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CEPESP
20/12/2017 07:46
Atualizado em 20/12/2017 às 08:56
Crédito: Pixabay
“Low budgets force you to be more creative. Sometimes, with too much money, time
and equipment, you can over-think. My way, you can use your gut instinct.”
Robert Rodriguez
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27/04/2022 19:38 A economia e a política do conflito distributivo - JOTA
O teto funciona da seguinte forma: fixou-se por até 20 anos, com a possibilidade de
revisão passada a primeira década de vigência, um limite máximo (daí o termo teto)
para as despesas federais. Tal restrição será medida pelo gasto realizado no ano
anterior, corrigido pela inflação; a restrição vale para os três Poderes.
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Numa visão ampla, tais conflitos podem se dar, por exemplo, entre trabalhadores e
empresas, acionistas e gestores, diferentes setores empresariais e – algo
importante no caso brasileiro – entre determinados segmentos do funcionalismo e o
setor privado (trabalhadores e empresas).
O jogo do conflito distributivo, contudo, não pode ser sempre um ganha-ganha, isto
é, uma situação onde vários grupos disputam – e são bem sucedidos – uma
mesma quantidade de riqueza (estoque) e renda (fluxo). Evidentemente, o
crescimento econômico pode amenizar o conflito distributivo, mas o mesmo pode,
sob determinadas circunstâncias, obliterar o próprio crescimento. Portanto, ao fim
do dia, conflitos distributivos geram ganhadores e perdedores.
Contudo, quando escamoteados pelo que definiremos abaixo como a ilusão de não
conflito (um efeito de se sancioná-los via receita de senhoriagem e inflação), os
conflitos distributivos causam uma dissonância cognitiva coletiva danosa não
somente para o funcionamento da economia, mas para a própria política.
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Caminhando para uma análise mais realista de economia política, no mundo das
pessoas de carne e osso, vários grupos podem se organizar para obter subsídios,
isenções tributárias, sistemas previdenciários diferenciados e determinados
privilégios (por exemplo, isenções tributárias setoriais ou para empresas específicas,
os chamados penduricalhos desfrutados por alguns segmentos do funcionalismo,
políticas e políticos, etc.). Como o orçamento público é limitado, haverá ganhadores
e perdedores.
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economês, uma carga que gera a maior arrecadação possível: aquém ou além dela,
a arrecadação seria menor. Logo, há um limite para se tributar.
Em segundo lugar, governos podem se endividar, mas há um limite para tal, qual
seja, a disposição das pessoas em financiá-lo. Caso a dívida aumente para um nível
de risco elevado (no caso do Brasil, algo em torno dos 90% do PIB), os agentes
econômicos, famílias em última instância, somente aceitariam comprar títulos da
dívida a juros cada vez maiores, o que pode colocar a dívida numa trajetória
explosiva, ou como as economistas chamariam, Ponzi. Logo, há um limite para se
endividar.
Em terceiro lugar, governos podem emitir dinheiro, já que possuem o monopólio para
tal, definido como poder de senhoriagem. Como o custo unitário de produção,
digamos, de centenas de milhares de notas ou moedas de um Real é pequeno (com
moeda totalmente digital vai ser, de fato, quase zero), para cada um Real fabricado
gera-se uma receita de quase um Real.
Mas tudo na vida tem um, por que não dizer, preço: há um limite para a emissão de
moeda a uma taxa sempre superior à do crescimento do PIB real. Imagine uma
economia em que a arrecadação e a dívida estão no seu teto máximo e o governo
ainda incorre num déficit primário crescente (suponha que os gastos
previdenciários, com funcionalismo, com educação, saúde – essenciais, por sinal –
não param de crescer). A emissão de dinheiro gera uma receita, que será máxima
até uma determinada taxa de inflação (taxa ótima de inflação). Mas se o governo
insiste em emitir ou se os agentes percebem que ele não parará de fazê-lo, a
inflação se acelera e as pessoas se livram de moeda nacional. Moeda é demandada
como meio de transação e reserva de valor: numa super ou hiperinflação ela perde
estas duas funções e de nada adianta o governo insistir em imprimir mais e mais
dinheiro – é como produzir carne de vaca na Índia, não é bom negócio, pois não há
demanda. Logo, há um limite até mesmo para a receita de senhoriagem, dado, neste
caso, pela inflação elevada e/ou acelerada.
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Por outro lado, quando a inflação estava nos níveis mais elevados, o sistema
bancário criou uma inovação institucional: contas bancárias nas quais os depósitos
à vista eram indexados à inflação do dia anterior. Instrumento genial, pelo menos
para as pouquíssimas famílias das classes A e B bancarizadas, mas sem beneficiar
os quase 65% da população que ficavam entre pobre e miserável, no período do final
dos anos 80 até a primeira metade dos 90 do século passado. Esta jabuticaba (o
Efeito Tanzi invertido não deixa de ser outra) manteve um pouco mais a capacidade
de obtenção de receita de senhoriagem. Muito provavelmente devido a estas regras
do jogo, bem peculiares por sinal, não tenhamos vivido uma hiperinflação aberta no
Brasil, mas uma superinflação, até o Plano Real. As famílias ricas aprenderam – e se
acostumaram – a conviver com a inflação e o governo obteve graus de liberdade a
mais para usar a receita de senhoriagem.
O gasto social aumenta desde os governos FHC, na verdade, pelo simples fato de
que o que foi acordado na Carta está desde então a ser implementado.
Notadamente, o gasto previdenciário, que é gasto social relevante. O problema é que
há outros também, inclusive aqueles que tiram do penhor o futuro do país, como o
Bolsa Família e educação.
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Há também ilusão tributária no Brasil: criar novas alíquotas do IRPF, imposto sobre
fortunas, herança e até dividendos, são medidas que podem ter implicações sobre
justiça tributária, mas não destravam o algoritmo do gasto insustentável. O mesmo
vale para a cobrança de dívidas previdenciárias ou ativas da Receita.
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Case-Studies, and Political Theory”, World Politics, Vol. 16, No. 4, Jul.). Nela, Lowi
distingue quatro tipos básicos de políticas públicas: constitutivas, regulatórias,
distributivas e redistributivas.
Já políticas regulatórias são aquelas que estabelecem regras gerais para setores da
sociedade, especialmente ramos de atividade econômica. Devido a essa provável
generalidade (ao menos em princípio), podem opor claramente diferentes
segmentos interessados – ou não. Imaginemos uma regulamentação do setor de
combustíveis que determine a quantidade álcool a ser adicionada à gasolina. Se a
regulação determinar uma quantidade maior, ganharão os produtores de etanol,
perdendo os de gasolina; se for menor, inverte-se o ganho. Nesse exemplo, portanto,
a regulação pode produzir ganhadores e perdedores claros, impactando suas
estratégias políticas e tornando-os adversários. Noutros casos talvez não haja esse
mesmo efeito, o que tende a mudar as alianças e os conflitos em torno da política.
Suponha-se, por exemplo, que em vez de regular a quantidade de cada produto, haja
uma regulação que determine as especificações dos veículos do transporte de
combustível. É provável que neste caso tanto produtores de etanol como de gasolina
tenham interesses comuns e, consequentemente, em vez de competir, aliem-se.
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com a emenda orçamentária aprovada por seu colega Y, que destinou alguns
milhares de reais para a construção de um ginásio de esportes no município em que
obtém a maior parte de seus votos. Mesmo porque, o deputado X provavelmente
também pôde destinar outros milhares de reais à construção de uma unidade de
saúde no bairro da grande cidade onde amealha a maior parte de seus sufrágios.
Como se nota, na política distributiva, havendo recursos, todos ganham e, por isso,
não têm porque brigar; em vez disso, tendem a se apoiar mutuamente, sobretudo se
não estiverem numa disputa direta noutros âmbitos. É um jogo de soma positiva.
Por outro lado, as políticas redistributivas são aquelas que opõem mais fortemente
distintos grupos sociais, pois lhes impõem ganhos e perdas claros, transferindo
recursos de uns para outros. Assim, uma mudança da tabela do imposto de renda,
aumentando as alíquotas dos mais ricos e reduzindo as dos mais pobres, é uma
típica política redistributiva. Seu caráter de perde-ganha (possivelmente de um jogo
de soma-zero) faz com que a possibilidade do conflito político aumente, opondo
claramente eventuais ganhadores e perdedores. O mesmo vale se tratamos de
políticas voltadas à determinar os ganhos do capital e do trabalho, ou da disputa por
recursos orçamentários escassos em que a destinação do dinheiro para uns
necessariamente requer a não destinação para outros – ou, o que pode ser ainda
mais importante, a retirada dos outros.
Mais do que classificar os tipos de políticas, o grande feito de Lowi foi perceber que
cada um deles enseja diferentes tipos de disputa política – ou, na formulação que se
tornou célebre entre os cientistas políticos, “policy determines politics” (a política
pública determina o jogo político, em tradução livre).
Pois então, o principal efeito político gerado pela emenda constitucional do teto de
gastos é a transformação do conflito orçamentário no Brasil, já que este deixa de se
dar nos marcos da política distributiva e passa a ocorrer segundo a política
redistributiva. Mesmo os temores de prejuízo às áreas sociais ocorrem justamente
por causa desta transformação e das expectativas que ela produz – Lowi, aliás,
notava que são as expectativas quanto ao resultado da redistribuição (não o
resultado propriamente) que direcionam o conflito político nessa arena.
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A saúde fazia isto, mas não estava sozinha, pois outros setores do governo
tentavam fazer o mesmo, com maior ou menor sucesso. Em particular no que diz
respeito aos gastos com pessoal, como se tratava de uma despesa irredutível, que
deveria na realidade aumentar cada vez mais em função dos reajustes salariais, da
progressão nas carreiras, da contratação de novos servidores e das melhorias de
remuneração, sempre era necessário buscar novos recursos para assegurar a
alocação distributiva dos gastos.
A emenda do teto de gastos está longe de ser uma medida perfeita. Ela tem
problemas e, como já apontado por muitos, um deles é o prazo dilatado para a sua
vigência (20 anos), com a primeira revisão prevista apenas uma década após sua
promulgação, mediante lei complementar proposta pela Presidência da República.
Quanto a isto, porém, vale notar que num país que aprovou 104 emendas
constitucionais em 29 anos de vigência da Carta (98 pelo rito ordinário e 6 de
revisão), não seria de surpreender alguma medida corretiva – mediante
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emendamento constitucional – antes que seja transcorrido esse decênio previsto na
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norma. Até lá, contudo, o conflito redistributivo que estará posto nessa e noutras
questões relacionadas tenderá a explicitar quem são os verdadeiros ganhadores e
perdedores da disputa pelo orçamento público no Brasil. Eles não apenas terão de
explicar ao público, mas se tornarão seus alvos.
CLÁUDIO GONÇALVES COUTO – Possui graduação em Ciências Sociais (1991), mestrado em Ciência
Política (1994) e doutorado em Ciência Política, todos pela Universidade de São Paulo (2000). Realizou
estágio de pós-doutorado na Universidade de Columbia (EUA) com apoio da CAPES (2005-6). Atualmente é
professor adjunto do Departamento de Gestão Pública e Coordenador do Mestrado Profissional em Gestão
e Políticas Públicas.
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especiais
graduação, mestrado ou doutorado.
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