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Resenha

REFERÊNCIA: ​FROYEN, R. T. O Sistema Keynesiano (I): O Papel da Demanda Agregada.


Macroeconomia​. Tradução de Esther E. H. Herskovitz e Cecília C. Bartalotti. 5º edição. São
Paulo: Saraiva, 2002. p. 88 - 122.

Resenhado por: ​Rebecka Camondá Pereira - 2018.1.24.109

O capítulo “ O Sistema Keynesiano (I): O Papel da Demanda Agregada” do livro de


Macroeconomia de Froyen tem como objetivo analisar o papel da demanda agregada pela
visão do sistema Keynesiano. Este apresenta o problema do desemprego, as condições para
que o produto esteja em equilíbrio, os componentes da demanda agregada, o que determina a
renda de equilíbrio e o que causa suas mudanças, a política fiscal de estabilização e por fim o
efeito das exportações e importações neste modelo.
O modelo Keynesiano surgiu durante a crise da Depressão mundial na década de
1930, quando a taxa de desemprego chegou a ser de 25,2% nos Estados Unidos em 1933, o
produto nacional bruto (PNB) real caiu 30% entre 1929 e 1933 e só voltou ao nível anterior
após 1939. O modelo se tornou a solução para o atual cenário, visto que sistema clássico não
conseguiu solucionar ou diminuir o problema; isso acontece pois este tem o foco no lado na
oferta, pregando que o produto e o emprego eram determinados exclusivamente pela oferta,
sendo assim toda à atenção deveria ser à este lado do mercado, pois a demanda se ajustaria às
mudanças daquela. Contra-argumentando este sistema, Keynes explica que as políticas
econômicas deviam ter o foco em incentivar à demanda agregada por meio de políticas
monetárias e fiscais, regulando assim o nível da demanda agregada. Uma das ações
defendidas por ele é o aumento dos gastos públicos, os quais “estimulariam o produto e o
emprego, direta e indiretamente, porque aumentaria a renda e, por conseguinte, os dispêndios
dos consumidores empregados em obras públicas, gerando ainda mais emprego.”.
Um fundamento do modelo keynesiano é à condição de equilíbrio, e para isto é
necessário que o produto total (Y) seja igual a demanda agregada (DA). A fim de
simplificações é analisada uma economia fechada, ou seja, o comércio exterior é
desconsiderado, além disto se retira também à depreciação e se considera que o produto total
(PNB) e a renda nacional são iguais; portanto podemos dizer que a ​demanda agregada é
composta pelo consumo das famílias (C), a demanda por investimento desejados pelas firmas
(I) e demanda de bens e serviços por parte do governo (G). Já o produto nacional que devido
a identidade contábil pode ser correspondido como à ​renda nacional​, a qual é consumida (C),
poupada (S) ou paga em tributação (T). E por fim podemos dizer que o ​produto nacional pode
ser entendido como o consumo (C), o investimento realizado (I​r​) e os gastos com governo (G).
Desta forma temos as seguintes equações:

Y = DA = C + I + G (demanda agregada) (1)


Y ≡ C + S + T (renda nacional) (2)
Y ≡ C + Ir + G (produto nacional) (3)

A partir dessa equações podemos expressar às equilíbrio no modelo de três formas:

Y = C + I + G (4)
S + T = I +G (5)
Ir = I (6)

Baseado nestes conceitos e equações podemos formular e entender o fluxo circular da


renda e do produto, este possui quatro agentes: famílias, firmas, o mercado financeiro e o
governo. No ​fluxo do produto temos à seguinte circulação: às famílias oferecem a firma seus
serviços de fatores de produção (trabalho), já às firmas oferecem posteriormente às famílias
os seus produtos e serviços (mercadoria). Já no ​fluxo da renda temos que às firmas
remuneram seus trabalhadores com salários (renda nacional), com este salário parte dele
retorna às firmas em forma de consumo (C) (compra dos produtos), outra parte dele é paga ao
governo em forma de tributação (T) e a última parte é destinada ao mercado financeiro em
forma de poupança (S); os tributos recolhidos pelo governo voltam as firmas através dos
gastos públicos (G) e a poupança guardada retorna as firmas por meio de investimentos (I).
O que é produzido pelas firmas gera uma renda equivalente para as famílias, a qual
retorna a indústria de forma direta pelo consumo e de forma indireta pelos gastos do governo
e pelo investimentos do mercado financeiro, sendo assim : Y = C + I + G, como mostra a
equação 4.​ Como todo o salário do trabalhador não é redirecionado para o consumo, diz-se
que há vazamentos no fluxo da renda (S + T), estes vazamentos só são compensados se o
valor adicionado pelos investimentos e pelos gastos do governo (I + G) for exatamente igual
a esses, ou seja, S + T = I + G, assim como a ​equação 5.​ Além dessa constatações pode-se
analisar também a ​equação 6,​ I​r = I, que diz que os investimentos realizados devem ser iguais
ao investimento planejado. Para entender essa ideia é importante primeiro entender à
diferença desses investimentos, o investimento planejado é o quanto a firma planeja vender o
que na maioria das vezes quer dizer toda a produção, sendo assim estoque zero; já o
investimento realizado é o que aconteceu na realidade, ou seja ele considera o estoque o qual
pode existir ou não. A partir desses conceitos temos três cenários, são eles:
i) I r < I , a demanda excede a produção, sendo assim há uma escassez de produto não
planejada. Essa situação fará com que a produção tenda a aumentar, pois às firmas tentaram
suprir essa falta, evitando a queda dos estoques.
ii) I r = I , neste caso o nível de produção está em equilíbrio, após todos as vendas os
investimentos em estoque estão no nível desejado pela firma. Neste caso não existe nenhuma
tendência de mudança no produto.
iii) I r > I , a demanda é menor do que à produção, portanto há um acúmulo não
planejado de estoque. Tal cenário fará com que à produção caia, pois às firmas já possuem
produtos estocados, por isso venderam estes primeiro antes de produzir mais produtos.
Para encontrarmos o nível de renda que traz o equilíbrio no modelo keynesiano, é
preciso entender quais são os componentes da demanda agregada e como eles a afetam, são
eles: consumo, investimento e os gastos do governo.
Keynes acreditava que o um dos fatores que mais influenciavam no ​consumo era a
renda, para ele o indivíduo consumia de acordo com a renda disponível (Y​D​) que possuía, a
qual é encontrada ao se retirar a tributação da renda (Y), equação 7. A partir disso ele propôs
à função consumo, equação 8, à qual é dividida em dois consumos: o primeiro é o consumo
autônomo (​a​), este representa o básico do que um indivíduo precisa consumir para sobreviver,
sendo assim ele existe com ou sem renda; o segundo consumo é o consumo que se faz a
baseado na renda do indivíduo, ele possui um parâmetro ​b que indica que quanto maior a
renda maior a tendência a se consumir, tal parâmetro também é conhecido como propensão
marginal a consumir (PMgC).

YD = Y − T (7)
ΔC
C = a + bY D , a > 0 b = ΔY D 0< b< 1 (8)

Retornando ao conceito de renda já discutido, sabemos que a renda (salário) do


trabalhador é dividido entre consumo, poupança e a tributação, equação 2, se analisar a sua
renda disponível temos que ela é dividida somente entre consumo e poupança, equação 9. Se
trocarmos o consumo por sua função e isolarmos a poupança temos à relação
renda-poupança, equação 10. Com essa análise é possível notar que quando a renda disponível
é igual à zero, à poupança assume o valor negativo do consumo autônomo; além disso pode se
ver que o aumento da renda disponível corresponde a um aumento na poupança, o que é
chamado de propensão marginal a poupar (PMgS).
YD = C + S (9)
S = − a + (1 − b) Y D (10)

Ao explicar o ​investimento Keynes afirma que este é um das principais causas das
variações na renda, para ele estes era eram um elemento independente que mais oscilava
dentro da demanda agregada isso ocorria devido a duas variáveis de curto prazo que o
influenciava, são elas: a taxa de juros e as expectativas das firmas. A taxa de juros se
relaciona inversamente com o nível de investimentos, isso ocorre pois se às taxas de juros
estão altas para o empresário não é favorável a contração de um empréstimo para se investir,
todavia se aqueles caem a tendência é que o número de empréstimos/ investimentos aumente.
Já a expectativa da firma está relacionado ao contexto em que a firma se encontra, se por
acaso a expectativa é boa, como por exemplo acredita-se que se terá uma alta demanda,
provavelmente se terá investimento; mas, se o expectativa é ruim, como um cenário de crise e
baixa demanda por exemplo é de se esperar que o investimento caia. Como esses fatores
variam muito ao longo do tempo e não se tem um conhecimento conciso sobre eles, a
demanda por investimentos se mostra instável, alterando assim a renda.
E por fim os ​gastos do governo​, também considerados um elemento independente, são
dirigidos pelos formuladores de política econômica e por isso não dependiam de forma direta
da rendo. Entretanto, se a arrecadação tributária líquida (T) fosse um fixa de acordo com a
renda, aí sim os gastos do governo variariam de acordo com a renda, mas tal análise é feita
mais detalhadamente em outro capítulo do livro.
Para encontrar a renda de equilíbrio é preciso partir da equação 1, sabemos que a
renda de equilíbrio é uma variável dependente, demais o investimento e os gastos do governo
são variáveis independentes e têm seus valores apresentados, mas o consumo assim como à
renda de equilíbrio também é uma variável dependente, este por sua vez depende da função
consumo, equação 8. Ao substituirmos à função consumo na função renda e isolarmos o Y,
encontramos o nível de equilíbrio da renda, equação 11.
1
Y = 1−b
(a − bT + I + G) (11)

Essa expressão pode ser reescrita de forma que fica mais claro o processo de
determinação da renda, evidenciando melhor a visão keynesiana ficando da seguinte forma:
Y = (multiplicador dos dispêndios autônomos ) x (dispêndios autônomos) (12)
No termo multiplicador dos dispêndios autônomos, temos o ​b que é à propensão
marginal a consumir (PMgC), o qual está contido entre zero e um; este termo é assim
chamado, pois “cada unidade monetária de dispêndios autônomos é multiplicada por esse
fatos para obter sua contribuição para a renda de equilíbrio.”, em outras palavras indica o
quanto a economia vai se multiplicar de acordo com o aumento da demanda. No segundo
termo da expressão, dispêndios autônomos, já analisamos o I e o G, já os termos ​a e​ ​-bT são
os responsáveis por medir o dispêndio autônomo (​a)​ e o efeito autônomo das cobranças de
imposto sobre a demanda (​- bT​), eles afetam o nível de consumo de acordo com o nível de
renda em vez de serem determinados por ela por isso são considerados fatores autônomos.
Retornando a análise sobre o I e o G pode-se dizer que se não houver políticas do governo
para a estabilização da economia a renda varia muito devido o fator investimento, por isso
Keynes defende a intervenção do governo da economia, para que haja uma estabilização da
renda.
Caso se queira fazer uma análise sobre o impacto dessas variáveis e quais as mudanças
que causam na renda de equilíbrio é preciso manter às demais constantes. Ao se analisar
primeiro o investimento temos o ​multiplicador do investimento​, equação 13, ele possui uma
relação direta com à renda e mostra se aumentarmos uma unidade no investimento o quanto
isso irá variar na renda.
ΔY 1 1 1
ΔI
= 1−b
= 1− P M gC
= P M gS
(13)

Analisando o impacto dos gastos do governo sobre a renda temos o ​multiplicador de


gastos,​ equação 14, ele também possui uma relação direta com a renda e nos diz, se
aumentarmos uma unidade nos gastos do governo o quanto isso irá variar na renda. Ao
contrário dos dois outros fatores, à tributação tem um impacto inverso sobre a renda, isso
ocorre pois se há um aumento nos tributos à renda disponível para os cidadãos é menor, sendo
assim o ​multiplicador dos tributos​ tem a seguinte forma, equação 15.
ΔY 1
ΔG
= 1−b
(14)

ΔY −b
ΔT
= 1−b
(15)

O anexo do capítulo se refere a uma economia aberta, ou seja, leva em conta às


exportações (X) e importações (Z), sendo assim o produto de equilíbrio fica como ilustrado na
equação 16. Considerando que as importações são somente de bens de consumo, podemos
dizer que ela possui um comportamento, formato muito parecido com o consumo das famílias,
ou seja, possui um componente autônomo (u) e um que depende da renda (​v​) que seria a
propensão marginal a importar, equação 17. Ao se tratar das exportações elas estão ligadas às
tendências de importação estrangeira, ou seja, depende dos outros países e se suas rendas,
desta forma a equação de exportação é muito parecida com a importação. Fazendo uma
análise em que os níveis de preço e à taxa de câmbio são fixos, ao substituirmos as
exportações e importações na equação de produto de equilíbrio temos o que é demonstrado na
equação 18.
Y = DA = C + I + G + X − Z (16)
Z = u + vY u >0 0<v <1 (17)
1
Y = 1−b+v
(a + I + G + X − u) (18)

Observando a equação 18 pode-se dizer que quanto mais aberta for a economia, maior
será o ​v,​ portanto menor será o multiplicador dos dispêndios autônomos, sendo assim menor
será a resposta da renda aos choques da demanda agregada. Olhando tal equação é possível
extrair os multiplicadores de exportação e de ​u,​ o ​multiplicador de exportação,​ equação 19,
assim como o de gastos do governo e o de investimos tem relação direta com a renda de
equilíbrio. Já o ​multiplicador de u (importações)​, equação 20, tem uma relação inversa com a
renda de equilíbrio.
ΔY 1
ΔX
= 1−b + v
(19)
ΔY 1
Δu
= 1−b + v
(20)

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