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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


CONJUNTURA ECONÔMICA BRASILEIRA - II ATIVIDADE AVALIATIVA

Nomes: Andressa, Bruna, Carla, Gilvan Junior, Julia, Vitória Régia.

INTRODUÇÃO

As perspectivas e propostas discutidas em aula se articulam em um projeto mais


amplo que iniciou com o governo de Michel Temer, e aparentemente, terá continuidade no
governo de Jair Bolsonaro. As diretrizes gerais da próxima administração apontam para um
caminho de privatizações, reformas tributárias, bancárias, trabalhistas, diminuição do
BNDES, abertura comercial e outras medidas que seguem uma orientação, relativamente,
liberal. Isso representa uma ruptura com as políticas desenvolvimentistas que vigoraram
durante os mandatos de Lula e Dilma. Tendo em vista que as mudanças em políticas
econômicas afetam o mercado e a sociedade, muitas vezes de formas imprevisíveis, criando
incerteza e influenciando a tomada de decisão dos agentes econômicos, pretendemos analisar
com maior cuidado a questão das privatizações. Buscaremos investigar a questão por
diferentes ângulos, olhando para os exemplos do passado e levantando os prós e contras, bem
como os possíveis desdobramentos a curto, médio e longo prazo.
O plano de governo oficial de Jair Bolsonaro pretende “reduzir em 20% o volume da
dívida por meio de privatizações, concessões, venda de propriedades imobiliárias da União e
devolução de recursos em instituições financeiras oficiais que hoje são utilizados sem um
benefício claro à população brasileira. Algumas estatais serão extintas, outras privatizadas e,
em sua minoria, pelo caráter estratégico serão preservadas.” Apesar de não ter detalhado
como será feito o processo e quais são as estatais estratégicas, o documento ressalta que o
objetivo das privatizações é aumentar a competição nos setores. Como ainda não são claros os
aspectos práticos e concretos da futura administração, consideramos os argumentos gerais do
debate, já estabelecido de longa data, em torno da questão.
Os que defendem a privatização das empresas estatais colocam como principais
vantagens a desburocratização (na prestação do serviço, na administração e na contratação de
funcionários, além de políticas de incentivo a produtividade) a independência política (trocas
de favores e corrupção não ocorreriam em empresas privadas) e a maior eficiência (a premissa
é que o mercado é mais eficiente do que o Estado na gestão de seus recursos). Já os que se
opõem argumentam que as mesmas geram desemprego e em geral, piores condições de
trabalho, além de maiores custos para o consumidor e menor cobertura na prestação de
serviço ao público. É entendido que o Estado não pode abrir mão de administrar os setores da
economia que são considerados como essenciais à sociedade, sob o risco de privar a
população carente de receber recursos básicos (SUPER INTERESSANTE, 2018).
DISCUSSÃO

Analisando as privatizações que foram levadas a curso no Brasil nos anos 90, é
possível perceber que os feitos foram mistos, apresentando pontos positivos e negativos

Os positivos são:
• O aumento da qualidade do serviço, e a ampliação do público atendido (BRASIL
ECONÔMICO, 2012; REVISTA EXAME, 2009);
• A melhora nos resultados contábeis das empresas privatizadas (BRASIL ECONÔMICO,
2012; REVISTA EXAME, 2009).

Os negativos são:
• Perca de projetos desenvolvimentistas e entrega a estrangeiros (POLITIZE, 2016);
• Papel da sociedade na fiscalização do Estado, ou seja, no controle social(FARIAS, 2008;
POLITIZE, 2016);

Mas é preciso ainda considerar como as privatizações podem afetar diferentes grupos
que compõem a sociedade e o mercado, pois como discutido em aula, a política econômica
não nunca é neutra; podendo beneficiar uns e prejudicar outros. Nesse sentido, o economista
Henry Hazlitt (2010, p.24) defendeu que o objetivo do economista deve ser o de “considerar
não só os efeitos imediatos de qualquer ato ou política, mas, também, os mais remotos; de
descobrir as consequências dessa política, não somente para um único grupo, mas para todos
eles.” Desse modo, analisaremos a questão sobre as seguintes perceptivas:

● Do ponto de vista do consumidor/sociedade: As privatizações, se feitas da forma


correta, isto é, acompanhadas de um processo de desregulamentação que promove a
livre entrada e, consequentemente, a concorrência, beneficiam em muito os
consumidores. Em um ambiente de livre mercado (este que é essencialmente
competitivo), as empresas devem buscar, continuamente, oferecer melhores
oportunidades de negócio aos consumidores do que as que estão sendo atualmente
oferecidas, se quiserem se manter operantes. Isso leva a uma melhoria na qualidade
dos serviços e/ou produtos ofertados, melhores preços e maior cobertura de mercado.
Essa é uma proposição que encontra suporte no corpo teórico da Escola Austríaca,
mas que também é prontamente respalda pela evidência empírica, vide o caso da
desestatização do setor de telecomunicações britânico em 1984: “O atendimento aos
clientes melhorou a ponto de ¾ dos pedidos residenciais serem atendidos em 12 dias
úteis e 85% dos defeitos serem sanados no dia seguinte. O aumento de tarifas também
foi modesto em anos recentes. Houve até redução de tarifas interurbanas [...], bem
como melhorou a qualidade dos equipamentos e serviços prestados (BRITO, 1989, p.
73).” Menor preço, maior qualidade e maior oferta é o oposto das consequências
apontadas por aqueles que se opõem à privatização. Ainda, o argumento de que setores
essenciais à vida humana devem ficar sobre o controle do Estado demonstra
inconsistência, pois se fosse assim haveria petições para que o setor alimentício fosse
completamente estatizado, visto sua importância para a sociedade. Mas se isso
ocorresse haveria tanta abundância e acessibilidade de alimentos?

● Do ponto de vista do comprador: A venda das estatais representa uma excelente


oportunidade de negócio para os empresários que buscam investir seu capital na
compra de empresas que possuem potencial para rentabilidade. Assim, feito da forma
correta, as privatizações beneficiam tanto os consumidores quanto os empresários.
Porém, se ocorrem simplesmente como uma forma de concessão (passando da mão do
governo para mãos privadas amigas, sem desregulamentação e mantendo os
privilégios que formam reserva de mercado), como foi com grande parte das
privatizações ao longo da história brasileira, os benefícios empresariais serão as custas
do consumidor.

● Do ponto de vista do funcionário público: Na transição de empresa pública para


privada a possibilidade de planos de desligamentos voluntários (PDVs), demissões e
aumento nas terceirizações não pode ser descartada, mas também não pode ser dada
como certa. O futuro dos servidores é incerto, se consideramos o pior dos cenários, os
funcionários públicos, de início, estariam em pior condição; porém, em uma economia
mais desregulamentada, eles não teriam dificuldades em encontrar empregos mais
produtivos e bem remunerados. Porém, há também outra possibilidade que apresenta
um panorama bem mais favorável: a privatização pode ser feita através de um
processo de abertura do capital da empresa para que os funcionários possam adquirir
ações e mesmo o controle administrativo sobre essa.

● Do ponto de vista fiscal: A atual situação fiscal brasileira é insustentável, com a crise
de arrecadação, as receitas não cobrem mais as despesas e o governo se utiliza de
empréstimos (emissão de títulos de dívida) para se financiar, desde modo, incorrendo
em déficits nominais. “Em um período de 12 meses, o governo gasta R$ 500 bilhões a
mais do que arrecada via impostos (MISES BRASIL, 2018)”, que se somam a já
voluptuosa dívida pública. Não ajuda nem um pouco o fato que 18 estatais brasileiras
são dependentes dos recursos da União, “sendo que oito delas tinham patrimônio
líquido (PL) negativo, em 2016”. Ainda por cima “do total de R$ 16,8 bilhões do
dispêndio das 18 estatais em 2016, 86% corresponderam a despesas com pessoal e
outras despesas (INDEPENDENTE, Instituição Fiscal, 2017)”, ou seja, não há retorno
financeiro ou social e o maior gasto é com o funcionalismo. A privatização (ou mesmo
eliminação) das estatais dependentes poderia aliviar um pouco as contas
governamentais. E a receita da venda de estatais não dependentes poderia ser usada
para diminuir o montante da dívida pública, sendo um passo importante em direção há
um orcamento fiscal mais saudável. Os benefícios de uma dívida menor e um
orçamento em equilíbrio são diversos e favorecem a sociedade como um todo. Uma
dívida menor significa juros menores e melhores condições de crédito para pequenas,
médias e grandes empresas. E a austeridade fiscal significa mais espaço para
investimento privado e crescimento econômico real e sustentável a longo prazo.

CONCLUSÃO

Em conclusão, as privatizações se inserem em um conjunto maior de reformas que


parecem indicar uma redução do governo na esfera econômica. A perspectiva de um governo
menor divide opiniões, alguns críticos acreditam que isso leva há um aumento da
desigualdade e piora nos índices sociais, e mesmo os econômicos, pois é entendido que o
mercado possui falhas intrínsecas que necessitam de correção governamental. Eles defendem
que o Estado deve desempenhar a função social de garantia de direitos e seguridade, e a
função econômica de regulação, fiscalização e estímulo ao crescimento via políticas
expansionistas. Mas esse é justamente o modelo que o país tem seguido nos últimos anos com
resultados contrários aos desejados, talvez seja o momento de mudar a estratégia. A
diminuição da intervenção governamental na economia é defendida por diversos economistas,
em especial pelos da vertente austrolibertaria, com argumento de que o livre mercado é a
forma mais eficiente de organizar a sociedade e alocar os recursos privados. O laissez-faire
radical (mercado e comércio externo totalmente desregulados, desestatização da moeda e
abolição dos bancos centrais, direitos absolutos de propriedade, liberação de todas atividades
e trocas voluntárias e fim de todos monopólios estatais) defendido pelos austrolibertarios
nunca foi posto em prática em uma sociedade moderna, mas a experiência nos mostrou que
sistemas com maior grau de descentralização, em geral, funcionam melhor do que os mais
centralizados. Mesmo que as mudanças sejam aquém do ideal, melhorias se mostram
proporcionais às reformas descentralizadoras. Por exemplo, a Nova Zelândia e Irlanda (países
que passavam por uma situação bem semelhante à do Brasil: déficit fiscal do governo e fraco
desempenho econômico) realizaram reformas administrativas visando a diminuição e
desburocratização do Estado, o resultado foi crescimento econômico. A Nova Zelândia, foi
além, realizando uma reforma estratégica com objetivo de aumentar a competitividade e
estabelecer sistemas de incentivo a produtividade no setor público e apostando no livre
comércio exterior, hoje ela é a terceira economia mais livre do mundo (MISES BRASIL,
2018a; 2016).
Isso levanta a pergunta: o que acontecerá com o Brasil se ele seguir o mesmo
caminho? No curto prazo, é possível que a diminuição dos gastos do governo provoque uma
queda no nível de atividade econômica, visto a cessão dos estímulos artificiais que inflam a
demanda. Porém, uma vez que a economia se encontrar livre de incentivos embusteiros e com
gastos controlados, dessa forma reduzindo a expropriação dos recursos privados, ela poderá
voltar a crescer, mas dessa vez assentada em bases sólidas e financiada pela livre iniciativa.
Por fim, mesmo que a evidência histórica seja considerada inconclusiva, que a teoria
seja acusada de estar equivocada e que as perspectivas apresentadas sejam desacreditadas, a
defesa da liberdade econômica possui uma dimensão ética significativa, a qual por si só
constitui um pilar inabalável. Um Estado grande e paternalista é uma afronta ao indivíduo, um
escárnio a sua capacidade de usar a razão por si próprio e um desrespeito alarmante a sua
liberdade de dispor de sua propriedade como melhor o aprouver.
REFERÊNCIAS

FARIAS, R. C. G. B. Estado mínimo, para quem?: uma reflexão sobre Estado, política,
privatizações e democracia no Brasil e na Argentina. Buenos Aires, 2008. Acesso em:
https://portal.tcu.gov.br/biblioteca-digital/estado-minimo-para-quem-uma-reflexao-sobreestad
o-politica-privatizacoes-e-democracia-no-brasil-e-na-argentina.htm

BRASIL ECONÔMICO: Três experiências brasileiras com as privatizações. Publicado em


31 de Agosto de 2017. Acesso em:
https://economia.ig.com.br/financas/2017-08-31/pacote-privatizacoes-codigo-riqueza.html

BRITO, N. R. O. de. O programa de privatização inglês. Rio de Janeiro: Coppead, 1989.

HAZLITT, Henry. Economia numa única lição. 4. ed. São Paulo: Mises Brasil, 2010.

INDEPENDENTE, Instituição Fiscal. Relatório de acompanhamento fiscal: dezembro de


2017, 2017.

MISES BRASIL: A explosiva situação fiscal do governo brasileiro – em dois gráficos


(atualizados). Publicado em Outubro de 2018. Acesso em:
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2828

MISES BRASIL: Como a Nova Zelândia reduziu o estado, enriqueceu e virou a terceira
economia mais livre do mundo. Publicado em 23 de outubro de 2018a. Acesso
em:https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2260

MISES BRASIL: O exemplo irlandês – como a redução dos gastos do governo


impulsionou o crescimento da economia. Publicado em 25 de Maio de 2016. Acesso em:
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2361

POLITIZE: Privatizar ou não privatizar: eis a questão. Publicado em 23 de Maio de 2016.


Acesso em: https://www.politize.com.br/privatizar-ou-nao-privatizar-eis-questao/

REVISTA EXAME: Antes e depois da venda. Publicado em 18 de Fevereiro de 2011.


Acesso em: https://exame.abril.com.br/revista-exame/antes-e-depois-da-venda-m0051381/

SUPER INTERESSANTE: Quais os prós e contras das privatizações? Publicado em 4 de


Julho de 2018. Acesso em:
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quais-os-pros-e-contras-das-privatizacoes/

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