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12/03/2023, 00:19 As dez leis fundamentais da economia - Mises Brasil

Economia

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Por Antony Mueller

17/05/2022

As dez leis fundamentais da economia


Sociedades que as respeitam e não tentam revogá-las enriquecem

Em meio a tantas falácias econômicas sendo repetidas de maneira aparentemente incessante


pela mídia e pelos comentaristas, a função do economista intelectualmente honesto é desfazer
essa cortina de fumaça para o público e reafirmar algumas das mais básicas leis da economia.

Este Instituto já apresentou uma lista extremamente sucinta das dez leis fundamentais da
economia. Vários leitores pediram para que ela fosse aprofundada. Eis, portanto, as dez leis
fundamentais da economia que sempre devem ser repetidas para jamais serem esquecidas.

1. Para consumir é necessário antes produzir

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12/03/2023, 00:19 As dez leis fundamentais da economia - Mises Brasil

A produção necessariamente vem antes do consumo. Para consumir algo, esse algo deve antes
existir. É impossível consumir algo que ainda não foi criado.

Embora essa seja uma constatação lógica e óbvia, ela é recorrentemente ignorada. A ideia de
que o governo deve estimular o consumo da população para que isso então impulsione a
produção e toda a economia é predominante na mídia e nos meios acadêmicos. Trata-se de uma
perfeita inversão de causa e consequência.

Bens de consumo não simplesmente caem do céu. Bens de consumo são o resultado final de
uma longa cadeia que envolve vários processos de produção interligados. Essa cadeia é chamada
de "estrutura de produção".

Mesmo a produção de um item aparentemente simples, como um lápis ou um sanduíche,


requer uma intrincada rede de processos produtivos que levam tempo para ser concluídos e
que envolvem vários países e continentes.

Estimular o consumo, por definição, não pode gerar crescimento econômico.

2. O consumo é o objetivo final da produção

As pessoas produzem aquilo que outras pessoas querem consumir. Não faz sentido econômico
produzir algo que ninguém irá consumir.

Por isso, o consumo é o objetivo de toda a atividade econômica. E a produção é o seu meio.

Defensores de políticas governamentais voltadas a "criar empregos" violam esta óbvia ideia.
Programas voltados para a criação artificial de empregos transformam a produção no objetivo
final, e não o consumo dessa produção. Criar empregos artificialmente significa estimular a
produção de algo que não está sendo demandado voluntariamente pelos consumidores.

São os consumidores que atribuem valor aos bens de consumo final. Ao atribuírem valor aos
bens de consumo, eles indiretamente também atribuem valor aos fatores de produção (mão-de-
obra e maquinário) utilizados no processo de produção destes bens de consumo.

São os consumidores, portanto, que determinam o valor da mão-de-obra, da matéria-prima e


de todos os maquinários e equipamentos utilizados em todos os processos de produção.

Ignorar as reais demandas do consumidor e querer criar empregos artificiais e processos de


produção que não estão em linha com os desejos do consumidor é uma medida que tenta
revogar toda essa realidade. Tal medida é economicamente destrutiva, pois imobiliza mão-de-
obra e recursos escassos em atividades que não estão sendo demandadas pela população. Isso
significa destruição de capital e de riqueza.

3. Nada é realmente gratuito; tudo tem custos

Não existe almoço grátis. Receber algo aparentemente gratuito significa apenas que há outra
pessoa pagando por tudo.

Por trás de cada universidade pública, de serviços de saúde "gratuitos", de bolsas estudantis e de
toda e qualquer forma de assistencialismo jaz o dinheiro de impostos de pessoas que trabalham
e produzem.

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Embora os pagadores de impostos saibam que é o governo quem confisca parte de sua renda,
eles não sabem para quem ou para onde vai esse dinheiro. E embora os recebedores desse
dinheiro e dos serviços custeados por esse dinheiro saibam que é o governo quem está por trás
de tudo, eles não sabem de quem o governo tomou esse dinheiro.

4. O valor das coisas é subjetivo

A maneira como cada indivíduo atribui valor a um bem é subjetiva, e varia de acordo com a
situação e com os gostos deste indivíduo. Um mesmo bem físico possui diferentes valores para
diferentes pessoas.

A utilidade de cada bem é subjetiva, individual, situacional e marginal. Por isso, não pode haver
algo como "consumo coletivo". Mesmo a temperatura de uma sala traz sensações distintas para
cada pessoa ali presente. A mesma partida de futebol possui diferentes valores subjetivos para
espectador, como é facilmente perceptível no momento que um dos times faz um gol.

5. É a produtividade o que determina os salários

A produção de um indivíduo durante um determinado período de tempo determina o quanto


ele pode ganhar durante esse período de tempo.

Quanto mais esse indivíduo produzir um bem ou serviço voluntariamente demandado pelos
consumidores em um determinado intervalo de tempo, maior poderá ser a sua remuneração.

Em um mercado de trabalho genuinamente livre, empresas contratarão mão-de-obra adicional


sempre que a produtividade marginal de cada um desses trabalhadores for maior que o seu
salário (custo). Em outras palavras, sempre que um trabalhador adicional for capaz de gerar
mais receitas do que despesas, ele será contratado.

A concorrência entre as empresas irá elevar os salários até o ponto em que ele se equiparar à
produtividade.

O poder dos sindicatos pode alterar a distribuição dos salários entre os diferentes grupos de
trabalhadores, mas não pode elevar o valor total dos salários de todos esses trabalhadores.
Estes dependem inteiramente da produtividade.

E o que aumenta a produtividade da mão-de-obra? Poupança, investimentos e acumulação de


capital.  Sem poupança não há investimento. E sem investimento não há acumulação de capital.
Sem acumulação de capital não há maior produtividade. E sem mais produtividade não há
aumento da renda.

6. Gastos representam, ao mesmo tempo, renda para uns e custo para outros

Keynesianos dizem que todo gasto gera renda. Eles apenas se esquecem de que todo gasto é
também um custo. O gasto é um custo para o comprador e uma renda para o vendedor. A renda
é igual ao custo.

O mecanismo do multiplicador de renda keynesiano diz que, quanto mais se gasta, mais se
enriquece. Quanto mais todos gastam, mais ricos todos ficam. Tal lógica obviamente ignora os
custos. O multiplicador fiscal, por definição, implica que os custos aumentam junto com a

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renda. Se a renda se multiplica, os custos também se multiplicam. O modelo do multiplicador


keynesiano ignora esse efeito do custo.

Graves erros de política econômica ocorrem quando as políticas governamentais contabilizam


os gastos públicos apenas pela ótica da renda, ignorando completamente o efeito dos custos.

Gastos, portanto, são custos. O multiplicador da renda implica a multiplicação dos custos.

7. Dinheiro não é riqueza

O valor do dinheiro consiste em seu poder de compra. O dinheiro serve como um instrumento
para se efetuar trocas. Quanto maior o poder de compra do dinheiro, maior sua capacidade de
efetuar trocas.

Mas o dinheiro, por si só, não é riqueza. É apenas um meio de troca. Riqueza é abundância de
bens e serviços e bem-estar. A riqueza de um indivíduo está, portanto, em sua capacidade de
ter acesso aos bens e serviços que ele deseja

O governo criar mais dinheiro não significa criar mais riqueza. Uma nação não pode aumentar
sua riqueza ao aumentar a quantidade de dinheiro existente.

Robinson Crusoé não estaria um centavo mais rico caso encontrasse uma mina de ouro ou uma
valise repleta de dinheiro em sua ilha isolada.

8. O trabalho, por si só, não cria valor

O trabalho, quando combinado com outros fatores de produção (matéria-prima, ferramentas e


infraestrutura), cria produtos. Mas o valor desses produtos depende do quanto ele é útil para o
consumidor.

A utilidade desse produto depende da valoração subjetiva feita por cada indivíduo (ver item 4).
Por isso, criar empregos apenas para que haja mais empregos é algo economicamente insensato
(ver item 2).

O que realmente importa é a criação de valor, e não o quão duro um indivíduo trabalha. Para ser
útil, um produto ou serviço tem de gerar benefícios ao consumidor. O valor de um bem ou
serviço não está diretamente ligado ao esforço necessário para produzi-lo.

Um homem pode gastar centenas de horas fazendo sorvetes de lama ou cavando buracos, mas
se ninguém atribuir qualquer serventia a estes sorvetes de lama ou a estes buracos -- e,
portanto, não os valorizar o suficiente para pagar alguma coisa por eles --, tais produtos não
terão nenhum valor, não obstante as centenas de horas gastas em sua fabricação.

9. O lucro é o bônus do empreendedor bem-sucedido

No capitalismo de livre concorrência, o lucro econômico é o bônus extra que uma empresa
ganha por ter sabido alocar corretamente recursos escassos e ter sabido satisfazer as demandas
dos consumidores.

Em uma economia estacionária, na qual não ocorre nenhuma mudança, não haveria nem lucros
nem prejuízos, e todas as empresas teriam a mesma taxa de retorno. Já em uma economia
dinâmica e crescente, ocorrem mudanças diariamente nos desejos dos consumidores. E aqueles
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mais capazes de antecipar essas mudanças nos desejos dos consumidores e que souberem
como direcionar recursos escassos -- mão-de-obra, matéria-prima e bens de capital -- para
satisfazer esses consumidores irão colher os lucros econômicos.

Empreendedores capazes de antecipar as demandas futuras dos consumidores irão auferir as


maiores taxas de lucro e irão crescer. Empreendedores que não tiverem essa capacidade de
antecipar os desejos dos consumidores irão encolher até finalmente serem expulsos do
mercado.

10. Todas as verdadeiras leis econômicas são puramente lógicas

As leis econômicas são aprioristas, o que significa que elas não precisam ser
previamente verificadas e nem podem ser empiricamente falsificadas.

Ninguém pode falsificar tais leis empiricamente porque elas são verdadeiras em si mesmas.
Como tal, as leis fundamentais da economia não requerem verificação empírica. Referências a
fatos empíricos servem meramente como exemplos ilustrativos; elas não representam uma
declaração de princípios. (Veja exemplos práticos aqui.)

É possível ignorar e violar as leis fundamentais da economia, mas não é possível alterá-las. 
Sociedades que entenderem e respeitarem essas 10 leis econômicas -- sem tentar revogá-las --
irão prosperar.

Sobre o autor

Antony Mueller
É doutor pela Universidade de Erlangen-Nuremberg, Alemanha e, desde 2008, professor de
economia na Universidade Federal de Sergipe.

Comentários (173)

Flavio Trentin 22/12/2016

Ola, boa tarde

https://mises.org.br/article/2592/as-dez-leis-fundamentais-da-economia 5/10
12/03/2023, 00:19 As dez leis fundamentais da economia - Mises Brasil

Quero dar meus parabéns a este artigo, gosto muito das publicações pois me ajuda muito nos
meus estudos e para poder ensinar outras pessoas.

Sobre o Item 5 gostaria de saber um pouco mais, como a produtividade determina o salario, e
nesse mesmo item, sobre a concorrência vai equiparar os salários.

Obrigado

Acr%C3%83%C2%A9scimo 22/12/2016

Clique nos hyperlinks, pois eles o levarão a artigos específicos que explicam e
aprofundam essas idéias.

Eis as sugestões:

www.mises.org.br/Article.aspx?id=2498

www.mises.org.br/Article.aspx?id=2535

www.mises.org.br/Article.aspx?id=1457

www.mises.org.br/Article.aspx?id=1241

Responder

Acréscimo 22/12/2016

11. Gastos do governo não aumentam a riqueza da sociedade

Os gastos do governo não possuem o poder milagroso de criar riqueza para todos. Afinal, de
onde vem o dinheiro?

https://mises.org.br/article/2592/as-dez-leis-fundamentais-da-economia 6/10
12/03/2023, 00:19 As dez leis fundamentais da economia - Mises Brasil

Mais dinheiro nas mãos do governo significa menos dinheiro nas mãos das pessoas que tiveram
esse dinheiro confiscado pelo governo. Quanto mais o governo gasta, mais dinheiro ele toma
das pessoas.

Quando o governo gasta, sempre há os que ganham (os recebedores finais do dinheiro) e
sempre há os que perdem (aqueles de quem o governo tirou esse dinheiro). Impossível todos
ganharem.

Quem afirma que gastos do governo geram crescimento econômico está afirmando que tomar
dinheiro de uns para gastar com outros pode enriquecer a todos. Está afirmando que tirar água
da parte funda da piscina e jogá-la na parte rasa fará o nível geral de água na piscina aumentar.

12. Déficits do governo não impulsionam a economia

O dinheiro que o governo pega emprestado para bancar seus gastos é o mesmo dinheiro que
poderia ter sido direcionado para empreendimentos produtivos. Consequentemente, vários
investimentos não puderam ser concretizados por não serem financeiramente viáveis em
decorrência dos juros maiores causados pelo déficit do governo.

Impossível mensurar os custos econômicos das empresas que deixaram de ser abertas, dos
empregos que deixaram de ser gerados e das tecnologias que deixaram de ser criadas
simplesmente porque os investimentos não foram possíveis por causa da absorção de recursos
pelo governo.

4lex5andro 09/05/2017

Tópico basilar sobre o que é liberalismo. Favoritado.

Responder

Dam Herzog 22/12/2016

https://mises.org.br/article/2592/as-dez-leis-fundamentais-da-economia 7/10
12/03/2023, 00:19 As dez leis fundamentais da economia - Mises Brasil

13 A propriedade privada deve ser respeitada para que exista o calculo ecomomico?

14 Deve existir um ambiente propício para que a economia desenvolva e este ambiente se chama
mercado livre e desimpedido?

15 As trocas devem ser voluntarias? Ou tudo isto esta implicito nas dez leis?

Ludwig 22/12/2016

13) Sim. É impossível haver cálculo econômico -- formação de preços e cálculo de


lucros e prejuízos -- se os meios de produção não forem propriedade privada.

Se os meios de produção (fábricas, máquinas e ferramentas) não possuem


proprietários definidos (eles pertencem ao estado), então não há um genuíno mercado
entre eles. Se não há um mercado entre eles, é impossível haver a formação de preços.
Se não há formação de preços, não há cálculo de lucros e prejuízos e,
consequentemente, não há como direcionar o uso de bens de capital para atender às
mais urgentes demandas dos consumidores da maneira menos dispendiosa possível.

Sem preços livres, e sem poder fazer cálculo de custos, é impossível haver qualquer
racionalidade econômica, o que significa que uma economia planejada é,
paradoxalmente, impossível de ser planejada.

14) Sim. Mas não só.


O que gera riqueza é divisão do trabalho, poupança, acumulação de capital,
capacidade intelectual da população (se a população for burra, a mão-de-obra terá de
ser importada), respeito à propriedade privada, baixa tributação, segurança
institucional, desregulamentação econômica, facilidade de empreender, moeda forte,
ausência de inflação, empreendedorismo da população, leis confiáveis e estáveis,
arcabouço jurídico sensato e independente etc.

15) Está nas leis 2, 4 e 10. (Principalmente na 10).

Sempre que duas pessoas, A e B, se envolvem em uma troca voluntária, ambas


esperam se beneficiar desta troca. E elas devem ter ordens de preferência inversas
para os bens e serviços trocados, de modo que A valoriza mais aquilo que ele recebe
de B do que aquilo ele dá para B, e B avalia as mesmas coisas do modo contrário.

Sempre que uma troca não é voluntária e ocorre em decorrência de uma coerção, uma
parte se beneficia à custa da outra.

https://mises.org.br/article/2592/as-dez-leis-fundamentais-da-economia 8/10
12/03/2023, 00:19 As dez leis fundamentais da economia - Mises Brasil

É uma lei apriorística, a qual não tem como ser refutada e não necessita de um
exemplo empírico para comprová-la.

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