Você está na página 1de 27

Macroeconomia I

Consumo e Investimento

1
Contexto
• Verificaremos como não apenas renda e lucro
presentes determinam consumo, poupança e
investimento hoje, mas também como
expectativas sobre renda e lucros no futuro
podem influenciar essas escolhas no presente.
• Com isso, poderemos entender a construção e o
comportamento, em nível macroeconômico, de
variáveis importantes da contabilidade nacional,
como Consumo, Investimento e a poupança
privada, importantes fatores no crescimento
econômico dos países.
2
Consumo e poupança
• Vimos que renda e juros correntes
determinam as escolhas de consumo e
poupança das famílias hoje;
• Entretanto, alguns economistas propuseram a
idéia de suavização intertemporal do
consumo, de forma que escolhas de C e S hoje
dependem das expectativas de rendimentos
ao longo de toda a vida do indivíduo/família.

3
Na determinação do consumo, são consideradas a
renda do trabalho depois de impostos e
transferências (então, a renda disponível corrente,
um fluxo) e a riqueza total (soma de estoque de
riqueza financeira, imobiliária e renda futura do
trabalho, trazida a valor presente).
O indivíduo poderia, a priori, suavizar consumo da
seguinte maneira:
𝑅𝑖𝑞𝑢𝑒𝑧𝑎 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙
𝑐𝑡 =
𝑋

onde 𝑐𝑡 é o consumo no ano 𝑡 , tal que 𝑡 =


1, 2, … , 𝑋,.
4
Nesse caso, tomaria empréstimos sempre que o
consumo efetivo superasse 𝑐𝑡 , e pouparia caso
contrário.

No entanto, em razão de possíveis restrições de


crédito, ou mesmo de um comportamento mais
conservador, essa ‘regra’ pode não representar
de fato o comportamento da maior parte das
pessoas.

5
A evidência empírica acumulada sobre
oscilações no consumo mostra que tanto a
renda corrente quanto a riqueza total são
determinantes nessa escolha. Em que proporção
cada uma influencia consumo, porém, é algo
muito particular.
Assim, o consumo no ano t será da forma:
𝑑
𝑐𝑡 = (𝑟𝑖𝑞𝑢𝑒𝑧𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙, 𝑌𝑡 )

onde 𝑌𝑡𝑑 é a renda disponível (depois de


impostos) no ano t.
6
O cálculo intertemporal
Se a renda de uma família a cada período é 𝑄′ ,
pode ocorrer de 𝑐𝑡 < 𝑄′ , o que geraria
poupança remunerada à taxa de juros r, fazendo
o estoque de riqueza dessa família crescer ao
longo do tempo.
A renda (fluxo) da família será 𝑄′ + (1 + 𝑟)𝐵,
onde B é o volume da poupança. Assim, a renda
corrente passa a incorporar a renda advinda do
trabalho e também a renda financeira.
7
À medida que a família siga poupando a renda a
cada período, seu estoque de riqueza se eleva (seja
pelo montante, seja pelos juros incidentes nesse
novo montante).
A restrição orçamentária intertemporal será da
forma:
𝐶2 𝐶3 𝐶𝑛 𝑌2 𝑌𝑛
𝐶1 + + + ⋯+ 𝑛−1 = 𝑌1 + + ⋯+ 𝑛−1 =𝑊
(1 + 𝑟) (1 + 𝑟)² 1+𝑟 1+𝑟 1+𝑟

Onde a série de C denota consumo ao longo da vida,


a série de Y, renda corrente ao longo da vida, ambos
em valor presente e, finalmente, W denota a riqueza
total. 8
• Note que a renda corrente incorpora renda de
trabalho e retorno financeiro de ativos.

• Matematicamente, as teorias de Friedman e


Modigliani são equivalentes, mas há alguns
detalhes diferentes que devemos observar.

9
Teoria da Renda Permanente
(Friedman)
• O consumo hoje depende da renda corrente e da renda
esperada no futuro. Consumo será, então, função da
‘renda permanente’, Yp, uma média de toda a riqueza
da família ao longo da vida (considerando rendas
corrente e futura no seu cômputo);

• Para suavizar padrão de consumo ao longo da vida


(𝑐𝑡 = 𝑌𝑝 ∀𝑡), as famílias contam com o mercado de
crédito (poupando quando a renda corrente supera
consumo e tomando empréstimos quando a renda
corrente é inferior ao esperado).

10
Tipos de choques negativos e impactos
sobre consumo na TRP
• Choques temporários: renda permanente não
muda muito; logo, pouco impacto em consumo e
poupança; vale, inclusive, para impostos
temporários.
• Choques permanentes: renda permanente muda
na extensão do choque, afetando bastante o
consumo.
• Choques futuros antecipados: renda permanente
cai (mesmo que a renda corrente não),
incentivando aumento da poupança.
11
Teoria do Ciclo de Vida (Modigliani)
• Consumo é determinado pela expectativa de
rendimentos em toda a vida, e não pela renda
corrente. Famílias objetivam suavizar o
consumo ao longo do tempo.

• Para Modigliani, entretanto, o padrão de


consumo/poupança de uma família oscila ao
longo do tempo, de acordo com que ‘estágio’
da vida ela se encontra (jovem, adulto, idoso).
12
• Fase 1 (jovens): tendo pouca renda, tomam empréstimos
(despoupança, S<0);
• Fase 2 (adultos): ápice da renda corrente, pagamento de
empréstimos e poupança para a velhice (S>0);
• Fase 3 (idosos): aposentadoria (renda corrente é nula); consumo
financiado pela poupança da fase adulta e/ou previdência pública.
13
• A teoria de Modigliani joga luz à discussão
sobre os efeitos da seguridade social de
financiamento público e do modelo de
partilha (adultos produtivos pagam as
aposentadorias), considerando que podem
incentivar pouca poupança ao longo da ‘fase
2’, transferindo a responsabilidade da
postergação do consumo a outros agentes.
• Entra nesse debate também o fenômeno do
enriquecimento dos países e do ganho de
produtividade crescente com o passar das
gerações, que tornam o referido modelo de
seguridade social sustentável. 14
Poupança e consumo agregados
Pela teoria de Modigliani, percebemos que
fatores demográficos têm impacto na poupança
agregada de uma economia.
Países com maior população economicamente
ativa e/ou trabalhadores mais produtivos
apresentam taxas de poupança maiores, pois
adultos poupadores são mais numerosos e ricos
do que os idosos despoupadores.

15
• Assim, mesmo que duas economias tenham o
mesmo perfil de poupança, uma economia
pode superar a outra em termos de poupança
agregada se experimentar um rápido
crescimento populacional ou alterações
tecnológicas (ganhos de produtividade) mais
rápidas de uma geração a outra.
• Além desses fenômenos de crescimento e
demografia, e de características culturais, os
países podem gerar diferentes incentivos à
poupança. Seja por um sistema de seguridade
social menos abrangente ou menos confiável,
ou dificuldades de acesso ao mercado de
crédito.
16
Investimento
O que determina o nível de investimentos de
uma firma?

Lembremos, primeiramente, que o Investimento


é composto por:
• Imobilizado (prédios, galpões etc.);
• Equipamentos (bens duráveis de produção);
• Investimento em estoques.
17
O fluxo de estoques
• Os estoques são compostos por:
 Insumos primários
 Bens semi-acabados
 Bens prontos

• Estoques são mantidos para nivelar produção e demanda


periodicamente. Há um custo de manter estoque, mas
também um custo de não ter estoque suficiente para atender
uma demanda temporariamente maior.
• O fluxo da demanda determinará a variação de estoques, isto
é, se haverá, naquele período, investimento (aumentar
estoque) ou desinvestimento (esvaziar estoque). A firma
observa a demanda e tenta suavizar o acúmulo de estoques
ao longo do tempo, tendo um piso e um teto aproximados.
18
A depreciação
O investimento em capital físico está sujeito ao
fenômeno da depreciação, de modo que
devemos distinguir investimentos bruto e
líquido da seguinte forma:

𝐼𝐵 = 𝐼𝐿 + 𝛿𝐾

Onde 𝛿 é depreciação e K, o estoque de capital.

19
Determinantes do Investimento: o
lucro esperado
• Até então, vimos como os juros de mercado
(custo de captação do capital) determinam o
nível de investimentos.
• Mas, além disso, investimentos em capital
físico dependem do retorno (lucro esperado)
que darão à firma.
• É preciso, então, trazer a valor presente o
lucro esperado da aquisição de um novo item
de capital.

20
O valor presente de um ativo é seu valor
descontado por uma taxa de juros (remuneração
do capital nessa economia).
A firma deve considerar a depreciação, 𝛿, que
incide sobre o equipamento, no cômputo desse
valor.
Assim, temos que o lucro esperado em valores
de t=0 é:
Π𝑒1 1−𝛿 Π𝑒2
𝑉(Π0𝑒 ) = + + ...
(1+𝑟0 ) (1+𝑟0 )(1+𝑟1 )

Onde 𝑟𝑖 é a taxa de juros do período i 21


• Para decidir se adquire ou não o
equipamento, a firma compara o valor V ao
preço da máquina. Se for maior, vale a pena
comprar; se não, a firma não realiza o
investimento.

• Em termos de investimento agregado, a ideia


é a mesma: o valor presente dos lucros
futuros esperados direciona a decisão de
investimento. Note que um maior custo de
capital (taxas de juros) reduz o valor presente
dos lucros auferidos, desestimulando o
investimento, de forma generalizada.
22
Determinantes do Investimento: o
lucro corrente
• O lucro corrente, por sua vez, também exerce grande
influência na decisão de investimentos, até porque
propicia margem para a empresa se expandir.

• Lucros correntes podem virar dividendos ou


reinvestimento; um baixo lucro pode, portanto,
impedir a firma de realizar novos investimentos.

• Nesse caso, firmas teriam de recorrer ao mercado de


crédito para financiar o investimento. Entretanto, o
crédito pode ser escasso ou caro demais. Assim, o
investimento ficaria comprometido, pois o acesso ao
financiamento seria minado.
23
Lucros e vendas
• Sendo os lucros função positiva das receitas de
uma firma, observa-se que é uma variável de
comportamento cíclico: isto é, segue,
normalmente, o sentido da renda (Y, PIB) de um
país.
• Assim, para rendas corrente e esperada altas,
supõem-se lucros altos, estimulando
investimentos. Isto é: a antecipação de uma
expansão econômica persistente faz as firmas
estimarem lucros maiores (expectativa) e
realizarem maiores investimentos.

24
Então, a questão da persistência/transitoriedade
dos ganhos das firmas também é relevante na
decisão de investimento hoje.

Políticas que gerem aumentos transitórios de


demanda não gerarão investimentos de
expansão da capacidade produtiva (FBKF), mas
apenas variação na produção corrente e nos
estoques.

25
Ganhos esperados e custos do
investimento: o q de Tobin
Dentre as teorias que exaltam a relação custo-
retorno dos investimentos, a do q de Tobin
ganha notoriedade.
Sendo q a razão entre valor de mercado da firma
(preço da ação) e custo (marginal) do novo
capital, temos:
𝑝𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜
𝑞=
𝑐𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑢𝑛𝑖𝑡á𝑟𝑖𝑜 𝑑𝑜 𝑛𝑜𝑣𝑜 𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙

26
• Se q > 1, temos que o preço da ação supera o
custo do capital; logo, se a firma vendesse
ações para financiar o novo investimento,
ainda teria lucro.
• Se q < 1, o custo do capital supera o preço da
ação; assim, o investimento traria prejuízo
e/ou necessidade de financiamento externo
(avalancagem)

Assim, se estabelece um critério de


determinação da viabilidade financeira, sem
endividamento, de novos projetos ou expansão
produtiva.
27

Você também pode gostar