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Teorias de Consumo

Macroeconomia 2

Henrique Veras

UFPE
1. Introdução

2. Teoria Keynesiana do Consumo

3. Escolha Intertemporal do Consumo

4. Hipótese do Ciclo de Vida

5. Hipótese da Renda Permanente

6. Hipótese do Passeio Aleatório

7. Gratificaçāo Imediata

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Introdução
Consumo das Famı́lias

• Consumo das Famı́lias representa ≈ 63% do PIB.


• Importante nas flutuaçōes econômicas.
• Quais os determinantes do Consumo das Famı́lias?

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3
Participaçāo do consumo das famı́lias no PIB em 2021

Fonte: World Bank Data

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Teoria Keynesiana do Consumo
Keynes (1936) argumentou que ”a quantidade de consumo agre-
gado depende principalmente da quantidade de renda agregada
e que essa relaçao” é uma função bastante estável”. Ele afirmou
ainda que ”também é óbvio que um nı́vel absoluto de renda mais
alto (...) levará, via de regra, a uma maior proporçāo de renda
sendo salva” (Keynes, 1936).

David Romer (2011) - Advanced Macroeconomics.

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Hipóteses Keynesianas

• Podemos descrever matematicamente as ideias de Keynes


formulando as hipóteses abaixo:
1. Renda é o principal determinante do consumo.
2. Propensāo marginal a consumir positiva (PMg C > 0): aumentos na
renda estão associados a aumentos no consumo das famı́lias.
3. No entanto, aumento menos que proporcional: 0 < PMg C < 1
4. Propensão média a consumir (PMe C ) diminui com a renda (mais
ricos poupam uma fraçāo maior da renda).

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Funçāo Consumo Keynesiana

• Matematicamente, entāo, representamos a funçāo consumo como

C = c̄ + c1 Y

onde Y ≡ renda disponı́vel, c1 ≡ MPg C e c̄ ≡ consumo autônomo.

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Funçāo Consumo Keynesiana

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Funçāo Consumo Keynesiana

• A implicaçāo da funçāo consumo Keynesiana é que consumo


agregado é tāo volátil quanto a renda agregada.
• Ademais, nāo há diferenças entre mudanças temporárias e
permanentes na renda.
• Note que a equaçāo nāo é derivada de um model de comportamento
racional por parte das famı́lias.

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Evidência Empı́rica

• Como as evidencias empiricas sobre a relacao entre consumo e


investimentos se comparam com as predicoes do modelo
Keynesiano?
• Para analisar esta questao, podemos observar dois tipos de dados
diferentes:
1. Cross-section: observações de consumo e renda para várias famı̄lias
(domicı́lios) em um determinado perı́odo;
2. Série temporal: observações de dados agregados de consumo e renda
por um dado número de perı́odos em uma única economia.

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Evidência Empı́rica

• Estudos em domicı́lios:
• Domicı́lios com renda mais alta → maior consumo → PMg C > 0
• Domicı́lios com renda mais alta → maior taxa de poupança →
0 < PMg C < 1
• PMe C cai à medida que a renda aumenta.
• Em outras palavras, observamos altos nı́veis de poupança para
famı́lias com alta renda, e baixos ou negativos nı́veis de poupança
para famı́lias com baixa renda.

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Evidência Empı́rica

• Séries temporais
• Consumo e renda agregada não se relacionam da mesma forma que
observamos nos dados cross-section.
• Anos de renda baixa → Ct e St caem
• Alta correlação entre Yt e Ct
• Em outras palavras, as evidências em séries temporais sugerem que
consumo agregado é aproximadamente proporcional à renda
agregada.

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Estagnaçāo secular e o enigma do consumo

• Uma implicaçāo do modelo Keynesiano é que aumento de renda


através do tempo reduz a PMe C , gerando um excesso de poupança!
• Isso, por sua vez, levaria a uma estagnação secular, pela falta de
oportunidades de investimento.
• Entretanto, evidência empı́rica, sobretudo no perı́odo pós-guerra,
não suporta tal predição.
• Esta diferença entre o comportamento da relação consumo-renda em
dados cross-section e séries de tempo é conhecida como o enigma do
consumo de Kuznets.

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• A teoria Keynesiana explica a evidencia cross-section mas falha em
explicar a relação em termos agregados (séries temporais).
• Um olhar mais atento nos sugere que pode haver diferenças entre as
respostas do consumo à variações de renda no curto-prazo
(cross-section) e no longo-prazo (séries temporais).
• De fato, famı́lias ao decidirem consumo e poupança, olham o
presente e o futuro (escolha intertemporal).
• Preferências importam (tanto entre bens quanto consumo corrente
versus futuro).
• Habilidade de analisar o futuro deve importar (expectativas).
• Acesso ao mercado de crédito deve ser importante também.

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Escolha Intertemporal do
Consumo
Escolha Intertemporal

• Vamos agora buscar entender o comportamento das famı́lias sobre


suas decisões entre consumo/poupança.
• Para tanto, introduzimos um modelo simples de escolha
intertemporal do consumo (Williamson, 2010).

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Escolha Intertemporal

• Os princı́pios básicos de teorias dinâmicas do consumo podem ser


ilustradas usando um modelo simples com apenas dois perı́odos
(t = 1 e t = 2).
• Famı́lias encaram um tradeoff entre consumo corrente e consumo
futuro e escolhem uma cesta de consumo presente e futuro e, datas
rendas, poupam/tomam emprestado, trasferindo poder de compra
ao longo do tempo.

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Preferências

• Preferencias sobre cestas (c, c ′ ), onde c denota consumo presente e


c ′ denota consumo futuro, satisfazem as seguintes hipóteses:
1. Nāo-saciedade (”mais é melhor”): se c1 > c2 e c1′ > c2′ , entāo
(c1 , c1′ ) ≿ (c2 , c2′ )
2. Convexidade: diversidade é melhor (suavizaçāo do consumo)
3. c e c ′ sāo bens normais: maior poder de compra implica maiores c e
c ′.

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Preferências

• Geometricamente, temos
1. Curvas de indiferença sāo negativamente inclinadas (TMSc,c ′ < 0);
2. TMSc,c ′ diminui quando c aumenta;
3. Pontos no mapa de indiferença com a mesma TMS traçam uma
linha positivamente inclinada.

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Preferências

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Restriçāo Orçamentária

• Assuma uma economia sem produçāo (economia de dotaçāo)


• Operações de crédito realizadas através da compra de um tı́tulo
(nota promissória).
• Se emprestador, compra tı́tulos no perı́odo 1.
• Se tomador, vende tı́tulos no perı́odo 1.
• Nāo há default e nāo há intermediários.
• Tı́tulo emitido em t = 1, paga ao possuidor (1 + r ) unidades do bem
em t = 2, onde r denota a taxa de juros real
• Inicialmente assumimos ser a mesma entre tomador e emprestador.

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Restriçāo Orçamentária

• No perı́odo 1 temos:
c +s =y −t (1)
• Se s > 0, a famı́lia é um emprestador (lender ). Caso contrário, um
tomador (borrower).
• No perı́odo 2, temos:

c ′ = y ′ − t ′ + (1 + r )s (2)

• Se s > 0, a famı́lia recebe o empréstimo. Se s < 0, a famı́lia paga o


empréstimo.

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Restriçāo Orçamentária Intertemporal

• Reescreva 2 como:
c′ − y ′ + t′
s= (3)
1+r
• Usando 3 em 1:
c′ − y ′ + t′
c+ =y −t (4)
1+r
• Reescrevendo:
c′ y ′ − t′
c+ =y −t + (5)
1+r 1+r
• Equaçāo 5 denota a Restriçāo Orçamentária Intertemporal (ROI).

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Restriçāo Orçamentária Intertemporal

• Defina h ≡ riqueza intertemporal. Entāo,

y ′ − t′
h ≡y −t + (6)
1+r
• Podemos escrever
c′
c+ =h (7)
1+r
c ′ = (1 + r )h − (1 + r )c (8)

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Restriçāo Orçamentária Intertemporal

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Escolha Intertemporal

• Escolha intertemporal ótima do plano de consumo (c, c ′ ) ocorre no


ponto de tangência entre a ROI e curva de indiferença (por que?)

TMSc,c ′ = (1 + r )

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Escolha Intertemporal

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Escolha Intertemporal

• O exemplo anterior ilustrou o caso de uma famı́lia que poupa ou


toma emprestado?
• Você consegue ilustrar graficamente o outro caso?

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Explicando o Enigma do Consumo

• O enigma do consumo de Kuznets sugere que a relaçāo entre


consumo e renda no curto prazo (cross-section) difere da relaçāo de
longo-prazo.
• Podemos analisar estas relações no modelo de escolha intertemporal.
Para tanto, representamos:
1. Mudança temporária da renda: y aumenta mas y ′ permanece
constante
2. Mudança permanente da renda: ambos y e y ′ aumentam

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Diferentes Fontes de Choques na Renda

• Suponha que ∆y > 0, ou seja, a renda corrente aumenta.


• ROI se desloca paralelamente para a direita. Por que?
• Suponha agora que ∆y > 0 e ∆y ′ > 0, ou seja, ambas renda
corrente e futura aumentam.
• ROI se desloca para a direita e para cima. Por que?

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Choque Temporário na renda

• Modelo implica que tanto o consumo corrente quanto o futuro


aumentam. Bens normais!
• Isso, por sua vez, implica suavizaçāo do consumo ∆c
∆y < 1 (por que?)
• Ou seja, poupança também aumenta ∆s
> 0 tanto para tomadores
∆y
quanto para emprestadores ⇒ PMe C ↓
• A implicaçāo para os dados é que consumo e PIB movem-se juntos e
consumo é menos volátil que o PIB.

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Vamos aos Dados!

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Choque Permanente na Renda

• Quando ambos y e y ′ aumentam proporcionalmente, ambos c e c ′


também o fazem.
• Portanto, a taxa de poupança deve permanecer estável ⇒ PMe C
estável!
• O Modelo de escolha intertemporal de Fisher, portanto, nos ajuda a
compreender o enigma do consumo.
• Os principais ponto a observar sāo:
1. a fonte da variaçāo de renda (temporária ou permanente)
2. famı́lias buscam suavizar consumo

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Uma Abordagem Formal

• Defina o probema do consumidor:

Max

U(c, c ′ )
c,c
c′ y ′ − t′
s. a. c+ =y −t +
1+r 1+r
• Lagrangeano:

y ′ − t′ c′
L = U(c, c ′ ) + λ(y − t + −c − )
1+r 1+r

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Uma Abordagem Formal

• C.P.O.
U1 (c, c ′ ) − λ = 0
λ
U2 (c, c ′ ) − =0
1+r
c′ y ′ − t′
c+ =y −t +
1+r 1+r
• As duas primeiras condições acima implicam a equaçāo de Euler

U1 (c, c ′ ) = (1 + r )U2 (c, c ′ )

nos fornecendo uma relaçāo entre c e c ′ .

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Atividade

1. A renda atual (y) do consumidor é 100 e a renda futura (y) é 120. A


taxa de juros real é de 20% para cada perı́odo e o imposto fixo é 10.
Suponha que a seguinte função de utilidade represente preferências
para consumo atual e futuro:
u(c, c ′ ) = 0, 4 ln(c) + 0, 6 ln(c ′ )

1.1 Calcule o consumo ótimo atual e futuro e a poupança ótima. O


consumidor é credor ou devedor?
1.2 Suponha que o indivı́duo tenha recebido um corte permanente em
sua renda de 10%. Calcule os novos consumos ótimos atuais e
futuros e compare a fração da renda disponı́vel que o consumidor
economiza no perı́odo 1 em ambas as situações.
1.3 Agora suponha que o indivı́duo recebeu um corte temporário de 10%
na renda atual, enquanto a renda futura permanece inalterada.
Calcule os novos consumos ótimos atual e futuro. Discuta as
diferenças (semelhanças) entre os resultados obtidos com os da parte
anterior. 40
Uma Abordagem Formal Geral

• Estabeleça uma forma funcional: U(c, c ′ ) = ln c + β ln c ′ , onde


0 < β < 1 é a taxa de desconto intertemporal.
• As C.P.O. nos fornecem
1
−λ=0
c
β λ
− =0
c′ 1+r
• Substituindo uma na outra, temos

c ′ = β(1 + r )c

• Substituindo na ROI (C.P.O. em relaçāo à λ), obtemos os valores


ótimos (c ∗ , c ′∗ )

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Uma Abordagem Formal

• Temos entāo os valores ótimos


1 y ′ − t′
c∗ = (y − t + )
1+β 1+r
β y ′ − t′
c ′∗ = (1 + r )(y − t + )
1+β 1+r
β 1 y ′ − t′
s∗ = (y − t) −
1+β 1+β 1+r
• De posse disso podemos avaliar os efeitos de mudanças nos
parâmetros e/ou de polı́tica macroeconômica.

42
Mudanças na taxa de juros

• Da mesma forma que avaliamos mudanças na renda, podemos


antecipar como as famı́lias reagem a mudanças na taxa de juros real
r da economia.
• Como veremos, o efeito total sobre consumo e poupança depende de
se as famı́lias sāo tomadoras ou emprestadoras.

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Mudanças na taxa de juros

• Taxas de juros sāo importantes para o plano de consumo das


famı́lias porque determina o preço de mercado de uma unidade de
consumo corrente em termos de consumo futuro.
• Note que uma unidade adicional de consumo corrente reduz s em
mesmo valor, portanto (1 + r )s de consumo futuro deve ser
reduzido, ceteris paribus.
• O preço de consumo presente é portanto (1 + r ) em termos de
consumo futuro.

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Mudanças na taxa de juros

• Graficamente, a ROI rotaciona ao longo do ponto de dotaçāo


1. No sentido horário, caso r ↑
2. No sentido anti-horário, caso r ↓

45
Um Aumento na Taxa de Juros

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Um Aumento na Taxa de Juros: O caso do Emprestador

• Vejamos agora o caso de um aumento da taxa de juros para um


emprestador.
• Quando r aumenta, consumo futuro fica mais ”barato” do que
consumo corrente.
• Efeito Substituiçāo: Consumidor é incentivado a substituir consumo
corrente por consumo futuro.
• Ao mesmo tempo, o aumento em r causa um aumento da riqueza
intertemporal h devido ao maior retorno da poupança
• Efeito Renda: Consumidor é incentivado a aumentar consumo
corrente e futuro.

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Um Aumento na Taxa de Juros: O caso do Emprestador

48
Um Aumento na Taxa de Juros: O caso do Emprestador

• Se, por um lado, Efeito Substituiçāo - ES - é negativo, por outro, o


Efeito Renda - ER - é positivo (fica mais rico no segundo perı́odo).
• Resultado final:
1. ∆c =?
1.1 Caso ER > ES, ∆c > 0
1.2 Caso ES > ER, ∆c < 0
1.3 Caso ER = ES, ∆c = 0.
2. ∆c ′ > 0
3. ∆s =?

49
Um Aumento na Taxa de Juros: O caso do Tomador

• Vejamos agora o caso de um aumento da taxa de juros para um


tomador.
• Novamente, quando r aumenta, consumo futuro fica mais ”barato”
do que consumo corrente.
• Efeito Substituiçāo: Consumidor é incentivado a substituir consumo
corrente por consumo futuro.
• Ao mesmo tempo, o aumento em r agora causa uma reduçāo da
riqueza intertemporal h devido ao maior valor do débito
• Efeito Renda: Consumidor é incentivado a reduzir consumo corrente
e futuro.

50
Um Aumento na Taxa de Juros: O caso do Tomador

51
Um Aumento na Taxa de Juros: O caso do Emprestador

• Neste caso, os efeitos sāo na mesma direçāo:


• Efeito Substituiçāo negativo
• Efeito renda negativo (fica mais pobre no segundo perı́odo)
• Resultado final:
1. ∆c < 0
2. ∆c ′ =?
2.1 Caso ER > ES, ∆c ′ < 0
2.2 Caso ES > ER, ∆c ′ > 0
2.3 Caso ER = ES, ∆c ′ = 0.
3. ∆s > 0

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Um Aumento na Taxa de Juros

• E no agregado? Depende da proporçāo entre tomadores e


poupadores.
• Evidência é que C cai quando há uma elevaçāo nos juros (reais).
• Um ponto importante é que efeitos sāo heterogêneos a depender se
o indivı́duo é tomador ou emprestador.
• Implicações para a polı́ticas públicas ⇒ efeitos distributivos.
• Precisarı́amos de modelos com agentes heterogêneos (nāo agentes
representativos como tratamos neste curso).

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Atividade

1. Suponha que, na atividade anterior, em vez de cortes na renda, a


taxa de juros caia para 10%. Como essa mudança afetará a restrição
orçamentária, a curva de indiferença e a cesta de consumo ideal?
Calcule os novos consumos ideais atuais e futuros.

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• O modelo de escolha intertemporal do consumo nos fornece um
arcabouço teórico para entendermos as relações entre consumo e
poupança.
• A seguir iremos detalhar outras teorias do consumo a fim de se
entender melhor seus determinantes e como estas teorias se
adequam aos fatos.
• Como veremos, algumas dessas teorias se utilizam da escolha
intertemporal do consumo.

55
Hipótese do Ciclo de Vida
Hipótese do Ciclo de Vida

• 1950’s: Franco Modigliani, Albert Ando, Richard Brumberg.


• Objetivo é solucionar os enigmas do consumo surgidos quando a
versāo keynesiana da funçāo consumo é confrontada com os dados.
• Basearam-se no modelo de Fisher de escolha intertemporal.
• Modelo microfundamentado → consistência interna.

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Hipótese do Ciclo de Vida

”O desafio...foi construir a partir da teoria da escolha intertem-


poral do consumidor a la Fisher e de um conjunto de postulados
plausı́veis, um modelo unificado de comportamento do consumo
e poupança capaz de integrar toda a evidência macro e micro
recente e ainda levar a novos testes empı́ricos”

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A Hipótese

• Consumo é proporcional aos recursos de uma pessoa ao longo de sua


vida ou à sua renda média ao longo da vida.
• Renda varia sistematicamente ao longo da vida de uma pessoa!
• Poupança permite transferência de recursos quando a renda é alta
para momentos quando a renda é baixa.
• Vejamos uma versāo simplificada.

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Versāo simplificada

• Indivı́duo vive (ou espera viver) por T perı́odos;


• Tem riqueza W (ativos);
• Espera receber Y até se aposentar daqui a R anos

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Pergunta

• Que patamar de consumo será escolhido se o indivı́duo deseja


manter um nı́vel estável de consumo ao longo do tempo?

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O Modelo

• Suponha que r = 0 por simplicidade


• Recursos vitalı́cios = W + R.Y
• Portanto, o consumo C em cada perı́odo é dado por
W + R.Y
C=
T
• Podemos ainda reescrever a equaçāo acima como:

C = αW + βY

onde α = 1/T e β = R/T

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Figura 2: Mankiw, 8a ediçāo, capı́tulo 16

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Implicações

1. Intercepto nāo é constante, depende da riqueza W .


Como W e Y caminham juntos em perı́odos longos no tempo:
C W
PMe C = = α( ) + β
| Y {z Y }
Estável!

2. No entanto, no curto prazo, W é constante e ainda Y muda com


frequência.

Portanto, quando Y sobe, no curto prazo, PMeC ↓

C W̄
↓ = α( ) ↓ +β
Y Y ↑
A hipótese do ciclo de vida solucionaria o enigma do consumo como
observado por Kuznets!

63
Implicações (cont.)

• Poupança varia ao longo do ciclo de vida


• Objetivo: manter o consumo estável ⇒ ”jovens poupam, velhos
despoupam”.
• Jovens acumulam ativos ao longo da vida de trabalho.
• Velhos gastam os ativos ao final da vida.

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Dificuldades da Hipótese do Ciclo de Vida

1. Consumo e Poupança dos idosos


2. Dados sugerem que os idosos nāo exaurem suas riquezas tāo
rapidamente quanto se poderia esperar pela teoria;
3. Muitos idosos, na verdade, parecem poupar parte de suas rendas.

65
Dificuldades da Hipótese do Ciclo de Vida

Duas explicações possı́veis:

1. Importância da poupança preventiva (precaucional).


• Proteçāo contra ”viver” mais do que o esperado.
• Proteçāo contra eventos inesperados (enfermidades e despesas
médicas).
2. Morivo herança

66
Pesquisas com Idosos

• Evidências de que o risco associado às despesas médicas futuras


fazem com que os velhos poupem.
• Di Nardi, French and Jones (2010) ⇒ poupança dos idosos é
explicada menos pelo motivo herança e mais aos elevados e
imprevisı́veis custos médicos.
• Kopecky e Koreshkova (2014) ⇒ Nos EUA, o risco de terminar a
vida em um asilo, cujo custo médio é de U$5 mil/mês, explica boa
parte da poupança individual.
• Nos dois casos, o risco se resume à dificuldade em saber o tempo e
as condiçōes de sobrevida, e, portanto, o gasto com hospitais e
asilos.

67
Dificuldades da Hipótese do Ciclo de Vida

• O Modelo do Ciclo de vida pressupõe que a taxa de desconto é


constante ao longo do tempo.
• Problema é que nos dados, jovens (velhos) poupam menos (mais) do
que deveriam de acordo com o modelo do ciclo de vida.
• Kureishi et al (2021) usando dados para o Japāo indicam que, na
verdade, taxa de desconto é decrescente com a idade.
• Jovens (velhos) descontam mais (menos) o futuro ⇒ explica menor
(maior) poupança dos jovens (velhos).
• Permitir que o modelo apresente taxas de desconto decrescentes
melhora o ajuste aos dados.

68
Dificuldades da Hipótese do Ciclo de Vida

• Pesquisas recentes mostram que o consumo das famı́lias seguem o


comportamento da renda das famı́lias de perto.
Isto é o oposto do que mostra o modelo do ciclo de vida.
• Como se comporta o consumo das famı́lias ao longo do ciclo de vida?
• Vejamos resultados recentes.

69
Fonte: Attanasio (1999)

70
O que explica o comportamento do consumo?

• A relaçāo acima é entre consumo total (duráveis e nāo-duráveis) e a


renda.
• Despesas com nāo-duráveis deveriam ser mais ”flat”.
• Já despesas com duráveis deveriam de fato parecer com um ”sino”.
• A probabilidade de alguém comprar um carro ou uma casa quando
mais velho é menor!

71
Fonte: Villaverde & Krueger (2007)
72
Fonte: Villaverde & Krueger (2007)
73
Fonte: Villaverde & Krueger (2007)
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O que explica o comportamento do consumo?

• Villaverde & Krueger (2007) argumentam que metade do


comportamento do consumo ao longo do ciclo de vida é explicado
pela variaçāo no tamanho da famı́lia.
• Dados sāo médias de consumo contra a idade do chefe da famı́lia.
• No entanto, mesmo controlando para o tamanho da famı́lia, o
padrāo ”sino” aparece nos dados.

75
Hipótese da Renda Permanente
Hipótese da Renda Permanente

• Milton Friedman (1957)


• Também baseada na Teoria do Consumidor de Fisher (escolha
intertemporal);
• Consumo nāo deve depender exclusivamente da renda atual
• Diferença para a Hipótese do Ciclo de Vida: renda nāo segue um
padrāo regular (alta quando jovem e baixa quando velho);
• Renda flutua em torno de uma ”média” de maneira aleatória e
temporária.
• Consumo depende da Renda Permanente.

76
Hipótese da Renda Permanente

• Imagine que uma famı́lia se defronte com o problema de maximizar:


T
X
U= u(Ct ),
t=1

• Assuma u ′ (.) > 0, u ′′ (.) < 0, e suponha taxa de juros r = 0.


• Restriçāo Orçamentária Intertemporal (ROI) é dada por:
T
X T
X
Ct ≤ A0 + Yt
t=1 t=1

onde Yt é a renda no perı́odo t.

77
Hipótese da Renda Permanente

• O Lagrangiano é definido como


T
X T
X T
X
L= u(Ct ) + λ(A0 + Yt − Ct )
t=1 t=1 t=1

C.P.O.:
u ′ (Ct ) = λ
Com λ constante, entāo temos C1 = C2 = · · · = CT .
Substituindo na ROI:
T
1 X
Ct = (A0 + Yt ) ∀t
T t=1

78
Hipótese da Renda Permanente

• Famı́lia gasta sua riqueza vitalı́cia igualmente ao longo da vida em


consumo.
• Consumo depende nāo da renda corrente, mas da renda permanente.
• Como explicar o comportamento do consumo?

79
Hipótese da Renda Permanente

• O modelo assume que a renda atual Yt é composta por:

Yt = Ytp + YtT

• Ytp ≡ renda permanente


• YtT ≡ renda transitória

80
Hipótese da Renda Permanente

• Friedman sugeriu que as pessoas deveriam se comportar de maneira


diferente se mudanças na renda fossem transitórias ou permanentes.
• Faz sentido? Qual deve ser maior?
• Em resumo:
Ct = κYtp
• Consumo seria proporcional à renda permanente, com κ > 0.

81
Implicações

• Dividindo ambos os lados da funçāo consumo por Yt :

Ct Yp
PMe C ≡ =κ t
Yt Yt

• Portanto, H.R.P. ⇒ PMe C depende da relaçāo entre Ytp e Yt .

82
Implicações (cont)

• No C.P., Yt é governado por mudanças em YtT

Ytp
↑ YtT ⇒↑ Yt ⇒ ↓⇒ PMe C ↓
Yt

• De acordo com a evidência de pesquisa em domicı́lios (PMe C ↓


quando Yt ↑).
• Consumo cresce com a renda, mas menos do que proporcionalmente.
• No L.P., Yt é governado por mudanças em Ytp

Ytp
↑ Ytp ⇒↑ Yt ⇒ estável ⇒ PMe C estável
Yt

• Em acordo com a evidência de séries temporais de Kuznets!

83
Hipótese do Passeio Aleatório
Hipótese do Passeio Aleatório

• Robert Hall (1978)


• Associa a HRP com expectativas racionais.
• HRP ⇒ decisões de consumo se baseiam em Ytp , que depende
essencialmente das expectativas.
• Há incertezas quanto às rendas futuras.
• Daı́ a importância de formar expectativas quanto ao futuro.
• Numa versāo estocástica, com r ̸= 0, Ytp se torna

X Et [Yt+j ]
Ytp ≈ ( + A0 )
(1 + r )j
j=0

• O que significa Et [Yt+j ]?

84
Hipótese do Passeio Aleatório

• Expectativas racionais:

Et [yt+j ] = Et [yt+j |Ωt ]

• Et [yt+j ] = melhor previsāo possı́vel para yt+j dado Ωt


• Ωt ≡ conjunto de informações disponı́veis até o perı́odo t
• Consumo baseia-se na melhor previsāo possı́vel das famı́lias sobre a
renda permanente.

85
Implicaçāo

• ∆c reflete ”surpresas” na renda permanente ⇒ consumo segue um


passeio aleatório.
• Estatisticamente, um passeio aleatório é um processo yt definido
como
yt = yt−1 + et
onde {et }T
t=0 é iid com média zero e variância σ
2

86
Hipótese do Passeio Aleatório

• Considere nosso modelo anterior com dois perı́odos.


• A condição de otimalidade na escolha intertemporal:

U1 (c1∗ , c2∗ ) = (1 + r )βU2 (c1∗ , c2∗ )

• Temos portanto que a famı́lia escolhe c1 e c2 tal que as utilidades


marginais do consumo (em valor presente) nos dois perı́odos sāo
igualadas.

87
Um Exemplo

• Suponha que (1 + r )β = 1 e U(c1 , c2 ) = ln c1 + ln c2


• Qual resultado a condiçāo de otimalidade nos fornece neste caso?

88
Um Exemplo

• Suponha que (1 + r )β = 1 e U(c1 , c2 ) = ln c1 + ln c2


• Qual resultado a condiçāo de otimalidade nos fornece neste caso?
• Se sua resposta foi c1∗ = c2∗ , parabéns!
• Portanto, com esta forma funcional, e com o objetivo de igualar as
UMg C , um consumidor racional escolhe

ct+1 = ct ∀t

88
Hipótese do Passeio Aleatório

• Portanto, variações no consumo só ocorrem em funçāo de surpresas


({ct }T
t=0 é um passeio aleatório):

ct+1 = ct + et+1

onde {et }T 2
t=0 ∼ iid(0, σ ) é o componente surpresa.

Note que, na média, Et [ct+1 ] = ct


Erro de previsāo = ct+1 − Et [ct+1 ] = et+1

89
Hipótese do Passeio Aleatório

• A principal implicaçāo da Hipótese do Passeio Aleatório é a seguinte:

• Mudanças polı́ticas ⇒ mudanças em Ωt e, portanto, das


expectativas e no consumo.

90
Gratificaçāo Imediata
Gratificaçāo Imediata

• David Laibson (1997)


• Decisões de consumo sāo tomadas por agentes nāo-racionais.
• Literatura de Economia Comportamental

91
Evidência para os EUA

• Muitos consumidores se consideram tomadores imperfeitos de


decisāo.
• Pesquisa: 76% da populacāo americana afirmaram que nāo
poupavam o suficiente para a aposentadoria (metade do que
deveriam).
• No Brasil, pesquisa do SPC/Banco Central (internet) indicou que
59% nāo se preparam para a aposentadoria.(Fonte:
https://www.spcbrasil.org.br/pesquisas/pesquisa/6088)
• Desejo pela gratificaçāo imediata: começar a dieta ou academia na
segunda-feira, estudar para a prova na semana que vem....
• No curto prazo, pessoas se comportariam como se ”segunda” sempre
fosse a da próxima semana ⇒ poupança reduzida.

92
Uma ilustraçāo

1. O que você preferiria?


A. Uma barra de chocolate agora, ou
B. Duas barras de chocolate amanhā?
2. O que você preferiria?
A. Uma barra de chocolate em 100 dias, ou
B. Duas barras de chocolate em 101 dias?

93
Inconsistência Temporal

• Nos estudos, a maior parte das pessoas responde A na questāo 1, e


B na questāo 2.
• Daqui a 100 dias, quando ela for confrontada com a questāo 1
novamente, o desejo de ”gratificaçāo imediata” poderia induzi-la a
mudar a escolha.
• Estas escolhas ilustram o que chamamos inconsistência temporal

94
• Economia comportamental é uma linha ativa de pesquisa.
• David Laibson é uma das referências
• Uma forma de capturar a pressāo pela gratificaçāo imediata é
através de modelos com desconto hiperbólico.

95
Atividade em sala de aula

1. Analisamos o modelo de Fisher para o caso em que o consumidor


pode poupar ou tomar emprestado a uma taxa de juros r e para o
caso em que o consumidor pode poupar a essa taxa. Considere
agora o caso em que o consumidor pode poupar à taxa rs e tomar
empréstimos à taxa rb , onde rs < rb .
1.1 Qual é a restrição orçamentária do consumidor no caso em que ele
consome menos do que sua renda no primeiro perı́odo? Responda
em forma de equação.
1.2 Qual é a restrição orçamentária do consumidor no caso em que ele
consome mais do que sua renda no primeiro perı́odo? Responda em
forma de equação.
1.3 Em um único gráfico, mostre as duas restrições orçamentárias das
partes 1.1 e 1.2. Identifique a área que representa a combinação de
consumo do primeiro perı́odo e do segundo perı́odo que o
consumidor pode escolher.
1.4 Agora adicione ao seu gráfico as curvas de indiferença do
consumidor. Mostre três resultados possı́veis: um em que o
consumidor economiza, outro em que ele toma emprestado e outro
96
em que ele não poupa nem toma emprestado.

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