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Conteú do Metodologia e Prá tica de Ensino de

Histó ria e Geografia


Aula 05 – O tempo passa, o tempo voa
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1. Compreender a importância do conceito de Tempo para o aprendizado da


História;

2. Reconhecer as etapas do aprendizado do conceito de Tempo;

3. Identificar as duas dimensões do Tempo: a física e a histórico-social;

4. Demonstrar que o entendimento da dimensão física do tempo dará à


criança a percepção da ordem e sucessão, da duração e da simultaneidade
dos processos históricos;

5. Destacar nas durações o tempo dos acontecimentos, o tempo da


conjuntura e o tempo da estrutura como itens fundamentais;

6. Relacionar o trabalho com o tempo histórico-social - os contextos de


época - com o entendimento da História como uma construção social.

A noção de tempo: um processo...  

Ao chegar à escola, a criança traz o conceito espontâneo do tempo ligado à


sua própria vida e às suas vivências e experiências. Esse conceito
espontâneo tem como referências, fatos ou ações da vida das pessoas que
fazem parte do seu cotidiano. A noção do tempo, nessa fase, está sempre
baseada em algum fato de sua experiência concreta:

 A criança sabe que é domingo porque ela não vai à aula


 A criança acha que sua professora de trinta anos é muito “velha”,
porque trinta anos é um tempo que ela ainda não viveu.

O trabalho de construção da noção de tempo tem início muito antes, quando


ela ainda é bem pequena, um bebê. Esse estágio chama-se sensório-motor.
Nele, existe um tempo prático, ligado às ações e experiências imediatas da
criança. A noção temporal corresponde unicamente à experiência da duração
de um reflexo: mamar, engatinhar, chorar etc.

É uma espécie de egocentrismo prático como se a criança vivesse apenas


suas próprias ações, imobilizadas num presente contínuo.

No estágio seguinte, o intuitivo ou pré-operacional, as primeiras intuições


temporais são centradas sobre alguma relação privilegiada, ligada ao
egocentrismo. A criança se apoia, por exemplo, na percepção espacial para
calcular o tempo; é mais velho quem é mais alto; correu mais tempo, quem
foi mais longe.

A etapa operatória do tempo (a última) acontece quando ela inicia a


compreensão do conjunto das relações temporais: ordem e sucessão,
intervalos, duração e simultaneidade.

O trabalho nos cinco anos do ensino fundamental deve estar centrado


principalmente na passagem do tempo intuitivo ao operatório. Essa passagem
é lenta e gradual e requer uma ativação adequada, num ambiente rico de
estímulos. É preciso desafiar o raciocínio fazendo a criança vivenciar
experiências que a levem à construção das noções temporais. Agindo assim,
num processo tranquilo, ela passará a entender, sem qualquer dificuldade, as
duas dimensões do tempo: o tempo físico e o tempo histórico-social.

O tempo físico

A primeira dimensão do tempo, chamada de tempo físico, é aquela que passa


independente de nossa vontade. São as horas, os dias, as semanas, os meses,
os anos e assim por diante.

Entendê-lo, permite à criança localizar-se no tempo, situar fatos de sua vida


cotidiana e outros dados, construir e interpretar linhas de tempo, trabalhar
com as medidas de quantificação do tempo - dias, meses, anos, séculos.

Em outras palavras, vai permitir que ela perceba o passar do tempo e saiba
fazer sua quantificação e representação.

Para o domínio da noção de ordem e sucessão, é fundamental a relação


antes/depois. Quando a criança ouve uma história e depois relata o que
aconteceu acompanhando a sequência do que foi relatado, está fazendo uma
atividade de ordenação, isto é, está colocando os fatos numa sucessão
temporal.

Além das ordenações de histórias narradas, os fatos relativos à vida da


criança e de seus familiares se prestam de maneira valiosa para o trabalho
com a ordenação temporal, assim como os relativos às atividades escolares,
sobretudo nos anos iniciais.

Fazendo assim, passos decisivos estão sendo dados para poder, mais
adiante, situar-se num tempo mais remoto, localizando fatos históricos.

A ordem cíclica se torna importante para fazer a criança perceber que toda
contagem do tempo, baseada nos relógios, nos calendários, ou no ciclo das
estações do ano é uma repetição dos mesmos elementos numa sucessão
contínua e infinita de tempo. Com isso, a criança vai perceber a “chave” da
contagem do tempo: sucessão contínua.

Um outro elemento fundamental do tempo físico é a duração. A construção


dessa noção começa quando se pede á criança que ela perceba o início e o
fim de uma determinada ação ou período e avaliar o intervalo de tempo
contido entre um e outro.

O termo básico para o trabalho com essa noção é a palavra durante. O


trabalho com as durações abarca três níveis de abordagem:

1. A percepção das durações – o que você fez hoje durante o recreio?


2. A comparação das durações – quem demorou mais a lanchar, Pedro ou
João?
3. A quantificação das durações com medidas informais – palmas, sons
curtos e longos, ampulheta, e com medidas formais: horas, dias,
meses, anos, etc.

O trabalho com as durações é fundamental para a noção de periodização que


a criança vai necessitar para a compreensão da História/Geografia. A
terminologia com que vai lidar futuramente: fases, épocas, períodos, eras,
assim como caracterização dos respectivos contextos, vai exigir que o aluno
se situe com relação à curta duração (tempo dos fatos), à média duração
(tempo da conjuntura) e a longa duração (tempo da estrutura), sobre as
quais se assentam o processo histórico.

Por fim, o terceiro elemento do tempo físico é a simultaneidade. As


palavras-chaves para a verbalização da simultaneidade são:

Enquanto - O trabalho com a simultaneidade, além de fazer com que o aluno


caminhe para o domínio da noção operatória do tempo, prepara-o para a
noção de contemporaneidade, a qual nada mais é que a aplicação das médias
e longas durações.

Ao mesmo tempo que – São contemporâneos os fatos ou pessoas situados


num mesmo período histórico, mesmo que esse período dure séculos. A
noção de contemporaneidade é importante para a compreensão de contextos
de época.

Tempo histórico-social: caracterização das épocas

A segunda dimensão, o tempo histórico-social, vai iniciar a criança na análise


dos contextos de época, de modo que ela perceba o seu tempo como
diferente de outros tempos e épocas. Vai também permitir que ela
compreenda como o tempo é fruto da construção social, de determinantes
históricos presentes em cada época.

A noção de época, embora pareça referir-se apenas a um período de


tempo cronológico, é uma noção mais complexa, pelo fato de ser uma
noção histórica, e não simplesmente temporal.
A época histórica implica um condicionante temporal: ou seja, ela
pode variar com o tempo cronológico, mas não é determinada por
este.
Se tomarmos, por exemplo, duas sociedades como a indígena
brasileira e a portuguesa, no século XV, veremos que ambas viviam a
mesma época cronológica, mas estavam em épocas históricas
diferentes.

O conceito de época histórica envolve um conjunto de características

 Econômicas
 Técnicas
 Sociais
 Políticas
 Ideológicas
 Culturais

Essas características expressam a maneira de viver de um ou vários povos


ou grupos, num determinado momento. Se os indígenas brasileiros viviam de
uma maneira inteiramente diferente dos europeus, não podemos afirmar,
portanto, que estavam na mesma época histórica.

A caracterização de épocas é importante nos primeiros anos do Ensino


Fundamental porque, através dela, o aluno vai ter a possibilidade de
perceber as diferenças e semelhanças, permanências e mudanças no
decorrer do tempo. O corte no tempo para a análise de uma época permite
romper a abordagem meramente descritiva e factual da História.

A época histórica estudada nos primeiros anos do Ensino Fundamental


refere-se aos elementos como a moda, as formas de lazer, a alimentação, os
transportes, a música, as profissões e outros dados, do tempo da criança,
de seus pais, e de seus avós.

Nesse momento, o trabalho com a memória individual (relato de pessoas


mais velhas) é uma importante fonte de consulta. Nos anos seguintes, nos
quais o passado mais distante é o objeto de análise, estes mesmos
elementos e outros fatos irão referir-se ao Município e o Estado onde a
criança vive e estarão divididos por períodos: Colônia, Império e República.

Aí, sim, o contexto da história do Brasil, através do cotidiano dos grupos


sociais que ocuparam esses espaços, estará presente e, para isso, a memória
coletiva (documentos, relatos orais, escritos, objetos) será de fundamental
importância.

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