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de História
Material Teórico
Conceitos logísticos
Revisão Textual:
Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
Conceitos logísticos
• O tempo e a História
• O entedimento do tempo histórico na sala de aula
• A historiografia e o tempo histórico: um desdobramento
OBJETIVO DE APRENDIZADO
··Desdobrar as novas tendências da historiografia, suas
características e contribuições para a pesquisa e para o ensino
de história, apresentar e analisar fontes diversas, dentre elas:
mídia impressa, depoimentos orais, programas de rádio, músicas,
vídeos, fotografias e pinturas, discutir a transdisciplinaridade no
fazer histórico;
··Refletir sobre o conceito de história, historicizar a inclusão da
disciplina nas escolas e universidades brasileiras, analisar a relação
entre história, educação e cidadania;
··Contribuir para a formação acadêmica de profissionais das áreas de
Ciências Humanas, por meio de reflexões que proporcionem maior
aprofundamento em torno do estudo da história e do processo de
ensino e aprendizagem da mesma, oferecendo-lhe contato com as
discussões mais recentes dessa área;
··Proporcionar momentos de leitura – textual e audiovisual – e reflexão
sobre os temas que serão aqui discutidos, contribuindo com sua
formação continuada e trajetória profissional.
ORIENTAÇÕES
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) às nossas discussões sobre História, educação e cidadania!
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em
fóruns de discussão e realize as atividades de sistematização, as quais lhe ajudarão
a verificar o quanto absorveu do conteúdo, pois são questões objetivas que lhe
pedirão resoluções coerentes ao apresentado no material da respectiva unidade
para, então, prepará-lo(a) à realização das respectivas avaliações. Em se tratando
de atividades avaliativas, se houver dúvidas sobre a correta resposta, volte a
consultar as videoaulas e leituras indicadas para sanar tais incertezas.
Lembre-se de que você é responsável pelo seu processo de estudo. Por isso aproveite
ao máximo esta vivência digital!
UNIDADE Conceitos logísticos
Contextualização
Que relações tem a história com o tempo, com sua duração, com o tempo
natural e cíclico do clima e das estações? Que relações com o tempo vivido e
naturalmente registrado dos indivíduos e das sociedades? O que significa curta,
média e longa duração para a história? Como fazer uso da relação história/
tempo no ensino aprendizagem em sala de aula? Serão essas as questões que
abordaremos nesta unidade.
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O tempo e a História
Para os historiadores do contemporâneo, os seres humanos passaram do
Tempo dominante da natureza ao Tempo dominado pelo homem e depois ao
homem dominado pelo Tempo.1
Vamos começar esta unidade refletindo sobre a sentença acima e a relação que
a história tem com o tempo. Como observamos, o tempo foi ganhando outros
significados e poderes em seu processo histórico e hoje convivemos com todos os
conceitos de tempo. Raquel Glezer coloca, no artigo Tempo e História:
Para historiadores, tempo é tanto o elemento de articulação da/na
narrativa historiográfica como é vivência civilizacional e pessoal. Para
cada civilização e cultura, há uma noção de tempo, cíclico ou linear,
presentificado ou projetado para o futuro, estático ou dinâmico, lento
ou acelerado, forma de apreensão do real e do relacionamento do
indivíduo com o conjunto de seus semelhantes, ponto de partida para a
compreensão da relação Homem – Natureza e Homem – Sociedade na
perspectiva ocidental. (GLEZER, p. 23, 1992 )
Tempo, nos dias de hoje, é considerado moeda preciosa e frases como “ tempo
é dinheiro” viraram jargões metafóricos para o entendimento da relação do homem
com o tempo e, consequentemente, sobre o conceito discursivo do mesmo.
1 GLEZER, R. O tempo e os homens: dom, servidor e senhor. In: Contier, A. D.(org.) História em debate. São Paulo:
INFOUR/CNPq, 1992, p. 257-268. Disponível em: http://goo.gl/1mPddv ou http://goo.gl/igWG4r
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UNIDADE Conceitos logísticos
2 LE GOFF, Jacques, 1924 História e memória / Jacques Le Goff; tradução Bernardo Leitão ... [et al.] -- Campinas,
SP Editora da UNICAMP, 1990. p. 13
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Ele começa falando do tempo da natureza, prossegue com o tempo da
cultura, observa a construção de um tempo linear através da existência do tempo
cronológico, de acontecimentos que se repetem e de momentos de rompimento
e quebra. Toca por fim na conexão transdisciplinar da história com a filosofia e
da existência de tempos múltiplos e relativos, subjetivos e simbólicos, aspectos
renovados e muito interessantes da ciência histórica. Dentre os tópicos elencados,
chamamos a atenção para o tempo da memória, ponto relevante na engrenagem
constitutiva da tessitura histórica.
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UNIDADE Conceitos logísticos
Oração ao Tempo
Compositor: Caetano Veloso
És um senhor tão bonito O que usaremos pra isso
Quanto a cara do meu filho Fica guardado em sigilo
Tempo Tempo Tempo Tempo Tempo Tempo Tempo Tempo
Vou te fazer um pedido Apenas contigo e comigo
Tempo Tempo Tempo Tempo Tempo Tempo Tempo Tempo
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Podemos entender o mesmo como elemento de repetição, linearidade e
continuidade, como também um campo aberto enorme para a criação e para
o desenvolvimento da ideia de descontinuidade. Então, percebemos a relação
do tempo com o ritmo, com a impressão da repetição cotidiana, o tempo
cíclico e o tempo linear. O tempo da natureza e da cultura se entrelaçam e vão
combinando e recombinando histórias que fornecem identidades definidas que
espalham benefícios.
O tempo do trabalho
No ocidente europeu medieval, o dia de trabalho era definido pelas condições
naturais, o levantar e pôr do sol: uma unidade única para medir o dia de trabalho no
campo e o trabalho urbano, cujas divisões eram as horas religiosas, reminiscências
da Antiguidade Romana.
A atividade humana, dizendo melhor, o trabalho era demarcado pela luminosidade:
o tempo de trabalho era de uma economia determinada pelos ritmos agrários, sem
pressa, sem preocupação com exatidão, sem inquietudes sobre produtividade.
Segundo Le Goff, tal descrição corresponde a uma sociedade sóbria e pudica, sem
grandes apetites, pouco exigente, pouco capaz de esforços quantitativos. Podemos
considerar, da mesma forma, que, para o autor citado, o marco da transformação
foi a introdução do trabalho noturno: heresia urbana, interditada e punida com
pesadas multas. Mas, a divisão interna do dia de trabalho, lentamente, estava sendo
alterada, em evolução pouco notada: a hora “none” que corresponde às 14h foi
recuado para as 12h, introduzindo a pausa para uma refeição na oficina, e iniciando
um processo de subdivisão do dia de trabalho.
No final do século XIII, o conflito pelo horário de trabalho já estava firmemente
estabelecido, com o avanço do trabalho noturno, iniciando-se o questionamento
da noção de “dia laboral”.
Na crise do século XIV, a definição de “dia laboral” tornou-se mais eficiente:
inicialmente, os operários solicitaram sua ampliação, depois solicitaram aumento
salarial, com o argumento de que haviam aumentado os pesos e as dimensões dos
tecidos. Le Goff considera tais argumentações como expediente dos trabalhadores
têxteis para aliviar a crise, com a deterioração dos salários reais e a alta dos preços.
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A autorização do trabalho noturno foi dada por Felipe, o Belo. Por sua vez, os patrões
procuraram regulamentar rigorosamente o dia de trabalho, instituindo os “sinos de
trabalho”, torres com sinos especiais que regulavam o trabalho nas cidades têxteis,
delimitando o tempo dos tecelões, que era também o tempo dos novos mestres –
em uma conjuntura de crise, a ascensão social se tornara possível.
A introdução dos “sinos de trabalho” não ocorreu de forma pacífica. Em diversas
localidades, os trabalhadores se revoltaram contra eles. Entre o século XIV e início
do século XV a questão entre patrões e operários esteve centrada na duração do dia
a dia de trabalho, incorrendo em pesadas multas aqueles que desobodecessem aos
horários. A redução do dia de trabalho foi motivo da mesma forma que a criação da
diferença entre dia a dia laboral; a inserção de tempo de descanso no decorrer do dia
laboral, a admissão do tempo para o trabalho pessoal.
Devemos considerar que, nas comunas, o tempo marcado pelo “sino de trabalho”,
pelo “sino do mercado”, que assinalava o tempo urbano, diverso do tempo religioso,
servia simultaneamente para as atividades de defesa, administração, convocação
de reunião de conselho e juramentos. A vida urbana começava a ser lentamente
aprisionada pelo sistema cronológico – tempo do quotidiano, tempo de horas
certas, tempo do trabalho medido. As igrejas perderam o monopólio do controle do
tempo, sinal importante do início do processo de laicização.
Le Goff destaca com atenção especial o fato de que os “sinos de trabalho”, na realidade,
não traziam consigo qualquer inovação tecnológica e significavam uma nova relação
com o tempo, pois a separação entre tempo natural, tempo profissional e tempo
sobrenatural acabou desenvolvendo novas formas de pensamento, especialmente a
que possibilitou a separação da profissão da salvação. (GLEZER, 1992, p. 1)
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No estudo da História considera-se, principalmente, a dimensão do
tempo entendida como duração, a partir da identificação de mudanças e
de permanências no modo de vida das sociedades. São essas mudanças
que orientam a criação de periodizações, como, por exemplo, as clássicas
divisões da História do Brasil, que distinguem os períodos Colonial,
Imperial e República, tendo-se como referência, principalmente, o tipo de
regime político vigente em diferentes épocas.
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O uso de mapas com a turma, em sala de aula, é um método muito interessante
para o entendimento do tempo histórico. Vejamos a análise abaixo:
Fernand Braudel criou uma nova teoria para a História, na primeira metade
do século XX, que divide a mesma em três tempos diferentes: a curta duração, a
média duração e a longa duração. A curta duração é uma História que abrange,
mais ou menos, o tempo da vida de uma pessoa, os acontecimentos que ela pode
acompanhar pessoalmente. A média duração é como a História dos acontecimentos
políticos, econômicos, sociais etc., enfim, acontecimentos que normalmente
demoram mais acontecendo do que o tempo de vida de uma pessoa. Já a longa
duração seria, a princípio, quase que uma História Geográfica, coisa para milhares
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de anos, uma História que constataria as mudanças dos continentes, dos mares,
das montanhas – e costuma ser tão longa que a gente quase não se dá conta que o
planeta está passando por ela.
Braudel oferece uma metodologia para que a História disciplina possa alcançar
a totalidade da história objeto. Braudel afirma que a história, ao mesmo tempo,
lida com o tempo (as diferentes temporalidades) e com a sincronia (já que o tempo
longo é quase uma sincronia, uma vez que, na estrutura vemos abarcadas várias
unidades menores de tempo.
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Para Braudel, muito mais do que um espaço geográfico, o Mediterrâneo
é também um espaço cultural, que interfere na construção das civilizações que
historicamente viveram em suas margens. Em Braudel, se é verdade que o meio
determina o homem, também o é que o homem interage imprevisivelmente sobre
o meio, possibilitando um alto grau de dinamismo e de respostas culturais para as
questões do meio e do tempo.
3 GLEZER, Raquel. Tempo e História. Ciência e cultura volume. 54 número 2. São Paulo Oct./ Dec. 2002.
In: http://goo.gl/NDYWPf
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Vídeos
Além do Cosmos: O Tempo (Dublado) – Documentário National Geographic
https://goo.gl/dwN0Bl
Oração ao Tempo – Caetano Veloso
https://www.youtube.com/watch?v=Xcpf473RJ3E
Leitura
Portal MEC
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro051.pdf
Tempo e História
http://goo.gl/aitAJf
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Referências
B823p Brasil. Secretaria de educação Fundamental. Parâmetros curriculares
nacionais: história, geografia/ secretaria de Educação Fundamental. Brasília:
MEC/SEF, 1997.
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