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História da África:

Questões Gerais
Introdutórias
Material Teórico
África e seus Desafios Atuais

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Elisabete Guilherme

Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
África e seus Desafios Atuais

• O que ouvimos de África?


• Os desafios para o desenvolvimento africano
• A Neocolonização
• A fome e a pobreza na África
• Os conflitos e as tensões: a violência e as guerras

·· Apresentar alguns elementos dos desafios contemporâneos, como a fome, a


miséria, a violência e o subdesenvolvimento.
·· Apontar as possíveis causas desses desafios: fatores históricos, políticos e
geográficos.

Caro(a) aluno(a),
Leia atentamente o conteúdo desta Unidade, que lhe fornecerá algumas informações sobre
os desafios atuais do continente africano.
Você também encontrará nesta Unidade uma atividade composta por questões de múltipla
escolha relacionada com o conteúdo estudado. Além disso, terá a oportunidade de trocar
conhecimentos e debater questões no fórum de discussão.
É extremante importante que você consulte os materiais complementares, pois são ricos
em informações, possibilitando-lhe o aprofundamento de seus estudos sobre esse assunto.

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Unidade: África e seus Desafios Atuais

Contextualização

Ruanda é um dos maiores genocídios da história do continente africano, considerado


como um dos eventos mais trágicos da segunda metade do século passado. Em apenas 100
dias (entre os meses de abril e junho de 1994), estima-se que um total de 800 mil pessoas
(oitocentas mil!), a maioria da etnia tutsi, foram mortas no país.
Esse é apenas um dos muitos episódios que fazem parte do desafio da África para superar
a fome, a miséria e o subdesenvolvimento em vários de seus países.
Leia com atenção os textos, pesquise e avalie seus conhecimentos sobre o continente
africano. Considere a importância que esses estudos têm para compreender um pouco de
nossas origens, para analisarmos nossas relações e nos questionarmos acerca dos impactos e
da responsabilidade da situação africana para o resto do mundo.

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O que ouvimos de África?

As manchetes de jornais ou revistas nos apresentam uma África repleta de misérias,


calamidades, fome e guerras. O continente é marcado pelo subdesenvolvimento e por epidemias
das mais variadas doenças, algumas, inclusive, que já foram erradicadas de outras partes do
mundo. Conflitos étnicos ou religiosos massacram populações inteiras, sem mencionar a
imagem de milhares de crianças vítimas da fome.
Entretanto, sabemos pouco ou ignoramos totalmente as origens da atual situação do
continente que possui inúmeras riquezas naturais* - além da diversidade de climas, paisagens,
fauna e flora. Tendo isso em vista, podemos nos perguntar como civilizações inteiras, culturas
milenares e estados guerreiros foram reduzidos a milhões de famintos em regiões que são ricas
em recursos naturais, como em nenhuma outra parte do mundo

O Continente Africano é o terceiro maior em extensão e abriga


cerca de 8% das reservas de gás natural e petróleo do mundo, com
destaque para o Congo, além de Egito, mas principalmente para os
países membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de
Petróleo): Angola, Argélia, Líbia e Nigéria. Outra importante reserva
Importante! é a de urânio, 25% desse mineral localizam-se na região da África do
Sul e do Gabão. A África do Sul é também o maior produtor mundial
de ouro. As outras nações também são ricas em reservas de diamante,
manganês, zinco, ferro, entre outras.

Mapa – Exploração de Recursos, Comércio de Alimentos e Minerais não Metálicos e energéticos

Fonte: gentequeeduca.org.br

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Unidade: África e seus Desafios Atuais

A escravização de cidadãos africanos, a divisão do continente entre África do Norte ou


Magreb ou Árabe – marcada pela influência religiosa do Islã e o uso do idioma árabe pela
maioria da população – e África Subsaariana ou África Tropical*, região abaixo do Saara
abrangendo a maioria dos países, as fronteiras artificiais definidas pela Conferência de
Berlim, o neocolonialismo, os impactos do pós-guerra, a globalização e a posição relegada
à África nas políticas econômicas internacionais são apontados como fatores que trouxeram
consequências diretas para as várias nações: fome, miséria, falta de estabilidade política,
precária infraestrutura, governos ditatoriais e conflitos locais.

Embora a região seja conhecida também por África Negra o termo está
caindo em desuso, tendo em vista que o mesmo fazia oposição à África do
Norte – ou África Branca.

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Os desafios para o desenvolvimento africano

Um primeiro elemento a destacar é que, quando se trata de África, não é possível generalizar
os fenômenos – sejam eles políticos, econômicos ou sociais – devido à diversidade cultural,
social, política e étnica do continente e as diferentes formas de colonização impostas pelos países
europeus, principalmente após os acordos firmados na Conferência de Berlim em 1884-1885*.

Pesquise sobre o que foi a Conferência de Berlim,


quais foram os países participantes e quais importantes
Reflita decisões foram tomadas durante esse encontro.

Uma estratégia defensiva com o reforço momentâneo do protecionismo colonial foi um dos
recursos utilizados, após a Primeira Guerra, pelos países europeus que possuíam colônias em
território africano e que começavam um processo de reestruturação econômica. França, Grã-
Bretanha e Portugal, com diferentes motivações, empenharam-se em garantir, manter e fortalecer
seu mercado consumidor, como também suas fontes de matérias-primas. Era um novo momento
tanto para colonizados como para colonizadores. Segundo Coquery-Vidrovitch (2002):

Os impérios estavam tão mais sensíveis à conjuntura, que o mercado


de crédito, naquele momento, não se encontrava submetido a
qualquer controle: a liberdade de remessa para a metrópole implicava
a abertura dos territórios aos fluxos de capital, às operações cambiais
e à negociação dos valores imobiliários. Quanto mais o território
estivesse aberto ao mundo ocidental, mais ele seria afetado pelas
implicações financeiras internacionais da crise.

As mudanças nas relações contribuíram para alterar a participação da África no mercado


internacional e a situação de dependência das nações africanas com relação às suas metrópoles
que “varia amplamente de acordo com as regiões, em razão da idade mais ou menos avançada da
colonização e da precocidade ou não dos investimentos em capital” (COQUERY-VIDROVITCH,
2010, p. 341). A África do Sul e o Congo belga (atual Republica Democrática do Congo)
foram casos singulares nesse processo de desenvolvimento econômico. Nas outras regiões do
continente, a chamada Grande Depressão* causou uma profunda crise interna nos países. A
pauperização da população do campo deu força ao processo de imigração para as cidades, e
nelas o aumento do proletariado formado, sobretudo, pelos membros da população local.

Pesquise sobre a quebra da bolsa de Nova York em


1929 e entenda melhor as consequências da chamada
Reflita Grande Depressão.

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Unidade: África e seus Desafios Atuais

A Neocolonização
A Segunda Guerra fez do continente o objeto de cobiça e de disputa dos países do Eixo:
Itália, França, Alemanha, Espanha manifestavam seus interesses em ampliar ou assegurar seus
domínios em regiões do continente africano, fossem por motivos estratégicos, fossem por
razões econômicas. As pretensões visavam ratificar acordos que já haviam sido feitos entre
esses países. A Itália, por exemplo, pretendia criar uma África Oriental Italiana (ratificando um
acordo de 1937) consolidando seus domínios na Líbia, Etiópia, Somália, Eritréia e Abissínia,
incluindo, mais tarde também, o Egito, que já era alvo do tratado anglo-egípcio, e a Tunísia,
de domínio francês.

Mapa – África Colonizada

Fonte: UFMG

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Todas as pretensões italianas dependiam de uma vitória da Inglaterra e, ainda, chocavam-
se com interesses da Alemanha, que também almejava dominar alguns territórios. A França
também era um empecilho aos objetivos italianos. Ao detalhar os interesses germânicos,
Coquery-Vidrovitch (2010, p. 344) afirma que:

O interesse do IIIº Reich no tocante à África começara bem antes


da guerra. Aproximadamente ao final dos anos de 1930, um
detalhado levantamento estatístico foi realizado pelos industriais
alemães e pelos órgãos de recenseamento estatístico do Reich.
As autoridades alemãs notavam que, em 1938, a África ocupava,
no mercado mundial, o primeiro posto na produção de algodão,
amendoim e palma, e a segunda posição no tangente ao cacau, ao
chá, ao tabaco e à banana, além de um excepcional posicionamento
relativamente à sua produção mineral (diamante, ouro, cobalto,
vanádio, urânio e fosfatos). Ademais, a África possuía 40% das
reservas mundiais de energia hidráulica [...] Por conseguinte, as
suas mais importantes regiões (em primeiro lugar: a AEF, o Congo
belga e o sudoeste africano) deveriam ser colocadas, direta ou
indiretamente, sob a direção da Alemanha.

Como argumento para defesa e em resposta às pretensões de alemães, italianos, espanhóis


e franceses sobre as diferentes possibilidades de domínio da África do Norte, tendo em vista
sua estratégica posição, os Estados Unidos justificaram o desembarque de seu exército naquela
região. Em termos de mobilização industrial, as iniciativas nos Estados Unidos foram sem
precedentes e solidificaram a sua posterior supremacia econômica mundial.
Após a Segunda Guerra, alguns países africanos receberam investimentos das metrópoles.
Entretanto, sempre houve o cuidado em evitar que o desenvolvimento africano fizesse
concorrência com a produção europeia. No caso de investimentos britânicos, segundo
Coquery-Vidrovitch (2010, p. 346), houve o esforço

Em distinguir as “obras de desenvolvimento” das “obras ordinárias”,


de caráter administrativo, as únicas a serem financiadas com base
nas rendas normais da colônia. Quanto as primeiras, elas voltavam-
se, além das medidas de “desenvolvimento material”, para a saúde
pública – fundamento de uma força de trabalho eficaz – e para
ações no âmbito do sistema escolar.

Ao discutir o papel do Estado não só de financiador, mas como gerador de política, a França
acrescentou às ideias já existentes de desenvolvimento de infraestrutura um novo princípio
baseado no fomento da atividade industrial através da criação de um Comitê das Indústrias do
Império. “A ideia permanecia, contudo, ancorada em evitar a concorrência com os interesses
metropolitanos” (COQUERY-VIDROVITCH, 2010, p. 347).

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Unidade: África e seus Desafios Atuais

Em outras palavras, as metrópoles seguiam tratando o continente africano como colônia


e fonte de matérias primas para o uso em suas próprias indústrias. Os investimentos não
tinham como escopo o desenvolvimento das nações, mas a manutenção de sua dependência
econômica da metrópole europeia.

Os anos após a Segunda Guerra, as crises econômicas, sociais e políticas tornaram precárias
as condições de vida na África. Os salários congelados durante a guerra eram insuficientes para
a compra de alimentos, cujos preços subiam vertiginosamente, visto que muitos produtos eram
importados da Europa. O proletariado urbano, engrossado por camponeses que buscavam
melhores condições de vida nas cidades, contribuía para piorar a situação, pois “o precário
habitat ganhava contornos permanentes, com a ausência quase total de vias públicas, serviços
públicos e saneamento” (COQUERY-VIDROVITCH, 2010, p. 349)

Os conflitos por melhores condições de vida, e de trabalho, explodiram por todo o continente
e as cidades eram os lugares preferidos para o enfrentamento: em 1944 no Senegal, em
1945 em Douala, em 1947 na Guiné. Também Argélia (1975) e Madagascar (1947) foram
cenários de distúrbios e greves, assim como em Abidjan e Dakar ou ainda em Elisabethville
(Lumbunbashi) e Leopoldville (Kinshasa), locais onde abatia-se uma miséria atroz.

A retomada do desenvolvimento africano esteve atrelada aos interesses das metrópoles,


sobretudo Grã-Bretanha, França e Portugal, em conjunto com as ações e investimentos
dos Estados Unidos e dos organismos internacionais criados no pós-guerra para regular a
economia no mundo não comunista, como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o BIRD
(Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento).

As crises que se sucederam – da Coréia (1951-1952), de Suez em 1956 e as recorrentes


recessões norte-americanas (1953-1954, 1957-1958, 1960-1961) –,os questionamentos
sobre a descolonização da África, bem como os processos de dominação e dependência
tornaram-se objetos de preocupação das metrópoles. A instabilidade econômica, a ganância
dos chefes locais e o nível de subdesenvolvimento mergulharam os países, especialmente os
da África Subsaariana, em profundas crises após suas independências.

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A Fome e a Pobreza na África

O continente africano é marcado pelo estigma da fome, da miséria e da pobreza, pois esses
são os temas mais mencionados, e conhecidos, quando se trata de África. E isso se dá pelo fato
de que muitos ignoram as dimensões e divisões do continente e o entendem como um único país,
sem considerar suas diferenças geográficas, étnicas, culturais, sociais, econômicas e políticas.
Esse conhecido cenário africano está relacionado diretamente a uma parcela do continente,
formada pelos vários países que compõem a região conhecida como África Subsaariana ou
África Tropical.

Mapa – África Subsaariana

Fonte: gentequeeduca.org.br

A África Subsaariana é considerada a região mais pobre do planeta,


nela estão 33 (trinta e três) dos países relacionados pela ONU entre os
mais pobres do mundo. A expectativa de vida não ultrapassa os 47 anos,
Você sabia? e o índice de alfabetização é de 60% entre os adultos! São frequentes as
epidemias, além do grande número de portadores de HIV.

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Unidade: África e seus Desafios Atuais

Esses países foram objeto de vários processos de exploração. Uma parcela considerável
de pessoas que foram escravizadas fora do continente, como aquelas trazidas para o Brasil,
era dessa região. Foram gerações inteiras de homens e mulheres que deixaram de participar
ativamente da construção de suas próprias nações e que se viram obrigadas a realizar trabalhos
forçados se desejassem viver, mesmo que por poucos anos. A Conferência de Berlim (1884-
1885) mudou o mapa do continente e reuniu num mesmo território grupos com características
étnico-culturais diferentes e, em muitos casos, até mesmo rivais. Além disso, havia a separação
de membros de uma mesma étnica em países diferentes. Os conflitos e tensões nas, agora
independentes, colônias eram controlados por meio da aplicação da força militar da metrópole.
Vários países ainda sofrem consequências dessa divisão artificial das fronteiras, em alguns
as tensões são de origem étnica – caso de Ruanda, Mali, Senegal, Burundi, Congo, Somália,
Libéria; noutros de ordem territorial, como aconteceu em Serra Leoa, na Somália ou na
Etiópia. E ainda existem casos, como o da Argélia (Norte da África) e do Sudão, em que as
tensões e conflitos têm origens religiosas.

Mapa – África de 1914

Fonte: historiaecultura.ciar.ufg.br

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Como consequência direta da situação criada pelos países europeus, o clima de instabilidade
política, a falta de infraestrutura e os conflitos étnico-religiosos, ou por domínio territorial, foram
agravados durante o processo e as lutas por independência da maioria desses países. O resultado
de anos de exploração – social e econômica – e dominação política foi a criação de “democracias”
instáveis em sociedades agrícolas com poucos investimentos em saneamento básico, educação
e saúde. Daí o desaparecimento quase por completo das estruturas tradicionais de sociedades
baseadas na família e no clã, e que sustentavam as nações africanas com seus valores ancestrais.
Alguns autores apontam os fatores naturais como corresponsáveis pela crise na África
Subsaariana, uma vez que as condições climáticas, influenciadas pela região do deserto do Saara e
pela floresta tropical, além das montanhas, nem sempre foram favoráveis à presença do homem
em alguns períodos da história. Existem registros de períodos de seca e, embora a região seja
banhada pelos principais rios africanos – como o Congo, o Nilo, o Limpopo, o Zambeze, o Níger
e o Senegal* –, a maioria dos governos não dispõe de recursos tecnológicos para a implantação
de técnicas de irrigação ou de captação de água para fins de abastecer à população, por exemplo.

Mapa – Aspectos Físicos Africanos – Hidrografia


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215 0 430 km

PROJEÇÃO CILÍNDRICA
EQUIDISTANTE MERIDIANA

Fonte: Adaptado de IBGE

Os dados estatísticos dos países da região corroboram com essa análise, pois, segundo
Fernandes (2010, p. 89),

Entre 65 a 75% da população residem nas áreas rurais com


escassez de recursos tecnológicos suficientes, instituições públicas,
infraestrutura e uma força de trabalho a altura das suas necessidades.
Ademais, um terço da população subsaariana (cerca de 200
milhões de pessoas) dorme com fome e; milhões de crianças com
menos de cinco anos de idade sofrem de mau nutrição.

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Unidade: África e seus Desafios Atuais

Todos esses fatores contribuíram para a situação de crise constante nesses países. As
lideranças locais não possuem os recursos necessários para conter os insatisfeitos e, muitas
vezes, são esses mesmos líderes que, atendendo a interesses estrangeiros, alimentam a
corrupção dos governos e a exploração da população autóctone.

Acesse o link e conheça alguns dos governos


autoritários na África: http://goo.gl/lHhCyV
pesquise e verifique quantos deles ainda estão
no exercício do poder.

A fome é um flagelo ligado diretamente à pobreza em que vive a população na região


subsaariana da África. Associados a ela estão as guerras civis e as doenças – como malária,
cólera, AIDS e mais recentemente a epidemia pelo vírus Ebola – que dizimam milhares de
vidas anualmente (Analise o gráfico – disponível em https://almanaque.abril.com.br/planeta-onu/pdfs/saude-2013.
pdf – e saiba mais sobre ocorrência das doenças transmissíveis e não transmissíveis na África
em relação com o resto do mundo). A região vive um paradoxo: em alguns países estão as
maiores reservas de alguns minerais do mundo e em outros está a fome e a miséria. O mesmo
ocorre com os recursos: em alguns países as enchentes inundam cidades inteiras e em outros,
a seca destrói a produção agrícola e espalha a fome.

Entre os anos de 1983 e 1985, milhares de pessoas


morreram pela fome na Etiópia e, na mesma época,
cerca de 250 mil pessoas também morreram no Sudão
por falta de alimentos. Atualmente, Uganda foi vítima
da escassez de água.

A relação da fome na África não está ligada à incapacidade ou ao empenho do africano


em trabalhar a terra, mas com as mudanças provocadas pela decisão das metrópoles em
destinar as terras, antes cultivadas pelo pequeno proprietário e sua família, para o latifúndio
e a monocultura, buscando o abastecimento do mercado externo. As culturas tradicionais de
mandioca, arroz ou inhame foram substituídas por produtos como café e cana, reduzindo a
produção destinada ao consumo da população. O desenvolvimento das técnicas agrícolas e os
equipamentos substituíram a mão de obra humana nas grandes propriedades rurais.
A mesma análise é feita por Fernandes (2010, p. 90), pois para ele

A pobreza na ASS esta associada a diversos fatores, e entre eles,


as guerras que provoca a destruição das escassas infraestruturas;
a desestruturação econômica decorrente do período pós-
independência; a existência de economias de mercado frágil
com pouca diversificação e competitividade; a falta de capitais;
as tragédias climáticas em especial as prolongadas secas; a má
governação que implica suprimento inadequado de bens públicos
tais como níveis inadequados de educação, saúde e alto nível de
corrupções e; as restrições ao livre comércio internacional.

Em busca de alimentos e fugindo da fome e da miséria, as populações são obrigadas a


migrarem de um lugar a outro, o que faz da fome um problema de várias nações. O crescente
número de pessoas que procuram proteção nos campos de refugiados se torna um problema
ainda mais grave nas situações de guerra.

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Os conflitos e as tensões: a violência e as guerras

Um outro elemento que marca profundamente a visão que temos da África é a violência,
que, aos nossos olhos, parece infinita e sem justificativa. Os conflitos são tantos e a
violência atinge tamanha dimensão que não é possível entender quais os reais motivos que
justificam tantas mortes e sofrimentos para pessoas de um mesmo país. Esse cenário é
mais um quesito que contribui para uma visão catastrófica, redutora e pessimista da África
e dos africanos.
As tensões que já existiam acabaram por se agravar no período pós-independência politica
e, no decorrer dos anos, ganharam novos contornos e foram alimentadas por outros ódios.
E as consequências para as nações envolvidas são drásticas e devastadoras. Dados da ONU
(Organização das Nações Unidas) apontam para a África como a região que mais tem conflitos
no mundo*, em alguns casos, eles duram anos. A maioria das decisões do Conselho de
Segurança da ONU diz respeito ao continente africano.

O site www.warsintheworld.com atualiza diariamente o número


de conflitos no mundo. Em maio de 2015, dos 65 conflitos
ativos no mundo 27 eram no continente africano!

Os estudos a respeito das causas da violência em África enfatizam alguns fatores e oferecem
luzes sobre outros. E, de forma geral, afirmam, assim como Medeiros (2010, p. 183), que

Surge encontrar a paz, conseguir a reconciliação entre partes


em confronto, quando se reclama a necessidade de cumprir os
“Objetivos de Desenvolvimento do Milênio*”. Todavia há que
ir mais além, no sentido da estabilização social, da liberdade
política e do desenvolvimento econômico, cujas fórmulas estão
em constante experimentação, sobretudo na sua adaptação aos
contextos africanos.

Acesse o site http://www.pnud.org.br/odm.aspx e pesquise sobre a


Declaração do Milênio e os Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio a serem alcançados pelas Nações até 2015.
Há uma versão completa da Declaração disponível para
download.

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Unidade: África e seus Desafios Atuais

Muitas das opiniões acerca das origens dos conflitos em continente africano carecem de
estudos mais apurados e do conhecimento da realidade concreta onde se dão os embates. Os
argumentos mais usados são os relacionados às questões étnicas ou antigas rivalidades tribais
ou religiosas. Entretanto, associado a esses, podem ou não estar em foco os conflitos pela
posse da terra e a saturação demográfica que geram problemas alimentares.
É possível encontrar muitas outras referências que, normalmente, estão intercruzadas.
Medeiros (2010, p. 186) destaca:
[...] Heranças do passado colonial, desde a fase do tráfico de
escravos à de dominação imperialista, nos seus múltiplos
aspectos; crise do Estado pós colonial, importado e não legitimado
internamente, relacionada com mudanças na configuração das
conjunturas e da divisão internacional do trabalho; ingerências
externas num contexto crescente de globalização; manipulação de
clivagens étnicas ou religiosas; pobreza e baixo desenvolvimento
humano, com aprofundamento de grandes desigualdades sociais,
o que “permite aos mais ricos comprar armas e obriga os mais
pobres a venderem-se”.
BOUQUET, 2008

A transformação da natureza dos conflitos, após as independências, é outro fator


apontado pelos estudiosos. Os conflitos que tinham como base uma ideologia passaram a
ser configurar como lutas internas das nações, agora, independentes. Essas, nas palavras
de Medeiros (2010, p. 186)

[...] Desenrolam-se muitas vezes de forma descontinua no tempo,


com fases e picos de intensidade diferentes; suscitam a criação de
focos territoriais de grande tensão que contrastam com áreas de
relativa calmaria [...]

Alguns elementos da herança do passado colonial que merecem destaque ao se estudar


os conflitos atuais são: o peso do passado de violência desde a escravização dos africanos,
passando pelo período colonial e que marca profundamente a memória coletiva das
pessoas. As regiões de maior conflito* são, justamente, as que mais sofreram com a
violência nas suas mais diferentes formas e intensidades, em variados tempos da história.
Um autor chamado Mazrui (2008), citado por Medeiros (2010), assim resume essa
realidade: “enquanto as guerras mais letais ocorreram entre populações negras, as suas
‘raízes’ ligam-se a um legado branco”.

Os conflitos mais sangrentos e com o maior número de vítimas


no continente ocorrem, justamente, nos países que possuem um
histórico de violências – em suas mais variadas formas - como
Uganda, Congo, Ruanda, Somália, Nigéria, República Centro
Africana, Mali, Somalilândia e Puntlândia (estados declarados
independentes da Somália em 1991 e 1998, respectivamente).

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As fronteiras, herdadas do período colonial, também estão nas raízes de algumas guerras
africanas. Entretanto, foi a economia política do colonialismo que, ao destruir as instituições
tradicionais, acabou por gerar fortes tensões e desordem tanto política como social. A política
em torno de um estado frágil e com pouca experiência administrativa de seus líderes é um
fator decisivo para o agravamento da crise doméstica.
A África sempre manteve relações comercias com os outros continentes, entretanto elas nem
sempre foram positivas. Essas relações interferem diretamente na ocorrência, permanência
e duração dos conflitos, pois os agentes estão envolvidos em redes criminosas, preocupados
com a exploração ilegal dos recursos naturais. As conexões regionais e as dinâmicas globais
estão ligadas, em muitos casos, diretamente aos conflitos no continente.
Os recursos naturais da África são alvo da cobiça de muitas nações, dentro e fora do
continente. Portanto, não é a falta de recursos a origem dos conflitos, mas a sua abundância e
seu valor agregado. Controla-se um recurso não apenas para explorar ou dominar um território,
mas também, e sobretudo, para utilizar os dividendos do mesmo para manter uma verdadeira
indústria de guerra – que atende aos interesses de grupos das mais diversas procedências.
As modalidades, os meios e as variações dos conflitos em África não permitem um estudo
unificado dos mesmos, mas dão ideia da abrangência e dos impactos deles em todo o mundo.
Os campos de refugiados* exigem esforços internacionais para alimentar milhares de pessoas
que são obrigadas a deixarem suas regiões de origem pela proximidade dos combates. Um
número cada vez maior de crianças perde a vida, o que compromete o futuro das nações. As
mortes precoces estão relacionadas a epidemias, fome, como já citado aqui, mas também à
captação para compor as milícias em conflitos.

Os campos de refugiados são acampamentos criados para acolher a


população que, por motivo de guerra ou algum fenômeno natural,
tenha que sair de seu local de origem. Normalmente, as acomodações
temporárias são feitas de lonas e organizações humanitárias – como
a ONU e os Médicos sem fronteiras – são os responsáveis por prestar
assistência aos refugiados. Segundo dados do Alto Comissariado
das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), existem mais de 45
milhões de refugiados no mundo – o número mais alto desde o início
do milênio. A maioria fugindo de regiões de conflitos violentos!

Encontrar saídas para o continente africano é uma tarefa que demanda esforços
internacionais. Sem o efetivo comprometimento dos países desenvolvidos, será impossível
mudar a realidade da África.

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Unidade: África e seus Desafios Atuais

Material Complementar

Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta Unidade, assista os filmes:

Filmes:
GEORGE, Terry (diretor). Hotel Ruanda. 2004 (2h01mim). Baseado em fatos
reais. Em 1994 um conflito político em Ruanda levou à morte de quase um milhão de
pessoas em apenas cem dias. Sem apoio dos demais países, os ruandenses tiveram que
buscar saídas em seu próprio cotidiano para sobreviver. Uma delas foi oferecida por
Paul Rusesabagina (Don Cheadle), que era gerente do hotel Milles Collines, localizado na
capital do país. Contando apenas com sua coragem, Paul abrigou no hotel mais de 1200
pessoas durante o conflito.

ZWICK, Edward. (diretor). Diamante de Sangue. 2007 (2h22mim). Serra Leoa,


final da década de 90. O país está em plena guerra civil, com conflitos constantes entre
o governo e a Força Unida Revolucionária (FUR). Quando uma tropa da FUR invade
uma aldeia da etnia Mende, o pescador Solomon Vandy (Djimon Hounsou) é separado
de sua família, que consegue fugir. Solomon é levado a um campo de mineração de
diamantes, onde é obrigado a trabalhar. Lá ele encontra um diamante cor-de-rosa, que
tem cerca de 100 quilates. Solomon consegue escondê-lo em um pedaço de pano e o
enterra, mas é descoberto por um integrante da FUR. Nesse exato momento ocorre um
ataque do governo, que faz com que Solomon e vários dos presentes sejam presos. Ao
chegar na cadeia, lá está Danny Archer (Leonardo DiCaprio), um ex-mercenário nascido
no Zimbábue que se dedica a contrabandear diamantes para a Libéria, de onde são
vendidos a grandes corporações. Danny ouve um integrante da FUR acusar Solomon de
ter escondido o diamante e se interessa pela história. Ao deixar a prisão, Danny faz com
que Solomon também saia, propondo-lhe um trato: que ele mostre onde o diamante está
escondido, em troca de ajuda para que possa encontrar sua família. Solomon não acredita
em Danny, mas, sem saída, aceita o acordo.

Sites:
Para obter e acompanhar os conflitos na África e no mundo, acesse:
www.warsintheworld.com

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Referências

COQUERY-VIDROVITCH, C. As mudanças econômicas na África em seu contexto mundial


(1935-1980). In MAZRUI, Ali. A. (editor). História Geral da África VIII: África desde
1935. Brasília: UNESCO, 2010.
FERNANDES, L. N. A pobreza na África Subsaariana e suas consequências no mundo
globalizado. In RDE – Revista de Desenvolvimento Econômico. Salvador/BA, Ano XIII,
nº 22. Dezembro de 2010.
MEDEIROS, I. Serão explicáveis os conflitos violentos em África? Notas de leitura. In
Finisterra, XLV, 89, 2010, p. 181-204.

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Unidade: África e seus Desafios Atuais

Anotações

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