Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
KALECKI Aspectos Politicos Do Pleno Emprego
KALECKI Aspectos Politicos Do Pleno Emprego
br/desempregozero -
KALECKI – 1944
1. Os motivos para a oposição dos “líderes industriais” ao pleno emprego obtido por meio
da despesa governamental podem ser agrupados em três categorias: (a) a reprovação à
interferência pura e simples do Governo no problema do emprego; (b) a reprovação à
direção da despesa governamental (para investimento público e subsídio ao consumo);
(c) a reprovação às mudanças sociais e políticas resultantes da manutenção do pleno
emprego. Examinaremos minuciosamente cada uma dessas três categorias de objeção à
política de expansão do Governo.
(1) Poder-se-ia esperar, portanto, que os líderes empresariais e seus assessores fossem
mais favoráveis ao subsídio ao consumo popular (por meio de pensões às famílias,
subsídios para manter baixo o preço dos produtos essenciais etc.) do que ao
investimento público, porque, subsidiando o consumo, o Governo não estaria embarcando
em nenhum tipo de “empresa”. Na prática, porém, esse não é o caso. De fato, o subsídio
ao consumo popular é muito mais violentamente combatido do que o investimento
público, porque coloca-se aqui um princípio “moral” da mais alta importância. Os
fundamentos da ética capitalista requerem que “Você ganhará seu pão com o suor de seu
rosto” a menos que você tenha meios privados.
Pode-se mostrar, todavia, que o estímulo ao investimento privado não provê um método
adequado de evitar o desemprego em massa. Existem aqui duas alternativas a serem
consideradas: (a) a taxa de juro ou o imposto de renda, ou ambos, é fortemente reduzido
na depressão e aumentado na prosperidade. Nesse caso, tanto o período como a
amplitude do ciclo econômico serão diminuídos, mas o emprego estará longe de pleno não
apenas na depressão, mas mesmo na prosperidade, isto é, o desemprego médio poderá
ser considerável, embora suas flutuações sejam menos acentuadas; (b) a taxa de juro ou
o imposto de renda é reduzido na depressão, mas não aumentado na subseqüente
prosperidade. Nesse caso, a prosperidade durará mais tempo, mas deverá terminar em
nova depressão: é claro que uma redução da taxa de juro ou do imposto de renda não
elimina as forças que causam flutuações cíclicas numa economia capitalista. Na nova
depressão será necessário reduzir novamente a taxa de juro ou o imposto de renda, e
assim por diante. Assim, num tempo não muito remoto, a taxa de juro teria de ser
negativa e o imposto de renda teria de ser substituído por um subsídio à renda. O mesmo
aconteceria se tentasse manter o pleno emprego pelo estímulo ao investimento privado:
a taxa de juro e o imposto de renda teriam de’ ser continuamente reduzidos.
Esse padrão de “ciclo econômico político” não é inteiramente conjectural; alguma coisa de
muito parecido aconteceu nos Estados Unidos em 1937-38. A interrupção da prosperidade
na segunda metade de 1937 deveu-se realmente à drástica redução do déficit
orçamentário. De outro lado, na aguda recessão que se seguiu, o Governo prontamente
reverteu à política de gastos.