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Faculdade de Letras e Ciências Sociais

Departamento de Ciência Política e


Administração Pública
Curso: Administração
Pública/Ciência Política

Cadeira: RSP

Trabalho em Grupo
3ºano: Pós-Laboral

Tema: Reforma na Gestão de Publicas Financeira

Decente:
Amade Chaúque
Carla Marrengula
Neida Mario Cossa
Sergio Cuna
Rui Guelengue
Jorge Bata
Rousseau Bila
Ribela Massingue

Docente: Antonio Tabúlela e Liria langa

Maputo aos, 31 de maio, de 2023

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Sumário
CAPÍTULO I............................................................................................................................3
1. Introdução........................................................................................................................3
2. Contextualização..............................................................................................................4
3. Delimitação do tema.........................................................................................................6
4. Justificativa do estudo......................................................................................................7
O presente estuo tem como, justificativa de estudo a...............................................................7
5. Problema de pesquisa.......................................................................................................8
6. Questão de partida............................................................................................................9
CAPÍTULO II........................................................................................................................11
1. Metodologia...................................................................................................................11
CAPÍTULO III.......................................................................................................................13
1. SISTEMA FINANCEIRO MOÇAMBICANO...............................................................13
1.2 Revisão literária................................................................................................................13
2. Funções..........................................................................................................................13
3. Tipos de sistemas financeiros.........................................................................................14
3.1. Sistemas financeiros baseados em mercado de capitais..............................................14
3.2. Sistemas financeiros baseados em credito..................................................................14
CAPÍTULO IV.......................................................................................................................15
1. No caso de Moçambique................................................................................................15
1.2. Reforma do setor financeiro ocorrida nos anos noventa.............................................15
1.3. Regulação e supervisã o financeira.............................................................................16
2. Marcos da evoluçã o do sistem a financeir o Moçambican.............................................16
2.2. Reestruturação Econômica.........................................................................................18
2.3. Os Impactos das Reformas Ocorridas no Setor Financeiro na Década de Noventa....20
2.4. Reformas da Década de Noventa................................................................................20
3. Fiscalização das atividades Financeiras...........................................................................21
CAPÍTULO V.........................................................................................................................23
1. Introdução de um Sistema de administração financeira do estado em moçambique
(sistafe)...................................................................................................................................23
1.2. Sistema de administração financeira do estado em moçambique (sistafe)................23
1.2. O SISTAFE tem os seguintes objectivos:......................................................................23
1.3. Organização e funcionamento do sistafe o sistafe......................................................24
1.4. Regulamentou do sistafe............................................................................................24
1.5. Modelo conceptual e implementação do sistafe........................................................25
2. conclusão........................................................................................................................27

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3. Referências Bibliográficas...............................................................................................28
Entrevista...............................................................................................................................30
Anexos 1.................................................................................................................................32

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CAPÍTULO I
1. Introdução

Em meados da década de 70, sobretudo a partir da crise do petróleo em 1973, uma grande crise
económica mundial pôs fim à era de prosperidade que se iniciara após a Segunda Guerra
Mundial. O tipo de Estado que começava a se esfacelar em meio à crise dos anos 70 tinha três
dimensões (económica, social e administrativa), todas interligadas (ABRUCIO, 1997).
Conforme o ajuste estrutural, constituiu o tema que prendeu a atenção de políticos e
formuladores de políticas públicas em todo o mundo, em termos mais concretos o ajuste fiscal e
as reformas orientadas para o mercado. Nos anos 90, embora o ajuste estrutural continue
figurando entre os principais temas, a ênfase do debate dos políticos, deslocou-se para a reforma
do Estado, particularmente para a reforma administrativa (BRESSER PEREIRA et al, 2003).
Esta Reforma que consistiu numa primeira fase, no chamado “gerenciamento diluído”
caracterizava-se pela redução dos gastos públicos e do número de funcionários. Importa referir
que a reforma administrativa foi formalmente orientada para substituir a administração pública
burocrática por uma administração pública gerencial. É no contexto das reformas que o modelo
gerencial, importado da iniciativa privada, impulsionou o iniciou de mudanças na gestão pública
(sector público), através da descentralização na componente administrativa (desconcentração)
procurando delegar poder às outras entidades não-estatais visando a aproximação dos serviços
públicos aos utentes e melhorar a sua qualidadeNesta senda de mudanças na gestão pública que
o sector público estabelece parcerias com o sector privado (privatização, terceirização,
delegação de poderes, entre outras) e por meio destas, proporciona a ocorrência das chamadas
parcerias público-privadas.

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2. Contextualização
Moçambique, tal como outros países da região da África Austral, iniciou um processo
de descentralização que é parte integrante de um conjunto de reformas e mudanças de
natureza política, económica e administrativa, em curso desde os primórdios dos anos
80, e tornadas praticamente inevitáveis por causa da contínua degradação da situação
económica, social e política do país (FARIA e CHICHAVA, 1999). Nessa conjuntura, o
então modelo burocrático weberiano foi considerado inadequado para o contexto
institucional contemporâneo por sua presumida ineficiência, morosidade, estilo auto-
referencial, e descolamento das necessidades dos cidadãos (SECCHI, 2009). Por
exemplo: na década de 70 a crítica à burocracia se acentuou à medida que a crise
financeira se-tornou mais aguda. A excessiva complexidade dos procedimentos
administrativos fez com que houvesse a ineficiência na prestação e acesso aos serviços
públicos, devido a lentidão e excessivo apego as normas. Para enfrentar essa situação, o
aparato governamental precisava de ser mais ágil e flexível, tanto em sua dinâmica
interna como em sua capacidade de adaptação às mudanças externas (ABRÚCIO, 2003).
Como forma de superar o modelo, propunha-se a construção de uma nova burocracia,
ou seja, diversas técnicas gerenciais como solução para os problemas do sector público,
em contraposição às soluções de cunho mais weberiano. É neste âmbito que a Nova
Gestão Pública (NGP) surge devido a convicção de que a burocracia estava degradada e
precisava de um arranjo e, que as soluções do sector privado eram a chave para o
arranjo. A solução para resolver os problemas da administração seria a transferência das
actividades do governo para o sector privado e a outra solução seria a deslocação das
práticas da gestão privada para as operações governamentais. Como parte da primeira
solução, o sector público faz-se valer de parcerias com o sector privado. As parcerias
públicas privadas são colaborações entre parceiro público e privado, para juntos,
convergindo esforços, solucionarem problemas referentes à prestação de bens e serviços
à sociedade com maior qualidade dentro do prazo e do orçamento previsto, isto é,
formas segundo as quais o governo e as entidades privadas trabalham em conjunto na
busca de objectivos sociais. Nesta relação, ocorre um conjunto de mudanças estruturais,
de regras e na maneira de proceder da administração por forma a responder eficazmente
a demanda da colectividade.
A fim de dar vazão aos princípios que lhe regem, a Administração Pública na sua relação com o
Privado celebra contratos os quais obedecem a um conjunto de procedimentos administrativos
para a sua efectivação, na medida em que a vontade da administração pública é expressa através

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de sucessão de actos e formalidades ordenados com vista a formação, expressão e realização da
vontade da administração pública.

“Análise da eficácia da Mudança na gestão Pública inerente à prestação de serviços no


Ministério das finanças, entre os períodos 1975 á 2006” Este tema insere-se no contexto do
debate teórico sobre as mudanças ocorridas no sector público, visando a melhoria na prestação
de serviços aos utentes. As referidas mundanças iniciaram nos primórdios da década 80, logo
após a eclosão da crise de endividamento internacional e à posterior introdução da Nova Gestão
Pública.

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3. Delimitação do tema

Segundo Marconi (2001) “a delimitação do tema visa facilitar a operação, o assunto


deve ser dividido em partes constitutivas, ou seja, essenciais. Ao delimitar o tema de
estudo, podem-se indicar certas circunstâncias, como tempo e espaço.”
O primeiro critério é o espacial (GIL, 1996). Por ser a pesquisa social eminentemente
empírica, é preciso delimitar o locus da observação, ou seja, o local onde o fenómeno
em estudo ocorre. Para o caso em particular o estudo será feito no ministério das
finanças de Moçambique.

O segundo critério de delimitação é o temporal (GIL, 1996), isto é, o período em que o


fenómeno a ser estudado será circunscrito. Podemos definir a realização da pesquisa
situando nosso objecto no tempo presente, ou recuar no tempo, procurando evidenciar a
série histórica de um determinado fenómeno. Para o caso em particular o tempo
escolhido para o estudo foi de 1975 á 2006. E no que diz respeito ao critério espacial o
presente estudo circunscreve-se a volta do Ministério das Finanças de Moçambique
respeito ao critério temporal o mesmo vai cingir-se no período de 1975 á 2006.

O segundo critério de delimitação é o temporal (GIL, 1996), o nosso estudo enquadra


Moçambique em três períodos:

No primeiro período
Moçambique e marcado poro colonialismo, tal como a maioria das nações africanas. Por
longos anos reinou o sistema escravista nos modos de produção, iniciando nos meados
do séc. XVIII, prevalecendo até os finais do séc.XIX. Entretanto, nos finais do séc.XIX,
a escravatura foi substituída pelo trabalho obrigatório, que na literatura Moçambicana
designou-se por "chibalo1 ", que perdurou até a segunda metade do séc. XX.

No segundo
O país passou de colônia a República Socialista (1975). Posteriormente (passados 12
anos).
No terceiro e ultimo
O país retornou a uma economia de mercado, no âmbito de um Programa de
Reestruturação Econômica (PRE), e que mais tarde abarcou-se o termo social, tornando-
se um Programa de Reestruturação Econômica e Social (PRES). Este programa,
consistia basicamente num processo de liberalização econômica, abrindo-se as suas
fronteiras para o mercado mundial. Sendo assim, diminuir-se-ia a intervenção do Estado
na economia.

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4. Justificativa do estudo

O presente estuo tem como, justificativa de estudo a evoluçã das reformas financeiras
em Moçambican, de 1975 até 2006, buscar analisar a trajectória que o mesmo trajo até
2006, as causas de ter optado por um regime socialista no pois independência, as causas
de uma abertura de Moçambique Mercado Livre, as reformas das décadas noventa,
também com o presente estudo se pretende saber as implicações econômicas que as
mesmas reformas tem tido em Moçambique, buscamos saber as vantagens e
desvantagens que as mesmas tem. Este estudo vem na sequência da reforma do sistema
financeiro, com o intuído de adequar ao contexto actual, visto que Moçambique após a
independência adoptou um sistema centralizado, e com a nova reforma passou para a
economia de mercado.

No âmbito das políticas econômicas delineadas pelo PRE, ocorreu a desvalorização da


moeda nacional, objetivando incentivar as exportações. Foram introduzidas políticas de
privatizações visando cobrir a baixa produtividade das empresas Estatais, e também
foram feitos acordos de reescalonamento9 de dívida externa, etc. Todas essas medidas
procuravam alcançar o equilíbrio econômico. Em 1990, três anos após o implemento do
PRE, abarcou-se na agenda governamental a questão Social, em que mundo rural foi
visto como prioritário. Isto porque, nesse mundo que correspondia a 80 % da população
moçambicana, assistia-se a baixos níveis de produtividade agrícola (refletindo-se na
escassez de alimentos, gerando fome), havia falta de assistência médica, expondo a
população às diversas doenças por falta de prevenção (malária e cólera). E quanto ao
nível educacional dessa população, era baixo. Em decorrência disso, o Governo é
levado a priorizar a questão Social. Dessa forma, introduziu-se no Programa o termo
Social, passando a denominar-se Programa de Reestruturação Econômica e Social
(PRES).

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5. Problema de pesquisa

Discutir o desempenho no SP é uma questão complexa, na medida em que a ideia do


desempenho suscita várias interpretações de diferentes grupos sociais e políticos.
Nos últimos tempos a questão das reformas financeiras tem ganhado grande relevância
no SP, isso tem sido influenciado, como defende Ardant (1953) citado por Trosa (2001)
com “as possibilidades de mensurar, de quantificar a utilidade de um serviço público
são maiores do que se podia pensar. Os próprios dados, que pareciam vir de uma
simples impressão, da avaliação qualitativa, são susceptíveis de receber uma
determinação quantitativa. (...) Mensurar o sistema financeiro é necessário, tanto para
escolher dentre o grosso das despesas públicas possíveis aquelas que são mais úteis,
quanto para assegurar uma verdadeira reforma administrativa”.
Desde 1997 tem se vindo a desenvolver esforços de modernização nas áreas do
Orçamento do Estado, impostos indirectos e alfândegas, entre outras. Estas Reformas
procuram melhorar o sistema de programação e execução orçamental, harmonizar o
sistema dos impostos indirectos e a pauta aduaneira com os sistemas vigentes nos países
da região em que Moçambique se insere, e, delinear circuitos de registo na área da
contabilidade pública, visando torná-los mais eficientes, eficazes e transparentes.
Com vista a estabelecer de forma global, abrangente e consistente os princípios básicos
e normas gerais de um sistema integrado de administração financeira dos órgãos e
instituições do Estado e, ao abrigo do disposto no nº 1 do Artigo 135 da Constituição da
República, a Assembleia da República aprovou a Lei 9/2002, de 12 de Fevereiro, que
cria o Sistema de Administração Financeira do Estado, doravante designado por
SISTAFE, tendo sido regulamentado pelo Decreto nº 23/2004, de 20 de Agosto, onde
estão contidas as principais normas de gestão orçamental, financeira, patrimonial,
contabilística e de controlo interno do Estado.

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6. Questão de partida
Segundo Lakatos e Marconi (2003:127), problema, consiste em um enunciado
explicitado de forma clara, compreensível e operacional, cujo melhor modo de solução
ou é uma pesquisa ou pode ser resolvido por meio de processos científicos. Kerlinger
(ln: Schrader, 1974:18) considera que o problema se constitui em uma pergunta
científica quando explicita a relação de dois ou mais fenômenos (fatos, variáveis) entre
si, "adequando-se a uma investigação. sistemática, controlada, empírica e crítica".
Conclui-se disso que perguntas retóricas, especulativas e afirmativas (valorativas) não
são perguntas científicas. Assim, que reformas foram adoptadas no período de 1975 à
2006?

Até que ponto a reforma financeira contribuiu para a melhoria na arrecadação de


impostos, receitas do estado e prestação de serviços no Ministério das Finanças em
Moçambique no período de 1975-2006?

Objectivos de estudo
Geral:
 Compreender o papel da Reforma na Gestão de Finanças Públicas.

Específicos
 Verificar o comportamento da Reforma do Sector Financeiro ocorrido nos anos
noventa, em Moçambique;
 Identificar os tipos de sistemas financeiros em Moçambique;
 Avaliar os impactos das Reformas ocorridas no Sector Financeiro na década de
noventa.

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Hipótese:

 Para o fenómeno em estudo, avança-se com a seguinte hipótese:


 No período compreendido entre 1975 à 2006 foram implementadas várias
reformas desde a passagem da economia centralizadas para a economia de
mercado.

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CAPÍTULO II
1. Metodologia
Uma vez que o objectivo central do estudo é perceber até que ponto as reformas
financeiras decorridas contribuíram para melhoria na prestação de serviços financeiros
em Moçambique (1975 – 2006), pretende-se compreender como os mesmos reduzirão
ou não a morosidade na arrecadação impostos, para o efeito utilizou-se a pesquisa
qualitativa que se substanciou na pesquisa quantitativa, os métodos de abordagem e
procedimento, aliada as técnicas de recolha e análise de dados.
Tipo de pesquisa
O presente trabalho privilegiou a pesquisa qualitativa que se substanciou na pesquisa
quantitativa. De acordo com Prodanov & Freitas (2013), a pesquisa qualitativa
considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um
vínculo indissociável entre o mundo objectivo e a subjectividade do sujeito que não
pode ser traduzido em números. Os mesmos autores, afirmam que a pesquisa
quantitativa considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em
números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las.

Métodos de abordagem
Para análise do estudo em alusão considerou-se o método indutivo, que na visão de
Marconi & Lakatos (2003) este método consiste na aproximação dos fenómenos que
caminham geralmente para planos cada vez mais abrangentes, indo das constatações
mais particulares às leis e teorias (conexão ascendente).
Métodos de procedimento
O estudo procedeu-se com base no método observacional. Na acepção de Prodanov &
Freitas (2013), este método é um dos mais utilizados nas ciências sociais apresenta
alguns aspectos interessantes. “Por um lado, pode ser considerado como o mais
primitivo e, consequentemente, o mais impreciso.

Técnicas de recolha e análise de dados


Para o levantamento de dados do estudo, a pesquisa privilegiou as entrevistas semi-
estruturadas no âmbito da documentação directa e a documentação indirecta. Esta
última, que na esteira de Marconi & Lakatos (2003) abrange a pesquisa documental e a
bibliográfica.
Para análise da informação recolhida, recorremos análise de conteúdo, que na acepção
de Marconi & Lakatos (2003) esta técnica permite a descrição sistemática, objectiva e
quantitativa do conteúdo da comunicação.

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CAPÍTULO III

1. SISTEMA FINANCEIRO MOÇAMBICANO

1.2 Revisão literária


Sistema Financeiro - é definido pelo conjunto de mercados financeiros presentes numa
determinada economia (que por sua vez são definidos em função de classes de ativos
transacionados), as instituições financeiras e os restantes agentes econômicos que interagem
nesses mercados, estando sujeitos a controles regulatórios de instituições específicas.

2. Funções
O papel da intermediação financeira no crescimento das economias, tem sido enfatizado
por diversos autores desde o séc. XX. Em 1912, o pensador Schumpeter preconizava a
importância do setor bancário no crescimento do PIB nacional via alocação do crédito
em investimentos produtivos. Assim como ele, Keynes em 1937 também achava crucial
a existência de um sistema bancário organizado, para que pudesse financiar o
crescimento econômico de uma nação. Já em 1986 e 1991, as teorias de crescimento
endógeno desenvolvidas por Lucas e Romer, estabelecem uma interligação entre o
financiamento, inovação e crescimento econômico, cabendo ao setor bancário prestar
financiamentos. No entanto, as funções básicas de um sistema financeiro numa dada
economia, limitam-se a:
a) canalizar de modo eficiente os recursos entre poupadores e investidores,
maximizando a sua capacidade de gerar crescimento, emprego e
conseqüentemente o bem estar da população. Nas economias em
desenvolvimento, caberá ao sistema financeiro canalizar recursos para os setores
mais produtivos da economia. Sendo assim, poderá ser reduzido o nível de
pobreza nesses países, assim como poderá ser reduzido o hiato entre os países
ricos e pobres.
b) organizar o sistema de pagamentos da economia, pois é essencial para que haja
um funcionamento adequado dos diferentes mercados da economia;
c) criar ativos no volume e perfil adequado, para satisfazer as demandas dos
poupadores por meio de acumulação de riqueza (CARVALHO et al, 2000,
p.249).

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3. Tipos de sistemas financeiros

Ao se atribuir uma tipologia aos sistemas financeiros existentes no mundo, Carvalho et


al preconizam o fato, "...de que é preciso conhecer as razões materiais que levaram a
criação de cada tipo de sistema, mas também, e principalmente, a sua história e a da
sociedade em que se insere...". (CARVALHO et al, 2000, p. 294), sendo assim, Carvalho
et al classificam os sistemas financeiros em dois tipos. São eles: sistemas financeiros
baseados em mercado de capitais e sistemas 15 financeiros baseados em crédito. Aqui,
descreve-se as formas de operação das instituições financeiras. Eles apresentam as
seguintes características:

3.1. Sistemas financeiros baseados em mercado de capitais

A canalização de recursos entre os agentes econômicos é satisfeita pela colocação de


papéis nos mercados monetários e de capitais, via instituições financeiras bancárias e
não bancárias. Tais papéis são denominados por títulos financeiros, sendo eles uma
espécie de contratos padronizados, embutindo direitos e obrigações sobre os seus
detentores. Esses títulos ao serem negociados devem atender as necessidades dos
mercados, podendo satisfazer os contratantes envolvidos na transição e devem estar
sujeitos a um aparato institucional legal, que delimita as condições de pagamento,
garantias e as respectivas obrigações dos contratantes.

3.2. Sistemas financeiros baseados em credito


neste sistema, os contratos vigentes, são estabelecidos de forma individualizada,
podendo os contratantes estipular os seus desejos contratuais (garantias, formas de
pagamento, etc). Este tipo de sistema encontra-se presente em alguns países Europeus
(Alemanha e França), assim como na maioria dos países emergentes, tendo como
exemplo, Moçambique. Concluindo, as diferenças dos sistemas financeiros existentes
no mundo, residem em grande parte pelos diferentes graus de ação dos legisladores e
reguladores, que inibem as escolhas que os agentes privados poderiam fazer em uma
determinada economia.

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CAPÍTULO IV
1. No caso de Moçambique

Desde a independência em 1975 até 1992, o sistema financeiro tinha vestígios de


monobanco. Na época, o Banco de Moçambique assumia papéis de Banco central e
comercial em simultâneo, controlando a maior parcela do mercado bancário. Ele cobria
100% das operações bancárias com o exterior, dominava 80 % do mercado creditício
desde 1975 até 1988, e era detentor de 90 % de depósitos das empresas, revelando ter
prevalecido um sistema de banco universal com elevado grau de concentração bancária.
Nesse período, o Banco de Moçambique dividia o mercado com mais dois Bancos,
nomeadamente o Banco Popular de Desenvolvimento (BPD) e o Banco Standard Totta
de Moçambique (BSTM) que exercia funções de um Banco comercial (MALEIANE,
1997, p. 2)

1.2. Reforma do setor financeiro ocorrida nos anos noventa

Após a Reforma do setor financeiro ocorrida nos anos noventa, no âmbito do PRE (tema
do próximo capítulo), houve uma separação nas funções a serem desempenhadas pelo
Banco de Moçambique (B.M), passando somente a exercer a função de Banco Central.
Paralelamente a isso, mediante os processos de privatizações dos Bancos Estatais que
ocorreram durante a década de noventa (caso do Banco Popular de Desenvolvimento -
BPD, que se converteu em Banco Austral e o Banco Comercial de Moçambique - BCM,
sendo privatizado em 1995 pelo BCP- Banco Comercial de Portugal), apareceram novos
operadores no sistema bancário, tornando-se mais segmentado no cumprir de suas
tarefas (vide anexo 1 - as instituições bancárias e não bancárias, atualmente). Não
obstante, notou-se que algumas instituições continuaram exercendo funções de banco
universal, sendo o caso do Banco Internacional de Moçambique (BIM), que atua como
Banco Comercial e Banco de Investimentos, lidando com ativos de curto e de longo
prazo.

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1.3. Regulação e supervisã o financeira

CARVALHO et al, fazem referência ao assunto inerente à regulação e supervisão


financeira, realçando que: "torna-se um dos factores determinantes da estrutura
financeira, visto que limita as possibilidades de ação dos agentes financeiros assim
como define as operações a serem exercidas pelas instituições financeiras nos mercados
financeiros". (CARVALHO et al, 2000, p. 318-319), Normalmente, estas atividades
podem ser exercidas por Instituições independentes ou por organismos adicionais dos
bancos centrais direcionados a essa atividade. Tem-se como justificativa do implemento
da regulação, o fato do sistema financeiro ser fonte de externalidades tanto positivas
como negativas.

2. Marcos da evoluçã o do sistem a financeir o Moçambican


O Segundo Comiche, a evolução do Sistema Financeiro Moçambicano nas últimas três décadas,
pode ser dividida em três etapas:
Primeira fase (Governo de transição)
primeiramente teve-se a etapa que foi marcada pela criação de um Banco Central e
Emissor em maio de 1975, no âmbito do decreto número 2/75 de 17 de maio, durante o
governo de transição.
A segunda fase (durante a transição ao socialismo)
foi marcada pela reestruturação do Sistema Bancário Nacional em dezembro de 1977,
no âmbito das leis números 5 e 6/77, de 31 de dezembro.
A terceira fase (retorno ao capitalismo)
foi caracterizada pela reforma do Setor Financeiro em dezembro de 1991 e em janeiro
de 1992. Houve a separação Institucional das funções do Banco de Moçambique, que
até então exercia em simultâneo as funções de Banco Central e Comercial, passando a
exercer somente a função de banco Central. (COMICHE, 2001, p.2) Numa primeira
etapa, que se estendeu desde 1975 a 1977, Moçambique era uma nação recém
independente (1975), sendo que havia vestígios da marca colonial no respectivo Sistema
financeiro.

Tais vestígios podiam ser notados pelo espírito seletivo na concessão de crédito por parte dos
bancos privados existentes (baseados no elitismo e racismo), não atendendo uma grande parcela
de demandantes dos recursos financeiros. Com isso, o sistema foi-se tornando ineficiente, não

15
condizendo com as reais necessidades da economia (COMICHE, 2001, p. 2). Na época havia
nove bancos, sendo que a sua maioria era de capital português e misto.
Os Bancos da época eram: Instituto de Crédito de Moçambique, Caixa de Montepio e
Banco de Fomento (eram bancos de fomento), Banco Standard Totta (Banco comercial,
contando com acionistas sul africanos e portugueses), Banco Nacional Ultramarino
(exercia papel de banco central e comercial) de entre outros. No entanto, após a
proclamação da independência de Moçambique em 1975, no âmbito do decreto número
2/75, o BNU passou o seu patrimônio ao Governo de Moçambique, para o então Banco
de Moçambique. Este passou a desempenhar as funções de Banco Central, assumindo
também funções de banco comercial (LANGA, 1997, p. 54). Em 1977, haja vista
ineficiência do sistema financeiro, viu-se necessário tornar o Setor Bancário
fundamental, enquanto instrumento Estatal para a canalização de recursos financeiros
no País. Foi nesse âmbito que se deu lugar a segunda fase, caracterizada pela
reestruturação do Sistema Bancário, no âmbito das leis 5/77 e 6/77, em que constatava a
transferência dos patrimônios dos bancos privados (portugueses) para os bancos
estatais. O número de bancos reduziu-se de nove para três, sendo eles:
a) o Banco de Moçambique, que detinha o controle da política monetária assim
como das operações com o exterior;
b) o Banco Popular de Desenvolvimento, prestando apoio ao programa de
fomento do governo, financiando projetos na área da Agricultura, Habitação,
Indústria e possibilitando alocação de recursos para o consumo alimentar
mínimo da população. O seu capital foi proveniente do Caixa de Montepio e do
Instituto de Crédito de Moçambique (Bancos de Fomento).
c) e o Banco Standard Totta de Moçambique (único Banco Comercial -com
capital misto de sul africanos e portugueses).
Durante uma década, o sistema financeiro Moçambicano foi dominado por estas três
instituições em prol dos interesses Estatais. Porém, na década de oitenta a economia
Moçambicana começou a revelar-se insustentável. As políticas econômicas
centralizadas que foram adotadas pelo 1 o governo nos pósindependência, tornaram-se
ineficazes. O setor produtivo da economia, que se assentava na agricultura, apresentou
resultados negativos. Os vultosos investimentos feitos na mecanização agrícola, não
auferiram grandes retornos.
A isso, adicionavam-se os reflexos do cenário internacional, que vinha de duas crises
petrolíferas durante a década de setenta. O impacto que a crise de 1979 teve sobre a taxa

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de juros de empréstimos internacionais (sobretudo nos países emergentes, dos quais
Moçambique faz parte) foi danoso, pois tornou estes mais devedores. E assim foi-se
alastrando o montante de dívida de Moçambique mediante vultosos empréstimos feitos
aos credores internacionais. Vista essa precária situação econômica, o governo delineou
2.2. Reestruturação Econômica
o Programa de Reestruturação Econômica (PRE) em 1987, visando a liberalização
econômica do país, abandonando-se as teorias socialistas. Essa mudança de vertente
econômica, demandava alterações em outros setores da economia, sendo um deles o
Sistema Financeiro.
Este foi o ponto de partida para o início da terceira fase do processo de mudanças no
Sistema Financeiro Moçambicano. Entretanto, a terceira fase (dezembro de 1991 e
janeiro de 1992), foi marcada pela reforma do Sistema Financeiro no âmbito do PRE,
em que se viu necessário modificar a estrutura do Sistema Financeiro Moçambicano
(via processo de privatizações), assim como foram tomadas medidas de liberalização
financeira (liberalização da taxa de juros e de câmbios, em 1994) e reforçou-se o papel
do Banco de Moçambique como Banco Central (tendo-se introduzido novos
instrumentos de política monetária). Com isso visava-se:
a) obter maior independência do Banco Central, dando-lhe maior margem de
atuação, visando manter a estabilidade econômica. A par disso, também se
pretendia aumentar o seu poder de supervisor e regulador bancário;
b) tencionava-se fomentar maior competição no sistema, via permissão da entrada
de novos operadores no sistema bancário assim como pela privatização dos
bancos Estatais (que se haviam tornado ineficientes). Com isso, almejava-se
melhorar a prestação de serviços e ampliar a rede bancária, permitindo maior
captação de poupanças e de outros recursos fundamentais para se obter um
maior dinamismo da economia;
c) paralelamente a esses pontos, objetivava-se desenvolver um sistema de
pagamentos eficaz e melhorar o sistema de compensação;
d) e por último, visava-se criar um mercado de capitais, buscando-se novas fontes
de financiamento na economia, além da fonte tradicional de crédito.
e) processo de reformas teve um acompanhamento legal, principalmente no que
tange ao processo de privatizações dos bancos Estatais e o licenciamento para a
entrada de novas instituições Bancárias no mercado. O regulamento dessas
reformas assentou-se nas seguintes legislações:

17
f) Decreto número 21/89 de 23 de maio - regulamenta a alienação de empresas do
Estado mediante concurso público e estabelece a organização administrativa do
processo dessas alienações. Este decreto foi implementado com vigor a partir de
1992.
g) Lei número 13/91, de 3 de agosto - que estabelece que empresas com
participação Estatal, poderão tornar-se empresas do Estado, privatizadas ou
extintas. Entrou em vigor em 1992.
h) Lei número 15/91 - que estabelece normas sobre o licenciamento,
reestruturação e redimensionamento de instituições de crédito, incluindo a
alienação ou privatização. Sendo que em 1996/7, deu-se continuidade ao
processo de privatização e o licenciamento de novas instituições de crédito,
aumentando significativamente o número de operadores no sistema. de
supervisor e regulador bancário;
i) Decreto número 28/91, de 21 de novembro, que regulamenta a Lei número
15/91, definindo o quadro jurídico-administrativo do processo de reestruturação
bancária.

j) Lei número 1/92, lei orgânica - que consiste na reestruturação das funções do
Banco de Moçambique, deixando de assumir a carteira comercial, repassando ao
Banco Comercial de Moçambique (BCM). Com este decreto, reforçou-se o
papel do Banco de Moçambique como Banco Central, gestor de políticas
monetárias, supervisor bancário, controlador de reservas externas, de entre
outros atributos.

Ainda no decorrer da década de noventa, aprovaram-se outros decretos, tais como de


regulamentação de contratos de locação financeira (decreto 45/95, em 1995). Foi
aprovado o decreto que permitia a implantação de Escritórios de Instituições financeiras
sediadas no Estrangeiro (número 36/96, em 1996), aumentando a concorrência no
mercado bancário:

a) em 1996 e 1997, criou-se o mercado cambial interbancário (M.C.I) e o


mercado monetário interbancário (M.M.I) respectivamente;
b) em 1997, introduziu-se um novo instrumento de política monetária - open
market;

18
c) em 1998, regulou-se o exercício de funções de crédito das pessoas singulares
assim como coletivas (decreto número 47/98). Nesse mesmo ano, foi
aprovada a legislação que permitia a criação dos mercados de Valores
Mobiliários, assim como foi criado o regulamento que aprovava a
institucionalização da Bolsa de Valores de Moçambique em 1998 (decreto
número 49/98).

Por último, foi estabelecida em 1998 a legislação que regulamentava o papel das
Instituições não bancárias na concessão de crédito. Não englobava todas atividades
desenvolvidas por uma instituição bancária (receber depósitos, fomentar o comércio),
mas sim, trabalhariam como guarda de valores dos clientes em troca do crédito a ser
concedido, direcionando-se principalmente ao micro-crédito.

2.3. Os Impactos das Reformas Ocorridas no Setor Financeiro na


Década de Noventa
Após a Reforma do setor financeiro ocorrida nos anos noventa, no âmbito do PRE (tema
do próximo capítulo), houve uma separação nas funções a serem desempenhadas pelo
Banco de Moçambique (B.M), passando somente a exercer a função de Banco Central.
Paralelamente a isso, mediante os processos de privatizações dos Bancos Estatais que
ocorreram durante a década de noventa (caso do Banco Popular de Desenvolvimento -
BPD, que se converteu em Banco Austral e o Banco Comercial de Moçambique - BCM,
sendo privatizado em 1995 pelo BCP- Banco Comercial de Portugal), apareceram novos
operadores no sistema bancário, tornando-se mais segmentado no cumprir de suas
tarefas (vide anexo 1 - as instituições bancárias e não bancárias, atualmente). Não
obstante, notou-se que algumas instituições continuaram exercendo funções de banco
universal, sendo o caso do Banco Internacional de Moçambique (BIM), que atua como
Banco Comercial e Banco de Investimentos, lidando com ativos de curto e de longo
prazo.
2.4. Reformas da Década de Noventa
São vários os pontos a ser desenvolvidos ao se avaliar os impactos das reformas
ocorridas no sistema financeiro Moçambicano, durante a década de noventa. No
entanto, o trabalho focalizará a caracterização do sistema financeiro Moçambicano
(mediante a tipologia atribuída por Carvalho et al) após o implemento das reformas.

19
Também procurará retratar o ambiente competitivo do mercado bancário, diante do
processo de privatizações e da entrada de novos operadores no mercado bancário. Após
a implementação das reformas no sistema financeiro Moçambicano, o Sistema veio-se
tornando mais segmentado, contando com mais instituições operando nos mercados
financeiros. Até 1990, existiam três instituições operando no sistema bancário,
exercendo cada uma delas múltiplas funções. Após serem efetuadas as reformas dentro
do setor, de 1990 aos dias de hoje o sistema passou a contar com a participação de 60
instituições Financeiras Bancárias e não Bancárias (vide anexo 1), incluindo onze
bancos comerciais, um banco de Investimento, cinco cooperativas de crédito, três
sociedades de Investimento, três sociedades leasing e foram criadas e trinta e seis casas
de câmbio (COMICHE, 2001).

Entretanto, por mais que tenham entrado novos operadores que vem atuando em
segmentos específicos, nota-se a presença de certos bancos operando tanto com a
carteira comercial como com a carteira de investimentos, apresentando características
de um banco universal (caso do grupo BIM - Banco internacional de Moçambique).

Quanto à forma de financiamento, se baseado em mercado de capitais ou em crédito, o


Sistema Financeiro Moçambicano (S.F.M) apresenta um modelo típico dos sistemas
baseados em crédito, não obstante estar vindo a crescer um pequeno mercado de capitais
no sistema. Quanto ao mercado bancário, mediante o processo de privatizações dos
Bancos Estatais e da entrada de novos operadores no sistema, a concorrência tornou-se
acirrada, melhorando-se a qualidade de produtos e serviços ofertados ao público assim
como se enriqueceu o portfólio dos bancos (diversificando as suas carteiras, consoante a
minimização de riscos).

3. Fiscalização das atividades Financeiras


Em Moçambique, este tipo de serviço carece de um aparato legal, tornando a clientela
susceptível aos interesses egoístas das instituições financeiras.
Quando se fala especificamente da atividade de supervisão financeira, refere-se à fiscalização
das atividades a serem desenvolvidas pelas Instituições Financeiras, evitando-se possíveis riscos
sistêmicos. Para que tal não aconteça, as autoridades monetárias das diferentes nações tomam
medidas prudenciais. Segundo consta nos pressupostos do acordo de Basiléia (versão de 1997),
essas medidas seguem alguns princípios. São eles:

20
a) os supervisores bancários, devem estabelecer para todas instituições bancárias,
requisitos mínimos e apropriados de adequação de capital. Esses requisitos refletem os
riscos a que os bancos estão sujeitos a correr;
b) os supervisores bancários devem avaliar os procedimentos adotados pelas instituições
bancárias no que tange ao modo de financiamento, decisões de investimentos, assim
como devem controlar as suas carteiras de riscos;
c) os supervisores bancários devem impor um controle interno nas instituições bancárias,
monitorando-se os seus ativos e passivos, evitando-se possíveis crises de insolvência.
Tornando-se fundamental que as Instituições controlem as suas escalas de negócios.
d) os supervisores bancários, devem exigir dos bancos acordos com políticas e práticas de
contabilização, para poder-se fazer uma análise da condição financeira dos bancos,
tendo estes a obrigação de publicar regularmente esses relatórios.
e) torna-se fundamental que os órgãos de supervisão financeira, criem um ordenamento
legal que defina as operações das diferentes Instituições Financeiras. Por exemplo,
deverá ser usada a denominação "banco”, se na realidade a instituição desempenhar
funções de um banco.

Em Moçambique, na década de noventa, mediante o processo de reforma do setor financeiro foi


necessário alterar a legislação, reforçando-se o papel do Banco de Moçambique como
supervisor bancário, tratando do saneamento financeiro dos bancos, assim como da
administração dos seus riscos, estabelecendo-se adequados rácios de capitais e reservas. A busca
pela segurança do sistema financeiro tem demandado esforços de regulação e supervisão
financeira nos últimos anos. Dadas as últimas tendências notadas na esfera internacional, em
que se assiste a conglomerações financeiras, inovações financeiras, alterando constantemente as
estruturas dos sistemas financeiros, as autoridades monetárias devem buscar um maior controle
das atividades bancárias
 

21
CAPÍTULO V
1. Introdução de um Sistema de administração financeira do estado em
moçambique (sistafe)

No âmbito dos esforços de modernização desenvolvidos, desde 1997, nas áreas de


Orçamento de Estado, Impostos Directos, Alfandegas, entre outras, com o objectivo de
melhorar o sistema de programação e execução orçamental, harmonizar o sistema de
impostos indirectos e a pauta aduaneira com os sistemas vigentes nos países da região
em que Moçambique se insere, o Governo de Moçambique avançou para a criação do
novo Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE) com vista a obter
maior eficiência no uso e gestão do erário público, bem como produzir informação de
forma integrada e atempada sobre a administração financeira dos órgãos do Estado.

Em Moçambique, a legislação que rege a Actividade Financeira do Estado remonta a


mais de um século como resultado da herança colonial, sendo de destacar o
Regulamento de Fazenda que data de 1901 e o Regulamento de Contabilidade Pública
que data de 1881.Consequências disto, é a situação do actual sistema de gestão
financeira do Estado em Moçambique que se tem revelado inadequado e ultrapassado
para as realidades e desafios do século XXI. Vários são os motivos de inadequação da
administração financeira do Estado:
a) Métodos rudimentares de trabalho;
b) Incapacidade de cobrir e tratar contabilística e financeiramente mais de um terço
de todos os recursos públicos aplicados em órgãos e instituições do Estado;
c) Sistema maioritariamente manual, de partidas simples;
d) Sistema manual, lento, trabalhoso e sujeito a erros;
e) Gestão de tesouraria ineficaz pela dispersão de fundos públicos e multiplicidade
de contas bancárias distribuídas pelos diversos sectores, entre outros.
1.2. Sistema de administração financeira do estado em moçambique
(sistafe)
No âmbito do programa do Governo (2000-2004) foi definindo como uma das
prioridades a reforma do sector público, cujo objectivo é a modernização da
administração do Estado que culminou com a introdução do SISTAFE. A cobertura
legal para o estabelecimento do SISTAFE foi realizada com a aprovação da Lei n.
º9/2002 de 12 de fevereiro.
1.2. O SISTAFE tem os seguintes objectivos:
a) Estabelecer e harmonizar regras e procedimentos de programação, execução,
controlo e avaliação dos recursos públicos;
b) Desenvolver subsistemas que proporcionem informação oportuna e fiável sobre
o comportamento orçamental e patrimonial dos órgãos e instituições do Estado;
c) Estabelecer, implementar e manter um sistema contabilístico de controlo da
execução orçamental e patrimonial adequado às necessidades de registo, da
organização da informação e da avaliação do desempenho das acções

22
desenvolvidas no domínio da actividade financeira dos órgãos e instituições do
Estado;
d) Estabelecer, implementar e manter o sistema de controlo interno eficiente e
eficaz e procedimentos de auditoria interna internacionalmente aceites;
e) Estabelecer, implementar e manter um sistema de procedimentos adequados a
uma correcta, eficaz e eficiente condução económica das actividades resultantes
dos programas, projectos e demais operações no âmbito da planificação
programática delineada e dos objectivos pretendidos.
1.3. Organização e funcionamento do sistafe o sistafe
é composto por cinco principais subsistemas, nomeadamente:

a) Subsistema do Orçamento Estado;


b) Subsistema da Contabilidade Pública;
c) Subsistema do Tesouro Público;
d) Subsistema do Património do Estado;
e) Subsistema do Controlo interno Cada um destes subsistemas compreende um
conjunto de órgãos, normas e procedimentos administrativos que tornam
possível a respectiva gestão.

Por sua vez, cada um dos subsistemas, são integrados por macro processos que
compreendem a:

a) Elaboração das Propostas do Cenário Fiscal de Médio Prazo (CFMP), Plano


económico e Social (PES) e Orçamento de Estado (OE);
b) Execução do Orçamento do Estado (Conta Geral do Estado);
c) Administração do Património do Estado;
d) Avaliação da Gestão do Orçamento e do Património do Estado.
e) Os macro processos por sua vez são compostos por conjuntos de procedimentos
organizados de modo a instruir, de forma padronizada, as actividades a serem
executadas na gestão das finanças públicas.

1.4. Regulamentou do sistafe


Para a regulamentação e operacionalização da referida Lei, foi aprovado o Decreto
n.º 23/2004 de 20 de agosto (que veio revogar o Decreto 17/2002 de 27 de junho).
Neste Regulamento de operacionalização do SISTAFE há a destacar a introdução,
positiva, de vários instrumentos de gestão financeira (Capitulo V do Decreto
23/2004):

a) os classificadores orçamentais;

23
b) o plano básico de contabilidade pública;
c) a conta única do tesouro;
d) a programação financeira;
e) a rede de cobrança;
f) o cadastro e inventário do património do Estado;
g) a Conta Geral do Estado;
h) a programação do controlo interno;
i) o sistema informático e-SISTAFE.

Este Decreto detalha os procedimentos organizados e instruidos de forma


padronizada, as actividades a serem executadas na gestão das finanças públicas, a
observância dos princípios orientadores das actividades e o registo contabilístico de
forma uniforme e sistematizado dos actos e factos relacionados com a execução do
orçamento e da administração do património do Estado.

1.5. Modelo conceptual e implementação do sistafe


A discussão do modelo conceptual do SISTAFE deu-se em agosto de 2002 no
quadro dos preparativos para o desenvolvimento do comité técnico da Unidade
Técnica de Reforma Administrativa Financeira do Estado (UTRAFE).

Neste âmbito, o Comité Executivo da UTRAFE elaborou um documento para


análise e decisão do Consultivo do Ministério das Finanças. Este documento
apresentava o Modelo Conceptual, descrevendo os objectos a serem atingidos, tendo
presente a necessidade da gestão integrada das Finanças Públicas no país,
apresentando alternativas de estratégia de implementação do SISTAFE e
identificando aqueles factores que poderiam ser considerados críticos para a
implementação do modelo.

As decisões do Consultivo da Ministra foram no sentido de a implementação do


SISTAFE ser efectuada em duas fases: Fase I – que abrangeria o período de meados
do ano de 2003 até finais do ano de 2004, na qual se priorizaria os subsistemas do
Tesouro, Orçamento e Contabilidade Pública (TOC) com a introdução da Conta
Única física, a programação financeira, algumas melhorias sistema do planeamento,
a introdução do Plano Básico de Contabilidade e a introdução no sistema, de
algumas unidades executoras, de forma vertical e horizontal, dos Ministérios das
Finanças e Educação;

24
Fase II – que teria como objectivo a melhoria no desenvolvimento dos subsistemas
anteriores e a introdução de novos subsistemas como o Património do Estado e o
Controlo Interno. Esperava-se que a execução Orçamental através do e-SISTAFE
pudesse ter sido iniciada em 2004 com o lançamento do sistema no Ministério do
Plano e Finanças (MPF), incluindo as direcções provinciais de Finanças, assim
como um projecto-piloto no Ministério da Educação. Este cenário não foi atingido
por várias razões.

a) Revelou-se muito difícil consolidar com o pormenor necessário o e-CUT


com as receitas e despesas do tesouro, a nível central e provincial;
b) Revelou-se impossível fechar a Equação Contabilística entre o sistema de
contabilidade actual (Livro 16 e 17) e as transacções financeiras registadas
no sistema do tesouro;
c) Finalmente, revelou-se muito difícil conseguir uma versão actualizada dos
orçamentos central e provinciais devido a uma lacuna de registo nas
redistribuições orçamentais executadas durante o ano de 2004.

Por estas razões, o processo da digitalização dos registos manuais existentes nos
Livros 16 e 17 foi abandonado e a execução orçamental com uma posição
actualizada dos gastos no e-SISTAFE dentro do orçamento de 2004 foi também
abandonada para os restantes meses de 2004.

A 1 de Novembro de 2004, o e-SISTAFE foi introduzido no Ministério do Plano e


Finanças permitindo a execução financeira (e não a execução orçamental), do
Orçamento Geral do Estado através do e-SISTAFE e o pagamento das receitas de
impostos na Conta Única do Tesouro (CUT) no Banco de Moçambique, assim como
os pagamentos efectuados pelo Tesouro Nacional e as Direcções Provinciais do
Plano e Finanças (DPPF).

O lançamento operacional no Ministério da Educação foi adiado para o fim do


primeiro semestre de 2005, como já havia sido informado durante a Revisão
Semestral de Setembro de 2004

25
2. conclusão

Neste trabalho, tentou-se apresentar algumas mudanças ocorridas no sistema Financeiro


Moçambicano após o processo da abertura econômica do país na década de noventa. No
entanto, de acordo com a tipologia adotada por Carvalho et al a respeito dos modelos de
sistemas financeiros existentes nas principais economias capitalistas, constatou-se que
após terem ocorrido as reformas no setor financeiro na década de noventa, este tornou-
se mais segmentado (não obstante terem prevalecido instituições com características de
Banco Universal). Relembrando-se, antes de terem ocorrido às reformas na década de
noventa, o sistema financeiro moçambicano contava com a participação de três
Instituições financeiras, sendo que duas delas eram estatais e exerciam múltiplas
funções (por exemplo, Banco de Moçambique desempenhando funções de banco central
e comercial em simultâneo).

A questão da pobreza prevalecente em Moçambique, sobretudo no meio rural, agrava-se


pelo fato dessa parcela populacional não ter acesso aos canais formais de crédito,
partindo muitas das vezes para o circuito financeiro informal. No entanto, via-se os
serviços de micro-crédito como uma forma de reduzir a incidência da pobreza no país.
Porém, a realidade das Instituições de micro-crédito em Moçambique, é que se
encontram numa fase de arranque, não tendo ganhado sustentabilidade. Sendo assim,
conta-se com o grande apoio das Instituições não governamentais, no financiamento as
instituições de micro-crédito, assim como no enquadramento técnico dos recursos
humanos. Para que haja melhor desempenho de uma determinada estrutura financeira,
têm-se como determinantes os aspectos técnicos de atividade financeira, tais como as
inovações tecnológicas nos sistemas de informática e de comunicação das redes
bancárias, a melhor qualificação dos recursos humanos integrantes do sistema, etc.
Entretanto, torna-se necessária a presença de um órgão regulador que controla as
atividades desempenhadas pelas instituições financeiras, monitorando-as para que o
sistema não entre em crise.

26
3. Referências Bibliográficas

ABRAHAMSOM, Hans.; NILSSON, Anders. Moçambique em Transição. edição.


Maputo: Padrigu, março, 1994.
Associação Moçambicana de Bancos. Sector Bancário em Moçambique em, 2001.
KPMG. Maputo, 2001.
Associação Moçambicana dos Bancos. Sector Bancário em Moçambique 2002. KPMG.
Maputo, 2002.
CARVALHO et al. Economi a Monetária e financeira. Rio de Janeiro: campus, 2001.
COMICHE, Eneias. O impacto da reforma do setor financeiro Moçambicano desde a
independência. Maputo: ISPU, 2001.
FELICIANO, José F.; Antropologia econômica dos Thongas do Sul de Moçambique.
Maputo,1998.
GALLIPOLLI, Prospirino. A experiência da União Geral de cooperativas - UGC. In:
Revista o economista, Maputo, n° 2/2002, p.51-86.
Lakatos, Eva Maria e Marconi, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia
científica. - 5. ed. - São Paulo : Atlas 2003.

OUTRA S FONTE S CONSULTADAS :

Disponível em: www.kpmq.moc.mz : visitado em Abril 2023

Disponível em: www.sapo.co/pt: visitado em abril 2023

Disponível em: www.fao.org/sd/seaqa : visitado em Abril 2023

Disponível em: www.banco.moc.mz : visitado em Abril 2023

Disponível em: www.worldbank.com : visitado em Maio 2023

Disponível em: www.africamente.com : visitado em Maio 2023

Disponível em: www.mol.coo.mz : visitado em Maio 2023

Disponível em: www.qeraneqocio.com.br: visitado em maio 2023

Disponível em: www.ccpm.pt: visitado em maio

27
Entrevista

Para esta parte pratica tivemos o privilégio de entrevistar o sr. João Xavier Vilanculo,
Técnico Superior tributário de 2ᵃ classe.

Questões e resposta

Que contributo as reformas da década noventa torceram para o sistema financeiro


da época?

Em Moçambique, na década de noventa, mediante o processo de reforma do setor financeiro foi


necessário alterar a legislação, reforçando-se o papel do Banco de Moçambique como
supervisor bancário, tratando do saneamento financeiro dos bancos, assim como da
administração dos seus riscos, estabelecendo-se adequados rácios de capitais e reservas. A
busca pela segurança do sistema financeiro tem demandado esforços de regulação e supervisão
financeira nos últimos anos. Dadas as últimas tendências notadas na esfera internacional, em
que se assiste a conglomerações financeiras, inovações financeiras, alterando constantemente
as estruturas dos sistemas financeiros, as autoridades monetárias devem buscar um maior
controle das atividades bancárias.

Que razões levaram Moçambique a optar por uma liberação do mercado?

Primeira fase (Governo de transição) primeiramente teve-se a etapa que foi marcada
pela criação de um Banco Central e Emissor em maio de 1975, no âmbito do decreto
número 2/75 de 17 de maio, durante o governo de transição. A segunda fase (durante a
transição ao socialismo) foi marcada pela reestruturação do Sistema Bancário
Nacional em dezembro de 1977, no âmbito das leis números 5 e 6/77, de 31 de
dezembro. A terceira fase (retorno ao capitalismo) foi caracterizada pela reforma do
Setor Financeiro em dezembro de 1991 e em janeiro de 1992. Houve a separação
Institucional das funções do Banco de Moçambique, que até então exercia em
simultâneo as funções de Banco Central e Comercial, passando a exercer somente a
função de banco Central. Numa primeira etapa, que se estendeu desde 1975 a 1977,
Moçambique era uma nação recém independente (1975), sendo que havia vestígios da
marca colonial no respectivo Sistema financeiro.

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O que caracteriza as reformas financeira do Moçambique socialista?
O Moçambique socialista teve como características: Os Programas de Reestruturação
Econômica (PRE) em 1987, visando a liberalização econômica do país, abandonando-
se as teorias socialistas. Essa mudança de vertente econômica, demandava alterações
em outros setores da economia, sendo um deles o Sistema Financeiro.
Este foi o ponto de partida para o início da terceira fase do processo de mudanças no
Sistema Financeiro Moçambicano. Entretanto, a terceira fase (dezembro de 1991 e
janeiro de 1992), foi marcada pela reforma do Sistema Financeiro no âmbito do PRE,
em que se viu necessário modificar a estrutura do Sistema Financeiro Moçambicano
(via processo de privatizações), assim como foram tomadas medidas de liberalização
financeira (liberalização da taxa de juros e de câmbios, em 1994) e reforçou-se o papel
do Banco de Moçambique como Banco Central (tendo-se introduzido novos
instrumentos de política monetária).

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Anexos 1

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