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Macroeconomia – Dra.

Patrícia Palermo

III.2) O Modelo Keynesiano Simples de Determinação da Renda a Curto Prazo

A Teoria Clássica não conseguia explicar o que estava ocorrendo durante a Grande Depressão. Ainda que
os salários nominais estivessem caindo, o desemprego chegou a 25% em 1933. O livre mercado não conseguia levar
a economia para o equilíbrio. Nesse contexto, ganharam destaque as ideias que apontavam na falta de demanda a
explicação do problema. A principal contribuição foi de John Maynard Keynes com “A teoria geral do emprego, do
juro e da moeda” (1936) em que ele desenvolveu o chamado do Princípio da Demanda Efetiva.

O que diz o Princípio da Demanda Efetiva?

O empresário toma sua decisão de quantos trabalhadores contratar e de quanto produzir baseado na sua
expectativa de vendas. Assim, diferentemente do que acontece no modelo clássico, o nível de emprego não é
definido pelo mercado de trabalho. O volume de emprego é determinado pelo equilíbrio entre oferta e demanda
agregada. Nesse caso, situações de desemprego podem ocorrer e de nada adianta a redução salarial para induzir
maiores contratações caso os empresários considerarem que não terão para quem vender a produção adicional.
Para definir o nível de produção o empresário confronta duas curvas virtuais:
• Oferta agregada: a renda necessária para o empresário oferecer determinado volume de emprego (reflete
as condições de custos marginais crescentes).
• Demanda agregada: a renda que o empresário espera receber por oferecer determinado volume de
emprego (reflete as expectativas dos empresários sobre o volume de consumo e de investimento).
A maximização do lucro faz com que o emprego aumente enquanto a renda esperada (demanda agregada)
superar a renda necessária (oferta agregada). A intersecção dessas duas curvas determina o nível de produção e,
assim, a demanda efetiva por emprego.
Dado o nível de emprego, determinado pela demanda efetiva, o salário real se ajustará para igualá-lo à
produtividade marginal do trabalho (PMgL). Como a produtividade marginal do trabalho é decrescente, expansões
do emprego são acompanhadas por quedas no salário real, sendo, portanto, anticíclico o comportamento dos salários
reais. Entretanto, não é sua queda que induz o crescimento do emprego e do produto, como supõem os clássicos,
(a causação é inversa).
Segundo Keynes, a disputa dos trabalhadores é por salários nominais, numa luta pela repartição dessa
massa salarial entre as diferentes categorias. Dessa forma, explica-se a inflexibilidade para baixo dos salários
nominais.
Os principais componentes da demanda são o consumo e o investimento. O consumo é uma função estável
da renda. Essa estabilidade da propensão marginal a consumir faz com que a instabilidade da demanda, que provoca
flutuações econômicas, não decorra do consumo, mas das flutuações do investimento. No modelo keynesiano, o
investimento é tanto um elemento da demanda agregada a curto prazo, como também um elemento da oferta
agregada a longo prazo, ao ampliar a capacidade produtiva.
Ao tomar a decisão de investimento, o empresário está interessado no retorno que um dado bem de capital
lhe conferirá ao longo de sua existência. Esse retorno está relacionado tanto ao custo do investimento (oferta
agregada) quanto às condições do mercado de bens (demanda agregada). A decisão de investir é tomada a partir
do confronto entre o valor presente do fluxo de receita esperada do investimento (preço de demanda do bem de
capital), frente ao custo de realizá-lo (preço de oferta do bem capital).
A eficiência marginal do capital é a taxa de desconto que iguala o fluxo de receitas esperado ao custo do
investimento. Se esta taxa for superior à taxa de juros, que corresponde ao custo de se obter empréstimos para
realizar o investimento ou o custo de oportunidade de se imobilizar os recursos, o empresário investe; se for o
contrário, não investe.
O problema é que a Eficiência Marginal do Capital é muito instável, uma vez que é calculada a partir de
expectativas dos empresários, cuja base de formação é bastante precária, dada a incerteza em relação ao futuro. A
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Eficiência Marginal do Capital pode alterar-se tanto por pressões na indústria produtora de bens de capital, como por
mudanças nas expectativas dos empresários. Com isso, o investimento tende a sofrer fortes oscilações, impactando
o nível de demanda agregada e a atividade econômica. Para estabilizar a economia, Keynes propõe uma atuação
mais efetiva do Estado, tanto por meio de gastos públicos, que compensem a falta de demanda privada, quanto pelo
direcionamento e incentivos aos investimentos, via redução da carga tributária, etc.
A principal contribuição normativa de Keynes foi propor o uso de políticas fiscais compensatórias que
tenderiam a ser muito mais eficientes do que os instrumentos monetários, cuja eficácia dependeria de um duplo
condicionante: a capacidade da política monetária afetar as taxas de juros, e uma vez que tenha afetado, que está
não seja sobrepujada por alterações na eficiência marginal do capital, que limitem o impacto das alterações na taxa
sobre o investimento.

Texto extraído de:


LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de Macroeconomia: Nível Básico e Intermediário, 3 ed. São
Paulo: Atlas, 2011

A Cruz Keynesiana: modelo mais simples da teoria keynesiana da renda nacional.

Ideia básica do modelo: O modelo pressupõe que o produto é determinado pela demanda

agregada, não existindo restrições pelo lado da oferta para a expansão do produto.

Nesse modelo, a existência de recursos ociosos faz com que as empresas possam oferecer qualquer quantidade de
produto a um determinado preço, portanto a OFERTA AGREGADA É HORIZONTAL, portanto, os preços são
CONSTANTES, e é a demanda agregada que determina o nível de equilíbrio.

Começando a entender o modelo keynesiano simples:


Da Contabilidade Nacional aprendemos:
Y=C+I
Oferta Agregada = Demanda Agregada

A questão é que existe 2 tipos de investimentos no montante apurado pelas contas nacionais:

a) Investimentos planejados (ou voluntários): corresponde às aquisições de bens de capital pelas empresas

e à variação planejada no nível de estoques


b) Investimentos involuntários: corresponde a variações no nível de estoque decorrentes de erros de

previsão da produção realizada pelas empresas.


A demanda efetiva (ou realizada) é a medida pelas contas nacionais, isto é, a que verifica a identidade PRODUTO =
DESPESA (DEMANDA).
Assim: Demanda Agregada Efetiva = C + I = Y
Já a demanda agregada planejada (intencional) é dada por: Demanda Agregada Planejada = C + Ivoluntário

Então, o que se pode concluir?

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DA efetiva = C + I
DA planejada = C + Ivoluntário
DA efetiva - DA planejada = C + I – (C + Ivoluntário)
DA efetiva - DA planejada = Iinvoluntário
O que é o equilíbrio? DA efetiva = DA planejada → Iinvoluntário = 0
Todo o processo de busca do equilíbrio se dá pelo ajustamento dos estoques que aumentam ou diminuem.

Despesa Planejada (PLANNED EXPENDICTURE: PE): é o montante que famílias, empresas e governo estão
dispostos a gastar na compra de bens e serviços.
Supondo uma economia fechada, tem-se:
PE PE = C + I + G, sendo C = C + c(Y- T )
Denomina-se despesa planejada de PE.
PE = C +c(Y- T )+ I + G .
Propensão Marginal a Consumir: parcela da renda

destinada ao Consumo (varia entre 0 e 1)

Considera-se I, G e T como constantes. Assim: I , G, T .


Deste modo: PE = C +c(Y- T )+ I + G.
C - cT + I + G
Assim, a demanda planejada é uma reta determinada pela
renda disponível. A reta tem inclinação positiva pois uma
Y renda maior determina um consumo maior e, portanto,
uma despesa planejada maior.

A diferença entre a despesa observada e a planejada é o investimento não-planejado em estoques. Como essas
variações inesperadas nos estoques são computadas pelas empresas como um gasto, a despesa efetiva pode ser
maior ou menor que a planejada.

ECONOMIA EM EQUILÍBRIO: Considera-se que a economia está em equilíbrio quando a Despesa Planejada é igual à Despesa Observada.
Recorde-se que o PIB representa tanto a renda quanto a despesa da economia.
DESPESA OBSERVADA (produção ou demanda efetiva) = DESPESA PLANEJADA (demanda planejada)
Y = PE
PE = Y A cruz keynesiana mostra como a renda é
PE determinada dados os níveis de
investimento planejado, I, e de variáveis de
Estoques Involuntários política fiscal, G e T. Podemos usar este
modelo para mostrar como a renda varia
PE = C +c(Y- T )+ I + G quando uma destas variáveis exógenas se
altera.
PE equilíbrio

Ajustamento e Equilíbrio: se as empresas produzem no nível Y1


as empresas acumulam estoques pois a despesa planejada é
inferior à produção. Esses estoques fazem as empresas
reduzirem sua produção.
<<<<<<<<
Y equilíbrio Y1
Y
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O Efeito de Políticas Fiscais sobre o Equilíbrio:


a) Aumento nos Gastos do Governo Um aumento nos gastos do governo gera um aumento na
PE = Y despesa planejada. Note, entretanto, que o aumento das
PE
PE1 despesas ∆G gera um aumento maior que ∆G na renda. Assim,
a política fiscal tem um efeito multiplicador sobre a renda:

PE0 1
∆𝑌 = ∆𝐺
(1 − 𝑐)

∆𝐺

∆𝑌

Y0 Y1 Y

b) Diminuição dos Tributos Uma diminuição dos impostos gera um aumento na despesa
PE = Y planejada pois aumenta o nível de consumo. Assim, a política
PE
PE1 fiscal tem um efeito multiplicador sobre a renda dado por:

PE0 −𝑐
∆𝑌 = ∆𝑇
(1 − 𝑐)

−𝑐∆𝑇
Atenção: O multiplicador keynesiano do gasto é
∆𝑌 maior, em módulo, do que o multiplicador
keynesiano dos tributos.

Y0 Y1
Y

Para pesquisar em casa: O que diz o Paradoxo da Parcimônia?


(pergunta de prova – não será respondida em aula)

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