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8. Gasto Público
Considere novamente, o caso mais simples para uma economia fechada, com
investimentos exógenos e função consumo tradicional. Seja C=consumo, Y=renda,
T=valor arrecadado com impostos; I*=investimento exógeno e G=gasto público:
(1) 𝑌 = 𝐶 + 𝐼 ∗ + 𝐺
(2) 𝐶 = 𝑎 + 𝛽(𝑌 − 𝑇) = 𝑎 + 𝛽𝑌 − 𝛽𝑇, 𝑜𝑛𝑑𝑒 0 < 𝛽 < 1
Substituindo (2) em (1)
(3) 𝑌 = 𝑎 + 𝛽𝑌 − 𝛽𝑇 + 𝐼 ∗ + 𝐺
Como a tributação é uma alíquota (t) sobre o produto, ou seja, T=tY. Então:
(4) 𝑌 = 𝑎 + 𝛽𝑌 − 𝛽𝑡𝑌 + 𝐼 ∗ + 𝐺 = (1 − 𝛽 − 𝛽𝑡)𝑌 = 𝑎 + 𝐼 ∗ + 𝐺 , ou
(5) (1 − 𝛽(1 − 𝑡))𝑌 = 𝑎 + 𝐼 ∗ + 𝐺
∗
(6) 𝑌 = ( ( ))
+( ( ))
+( ( ))
(7) =( ( ))
>0
Como tanto a PMgC (0 < 𝛽 < 1) e a alíquota t (0 < 𝑡 < 1) são maiores do que
zero e menores do que um, um aumento de uma unidade nos gastos públicos aumenta em
mais de uma unidade a renda. O valor em (7) é um multiplicador fiscal para uma
economia simples fechada e com governo. Vale ressaltar que esse é o multiplicador fiscal
do modelo IS simples. Quando adicionamos, os demais setores, como economia externa,
por exemplo, essa fórmula se altera. Quando inserimos o mercado monetário, a curva LM,
um aumento dos gastos, aumenta o produto, que aumenta a demanda de moeda para
compras, elevando a taxa de juros. Essa elevação na taxa de juros reduz os investimentos
privados, reduzindo o produto (efeito crowding out). Ou seja, o efeito dos gastos públicos
no produto depende da repercussão dos efeitos econômicos nos demais setores da
economia.
Os economistas que seguem uma linha mais neoclássica (ou do lado da oferta),
chamam a atenção para o fato de que a oferta de bens pelo setor público, que poderiam
ser ofertados pela iniciativa privada, geralmente são realizados a um custo maior, e,
portanto, de forma ineficiente.
Economia do Setor Público – Roberto Tatiwa Ferrreira
De acordo com Barro (1974), os gastos públicos podem não ter efeito no longo
prazo sobre o crescimento. Esses gastos são financiados via tributação extra ou déficits
que serão pagos no futuro com tributação extra futura. Então os agentes face a um
aumento no gasto tenderiam a poupar mais, consumindo menos ou para pagar tributos
extras no presente, ou ajudar a sua geração futura a pagar tributos extras no futuro,
tornando o aumento do gasto público sem efeito no crescimento no curto e no longo prazo.
Essa hipótese entre déficits, poupança e impostos é denominada de Equivalência
Ricardiana.
Entretanto, há vários estudos mostrando que há efeitos dos multiplicadores fiscais
na economia e que eles podem ser menores quando a economia vai bem e maiores quando
a economia está passando por uma crise. Esses resultados são obtidos com modelos que
consideram mais setores da economia, inclusive o da dívida pública. Os efeitos do
aumento da dívida e do déficit público serão estudados mais adiante.
Uma hipótese mais aceita é a de que os gastos públicos podem ser divididos em
complementares e rivais. Os gastos rivais são aqueles que competem com os
investimentos da iniciativa privada. Podem reduzir a oferta de bens e serviços privados
ao aumentarem a oferta pelo setor público. Ademais, por serem produzidos de forma
menos eficiente e serem financiados com recursos que saem da iniciativa privada, teriam
um efeito negativo no crescimento econômico (exemplos: oferta de bens privados pelo
setor público, gastos com administração pública). Por outro lado, existe atividades nas
quais o setor público pode complementar o privado. Esses gastos complementares estão
ligados usualmente com a oferta de infraestrutura urbana e de negócios (portos,
aeroportos, pesquisa e desenvolvimento, etc), que reduzem custos, aumentam a
produtividade e diminuem incertezas. Trabalhos empíricos que mostram que gastos rivais
e complementares possuem correlação negativa e positiva, respectivamente, com o
crescimento econômico.
Seja qual a sua relação de cauda e efeito com o crescimento econômico, há uma
tendência observada nos gastos de um grande conjunto dos países a crescer de uma forma
mais acelerada, em termos proporcionais que a renda e que o crescimento econômico.
Essa observação foi feita a primeira vez por Adolf Wagner (1958) e ficou conhecida como
lei de Wagner. De acordo com Wagner o processo de industrialização e crescimento da
economia gera necessidade de maiores gastos com administração, judiciário e com gastos
de bem estar. A própria renda do eleitor mediano mais elevada pode gerar preocupações
Economia do Setor Público – Roberto Tatiwa Ferrreira
com o futuro e desejar um estado com maiores gastos nas áreas sociais (saúde, educação
e previdência).
Há autores que usam a teoria do eleitor mediano para explicar o crescimento dos
gastos públicos. De acordo com essa teoria o candidato eleito é aquele com proposta de
governo mais próxima do eleitor mediano. Para atender os anseios dessa classe, os
governantes aumentam gastos públicos.
Uma outra hipótese levantada por Peacok e Wiseman (1961) é a de que em
períodos conturbados, como os de guerra, há uma maior tolerância dos indivíduos a
pagarem mais impostos para financiar maiores gastos públicos com defesa nacional. Após
o período conturbado esses aumentos podem não diminuir, ou não diminuírem aos níveis
antes do período conturbado.
Outra vertente usa o conceito de ilusão fiscal para explicar a expansão dos gastos
públicos. A ideia principal desse conceito é que quando os contribuintes não percebem
quanto são tributados, seja pela elevada participação de impostos indiretos, ou pela
complexidade do sistema tributário, maior pode ser a arrecadação e o gasto público. Essa
problemática é antiga e um dos primeiros a chamar atenção foi Jonh Stuart Mill (1848).
Uma hipótese também ligada a ilusão fiscal é o efeito fly paper (Gramlich e Rubinfeld,
1979). A ideia original era a de que transferências de receitas para um governo local
fariam com que os gastos públicos aumentassem de forma mais do que proporcional ao
aumento da renda dessa localidade. Uma explicação é que o contribuinte local não
percebe seu ônus tributário nas receitas recebidas via transferência, fazendo com que o
mesmo exija ou aceite um maior nível de gasto público.
Uma outra questão importante e correlata com a explicação da expansão dos
gastos públicos é a teoria dos ciclos políticos. O modelo de Nordhaus (1975) tem as
seguintes premissas sobre o comportamento de governantes e eleitores: o principal
objetivo dos partidos no governo é manter-se no poder e, em virtude disso, intervêm na
economia (aumentando gastos, ou transferindo recursos para sua base de apoio, por
exemplo) a fim de maximizar os votos na próxima eleição; os resultados eleitorais
dependem de forma significativa dos resultados econômicos.
Entretanto, vários autores, inclusive FIRJAN (2015) salientam que 83% dos
municípios brasileiros não arrecadam nem 20% das suas receitas e são altamente
dependentes financeiramente das transferências.
A próxima Tabela mostra a evolução dos entes federativos na receita tributária.
evidências que apontam para possíveis “folgas” nos gastos e que existe a possibilidade de
vários gastos públicos serem reduzidos sem diminuir a qualidade e a abrangência dos
mesmos. Além disso pode existir uma pequena redução do produto ou até mesmo o
crescimento do mesmo se a sociedade entender que o governo está combatendo o déficit
e a dívida e diminuindo a necessidade de recursos e novos tributos para pagar a mesma
no futuro. Por essas e outras razões trabalhos como o de Alesina e Perotti (1997), por
exemplo, quantificam em uma amostra com vários países que quando um ajuste fiscal foi
necessário é melhor que: a) seja feito através de redução de gastos ao invés de aumento
de tributo; b) é melhor cortar gastos correntes e transferências do que investimento
público.
Esses gráficos revelam que o Brasil apresenta nível de despesa em relação ao PIB
acima de economias emergentes e próximas de algumas economias desenvolvidas. Vale
ressaltar que isso não é desejável. Os países mais desenvolvidos têm maior renda per
capita maior arrecadação em relação ao PIB. Ademais, a estrutura etária e da
infraestrutura urbana e até mesmo rural é bastante diferente do das economias menos
desenvolvidas. Em outras palavras, o Brasil já apresenta um nível de gastos que
economias que possuem melhor infraestrutura, população com maior nível de educação
e maior expectativa de vida. Quanto será que o Brasil terá que gastar para atingir e manter
essas marcas?
O próximo gráfico nos dá uma ideia sobre a composição do gasto em relação ao
PIB por função. Percebe-se que os gastos com administração são maiores do que com
segurança pública e próximos aos com infraestrutura.
Fonte: STN
Fonte: STN
Fonte: STN