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Metodologia do

Ensino de História
Material Teórico
A história e os objetos da cultura: literatura, música e aulas de campo

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dra. Jurema Mascarenhas Paes

Revisão Textual:
Profa. Ms. Jurema Mascarenhas Paes
A história e os objetos da cultura: literatura,
música e aulas de campo

• História e música
• História e literatura
• Aulas de campo

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Continuar a reflexão sobre as atuais tendências da historiografia, em
especial sobre a história do imaginário e a relação da história com a
música, com a literatura e com o patrimônio histórico;
· Apresentar e analisar fontes musicais e literárias;
· Desdobrar o processo de aulas de campo em museus, sítios
arqueológicos, monumentos históricos dentro da cidade;
· Contribuir para a formação acadêmica de profissionais das áreas de
ciências humanas, por meio de reflexões que proporcionem maior
aprofundamento em torno do estudo de história.

ORIENTAÇÕES
Nesta Unidade, faremos o estudo do imaginário e da história em suas
formas de representação através de fontes variadas como: música, literatura
e patrimônio histórico. Os principais objetivos aqui serão aprender a utilizar
as fontes musicais e a literatura em sala de aula e perceber como essas
fontes podem contribuir para a pesquisa e para o ensino em História.
Abordaremos também a importância das aulas de campo, como visitas a
museus, sítios arqueológicos e monumentos históricos dentro da cidade e
dos espaços urbanos. Nessa direção, também faremos uma incursão sobre
o conceito de patrimônio.
UNIDADE A história e os objetos da cultura: literatura, música e aulas de campo

Contextualização
Como usar a música ou a literatura em sala de aula para o ensino de
história? O que são aulas de campo? São esses os pontos que iremos desdobrar
nesta Unidade. Primeiro é muito importante entender a música e a literatura
como lugares de pensamento, como linguagens que possuem mecanismos e
metodologias próprias e, como tal, podem ser fontes muito ricas para a pesquisa
e para o ensino em sala de aula.

É uma jogada transdisciplinar fazer uso de uma linguagem de outro território


para trazer luz a uma outra disciplina. A partir da segunda metade do século
XX, paradigmas renovados adentraram a História possibilitando incursões
interdisciplinares com as ciências sociais, com a música, com a literatura, o
cinema, a economia, dentre outras disciplinas, enriquecendo as temáticas e as
abordagens históricas.

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A História e os objetos da cultura: música,
literatura e aulas de campo
Se você tiver uma boa ideia, é melhor fazer uma canção, já disse um
famoso compositor brasileiro; mas, além de ser veículo para uma boa
ideia, a canção (e a música popular como um todo) também ajuda a
pensar a sociedade e a história. A música não é apenas boa para ouvir,
mas também é boa para pensar.1

Diversificar recursos pedagógicos em sala de aula é enriquecedor para todas


as disciplinas. Para a História, é muito importante sobretudo para afastar a ideia
anacrônica de que a disciplina se resume à memorização de datas e fatos. Por
isso, faz-se necessário situar o aluno diante de outras formas de aprendizagens,
estimulando outros tempos e espaços, outras fontes e referências.

A historiografia contemporânea tem recorrido a fontes como a música, a


literatura, a fotografia, o cinema, fontes que são capazes de revelar o implícito, o
oculto na intenção de descortinar o passado.

A produção musical, como coloca a historiadora Maria Izilda Santos Matos2


, apresenta-se como um corpo documental particularmente instigante, já que
por muito tempo constituiu um dos poucos documentos existentes sobre certos
setores relegados ao silêncio, centrando-se na expressão de sentimentos e
abordando temáticas tão raras a outros registros. Trata-se de uma documentação
muito rica, com grande potencial para a revelação do cotidiano, das sensibilidades
e das paixões, como algo que todos os dias penetra pelos ouvidos e está na
boca de todos. A música possibilita outras reflexões, outras abordagens sobre os
acontecimentos e os processos históricos. Nessa direção Maria Izilda desdobra o
conceito super interessante de paisagens sonoras ao falar por exemplo da história
da cidade de São Paulo:
“Os territórios não são só caracterizados e identificados pelas imagens,
mas possuem polifonia e musicalidade, constituindo “paisagens sonoras”,
que se caracterizam por: sons fundamentais ( criados pelos elementos da
natureza - água, ventos - e também pelas máquinas, que se tornam hábitos
auditivos), sinais (sons destacados e ouvidos conscientemente como sinos,
apitos, sirenes, constituem-se em recursos de avisos acústicos, podendo
anunciar um acontecimento aprazível e/ou catastrófico) e marcas sonoras
(sons únicos ou que possuam determinadas qualidades, sendo significativo
ou notado pelos habitantes do lugar).”3

1 NAPOLITANO, Marcos. História e Música: História cultural da música popular. Belo Horizonte: Autêntica,
2005. p. 11.
2 MATOS, Maria Izilda Santos. A cidade, a noite e o cronista. São Paulo e Adoniran Barbosa. Bauru, SP,
EDUSC,2007. Capítulo 4. ( História e música: sensoriedades, sensibilidades e sonoridades.
3 MATOS, Maria Izilda Santos. A cidade, a noite e o cronista. São Paulo e Adoniran Barbosa. Bauru, SP,
EDUSC,2007. Capítulo 4. ( História e música: sensoriedades, sensibilidades e sonoridades. P. 36

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UNIDADE A história e os objetos da cultura: literatura, música e aulas de campo

As experiências com a música (para o compositor e ouvinte) são elementos


constitutivos de componentes entrecruzados, com determinações sociais,
econômicas, tecnológicas, da mídia e de equipamentos culturais.

A fonte musical oferta ao historiador uma série de novas abordagens e, para


o professor, um leque de opções e desdobramentos conceituais, narrativos,
analíticos de apreensão das tramas históricas. O professor pode interpretar uma
canção, exibir e analisar um documentário, fazendo do aprendizado um ato
transdisciplinar prazeroso.

Mas nem sempre foi assim, por muito tempo a música foi uma fonte
desconsiderada pela historiografia como legítima. Ela passou a ser utilizada na
segunda metade do século XX, a partir da escola dos Annales francesa e da
mudança de paradigmas na ciência.

Como diz o compositor Gilberto Gil na música Quanta:

ã da
ar te é irm
Sei que a
ciência
m Deus
m b a s fi lhas de u
A
fugaz
ento
um mom
Que faz n
to desfaz
o m e sm o momen
E n
ás do
v a g o D e us por tr
Esse
mundo
ás
s do detr
Por detrá

Sabe-se que, no princípio, historiadores que realizaram


trabalhos de pesquisa tendo a música como fonte fizeram
uso de pseudônimos para que não fossem desmerecidos
pelo meio acadêmico. Eles precisavam garantir uma aura de
seriedade frente aos colegas de trabalho, e a fonte musical
não era considerada suficientemente séria. O Francês Henri-
Irènèe Marrou utilizou o pseudônimo de Henri Davenson,
escreveu o Curso de introdução a canção popular francesa
– com exemplos musicais, letras de canções, análises
melódicas e de tonalidades. Escreveu também um tratado
sobre a música de santo Agostinho. Outro historiador
significativo que se escondeu em um pseudônimo foi o
Eric Hobsbawm, seu pseudônimo era Francis Newton, que
escreveu o livro História Social do Jazz.

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No prefácio do livro, nas primeiras edições, apresenta-se uma justificativa pelo
uso do pseudônimo:
Este livro foi publicado há quase trinta anos, sob o pseudônimo de Francis
Newton (baseado em Frankie Newton, o trompetista), com a intenção de
manter as obras do autor como historiador separadas de sua produção
como jornalista de Jazz.4

Mergulhando um pouco no conteúdo do livro, Hobsbawn desdobra:

O jazz pode ser dividido em fases; cerca de 1900-1917, quando se


tornou a linguagem da música popular negra em toda a América
do Norte, enquanto alguns dos seus aspectos (síncope e ragtime),
tornaram-se componentes permanentes de Tin Pan Alley; de 1917-
1929, quando o jazz estrito se expandiu muito pouco, mas evoluiu muito
rapidamente, e quando uma infusão de jazz altamente diluída veio a
ser a linguagem dominante na música de dança ocidental urbana e nas
canções populares; 1929-1941, quando o jazz começou propriamente
sua conquista de públicos minoritários europeus e músicos de avant
garden, e uma forma bem mais diluída – o swing – entrou para a
música pop de maneira permanente.5

Observa-se que o Jazz é uma música mestiça, fruto da articulação de matrizes


culturais diversas, que se desenvolveu durante o século XX, em território Americano.
O jazz foi fonte para o desdobramento de outros gêneros musicais mais populares,
conforme coloca o autor. Hobsbawn faz uma análise profunda da cena, da forma
como o Jazz era produzido, seus personagens e paradigmas estéticos. Por meio
do estudo do Jazz, pode-se entender as questões étnicas nos Estados Unidos, as
lutas do movimento negro, o processo de tradução da diáspora de possíveis áfricas
na América do Norte, os processos migratórios que se deram na segunda Guerra
mundial e as questões político-econômicas.

O professor pode, em torno desse ethos musical, abordar períodos da história


dos Estados Unidos por meio de imagens e som.

Link de um documentário breve sobre o Jazz:


Explor

https://www.youtube.com/watch?v=6Ac-Si6RT-k

4 HOBSBAWM, Eric J. História Social do Jazz. Paz e Terra: 2011. P. 11


5 HOBSBAWM, Eric J. História Social do Jazz. Paz e Terra: 2011. P. 75

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UNIDADE A história e os objetos da cultura: literatura, música e aulas de campo

Para abordar a música como fonte/imagem do passado e escuta e visibilidade do


presente, o historiador e o professor de história precisam estar atentos a algumas
dificuldades em relação ao objeto:
·· A falta do conhecimento da tecnicidade, da linguagem musical pelo
historiador/professor;
·· A notação musical;
·· Instrumentação e arranjos.

A discussão em torno da música enquanto fonte aponta para a possibilidade e,


principalmente, para a viabilidade do historiador tratar a música e a canção popular
como uma fonte documental importante no mapeamento e para desvendar zonas
obscuras da história, sobretudo aquelas relacionadas com os setores subalternos
e os setores subjetivos e da sensibilidade. O historiador José Geraldo Vinci de
Moraes coloca em seu artigo História e música: canção popular e conhecimento
histórico6 algumas questões problemas sobre o manuseio da fonte musical:
Para o historiador que está relativamente distante dos debates acalorados,
das angústias científicas e discussões estritas da musicologia e da música
propriamente dita, naturalmente se coloca como primeiro problema às
investigações lidar com os códigos e a linguagem musical. Certamente
esse é um problema sério, não o único, mas que deve ser superado. Essa
dificuldade não pode ser impeditiva para o historiador interessado nos
assuntos relacionados à cultura popular, como não foram, por exemplo,
as línguas desconhecidas, as representações religiosas, mitos e histórias
e os códigos pictóricos. Na realidade, essas linguagens não fazem parte
de fato do universo direto e imediato do historiador, mas nenhuma
delas impediu que esses materiais fossem utilizados como fonte histórica
para desvendar e mapear zonas obscuras da história. Deste modo,
mesmo não sendo músico ou musicólogo com formação apropriada e
específica, o historiador pode compreender aspectos gerais da linguagem
musical e criar seus próprios critérios, balizas e limites na manipulação
da documentação (como ocorrem, por exemplo, com a linguagem
cinematográfica, iconográfica e até no tratamento da documentação
mais comum).

Sabe-se que a linguagem musical, tradicional, é composta de ritmo, melodia e


harmonia. Nem todo historiador tem conhecimento sobre música, sobretudo teoria
musical, sendo assim, como se relacionar com a música como fonte?

6 http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-01882000000100009&script=sci_arttext

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No século XX, um elemento muito importante mudou a nossa forma de consumir,
ouvir e registrar a música, o fonograma. Até então, o registro da memória musical
era feito por meio do pentagrama, da escrita musical. O fonograma trouxe a
possibilidade de analisar a música de outras maneiras, sem precisar estar focado no
conhecimento formal de música, via partitura.

Com o fonograma, criou-se outros processos de memorização, registro,


divulgação e reprodução da música. Emergiram novos mundos de sons, técnicas,
sociabilidades e escutas. Foi um recurso valioso para os historiadores, possibilitando
outras formas dos mesmos chegarem aos sons do passado. Mas realizar a escuta
desse passado requer algumas abordagens teórico-metodológicas.

O fonógrafo
Metodologias para explorar a fonte que é a música popular em sala de aula:

Fonte: iStock/Getty Images

Existem historiadores que analisam apenas as letras das canções, outros


acreditam que analisar apenas a letra não é o suficiente. O professor José
Geraldo7 , por exemplo, é adepto da análise musical em confluência com a
letra, segue trecho:

7 http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-01882000000100009&script=sci_arttext

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UNIDADE A história e os objetos da cultura: literatura, música e aulas de campo

A música popular não deve ser compreendida apenas como texto, fato
muito comum em alguns trabalhos historiográficos que se arriscam por
essa área. As análises devem ultrapassar os limites restritos exclusivamente
à poética inscrita na canção, no caso específico a poesia popular, pois,
ainda que de maneira válida, estaria se realizando uma interpretação
de texto, mas não da canção propriamente dita. Todavia, é preciso
considerar também que muitas vezes as formulações poéticas concedem
mais indicações e caminhos que as estritamente musicais, que podem
redundar em torno das mesmas estruturas, formulações melódicas, ritmos
e gêneros conhecidos. Por isso, para compreender a poesia da canção
popular, é necessário entender sua forma toda especial, pois ela não é
para ser falada ou lida como tradicionalmente ocorre. Na realidade, a
letra de uma canção, isto é, a “voz que canta” ou a “palavra-cantada”,
assume uma outra característica e instância interpretativa e assim deve ser
compreendida, para não se distanciar das suas íntimas relações musicais.
O distanciamento relativo entre ela e a estrutura musical deve ser feito
apenas com intenção analítica, pois os elementos da poética concedem
caminhos e indícios importantes para compreender não somente a
canção, mas também parte da realidade que gira em torno dela.

Desdobrando uma possível metodologia:


·· A visão de mundo do autor deve ser sempre contextualizada para se entender
a abordagem melódica, rítmica e harmônica que o mesmo desenvolve em
suas canções;
·· Aspectos socioculturais, de gênero e estilo do autor também devem ser abordados;
·· O professor/pesquisador pode analisar a forma instrumental, os tipos de
instrumentos, seus timbres, a forma de interpretação e os arranjos de dado
documento sonoro;
·· A compreensão do binômio melodia-texto é a forma mais indicada para se
ter como referência, sobretudo porque se trata, na realidade, da estrutura
que dá sentido à canção popular;
·· Pode-se também perceber a capacidade sonora da estrutura da música,
incorporada aos movimentos históricos e culturais;
·· Sobre os quesitos produção, difusão, circulação e recepção da música, o
professor e o pesquisador precisam estar atentos a aspectos da comunicação
e aspectos tecnológicos.

Uma música pode trazer à tona a memória de tempos idos. Veja o que coloca
Le Goff sobre a memória no livro História e memória:
Tornar-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes
preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram
e dominam as sociedades históricas. O esquecimento e os silêncios da
história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória
coletiva (LE GOFF, 1984, p.13).

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Na época da Ditadura Militar, no Brasil, a censura fazia uma triagem do que
poderia ser gravado, tocado e transmitido. A música Popular Brasileira digladiava-se
com o aparato repressor. Enquanto esse último insistia no esquecimento de temas
perturbadores da ordem, a música tratava de lembrá-los. Quando as metáforas
eram proibidas, às vezes, os compositores falavam o que queriam por meio de
manobras estéticas, através de arranjos musicais que, ao menos, desenhavam em
sons um pouco do movimento que se queria discutir. Por esse motivo, inclusive,
que Caetano Veloso e Giberto Gil foram presos e exilados do pais.

A memória está no próprio alicerce da história, confundindo-se com os


documentos, monumentos e com a oralidade. A memória também pode ser
entendida como individual e coletiva, iluminada pela interdisciplinaridade com
a Psicologia.

A relação da história com a música brasileira tem sido, no Brasil, intérprete


de dilemas nacionais e veículo de utopias sociais. Nos últimos quarenta anos, a
música brasileira atingiu um grau de reconhecimento cultural que encontra poucos
paralelos no mundo ocidental.

Como exercício ilustrativo e de análise, podemos observar a relação da música com a


história da ditadura musical no Brasil, por meio das seguintes canções:
· O Bêbado e o equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc)
· Arrastão (Vinícius de Moraes e Edu Lobo)
· Alegria, Alegria (Caetano Veloso)
· Pra não dizer que não falei das Flores (Geraldo Vandré)
· A banda (Chico Buarque)

Dos exemplos acima, vamos desdobrar a canção Pra não dizer que não falei
das flores, de Geraldo Vandré, segue link:
Explor

http://www.vagalume.com.br/geraldo-vandre/pra-nao-dizer-que-nao-falei-das-flores.html

Primeiro ponto:

Quem foi Geraldo Vandré?

Para fazer uso da fonte musical, é sempre muito importante situar quem compôs
a música e em que momento.

Vandré é um Cantor, compositor, poeta e violonista Brasileiro

Sabe-se que o compositor, por meio da canção popular, conta histórias, fala
do cotidiano, aborda questões sentimentais, manda recados, protesta, enfim, são
inúmeras as possibilidades que a canção possui em seu potencial comunicativo,
representativo e histórico.

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UNIDADE A história e os objetos da cultura: literatura, música e aulas de campo

Quando essa canção veio a público?

Em 1968, Geraldo Vnadré participou do III Festival Internacional da Canção da


TV Globo com Pra não Dizer que não Falei das Flores, também conhecida como
“Caminhando”. A composição se tornou um hino de resistência do movimento
civil e estudantil que fazia oposição à ditadura durante o governo militar, e foi
censurada. O refrão “Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem
sabe faz a hora, / Não espera acontecer” foi interpretado como uma chamada
à luta armada contra os ditadores. No festival, a música ficou em segundo lugar,
perdendo para Sabiá, de Chico Buarque e Tom Jobim. A música Sabiá foi vaiada
pelo público presente no festival, que bradava exigindo que o prêmio viesse a ser
da música de Geraldo Vandré.

Os questionamentos acima são importantes para o processo de contextualização


da canção, para, a partir deles, poder então refinar a análise da fonte ou enriquecer
o processo analítico em sala de aula.

Link com imagens e fatos que contextualizam o momento em que a música Pra
não dizer que não falei das flores foi composta, em 1968, ano onde foi estabelecido
o AI – 5:
Explor

https://www.youtube.com/watch?v=A_2Gtz-zAzM

Vamos acompanhar, a seguir, a análise da letra da canção:

Caminhando e cantando e seguindo a canção / somos todos iguais


braços dados ou não

Essas duas estrofes tomaram corpo e ganharam aderência simbólica com


as passeatas de 1968, que reuniu jovens com desejos de mudança. Eram
movidas a cartazes de protestos, vozes que entoavam hinos. Essa frase
traz também a ideia metafórica de que, independente das crenças, da
ideologia ou da classe social, as pessoas são entendidas pelo compositor
como iguais, estando elas do mesmo lado ou não.

Nas escolas nas ruas, campos, construções

A música coloca que as manifestações eram compostas por pessoas de


diversos ambientes, que possuíam em comum o desejo de mudança.

Ver contextualização e análise da música completa no link:


Explor

http://mestresdahistoria.blogspot.com.br/2009/08/analise-critica-da-musica-pra-nao-dizer.html

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História e literatura
[...] a História é uma espécie de ficção, ela é uma ficção controlada,
e, sobretudo pelas fontes, que atrelam a criação do historiador aos
traços deixados pelo passado. [...] A História se faz como resposta a
perguntas e questões formuladas pelos homens em todos os tempos.
Ela é sempre uma explicação sobre o mundo, reescrita ao longo das
gerações que elaboram novas indagações e elaboram novos projetos
para o presente e para o futuro, pelo que reinventam continuamente o
passado (PESAVENTO, 2003, p. 58-59).

A ficção vem separada da realidade por uma linha tênue. A história, assim
como a literatura, se faz como intertexto, mas com um compromisso científico
com o chamado real. Tanto a história quanto a literatura são discursos distintos
que almejam representar as experiências do homem no tempo, assim, ambas são
formas de explicar o presente, inventar o passado, imaginar o futuro.

[...] ambas são formas de representar inquietações e questões que


mobilizam os homens em cada época de sua história, e, nesta medida
possuem um público destinatário leitor8 (PESAVENTO, 2003, p. 81).

A literatura, assim como o cinema, a música, os objetos culturais, pode ser


compreendida como forma de representação da experiência humana, instrumento
mediador que faz ver um objeto ausente através da substituição por uma imagem,
um texto literário capaz de o reconstruir em memória.

“pode-se dizer que a proposta da História Cultural seria, pois, decifrar


a realidade do passado por meio das suas representações, tentando
chegar àquelas formas, discursivas e imagéticas, pelas quais os homens
expressam a si próprios e o mundo” (PESAVENTO, 2005, p. 42).

A análise de uma obra literária feita por um historiador traria as seguintes


questões-problema: de que forma essa obra pode contribuir para a compreensão
do imaginário da sociedade analisada? O que a mesma transmite de seu tempo?
Como e quais as intenções que transmite?

8 PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e História cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. In: http://www.
cadernoterritorial.com/news/historia-e-literatura-um-dialogo-possivel-patricia-martins-alves-do-prado/

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UNIDADE A história e os objetos da cultura: literatura, música e aulas de campo

Conforme Pesavento:
A literatura permite acesso a sintonia fina ou ao clima de uma época, ao
modo pelo qual as pessoas pensavam o mundo, a si próprias, quais os
valores que guiavam seus passos, quais os preconceitos, medos e sonhos.
Ela dá a ver sensibilidades, perfis, valores. Ela é fonte privilegiada para
a leitura do imaginário. […] para além das disposições legais ou código
de etiquetas de uma sociedade, é a literatura que fornece os indícios
para pensar como e por que as pessoas agiam desta e daquela forma
(PESAVENTO, 2003, p. 82-83).

Incursões didáticas com textos literários na disciplina de História mobilizam vários


tipos de informações históricas e dependem de um conhecimento das técnicas
de escrita literária, gêneros e temáticas, recursos de linguagem e de conteúdo.
É bom ressaltar que, como já dissemos, os textos não são reflexos objetivos de
contextos históricos estanques. Nosso trabalho não é o de simplesmente identificar
conteúdos históricos presentes nos textos literários. O objetivo é mostrar como
os textos literários dialogam com outros textos sociais, formas de pensamento,
mentalidades, estruturas sociais e, eventualmente, gêneros literários.

Metodologia:
·· É necessário o conhecimento das técnicas de escrita literária, gêneros e
temáticas, recursos de linguagem e de conteúdo;
·· Observar a biografia do escritor;
·· Observar como o texto literário dialoga com outros textos sociais;
·· A relação entre ficção e realidade;
·· Buscar por meio de discursos particulares reconstruir os sistemas de
representação;

Link de análise sobre obra Hamlet de Shakespeare:


Explor

https://www.youtube.com/watch?v=U4d2gBWOIyw

Desdobraremos aqui a fonte literária em torno da história dos tropeiros no Brasil,


do período colonial, como demonstrativo do uso da literatura para a constituição
da trama histórica.

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No conto O tropeiro, de Abílio Barreto (1883- 1957), observa-se o imaginário
que girava em torno das mercadorias levadas pelas tropas. Os tropeiros faziam a
conexão entre o litoral e o sertão colonial, em lombo de burro seguiam mercadorias
de toda ordem. No trecho abaixo, observa-se a descrição do tropeiro e sua função
cotidiana de transportador e mercador:
Belos tempos aqueles das minhas viagens com tropa de calhau por êsses
sertões afora, onde não se falava senão nas chitas, nos colares, na iáiá de
ouro, nos grandes lenços estampados, nas rendas de bilros da Bahia, no
pano da costa e em mil outras coisas que nos traziam os canoeiros. Ao
calhau vinha ter tudo isso e dali carregava eu tudo isso por estes mundos…
[…] Éramos, como disse Fulgêncio, um grande entreposto comercial do
norte de Minas e do Sul da Bahia.

Outro exemplo literário é o livro Tropas e boiadas (1917), de Hugo Carvalho


Ramos (1895 -1921), que vê a questão através de imagens que ficaram retidas na
memória do escritor goiano. Nele, o autor fala de quando os tropeiros chegavam
da labuta e tinham que desarmar toda a tropa para poderem descansar.
O tropeiro empilhou a carregação fronteira aos fardos do dianteiro,
e recolheu depois uma a uma as cangalhas suadas do alpendre. Abriu
após um couro largo no terreiro, despejou por cima meia quarta de
milho, ao tempo que o resto da tropa ruminava em embornais a ração
daquela tarde.

As páginas de Tropas e boiadas, além de espelharem um modo de vida regional,


repleto do mais vivo realismo, valem-se da cultura típica da região centro-oeste.
É clara a semelhança entre a linguagem utilizada por Hugo Carvalho e aquela
entoada pelo baiano Elomar No Auto do tropeiro Gonsalim, o dialeto sertanejo
do interior colonial se mostra presente na literatura e na poesia. De certa forma,
pode-se dizer que os tropeiros e aqueles que cantaram e contaram suas histórias no
alto sertão da Bahia têm uma coisa em comum: encurtaram as distâncias do Brasil,
integrando suas culturas.

Link da música de Elomar com a letra do Auto do tropeiro Gonsalim, onde se


pode observar o dialeto sertanejo e o cotidiano estradeiro dos tropeiros:
Explor

https://www.youtube.com/watch?v=X7VUxQ48_SY

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UNIDADE A história e os objetos da cultura: literatura, música e aulas de campo

Aulas de campo: museus, construções,


sítios arqueológicos, patrimônio histórico
Museus, assim como sítios arqueológicos, a exemplo do de Canudos na Bahia,
construções e monumentos históricos nas cidades são possibilidades que precisam
ser exploradas na prática do ensino da História, a ideia é tentar fazer acontecer
aulas criativas e ricas fora da caixinha, da sala de aula.

Esses ambientes estão abertos ao público, o que possibilita conversar e


pesquisar, exibem materiais do homem e seu ambiente para fins de pesquisa e
turismo cultural. São locais de grande potencial educativo. As visitas de estudo
neles realizadas adquirem importância para o ensino da História. Do ponto de
vista da escola, a visita deve ser articulada com os conteúdos que estão sendo
trabalhados em sala, com o interesse do aluno e do professor.

O aluno muitas vezes observa o museu, o sítio arqueológico ou um monumento


pelo olhar do professor, ou seja, o professor tem uma responsabilidade muito
grande sobretudo em propor possibilidades de abordagens sobre os ambientes a
serem visitados. A ideia é não propor uma visão unívoca e fechada. Nessa direção,
é muito importante os conceitos que serão utilizados pelo professor a respeito
desses espaços.

Existe a ideia do museu como um depósito de coisas do passado, um ambiente


de coisas velhas, que as pessoas visitam com o intuito de acumular conhecimento e
erudição. Desse ponto de vista, o professor pode fazer uso do museu para ampliar
e reforçar os conteúdos apreendidos em sala.

Outro conceito é o do museu como guardião de objetos de cultura e de coisas


importantes. Nesse caso, é importante que, antes da visitação, o professor tenha em
pauta todas as opções e olhares possíveis sobre o espaço museu, sítio arqueológico
ou monumentos históricos.

É muito importante que o aluno, ao visitar esses espaços, sinta-se partícipe


da construção do conhecimento, perceba como os discursos são construídos em
cada ambiente. É necessário que a visita seja planejada e discutida com os alunos
desdobrando os conteúdos que serão observados e trabalhados. Além dessas visões,
existe também a ideia do museu vivo, aquele que proporciona interação e no qual
os temas são expostos de forma movente – como o Museu da Língua Portuguesa,
em São Paulo, por exemplo.

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A visita não deve ser solta, deve vir acompanhada de um relatório e de uma
avaliação, fazendo com que os alunos entendam o sentido do museu na composição
de ideias de cidadania e identidade. É fundamental também que o professor explore
conceitos como, por exemplo: patrimônio histórico, espaço urbano e a mobilidade
nas cidades. Conectando questões-problema atuais ao repertório histórico das
cidades, dos bairros em que os alunos moram, trazendo o saber histórico para dentro
da vida cotidiana do aluno, conectando o saber à realidade e aos afetos. Vamos
conhecer então o conceito de Patrimônio histórico defendido pelo IPHAN.

Sítio Arqueológico de Canudos MASP - Museu de arte de São Paulo

Link : http://goo.gl/pebJQE Link : http://goo.gl/4YEMf


Fonte: uneb.br Fonte: Wikimedia Commons

Monumento às Bandeiras

Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE A história e os objetos da cultura: literatura, música e aulas de campo

O IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e artístico nacional) apresenta da


seguinte forma o conceito de patrimônio histórico e cultural:
A Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 216, ampliou o conceito
de patrimônio estabelecido pelo Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro
de 1937, substituindo a nominação Patrimônio Histórico e Artístico, por
Patrimônio Cultural Brasileiro. Essa alteração incorporou o conceito de
referência cultural e a definição dos bens passíveis de reconhecimento,
sobretudo os de caráter imaterial. A Constituição estabelece ainda a
parceria entre o poder público e as comunidades para a promoção e
proteção do Patrimônio Cultural Brasileiro, no entanto mantém a gestão
do patrimônio e da documentação relativa aos bens sob responsabilidade
da administração pública.

Enquanto o Decreto de 1937 estabelece como patrimônio “o conjunto


de bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de
interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história
do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico,
bibliográfico ou artístico”, o Artigo 216 da Constituição conceitua
patrimônio cultural como sendo os bens “de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência
à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira”.

Nessa redefinição promovida pela Constituição, estão as formas de


expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas
e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais
espaços destinados às manifestações artístico-culturais; os conjuntos
urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.

Trabalhando com esses conceitos e visando facilitar o acesso ao


conhecimento dos bens nacionais, a gestão do patrimônio é efetivada
segundo as características de cada grupo: Patrimônio Material, Patrimônio
Imaterial, Patrimônio Arqueológico e Patrimônio da Humanidade.

Fonte: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/218

Nessa direção, constata-se a importância do IPHAN (Instituto de Patrimônio


histórico e artístico nacional) como responsável pela preservação do Patrimônio
histórico. É importante que o professor e o aluno compreendam a função
dessa instituição para poder refletir sobre questões atuais a respeito dos espaços
urbanos, temas que permeiam o cotidiano das grandes e pequenas cidades. As
cidades históricas possuem um patrimônio acumulado ao longo de anos do seu
desenvolvimento, a preservação desse legado pressupõe operar com lugares,
tradições, memórias, pessoas e diferentes relações políticas que se estabelecem em
torno desse universo. As ações de recuperação desses espaços passam sobretudo
pela dimensão imaterial, como práticas socioculturais, hábitos, usos, atividades
humanas e vivências cotidianas. Entender o conceito de patrimônio imaterial é
muito importante para o entendimento de conceitos como identidade e cidadania.

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A relação aula de história e patrimônio pode atuar com os seguintes temas: a
história da cidade que o aluno vive, a história do seu bairro e também a história dos
monumentos.

Sobre o Monumento às Bandeiras, por exemplo, o professor pode fazer um


estudo histórico da simbologia representativa da obra pelo ponto de vista político
cultural e estético. O Monumento às Bandeiras é uma obra de arte executada pelo
escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret. Fica localizada na entrada do Parque
Ibirapuera na cidade de São Paulo. Simboliza os bandeirantes e foi feita por um
imigrante italiano no século XX, na cidade de São Paulo. O monumento propicia o
desdobramento de três momentos históricos para o estudo da história de São Paulo:
a história do período colonial, ao qual a obra se refere, o momento em que a mesma
foi encomendada, 1921, e o momento em que foi inaugurada. Temas importantes
perpassam a mesma a história dos bandeirantes, a história da imigração no século
XX, da colônia italiana e da cidade de São Paulo no século XX.

A obra foi encomendada pelo governo de São Paulo em 1921, erguida na região
centro-sul da cidade, na praça Armando Salles de Oliveira, em frente ao Palácio Nove
de Julho, sede da Assembleia Legislativa, e ao Parque do Ibirapuera. Sua escultura
possui 240 blocos de granito, cada um pesando aproximadamente 50 toneladas,
com cinquenta metros de comprimento e dezesseis de altura. Foi inaugurada em
1954, juntamente com o Parque do Ibirapuera, para as comemorações do IV
Centenário da cidade de São Paulo.

A obra representa os bandeirantes expondo suas diversas etnias e o esforço


para desbravar o país. Além de portugueses (barbados), vemos na obra negros,
mamelucos e índios (com cruzes no pescoço), puxando uma canoa de monções,
utilizadas nas expedições fluviais.

Todo um trabalho pode ser feito em torno desse monumento, desde a biografia de
Brecheret à forma como ele organizou os personagens históricos no monumento,
em ordem de representatividade étnica na pirâmide social, e sua própria passagem
pela cidade de SP.

Sabe-se que os estudos identitários são fundamentais para a compreensão


dos processos que levaram à criação ou constituição das nações e do patrimônio
histórico-cultural, o que tem papel de sacramental importância uma vez que mostra
o espírito criativo do homem de diferentes épocas, por meio da arquitetura,
pintura, arte, da ciência, dentre outras; ou seja, de obras que causam admiração
não somente pela sua beleza, como também pela sua morfologia histórica.

Ensinar história no século 21 é solapar os eixos tradicionais da história linear


francesa (antiga, média, moderna e contemporânea), por uma história temática,
interdisciplinar, problematizadora, atenta às transformações sociais do novo século.

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UNIDADE A história e os objetos da cultura: literatura, música e aulas de campo

Material Complementar :
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Vídeos
História do Brasil Colonial I - Pgm 15 - O imaginário da colonização - Parte 3
https://www.youtube.com/watch?v=_hMIAc4Kz2w

  Sites
Entrevista com José Amálio Pinheiro
https://alriccio.wordpress.com/2013/11/14/entrevista-com-jose-amalio-pinheiro/

 Leitura
O Filme na sala de aula: Um Aprendizado Prazeroso
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1532-8.pdf
Revista Certa História
http://certahistoria.blogspot.com.br/2012/10/analise-do-filme-carlota-joaquina.html

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Referências
HAYDT, Regina Célia C. Curso de Didática Geral. São Paulo: Ática, 2006.

HOBSBAWN, Eric J. História Social do Jazz: Paz e terra, 1917

MATOS, Maria Izilda. Âncora de emoções: corpos, subjetividade e sensibilidades.


Bauru, SP: EDUSC, 2005

NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema em sala de aula. São Paulo:


Contexto, 2003. p. 89

NAPOLITANO, Marcos. História e música. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica,


2005

BAPTISTA, Dulce Maria Tourinho; GAGLIARDI, Clarissa M. R. (orgs.). Intervenções


Urbanas em Centros Históricos: Brasil e Itália. São Paulo: EDUC: CAPES, 2012

VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio


de Janeiro: Campus, 1997.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e História Cultural. Belo Horizonte:


Autêntica, 2003.

______.História & literatura: uma velha-nova história. Nuevo mundo, mundos


nuevos. 2006. Disponível em: <http://nuevomundo.revues.org/1560>. Acesso
em: 10. Nov. 2015.

__________. Relação entre História e literatura e representação das identidades


urbanas no Brasil (século XIX e XX). Revista anos 90. Porto Alegre, n° 4, dez. de
1995. pp.115 – 127.

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