O documento discute como as contas nacionais foram influenciadas pela teoria macroeconômica de Keynes e como elas refletem as relações sistêmicas derivadas dessa teoria, incluindo a ênfase na demanda agregada e no papel do governo em estimular a economia.
O documento discute como as contas nacionais foram influenciadas pela teoria macroeconômica de Keynes e como elas refletem as relações sistêmicas derivadas dessa teoria, incluindo a ênfase na demanda agregada e no papel do governo em estimular a economia.
O documento discute como as contas nacionais foram influenciadas pela teoria macroeconômica de Keynes e como elas refletem as relações sistêmicas derivadas dessa teoria, incluindo a ênfase na demanda agregada e no papel do governo em estimular a economia.
Macroeconomia: revisitando Keynes (item 2.6 do programa)
Profª. Leda Paulani
2.6 Contabilidade Nacional e Macroeconomia: revisitando Keynes • Foi a partir da teoria macroeconômica, que nasceu com a publicação da Teoria Geral de Keynes em 1936, que foram envidados os esforços para a criação de um sistema a partir do qual se pudesse observar a evolução dos agregados econômicos. Assim, foi da macroeconomia que se chegou às contas nacionais. • Vamos mostrar de que maneira as contas nacionais denunciam as relações sistêmicas (derivadas da teoria keynesiana) que lhes deram origem. • Para se contrapor à teoria (neo)clássica então dominante, que era incapaz de explicar um nível de desemprego tal como o que se passou a ver a partir de 1929 na Europa, Keynes não apenas questionou relações de causa e efeito tomadas como líquidas e certas até então, mas: a) apontou relações distintas, b) forjou novos conceitos (como os de incerteza e preferência pela liquidez) c) revelou identidades • As identidades assim reveladas foram de fundamental importância para definir os princípios e embasar teoricamente o sistema de contas nacionais. 2.6 Contabilidade Nacional e Macroeconomia: revisitando Keynes Tomemos a conta de produção considerando uma economia fechada e sem governo.
Conta do Produto - economia H – ano X
Débito Crédito a1. salários C. consumo pessoal a2. lucros D. variação de estoques a3. aluguéis E. formação bruta de capital fixo a4. juros A. renda ou produto nacional líquido (A = a1 + a2 + a3 + a4) B. Depreciação (B = b1 + b2 + b3 + b4) Renda ou Produto Bruto Dispêndio Bruto 2.6 Contabilidade Nacional e Macroeconomia: revisitando Keynes
• A identidade macroeconômica básica está representada nessa
conta, assim como as três óticas de mensuração do produto. • O lado esquerdo da conta (lado do débito) nos mostra que, nessa economia H, ainda fechada e sem governo, a renda bruta gerada no ano X (ou seja, o somatório dos rendimentos pagos a fatores de produção) é resultado do valor adicionado bruto ou produto bruto produzido por essa economia nesse ano. • O lado direito da conta (lado do crédito), traz a despesa bruta, ou dispêndio bruto. Se considerarmos que a formação bruta de capital fixo (FBKF), somada à variação de estoques (ΔE), constitui o investimento bruto (I) ocorrido nessa economia no referido ano, teremos então que o dispêndio bruto mostra-se igual à somatória das despesas de consumo (C) com as despesas de investimento (I). 2.6 Contabilidade Nacional e Macroeconomia: revisitando Keynes • O equilíbrio interno da conta, por sua vez, vai garantir que o produto/renda bruto é igual ao dispêndio bruto. Se chamarmos o primeiro termo de Y, podemos escrever: (1) Y ≡ C + I
Isto posto, veremos, a partir de agora, porque a Ótica do Dispêndio é
também chamada de Ótica da Demanda. • Segundo Keynes, existe uma relação de causa e efeito entre a Despesa e o Produto, ou seja, o produto será tanto maior quanto maior for a demanda da economia por bens e serviços. • O tamanho que Y alcança em cada período é uma função do comportamento da Demanda Agregada, ou seja, do comportamento da demanda total por bens de consumo (C) e da demanda total (ou bruta) por bens de investimento (I). 2.6 Contabilidade Nacional e Macroeconomia: revisitando Keynes • Assim, para entender por que uma economia, num determinado período, alcança, por exemplo, um valor de Y inferior ao que seria possível, deixando ociosos meios de produção e força de trabalho, é preciso entender o comportamento de C e o comportamento de I, ou seja, quais são os seus determinantes. • Segundo Keynes, o principal fator a determinar o comportamento de C é justamente a renda, ou seja, Y. Podemos escrever então: (2) C = f (Y) • Keynes afirma também que a relação que existe entre Y e C é direta, ou seja, quanto maior Y, maior C. 2.6 Contabilidade Nacional e Macroeconomia: revisitando Keynes • Mas ele observa que, dado um aumento na renda, o aumento no consumo é menos que proporcional àquele, e denomina essa relação de lei psicológica do consumo. Isto acontece porque a propensão marginal a consumir (c) é menor do que 1. • Existe também uma pequena parcela do consumo que não depende da renda, o consumo autônomo (Ca). Com isso podemos reescrever (1) da seguinte forma: (3) Y = Ca + cY + I, sendo 0<c<1. • Quanto ao Investimento, Keynes constatou que ele depende de variáveis extremamente sujeitas a flutuações devido às sempre presentes incertezas em relação ao futuro. Essas variáveis são a taxa de juros (r) e a eficiência marginal do capital (EMgK). Então (4) I= f(r, EMgK) 2.6 Contabilidade Nacional e Macroeconomia: revisitando Keynes • Tomando a equação (3) temos: Y(1-c) = Ca + I e (5) Y = 1/(1-c) (Ca + I) • O termo 1/(1-c) é conhecido como multiplicador keynesiano ou multiplicador de gastos.
= 1/(1 – c)
• O multiplicador () indica a magnitude do
aumento da renda em decorrência, por exemplo, de um aumento de I. 2.6 Contabilidade Nacional e Macroeconomia: revisitando Keynes • Suponhamos para a economia H um c = 0,9. Nesse caso teremos: • = 1/1-0,9, portanto = 10. • Isto significa que, na economia H, se ocorrer, por exemplo, um aumento autônomo do I da ordem de $1 mihão, o impacto desse aumento sobre o nível de renda será de $10 milhões. Evidentemente o efeito multiplicador dos gastos será tanto maior quanto maior for a propensão marginal a consumidor. Se c = a 0,8, por exemplo, = 5. • Como compreender intuitivamente o significado de ? • Keynes afirmou que o multiplicador significa apenas que a quantidade de bens de consumo que compensa aos empresários produzir depende da quantidade de bens de investimento que eles decidam produzir. 2.6 Contabilidade Nacional e Macroeconomia: revisitando Keynes • Supondo que a variável Ca tende a ser estável, o que acontece com Y depende diretamente daquilo que acontece com I, que é, como vimos, uma variável sujeita a imensas oscilações. • Assim, nos momentos em que I não cresce, ou cresce negativamente, isto provoca um efeito depressivo sobre o nível de renda e produto, que é magnificado pelo efeito multiplicador. • Assim, mesmo dispondo de fatores de produção para operar num nível mais elevado, a economia permanece operando num nível insuficiente para empregar toda a força de trabalho e toda a capacidade instalada. • Mas nenhum elemento desse raciocínio altera a identidade entre produto e renda. O que ele permite é identificar os determinantes do nível de produto e renda no qual opera a economia. Retomemos a conta do produto. 2.6 Contabilidade Nacional e Macroeconomia: revisitando Keynes Conta do Produto (ou Conta PIB) débito crédito salários consumo pessoal (C)
aluguéis consumo do governo (G)
juros variação de estoques (i1)
lucros form. Bruta capital fixo (i2) i 1 + i2 = I
(5) PIB = Y = C + I + G + (X-M) outras receitas correntes exportações de bens e serviços (X) líquidas do governo não fatores depreciação importações de bens e serviços não fatores (- M)
impostos indiretos líquidos
de subsídios renda enviada ao exterior menos rendarecebida do exterior
Dispêndio (Demanda) associado ao
Produto Bruto (PIB) Produto Bruto 2.6 Contabilidade Nacional e Macroeconomia: revisitando Keynes • A expressão 5, que é a expressão 1 ampliada, permite que percebamos que o nível de produto e renda em que opera a economia não depende só do Investimento (I), mas também dos gastos do governo (G) e das exportações líquidas (X-M). • Valem para essas variáveis as mesmas relações antes estabelecidas para I. Assim um efeito multiplicador vai também atuar sobre possíveis aumentos seja nos gastos do governo, seja nas exportações líquidas. • Assim um aumento nos gastos do governo ou nas exportações eleva o nível de produto, enquanto que um aumento nas importações produz o efeito contrário. • A expressão 5 mostra-nos ainda a importância que foi atribuída ao governo por conta das considerações de Keynes quanto aos determinantes do nível de renda. 2.6 Contabilidade Nacional e Macroeconomia: revisitando Keynes • Se um aumento no nível de renda pode provir de uma elevação em G, então cabe ao governo um importante papel. • Nos momentos em que o investimento insista em se manter deprimido e em que os estímulos vindos de fora não sejam suficientes para evitar o desemprego, só o governo tem condição de retirar a economia de tal situação. • Aumentando seus gastos, ele promoverá uma elevação no nível de renda que poderá inclusive reverter as expectativas pessimistas quanto ao futuro e assim recuperar, em curto espaço de tempo, o próprio investimento. • A partir de Keynes o governo passou a ter também a responsabilidade por aquilo que se costumou denominar de controle da demanda efetiva. 2.6 Contabilidade Nacional e Macroeconomia: revisitando Keynes • Tais considerações, bem como o novo papel que ganha o governo a partir delas, deram origem, no mundo acadêmico, ao que se chamou consenso keynesiano. • Na economia real, o pensamento keynesiano influenciou muito o funcionamento prático do capitalismo até o início dos anos 1970. • A partir daí muita coisa mudou. • No mundo acadêmico, o consenso keynesiano foi rompido pelo advento da teoria das expectativas racionais, que deu nova vida aos pressupostos que Keynes atacara e recuperou a primazia da teoria ortodoxa (neoclássica). 2.6 Contabilidade Nacional e Macroeconomia: revisitando Keynes
• No mundo real, a combinação de inflação com desemprego
levou a uma onda de contestações quanto à pertinência do papel do Estado como regulador da demanda efetiva e pôs em destaque as políticas associadas àquilo que se costuma chamar neoliberalismo (estado mínimo, rígido controle dos gastos públicos, privatizações, desregulamentação e abertura econômica, entre outros). • O sistema de contas nacionais pouco ou nada foi abalado por essa reviravolta. • Isso comprova que as identidades que a teoria keynesiana revelou são aquilo que seu nome diz “identidades”, não sendo por si só indicadoras de relações de causalidade entre as variáveis que as constituem.