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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

As Sociedades matrilineares de Moçambique

Judite Miguel Afonso da Silva


Código: 708211806

Licenciatura em Administração Pública


Antropologia Cultural
2º Ano

Nampula, Agosto, 2022


Universidade Católica de Moçambique
Instituto de Educação à Distância

As Sociedades matrilineares de Moçambique

Judite Miguel Afonso da Silva

Código: 708211806

Trabalho a ser entregue na disciplina de


Antropologia Cultural: Curso de
Licenciatura em Administração
Pública; 2º Ano – Ensino à Distância.
Tutora: Msc. Aziza Assane Ibraimo
Alubai

Nampula, Agosto, 2022


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Aspectos • Capa 0.5
organizacionais • Índice 0.5
• Introdução 0.5
Estrutura • Discussão 0.5
• Conclusão 0.5
• Bibliografia 0.5
Introdução • Contextualização
(indicação clara do 1.0
problema)
• Descrição dos
objectivos 1.0

• Metodologia
adequada ao 2.0
objecto do trabalho
Análise e • Articulação e
Conteúdo discussão domínio do
discurso académico 2.0
(expressão escrita
cuidada, coerência
/ coesão textual)
• Revisão
bibliográfica
nacional e 2.0
internacionais
relevantes na área
de estudo

• Exploração dos 2.0


dados
Conclusão • Contributos 2.0
teóricos práticos
• Paginação, tipo e
Aspectos Formatação tamanho de letras,
gerais parágrafo, 1.0
espaçamento entre
linhas
Referênci Norma APA 6ª • Rigor e coerência
as edição em das 4.0
bibliográf citações e citações/referências
icas bibliografia bibliográficas

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Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor
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Índice

1. Introdução ............................................................................................................................... 6

2. Fundamentação teórica ........................................................................................................... 7

2.1. Conceitualização .................................................................................................................. 7

2.2. Matrilinearidade no contexto moçambicano ....................................................................... 7

2.2.1. Exemplo do povo Macua .................................................................................................. 9

3. Conclusão ............................................................................................................................. 11

4. Referências Bibliográficas .................................................................................................... 12


1. Introdução

Moçambique, é um pais multilingue e multicultural, e não só, devido a sua vastidão


territorial é um país heterogéneo. Ou seja, escalando os diversos pontos do país é possível
deparar-se com costumes e modos de vidas diferentes.

Aliada a essa heterogeneidade, a sociedades moçambicanas foram se dividindo em dois


grandes sistemas. Usando o Rio Zambeze como “equador”. Nesse contexto, sobre o eixo do
Rio Zambeze, confluem duas organizações sócio-culturais que possuem caracteresiticas
dintinta, uma da outra. Fala-se da sociedade patriarcal e matriarcal.

Neste trabalho, pretende-se falar sobre tais organizações socio-culturais, especialmente


para o sistema matriarcal, que vigora a sul do rio Zambeze e que tem a mulher como o centro
das atenções.

Objectivo Geral

• Compreender a sociedade matrilinear de Moçambique.

Objectivos específicos:

• Localizar geograficamente a sociedade matrilinear de Moçambique;


• Caracterizar a sociedade matrilinear de Moçambique;

Metodologia Usada

A metodologia utilizada na realização deste trabalho foi baseada em pesquisas e


levantamentos de materiais bibliográficos através de uma literatura actualizada e especializada
que forneceu subsídios teóricos e confiáveis, mediante aplicação de instrumentos de pesquisa
com a finalidade de obter informações precisas na construção e efectivação do presente
trabalho.

De salientar que o presente trabalho, incorpora a seguinte estrutura: Introdução,


Desenvolvimento, Conclusão e Referências bibliográficas.

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2. Fundamentação teórica

2.1. Conceitualização

De acordo com Pires (2000):

No sistema de linhagem, a que se tem chamado matrilinear: cada indivíduo pertence à


família da mãe, o que significa, em concreto, que o homem não pode transmitir os seus
bens e os seus títulos honoríficos aos seus filhos varões, mas sim aos varões mais
próximos da linha materna, designadamente um tio ou um primo. Os seus próprios
filhos, que não pertencem à estirpe, não poderão suceder-lhe mas receberão, em
contrapartida, a herança dos seus tios maternos.

Contudo, o sistema matrilinear não se identifica com o de matriar-cado, já que não


confere às mulheres o poder de direcção e superintendência dos negócios, nem qualquer
autoridade política. Apenas diz respeito às regras de transmissão dos bens (Pires, 2000).

Hoje em dia, a matrilinearidade encontra-se apenas em locais onde se pratique uma


agricultura elementar, como por exemplo em certas tribos da África central; e é bem possível
que este sistema de linhagem tenha surgido orginariamente em comunidades pequenas, bem
organizadas, em que as mulheres de dedicavam às actividades agrícolas e da pesca, e os homens
se distribuíam por grupos sazonais de caçadores ou de guerreiros.

No sistema matrilinear, o irmão da mãe ultrapassa visivelmente o pai na orientação da


educação da prole; mostra forte intransigência e dureza, enquanto que o pai se revela
benevolente e brando, chegando mesmo a assumir a defesa dos jovens perante o seu tio (Pires,
2000).

2.2. Matrilinearidade no contexto moçambicano

De acordo com Muchaha (2020):

Matriarcal ou matrilinear é a família cujo poder é exercido pela mulher. As famílias


matriarcais abundam no norte de Moçambique, sendo que a mulher exerce o poder
indirectamente através do seu irmão do sexo masculino. É este a quem cabe zelar pela
orientação da vida dos filhos da irmã cuidar pela iniciação desses filhos e legar-lhes a
sua herança em caso de morte. O papel do pai biológico é quase que passivo, pelo que
quando o filho porta-se mal ou comete uma infracção, o pai remete a solução dessa
solução dessa situação ao tio materno do filho, isto é, ao irmão da mãe do filho

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Como resultado da influência nesta região, assiste-se as diferenças entre a região norte
e sul do Zambeze, a norte do Zambeze devido ao impacto da mosca Tsé-Tsé, impediu numa
primeira fase a prática da pecuária, sobretudo o gado bovino e privilegiando a prática da
agricultura, actividades que maioritariamente eram praticadas pelas mulheres, o que teria
originado comunidades matrilineares, estas sociedades desenvolveram-se no norte do Zambeze.

De acordo com Muchaha (2020), devido a prática da agricultura, conferiu a mulher


poderes sobre o homem onde os filhos do casal pertencem ao grupo de parentesco da mãe e os
bens e poderes são herdados por via materna. O casamento na sociedade matrilinear, o homem
fixa a sua residência na família da mulher, isto é, o casamento é matrilocal, a esta prática chama-
se uxorilocalidade. As funções políticas e jurídicas são desempenhadas pelo tio materno. Nestas
sociedades, se no casal a mulher morre, o homem é obrigado a casar-se com a irmã da sua
defunta mulher, a esta prática chama-se Surrurato.

Neste caso as mulheres e que transmitem os apelidos aos descendentes. Nas sociedades
matrilineares as principais decisões da família, como o casamento e resolução de alguns
problemas, são tomadas pelo irmão da mãe (tio materno). Este tipo de sociedade é característico
de algumas regiões das províncias de Tete, Zambézia, Nampula, Cabo Delgado e Niassa.

Nas sociedades matrilineares a descendência é através da linhagem materna, de modo


que os bens passam de geração em geração através dos familiares da mãe, permanecendo, deste
modo, na linha sanguínea.

Aqui a posição da mulher é relativamente fortalecida porque, após um divórcio, a casa


e os filhos continuam fazendo parte da família da mulher, conferindo-lhe alguma
vantagem. Contudo, mesmo elas serem um elementochave, não significa que detenham
o poder formal, porque o poder está investido no irmão da mãe (tio materno), que detém
o direito de distribuir os bens e recursos. O lobolo ou casamento tradicional não é prática
característica deste sistema de organização familiar (Maúngue, 202, p. 4).

O sistema matrilinear confere um certo poder às mulheres, no que diz respeito a manutenção da
guarda dos filhos e herança após o divórcio ou morte do marido. Entretanto, esse poder é simplesmente
formal, porque quem distribuí e toma conta dos filhos do finado é o tio materno. O que indica que a
mulher ainda não é vista socialmente (mesmo em sociedades matrilineares) como uma pessoa que pode
responder por uma família e resolver problemas econômicos. Tanto no sistema matrilinear, como no
patrilinear, a mulher é colocada como submissa, tendo a cozinha como lugar (Collier, 2007).

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2.2.1. Exemplo do povo Macua

O povo macua é descendente de um grande povo Bantu originário da região centro-


africana (grandes lagos), ou seja das grandes florestas congolesas, que se migraram para a
região da Africa Austral a procura de terras férteis. Segundo “ Eduardo da Conceição Medeiros
(1997) este povo de lingua emakhuwa e elomwe estiveram representados no Niassa pelos
macuas-lomwes, macuas-chirimas, e macuas-meto. Estes ammetho ocupavam desde o rio Lurio
a nascente do messalo. De acordo com o censo populacional de 2017 é o maior grupo etnico de
Moçambique e a sua lingua Macua é a mais falada no território, com uma percentagem de mais
de 25% (Timbane, 2017).

Indo ao assunto do trabalho, de acordo com Gasparini (2015), os Macuas são


matrilineares e uxorilocais. Uxorilocal significa que, uma vez casados, o casal vai morar na
casa da mulher e não do homem. Este facto tem consequências importantes.

É verdade que as mulheres não comandam neste sistema, mas o facto de que todos os
bens e propriedades, terras e habitação de propriedade do casal são bens da mulher, ou ainda da
família da mulher, faz uma grande diferença no peso e equilíbrio que possa exercer no seio do
casal. Não é o homem a fornecer os meios de subsistência da família, mas a família da mulher.

Os Macuas não são matriarcais porquê de qualquer maneira os homens comandam, mas
as mulheres têm mais peso e importância do que na sociedade puramente patrilinear e virilocal,
como no sul de Moçambique, onde são totalmente submissas e subservientes. No Norte ao invés
elas são escutadas.

Os Macuas são exógamos, o que significa que eles não podem se casar com membros
de sua própria linhagem (que é o conjunto de famílias descendentes de um ancestral comum e,
portanto, portadores do mesmo sobrenome). Quando iniciam a se cortejar, as respectivas
famílias fazem uma análise e verificações cuidadosas para garantir que não tenham ancestrais
comuns (sempre na linha materna, pois é aquela que conta); caso existam laços familiares,
mesmo antigos, o casal não pode se casar (Gasparini, 2015).

A sociedade é organizada por linhagens, ou seja, várias famílias com um ancestral em


comum. Assim, as irmãs com seus respectivos maridos vivem não muito longe da mãe das
mesmas (e seu marido), não muito longe das irmãs da mãe, da sua avó materna e das irmãs da
avó, mas também das primas do lado materno. Ou seja, casais onde as mulheres têm laços
familiares pelo lado materno.

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E então, a família de uma mulher casada (seu marido e seus filhos) e as famílias de suas
irmãs, são direcionadas / comandadas pelo irmão mais velho.

Figura 1: Mulheres de Etnia macua – um exemplo de povo matrilinear

Fonte: https://www.mmo.co.mz/mulheres-de-mocambique-nampula/

Paralelo ao chefe da aldeia existe a “rainha”, que não tem autoridade direta, mas à qual
é obrigatório consultar em quaisquer decisões importantes a tomar para a comunidade. Esta
mulher é geralmente a irmã mais velha do chefe da aldeia, representa o “ventre” da aldeia e
garante a transmissão e observância da tradição; não deixando nunca se envolver diretamente
nos conflitos e intrigas, ela é o elemento que garante a continuidade em tempos de crise. Ela é
um importante intermediário entre o passado e o futuro, é o conselheiro mais importante do
chefe, que por sua vez, tem um conselho formado por mulheres idosas da aldeia e pelos
conselheiros, que são também aqueles que tornam oficiais os ritos de passagem. É respeitado
e seguido por todos os membros da comunidade (Gasparini, 2015).

O chefe da aldeia administra a justiça presidindo os “processos” e decidindo punições,


toma decisões económicas e sociais que afetam toda a comunidade (por exemplo, se tem que
mudar a área do cultivo), e preside os ritos e cerimônias da comunidade.

Em cada aldeia há uma linhagem “real” e, é a partir dessa linhagem que surgirão os
líderes da aldeia e suas respectivas irmãs rainhas; normalmente se tarda da linhagem cujos
antepassados fundaram a aldeia. Quando um líder morre, o mais provável candidato para
sucedê-lo é o filho de sua irmã mais velha (que em muitos casos é a rainha), obedecendo a regra
de funções de transmissão e bens ao longo da linha materna (Gasparini, 2015).

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3. Conclusão

Longe da intenção de tomar por encerrada a discussão aqui proposta, mas com vistas a
suscitar o debate acerca da sociedade matrilinear em Moçambique, admite-se que a norte do rio
Zambeze, vigora o sistema matrilinear e como resultado disso, a sociedade a descendência nas
famílias segue a linha materna e os filhos herdam os bens e sua posição social através da linha
materna de sua família, e não da linha paterna.

Ou seja, as crianças têm o sobrenome da mãe e, portanto, pertencem à linha materna da


família e não à do pai. Nesse sistema, o pai tem menos influência sobre seus filhos, já que ele
não faz parte da família (ele só foi “adquirido”, pertence a uma outra família). Quem tem
influência sobre os filhos, quem toma decisões importantes sobre suas vidas e educação é o tio
materno mais velho.

Percebeu-se também que, na verdade matrilinear não é sinônimo de matriarcal (o


sistema no qual o comando é das mulheres): No sistema matrilinear, mas patriarcal, como
aquele dos Macuas, o ramo da família que é mais importante é o da mãe, mas isso não significa
que na família quem comanda é a mulher, a comandar é sempre um homem, mas em vez de ser
um homem da linhagem paterna (seu marido) é um homem da linhagem materna (o irmão mais
velho da esposa). O marido, por sua vez, vai exercer a sua influência sobre os filhos de suas
irmãs.

Não quer-se com isso, dizer que, o tio intervém o tempo todo nas decisões da casa; no
cotidiano do casal, em casa pois quem está no poder é sempre o pai, mas quando se trata de
tomar decisões importantes para a família (o tipo de cultivo, quando fazer os ritos de iniciação
das crianças, resolver controvérsias, etc.) é o irmão mais velho da mulher a dar a última palavra.
As crianças obedecem ao pai, mas não pertencem à família do pai, pertencem à família da mãe,
então quando eles querem se casar por exemplo, eles devem consultar o tio.

Diante do exposto, espera-se ter reunido informações que venham a contribuir para
ampliar os actuais níveis de conhecimento quanto ao tema cá abordado e que os resultados
possam servir como referencial para futuras intervenções investigativas em diferentes moldes,
com metodologias que possam esclarecer melhor todas as questões ainda obscuras sobre o
assunto.

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4. Referências Bibliográficas

Collier, E. (2007). Um perfil das relações de género. Edição actualizada de 2006: Para a
igualdade de género em Moçambique. Estocolmo.

Gasparini, T. (2015). Os macua – organizacao social. Recuperado em:


http://mz.ilteatrofabene.it/il-territorio/macua-estrutura-social/

Muchaha, B. (2020). Sistema matrilinear e Patrilinear. Recuperado em: https://sopra-


educacao.com/2020/12/28/sociedades-matrilineares-e-patrilineares-em-
mocambique/?jr=on

Pires, C. S. A. (2000). Família, Parentesco E Casamento: Assimetrias Espaciais e Temporais.


Macau, Brasil.

Timbane, G. (2017). Cultura Moçambicana. Recuperado em:


http://culturamocambicana.blogspot.com/2017/07/etnia-macua-do-norte-de-
mocambique.html

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