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FACULDADE DE

ECONOMIA
HUAMBO
UNIVERSIDADE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

MACROECONOMIA I

TEMA: 4 – TEORIAS DE CONSUMO

INTRODUÇÃO
O consumo representa uma variável fundamental para os formuladores de política económica,
pois, é o maior componente PIB. Ao ser a maior parcela do PIB, seu desempenho (consumo),
determina o comportamento da economia tanto no longo quanto no curto prazo (Mankiw,
2009).

No entender de Mankiw (2009, p. 381) “a decisão em relação ao consumo é crucial para análise
de longo prazo, por causa do seu papel no crescimento econômico”. Isto é, as decisões das
famílias em relação ao consumo são decisivas na determinação do crescimento da economia,
uma vez que, quando se decide sobre a parcela do rendimento que será consumido, as famílias
estarão a determinar o nível de poupança interna privada, que é a fonte do financiamento do
investimento a par da poupança pública e externa.

Num país, as famílias decidem sobre a proporção do seu rendimento a consumir e a poupar. A
parcela poupada é fundamental na determinação do crescimento económico, uma vez que, é
utilizada para financiar novos investimentos na economia o que por sua vez, se traduz no
aumento da produção de bens e serviços no país, conforme estudado no modelo de Solow.

Solow no seu modelo “[…] mostra que a taxa de poupança é um determinante fundamental para
o estoque de capital do estado estacionário e, consequentemente para o nível de prosperidade
da economia” (Mankiw, 2009, p. 381).

Em relação ao curto prazo, “a decisão sobre o consumo é crucial […], em razão de seu papel
na determinação da demanda agregada” (Mankiw, 2009, p. 381). Ou seja, o consumo determina
a procura agregada da economia, de tal modo que, seu entendimento é crucial para o
planeamento de políticas económicas que vise evitar os ciclos de curto prazo. Como no curto
prazo, o consumo das famílias determina a procura pelos bens e serviços da economia como
um todo, ou seja, procura agregada, suas variações afectam o produto e o emprego na economia.
1
Destarte, a dinâmica do consumo nos permite entender tanto os ciclos económicos de curto
prazo como o crescimento económico de longo prazo.

Despesas de consumo

Entende-se por despesas de consumo, a compra dos bens e serviços pelas famílias com vista a
satisfazer as necessidades. Estas despesas são divididas em três categorias: bens não duráveis,
bens duráveis e serviços (Mankiw, 2009).

1º Bens de consumo não duradouros: São os que se supõe serem imediatamente utilizados ou
que serão destruídos durante a sua utilização. Em outras palavras, os bens não duráveis são
aqueles que duram somente um curto intervalo de tempo. Estes incluem:

a. Alimentação;
b. Vestuário e calçado;
c. Combustíveis, energia e comunicações;
d. Outros.

2º Bens de consumo duradouros: Aqueles que podem ser utilizados repetidamente até ao seu
desgaste. Em outras palavras, os bens duráveis são aqueles que duram um longo período de
tempo. Estes incluem:

a. Veículos e motorizadas;
b. Equipamentos domésticos;
c. Outros.

3º Serviços: A categoria de serviços incluem o trabalhado realizado por indivíduos e por


empresas para os consumidores, como:

a. Cuidados médicos;
b. Educação;
c. Tempo de livre;
d. Outros.

Consumo, Rendimento e Poupança

O consumo, rendimento e poupança são variáveis estreitamente relacionadas. Mais


precisamente, a poupança pessoal, é a parte do rendimento disponível não consumido. Isto é;

𝑌𝑑 = 𝐶 + 𝑆 𝑆 = 𝑌𝑑 − 𝐶 1.1

2
Como demostram vários estudos económicos, o rendimento é o principal determinante do
consumo e da poupança. Nas economias, os ricos poupam mais do que os pobres, isto observa-
se tanto em valor absoluto, como em percentagem do rendimento. Os pobres são incapazes de
poupar alguma coisa, pelo contrário, “desaforram” desde que possam contrair dívidas ou
recorrer a poupanças anteriores. Em outras palavras, os pobres tendem a gastar mais do que
ganham, reduzindo a sua poupança acumulada ou aumentando o seu endividamento.

Para compreender como o consumo afecta o produto nacional, necessitamos de introduzir


alguns novos instrumentos. É necessário entender qual o montante adicional de consumo e
poupança induzido por cada unidade monetária (kz) adicional de rendimento. Esta relação é
demonstrada através:

a. Função consumo, que relaciona o consumo e o rendimento e;


b. Função poupança, que relaciona a poupança e o rendimento.

O Comportamento do Consumo nacional

O comportamento do consumo nacional é crucial para compreender tanto os ciclos económicos


de curto prazo, como o crescimento económico de longo prazo.

No curto prazo, o consumo é a principal componente da despesa agregada. Quando o consumo


se modifica acentuadamente é provável que a mudança afecte o produto e o emprego através
do impacto sobre a procura Agregada.

Lembrar que:

𝐴𝐷 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺 + 𝑋 − 𝑍 1.2

Se 𝐶 𝐴𝐷 Como em equilíbrio 𝐴𝐷 = 𝑌; se 𝐴𝐷 𝑌 µ

Além disso, o comportamento do consumo é crucial porque, o que não é consumido – isto é,
poupado – está disponível para se investir em novos bens de capital. O capital serve como motor
do crescimento económico de longo prazo. O comportamento do consumo e da poupança são
essenciais para compreender o crescimento económico e os ciclos económicos.

Lembrar que: 𝑌𝑑 = 𝐶 + 𝑆 𝑆 = 𝑌𝑑 − 𝐶; sendo que: 𝑆 = 𝐼 1.3

TEORIAS DE CONSUMO

A função consumo tem sido desde a sua formulação, crucial para o desenvolvimento do
conhecimento na área de economia. Deste modo, e conforme estudaremos neste capítulo,

3
diversos autores dedicaram-se no estudo desta variável, de maneira a compreender melhor o
seu comportamento.

Para melhor compreender as teorias de consumo, a que ter em conta a seguinte sequência:

1º Em 1936, uma ruptura conceptual por parte de Keynes, depois da qual se tornou bastante
óbvio que a relação – chave que haveria de perdurar, por algum tempo, na análise
Macroeconómica seria a relação entre o rendimento e as despesas de consumo.

2º Desenvolvimento de informação estatística acerca do comportamento do consumidor e a


relação existente entre consumo, poupança e rendimento.

3º Desenvolvimento de teorias mais rigorosas e mais elaboradas que pudessem explicar os


factos. Nesta sequência três teorias foram apresentadas:

1. Duesenberry (1949) – a Teoria da Renda Relativa;


2. Ando, Brumberg e Modigliani (1950) – a Hipótese do Ciclo de Vida;
3. Milton Friedman (1957) – a Hipótese do Rendimento Permanente

4º Verificação estatística das teorias e inclusão de funções de consumo estatisticamente


estimadas nos modelos econométricos representativos da economia. Apresenta-se o modelo de
Robert Hall – anos 70 – modelo de passeio Aleatório do consumo.

1.1.A teoria de consumo de Keynes

A Função Consumo foi formalizada por Keynes em 1936, no seu livro a Teoria Geral do
Emprego, do Juro e da Moeda, onde procurou explicar com base na experiência própria e no
conhecimento da natureza humana o comportamento das famílias em relação ao consumo, o
que ficou conhecido como lei psicológica fundamental (Brue, 2006). Em outras palavras,
Keynes, em 1936, tornou analiticamente a função consumo no elemento principal da
determinação do rendimento, através da abordagem do rendimento na óptica da despesa.

A função consumo em Keynes, é função directa do rendimento, cuja expressão analítica é


seguinte:

𝐶𝑡 = a + bYt 1.4
𝑎>0 e 0<b<1
Onde
𝐶𝑡 = Consumo real das famílias
a = Consumo autónomo, que não depende do rendimento
b = Propensão marginal a consumir
4
Yt = Rendimento disponível corrente
O consumo depende do rendimento do período corrente, ou seja, da renda absoluta:
Ex. 𝑌 = 𝐶 + 𝑆
𝐶 = 𝑓(𝑌𝑡 ) 𝐶 = 𝑎 + 𝑏𝑌𝑡 ≈ 𝐶 = 𝑐̅ + 𝑐𝑌𝑡 1.5
Na sua abordagem, Keynes mostrou a relação entre o consumo e o rendimento das famílias,
conforme a equação 1.4 e denominou esta relação da Lei psicológica fundamental, a qual diz
que, o indivíduo aumenta o consumo quando seu rendimento aumenta, porém, o consumo não
aumenta na mesma proporção do aumento do rendimento.

A lei psicológica fundamental, da qual dependemos com grande confiança a priori


com base no nosso conhecimento da natureza humana e com base nos fatos
detalhados da experiência, é que os homens tendem, como regra e na média, a
aumentar seu consumo à medida que a renda aumenta, mas não tanto quanto o
aumento da renda (Brue, 2006, p. 422).
De acordo com a lei psicológica fundamental proposta por Keynes, o consumo e o rendimento
variam para o mesmo sentido, de maneira que, quando o rendimento de uma família aumenta o
consumo também aumenta, porém, o consumo não aumenta na mesma proporção do aumento
do rendimento, porque, as famílias alocam uma parcela do rendimento na poupança de modo a
fazer face as despesas não programadas.

Propensão Marginal a Consumir

A propensão marginal a consumir, isto é, o aumento do consumo por cada unidade de aumento
do rendimento das famílias, é maior que zero e menor que um.

0<b<1
ΔC ∂C
= ∂Y = b; 1.6
Δ𝑌𝑡

Propensão Média a Consumir


A proporção entre o consumo e o rendimento, isto é, a propensão média a consumir, diminui à
medida que aumenta o rendimento das famílias.
𝐶𝑡 𝑎
=𝑌 +𝑏 1.7
𝑌𝑡 𝑡

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As três propriedades da função consumo de Keynes podem ser verificadas a partir do gráfico a
seguir.

Gráfico 1 – Função consumo Keynesiana C = a + bYd


Consumo, C

PMgC
1
a
PMeC
1 PMeC
1

Renda, Y

Características da função Consumo de Keynes


 O consumo Médio é maior que a propensão marginal a consumir ao consumo
𝐶𝑡 Δ𝐶𝑡 𝐶𝑡
> ; Quando 𝑌 1.8
𝑌𝑡 Δ𝑌𝑡 𝑌𝑡

 A teoria de consumo de Keynes é de curto prazo, pois, o consumo depende do


rendimento do período corrente:
𝐶𝑡 = 𝑓(𝑌𝑡 ) 1.9
 No curto prazo: Pmg c > Pmg s – Isto acontece para fortificar o multiplicador.
 No longo prazo: Pmg c < Pmg s – Dá-se nestes moldes para promover o crescimento
económico.

Lembrar que o multiplicador é mais forte quando o denominador estiver próximo do zero.

Isto é;
1 1
1. = 10
1−𝑐 1−0,9
1 1
2. = 2,5
1−𝑐 1−0,6

Em suma, Keynes propôs simplesmente um modelo teórico, ou seja, Keynes não recorreu a
ferramentas estatísticas para testar empiricamente a sua função consumo, limitou-se em termos
teóricos. Na sua abordagem, Keynes destaca o rendimento disponível como o principal
determinante do consumo das famílias e que a taxa de juro não influencia as decisões de
consumo. Keynes inferiu também que, as famílias com menor rendimento o seu consumo médio
seria maior em relação às famílias com maior rendimento. Ele também argumenta que, as

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decisões das famílias em relação ao consumo são influenciadas por factores objectivos e
subjectivos (Mankiw, 2009).

1.2.Consumo e Escolha Intertemporal de Irving Fisher

O modelo básico do comportamento do consumidor é percebido como um conflito entre os


anseios e as possibilidades dos consumidores, em outras palavras, os desejos dos consumidores
são restringidos pelos meios escassos disponíveis num determinado momento e pelas
alternativas de alocar o rendimento entre diferentes períodos de tempo.

Fisher desenvolveu este modelo em 1930 onde destaca que os consumidores possuem
preferências intertemporais dependentes de factores económicos como o rendimento e factores
pessoais (Renni, 2014). Dadas essas preferências, o modelo explica como os indivíduos
decidem consumir e poupar parte do seu rendimento a fim de não comprometerem o seu
consumo futuro e maximizar sua satisfação em todos os períodos da sua vida.

O modelo parte das seguintes hipóteses básicas:

1. “O consumidor possui preferências a respeito da quantidade de bens que irá consumir


ao longo de sua vida” (Oreiro, 1999, p. 125). A partir desta hipótese deduz-se a seguinte
função de utilidade:

U = U(C0 , … + Ct , … + CT ) 1.10

De acordo com esta função, a utilidade (U) do consumidor é proporcionada pelo seu consumo
de toda a vida, de maneira que, o consumidor procura maximizar esta satisfação ao longo do
tempo.

2. O indivíduo consome tudo que ele ganha ao longo da vida e não tem intenções de deixar
herança. Em outras palavras, não existe a possibilidade do indivíduo receber nem deixar
herança (Branson, 2001).
3. O consumidor pode beneficiar de um consumo maior num determinado período, mesmo
que o seu rendimento seja menor, porque existe possibilidade do consumidor contrair
empréstimo, assim como pode preferir conceder empréstimo e ter um consumo menor no
primeiro período (Branson, 2001).

No caso em que o rendimento é maior, o consumidor pode conceder empréstimo e ganhar juros,
o que possibilita ter um maior nível de consumo no período seguinte.

𝑆1 = 𝑌1 − 𝐶1 ≡ Dinheiro emprestado no período 0

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Neste modelo, Fisher argumenta que o consumidor ao escolher entre consumir e poupar
enfrenta restrições no seu rendimento (Mankiw, 2009).

A restrição orçamentária surge na medida em que existe necessidades ilimitadas a serem


satisfeitas num determinado período e o desejo de tentar manter um padrão de consumo que
maximize a satisfação ao longo do tempo de vida.

Para Fisher, uma família ao decidir quanto do rendimento disponível consumir e quanto poupar
para o consumo futuro, enfrenta um trade-off entre o consumo e a poupança.

A equação matemática a seguir expressa as decisões das famílias em relação ao consumo


presente e futuro. Na primeira equação, Y1 e C1 representam o rendimento e consumo do
individuo na juventude, já na segunda equação, Y2 e C2 representam o rendimento e consumo
quando velho, por sua vez, S1 representa a poupança do primeiro período. Assim a equação é
dada por:

S1 = Y1 − C1 , 1.1 C2 = (1 + r). S1 + Y2 1.11

Na primeira equação vemos que a poupança do primeiro período resulta da diferença entre o
rendimento e o consumo do mesmo período. A segunda equação mostra que o consumo do
segundo período é igual ao somatório do rendimento do período seguinte e dos juros ganhos
com aplicação do capital no primeiro período, onde, r representa a taxa de juro. Ao agruparmos
as duas equações temos:

C2 = (1 + r). (Y1 − C1 ) + Y2 Isto nos dá; 1.12


C2 +C1 Y1 +Y2
= 1.13
(1+r) (1+r)

Na equação 1.13 vemos que, o consumo do segundo período adicionado do consumo do


primeiro período descontado pelo factor (1 + r) tem que ser igual ao rendimento do primeiro e
do segundo período também descontado pelo factor (1 + r). Esta equação denomina-se
restrição orçamentária. Em termos gráficos, a restrição orçamentária do consumidor é
representada conforme a figura a seguir.

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Gráfico 2 – Restrição Orçamentária do consumidor

C2

B
I2 A
Y2

I C
I1
2
YI 1 C1
Fonte: Lopes & Vasconcellos,
I2 (2008)
2
Os pontos A, B e C na recta, ilustram
I as diferentes
I combinações do consumidor. No ponto A,
o consumidor utiliza tanto para1 o consumo do 2primeiro período quanto para o consumo do
I1 I
I2 I2
segundo período precisamente o montante1 exacto do seu rendimento, sem conceder nem
contrair empréstimo. Significa que, nos dois períodos, a taxa de juro é igual a zero. Já no ponto
I
B, o consumidor concede empréstimo,I1 ou seja, o1 consumidor poupa
I1 no primeiro período parte
do seu rendimento o que lhe permite aumentar o consumo no segundo período.

Neste caso, podemos dizer que a taxa de juro é maior que zero e é atraente para as famílias.

No ponto C, o consumidor tem um nível de consumo superior ao rendimento do primeiro


período, o que significa, que neste período o consumidor recorre a empréstimos para compensar
a diferença, uma vez que seu rendimento não o permite consumir tanto assim.

1.2.1. Preferências do consumidor

As preferências dos consumidores são representadas por curvas de indiferença que reflectem
diferentes combinações, das quais o consumidor se sente satisfeito ao escolher uma ou outra
opção, ou seja, numa curva de indiferença o consumidor obtém o mesmo nível de utilidade,
nesta curva o consumidor é indiferente em optar em qualquer dos pontos, pois, elas oferecem
mesma satisfação já que, encontram-se na mesma recta.

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Gráfico 3 – Preferências do Consumidor

Consumo futuro

I3
Y
I2
I2 Z I1

Consumo presente I2
I1 I2
I2 I2
Fonte: Adaptado de Dalbosco, Dalbosco, Paludo,
I2 & Foletto (2015).

Neste gráfico, o consumidor I1


I1 sente-se satisfeito em qualquer dos pontos de uma curva. Já a curva
I1 I1 das curvas I2 e I1 assim como, a curva I2
I3 proporciona maior nível de utilidade ao contrário
I1
proporciona maior utilidade ao consumidor em comparação com a curva I1, porque, ela é a mais
alta, assim como a curva I3 é a mais alta entre as três e proporciona maior satisfação ao
consumidor, pois, apresenta maior nível de consumo no primeiro e no segundo período, porque,
contém maiores quantidades de bens e serviços.

Deste modo, para um maior nível de satisfação, as curvas de indiferença mais altas são
preferíveis pelos consumidores, como é o caso da curva I3, ela será sempre preferível em relação
as curvas I1 e I2, pois, possui maiores quantidades de consumo e oferece maior nível de
satisfação ao consumidor tanto no primeiro quanto no segundo período.

A inclinação da curva de indiferença representa o nível de consumo que o consumidor está


disposto a sacrificar no primeiro período com vista a obter um maior nível do consumo no
segundo período. Conforme argumenta Lopes & Vasconcellos (2008, p. 345) “A inclinação da
curva de indiferença é dada pela taxa marginal de substituição entre o consumo nos períodos
1 e 2 e representa o quanto o consumidor está disposto a abrir mão do consumo no primeiro
período para poder consumir mais no segundo”.

1.2.2. Maximização da satisfação

Conforme vemos o gráfico abaixo que ilustra o óptimo do consumidor, este, maximiza a sua
satisfação no ponto em que a curva de indiferença é tangente a recta da restrição orçamentária.
Ou seja, o ponto de tangência da recta do orçamento e da curva de indiferença define a situação
de óptimo do consumidor no que respeita ao seu consumo intertemporal. “O consumidor
10
alcança o seu nível mais alto de satisfação ao escolher o ponto correspondente à restrição
orçamentária, que está na curva de indiferença mais alta. No ponto ótimo, a curva de indiferença
é tangencial à linha da restrição orçamentária” (Mankiw, 2009, p. 388).

O ponto A indica as quantidades de bens e serviços escolhidos pelo consumidor para maximizar
a sua satisfação nos dois períodos.

Gráfico 4 – Equilíbrio do Consumidor

Restrição
Consumo futuro

Orçamentária

A Ponto Ótimo

Consumo presente
Fonte: Dalbosco, Dalbosco, Paludo, & Foletto (2015).

1.2.3. Efeitos da variação do rendimento sobre o consumo

As variações do rendimento das famílias fazem variar o consumo. Se a variação do rendimento


em qualquer dos períodos for positiva, o consumo das famílias aumenta, ou seja, uma variação
positiva do rendimento provoca uma variação positiva do consumo. Porém, este aumento do
consumo não é igual para todos os bens, para bens normais, o aumento do rendimento aumenta
o consumo destes bens no primeiro e no segundo período.

O gráfico abaixo mostra como o aumento do rendimento tanto do primeiro período como do
segundo, desloca a recta da restrição orçamentária para direita e, permite que o consumidor
passe de uma curva de indiferença baixa para a curva mais alta. Conforme podemos constatar
no gráfico, com aumento do rendimento, o consumidor passa do ponto A, ao ponto B, o que
permiti ao consumidor aumentar tanto o consumo presente quanto futuro.

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Gráfico 5 – Efeito do aumento do rendimento sobre a Restrição Orçamentária

Consumo futuro
B

I
2
I
Consumo presente
Fonte: Dalbosco, Dalbosco, Paludo,2 & Foletto (2015)
I
1.2.4. Efeitos da variação da taxa de1 juro sobre o consumo
I
Tal como as variações do rendimento afectam o consumo, as variações da taxa de juro afectam
1
também as escolhas das famílias. As variações nas taxas de juros, levam o consumidor a poupar
ou a contrair empréstimos para financiar o seu consumo. Segundo Mankiw (2009, p. 389),
“existem dois casos a serem considerados: o caso em que o consumidor está inicialmente
poupando, e o caso em que o consumidor está inicialmente recorrendo a empréstimos”.

Como a taxa de juro é o preço pago pela poupança feita hoje pelo consumidor, uma alteração
na taxa de juro representa uma modificação do preço intertemporal do consumo.

Segundo Dalbosco, Dalbosco, Paludo, & Foletto (2015, p. 135), “[...] uma variação positiva na
taxa de juros faz com que as famílias sacrifiquem parte do consumo para destinar à poupança,
fazendo com que haja uma perspectiva de aumento no consumo no período futuro”.

Significa que o aumento da taxa de juro faz com que a riqueza líquida dos consumidores se vai
alterar e que o comportamento destes vai depender da sua situação de credor ou devedor no
mercado do crédito.

O gráfico abaixo mostra como as variações na taxa de juro afectam o consumo das famílias.
Vemos que, um aumento na taxa de juro diminui o consumo do período corrente, ou seja, é
mais rentável sacrificar consumo presente em prol de um maior nível de consumo futuro; deste
modo, as famílias optam em aplicar maiores parcelas do rendimento a fim de acumular mais
riqueza, o que se traduz no aumento do consumo futuro.

12
Gráfico 6 – Variações na taxa de juro

Consumo futuro B

I A
2

Consumo presente
I I
1 2Paludo, & Foletto (2015).
Fonte: Dalbosco, Dalbosco,

O efeito da variação da taxa de juro sobre o consumo não é directo como o efeito da variação
do rendimento sobre o consumo.
I Segundo Lopes & Vasconcellos (2008, p. 347) “se o
1
consumidor é um poupador, uma elevação na taxa de juros melhora sua situação,
proporcionando maior consumo no período 2”.

Para o consumidor a taxa de juro é o indicador que determina esta escolha intertemporal
conforme explica Rocha & Dias (2009), pois quanto maior for a taxa de juro, maior será a
proporção do rendimento que as famílias podem alocar em poupança de modo a render maiores
juros. Logo, o consumo futuro é determinado pelo consumo do período corrente, uma vez que,
quanto maior for o consumo do período corrente menor será o consumo futuro e vice-versa.

As escolhas de consumo ao longo do tempo são escolhas intertemporais, o consumidor busca


maximizar a sua utilidade em cada um dos períodos, isto é, o consumidor procura aumentar ou
manter o mesmo padrão do consumo ao longo do seu tempo de vida, porém, ao tentar maximizar
esta utilidade, as famílias enfrentam um trad-off, pois elas decidem entre o consumo corrente e
poupança, uma vez que, os meios (rendimento) são escassos. Para maximizar a utilidade a
família necessita de transferir o rendimento do período corrente para o período futuro. Essa
transferência de rendimento de um período para outro, é feita através da poupança.

1.3.Renda Relativa de James S. Duesenberry

Duesenberry desenvolveu a teoria de consumo em 1949 baseada na renda relativa onde procura
explicar a influência dos factores sociais e psicológicos no comportamento dos consumidores.

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O modelo de Duesenberry não parte de uma função utilidade, totalmente individual e
independente do consumo dos demais indivíduos (Branson, 2001).

Neste modelo, Duesenberry afirma que, o consumidor procura igualar o seu consumo com os
demais membros da sociedade em que está inserido, ao contrário dos demais modelos em que
o consumidor possui uma função utilidade individual de acordo com a sua capacidade (Branson,
2001). Esta teoria assenta em duas hipóteses básicas:

A hipótese um “[…] consiste, basicamente, em assumir que os consumidores estão mais


preocupados com o seu consumo relativo à restante população, do que com o nível absoluto do
mesmo” (Branson, 2001, p. 380). Em outras palavras, os indivíduos estão preocupados, não
com o valor absoluto do rendimento, mas sim com a sua posição relativa na distribuição do
rendimento global da economia em que se encontram inseridos.

A partir desta hipótese, Duesenberry propôs a seguinte função utilidade:


C C C
𝑈 = 𝑈 (R0 , ⋯ Rt , ⋯ RT ) 1.7
0 t T

Onde os R são a média ponderada do consumo da restante população.


A função utilidade acima significa que, o indivíduo aumenta a sua utilidade caso o seu consumo
aumente ao consumo médio da população (Branson, 2001). Em outras palavras, o consumidor
sente-se satisfeito quando o seu consumo médio se aproxima do consumo dos demais
indivíduos da sociedade em que está inserido.

Na hipótese número dois “[...] Duesenberry admite que o consumo presente não é apenas,
influenciado pelos níveis absolutos e relativos do rendimento, mas também pelos níveis de
consumo atingidos no período anterior” (Branson, 2001, p. 381). Ou seja, Duesenberry fala da
influência que o nível de consumo atingido no passado exerce sobre o consumo corrente.

O consumo de uma família além de ser determinado pelo rendimento corrente, também é
determinado pelo rendimento que a família obteve no passado.

.
Nesta teoria, Duesenberry, afirma que o consumo não muda com o tempo, pois, quando o
rendimento corrente diminui, as famílias usam suas poupanças para manter o seu padrão de
consumo. Em outras palavras, as famílias não fazem cortes imediatos no consumo, mesmo em
fazes de recessão, antes porém, usam a sua riqueza acumulada nos anos anteriores. Isto acontece
porque, há indivíduos que estão sempre a comparar-se com os outros que têm um nível de vida
mais alto, mesmo possuindo níveis baixo de rendimento.
14
De acordo com as duas hipóteses apresentadas, tem-se a seguinte função consumo para esta
teoria:

𝐶𝑡 = 𝑓(𝑌𝑡 ; 𝑌𝑡−𝑛 ) 1.14

 Análise de Curto Prazo


𝐶𝑡 = 𝑓(𝑌𝑡 ; 𝑌𝑡−𝑛 ) 𝐶𝑡 = 𝑎̂ + 𝑏̂0 𝑌𝑡 + 𝑏̂1 𝑌𝑡−𝑛 1.15
𝜕𝐶 𝐶𝑡 𝑎̂ 𝑏1 𝑌𝑡−𝑛
𝑃𝑚𝑔 = 𝜕𝑌 = 𝑏𝑜 ; 𝑃𝑀𝐶 = 𝐶𝑚𝑐 = = 𝑌 + 𝑏0 + 1.16
𝑡 𝑌𝑡 𝑡 𝑌𝑡

Logo: 𝑃𝑀𝐶 > 𝑃𝑚𝑔

 Análise de Longo Prazo


𝐶𝑡 = 𝑓(𝑌𝑡 ; 𝑌𝑡−𝑛 ) 𝐶𝑡 = 𝑏̂0 𝑌𝑡 + 𝑏̂1 𝑌𝑡−𝑛 1.17

Como no longo prazo 𝑌𝑡 = 𝑌𝑡−𝑛 ; então:

𝐶𝑡 = 𝑏̂0 𝑌𝑡 + 𝑏̂1 𝑌𝑡 𝐶𝑡 = (𝑏̂0 + 𝑏̂1 )𝑌𝑡 1.18

Consumo de curto
prazo

Consumo a curto prazo

 A função consumo de curto prazo tem intercepto


 A função consumo de longo prazo não intercepto, parte da origem.

A principal conclusão que podemos encontrar na teoria de Duesenberry é que, as famílias são
persistentes nos seus hábitos de consumo, ou seja, elas procuram manter o seu padrão de
consumo mesmo na época em que seu rendimento esteja a decrescer.

A outra conclusão interessante nesta teoria é de que, a convivência com outras pessoas
influencia as decisões das famílias sobre o consumo, isto é, o relacionamento entre uma família
com os demais membros da sociedade, leva a adquirir bens não planificados, por causa da
influência do meio em que a família se encontra, o que ficou denominado de efeito

15
demonstração. Ou seja, mesmo que o rendimento não permite ter um determinado padrão de
vida, como forma de se exibir aos demais, a família gasta mais do que possui.

1.4. A hipótese do Ciclo de Vida de Ando Modigliani

A hipótese do ciclo de vida foi desenvolvida nos anos de 1950 e 1960 por Franco Modigliani,
Albert Ando e Richard Brumberg. Esta hipótese realça a ideia de que o rendimento do
consumidor se altera ao longo da sua vida de forma sistemática (previsível), permitindo a sua
transferência dos momentos no tempo em que é elevado para os momentos em que sabe que o
rendimento será mais baixo. À medida que ganha maturidade, experiência e qualificação
profissional, o trabalhador sabe que seu rendimento salarial aumenta.

A partir de determinada altura, esta tendência para, e por altura da reforma inverte-se mesmo.
Este padrão de evolução dos rendimentos do trabalho ao longo da vida de um agente económico
é designado de ciclo de vida.

Como existe uma tendência de evolução do rendimento e a necessidade de possuir um padrão


de consumo estável ao longo do tempo, conduz o individuo ou a família a realizar poupanças
nos momentos em que seu rendimento é mais elevado, de modo que, durante o período de
reforma o nível de vida a que se habituou não seja afectado.

Nesta perspectiva, o consumo depende não só do rendimento corrente, mas também do


rendimento esperado e também da riqueza. A maneira de se conseguir conciliar um fluxo
estável de consumo com um fluxo irregular de rendimento do trabalho, passa pela consideração
de mercado de capitais. Com efeito, os indivíduos podem colocar as suas poupanças no
mercado, podem igualmente contrair empréstimos quando a situação se inverte.

Ao admitir o recurso ao crédito, a taxa de juro passa a ter um papel significativo na análise,
uma vez que dela depende o valor actualizado dos rendimentos esperados ao longo da vida do
indivíduo.

Assim, a função consumo para a hipótese do ciclo de vida pode ser descrita da seguinte maneira:

𝐶𝑡 = 𝑏1 𝑌𝑡1 + 𝑏2 𝑌̅1𝑒 + 𝑏3 𝐴𝑡 1.19

16
Em termos gráficos, o rendimento e o consumo no ciclo de vida pode ser apresentado da
seguinte forma:

Riqueza acumulada

Consumo
Rendimento

Início da vida Idade da Tempo


Activa reforma

Fonte: Bebeiti, 2003

Conforme mostra o gráfico, se o consumidor procura “alisar” o consumo ao longo da sua vida,
poupará e acumulará riqueza na fase produtiva da sua vida para utilizar na fase de reforma de
maneira a manter o padrão de consumo estável. No caso ilustrado pela figura acima, o
consumidor não recebe dos seus antepassados nem lega as gerações futuras qualquer riqueza.

1.5.A hipótese do Rendimento Permanente

Baseada no modelo de escolha intertemporal de Irving Fisher, a hipótese do rendimento


permanente desenvolvida por Milton Friedman assume o pressuposto de que, o desejo das
famílias é de manter o mesmo padrão do consumo ao longo do tempo (Duarte, 2014). Ou seja,
como o rendimento das famílias apresenta variações ao longo do tempo, elas procuram evitar
grandes variações do consumo de período a período.

Tal como Fisher, Friedman argumenta que o consumo de uma família não depende
simplesmente do rendimento corrente, existe outros factores que influenciam o consumo das
famílias. Além disso, Friedman argumenta que, as famílias atravessam algumas variações
aleatórias e temporárias nos seus rendimentos de um período para outro, de tal maneira que,
evitar as variações no padrão do consumo, é o objectivo das famílias.

De acordo com a teoria do rendimento permanente, o rendimento total (Y) das famílias é dado
pelo somatório do rendimento permanente (Yp) e rendimento transitório (Yt).

17
O rendimento permanente é o rendimento médio que uma família espera ganhar ao longo da
vida, enquanto, o rendimento transitório mostra as flutuações que ocorrem em volta do
rendimento permanente (Renni, 2014).

Em termos algébrico, a determinação do rendimento de uma família na teoria do rendimento


permanente seria:

Y = 𝑌 𝑝 + Y𝑡

Desta feita, três questões se colocam de imediato:

1. O que considerar como rendimento permanente?


2. O que considerar como rendimento transitório?
3. Como medir o rendimento Permanente?

No que diz respeito a primeira questão, o rendimento permanente é aquele que tenha um
carácter duradouro, como: promoções no emprego, aumento de vencimento. Em outras
palavras, considera-se rendimento permanente o rendimento médio que uma família espera
ganhar ao longo da vida;

Já o rendimento transitório, é aquele que não possui um carácter duradouro, ou seja, a sua
probabilidade de ocorrência é praticamente nula, como: rendimento de jogos de lotaria, horas
extras. Em outras palavras, o rendimento transitório é aquele que ocorre por acaso.

Sobre a questão nº 3 da mensuração, este pode ser considerado o rendimento passado acrescido
de uma fracção da diferença de rendimento entre o ano em curso e o ano anterior.
P P
YtP = Yt−1 + j(Yt − Yt−1 ) 1.20
0<j<1

Em que, j é a diferença entre o rendimento efectivo no período corrente e a estimativa do


rendimento permanente do período anterior.

Dado que, o objectivo das famílias é a maximização de utilidade, as decisões das famílias em
relação ao consumo são tomadas de acordo com o rendimento permanente e não de acordo com
o rendimento transitório. Pois, o rendimento permanente é o rendimento médio que as famílias
esperam ganhar ao longo da vida e o rendimento transitório as variações que ocorrem no
rendimento não constantemente.

Desta maneira, Friedman propôs a seguinte função de consumo:

C = 𝑎Y p 1.21
18
Em que,

Yp = corresponde ao rendimento permanente, isto é, o rendimento médio que as famílias


esperam ganhar ao longo da vida;

𝑎 = É uma fracção que mede a parcela do rendimento permanente que é consumida.

De acordo com a equação do consumo do Friedman, o consumo depende do rendimento


permanente e não do rendimento transitório (Froyen, 2009). Assim, qualquer variação no
rendimento transitório a família procurará saber se essa variação é permanente ou se é
temporária, se a variação for permanente, a família poderá ajustar o rendimento e manter o
padrão de consumo, caso a variação seja transitória, este rendimento será alocado na poupança.

Na hipótese do rendimento permanente, a propensão média a consumir depende da dimensão


entre rendimento permanente e rendimento disponível corrente.

Se o rendimento corrente disponível aumenta mais do que o rendimento permanente, a


propensão média a consumir diminui provisoriamente, já a redução provisória do rendimento
corrente disponível para um nível inferior do rendimento permanente aumenta provisoriamente
a propensão média a consumir (Mankiw, 2009).

Friedman estudou o rendimento das famílias, e notou que, famílias com rendimento permanente
mais elevado apresentam proporcionalmente um patamar de consumo mais elevado. Assim,
caso a variação no rendimento corrente tivesse origem no rendimento permanente, a propensão
média a consumir para todas as famílias seria a mesma. Porém, parte das variações do
rendimento, têm origem no rendimento transitório, portanto, famílias com elevado rendimento
transitório não apresentam um patamar de consumo mais elevado (Mankiw, 2009).

Em suma, o consumo não depende unicamente do rendimento disponível corrente e sim, do


rendimento que as famílias esperam ganhar por toda vida, ou seja, o rendimento permanente.
Conclui-se também que, o consumo reage fortemente às variações do rendimento permanente,
o que implica que, o rendimento transitório não influencia o consumo das famílias, pois, uma
flutuação não permanente no rendimento faz com que as famílias ajustem as suas poupanças e
o padrão de consumo manter inalterado.

19
1.6. Modelo Expectativas racionais e Passeio Aleatório do consumo de Roberto Hall

As teorias do ciclo de vida e do rendimento permanente estão hoje praticamente fundidas e são
aceites pela generalidade da comunidade académica. Em ambos os casos é possível sugerir que
as despesas de consumo dependem não só do rendimento corrente, mas também do rendimento
passado.

Um outro factor emerge como elemento determinante no comportamento das despesas de


consumo: o Rendimento esperado e, por via dele, as expectativas que os consumidores têm
sobre o valor futuro do seu rendimento.

A hipótese das expectativas racionais é uma extensão do modelo do rendimento permanente e


fundamenta-se na ideia de que, os consumidores preocupam-se com o futuro, de tal modo que,
suas decisões sobre o consumo dependem não só do rendimento disponível corrente, mas
também, do rendimento que eles esperam ganhar no futuro. Assume-se neste modelo, que os
agentes económicos são racionais e ao planear o consumo, levam em conta toda a informação
disponível com vista à formação das expectativas sobre o seu rendimento futuro (Mankiw,
2009).

Em ciências económicas, o primeiro a falar sobre as expectativas racionais, segundo Barros


(2001, como citado em Rocha & Dias, 2009) foi Robert Lucas em 1982, ao fazer uma crítica
aos modelos econométricos apresentados em 1973. “Lucas argumentava que uma modificação
na visão dos agentes sobre os futuros movimentos de uma variável relevante causaria mudanças
em suas regras de decisões, uma vez que a relação comportamental do modelo é derivada de
regras de decisão ótima dos agentes econômicos” (Rocha & Dias, 2009, p. 227).

De acordo com este argumento, os agentes económicos reúnem toda a informação sobre a
variável económica a ser prevista e com base nela, tomam decisões racionais. Em outras
palavras, as famílias reúnem toda a informação disponível e importante sobre o consumo, como,
os preços, o rendimento permanente, as taxas de juros, o impacto futuro das políticas públicas
sobre economia, entre outras, e tomam decisões sobre o consumo.

O consumidor busca um padrão de consumo que lhe permita maximizar a utilidade ao longo do
seu tempo de vida, para tal, o consumidor procura toda a informação sobre o comportamento
dos preços, o estado da economia, a influência que políticas económicas passadas exerceram
na economia e o impacto que se espera das políticas económicas propostas por governo.

20
O consumidor procura utilizar seus recursos disponíveis de forma inteligente para maximizar
sua utilidade por toda a sua vida, portanto, de modo que suas decisões sejam racionais, o
consumidor, precisa ter a sua disposição toda a informação sobre o valor de todas as variáveis,
como, seu rendimento corrente e futuro, o comportamento da inflação e os impactos futuros das
políticas económicas adoptadas por governo entre outras as variáveis que possam influenciar o
consumo.

Segundo Barros (2001, como citado em Rocha & Dias, 2009), as implicações das expectativas
racionais sobre o consumo abrangem não apenas as formulações de previsões, mas alcançam
também a análise do impacto das políticas públicas sobre a economia. Ou seja, a racionalidade
dos consumidores vai além de prever um padrão de consumo que lhes permita maximizar a
utilidade ao longo do seu tempo de vida, ao planificar seu consumo eles prevêem também os
efeitos que uma política pública poderá ter sobre a economia e como, esses efeitos poderão
influenciar as suas escolhas.

De acordo com esta hipótese, as famílias antecipam as alterações no rendimento e as


incorporam no rendimento permanente esperado, de tal forma que, as variações que ocorrem
no rendimento, não afectam o consumo, apenas variações inesperadas e permanentes do
rendimento afectam significativamente o consumo.

Nas expectativas racionais os consumidores levam em conta, todo e qualquer detalhe que possa
influenciar o seu consumo, eles consideram o comportamento do rendimento tanto corrente
quanto o rendimento futuro, o estado da economia, isto é, o comportamento dos preços, assim
como, os efeitos futuros das políticas económicas a adoptarem por Governo.

As decisões tomadas sob hipótese de expectativas racionais fazem com que, qualquer variação
numa das variáveis económicas não afecte o consumo das famílias, pois toda e qualquer
alteração nessas variáveis são já incorporadas no rendimento permanente, o rendimento que o
consumidor espera receber, somente afectará o consumo das famílias, as ocorrências
imprevistas.

1.7. Lei de Engel

Ernst Engel, estatístico alemão, um dos primeiros autores a fazer os primeiros testes empírico
sobre os padrões de despesa das famílias de rendimento baixo, Engel desenvolveu a teoria que
ficou conhecida por Lei de Engel e Curva de Engel (Duarte, 2014).

21
Em 1857 Engel publicou o seu artigo com o título, as Relações de Consumo-produção no Reino
de Saxônia (traduzido do Inglês), cujos objectivos desta publicação foram: “[…] abordar o
debate com Malthus’s, relativamente à conjetura de que a população aumenta mais rapidamente
do que os meios para a sua subsistência; procurar medir a qualidade de vida da população,
investigando os seus padrões de consumo” (Duarte, 2014, p. 6).

Thomas Malthus economista da escola clássica ficou conhecido com a publicação das obras An
essay on the principle of population (1798) e Principles of political economy, publicado em
1820. Na sua teoria da população, Malthus apontou a causa de muita pobreza e penúria entre as
classes mais baixas das distintas nações (Brue, 2006).

Malthus demonstrou a sua lei sobre a população onde ele argumentava que “[…] quando não
controlada, a população aumenta geometricamente; os meios de subsistência aumentam, na
melhor das hipóteses, apenas aritmeticamente” (Brue, 2006, p. 89).

Para Malthus, o Estado precisa criar medidas que visam controlar o crescimento da população,
pois, quando não são adoptadas medidas para conter o crescimento da população, ela aumenta
à taxa de 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128 e assim, sucessivamente, já os meios de sobrevivência
aumentam simplesmente à taxa de 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8. A teoria de Malthus sobre o crescimento
da população originou grandes debates e Engel foi um dos participantes neste debate de maneira
a contrariar as ideias de Malthus.

Devido a esta lei controvérsia sobre a população Ernst Engel participa no debate com objectivo
de refutar as ideias de Malthus.

Engel participou no debate e colocou em evidência a relação entre oferta e procura, para ele,
existe equilíbrio entre a procura e oferta, isto é, a quantidade de bens e serviços que as famílias
estão dispostas a comprar é igual a quantidade de bens e serviços que as empresas estão
dispostas a ofertar, logo, o crescimento da população se constituirá num problema caso inexista
esta relação de equilíbrio entre procura e oferta. Conforme afirma (Duarte, 2014, p. 7)

Engel [...] mostrou que existia uma relação de crescimento entre a procura e a oferta,
isto é, o crescimento da população só seria uma ameaça se o número e tipo de
produtos na economia crescessem fora do equilíbrio do crescimento da procura
pelos consumidores, ou seja se a oferta for inferior à procura, uma vez que Malthus
afirmava que não existia um limite quanto ao crescimento natural da população.
Ernst Engel estudou um grupo de famílias trabalhadoras da Bélgica e a partir deste estudo
demonstrou a existência da relação entre as despesas em alimentos e outros itens que faziam
parte do conjunto das despesas das famílias estudadas (Duarte, 2014).
22
De modo a alcançar o seu objectivo, Engel analisou em termos empíricos a relação entre
determinadas categorias das despesas e o total do consumo das famílias, o que deu origem a
curva de Engel (Duarte, 2014).

Neste estudo, Engel fez uma relação de nove tipos dos gastos das famílias em relação a três
tipos de categorias da população, onde ficou demonstrado que as despesas das famílias em
relação ao consumo estão estruturadas segundo uma ordem, ou seja, as famílias realizam suas
despesas de acordo com as necessidades e o aumento do rendimento, incentiva o consumo de
outros bens (Duarte, 2014).

Engel também demonstrou neste estudo que, a medida em que o rendimento de uma família
aumenta, a alimentação perde a importância e outros tipos de bens e serviços ganham maior
importância para as famílias, segundo afirma Duarte (2014, p. 7) “[...] Engel observou que as
famílias tendem a dirigir os seus consumos para outro tipo de bens quando se verifica um
aumento de rendimento, constatando que, quanto mais pobres as famílias, maior será a
proporção do seu rendimento dedicada à alimentação”.

A partir deste comportamento das famílias, pode-se dizer que, o consumo obedece uma
estrutura, ou seja, as despesas das famílias estão repartidas pelos diferentes grupos de bens de
consumo, de tal forma que, um conjunto de bens que não seja necessário para a família dada as
restrições do rendimento, não será consumido até que a situação financeira da família melhore.

Na realização deste estudo, uma das finalidades de Engel era determinar o bem-estar das
famílias mediante um estudo indutivo, dividido em duas partes: a classificação das despesas
das famílias em categorias/grupos, e análise desses grupos (Duarte, 2014).

As despesas das famílias foram divididas em duas categorias: bens básicos (bens que são da
primeira necessidade, sem os mesmos coloca em risco a sobrevivência do ser humano) e bens
de luxo ou supérfluos (tal como a sua designação, são bens que as famílias consomem após a
satisfação das necessidades básicas).

Em conclusão, Engel mostrou que as despesas das famílias estão estruturadas de acordo com
as necessidades e quanto menor for o rendimento de uma família, maior será a parte do
rendimento gasto em alimentação e menor será a proporção do rendimento gasto em lazer e
outros bens de luxos. Também, pode-se constatar nesta teoria que, a medida em que o
rendimento de uma família aumenta, diminui-se as despesas com a alimentação, e família passa
a consumir outros itens de acordo com a sua estrutura de consumo, conforme afirma Samuelson
& Nordhaus (2005, p. 446), “as famílias pobres gastam uma grande parte dos seus rendimentos
23
com as necessidades elementares: alimentação e habitação. Com o crescimento do rendimento,
aumenta despesa em muitos tipos de alimentos”. Engel também mostrou que enquanto existir
o equilíbrio entre a procura e oferta, o crescimento da população não seria um problema
conforme argumentou Malthus.

Em suma, as teorias acima apresentadas mostram o comportamento dos consumidores em


relação ao consumo, Keynes inferiu que o consumo depende do rendimento disponível corrente,
e a taxa de juro não exerce influência nas decisões das famílias em relação ao consumo. Porém,
as teorias que surgiram depois mostraram que além do rendimento disponível corrente, as
decisões das famílias em relação ao consumo, são influenciadas por outras variáveis, como a
taxa de juro, o rendimento permanente e a riqueza

Conforme visto na Lei de Engel, a importância do sector de serviços aumenta à medida que as
necessidades básicas são satisfeitas, pois, o consumo de serviços como divertimento (lazer)
exige uma maior fracção do rendimento das famílias.

OUTRAS ABORDAGENS

Um estudo feito em Angola, com o objectivo de avaliar a influência das taxas de juro e de
inflação no comportamento do consumo das famílias em Angola no período 2010-2017, seus
resultados comprovaram a teoria de consumo de Keynes, quando ao pressuposto de que a
propensão marginal a consumir é superior a zero e inferior a um, e que os países desenvolvidos
possuem maior poupança com uma propensão marginal a consumir próximo de 0,6 e os países
subdesenvolvidos possuem uma poupança baixa, com a propensão marginal a consumir
próximo de 0,9. Os resultados obtidos rejeitaram a teoria de Escolha Intertemporal para a
economia angolana, quando a conjectura que afirma que, as famílias se preocupam com o futuro
de maneira que elas sacrificam o consumo corrente como forma de prevenir o consumo futuro,
pois, os resultados evidenciaram a partir da propensão marginal a consumir, que enquanto não
se alcançar a utilidade máxima, as famílias consomem quase todo o rendimento. Quando ao
pressuposto de que, uma taxa de juro passiva elevada incentiva as famílias a pouparem e uma
taxa de juro passiva baixa desincentiva as famílias a pouparem os resultados corroboraram com
a teoria de Escolha Intertemporal de Fisher.

Os resultados corroboraram também com a teoria de Duesenberry, quanto a hipótese de que, as


famílias não fazem cortes imediatos no consumo mesmo quando o rendimento está a diminuir,
pois, constatou-se que, mesmo com a elevada taxa de inflação observada no país, o consumo
das famílias continuou a crescer.
24
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