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Cecília Afonso Mecor

CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA CRISE ECONÓMICA DE ÁFRICA DOS ANOS


1980

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo Delgado

2023

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Cecília Afonso Mecor

CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA CRISE ECONÓMICA DE ÁFRICA DOS ANOS


1980

Licenciatura Em Ensino de História com habilitações em Documentação

Trabalho de carácter avaliativo a ser entregue no


Departamento de Letras e ciências sociais, no
curso de licenciatura de ensino de história com
habilitações em documentação, 3º Ano, I semestre,
orientado pelo docente:

Mestre. Mouzinho Mariano Lopes Manhalo

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo Delgado

2023

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Índice
Introdução...........................................................................................................................4

1. As mudanças económicas na África em seu contexto mundial (1935-1980)..............5

1.1. As novas formas do imperialismo............................................................................6

1.2. A política económica dos países socialistas.............................................................7

1.3. O papel dos organismos internacionais....................................................................8

1.4. A resposta dos africanos..........................................................................................8

Conclusão..........................................................................................................................10

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Lista de Abreviaturas, siglas e Acrónimos

ACP - Uma associação de 79 países da África, Caribe e Pacífico

CEE – Comunidade Económica Europeia

FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura

FMI – Fundo Monetário Internacional

OMS – Organização Mundial da Saúde

OUA – Organização para a Unidade Africana

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

RFA – República Federal de Alemanha

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

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Introdução

O presente trabalho fala das Causas e consequências da crise económica de África no


ano 1980.

A profunda crise económica do continente, à qual nos referiremos mais adiante, não deve
todavia fazer esquecer os resultados positivos que foram conseguidos neste quarto de
século.

O desenvolvimento africano depara, sobretudo desde os anos 70, com crescentes


dificuldades económicas. Os obstáculos a esse desenvolvimento são, a nosso ver, de
ordem externa e interna. Certos autores põem, demasiado frequentemente, o acento
exclusivo sobre um ou outro desses aspectos, Esquecendo uns que no quadro de
mundialização crescente da economia o contexto internacional condiciona cada vez mais
directamente a vida de cada país, e ignorando outros que apesar disso é indispensável ter
em conta as características próprias de cada estrutura social que não é apenas o mero
reflexo do exterior. Há por conseguinte interacção entre os elementos internos e externos
e só os separamos por comodidade da exposição.

O trabalho tem seguintes objectivos

 Descrever as causas e as consequências da crise económica da áfrica nos anos


1980;
 Identificar as causas e consequências da crise económica;
 Caracterizar as mudanças económicas na África em seu contexto mundial (1935-
1980).

Metodologia e estrutura do Trabalho

Para elaboração deste trabalho foi recorrida a consulta bibliográfica. O trabalho está
estruturado de seguinte forma: introdução, desenvolvimento, conclusão e referências
bibliográfica.

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1. As mudanças económicas na África em seu contexto mundial (1935-1980)

Paradoxalmente, a África apesar do seu imenso potencial ainda é caracterizada pela


pobreza multidimensional.

De acordo com Coquery – Vidrovitch (1980):

O início dos anos de 1980 marcou um agravamento preocupante da situação, acelerado


pela grande estiagem que, entre 1983 e 1985, afligiu 20 países e cerca de 35 milhões de
pessoas. Nas últimas décadas do século XX, a baixa nos rendimentos per capita e a
instabilidade nos deficit internos foram de tal ordem que as reservas, as quais ainda
correspondiam a 15% do Produto Nacional Bruto (PNB), havia dez anos, caíram,
rebaixando- se a taxas extremamente insuficientes, equivalentes a 6% do total. Ora,
simultaneamente, os fluxos líquidos de capitais externos reduziram- se perigosamente.(p.
381)

A despeito de uma multiplicação nos programas de reescalonamento nos prazos de


vencimento das dividas, aos quais 14 países foram obrigados a recorrer, em 1984- 1985,
a proporção das receitas advindas das exportações e consagradas ao reembolso da divida
passou, em media, de 18% em 1980 para 26% dois anos mais tarde, alcançando 38%,
neste mesmo período, para os países mais pobres.

Tabela 1: As mudanças económicas na África em seu contexto mundial (1935-1980).


Fonte: Mazrui & Wondji (2010, p. 361).

Valor médio anual dos fluxos (em bilhões % do total mundial


de dólares norte-americanos)

1965-9 1970-4 1975-9 1980-3 1965- 1970-4 1975-9 1980-3


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Países 5,2 11,0 18,4 31,3 79 86 72 63


industrias

África 0,2 0, 1 1,4 3 5 4 3

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6

Ainda o mesmo autor afirma que as causas do empobrecimento e subdesenvolvimento da


África são transversais. É uma questão que gera controvérsias e debates entre
académicos de diferentes quadros. É bem verdade que o seu passado, particularmente o
período colonial terá contribuído para sua degradação e atraso, porém, o argumento
perde validade temporal na medida que muitos dos problemas que se confronta resultam
de factores puramente endógenos. Pois no período pós-colonial, a riqueza da África, em
vez de alterar o modus vivenda dos autóctones como era expectativa aquando das
revoluções anticolonialistas, revelou ser um fiasco (Barros, 2019, p.19).

De acordo com Mazrui & Wondji (2010), A nova burguesia elitista africana, movida de
interesses ocultos e egoísta sobrepôs-se aos interesses da maioria dos concidadãos,
transferindo para regiões extracontinental volumes incalculáveis de capitais retirados do
erário público.

1.1. As novas formas do imperialismo

Segundo Mazrui & Wondji (2010) o imperialismo Compreende-se porque, em Abril de


1980, o secretário – geral da Organização para a Unidade Africana (OUA), o togolês
Edem Kodjo, clamava em Lagos: “a África esta morrendo [...]. O porvir parece-nos sem
futuro.” (p.358)

A característica maior da Africa de então consistia em sua dependência vis-à-vis do


Ocidente. Esta dependência devia-se, já a esta altura, a miséria, bem entendido, mas
igualmente ao recente passado colonial, gerador de uma mobilidade muito acentuada,
frente as antigas metrópoles.

Esta dependência foi, indubitavelmente, obra do Ocidente, mas também apresentava-se


como um fato interno, aceito e incorporado, circunstancia derivada, culturalmente, da
perenidade do modelo europeu, como modelo referencial.

De acordo Mazrui & Wondji (2010):

(…) no plano dos investimentos acumulados, a Franca não atingia, a época, senão a
terceira posição entre os inversores de capital (com 16% do total), atrás da Gra-Bretanha
(39%) e dos Estados Unidos da América (21%), mas era a primeira exportadora, em

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termos relativos, de novos capitais destinados a África, permanecendo, globalmente e
malgrado a ameaça da posição da RFA, o principal parceiro comercial e o primeiro
provedor de assistência técnica ao continente africano. Contrariamente ao senso comum,
o grau de penetração dos Estados Unidos da América permanecia relativamente limitado
(p.359).

O facto marcante foi, por conseguinte, a baixa permanente da poupança, acentuada a


partir do início dos anos 1980. O deficit nas operações correntes combinado a
insuficiência no fluxo de investimentos estrangeiros tornou imperativo o recurso ao
empréstimo. Mas, este ultimo agravou o problema do serviço da divida.

Sob uma óptica distinta, o clientelismo e a corrupção produziram, muito amiúde,


sistemas de espoliação patrimonial do Estado, em proveito dos dirigentes: estes gestores
da economia e do Estado pareciam não se impor, como objetivo, nada além da divisão,
entre si, em seu benefício e daqueles seus respectivos clientes regionais, do bolo
nacional.

1.2. A política económica dos países socialistas

Segundo Mazrui & Wondji (2010), o triângulo das relações entre o sul, o oeste e o leste,
o terceiro associado permaneceu praticamente fora de cena. Para os africanos, o “norte”
representava, antes de tudo, a Europa Ocidental. Foi somente por ocasião da Conferencia
Económica de Moscou (1952) que os russos decidiram ampliar a sua cooperação
financeira, comercial e técnica alem dos limites do bloco oriental (p.360).

A China, por sua vez, interveio frequentemente para contrabalançar a Acão da URSS, a
imagem do ocorrido na Somália; ela apresentou uma alternativa incontestável aos
africanos sensíveis ao carater original da experiencia chinesa cujas particulares
características, tais como o seu carater camponês e agrícola, correspondiam
perfeitamente as condições africanas. Independentemente das opções ideológicas,
numerosos Estados do continente recorreram, portanto, a expertise chinesa, notadamente
no que diz respeito a rizicultura1.

1
Rizicultura ou orizicultura é o cultivo agrícola do arroz, um dos alimentos mais importantes da
alimentação humana (Rizicultura – Wikipédia, a enciclopédia livre)

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1.3. O papel dos organismos internacionais

As organizações internacionais não se furtaram, contudo, a um trabalho real.


Produziu-se, primeiramente, a enorme massa de dossiês e relatórios técnicos ou
científicos, por elas acumulados, sem contar as acções no próprio local, por exemplo,
contra o analfabetismo (UNESCO), contra as epidemias (OMS) e contra as grandes
estiagens e fomes (FAO). Estas organizações eram apoiadas pelo Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), pelo Banco Mundial e pelo FMI cujas
prioridades determinavam-se pelo sacro-santo critério da rentabilidade, critério este
geralmente mal aceito pelos beneficiários da sua intervenção, particularmente no âmbito
da competência da UNESCO (educação, ciência e, sobretudo, cultura).

Dessa forma, ele abriu uma nova via, motivado por uma constatação imperiosa: a
impossibilidade em responder, no continente africano, com uma solução estritamente
económica, a problemas eminentemente sociais, tais como a desnutrição, a fome, as
doenças e o trabalho forcado ou mal- remunerado.

1.4. A resposta dos africanos

Frente as pressões internacionais, a primeira resposta dos africanos foi o não


alinhamento e o estabelecimento, assim como o incremento, das relações com países em
desenvolvimento, com os árabes, os asiáticos, os latino – americanos e os povos do
Caribe. O não alinhamento resultava da profunda convicção, nascida da experiencia,
segundo a qual pouca influencia caberia aos países subdesenvolvidos exercerem na
evolução dos problemas do norte, tanto a oeste quanto a leste, no plano interno ou no
âmbito dos conflitos entre blocos.

O não alinhamento nasceu efetivamente na época da Guerra Fria, no momento dos mais
rudes enfrentamentos entre o Oeste e o Leste. Criado por iniciativa de três incontestes
lideres, Tito, Nehru e al-Nasser, tornaram-se, muito rapidamente, o ponto de união para
o conjunto dos países do Terceiro Mundo, os quais totalizavam 95 representantes por
ocasião da conferência de Havana, em 1979.

Na Africa, o não alinhamento desenvolveu- se precocemente em razão do fracasso do


movimento afro-asiático, apos a conferencia de Bandung (1955). A criação de “zonas

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francas” industriais, como aquela de Dakar, permitiu aos países da CEE, sobretudo,
protegerem os seus produtos de exportação.

A principal reivindicação dos Estados ACP permanecia aquela em defesa de uma


elevação dos preços relativos as suas matérias-primas exportadas, mediante indexação
com base na inflação. Somente esta eventualidade poderia permitir-lhes financiar a
importação maciça de tecnologias avançadas, necessárias a nova etapa do seu processo
de industrialização; desde logo, estes Estados africanos poderiam, a imagem de certos
países da Asia, tirar proveito da conjunção entre recursos naturais abundantes e uma farta
mão-de-obra a preços módicos, objetivando assegurar, por sua vez, no tocante aos
centros desenvolvidos, uma maciça e livre exportação de bens manufaturados.
Encontramos- nos, entretanto e a época, ainda distantes da fatura derradeira.

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Conclusão

Após as independências a maioria dos Estados africanos ainda continuava refém da


estrutura económica e industrial herdada das antigas potências coloniais. Esse fardo
levou-os a permanecer por muito tempo numa órbita de relações comerciais
desvantajosas. Para agravar a situação, parte do tecido industrial remanescente da
colonização foi destruída pelas divergências internas que resultaram em prolongados
conflitos e ciclos de crises.

No período entre 1970 e 1980 as economias africanas experimentaram períodos menos


agradáveis em função da depreciação dos preços de matérias-primas de exportação, uma
situação que terá contribuído para o sobre endividamento dos Estados, cujos efeitos
perduram até ao presente. Porém, depois de anos de estagnação, os finais da década de
1990 marcou uma “reviravolta” no quadro macroeconómico da África. Esta alteração nas
taxas de crescimento deveu-se sobretudo ao aumento da procura mundial pelos recursos
naturais (factores exógenos), mas também de um conjunto de reformas económicas e
políticas implementadas dentro dos países africanos (factores endógenos).

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Referência Bibliográfica

Barros, M. A., (2019) 1980- África entre crises e a oportunidade de reposicionar-se no


sistema internacional, Universidades Lusíada, Lisboa.

Coquery – Vidrovitch C. (1982) As mudanças económicas na África em seu contexto


mundial (1935-1980), Estudios de Economia, in: Mazrui, A. A. & Wondji, C.
(2010) História geral da África, VIII: África desde 1935 – Brasília: UNESCO,
2010, p. 358 – 370.

Mazrui, A. A. & Wondji, C. (2010) História geral da África, VIII: África desde 1935 –
Brasília: UNESCO, 2010, p. 1272.

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