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Introdução
As Letras de músicas se constituem em evidências, registros
de acontecimentos a serem compreendidos pelos alunos em
sua abrangência mais ampla, ou seja, em suas compreensão
cronológica, na elaboração e re-significação de conceitos
próprios da disciplina. Mas ainda, a utilização de tais registros
colabora na formação dos conceitos espontâneos dos alunos e
na aproximação entre eles e os conceitos científicos. Permite
que o aluno se aproxime das pessoas que viveram no passado,
elaborando a compreensão histórica, que vem da forma como
sabemos como é que as pessoas viram as coisas, sabendo o
que tentaram fazer, sabendo o que sentiram em relação à
determinada situação (ABUD, 2005:316)

A música está em toda parte, o som da nossa voz ou os


primeiros ruídos emitidos pela criança recém-nascida é música aos
ouvidos de quem as pôs no mundo, o vento num dia de tempestade,
os ruídos da noite numa madrugada fria, é poesia transformada em
música. Ou, dito de melhor forma, na poesia de Fortuna e Pinheirinho,
a música remete sempre a referenciais afetivos:

Igual uma borboleta


Vagando triste por sobre a flor
Teu nome sempre em meus lábios
Irei chamando por onde for.
(Meu Primeiro Amor, Hermínio Gimenez - versão:
José Fortuna e Pinheirinho).

Assim, as canções evocam memória, lembranças para quem as


ouve. É desta forma que elas podem, também, ser o caminho para
se chegar a um determinado período histórico, conforme CUNHA,
2005:62. Netinho e Pedro Sabino também nos falam sobre esta
evocação.
“Sentado à beira do rancho
Na hora do sol entrar
O cantar dos passarinho
Me faz logo relembrar
Da minha vida passada
Que eu vivia a carrear”
(O carro Velho. Crioulo, Netinho e Pedro Sabino).
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Segundo José Vinci de Moraes, a música pode servir como


extrato de detalhes importantes da vida cotidiana das pessoas,
para entendermos aspectos da vida cultural que por muitas vezes
passam despercebidos ou ignorados, e que são de valorosa
contribuição para entendermos a sociedade de forma mais
complexa e rica.
Desta forma, a música se constitui num instrumento em
potencial na tarefa de mediação cultural entre professor, aluno e
novos conhecimentos, especialmente na área de História.
Atualmente, muitos autores procuram indagar sobre o
conhecimento histórico e sua apropriação. A discussão centra-se
não só na forma de apropriação deste conhecimento, mas também
onde e como ela acontece.
Abud (2005) coloca que a produção do saber histórico tem lugar
não só nos círculos acadêmicos, mas também dentro do espaço
escolar, superando, assim, a idéia de que a escola é tão somente
elo entre a ciência produzida pela academia e o aluno. Ela mesma
faz uma retrospectiva crítica do ensino de história entre as décadas
de 1970 e1990. Suas transformações com a abertura política e
abordagens nos currículos. Ressalta que o currículo é o mediador
entre o conhecimento histórico produzido e o saber escolar. Mas há
que se ter cuidado pra que ele não represente os interesses das
classes dominantes, naquilo que se propõe a ensinar e o que se
deseja que o aluno aprenda, já que no currículo estão presentes as
fundamentações teórico-metodológicas de cada disciplina proposta
pelos órgãos públicos (ABUD 2005, p. 150).
Até 1970 não se visualizava na escola lugar de saber e de
construção do saber, mas sim de receptor e transmissor do saber
acadêmico. A partir deste momento a escola passa a ser vista não
mais como mero local de reprodução para os alunos do saber
produzido na universidade. Para Chervel (1990), a escola não é
simples agente transmissor, mas produz ela mesma um saber
próprio. Nikitiuk (2007) compartilha dessa idéia quando diz que o
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saber vem embriagado de saberes externos e interferências


múltiplas da sociedade, e as transformações passam pelo professor
que se dispõe a inovar e que incentiva novos olhares sobre um
mesmo objeto.
Siman (2004), por sua vez, mostra que a aprendizagem
histórica é um conhecimento complexo e que se relaciona com
maior ou menor intensidade com experiências já vividas. Então,
como proporcionar o pensar historicamente? Como vislumbrar os
processos históricos sob novos prismas? Ainda segundo Siman
(2004), o professor não age como transmissor de conhecimento,
mas como um mediador entre o objeto a ser apreendido e o aluno.
Para tanto o docente se vale de várias ferramentas mediadoras que
o auxiliam nesse processo, como objetos de época, imagens ou
músicas.
Enfatizando a música como ferramenta no ensino de história
podemos citar trabalhos de autores nessa linha de pensamento,
onde se visualiza a música como um mediador cultural no processo
de aprendizagem do conhecimento histórico. Chaves (2006)
questiona em seu trabalho a ausência da música caipira nos livros
didáticos. Demonstra que há uma preferência em relação a outros
gêneros musicais como a MPB, o pop, enfatizando a presença mais
incisiva da musica nos livros didáticos a partir da década de 1980.
Anteriormente ela aparecia, apenas, como mera ilustração.
Este autor propõe, então, a utilização da música de raiz como
possibilidades de aprendizado nas aulas de história, visto que estas
apresentam grande importância no âmbito da cultura brasileira,
dando a possibilidade de contextualização compartilhando da idéia
de Abud (2005, p.315) quando esta coloca que a utilização da
música em sala de aula abre horizontes e foge do convencional.
Cunha (2002) apresenta em suas pesquisas, como podemos
visualizar nas músicas caipiras o impacto da modernidade na vida
do caboclo. Diante disso citamos Nepomuceno (1999) que coloca a
importância de inserir o objeto de pesquisa no contexto histórico:
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”ao montar um curso ou objeto de pesquisa, o profissional


deve não só conhecer a sua área de competência geral,
operando as articulações necessárias com a historiografia
mais abrangente (ex: História do Brasil, da América etc.),
mas procurar ao máximo de informações na área
específica, da qual “seu” corpo documental emergiu.
”( NEPOMUCENO.2002, p.95).

A música pode ser perfeitamente usada como um documento


histórico durante as aulas, pois ela é produção cultural, carregada
de significado em seus versos, tanto implícita quanto
explicitamente.
Tentaremos aqui através da música, buscar alternativas
metodológicas para o ensino de história e proporcionar ao aluno
entender que a história é feita de continuidades e rupturas, e que
esse entendimento pode ocorrer através de variados recursos
dentre eles a música, independente do estilo ou gênero que se
pretende utilizar.
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1. A MÚSICA CAIPIRA: SUA HISTÓRIA, SEUS SUJEITOS.

Dentre os gêneros musicais, escolhemos a música caipira, de


raiz pretendendo desconstruir idéias preconceituosas em torno do
sujeito caipira na história. Defendemos que é possível visualizar nas
canções caipiras importantes conhecimentos históricos,
transformando-as numa forma prazerosa de apropriação do
conhecimento histórico.
Conseguimos vislumbrar nas músicas caipiras um grande número
de reflexões sobre o cotidiano. O que pretendemos é justamente
através delas perceber não necessariamente fatos históricos (que
também são possíveis de analisar), mas, reflexões sobre valores
tradicionais, respeito, companheirismo, amizade, espiritualidade, que
tendem também a desaparecer com a modernidade. Assim,
analisamos o choque de culturas rural e urbano a partir do êxodo
rural, a simplicidade e ao mesmo tempo esperteza do homem do
campo, sempre visto como sujeito sem conhecimento e fácil de
ludibriar, o desaparecimento de um modo de vida rural e de
profissões ligadas à ela.
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Segundo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Caipira é o


habitante do campo ou da roça, particularmente os de pouca
instrução e de convívio e modos rústicos e canhestros; matuto, jeca,
roceiro, sertanejo; Diz-se do indivíduo sem traquejo social; cafona,
casca-grossa. No Glossário sertanejo de Cornélio Pires, caipira é:

“Por mais que rebusque o "etymo" de


"caipira", nada tenho deduzido com firmeza.
Caipira seria o aldeão; neste caso
encontramos no tupy guarany
"Capiabiguára". Caipirismo é acanhamento,
gesto de ocultar o rosto; neste caso, temos a
raiz "caí" que quer dizer: "Gesto do macaco
occultando o rosto". "Capipiara", quer dizer o
que é do mato. "Capia", de dentro do mato:
faz lembrar o “capiáu mineiro”. "Caapi", -
"trabalhar na terra, lavrar a terra" -
"Caapiára", lavrador. E o "caipira" é sempre
lavrador. Creio ser este ultimo caso mais
acceitável, pois, "caipira" quer dizer "roceiro",
isto é, lavrador.
Sinônimos de "caipira" conheço apenas os
seguintes-"Capiáu", em Minas; "quejeiro", em
Goyaz; "matuto", Estado do Rio e parte de
Minas; "mandy", sul de S. Paulo; guasca ou
gaúcho no Rio Grande do Sul; "tabaréo",
Districto Federal e alguns outros pontos do
paiz; "caiçara", no litoral de S. Paulo e em
todo o paiz, "sertanejo". (PIRES. 1985)

A figura do caipira foi construída em cima de um estereótipo.


Sujeito simples, de vida rural, sempre esteve ligado à ausência de
cultura, rudez, pouco conhecimento. O sujeito caipira foi considerado,
assim, preguiçoso, ”atrasado”, metido nos confins do sertão, isolado
da “civilização”. Exemplo disso é Jeca Tatu, personagem criado por
Monteiro Lobato em 1914, figura que representa o que o autor
pensava a respeito do caboclo, sujeito preguiçoso, que vive de
cócoras, aquele que não tem vocação para nada, o nome Jeca virou
sinônimo de bobo, ingênuo. Posteriormente Lobato vem a perceber
que essa sofreguidão toda seria causada mais por motivos de doença,
visto que o caipira andava de pés descalços, do que propriamente por
opção. De acordo com Sergio Bittencourt da Silva (2007), desassistido
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pelo Estado ele passa sob a ótica de Lobato por um processo de


metamorfose, onde deixa de ser visto como o sujeito preguiçoso por
opção, para aquele que assim o é por irresponsabilidade do país.
Mesmo Lobato tentando corrigir a visão criada por ele do caipira
iletrado e preguiçoso diante do leitor, o estereótipo permanece até os
dias de hoje. Como diz Inezita Barroso:

“Caipira não é mendigo, ta bom? Esse é o meu lema,


vamos escrever aí...” E daí eu começo. Porque aquela
criancinha, figurinha na festa de São João, chapéu tudo
esfiapado, sem dente, pinta de preto, banguela; agora
ainda existe chapéu de cowboy pra criança, né?
Quando não existia, era aquele chapelão de gente
grande, dava um pulo, aquilo vinha até aqui... [risos]
Enchia de jornal dentro... Ridículo! Ou então esfiapado,
o dente preto, a calça remendada... E jeans, jeans
remendado... Pelo amor de Deus, é muita ofensa pra
mim! É duro de tirar da cabeça... Não é de criança, é da
cidade inteira. Cidades do interior que queriam ver
caipira de longe. Se eu disser: “Você é caipira!”. “Eu
não!” “Você não é do interior?” “Ah, mas eu não sou
caipira!”. (BARROSO, 2005)

Esse preconceito se estende à música caipira, que é a


expressão da simplicidade, do modo de vida, do apego às coisas
rurais, do amor puro desse homem do campo. Como diz José Hamilton
Ribeiro:

“ a música caipira é um fato em nossa vida, um valor


cultural inegável, chegando a ser vista “ como legítima
representante da faixa culta na canção brasileira”. No
entanto, padece de menosprezo e preconceitos em
certos círculos de arrogância e pedantismos de nossas
elites”. (RIBEIRO. 2006)

1.1 Histórico da música caipira


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“A origem da música caipira é a origem do Brasil”


José Hamilton Ribeiro. (2006)

A música caipira teria sua origem a partir da vinda do português


para o Brasil, e seu entrosamento com o índio. Mais precisamente dos
jesuítas com o índio, que teriam se valido da musicalidade presente
entre eles para catequizá-los, utilizando o cateretê como atrativo que
posteriormente se transforma no catira (dança caracterizada por
elementos rítmicos, sapateado e palmas) vindo a ser um dos
primeiros gêneros da música caipira a receber letra.
Posteriormente se agrega a essa música elementos vindos do
negro, que chega ao Brasil como escravo. A musicalidade intrínseca
do negro se mescla ao ritmo luso-indígena. Segundo Romildo
San’tanna (A moda é Viola,2000) a nossa música tem “raízes branca
nas formas e rimas, e africana, indígena e portuguesa no pensamento
e afeto”. Com o tempo somam-se a esse ritmo musical ingredientes
de outros povos que passam a vir para o Brasil. Imigrantes de outros
cantos da Europa com uma forte influência do cancioneiro Ibérico.
Ainda segundo San’tanna, algumas composições lembram
tragédias gregas ou têm ingredientes de canções medievais, mesmo
sendo composta por gente humilde ou quase analfabeta.
Encontramos também composições que fazem referência ao
preconceito racial e social como “Preto inocente” (Teddy Vieira –
Campão- Bento Palmiro), bem como ao próprio caipira sujeito humilde
do interior, que apesar de ter na sua aparência a simplicidade, por
vezes tem posses, mas não as utiliza como troféu ou forma de se
sobressair em relação aos outros como em “Exemplo de
humildade”(Dino Franco – Tião Carreiro) e “Terra roxa” (Teddy
Vieira). A música caipira envolve também temas que falam do amor
puro, sem as apelações eróticas e de duplo sentido muitas vezes
contida na chamada música sertaneja moderna, se não for assim, não
é musica caipira. Conforme José Roberto Zan, professor do
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Departamento de música do Instituto de Artes da Universidade


Estadual de Campinas:

“... [segundo] estudos realizados por folcloristas, historiadores


e etnomusicólogos, muitos dos elementos que compõem essas
manifestações musicais são de origem européia e se
mesclaram com aspectos da cultura indígena. A viola, por
exemplo, pode ser uma derivação do instrumento português
chamado viola de arame ou viola braguesa (possivelmente por
ser originária de Braga), introduzido no Brasil pelos jesuítas. A
moda, poesia cantada com acompanhamento de viola e/ou
violão, mantém algumas características herdadas das cantigas
de gesta e do romanceiro tradicional ibérico. Narrativa de
fundo dramático, a moda normalmente conta um caso
extraordinário, sensacional, ou descreve um fenômeno
relevante do cotidiano caipira. É bastante semelhante ao que
os nordestinos chamam de romance. O canto em duas vozes,
em intervalo de terça, característico das duplas caipiras, é
outra herança européia. Mas é provável que as vozes agudas
dos cantores tenha raízes ameríndias, assim como as danças
catira (ou cateretê) e cururu. Possivelmente, os jesuítas
preservaram essas danças e as integraram às festas católicas
como estratégia da prática catequética.”
(ZAN,2004.www.clubedovioleiro.com.br)

A difusão da música caipira tem seu início a partir de 1930,


quando a indústria fonográfica apesar de já estar entre nós há algum
tempo, passou a fazer gravações de músicas caipiras. Foi com
Cornélio Pires - poeta compositor, intérprete e pioneiro, que as coisas
começam a mudar. Numa atitude impetuosa ele investe por conta
própria na produção da primeira edição de um disco caipira, e
excursionado pelo interior consegue não só difundi-la como gravar
uma segunda impressão. O sucesso foi tal, que após essa segunda
edição ele acaba por ser contratado como produtor de discos caipiras
por uma grande gravadora da época.
O rádio também teve grande contribuição na difusão da nossa
música caipira, bem como na criação de certa popularidade entre os
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artistas do gênero que se apresentavam nas rádios. A partir daí


muitas duplas surgiram junto com programas radiofônicos
especificamente sertanejos. Na década de 1960 a indústria
fonográfica toma uma maior forma, assim como a indústria cultural.
Na década de 1970, novas duplas como Milionário e José Rico,
começam a utilizar de novos recursos em suas gravações, sendo
chamados de música brega.
Nas décadas de 1980 e 1990 um novo seguimento da música
caipira começa a tomar forma: a música sertaneja. Na voz de duplas
como Chitãozinho e Chororó, Zezé di Camargo e Luciano, Leandro e
Leonardo, dentre outros começam a produzir um estilo de música que
como diz Zan será chamado por pesquisadores de “sertanejo pop” ou
“sertanejo romântico” atingindo um grande público, mas ao mesmo
tempo descaracterizando o que conhecemos como música caipira de
raiz. Ainda segundo Zan:

“...esses repertórios, tanto do sertanejo pop como pós caipira


refletem mudanças que ocorreram na sociedade brasileira nas
últimas décadas, resultantes da inserção do país num contexto
histórico marcado pelo aprofundamento da internacionalização
do capitalismo e da mundialização da cultura. São processos
que implicam o fortalecimento das tendências de
desenraizamento e mercantilização da cultura.” (ZAN,2004:06)

Mas a música caipira, ao mesmo tempo em que nos parece


perder terreno, nos mostra um outro lado, o de retomada. Mesmo
sofrendo transformações ou contaminação como acreditam os
“purista” mais ferrenhos, mesmo falando-se em ameaça de extinção
e a necessidade de se resgatar e resguardar a música caipira, vemos
que esse resgate vem ocorrendo. E o interessante é saber que junto a
esse trabalho de resgate muitos jovens vêm tomando apreço pela
chamada música caipira.
Temos os grandes defensores desse gênero musical como
Inezita Barroso chamada de a “Grande Dama da Música Caipira” que
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há vinte e um anos divulga a música caipira de fato, no programa


“Viola minha viola” na TV Cultura, e nas aulas de folclore na
Universidade Paulista, apresenta também um programa na rádio
América todos os dias, das 6h ás 7hs. Rolando Boldrin que hoje
apresenta também na TV Cultura o programa “Sr. Brasil” no ar desde
2005, cujo cenário conta com exposições de inúmeros objetos do
artesanato brasileiro e não admite apresentação que não seja
genuinamente nacional. Por ali passam não só cantores na nossa
genuína música caipira como cantores regionais que exaltam temas
ligados às nossas raízes rurais. E ainda apresenta grande contribuição
na literatura que discursa sobre esse gênero.Referindo-se à sua
contribuição para com a música brasileira disse Renato Teixeira
(cantor, músico e compositor):

“Boldrin é referencial, uma direção a seguir, um


norte nesse sul pecaminoso de músicas baratas.
Contraponto e alicerce. É fruto saboroso da grande
árvore que generosamente adoça nossa boca. Todas
as apresentações públicas desse meu admirável
amigo deveriam começar sempre com a execução
do Hino Nacional Brasileiro”. (TEIXEIRA, 2007)

Outros nomes como Almir Sater, Renato Teixeira, Sergio Reis,


também contribuem para a valorização da música caipira. Podemos
também presenciar a remasterização de antigos clássicos sertanejos
de duplas como Tião Carreiro e Pardinho, Tonico e Tinoco, Cascatinha
e Inhana, Cacique e Pajé, Irmãs Galvão, Zé Mulato e Cassiano, Vieira
e Vieirinha, Zico e Zeca, dentre tantas outras que fizeram a história
da nossa música caipira. Também regravações de clássicos, por
duplas do chamado novo segmento sertanejo, mas que de uma forma
ou de outra acabaram por levar a popularização nos dias atuais do
nosso gênero caipira. Rodas e concursos de Violeiros, grupos da
catira, festivais de musica caipira, orquestras de música caipira e uma
infinidade de outros eventos espalhados pelo interior do Brasil, que
promovem e permitem que a música caipira permaneça viva e
resguardada da extinção.
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2. INVESTIGAÇÃO NA ESCOLA

Através de questionários, foram entrevistados sessenta alunos


das 6ª séries do Ensino fundamental, período vespertino, da Escola
Estadual Dr. Aloysio de Barros Tostes, E. F, no município de Nova
Fátima, onde será no ano de 2009 implementado o projeto “A
Música Caipira no Ensino de História”. O objetivo central era
averiguar se estes estudantes têm conhecimento ou ligação com a
música caipira.
Verificamos que em média 50% dos alunos moram ou têm os
pais trabalhando na zona rural. Seu gosto musical varia entre o
chamado sertanejo universitário o pop e o funk. Os pais na sua
totalidade ouvem a música sertanejo-universitária, e na sua
maioria cresceram ouvindo junto com os avós a música sertaneja
de raiz.
Percebemos durante as entrevistas que os alunos conhecem
mas revelam não gostar da música caipira, por acha-la “chata”,
“velha” com um “som diferente” ( se referindo ao toque da viola e
provavelmente ao pagode sertanejo). Mas ao mesmo tempo
admitem nunca ter prestado atenção em letra alguma do gênero e
nem mesmo se lembram de duplas caipiras ou puderam citar uma
música caipira de seu conhecimento. A maioria sente-se ligada,
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apenas, à música sertaneja universitária porque, como eles


próprios disseram, “são românticas e mais bonitas”, com um ritmo
mais próximo aos seus ouvidos.
Acredito que seja possível através desse trabalho levar a
música caipira ao conhecimento e apreciação dos alunos bem
como auxiliar na apropriação do conhecimento histórico através da
mesma, pois apesar de terem pouco conhecimento sobre o gênero
musical em questão, não demostraram resistência quanto ao tema
proposto, pelo contrário, a curiosidade se fez presente,
principalmente quando se falou em aprender utilizando a música,
independente do gênero musical.

3. MATERIAL DIDÁTICO

Propomos aqui uma reflexão sobre o modo de ser, viver e pensar do


sujeito caipira presente nas músicas. Para tanto selecionamos
basicamente três temas acompanhados de músicas referentes a cada
tema, com os quais trabalharemos.

Iniciação:

1ª Aula.

1. Questionar junto com os alunos o que é ser caipira. Qual a visão


que eles próprios têm sobre o caipira;

2. A partir de suas indagações, falar sobre os conceitos existentes da


palavra “caipira”. Apresentar as origens do caipira e questionar sobre
o preconceito que os rodeia.

3. Concomitante à fala com os alunos, através da TV Pen Drive,


apresentar imagens do sujeito caipira e seu modo de ser.

2ª Aula

1. Apresentar o primeiro tema a ser trabalhado.


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2. Apresentar a letra da música, fazer uma primeira leitura;

2.1. Identificar na música:


• Título;
• Compositor;
• Intérprete;
• Termos existentes na letra da música que são alheios ao
conhecimento dos alunos, e procurar seu significado;

3. Ouvir a música juntamente com a leitura da letra.

4. Questionar com os alunos qual a primeira impressão que eles


tiveram ao ouvir a música e se identificaram nela algo relacionado ao
tema proposto.

5. Passar para as atividades de interpretação da letra da música.

A metodologia da segunda aula será aplicada em todos os momentos


de iniciação dos estudos de cada letra das músicas selecionadas.

TEMA I: A ESPERTEZA DO MATUTO.

O MINEIRO E O ITALIANO
autores: Teddy Vieira e Nelson Gomes

Intérprete: Tião Carreiro e Pardinho

Dose Dupla. Vol.9

Um mineiro e o italiano vivia às barras dos tribunais

Numa demanda de terra que não deixava os dois em paz

Só em pensar na derrota o pobre caboclo não dormia mais

O italiano roncava nem que eu gaste alguns capitais

Quero ver este mineiro voltar de a pé pra Minas Gerais

Voltar de a pé pro mineiro seria feio pro seus parentes


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Apelou pro advogado fale pro juiz pra ter dó da gente

Diga que nóis semo pobre que meus filhinhos vivem doente

Um palmo de terra a mais para italiano é indiferente

Se o juiz me ajudar a ganhar lhe dou uma leitoa de presente

Retrucou o advogado o senhor não sabe o que está falando

Não cai nessa besteira senão nos vamo entrar pro cano

Este juiz é uma fera caboclo sério e de tutano

Paulista da velha guarda família de 400 anos

Mandar a leitoa pra ele é dar a vitória pro italiano

Porém chegou o grande dia que o tribunal deu o veredicto

Mineiro ganhou a demanda o advogado achou esquisito

Mineiro disse ao doutor eu fiz conforme lhe havia dito

Respondeu o advogado que juiz vendeu eu não acredito

Jogo meu diploma fora se nesse angu não tiver mosquito

De fato falou o mineiro nem mesmo eu to acreditando

Ver meus filhinhos de a pé meu coração vivia sangrando

Peguei uma leitoa gorda foi Deus no céu me deu esse plano

De uma cidade vizinha para o juiz eu fui despachando

Só não mandei no meu nome mandei no nome do italiano

Atividade de interpretação da música “Mineiro e o


Italiano”.

1. Identifique os sujeitos do qual a letra da música fala.

2. Por qual motivo os sujeitos citados na música estão brigando?


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2. Partindo da sua resposta anterior, porque seria tão difícil para o


mineiro brigar judicialmente com o italiano? O que diferencia os dois
(o mineiro e o italiano)?

3. “O italiano roncava nem que eu gaste alguns capitais

Quero ver esse mineiro voltá de a pé pra Minas Gerais”.

O que o italiano quis dizer com esta frase?

4. Que solução o mineiro sugere a seu advogado para resolver a


problema em questão?

5. Qual a resposta do advogado à solução apresentada pelo mineiro?

6. Diante da resposta do advogado, qual atitude do mineiro? Você


acha que foi uma atitude de esperteza? Por quê?

7. Qual é o veredicto do juiz diante da atitude do mineiro apresentada


na letra da música? Por quê?

8. A letra da música nos faz lembrar o famoso “jeitinho brasileiro”, de


se dar bem em tudo. Você concorda com esse tipo de atitude? Por
quê?

9. Esta ‘história’ se passa em alguma época determinada? Poderia se


passar na atualidade?

10. O raciocínio e as atitudes do mineiro refletem que ele vive no


campo ou na cidade? Como você chega a esta conclusão?

Depois das respostas lidas seria interessante fazer uma discussão a


partir das conclusões dos alunos.

TEMA II: O CHOQUE DE CULTURAS RURAL E URBANA


COM A MODERNIDADE.

Neste tema é interessante fazer uma contextualização


enfocando alguns conceitos de modernidade, como, por
exemplo, ....

Mágoa de Boiadeiro
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Lourenço e Lourival

Composição: Indio Vago - Nonô Basílio (1960).

Antigamente nem em sonho existia


tantas pontes sobre os rios nem asfalto nas estradas
A gente usava quatro ou cinco sinueiros
prá trazer o pantaneiro no rodeio da boiada
Mas hoje em dia tudo é muito diferente
com progresso nossa gente nem sequer faz uma idéia
Que entre outros fui peão de boiadeiro
por esse chão brasileiro os heróis da epopéia
Tenho saudade de rever nas currutelas as mocinhas
nas janelas acenando uma flor
Por tudo isso eu lamento e confesso que
a marcha do progresso é a minha grande dor
Cada jamanta que eu vejo carregada
transportando uma boiada me aperta o coração
E quando eu vejo minha tralha pendurada de tristeza
dou risada prá não chorar de paixão
O meu cavalo relinchando pasto a fora
que por certo também chora na mais triste solidão
Meu par de esporas meu chapéu de aba larga
uma bruaca de carga o meu lenço e o facão
O velho basto o cinete e o mateiro
o meu laço e o cargueiro o ginete e o gibão
Ainda resta a guoiarca sem dinheiro
deste pobre boiadeiro que perdeu a profissão
Não sou poeta, sou apenas um caipira
e o tema que me inspira é a fibra de peão
Quase chorando encolhido nesta mágoa
rabisquei estas palavras e saiu esta canção
Canção que fala da saudade das pousadas
que já fiz com a peonada junto ao fogo de um galpão
Saudade louca de ouvir um som manhoso
de um berrante preguiçoso nos confins do meu sertão.
Saudade louca de ouvir um som manhoso
de um berrante preguiçoso nos confins do meu sertão.

Atividades de interpretação da música “Mágoa de


Boiadeiro”.

1. A música “Magoa de Boaiadeiro” fala da saudade de um tempo que


já passou.Que tempo é esse descrito na música?
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2.Qual a profissão citada na música? Porque ela desaparece?

3. Qual a profissão que vem substituir a profissão que você


identificou?

4. Podemos identificar na música o que chamamos de progresso? Cite


trechos da música que comprovem sua resposta.

5.Quais os “instrumentos” de trabalho utilizados pelo profissional


descrito na música?

6. Na sua opinião a modernidade pode cada vez mais acabar com


certas profissões e dar lugar a outras? Cite um exemplo.

Saudade De Minha Terra


Chitãozinho e Chororó
Composição: Goiá/Belmonte (1960).

De que me adianta viver na cidade


Se a felicidade não me acompanhar
Adeus, paulistinha do meu coração
Lá pro meu sertão, eu quero voltar
Ver a madrugada, quando a passarada
Fazendo alvorada, começa a cantar
Com satisfação, arreio o burrão
Cortando estradão, saio a galopar
E vou escutando o gado berrando
Sabiá cantando no jequitibá

Por nossa senhora,


Meu sertão querido
Vivo arrependido por ter te deixado
Esta nova vida aqui na cidade
De tanta saudade, eu tenho chorado
Aqui tem alguém, diz
Que me quer bem
Mas não me convém,
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Eu tenho pensado
Eu digo com pena, mas esta morena
Não sabe o sistema que eu fui criado
To aqui cantando, de longe escutando
Alguém está chorando,
Com rádio ligado

Que saudade imensa do


Campo e do mato
Do manso regato que
Corta as campinas
Aos domingos ia passear de canoa
Nas lindas lagoas de águas cristalinas
Que doce lembrança
Daquelas festanças
Onde tinham danças e lindas meninas
Eu vivo hoje em dia sem ter alegria
O mundo judia, mas também ensina
Estou contrariado, mas não derrotado
Eu sou bem guiado pelas
mãos divinas

Pra minha mãezinha já telegrafei


E já me cansei de tanto sofrer
Nesta madrugada estarei de partida
Pra terra querida que me viu nascer
Já ouço sonhando o galo cantando
O nhambu piando no escurecer
A lua prateada clareando a estrada
A relva molhada desde o anoitecer
Eu preciso ir pra ver tudo ali
Foi lá que nasci, lá quero morrer
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Atividades de interpretação da música “Saudade da


minha Terra”.

1. Que tipo de sentimento podemos identicar na letra da música


Saudade da minha terra? Cite um trecho da múisca que comprove
sua resposta.

2. Num determinado momento, a música fala de um arrependimento


do caboclo por ter deixado o sertão. Na sua opinião porque ele sente
tal arrependimento?

3.Qual a saída para cacabar com esse sofrimento? Por que?

4. Que características do sertão podemos identificar na música?

5.Porque para o caboclo é ruim morar na cidade?

Caboclo Na Cidade

Composição: Geraldo Viola e Dino Guedes (1970).

Interprete: Zilo e Zalo

CD: As mais famosas modas de viola.

Seu moço eu já fui roceiro


No triângulo mineiro
Onde eu tinha o meu ranchinho.

Eu tinha uma vida boa


Com a Isabel minha patroa
E quatro barrigudinhos.

Eu tinha dois bois carreiros


Muito porco no chiqueiro
E um cavalo bom, arriado.

Espingarda cartucheira
Quatorze vacas leiteiras
E um arrozal no banhado.

Na cidade eu só ia
A cada quinze ou vinte dias
Para vender queijo na feira.
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No demais estava folgado


Todo dia era feriado
Pescava a semana inteira.

Muita gente assim me diz


Que não tem mesmo raíz
Essa tal felicidade

Então aconteceu isso


Resolvi vender o sítio
E vir morar na cidade.

Já faz mais de doze anos


Que eu aqui estou morando
Como eu vivo arrependido.

Não me dou com essa gente


Tudo aqui é diferente
Vivo muito aborrecido.

Não ganho nem pra comer


Já não sei o que fazer
Estou ficando quase louco.

É só luxo e vaidade
Penso até que a cidade
Não é lugar de caboclo.

Até mesmo a minha velha


Já está mudando de idéia
tem que ver como passeia.

Vai tomar banho de praia


Está usando mini-saia
E arrancando a sombrancelha.

Nem comigo se incomoda


Quer saber de andar na moda
Com as unhas todas vermelhas.

Depois que ficou madura


Começou a usar pintura
Credo em cruz que coisa feia.

Minha filha Sebastiana


Que sempre foi tão bacana
Me dá pena da coitada.

Namorou um cabeludo
Que dizia Ter de tudo
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Mas foi ver não tinha nada.

Se mandou para outras bandas


Ninguém sabe onde ele anda
E a filha está abandonada.

Como dói meu coração


Ver a sua situação
Nem solteira e nem casada.

Voltar "pra" Minas Gerais


Sei que agora não dá mais
Acabou o meu dinheiro.

Que saudade da palhoça


Eu sonho com a minha roça
No triângulo mineiro.

Eu não sei como se deu isso


Quando eu vendi o sítio
Para vir morar na cidade.

Seu moço naquele dia


Eu vendi minha família
E a minha felicidade!

Atividades de interpretação da música “Caboclo na


Cidade”.

1. Identifique o tipo de atividade que é desempenhada pelo caboclo


citado na música, e em que estado do Brasil ele vive.

2. O caboclo fala de uma vida boa na zona rural. Faça uma descrição
do que significa para o caboclo essa “vida boa”.

3. Num determinado momento o caboclo decide vender o sítio e vir


morar na cidade. Que mudanças financeiras isso acarreta na sua
vida?

4. A “modernidade” da cidade trás modificações também no modo de


ser da família do caboclo. Que mudanças são essas descritas na
música?

5. Porque para o caboclo a cidade não é o seu lugar? O que você


pensa a respeito disso?
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6. Porque para o caboclo é impossível ele voltar a viver no sítio? Você


concorda com a justificativa que o caboclo dá para esse motivo?
Justifique sua resposta.

7. Na sua opinião, a modernidade realmente modifica o cotidiano da


vida das pessoas? Justifique sua resposta.

Após as análises das respostas dos alunos é interessante que se faça


uma discussão sobre suas considerações juntamente com os demais
alunos, enfocando o choque de cultura rural e urbana, o impacto que
essa modernidade causa na vida de quem vem pra cidade, e as
causas principais desse êxodo rural.

A título de sugestão, seria interessante fazer um contraponto com a


letra desta música com a música “Granfino na Roça” de Peão Carreiro
e Zé Paulo, Segue a letra da música:

Granfino na roça
Autor Peão Carreiro/ Zé Paulo
Interpretação Pedro Bento e Zé da Estrada

Fui criado na cidade


Estudei na faculdade
E cheguei a ser doutor
Me casei com a Cristina
Uma jóia de menina
Mais bonita que uma flor

Como era nosso intento


Logo após o casamento
Deixamos a capital
Pensando em nosso futuro
Procuramos o ar puro
Aqui na zona rural

Faz um ano mais ou menos


Que moramos neste ermo
Já estou arrependido
Espinhos de carrapicho
Carrapatos e outros bichos
Deixa a gente aborrecido

Foi pensando na estiagem


Que plantei arroz na vargem
Lá na beira do riacho
Depois que o arroz cachou
O riacho transbordou
Levou tudo rio abaixo
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Na cidade eu divertia
O trabalho que eu fazia
Pra mim era brincadeira
Mas no cabo de uma enxada
Sinto a barra mais pesada
Quase morro de canseira

Nas noites que não tem lua


O meu drama continua
Até o outro dia cedo
Só com luz de lamparina
Coitadinha da Cristina
Chega até a chorar de medo

A saudade me devora
Me recordo toda hora
Meus amigos e meus pais
Estou magro feito um grilo
Já perdi 14 quilos
Isso é sofrer demais

Merece a nossa homenagem


O ilustre personagem
Que sacia nossa fome
Só depois do meu tropeço
Eu fiquei sabendo o preço
Do feijão que a gente come

Vou deixar esta palhoça


E não quero mais a roça
Chega de serviço bruto
Pra cidade vou voltar
Nem que seja pra morar
No porão de um viaduto

É certo o que o povo diz


A grandeza do país
É o que o caipira que constrói
Pois o nosso alimento
Vem da garra e do talento
Desse nosso irmão herói
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TEMA III: VALORES TRADICIONAIS

A enxada e a caneta
Composição: Teddy Vieira e Capitão Barduíno.

Interprete: Zico e Zeca

Declamado:

“Certa vez uma caneta foi passear lá no sertão


encontrou-se com uma enxada, fazendo a plantação.
A enxada muito humilde, foi lhe fazer saudação,
mas a caneta soberba não quis pegar sua mão.
e ainda por desaforo lhe passou uma repreensão.”

Disse a caneta pra enxada não vem perto de mim, não


Você está suja de terra, de terra suja do chão
Sabe com quem está falando, veja sua posição
E não se esqueça à distância da nossa separação.

Eu sou a caneta dorada que escreve nos tabelião


Eu escrevo pros Governos as leis da Constituição
Escrevi em papel de linho, pros ricaços e barão.
Só ando na mão dos mestres, dos homens de posição.

A enxada respondeu: que bateu vivo no chão,


Pra poder dar o que comer e vestir o seu patrão
Eu vim no mundo primeiro quase no tempo de Adão
Se não fosse o meu sustento ninguém tinha instrução.

Vai-te caneta orgulhosa, vergonha da geração.


A tua alta nobreza não passa de pretensão
Você diz que escreve tudo, tem uma coisa que não
É a palavra bonita que se chama... Educação!

OBS: Anteriormente a esta atividade é interessante que se faça uma


discussão sobre o que são valores no pensamento dos alunos.
Identificá-los com eles. Identificar quem nos transmite tais valores, e
se eles são postos em prática pelos mesmos.

Atividade de interpretação da música “A Caneta e a


Enxada”.
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1. A música nos fala de um diálogo entre uma caneta e uma enxada.


Quem cada uma representa?

2. Faça uma descrição da atitude da enxada e da caneta quando


estas se encontram, depois diga se você concorda com tais atitudes e
justifique sua resposta.

3. Porque a caneta pensa ter mais valor que a enxada? Você


concorda com esse pensamento? Por quê?

4. A resposta que a enxada dá à caneta mostra que ela tem tanto


valor quanto a caneta. Retire da letra o trecho que demonstra isso.

5. No final da música a enxada da uma lição na caneta. Que lição é


essa?

6. Como podemos utilizar a mensagem que a música nos passa no


nosso dia-a-dia?

A vaca foi pro brejo


Composição: Tião Carreiro/ Lourival dos Santos/Vicente
Machado.
Intérprete: Tião Carreiro e Pardinho.
CD: Raízes do século.

Mundo velho está perdido


Já não endireita mais
Os filhos de hoje em dia já não obedece os pais
É o começo do fim
Já estou vendo sinais

Metade da mocidade estão virando marginais


É um bando de serpente
Os mocinhos vão na frente, as mocinhas vão atrás...

Pobre pai e pobre mãe


Morrendo de trabalhar
Deixa o coro no serviço pra fazer filho estudar
Compra carro a prestação
Para o filho passear
Os filhos vivem rodando fazendo pneu cantar
Ouvi um filho dizer
O meu pai tem que gemer, não mandei ninguém casar...

O filho parece rei


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Filha parece rainha


Eles que mandam na casa e ninguém tira farinha
Manda a mãe calar a boca
Coitada fica quietinha
O pai é um zero à esquerda, é um trem fora da linha
Cantando agora eu falo
Terrero que não tem galo quem canta é frango e franguinha...

Pra ver a filha formada


Um grande amigo meu
O pão que o diabo amassou o pobre homem comeu
Quando a filha se formou
Foi só desgosto que deu
Ela disse assim pro pai: "quem vai embora sou eu"
Pobre pai banhado em pranto
O seu desgosto foi tanto que o pobre velho morreu...

Meu mestre é Deus nas alturas


O mundo é meu colégio
Eu sei criticar cantando: Deus me deu o privilégio
Mato a cobra e mostro o pau
Eu mato e não apedrejo
Dragão de sete cabeças também mato e não alejo
Estamos no fim do respeito
Mundo velho não tem jeito, a vaca já foi pro brejo...

Atividade de interpretação da música “A vaca foi pro


brejo”.

1. Logo na primeira estrofe da música nos deparamos com esta frase:


“Mundo velho está perdido já não indireita mais”.
Analisando a frase e o contexto da música, o que já não tem mais
concerto?

2. Que tipo de atitudes podemos identificar na música, dos filhos em


relação aos pais? O que você pensa sobre elas? São atitudes
corretas?Por quê?

3. Em sua opinião como deve ser o tratamento dispensado aos pais


pelos filhos? Por quê?

4. Em sua opinião, (revendo os conceitos de valores discutidos


anteriormente), que valores estão faltando entre pais e filhos? Por
quê?
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Couro de Boi
Composição: Palmeira e Biá.

Conheço um velho ditado, que é do tempo dos agáis.


Diz que um pai trata dez filhos, dez filhos não trata um pai.
Sentindo o peso dos anos sem poder mais trabalhar,
o velho, peão estradeiro, com seu filho foi morar.
O rapaz era casado e a mulher deu de implicar.
"Você manda o velho embora, se não quiser que eu vá".
E o rapaz, de coração duro, com o velhinho foi falar:

Para o senhor se mudar, meu pai eu vim lhe pedir


Hoje aqui da minha casa o senhor tem que sair
Leve este couro de boi que eu acabei de curtir
Pra lhe servir de coberta aonde o senhor dormir
O pobre velho, calado, pegou o couro e saiu
Seu neto de oito anos que aquela cena assistiu
Correu atrás do avô, seu paletó sacudiu
Metade daquele couro, chorando ele pediu
O velhinho, comovido, pra não ver o neto chorando.
Partiu o couro no meio e pro netinho foi dando
O menino chegou em casa, seu pai foi lhe perguntando.

Pra quê você quer este couro que seu avô ia levando
Disse o menino ao pai: um dia vou me casar
O senhor vai ficar velho e comigo vem morar
Pode ser que aconteça de nós não se combinar
Essa metade do couro vai dar pro senhor levar

Atividade de interpretação de música “Couro de


Boi”.
1. Que valores podemos identificar na música?

2. ”Conheço um velho ditado que é do tempo dos agáis.


Diz que um pai trata dez filhos, dez filhos num trata um pai”
Em sua opinião o que ele quis dizer com esses versos?

3. Você concorda com o que diz os versos? Por quê?

4. Você concorda com a atitude do neto descrita na música? Justifique


sua resposta.
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6. “O senhor vai ficar velho e comigo vem morar


Pode ser que aconteça de nóis dois não se combinar”
Você acha que a história pode se repetir? O que se pode fazer para
que os acontecimentos ruins não voltem a ocorrer na nossa vida?

5. Que lição podemos tirar dos versos desta música?

4 Considerações finais

É interessante encaminhar as atividades em grupos, cada qual


trabalhar com uma canção.
Através deste trabalho é possível promover a interação com as
famílias dos alunos, discutindo sobre suas considerações diante do
que foi trabalhado, através de entrevistas realizadas pelos alunos
com seus familiares.
Como finalização da implementação do material didático na escola,
pretendemos produzir uma peça teatral ou dramatização de algumas
das músicas trabalhadas, ou ainda, dentro das possibilidades, a
apresentação de grupos de violeiros que possam se apresentar na
escola, socializando a música caipira.
30

5. REFERÊNCIAS

5.1. BIBLIOGRÁFICAS

ABUD, Kátia Maria. Registro e Representação do cotidiano: a


música popular na aula de História. Caderno Cedes. Campinas,
v.25, n.67. pp.309-317, set/dez. 2005.

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produção de conhecimento histórico escolar. In: SCHIMIDT, Maria
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Perspectivas do Ensino de História. Curitiba: Aos Quatro Ventos,
1995.

BARROSO, I. Entrevista concedida em 18 de março de 2005.


www.gafieiras.com.br

BITTENCOURT, Circe F. Ensino da História: Fundamentos e


Métodos. São Paulo, Cortez: 2004.
31

CHERVEL, A.A História das disciplinas escolares: reflexões


sobre um campo de pesquisa.Teoria & Educação,n.2,
1990,p.177-229.

CUNHA, Maria de Fátima da ”Memórias caipiras através de canções”


In:Boletim do Laboratório de Ensino de
História.Londrina;ED.UEL, jan./abr.,2002.

CAINELLI, Marlene. Educação Histórica: perspectivas de aprendizagem


da história no ensino fundamental. In: Educar em Revista. Curitiba:
UFPR, 2006 (Dossiê Educação Histórica).

CHAVES, Aparecido Adilson. A Música Caipira em aulas de


História: Questões e possibilidades. Curitiba, 2006.

Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do


Estado do Paraná – História. SEED. Curitiba: 2003

MORENO, J.C. Pensar a História. Pensar seu Ensino. Revista


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2002.

NEPOMUCENO, Rosa. Música Caipira: da roça ao rodeio. São


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NIKITIUK, Sônia M. Leite (Org). Repensando o Ensino de História.


São Paulo, Cortez 2007. Coleção Questões da nossa Época. V. 52.

PINSKY. Carla B. & Outros. Fontes Históricas. São Paulo, Contexto:


2005.
32

PIRES, Cornélio. Musa caipira e as estrambóticas aventuras de


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SIMAN, Lana Mara C. O papel dos mediadores culturais e da ação
mediadora do professor no processo de construção do conhecimento
histórico pelos alunos. In: ZARTH, Paulo A. & Outros (orgs.). Ensino
de História e Educação. Ijuí: UNIJUÍ: 2004.

SCHIMIDT, Maria Auxiliadora & CAINELLI, Marlene R. (orgs.). III


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WORMS, Luciana Salles & COSTA, Wellington B. Brasil século XX ao


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Estudo da Música Popular, 2004.

5.2 ELETRÔNICAS

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www.letras.terra.com.br
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www.tocar.com.br
www.revistagloborural.globo.com.br
www.rolandoboldrin.com.br
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