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Disciplina: Prática de ensino e estágio supervisionado em processos

educacionais

Aula 4: Gestão da instituição educativa III – desafios da rotina


escolar

Apresentação
Você sabe qual é a importância do pedagogo na função gestora?

Ele é o sujeito que planeja e organiza o trabalho na escola. Ao analisarmos seu papel
de gestor sob uma perspectiva crítica e suas atribuições, considerando as qualidades
democráticas de que necessita, certamente, identificaremos as ações capazes de
fazer da escola um espaço de participação de todos.

Nesta aula, propomos, então, que investigue as seguintes questões:

Quais são os limites e as possibilidades dos envolvidos no cotidiano escolar?


Qual é a função do gestor na escola?
Quais são os desafios impostos a ele pela gestão?

A ideia é que o conteúdo o ajude a responder essas perguntas. Bons estudos!

Objetivos
Explicar a atuação do pedagogo na função gestora;
Analisar criticamente o papel do gestor em relação a suas atribuições;
Descrever os limites e as possibilidades dos atores no cotidiano escolar.
Mudanças na função gestora e na
atuação do pedagogo
Para que você possa compreender melhor a atuação do pedagogo na função
gestora, é importante fazer uma breve retrospectiva histórica do cenário em
que atua: a escola.

A instituição escolar passou por inúmeras transformações ao longo do tempo.

Na Idade Média (séculos V-XV), ainda não existia nenhuma relação entre
educação e trabalho. Já na Revolução Industrial (século XVIII), foi adotado
um vínculo mais direto entre escola e indústria, em que o padrão de ensino se
voltava para a qualificação dos operários.

Longe do modelo ideal de educação, a administração escolar era


extremamente burocrática e sem nenhuma articulação com o ensino.

Com as inovações tecnológicas e a globalização, mais uma


vez, surgiu a necessidade de modificar todo o cenário

escolar e seus atores. Logo, o aluno deixou de ser visto

como o centro do processo educativo, e os professores


precisaram buscar novas metodologias de ensino.
 Fonte: Tono Balaguer / shutterstock

O que mudou no papel dos gestores


nessa nova perspectiva?
Para que tais transformações se concretizassem, de fato, na escola, a gestão – e não
mais a administração – tinha de encontrar uma nova posição dentro do contexto
educacional. Afinal, o modelo de organização baseado na administração escolar, com
objetivos empresariais, não respondia mais às demandas educativas. Assim, a partir
dos anos 1990, a discussão ficou em torno de um novo padrão de gestão escolar,
repensado de acordo com parâmetros da modernização do Estado e da sociedade.


Atenção

Essa intenção ficou mais evidente a partir do Plano Decenal de Educação para
Todos (1993) e, em nível nacional, tornou-se mais explícita na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei nº 9.394/1996
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l9394.htm> .
Mas tudo o que é novo oferece desafios. Por isso, muitos gestores escolares ainda
vivem tal adaptação e apresentam dificuldades no processo de gestão, o que é
compreensível.

Para que o resultado desse processo se torne positivo, é importante que o gestor
tenha ciência da relevância de um bom Projeto Político-Pedagógico (PPP) no
desenvolvimento de seu trabalho.

Por retratar a identidade da escola, o PPP é um documento que precisa ser construído
e reconstruído com a participação de todos.

Quanto a isso, Paro (1988, p. 228) afirma:


[...] a atual direção monocrática da escola precisa dar lugar a

uma gestão colegiada, na qual, além dos profissionais da


escola, estejam diretamente presentes alunos e pais, ou seja,
aqueles que estão [...] interessados em seu bom

funcionamento.

A seguir, vamos conhecer melhor o ambiente da escola.


Leitura

Para se aprofundar no estudo das questões históricas da gestão educacional,


entenda como se comportava O gestor escolar.
Personagens do cotidiano escolar
Acompanhe, agora, as histórias de Marcelinho, que contextualizam a escola:

Representando os colegas.

Representando parte do corpo docente.


Representando professores.

Representando colegas.
Representando responsáveis.

E agora, todos os agentes da gestão democrática.

Como você percebeu, os personagens caracterizam situações do cotidiano da escola.


Um exercício interessante é identificar o papel de cada um deles nesse espaço,
considerando a gestão democrática. Vamos à análise:

Alunos

Participam da discussão do PPP da escola.


Professores

Participam desse debate e incluem os alunos nele.

Pessoas da comunidade

Também participam de tal processo.

Responsáveis

Conscientes de seu papel junto aos demais sujeitos que contribuem para pensar
no PPP da escola.

A gestão escolar tem como pressuposto a


participação, que caracteriza seu caráter democrático,
e indica o caminho para construir uma escola e uma
sociedade melhor.

Gestão democrática
Diante do que estudamos até o momento, você já consegue responder as questões
propostas na apresentação da aula?

Vamos relembrá-las:

Quais são os limites e as possibilidades dos envolvidos no cotidiano escolar?

Qual é a função do gestor na escola?


3

Quais são os desafios impostos a ele pela gestão?


Saiba mais

Para melhor identificar o papel do gestor no cenário escolar, sob uma perspectiva
de educação democrática, assista ao vídeo A função do Gestor
<http://www.youtube.com/watch?v=i_6U5pVJ30Y> .

Aqui, discute-se sobre o papel do gestor em relação a suas atribuições, levando em


consideração as qualidades democráticas de que ele precisa. Além disso, o vídeo
destaca que a função desse gestor democrático deve estar vinculada,
necessariamente, ao PPP da escola.

Gadotti (1999, p. 57) reforça a importância de uma gestão democrática ao afirmar


que:


[...] a participação e a democratização num sistema público
de ensino são [o modo] mais prático de formação para a
cidadania.
Este é um dos principais objetivos da educação: preparar o sujeito para ser capaz de
tomar decisões importantes e colaborar, de alguma forma, para o desenvolvimento da
sociedade.

Para que isso seja possível, os processos de gestão educacional pressupõem a ação
ampla e continuada, que envolve múltiplas dimensões – tanto técnicas quanto
políticas – e que só se efetiva, de fato, quando estas são articuladas entre si.

Logo, as transformações no papel do gestor requerem


mudanças de comportamento, de atitudes e de
pensamentos.

Papel do gestor
O modelo de gestão com princípios democráticos apresenta vários desafios que não
estão presentes naquele centrado no desempenho fragmentado das funções
escolares.

Nesse antigo modelo, os atores do cotidiano da escola tinham as seguintes


responsabilidades:

Diretor

Cuidado com a parte burocrática

Supervisor

Monitoramento do trabalho dos professores

Docentes

Zelo pelos assuntos relacionados à sala de aula


A partir do momento em que pensamos em uma escola organizada não só pelo
gestor, mas por uma equipe gestora, surgem conflitos que emergem de opiniões
divergentes.Esse é o maior desafio dos gestores, que precisam ter jogo de cintura
para mediar situações complexas, e manter um clima agradável e produtivo dentro
do ambiente escolar.

No entanto, é o trabalho conjunto entre diretor, coordenador pedagógico e supervisor


de ensino que assegura o bom andamento da escola e da aprendizagem. A principal
tarefa do supervisor é cuidar da formação dos gestores, oferecendo informações e
reflexões para que possam exercer bem suas funções, identificando demandas da
escola.


Dica

Na equipe gestora, cada personagem tem um papel e uma obrigação. Mas, como
três pontos que não estão dispostos em linha reta, esses atores precisam formar
um único plano, equilibrado e seguro, a fim de garantir a estrutura pedagógica
da escola e da rede de ensino, bem como a aprendizagem de todos os alunos.

Papel da equipe de gestão


Listamos, a seguir, as responsabilidades de cada membro da equipe gestora
(REVISTA NOVA ESCOLA, 2010):

Diretor

Responde legal, judicial e pedagogicamente pela escola;


Assegura, acompanha e controla os materiais e os recursos financeiros da
escola;
Articula o relacionamento com a comunidade interna e externa da escola;
Colabora para as decisões da rede e concretiza as políticas públicas na
escola;
Lidera a elaboração e revisão do PPP;
Garante as condições para o cumprimento do PPP;
Assegura e acompanha os momentos de planejamento e estudo da equipe;
Cuida do desenvolvimento dos profissionais;
Levanta, analisa e acompanha o desempenho dos alunos;
Desenvolve projetos institucionais em parceria com os coordenadores e a
equipe;
Articula a equipe para o planejamento e a realização das reuniões de pais;
Elabora o cronograma e realiza reuniões regulares com os diferentes
segmentos da escola;
Orienta a organização do espaço e assegura a exposição das produções dos
alunos;
Garante o acesso ao acervo da escola.

Coordenador pedagógico

Coordena os momentos de formação em serviço dos professores –


formação continuada;
Participa junto com os educadores do planejamento das atividades e
acompanha sua realização;
Observa as aulas dos docentes para ajudá-los no desenvolvimento das
atividades;
Realiza com os professores as reuniões de pais;
Colabora para a elaboração do PPP;
Cuida para que o PPP seja cumprido no dia a dia;
Acompanha e analisa junto com os educadores o desempenho dos alunos;
Realiza, organiza e mantém os registros do trabalho pedagógico;
Realiza reuniões regulares com o diretor para analisar as condições e o
processo de ensino e aprendizagem;
Organiza junto aos professores a exposição das produções dos alunos;
Analisa e divulga o acervo da escola.

Supervisor

Sistematiza as diretrizes curriculares da rede;


Coordena e acompanha a formação de coordenadores e diretores;
Acompanha, organiza e mantém registros da formação continuada na rede;
Realiza e levanta estudos e pesquisas;
Articula a troca de experiências entre os profissionais das escolas;
Acompanha e articula a execução dos PPPs das escolas com o Plano
Educacional da Secretaria;
Acompanha e auxilia o trabalho dos gestores e coordenadores;
Avalia o desempenho dos alunos e os indicadores de aprendizagem das
escolas;
Participa de comissões sindicantes;
Acompanha o cumprimento dos dias letivos.

Limites e possibilidades dos atores do


cotidiano escolar
De acordo com a LDB:


Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades
escolares públicas de Educação Básica que os integram
progressivos graus de autonomia pedagógica e

administrativa e de gestão financeira, observadas as normas


gerais de direito financeiro público.
Na condição de uma instituição social, cada escola desenvolve práticas exercidas por
atores que, em seu interior ou mesmo em seu entorno, desempenham funções
distintas. São eles:

Gestores

Professores

Alunos

Funcionários

Pais

Comunidade

Munida de autonomia pedagógica, a escola implementa seu PPP, sintonizado com a


política educacional e as normas do sistema de ensino. Assim, para não cair no vazio,
o processo de construção e implementação do PPP como instrumento de gestão
democrática não pode prescindir da participação ativa dos atores locais.


Exemplo

A comunidade escolar pode participar da gestão escolar por meio de ações que
considerem e se adaptem às especificidades de cada instituição e, também, a
sua cultura, manifestas nos ritos e nas práticas antes mencionadas, bem como
na origem destes.

Momento reflexão
Como vimos, os gestores vivem a todo o momento o desafio de ultrapassar limites, a
fim de conduzir uma prática democrática no contexto escolar.

Outros ainda experimentam uma fase de transição do modelo de organização,


baseado na administração escolar, para o modelo de gestão.

Antes de finalizar a aula, reflita sobre seu campo de estágio:

Observe as características da gestão escolar a partir desses aspectos


(prática de gestão democrática ou centralizadora).
Que concepções marcam uma organização e uma gestão a serviço da
educação de qualidade?

Em seguida, registre essas impressões em seu caderno de campo. Elas serão


fundamentais para a caracterização da equipe gestora no item 2 de seu relatório.
Atividade
1. Analise a tirinha a seguir:

Ela nos desperta à reflexão sobre uma importante relação entre as inovações
tecnológicas e o modelo de educação que prioriza o conhecimento. Diante dessa
expectativa de mudança, em todo o cenário escolar, o papel da gestão é
fundamental nesse processo.

Assim, no contexto da escola, que posição a gestão deve ocupar para que possa
atingir o objetivo final: uma educação de qualidade para todos?
2. (ENADE – Pedagogia – 2008)

A dicotomia entre professores e especialistas marcou, ao longo da história, as


discussões sobre a identidade do pedagogo. A partir dos anos 1990,
determinada perspectiva acerca dessa identidade foi fortalecida. Ela está nas
Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) do curso de Graduação em
Pedagogia/Licenciatura, promulgadas em 2006.

Qual destas afirmações expressa essa concepção?

a) A identidade do pedagogo afirma-se por sua condição de especialista.


b) A investigação educacional é tarefa das universidades, e sua aplicação é
papel dos pedagogos.
c) O pedagogo deve optar entre dedicar-se à docência das séries iniciais ou à
gestão educacional.
d) A docência é a base identitária do pedagogo, além da gestão escolar, de
sistemas e de programas não escolares.
e) O planejamento e a avaliação dos sistemas educacionais cabem aos
administradores, e a gestão escolar, aos pedagogos.

3. Muitos gestores escolares vivem dificuldades no processo de gestão


democrática, que, em sua maioria, advém de uma concepção ainda centrada no
modelo de organização baseado na administração escolar.

Assinale a opção que caracteriza um passo decisivo na mudança do gestor:

a) Ter ciência da relevância de um bom PPP para sua escola.


b) Valorizar o controle de recursos humanos, materiais e finanças na escola.
c) Priorizar a administração escolar pautada nas visões de planejar e
organizar.
d) Centralizar as decisões para acompanhar quaisquer irregularidades ou
desvios.
e) N.R.A.

Notas
O gestor escolar

Até bem pouco tempo atrás, não existia a terminologia gestor. A pessoa responsável
pela administração da escola era o diretor, que não tinha muita autonomia dentro de
sua função, porque era submisso a regras impostas por órgãos superiores, os quais
envolviam fatores políticos e econômicos. No entanto, dentro do âmbito escolar, o
próprio diretor se comportava de maneira autoritária, fazendo com que os
professores ficassem submissos a ele. Isso ocorria porque o [diretor], ao:

[...] defender na escola os interesses dominantes adotados pelo Estado, tende a


centralizar as decisões, com receio de que o controle lhe escape das mãos e acabe
por ser culpabilizado por qualquer irregularidade ou desvio das normas emanadas dos
escalões superiores (PARO, 1988, p. 227).

Essa situação não permitia quase nenhum envolvimento da comunidade escolar nos
assuntos relacionados à educação de seus filhos.

A escola era comparada a uma empresa. As regras deveriam ser estritamente


seguidas, independentemente de o resultado final ser positivo ou não. Não eram
levadas em consideração as necessidades específicas de cada instituição escolar. De
acordo com Lück (2007, p. 33):

A gestão educacional é uma expressão que ganhou evidência na literatura e aceitação


no contexto educacional, sobretudo a partir da década de 1990, e vem-se
constituindo em um conceito comum num discurso de orientação das ações de
sistemas de ensino e de escolas.

[...]

Fonte:LEMOS, J. A.; MEZNEK, I. Algumas reflexões sobre o trabalho do gestor


escolar. Cadernos da Pedagogia, São Carlos, ano 5, v. 5, n. 9, p. 29-39, jan./jun.
2011.

Gestão educacional

No entendimento de Lück (2006, p. 35):

“[...] gestão educacional corresponde ao processo de gerir a dinâmica do sistema de


ensino como um todo e de coordenação das escolas em específico, afinado com as
diretrizes e políticas educacionais públicas para implementação dos [...] projetos
pedagógicos das escolas, compromissados com os princípios e com métodos que
organizem e criem condições para um ambiente educacional autônomo (soluções
próprias no âmbito de suas competências), de participação e compartilhamento
(tomada conjunta de decisões e efetivação de resultados), autocontrole
(acompanhamento e avaliação com retorno de informações) e transparência
(demonstração pública de seus processos e resultados)”.

Autonomia pedagógica

Conjunto de possibilidades e de limites ancorados na lei, que envolve os aspectos


pedagógico, administrativo e financeiro, para tonar válido o processo participativo da
comunidade escolar.

Referências

GADOTTI, M. Escola cidadã. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1999.

LÜCK, H. Gestão educacional – uma questão paradigmática. Petrópolis: Vozes,


2006.

MAIA, B. P. Os desafios e as surpresas na construção coletiva do Projeto


Político-Pedagógico. Curitiba: Intersaberes, 2013.

PARO, V. H. et al. Escola de tempo integral: desafio para o ensino público. São
Paulo: Cortez, 1988.

REVISTA NOVA ESCOLA. Gestão escolar, n. 6, fev./mar. 2010.

URBANETZ, S. T. Orientação e supervisão escolar: caminhos e perspectivas.


Curitiba: Intersaberes, 2013.

Próximos Passos

Formação continuada dos profissionais da Educação Básica;


Dimensões do aperfeiçoamento técnico, pedagógico, ético e político do
profissional docente;
Roteiros de observação.

Explore mais

Sugestão de leitura: Parem de preparar para o trabalho – reflexões acerca


dos efeitos do neoliberalismo sobre a gestão e o papel da Escola Básica.
<http://educacao.uniso.br/pseletivo/docs/PARO.pdf>
Sugestões de vídeo:

Os diretores de escola <https://www.youtube.com/watch?


v=j6IB4Ca5bfA> ;
A importância da gestão no ambiente escolar
<https://www.youtube.com/watch?v=wl1gDxFpFmE> .

Sugestão de filme:

THE EMPEROR’S club = O CLUBE do imperador. Direção: Michael Hoffman. Estados


Unidos: Beacon Communications, 2002. 104 min, son., color.

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