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Integracao Regional: Uma Visao Geral

UNIVERSIDADE SÃO TOMÁS DE MOÇAMBIQUE


LICENCIATURA EM ECONOMIA

ECONOMIA DE

Integração Regional em
África: Uma Visão Geral

Maputo, Fevereiro de 2019

Ernesto Samo, 2008-2019 Page 1


Integracao Regional: Uma Visao Geral

Integração Regional: Uma Visão Geral

1. Introdução

Para uma melhor explicação acerca do processo de integração regional em África,


tive que me apoiar nas informações provenientes de uma versão alargada de um
documento apresentado na conferência da UNCTAD que teve lugar na
Alemanha em Fevereiro de 2004 que passo a citar:

“Há três anos atrás, a Organização da Unidade Africana (OUA) dissolveu-se e foi
substituída por União Africana. A OUA foi constituída em 1963 com a missão
específica de libertar partes de África que ainda permaneciam sob o regime
colonial e dominação do apartheid. Alguns desejariam que a OUA fosse mais
ambiciosa e conduzisse a um ""estados unidos de África"".

Hoje, o modelo africano para a integração regional já não é o dos Estados Unidos
da América mas sim o da União Europeia. Isto devia dizer-nos imediatamente que
a integração regional, pelo menos em África não é um produto forjado
internamente mas tende a ser uma cópia dos outros. Como em todas as imitações,
a integração regional em África é um movimento superficial que provavelmente
não alcançará muitos dos objectivos dos seus arquitectos.

Lições da Integração Europeia


A integração europeia, um processo que está longe de ser acabado, foi o resultado
do reconhecimento pelos líderes europeus de que, se os seus países não fizerem
algo, para modificar os princípios fundadores dos direitos soberanos dos estados, a
Europa cedo ou tarde desintegrar-se-ia. Em menos de três gerações entre 1870 e
1945, dois dos estados mais poderosos da Europa, a França e a Alemanha,
combateram três guerras, cada uma delas mais devastadoras que a outra anterior.
O advento das armas nucleares trouxe uma mensagem para os Europeus em que
passos devem ser dados para evitar uma outra guerra entre as potências Europeias.
A integração regional foi vista como um caminho inevitável.

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A Europa Ocidental, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial,


confrontou-se com uma outra ameaça, a ameaça de ser engolida pelo comunismo
Soviético e pela insurreição comunista interna em países tão importantes como a
França, a Espanha, a Itália e a Grécia. Ao emergir da guerra, a Europa não
tinha o poder para defender-se por isso virou-se para os Estados Unidos,
para a sua protecção militar e assistência para regenerar a sua destruída
economia.
Os Americanos estavam dispostos a ajudar uma vez que eles também sentiam
que o expansionismo Soviético, especialmente nos centros industriais da Europa,
ameaçavam também os seus interesses. Para os Americanos, os países europeus que
estivessem sempre a degladiar entre si não podiam constituir parceiros fortes na sua
luta contra a União Soviética. Os Americanos exigiram então um forte elemento de
integração europeia como condição para providenciarem uma protecção do
nuclear.
Mesmo antes das iniciativas da integração regional, a Europa criou estados-trincheiras
que sempre existiram por muitos séculos. Estes estados tinham um controlo físico dos
seus territórios e sobretudo um controlo dos seus sistemas político, social e
económico. Por outro lado, em meados do século 20, as sociedades europeias
tinham alcançado níveis semelhantes de desenvolvimento económico e as suas
populações desfrutavam níveis de vida semelhantes. Havia excepções
evidentemente, tais como a Península Ibérica e outras partes do sul da Europa que
estavam atrasadas. Mas estes podiam ser arrastados pelo resto da Europa ao custo
mínimo através de todas as espécies de subsídios.
Esta uniformidade industrial possibilitou a Europa de implementar as medidas de
liberalização comercial, a pedra angular da integração regional, com pouco receio
e fraca probabilidade das economias de alguns países serem inundadas pelas dos
parceiros mais desenvolvidos.

Restrições à Integração Regional do Comércio em África

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Vimos que os países europeus, grandes e pequenos, alcançaram um alto nível de


industrialização e desenvolvimento económico muito antes da integração regional
comercial ser a prioridade de topo da sua agenda. Foram as questões políticas e
de segurança em vez de desenvolvimento económico que mobilizaram a
integração europeia.
Em África temos diferentes pontos de partida. Como discutimos anteriormente,
não há questões políticas ou de segurança atrás da integração regional regional
africana. Tentativas para introduzir estas questões - como aconteceu com a
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADCC) quando a
Ruanda e a Uganda invadiram a DRC (República Democrática do Congo) -
apenas conduziram a SADCC a um quase colapso. Os países africanos têm estado
envolvidos nas tentativas de integração regional por razões económicas.
Argumenta-se que muitos países africanos são pequenos, pobres,
subdesenvolvidos e não têm um mercado interno. Para colmatar essa deficiência,
o argumento continua, é necessário que os países africanos eliminem as barreiras
ao comércio entre eles. Através desta via, os países africanos seriam capazes de
desenvolver empresas com as necessárias economias de escala para torná-las
competitivas nos mercados mundiais, dizem.
A experiência da Europa contudo mostra que esse argumento é falso. Se
tomarmos o exemplo dos países Europeus relativamente pequenos - Suécia,
Holanda, Dinamarca, Suíça, Bélgica - este países desenvolveram empresas de
nome mundial muito antes da integração europeia se tornar realidade. Algumas
das grandes multinacionais que se desenvolveram nos pequenos países vêm à
minha memória facilmente: Electrolux, Volvo, Saab, Nestlé, Philips, Unilever,
Royal Dutch/Shell, ABB, Heineken, Carling, Norsk-Hydro, Roche, Maersk, UBS,
ABN-AMRO, nomeando apenas alguns.
Os exemplos listados anteriormente demonstram que não é o tamanho da
população de um país que determina se um país industrializa-se ou não. É sim a
sua competência e o controlo das suas políticas económicas e sociais que em
última instância determinam se um país industrializa-se ou não.

Chave para o Desenvolvimento

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O factor mais importante que determina se um país se desenvolve ou não é a sua


capacidade em controlar o seu espaço político, económico e social, isto é, a sua
política. Não é ainda este o caso da maior parte dos países africanos. O social, o
económico e em larga medida as decisões políticas não são controladas pelos
africanos ou, mais correctamente, por autoridades africanas. São controladas,
contrariamente, por actores estrangeiros que gerem esses processos para os seus
próprios benefícios.
A seguir estão os mais importantes actores não-africanos que determinam
as políticas africanas:
- Multinacionais estrangeiras
Os exemplos mais contundentes, hoje, são as empresas petrolíferas que
desenvolvem uma imensa indústria extractiva em África que tem uma ligação
quase nula às economias locais onde elas operam para além das minúsculas
""royalties"" que vão para o pagamento das importações que alimentam o
consumo das elites e fomenta a corrupção e a repressão.
- Instituições financeiras multilaterais
Através de diversas condições impostas, estas ditam as políticas económicas e
socias a seguir pelos estados africanos.
- Outros estados estrangeiros e actores não governamentais
Por causa só seu papel como doadores e/ou credores este têm uma enorme
vantagem e por isso influenciam as políticas socio-económicas dos estados
africanos.
Outro factor que determina se um país se desenvolve ou não é a sua capacidade
em gerar excedentes económicos significativos por um lado e por outro lado a sua
capacidade em afectar uma parte desse excedente para o investimento produtivo
em vez do consumo privado. Uma grande parte do excedente da África sub-
sariana sai do continente para o pagamento da dívida, expatriação do lucro, fuga
de capitais, etc.
Um dos mais vergonhosos escândalos em África mas não difundidos é o nível ao
qual as elites africanas exportam o capital do continente. Segundo as Nações
Unidas, cerca de 40% da riqueza privada de África é conservada fora do
continente pelos seus detentores, comparada com apenas 3% da Ásia do Sul e 6%
da Ásia Oriental. O pequeno excedente económico que resta, como vimos, vai

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para o financiamento do consumo das elites e governantes dos estados altamente


irresponsáveis.
Estes são alguns dos factores que explicam a incapacidade dos estados africanos
sub-sarianos para formarem e reterem as pessoas competentes que eles precisam
para embarcarem numa industrialização sustentável comparada, por exemplo, com
a Ásia do Sul e Oriental.
Durante os últimos 40 anos ou mais, vastas quantidades de tempo e de
dinheiro foram gastas na promoção da integração regional em África
largamente em vão. O patético fraco fluxo comercial entre os países africanos -
excluindo a África do Sul - não mudou do que foi há uma geração, apesar de toda
a energia que tem sido dedicada à cooperação regional e integração durante anos.
Se examinarmos o que aconteceu na Europa ocidental no passado e o que está
acontecendo actualmente na Ásia, dá a impressão que há dois factores que
conduzem ao desenvolvimento e industrialização. Estes são, primeiro, políticas
que promovam a acumulação do capital e investimento em capital social - saúde,
educação, habitação social e paz social.
As primeiras políticas conduziram a um outro resultado que foi a segunda maior
força dinamizadora da industrialização e desenvolvimento da Europa Ocidental no
passado e da industrialização da Ásia hoje, que é, a competitividade nos mercados
mundiais.
Estes são os factores que explicam porquê que pequenos países na Europa foram
capazes de alcançar o mesmo nível de desenvolvimento dos grandes muito antes
da integração europeia vislumbrar-se no horizonte depois da Segunda Guerra
Mundial.
Uma mensagem semelhante aplica-se à África. É o desenvolvimento de políticas
e práticas internas de cada país que conduzirá ao desenvolvimento de África
em primeiro lugar e não a cooperação entre os vizinhos. O que acontece entre
os vizinhos é importante principalmente por razões de estabilidade política, mas o
que forjará o desenvolvimento económico africano é a qualidade das relações
entre os países africanos individuais e o mercado mundial. (Os mercados africanos
fazem parte do mercado mundial evidentemente).
Similarmente, foi a capacidade dos pequenos países europeus em competirem nos
mercados mundiais que possibilitou-os a alcançarem o mesmo nível de

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desenvolvimento dos grandes que tinham a vantagem de terem maiores mercados


internos.
Esta exposição é uma abordagem geral das condições gerais especialmente na
África sub-sariana. Há entretanto algumas excepções. Estas são
proeminentemente, a África do Sul e as Maurícias. Estes dois países são
economias industriais em desenvolvimento que se forem sustentados por um
período de tempo significativo poderão tornar-se importantes forças motoras do
desenvolvimento africano não por causa da integração regional mas sim pelo seu
papel emergente como investidores estrangeiros no resto de África.
O facto é que as Maurícias é uma boa ilustração da não importância relativa da
integração regional no processo de desenvolvimento. Na independência nos anos
60, as Maurícias eram um país africano típico - geograficamente pequeno, pouca
população, economia baseada na monocultura (o açúcar) que contribuía para a
maior parte das receitas das exportações e emprego, baixo rendimento per capita.
Hoje as Maurícias é, depois da África do Sul, o país africano não produtor de
petróleo mais rico. Ela exibe uma economia que é quase tão diversificada quão a
da África do Sul.
Este resultado fenomenal não foi gerado pela integração regional; foi gerado
largamente pela exportação do vestuário e têxteis com preços competitivos e de
alta qualidade para os mercados mundiais. Recentemente as Maurícias emergiu,
assim como a África da Sul, como um importante investidor estrangeiro noutros
países africanos.

2. Integração Regional em África: Uma Visão Geral

A Região Austral de África propõe-se a implementar uma Zona de Comercio


Livre em 2008, a União Aduaneira em 2010, a Integração Económica em 2015, a
União Monetária em 2016 e a Moeda Única em 2018.
O mercado único regional vai integrar cerca de 200 milhões de habitantes da
região austral de África.

Zimbabwe, Zâmbia, Malawi, Madagáscar, Maurícias e Tanzânia já estavam no


Mercado Comum da África Oriental e Austral (COMESA). Assim, terão que optar
por permanecer ou integrar a área económica da África Austral.

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O processo foi concebido tendo em conta as assimetrias regionais, por isso é um


mecanismo que encoraja os investimentos transfronteiriços.

3. Integração Regional para Moçambique: Uma Visão Geral

Moçambique aderiu ao protocolo da SADAC (Comunidade de Desenvolvimento


dos Países da África Austral ) no que concerne a integração regional. O protocolo
entrou em vigor a 25 de Janeiro de 2008, quando 2/3 dos países membros
signatários o ratificaram e depositaram os instrumentos de ratificação junto do
Secretariado da SADC, de acordo com os termos do artigo 37º do documento.

Moçambique aderiu ao protocolo comercial da SADC em 1996, por ocasião da


Cimeira dos Chefes de Estado da organização, realizada em Maseru, no Lesoto, e
ratificou-o em Dezembro de 1999.
Moçambique já assinou 25 protocolos da SADC, faltando apenas assinar o protocolo
respeitante aos tribunais;
Moçambique tem um grande potencial a disponibilizar a região nas áreas dos portos e
caminhos de ferro, energia, turismo, entre outras. Contudo tem muito por fazer na
melhoria da qualidade dos produtos para que possam competir no mercado regional;

Objectivos Imediatos para Moçambique

(1) promoção do desenvolvimento económico, através do alívio da pobreza e do


aumento do padrão de vida das populações, (2) a maximização dos resultados dos
programas e estratégias regionais, (3) a promoção da produtividade e da utilização
dos recursos regionais, (4) atrair o investimento na região e (aumentar a
competitividade).

Efeitos do Protocolo nos Sectores de Actividade

aumentará a competição entre as empresas da região, facto que pode trazer


benefícios à relação qualidade/preço dos produtos produzidos, ao mesmo tempo
que o grau de abertura em relação ao mercado mundial pode crescer; além disso,
para referir as implicações do protocolo nos diferentes sectores, importa relacionar
este e outros protocolos sectoriais existentes, nomeadamente os protocolos da

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SADC na área dos transportes e meteorologia, minas, turismo e pescas, assim


como as várias políticas e estratégias de desenvolvimento nacionais.

Desafios de Moçambique

Para responder aos desafios da modernização das infra-estruturas, como portos e


caminhos-de-ferro e outras está em processo de criação, o Fundo de
Desenvolvimento da SADC, a ser investido em infra-estruturas estratégicas dos
países membros. Devido à situação geográfica, o país vai beneficiar de tais fundos
para responder com eficiência aos fluxos comerciais que lhe serão impostos pelo
processo de integração;
Foi realizada a primeira Conferência Internacional, um projecto de capacitação,
desenvolvimento e advocacia institucional sobre as questões da Integração e
Direito da SADC. Razões: o país carece de pessoal qualificado, recursos
adequados e uma “massa crítica” para obter o momentum necessário para uma
mudança profunda em direcção a um processo de integração regional e de
implementação das políticas de integração regional mais efectiva e benéfica a
nível nacional.
Desarmamento Pautal teve lugar à 1 de Janeiro de 2008.

Vantagens de Moçambique

A Adesão ao protocolo comercial da SADC pode criar condições para a expansão


do mercado para as exportações do país, se se tomar em linha de conta que
estaríamos perante um mercado na região que vai abranger cerca de 200 milhões
de consumidores. Pensando nas vantagens comparativas e competitivas do país,
espera-se haver um aumento da capacidade de atracção de investimento
estrangeiro provenientes da região ou de outros países do mundo.

Sobre as vantagens comparativas cita-se que Moçambique tem uma costa longa,
aberta para o exterior, já com uma cultura de relacionamento com o exterior de
centenas de milhares de anos, portanto tudo isso vai contribuir para os
moçambicanos alcançarem o sucesso com a integração regional; os direitos
aduaneiros, porque não obstante a eliminação desta componente- virão mais
produtos para o país e pode-se ter mais IVA, outros impostos, taxas e serviços que

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são inerentes a qualquer mercadoria que entra no país; vantagens sociais no que
toca são às doenças, como a malária e o SIDA- poderá haver coordenação no seu
combate;

Analisando comparativamente sectores de economia chaves tais como comércio,


turismo, agricultura e o sector industrial de Moçambique com os restantes países
do bloco e sobretudo as fases de implementação dos compromissos comercias
definidos pela SADC aos países membros, pensa-se que a situação de
Moçambique não é de um todo desfavorável.

Sem dúvidas Moçambique tem condições para maximizar os ganhos da integração


na medida em que oferece um acesso favorável ao comércio regional e
internacional, pelo facto de possuir 3 a 5 portos que se encontrem ligados aos 16
grandes corredores de transportes da SADC, é um país com elementos
extremamente fortes para o desenvolvimento da actividade turística, um país com
estabilidade política reconhecida, em franco crescimento económico, entre outras
vantagens comparativas que o país apresenta, sendo certo que a falta de
investimentos nestes sectores, a falta de créditos para os agentes económicos que
desenvolvem nessas áreas, podem retirar a competitividade dos agentes
comerciais moçambicanos em detrimento de seus homólogos da região em que o
Estado está a trabalhar conjuntamente com estes de modo a maximizar os ganhos
deste processo.

Fica aqui uma questão por reflectir: se neste momento em que o país ainda
está rumo à livre circulação de pessoas e bens, os nossos empreiteiros não
conseguem ganhar concursos para conduzir projectos de grande envergadura
ou mesmo quando os ganham não entregam no devido tempo, entregam infra-
estruturas com uma qualidade a desejar, os nossos produtores agrícolas não
têm capacidade de fornecer produtos ao país inteiro, não tem capacidade de
fornecer produtos a tempo inteiro, e o mais alarmante é que quando os
produtos sul-africanos entram em ruptura de Stock vive-se uma onda de
desestabilização, com uma subida em flecha do nível de preços, então
podemos claramente perceber o que será de nós depois moçambicanos;

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Problemas

O processo de Integração deixa aos moçambicanos extremamente preocupados, na


medida em que é notório a falta duma estratégia clara por parte do governo para
apoio e preparação dos diferentes segmentos da sociedade, os reais objectivos de
Moçambique neste processo bem como os mecanismos para execução de tais
propósitos, razões mais do que suficientes para afastar Moçambique das vantagens
que podem decorrer deste processo inevitável da globalização.

 Outro facto pouco aceitável é que em meados de 2007, à quase 5 meses da


adesão do protocolo de Comércio livre, e à três anos da entrada da União
Aduaneira, foi visível que sectores estratégicos da sociedade moçambicana
não conhecia os reais objectivos do país neste processo o que leva a crêr que
as decisões estavam sendo tomadas ao nível político sem tomar em conta que
estas afectariam o dia a dia do cidadão comum, que ficaria com dificuldades
de ter um emprego como empregado doméstico por exemplo de um
embaixador da Commonwealth em detrimento de um cidadão da região que
melhor se expressa nessa língua. Este dado pode ser facilmente constatado
com os debates feitos nos diversos órgãos de comunicação social, onde
respeitáveis opnion maker’s dizem claramente pouco saberem deste processo,
e a classe informadora (os media), a fazerem questões que provam que há
muito ainda por se fazer;

Conclusões

A estratégia para a implementação do protocolo da SADC em Moçambique, é


desafiada a ser capaz de ajudar a economia nacional a integrar-se mais
activamente e tirar vantagens para economia internacional, pois, o país tem
problemas estruturais que provém das várias políticas económicas anteriormente
implementadas.

As vantagens ou desvantagens que podem advir da implementação do protocolo


da SADC para o desenvolvimento nacional pretendido, vai depender da
capacidade do Estado moçambicano de agir proactivamente no sentido de

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negociar com os interesses internacionais tendo em vista o fortalecimento da


capacidade doméstica e da sua competitividade internacional.

Portanto, “se não houver intervenção do Estado sobre os sectores da economia


no sentido de potenciá-los, prepará-los, Moçambique não tirará benefícios
assinaláveis da integração e os cidadãos dos países vizinhos com mais capital,
mais instruídos terão em Moçambique um mercado franco, o que conduzirá a
falência empresas nacionais, produtores agro- pecuários e o nível de desemprego
e consequentemente de depressão relativa tenderá a subir”.

Recomendações

A situação em volta da Integração Regional deve ser divulgada à nível nacional e


a nível internacional. Como exemplo prático, a maior parte da sociedade
moçambicana não sabe que o país ruma a integração ao seu efeito spill over
integração política de tal modo lembrar que toda e qualquer mudança é difícil de
ser percebida daí que é urgente trabalhar-se no sentido de educar e explicar as
vantagens e desvantagens deste processo para que o povo esteja em melhores
condições de maximizar os seus ganhos.
O Estado Moçambicano para além de trabalhar no sentido de preparar a sociedade
a nível geral deveria neste momento estar a capitalizar os agentes económicos, isto
é, providenciar fundos para fortificar os agentes económicos a juros bonificados,
apoiar os agentes agro-pecuários, privilegiar as empreitadas nacionais para
construção de infra-estruturas nacionais de tal forma que estes se encontrassem
em melhores condições para competir com os seus homónimos dos países da
SADC evitando que num estágio de livre circulação de pessoas e bens,
Moçambique não seja um bazar dos países vizinhos.
Ainda, o Estado deve Criar bases para a obtenção e mobilização de recursos
necessários para a implementação dos programas propostos.

4. Integração Regional e a Agricultura em Moçambique

5. Integração Regional e a Indústria em Moçambique

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6. Integração Regional e os Serviços, Portos e Caminhos de Ferro


em Moçambique

O Protocolo Comercial da SADC

O protocolo comercial da SADC é o mecanismo preferencial de acesso ao


mercado regional, ou seja, um instrumento jurídico que permite regular a
exportação e/ou importação de produtos numa base preferencial. Portanto, há
acordos que são firmados entre Moçambique e outros países ou organizações de
comércio. Cada acordo tem suas regras. No caso particular da SADC existem as
regras de origem pelas quais se certifica que um determinado produto é originário
da SADC e assim sendo pode gozar da importação livre de direitos aduaneiros ou
outro tipo de barreiras tarifárias com redução ou então isenção total de pagamento
de direitos aduaneiros.

O enfoque do protocolo comercial é fundamentalmente o comércio de bens


estabelecidas as regras de origem para os produtos comercializados entre os
Estados membros como um dos instrumentos para a sua implementação.

A zona de livre comércio é uma área em que os Estados membros acordam em


transaccionar bens e serviços livres de direitos aduaneiros, tarifas bem como
outras barreiras ao comércio”, disse o director do Gabinete de Comunicação e
Imagem da Autoridade Tributária de Moçambique.

A uma das normas que rege o processo é o uso dos certificados de origem dos
produtos.

No caso particular da SADC os certificados de origem são atribuídos pelas


administrações aduaneiras. O certificado de origem emitido pela Câmara de
Comércio apenas dá indicação de que este produto vem de Moçambique,
independente do acordo a que o produto está sujeito.

6.1.1. Regras de origem

As regras de origem (RO) servem para prevenir o desvio de


comércio, que pode resultar do uso do protocolo para contornar os

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direitos aduaneiros cobrados às mercadorias provenientes de


terceiros estados. Estas regras permitem assegurar que somente
bens produzidos num estado membro sejam qualificados para
beneficiar das preferências comerciais estabelecidas no acordo. As
RO fornecem indicações para identificar a “nacionalidade” do
produto. Estas regras não só previnem o desvio de comércio, mas
também protegem algumas indústrias da concorrência regional.

As RO acordadas na SADC são vistas como sendo demasiado


restritivas pelo que se torna difícil que produtos transformados na
região se qualifiquem como originários no âmbito do PC-SADC. A
região adoptou regras específicas que impõem níveis mínimos de
actividade económica exigindo que: i) a mercadoria mude de linha
pautal, ii) que reúna 35% de valor agregado na região; ou ii) que os
insumos importados de terceiros estados não representem mais de
60% do valor total dos insumos utilizados.

A SADC acordou ainda que os certificados de origem sejam emitidos


tanto por entidades do sector público tais como ministérios do
comércio e autoridades alfandegárias, como por entidades do sector
privado como é o caso das câmaras de comércio e indústria.

6.1.2. Categoria de Países

Os países membros foram divididos em três categorias ou grupos de países:

Grupo I – o grupo de Países da União Aduaneira da África Austral


(SACU), considerados os mais desenvolvidos e cuja integração de
mercado e nível de desenvolvimento institucional os coloca numa
posição de relativa vantagem em relação aos restantes parceiros.

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Inclui- a África do Sul, o Botswana, o Lesoto, a Namíbia e a


Suazilândia.

Grupo II – os países “de rendimento médio” ou países em


desenvolvimento, de acordo com a terminologia das Nações Unidas
(NU). Inclui as Maurícias e o Zimbabué, não tendo sido considerados
os países em desenvolvimento membros da SACU.

Grupo III  – os países menos desenvolvidos (PMD), de acordo com a


terminologia das NU, que são o Malawi, Moçambique, Tanzânia e
Zâmbia. Não inclui os PMDs da SACU.

6.1.3. Categoria de Produtos

CADA posição pautal foi classificada em três categorias sendo os


critérios de categorização o impacto na receita, no emprego e nas
indústrias emergentes. As categorias adoptadas foram as seguintes:

Categoria A ou “produtos  para liberalização imediata”– designa as


posições pautais que, no início do período de implementação, deviam
passar para a tarifa zero. Esta categoria abrange essencialmente bens
de capital e equipamento, que compreendem cerca de 47%25 das
mercadorias comercializadas.

Categoria B ou “produtos para liberalização gradual”– designa as


posições pautais que devem ser liberalizadas gradualmente até 2008
e que constituem a maior fonte de receitas alfandegárias. No decurso
deste processo, vários países diferenciaram as linhas pautais desta
categoria introduzindo as subcategorias B1, B2, B3, etc.,
estabelecendo assim calendários diferentes, de acordo com a
natureza dos produtos ou as tarifas de referência. A meta global é de
liberalizar pelo menos 85%25 do comércio até 2008.

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Categoria C ou “produtos sensíveis” – designa as posições pautais


que, pela sua importância para o país em causa, requerem tratamento
especial e que poderiam constar de um calendário excepcional de
desarmamento que transcendesse 2008 (até 2012). A categorização
de produtos como sensíveis abrangeria um máximo de 15%25 do total
do comércio intra-SADC (em termos das importações do país em
causa).

Categoria E ou “produtos de exclusão” — designa as posições pautais


que por se regerem por convenções internacionais  são excluídas do
processo de implementação do PC-SADC.

Os Objectivos do Protocolo Comercial

(i)            Fomentar a liberalização do comércio intra-regional em


matéria de bens e serviços, na base de acordos comerciais justos,
equilibrados e de benefício mútuo, complementados por Protocolos
noutras áreas.

(ii)          Garantir uma produção eficaz dentro da SADC, que


reflicta as actuais e potenciais vantagens comparativas dos seus
Membros.

(iii)         Contribuir para o melhoramento de um ambiente


favorável ao investimento nacional, trans-fronteiras e estrangeiro.

(iv)        Incrementar o desenvolvimento económico, diversificação


e industrialização da região.

(v)          Estabelecer uma Zona de Comércio Livre (ZCL) na


região da SADC.

O enfoque do Protocolo Comercial é fundamentalmente o comércio de


bens que vem expresso nos seus 39 artigos que advogam para

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medidas de facilitação do comércio e do investimento. Os


instrumentos para a implementação do mesmo incluem anexos sobre
os seguintes assuntos:

·        regras de origem para os produtos comercializados entre os


Estados Membros da SADC (este anexo contém um apêndice sobre o
comércio de têxteis e confecções);

·        regras para a cooperação aduaneira;

·        formas de simplificação e harmonização de documentação e


procedimentos comerciais;

·        comércio transitário e instalações de trânsito;

·        desenvolvimento do comércio, em particular as formas de


facilitação do mesmo;

·        mecanismos de resolução de disputas;

·        comércio do açúcar.

O PC-SADC preconiza igualmente a liberalização na área de serviços.


Para o efeito, os Estados Membros estão em processo de negociação
de um protocolo à parte que irá cobrir a liberalização desta área.

Os Ministros da Indústria e Comércio dos Estados Membros


assinaram também um Memorando de Entendimento sobre a
Cooperação entre os Estados Membros em Normalização, Garantia da
Qualidade, Acreditação e Metrologia.

Encontram-se ainda em fase final de negociação dois anexos ao PC-


SADC, sendo um sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e
Fitossanitárias (SPS) e outro sobre as Barreiras Técnicas ao
Comércio (TBT).

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O Comércio Livre

O PROCESSO  de globalização da economia mundial é irreversível e com uma


dinâmica que se manifesta pela integração das economias através das
comunidades económicas regionais e da liberalização do comércio no âmbito da
Organização Mundial do Comércio.

O continente africano, em 1992, através do Tratado de Abuja tomou


a decisão de entrar no processo de integração adoptando como
fórmula a integração do continente através das comunidades
económicas regionais existentes.

A SADC participa no processo de integração económica e a 1 de


Janeiro entrou em vigor a Zona de Comércio Livre.

O Plano Estratégico Indicativo de Desenvolvimento Regional


(RISDP), providencia uma agenda coerente e abrangente das
políticas sociais e económicas para os próximos quinze anos.

O RISDP, considera como área de intervenção catalítica a


liberalização do comércio e da economia para que haja uma
integração mais profunda e para a erradicação da pobreza. Neste
contexto, as metas estabelecidas para a liberalização do comércio
são a  criação da zona de comércio livre (2008); A criação de uma
união aduaneira (concluir as negociações em 2010); O
estabelecimento do mercado comum da SADC (concluir as
negociações em 2015); e, finalmente,  a união monetária (introdução
da moeda única em 2018).

Moçambique é parte do processo regional de integração


anteriormente definido e deve tirar partido da sua situação
geográfica privilegiada, das suas potencialidades em recursos
naturais e das outras vantagens comparativas e competitivas que
possui de modo a tirar benefícios do acesso ao mercado regional
estimado em cerca de 230 milhões de consumidores.

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Integracao Regional: Uma Visao Geral

Para o efeito, mostra-se necessário entre outros aspectos o


desenvolvimento de uma agricultura forte e da indústria nascente e
a criação de uma área de turismo, reforçando assim a posição do
País no mercado regional.

Como acima referido e no contexto do RISDP, a SADC definiu como


primeira fase do processo de integração regional a criação de uma
zona de comércio livre em 2008. A ZCL define-se como sendo uma
área em que dois ou mais estados membros acordam em
transaccionar bens e serviços livres de direitos aduaneiros ou
tarifas, bem como de outras barreiras ao comércio.

Um dos instrumentos que orienta o processo de integração regional


é o Protocolo Comercial da SADC (PC-SADC), assinado em Agosto
de 1996 por 11 estados (Botswana, Lesoto, Malawi, Maurícias,
Moçambique, Namíbia, África do Sul (RAS), Suazilândia, Zâmbia,
Tanzânia, e Zimbabwe) dos 14 Estados Membros da SADC, que
entrou em vigor a 25 de Janeiro de 2000 e está a ser implementado
desde Janeiro de 2001, pelos 11 países acima mencionados com a
finalidade de criação da Zona de Comércio Livre em 2008.

O Protocolo Comercial da SADC no caso Moçambicano

O Executivo reconhece que Moçambique não poderá estar alheio a


esta realidade, sob pena de se ver marginalizado de todo o processo
e ser levado por arrastamento.

A análise factual da realidade moçambicana  sugere que o país


precisa de desenvolver uma estratégia de actuação que lhe permita
maximizar os benefícios do processo de integração regional, tendo
em vista os desafios e as oportunidades que o mesmo engendra.
Neste processo é importante ter em conta a posição do País entanto
que um País Menos Desenvolvido (PMD).

O actual ambiente político deverá ser capitalizado de modo a reduzir


o risco do país e, por essa via, atrair capitais quer da região, quer do
mundo.
Ernesto Samo, 2008-2019 Page 19
Integracao Regional: Uma Visao Geral

6.4.1. O Ambiente Macroeconómico

No que toca ao ambiente macroeconómico a monetária, o Executivo


defende a implementação  do protocolo sobre finanças e
investimento, observando igualmente as recomendações do RISDP,
em particular na harmonização e monitoramento  da implementação
dos programas específicos de convergência macro-económica dos
países da região tendo como referência as metas acordadas que são
uma taxa de inflação a um digito em 2008 – 5%25 em 2012 e 3%25
em 2018; Défice público em relação ao PIB não excedendo 5%25 em
2008 e 3%25 como âncora num espaço de 1%25 em 2012 e mantido
em 2012 acima ate 2018; Valor Nominal da dívida pública e garantia
pública menor que 60%25 do PIB em 2008 e mantido ao longo do
período do plano (2018).

Defende, igualmente a liberalização das transacções das contas


capital e corrente entre os Estados Membros e adoptar um
mecanismo harmonizado de taxa de câmbio.

6.4.2. Um Olhar sobre o empresariado nacional

Existe um receio que é real e que resulta da fraca capacidade técnica


e financeira do nosso empresariado e das empresas moçambicanas,
mas fechar a economia  do país não é a solução, porque fechar torna
o país pouco competitivo e torna a economia vulnerável às decisões
da OMC (Organização Mundial do Comércio), porque quando a OMC
tomar as decisões que são de cariz convencional, para nós
provavelmente pode ser muito tarde nessa altura e não estarmos em
altura de competir em pé igualdade com outros países. Torna-se
imprescindível criar capacidade de produção mas do ponto de vista de
longo prazo.

6.4.3. Problemas com as Vantagens Comparativas

É necessário tirar as vantagens, primeiro comparativas. É difícil ter


vantagens competitivas num país que tem pouca tecnologia e uma
fraqueza sistémica de recursos humanos, mas há vantagens
comparativas.

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Integracao Regional: Uma Visao Geral

Quando se fala do açúcar. Está-se a falar de um país que tem uma


grande quantidade de água em relação aos restantes países da África
Austral. Portanto, como aproveitar tornar a agricultura
industrializada?

Se houver uma reflexão sobre alguns sectores que trazem benefícios


ao nosso país. Como a agricultura pode servir de uma alavanca para
que o país tire benefícios da integração com a isenção dos direitos
aduaneiros?

O problema é que as pessoas pensam que o país tem que produzir


tudo. O país não pode produzir tudo. O país tem que produzir aquilo
que tem melhor capacidade, porque mesmo nos Estados Unidos da
América que é a região mais integrada do mundo, nem todas as
regiões produzem tudo. A região de Boston/Detroit produz carros; a
região da Califórnia produz os equipamentos, sistemas e instrumentos
electrónicos; a região de Seattle produz a indústria aeronáutica; a
região de Lousiana, e Georgia, por exemplo, dedicam-se à
agricultura.

6.4.4. As Vantagens Comparativas

Os moçambicanos tem que conseguir compreender que os países da


África Austral não podem olhar para as suas economias como
economias completas, têm que ter economias complementares.
Temos uma grande quantidade de terra arável e um ciclo de chuvas
regular dos anos. Tem uma costa com águas quentes que não há igual
em toda a África Austral, exceptuando a Tanzânia. Então temos que
olhar para estes sectores, sobretudo, das vantagens comparativas e
acredito que nós podemos tirar o nosso proveito no turismo, na
agricultura.

A África do Sul terá essas vantagens na mineração; a Angola nos


recursos energéticos (petróleo); nós também temos o nosso gás.
Então, devemos olhar para a economia e não olhar para cada país;
olhar para a África Austral como uma economia integrada onde cada
país vai especializar-se nas áreas em que tem as melhores condições.

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Integracao Regional: Uma Visao Geral

A integração regional realmente existe há muitos anos na África


Austral. Os ditos países da SACU (União Aduaneira da África Austral)
– Botswana, Namíbia, Suazilândia, Lesotho e África do Sul – são uma
economia integrada há muitos anos. Então, a integração regional é a
capacidade de integrar os outros países nesta integração.

6.4.5. Exportação no Sector Informal

Um estudo efectuado, recentemente pelo Ministério da Indústria e Comércio (MIC),


sobre o advento da integração regional que abriu a 1 de Janeiro, apontava que a
região da SADC tinham um potencial comercial de 680 milhões de dólares/ano,
concentrado em 25 produtos. Cerca de 62 por cento do mercado está centralizado na
África do Sul.

O mesmo estudo havia concluído que o comércio entre os países da


região satisfazia apenas 25 por cento das necessidades. Moçambique
tinha uma participação de sete por cento, que satisfazia apenas dois
por cento das necessidades da região.

Afinal a participação de Moçambique no comércio regional pode não


ser tão ínfima quanto se imagina, a contar pelos mais recentes dados
fornecidos por um estudo realizado recentemente pelo Instituto para
a Promoção de Exportações (IPEX) em 57 postos fronteriços e de
facilitação de sete províncias que fazem limite com os países
vizinhos.

O estudo concluiu que o país continua a registar exportações


informais sobretudo nas regiões fronteiriças.

De acordo com as constatações, esta situação mostra que os produtos


“Made in Mozambique” têm mercado a nível regional, para onde estão
a ser escoados, bem como possuem um enorme potencial, sobretudo
na área agrícola.

Parte dos produtos transaccionada informalmente coincide com os 25


apontados pelo estudo do MIC como sendo potenciais. É o caso de
arroz, milho, pescado, chá, castanha e amêndoa de caju, sal, produtos

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Integracao Regional: Uma Visao Geral

de madeiras, banana, batata, feijões, mandioca e cabritos, só para


citar alguns exemplos.

O que acontece é que, por estarem a ser comercializados de forma


informal, não têm constado das estatísticas oficiais.

O estudo realizado pelo IPEX abrangeu fronteiras das províncias de


Maputo, Gaza (no sul), Manica, Tete, Zambézia (no centro) e Niassa e
Cabo Delgado (no norte do país), que fazem limite com seis países
vizinhos, nomeadamente a África do Sul, Suazilândia, Malawi, Zâmbia,
Tanzania e Zimbabwe.

O objectivo era colher dados fiáveis sobre os produtos


comercializados informalmente para os países vizinhos tendo em
atenção o lançamento da Zona do Comércio Livre (ZCL) em 2008. 

Contudo, a quantificação dos volumes dos produtos transaccionados


informalmente ao longo das linhas da fronteira do nosso país afigura-
se uma tarefa com alguma complexibilidade, tendo em conta a
natureza do comércio a que se faz referência.

Para fazer face a este problema, o estudo já avança com algumas


medidas para a reversão do cenário.

O mesmo estudo constatou ainda a existência naquelas regiões de


constrangimentos que inibem o desenvolvimento da actividade, quais
sejam as deficientes condições de armazenamento e conservação de
produtos além da precariedade das vias de acesso para alguns
distritos.

Em algumas zonas, e devido a falta de vias de comunicação e outras


infra-estruturas económicas e sociais, recorre-se a operadoras dos
países vizinhos. Os funcionários dos postos fronteiriços, com especial
destaque para a polícia de guarda fronteira, trabalham em condições
pouco confortáveis.

6.4.5.1. Regiões Abrangidas pelas Pesquisas

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Integracao Regional: Uma Visao Geral

REGIÃO SUL:

Na região sul de Moçambique, as brigadas visitaram as fronteiras de


Ponta d’Ouro, Goba, Namaacha e Ressano Garcia, que fazem limite
com a vizinha África do Sul através da província de Maputo e
Chicualacula, Pafuri e Giryondo, em Gaza.

MAPUTO

No caso concreto da província de Maputo, o estudo constatou


existirem potencialidades em produtos como banana, morango,
mandioca (e seus derivados), batata-doce, milho manufacturado, óleo
de girassol, aves, água mineral, pescado e sumo de palma (sura).

Através da fronteira de Goba o sector informal exporta em pequenas


quantidades potes de alumínio e obras de artesanato para a vizinha
África do Sul, enquanto que por via de Ressano Garcia, a mais
movimentada fronteira terrestre moçambicana, verifica-se a saída
informal significativa de plantas, raízes medicinais e vegetais.

O Conselho Consultivo Distrital de Moamba já avisou que a


exploração destes recursos não é sustentável, uma vez que se está a
extinguir as espécies em causa.

Ainda de acordo com o estudo, através de Ressano Garcia,


predominam exportações informais de sucata, madeira, congelados do
mar, sêmea de trigo, sêmea de algodão, copra e seu bagaço e
resíduos diversos de alumínio.

Na fronteira da Ponta d’Ouro, considerada mais turística do que


comercial, as exportações informais são dominadas por banana,
pescado, mandioca, batata-doce e milho.

GAZA

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Integracao Regional: Uma Visao Geral

Na província de Gaza, ainda na região sul, o estudo concluiu existirem


imensas potencialidades em produtos como mapira, mexoeira, milho,
castanha de caju, gado bovino, suíno e caprino.

Chicualacula, Pafuri e Giryondo são os principais postos fronteiriços


que ligam aquela província à África do Sul e ao Zimbabwè. Através de
Chicualacula é exportada informalmente óleo da cozinha, milho,
sabão, chá, electrodomésticos e roupas usadas.

Destaque nestes produtos vai para o milho, que é trocado em dinheiro


ou espécie. Se for em dinheiro, uma lata de aproximadamente 25
quilos é vendido a 100,00Mts.

REGIÃO CENTRO:

Nesta região, foram escaladas as províncias de Manica, Zambézia e


Tete, que fazem fronteira com Zimbabwe e Malawi.

MANICA

Em Manica as brigadas visitaram postos fronteiriços de Espungabera,


Machipanda, Dakata, Garagua, Pengue, Mavonde, Penhalonga, Ruela e
Nhaoroa. 

Esta província possui grandes potencialidades agrícolas como é o


caso da banana, litchies, melancia, citrinos, feijões, baby corn (milho
miúdo), hortícolas, paprika, gengibre, piripiri, girassol, gergelim,
mapira, mexoeira, trigo, algodão, madeira, milho, chá, batata-doce,
gado bovino e minerais (bauxite e ouro).

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Integracao Regional: Uma Visao Geral

Através da fronteira de Espungabera (Manica) ocorrem transacções


informais de hortícolas, produtos lácteos, chá, açúcar e de produtos
de primeira necessidade.

O chá e o gergelim produzidos em Manica, concretamente nos


distritos de Mossurize e Manica, respectivamente, são
comercializados no Zimbabwe, não existindo registos oficiais de
vendas destes produtos. A partir de Ruela e Nhaoroa a província
exporta trigo para o Malawi.

TETE

Na província, que faz fronteira com o Malawi (a nordeste), Zâmbia (a


leste) e com o Zimbabwe (a sul), foram visitados pelas brigadas do
IPEX oito postos fronteiriços. Trata-se da Vila Nova da Fronteira,
Doa, Zobuè, Biribiri, Calomuè, Cuchamano, Cassacatiza e Mocumbura
e cinco postos de facilitação, Domue, Mazonze, Mpandula, Chimunda e
Zumbo. 

Tida como potencial na produção hidroeléctrica, tabaco, trigo,


algodão, carvão mineral, produtos florestais, milho, feijões, amendoim,
peixe fresco e seco, batata reno, paprika, fruta (pêssegos, ameixas,
mangas, morangos, maçanica, peras, maças e uva) hortícolas, gado
bovino e caprino, Tete exporta informalmente, hortícolas, gado, carne
seca, chá, açúcar, milho, cerveja, peixe kapenta e chicoa e pedra não
classificada.

ZAMBÉZIA

A província da Zambézia, que faz fronteira com o Malwi e possui três


postos fronteiriços (Melosa, Megaza e Chire) e nove de facilitação, é
conhecido por ser a terra do coco e de chá.

Mas tem outras potencialidades, entre elas o milho,  amendoim,


mandioca, arroz, mapira, feijões, gergelim, castanha, copra, algodão,
tabaco, banana, piri-piri, girassol, hortícolas, produtos florestais,
recursos minerais (ouro, perdas preciosas e semi-preciosas),
pescado (peixe e mariscos).

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Integracao Regional: Uma Visao Geral

Através dos postos de Melosa e Milange, a província da Zambézia


exporta informalmente para o Malawi o milho, tabaco, hortícolas,
arroz, mandioca seca e fresca, batata-doce, banana, peixe seco,
produtos florestais (material de construção precária - paus, bambu,
caniço e capim) e animais domésticos como galinhas, caprinos e
suínos.

Ainda nesta província, nos postos de Megaza e Chire os principais


produtos transaccionados informalmente são os agrícolas (milho,
tabaco, hortícolas, arroz, mandioca seca e fresca, batata-doce,
batata- reno, alho banana, gergelim), peixe seco, caprinos, material
de construção precária (paus, caniço, bambu e capim).

REGIÃO NORTE:

Na região norte o estudo foi efectuado em Niassa e Cabo Delgado,


províncias com grande potencial agrícola.

NIASSA

A província do Niassa, que tem limite com Malawi a este e Tanzania 


a Norte, oferece um potencial constituído basicamente por produtos
agrícolas, nomeadamente, milho, arroz, feijão, algodão, mandioca,
amendoim, tabaco, mapira, girassol, bata reno e doce, gergelim e
fruteiras.

Em Niassa, por via da fronteira de Mandimba, verifica-se a saída


informal de sal, milho, arroz, lenha, carvão, cimento, semente de
algodão, farinha de trigo, sumos e massa espaguete.

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Integracao Regional: Uma Visao Geral

No posto de Entre Lagos há exportação informal de milho, tabaco,


hortícolas, arroz, mandioca seca e fresca, batata-doce, batata reno,
alho, banana, gergelim, peixe seco, caprina, material de construção
precária (paus, lenha, caniço, bambu e capim).

CABO DELGADO

Outro ponto do país que as brigadas do IPEX é Cabo Delgado que faz
fronteira com a República da Tanzania, tendo como potencialidades
feijões, mandioca seca, peixe seco e fresco, castanha de caju,
gergelim, tabaco, hortícolas, milho, arroz, madeira serrada, material
de construção precário (paus e bambu), cabritos, minerais,
combustíveis e trofeus assim como, os serviços de manutenção de
viaturas.

Pelo posto de Nangade transacciona-se informalmente a castanha e


amêndoa de caju semi-processada, combustível (petróleo), gergelim,
feijões, milho, arroz, mapira, mandioca seca, madeira serrada, peixe
seco e fresco, cabritos, pedras preciosas e semi-preciosas, polvo e
tartarugas, entre outros, à semelhança daquilo que ocorre nas outras
fronteiras.

Conclusões

RECEITA AINDA NOS CARRIS


Maputo, Sexta-Feira, 4 de Julho de 2008:: Notícias

O director do Gabinete de Comunicação e Imagem da Autoridade Tributária de


Moçambique, Fernando Tinga, disse que apesar dos recentes ataques xenófobos contra
estrangeiros, incluindo moçambicanos na África do Sul, a meta de colecta de receita
estabelecida pela sua instituição ainda pode ser alcançada.

“A xenofobia felizmente é um caso que nos parece estar a dar mostras de estar a diminuir.
Por outro lado, o sector afectado pela xenofobia é o informal que tem pouca expressão ao
nível da receita aduaneira, daí que não esperamos grandes impactos”, disse Fernando
Tinga.

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Integracao Regional: Uma Visao Geral

Questionado sobre o impacto da contribuição do sector informal na receita aduaneira, o


director do Gabinete de Comunicação e Imagem da Autoridade Tributária de Moçambique
disse que “durante o período de pico dos focos xenófobos na África do Sul verificamos uma
redução da ordem de 20 por cento no nível da receita nas fronteiras com a África do Sul
(Ressano Garcia e Goba).

“Efectivamente a xenofobia afectou mais o sector informal do que o sector formal dado que
este último, mesmo com esta onda de crise continuou a operar mais ou menos ao nível dos
seus padrões”, afirmou Fernando Tinga. 

MERCADORIAS LIVRES DE DIREITOS

A  Zona de Livre comércio na Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral


(SADC), entrou em vigor, na prática,  a 1 de Janeiro de 2008, com Moçambique a abrir as
suas fronteiras para que uma vasta gama de mercadorias oriundas da região passassem a
entrar no país isentas de taxas aduaneiras mediante a apresentação, no acto da sua
importação, do certificado de origem.

De entre as mercadorias que a partir dessa data passaram a estar livres da cobrança de
direitos aduaneiros encontram-se animais vivos de espécie bovina e suína, galos, galinhas,
patos, gansos, mamíferos, répteis (excluindo os animais que façam parte de circos, de
colecções ambulantes ou de outras atracções de feira), manteiga, peixes vivos, mel natural,
flores, ervilha, grão de bico, raízes de mandioca e batata-doce.

Todavia, tendo em vista a salvaguarda da produção nacional, alguns produtos hortícolas


não entraram de imediato no desarmamento. Entre eles encontram-se a batata reno,
cebola e tomate (cujas taxas vão se manter em 20 porcento quando importadas a partir da
África do Sul e zero por cento a partir de hoje, quando provenientes dos outros membros
da SADC). O repolho, alho e alface provenientes da África do Sul e dos outros membros da
SADC vão manter a actual taxa de 20 porcento até 2012.

A vasta lista de produtos que desde 1 de Janeiro último passaram a estar isentos de
direitos aduaneiros e que se encontra afixada nos vários postos fronteiriços inclui ainda
banana, abacate, chá (incluindo o aromatizado), chocolate e outras preparações
alimentícias contendo cacau, sumos de frutas, sorvetes, águas minerais, vinhos espumantes
e espumosos.

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Integracao Regional: Uma Visao Geral

Fazem ainda parte da lista elevadores fixos de veículos para garagens, niveladoras, arados
e charruas, maçaricos de uso manual, betoneiras e aparelhos de amassar cimento,
tractores agrícolas e florestais e ambulâncias.

Para as autoridades moçambicanas, o desarmamento tarifário constitui um desafio para a


política fiscal e aduaneira e uma porta aberta para a competitividade económica e
capitalização das vantagens comparativas.

Também com este gesto, 85 porcento das mercadorias constantes na Pauta Aduaneira
nacional passaram a estar livres da cobrança de tarifas aduaneiros, estando, contudo, os
mesmos produtos sujeitos à cobrança de outras categorias de imposto do comércio
externo, como, por exemplo, impostos de consumos específicos, IVA de importação, entre
outros, que vão manter as taxas em vigor.

As acções de desarmamento pautal, no caso particular de Moçambique, começaram de


forma gradual em 2001, quando alguns produtos alistados na Pauta Aduaneira, entre os
quais carapau, penicilina e seus derivados, trateciclina e seus derivados, vacinas, lápis,
preservativos, bem com alguns artigos de pesca passaram a estar, desde essa altura,
isentos da cobrança de direitos aduaneiros.

Como forma de permitir uma transição harmónica e também porque o Protocolo da SADC
assim o sugere, a Autoridade Tributária de Moçambique e as Alfândegas de Moçambique
reduziram, no dia 1 de Dezembro de 2001, de 20 para 10 porcento as tarifas dos bens e
serviços que, entretanto,  desde 1 de Janeiro de 2008 passaram a estar isentos de direitos.

Conclusões

O estudo em alusão aponta algumas medidas de solução para as


constatações registadas no terreno. Entre elas sugere:

- a adopção de mecanismos que viabilizem a concentração e


comercialização dos produtos no território nacional;

- o estabelecimento e fortalecimento de feiras comerciais nos


distritos;

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- a introdução de regras básicas de contratação entre industriais,


comerciantes e camponeses bem como a promoção da
harmonização dos procedimentos do comércio fronteiriço.

Em 2008, como resultado das recomendações apontadas no estudo


em referência estavam previstas acções de concertarão entre o
IPEX e outras instituições com interesse e relevância nas matérias
arroladas, entre outras o Centro de Promoção de Agricultura
Comercial (CEPAGRI), a Unidade Técnica de Industrialização Rural
(UTIR) e o Instituto Nacional de Normalização e Qualidade (INNOQ),
com vista a adopção de medidas tendentes a maximização das
potencialidades e oportunidades constatadas.

A este propósito, o Presidente do Conselho de Administração (PCA)


do IPEX, João Macaringue, disse que as acções deverão orientar os
camponeses a melhorar a produção, produtividade e qualidade,
conservação e embalagem dos produtos.

A batata de Tsangano, a fruta de Angónia (em Tete), entre outros


produtos, é exemplos de mercadorias que, na opinião de João
Macaringue, bem encaminhados poderão trazer riqueza para os
produtores.

Estas medidas e outras visam que o Governo possa ter acesso a


dados sobre todas as transacções formais e informais realizadas
pelos produtores nacionais. (IPEXinfo).

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