros que medem o grau de substituição entre o consumo privado e o
consumo de bens e serviços públicos pelas famílias pacientes e impacientes,
respectivamente e, estão muito próximos da média anterior, mostrando que os
dados brasileiros não indicam um grau de substituição entre consumo privado e
público.

3.4 Avaliação dos modelos

A principal motivação deste estudo é determinar o impacto macroeconômico de um


choque de política monetária, considerando que a política fiscal funciona de acordo
com regras fiscais. Em particular, as restrições à despesa pública foram
incorporadas em duas regras fiscais, uma das quais é a EA 95/2016. Além disso,
foram identificados o impacto da austeridade fiscal no bem-estar das famílias e a
volatilidade das variáveis ​macroeconômicas.

17
Os resultados estimados do modelo DSGE demonstram que, nos três cenários de
despesa pública após um choque restritivo de política monetária, todas as variáveis
​econômicas reagem negativamente ao choque, exceto a dívida pública.

Verifica-se também que a regra de substituição reduz a sensibilidade das variáveis


​orçamentais, especialmente da dívida pública, em comparação com outros cenários.
Mesmo com a LE 95/2016, a resposta da dívida pública ao choque nas taxas de
juros não é significativamente diferente do cenário base.

A análise do bem-estar mostrou que a LE 95/2016, em comparação com a regra


alternativa, resultou num nível mais elevado de bem-estar para as famílias. Além
disso, o bem-estar das famílias pobres é mais afetado quando o governo utiliza
qualquer uma das regulamentações financeiras. Além disso, a LE 95/2016 reduz a
volatilidade no consumo das famílias em comparação com a regra de financiamento
alternativo. Por outro lado, a LE 95/2016 produz resultados muito piores em termos
de estabilidade da dívida pública do que a regra alternativa. Neste estudo, pode-se
verificar que a implementação da EA 95/2016 pelo governo brasileiro não produz
resultados estatisticamente diferentes e reduz o bem-estar das famílias em
comparação com o cenário sem regulamentação orçamentária. Portanto, o benefício
correspondente da LE 95/2016 é inferior ao custo associado a este regulamento
financeiro (menos benefício). Se o governo aplicasse uma restrição orçamental
semelhante à regra de substituição, a interação entre a política fiscal e a política
monetária poderia ser grandemente reduzida, reduzindo assim a influência das
finanças sobre a política monetária. Contudo, os custos de bem-estar são muito
mais elevados do que no cenário de base. Portanto, a agência de gestão orçamental
enfrenta um compromisso entre a estabilização da dívida pública e o bem-estar das
famílias.

3.4.1 Análise do bem-estar

Nesta seção, é feita uma análise do bem-estar das famílias. Para determinar o bem-
estar das famílias, foi utilizada a medida aplicada no trabalho de Paes e Bugarin
(2006); essa medida consiste no uso da variação compensada do consumo.

18
Tabela 1: Bem-estar para as regras fiscais

A Tabela 1 mostra que, no cenário de referência, o nível de bem-estar é superior ao


dos demais cenários porque o consumo total da economia diminui quando o governo
utiliza uma das duas regras fiscais. Após o aumento da taxa de juros, o bem-estar
04411
familiar do paciente é de 0 . Caso o governo decida aprovar a EA 95/2016, o
subsídio social será reduzido para 0,028%, uma diminuição de 36,36%.
Se o governo optar por implementar a regra proposta por Wesselbaum (2017), o
bem-estar cairá para 0,006, o que equivale a uma redução de 86,36% em relação à
linha de base. O mesmo se aplica às famílias impacientes, quando, após um choque
de política monetária, o bem-estar é de 0,004%. De acordo com a legislação
tributária brasileira, o benefício social é reduzido para 0,001 (redução de 75%). Da
mesma forma, com a regulamentação dos EUA, o nível de felicidade passou a ter
um valor de 0,0001 (redução de 97,50%).
Assim, a Tabela 1 mostra que quando o governo utiliza a EA 95/2016 ou a regra
alternativa, o nível de bem-estar das famílias diminuirá, especialmente para as
famílias pobres. Entre as duas regras financeiras, a proposta por Wesselbaum
(2017) para a economia dos EUA reduz ainda mais o bem-estar.

3.5 Análise de Resultados

O sinal da resposta ao impulso resultante na Figura 1 também pode ser encontrado


no estudo de Valli e Carvalho (2010), Çebi (2012) e Cavalcanti, Vereda, Doctors,
Lima e Maynard (2018). Estes autores também determinam o impacto de um choque
de restrição na política monetária, tendo em conta que a política fiscal segue regras
fiscais e a política monetária segue a regra de Taylor. No entanto, apenas
Cavalcanti, Vereda, Doctors, Lima e Maynard (2018) consideram os mesmos canais

19
de transmissão sobre a interação entre política monetária e fiscal como fizemos
neste estudo.

Descobrimos que a resposta ao impulso do modelo ao EA 95/2016 não é


estatisticamente diferente daquela do modelo de base; apenas o modelo com a
regra de substituição obteve resultados estatisticamente significativos porque a
regra financeira brasileira é “flexível”. Este resultado é importante para a literatura,
pois Benegas e Marinho (2017) e Ferreira e Pereira (2018) procuraram determinar o
impacto da EA 95/2016 e realizaram suas análises sem estimação do modelo.
Portanto, é impossível saber se esses resultados são estatisticamente diferentes de
um cenário sem regras financeiras.

Considerando o impacto do EA 95/2016 no bem-estar das famílias, este estudo


obteve resultados semelhantes aos de Ferreira e Pereira (2018), que concluíram
que a implementação do EA 95/2016 em cenário de choque monetário Esta política
reduz a felicidade global dos membros da família. Porém, após o choque de
produtividade, a LE 95/2016 resultou em aumento dos níveis de felicidade. Santos
(2017) constata que quando o governo utiliza uma regra de gastos fixos semelhante
à LE 95/2016, o nível de bem-estar das famílias será maior do que no cenário sem
regra fiscal. No entanto, as medidas de segurança social utilizadas neste artigo
diferem das utilizadas por Santos (2017), na medida em que constatamos que a
regulação fiscal pode reduzir a disparidade no produto interno bruto, na produção e
no consumo na economia; Para eles, cria um nível mais elevado de felicidade.
Assim, como esperado, uma regra fiscal mais restritiva (regra alternativa)
proporciona mais estabilidade à dívida pública, mas conduz a um declínio maior no
bem-estar das famílias. Contudo, tal como no estudo de Paes e Bugarin (2006),
constatou-se que as famílias mais pobres (as impacientes) foram mais afetadas,
porque o consumo em estado estacionário das famílias impacientes caiu mais do
que o das famílias impacientes. famílias devido à sua fraca capacidade de regular o
consumo ao longo do tempo.

Na análise de volatilidade, os resultados do EA 95/2016 coincidem com os


resultados obtidos por Santos (2017). Especialmente, após o choque de política

20
monetária na economia, o modelo de regras de gastos fixos (equivalente ao EA
95/2016) implica menores índices de produção e consumo.

Os resultados indicam que uma política fiscal mais restritiva, representada pela
regra de substituição, garantirá maior estabilidade em termos de dívida pública após
choques nas taxas de juro e, assim, reduzirá a interação entre a política fiscal e
monetária, tornando a política fiscal menos suscetível às flutuações das taxas de
juro. choque nas taxas de juros. taxa aumentou. Por outro lado, tal política dá ao
banco central mais liberdade no aumento das taxas de juro para combater a
inflação. Contudo, a implementação desta regulamentação fiscal cria uma perda
maior de bem-estar.

Como resultado, os decisores políticos enfrentam um compromisso entre a


austeridade fiscal e o bem-estar das famílias. No entanto, a implementação da regra
fiscal brasileira não é a melhor alternativa para os decisores políticos, uma vez que a
LE 95/2016 oferece um nível de bem-estar inferior ao do modelo de base.

Portanto, para fins políticos, para o governo alcançar maior estabilidade financeira
e menos interação política entre a política fiscal e monetária, seria mais apropriado
implementar a regra alternativa. Contudo, se os decisores políticos não quiserem
reduzir o bem-estar das famílias a curto prazo, especialmente das mais pobres, é
melhor não implementar qualquer regulamentação fiscal.

4. Conclusões

O modelo DSGE neokeynesiano apresentado neste estudo oferece uma ferramenta


valiosa para analisar os desafios e oportunidades da economia em relação às
políticas fiscais e monetárias. Através de simulações detalhadas, fomos capazes de
examinar como diferentes regras fiscais e políticas monetárias afetam
variáveis-chave, como crescimento econômico, bem-estar das famílias e
estabilidade da dívida pública.

Os resultados ressaltam a importância de encontrar um equilíbrio entre políticas de


austeridade fiscal, sustentabilidade da dívida e estímulos econômicos. Além disso,

21
destacam a necessidade de considerar as interações complexas entre diferentes
setores da economia e os efeitos distributivos das políticas adotadas.

Em suma, o modelo fornece insights valiosos para formuladores de políticas,


economistas e pesquisadores interessados em entender as dinâmicas econômicas
do Brasil e avaliar os impactos das políticas fiscal e monetária em um ambiente de
incerteza econômica e desafios fiscais. A análise cuidadosa desses resultados pode
ajudar na tomada de decisões informadas que visem a estabilidade econômica e o
bem-estar social.

22
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Apêndice A - Calibração e distribuições prévias

Tabela 3: Parâmetros calibrados

Tabela 4: Distribuições prévias e posteriores dos parâmetros estimados (A)

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