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Apostila Módulo1

Bases Constitucionais e Normativas de


Proteção à Pessoa Idosa
FICHA TÉCNICA
Elaboração/Desenvolvimento: Consultoria técnico-especializada:
Profa. Dra. Andréia Queiroz Ribeiro Ma. Silvia Maria Magalhães Costa
Universidade Federal de Viçosa (UFV) Pesquisadora do GEGOP
Profa. Dra. Simone Martins (Espaços Deliberativos e Governança Pública)
Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Profa. Dra. Stefania Becattini Vaccaro Prof. Dr. Ivan Beck Ckagnazaroff
Universidade Federal de Lavras (UFLA) Universidade Federal de Minas Gerais
Profa. Dra. Tainá Rodrigues G. Souza Pinto (UFMG)
Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Diagramação:
Revisão de Vernáculo: Ms. Pedro Eni Lourenço Rodrigues
Carlos Henrique Guimarães Ribeiro Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Universidade Federal de Viçosa (UFV) Imagens: www.freepik.com

© 2021 Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos


Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde
que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. A responsabili-
dade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da área técnica.
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CEP: 70308-200 - Brasília-DF – Brasil
Sumário
Apresentação ...................................................................... 5
Unidade 1 - Envelhecimento populacional e o sistema
normativo de proteção .......................................................... 7
Envelhecimento populacional ....................................................................... 8
Marcos internacionais de proteção à pessoa idosa ...................................... 12
O Plano Internacional sobre Envelhecimento – Plano de Viena ............................... 12
Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos das Pessoas
Idosas ............................................................................................................... 13
Marcos nacionais contemporâneos de proteção à pessoa idosa ................... 15
A Constituição Federal Brasileira ........................................................................ 15
A Política Nacional do Idoso ................................................................................ 17
O Estatuto do Idoso ............................................................................................ 22
Resumindo ................................................................................................ 25

Unidade 2 - Os Conselhos de Direitos da Pessoa Idosa e seu


sistema de atuação ............................................................ 27
Conceito e histórico de surgimento dos Conselhos ....................................... 28
O papel dos Conselhos Nacional, Estadual e Municipal de Direitos da Pessoa
Idosa no sistema de Conselhos no Brasil ..................................................... 32
O papel do Conselho Nacional de Direitos da Pessoa Idosa .................................... 33
O papel dos Conselhos Estaduais de Direitos da Pessoa Idosa ............................... 34
O papel dos Conselhos Municipais de Direitos da Pessoa Idosa ............................. 36
Atuação e resultados esperados para o Conselho ........................................ 38
Resumindo ................................................................................................ 43
Referências ............................................................................................... 44

i
Ícones da Apostila
Ao longo da apostila serão apresentados ícones, propostos com o objetivo
de facilitar a compreensão imediata do conteúdo apresentado e, assim,
contribuir para a organização do estudo.
Você vai encontrar pequenas figuras ao lado do texto. Elas têm o objetivo
de chamar a sua atenção para determinados trechos do conteúdo. Cada
uma delas tem uma função específica, como apresentamos a seguir.

TEXTO-DESTAQUE!
São definições, conceitos ou afirmações importantes
às quais você deve estar atento.

SAIBA MAIS!!!
Apresenta links da internet, a partir dos quais você
pode obter vídeos, sites ou artigos relacionados ao
tema,caso queira complementar ou aprofundar o
conteúdo apresentado na apostila.

ATENÇÃO!
Utilizado para chamar atenção sobre a importância
do conteúdo destacado. É um convite a refletir sobre
os aspectos apontados, relacionando-os com a sua
prática profissional e cotidiana.

PARA REFLETIR!
Utilizado como forma de um convite para reflexão
sobre diversos temas abordados nesta apostila e
as suas vivências relacionadas a eles.

ii
Carta ao cursista
Olá, Cursista!
Seja bem-vinda, bem-vindo ao Curso de Fortalecimento dos Conselhos de
Direitos da Pessoa Idosa no estado de Minas Gerais – FoCo MG!
É um prazer ter você conosco para tratar de um tema tão relevante, a in-
serção social nos assuntos públicos! O que seguramente é possibilitado por
meio dos Conselhos.
Este Curso é uma iniciativa da Secretaria Nacional de Promoção e Defesa
dos Direitos da Pessoa Idosa do Ministério da Mulher, da Família e dos Di-
reitos Humanos - SNDPI/MMFDH e do Conselho Nacional da Pessoa Idosa
– CNDPI, como etapa fundamental para a execução do Pacto Nacional de
Implementação dos Direitos da Pessoa Idosa – PNIDPI.
Com esta ação, o que se espera é contribuir para favorecer o diálogo e a
interação entre sociedade e governo na defesa dos direitos da pessoa
idosa. Também, é dar protagonismo à população idosa, seja para a identi-
ficação dos problemas que lhe afeta ou para a proposição de soluções que
resultem em melhoria em sua qualidade de vida.
O Brasil está envelhecendo rapidamente e essa iniciativa reforça o quanto
o nosso país está comprometido com a longevidade digna para toda a sua
população.
Este Curso foi preparado para que você tenha acesso a conteúdos essenci-
ais para fortalecer os Conselhos de Direitos da Pessoa Idosa em seu muni-
cípio. Assim como os Fundos de Direitos da Pessoa Idosa, gera condições
necessárias para multiplicar os esforços em defesa e em proteção destas
pessoas.

iii
O assunto é tão importante que foi incluído no Pacto Nacional, como já
dito acima. Isso reforça o compromisso assumido pelo governo brasileiro,
com ações articuladas, colaborativas e solidárias, para o cuidado integral
da pessoa idosa, mas também para a promoção do envelhecimento ativo
em nosso País.
Desejamos sucesso na realização deste Curso e que você utilize estes con-
teúdos para fazer a diferença em seu município, ciente que estaremos jun-
tos lutando por um País mais justo e igualitário, para todas as idades.

Bom Curso!
Ministério da Mulher,
da Família e dos Direitos Humanos

iv
Apresentação
Neste Módulo 1 vamos compreender as bases constitucionais e normativas de prote-
ção à pessoa idosa no Brasil.
Já não é mais novidade o fenômeno do envelhecimento populacional no Brasil. Com
isso, o aumento da longevidade e a redução das taxas de mortalidade nas últimas
décadas mudaram o perfil demográfico no nosso país. Cada vez mais, deixamos de
ser um “país de jovens” e, assim, a pessoa idosa tornou-se questão fundamental para
as políticas públicas.
Neste módulo, as unidades que o compõe auxiliarão a compreender melhor este fe-
nômeno e o histórico de criação dos direitos das pessoas idosas e dos Conselhos de
direitos.

Figura 1 - Unidades do Módulo 1

Na Unidade 1, dedicaremos à abordagem dos aspectos centrais relacionados ao en-


velhecimento da população brasileira e os principais marcos internacionais e nacio-
nais de defesa e proteção dos direitos das pessoas idosas. Será um momento de
aprender um pouco sobre a história das conquistas de direitos pelas pessoas idosas
em nosso País.
Na Unidade 2, introduziremos a temática específica dos Conselhos, apresentando
seus conceito e histórico. Também, trataremos das suas atribuições legais e formas
de atuação. Ainda, abordaremos o sistema de Conselhos de direitos das pessoas ido-
sas no Brasil, bem como os diversos papéis políticos e sociais assumidos por esses
Conselhos.

5
Os conteúdos propostos para este módulo foram considerados como de grande im-
portância para a formação dos conselheiros, de maneira que possam atender às ex-
pectativas de sua atuação nos Conselhos Municipais de Direitos da Pessoa Idosa. Mas,
durante a realização do Curso, esses conteúdos serão somados a outro importante
modo de construção do conhecimento, os fóruns de discussão. Com os fóruns de dis-
cussão, haverá espaços para trocas de experiências e boas práticas, além da possibi-
lidade de solicitação de esclarecimentos adicionais. Na plataforma, você encontrará
as informações para acessar os fóruns de discussão. Participe, a sua participação será
de grande importância.
Para oportunizar o aprofundamento no conhecimento das bases normativas e cons-
titucionais de proteção dos direitos das pessoas idosas, nós preparamos o manual
FoCo MG – Conselhos, que poderá ser acessado na plataforma AVA. Nele, você en-
contrará uma sequência dos principais marcos legais nacionais e as principais políticas
voltadas para o envelhecimento e a atenção à pessoa idosa no Brasil.
Este Módulo 1 tem duração total de 10 horas. Para bom aproveitamento, além dos
conteúdos disponibilizados nesta apostila, você terá acesso ao vídeo de apresentação,
aulas narradas, exercícios e jogos interativos. É interessante que você assista ao vídeo
de apresentação antes de continuar a leitura desta apostila. Para tanto, basta acessá-
lo no Portal.
Recomendamos que você não se esqueça de ler o Guia de Estudos, que foi preparado
para lhe auxiliar a se organizar e aproveitar da melhor maneira o tempo dedicado a
este módulo. Você encontrará o Guia na Plataforma do curso. Acesse e receba as nos-
sas sugestões para realizar as atividades do Módulo 1.
A realização dos exercícios de fixação será importante para que você verifique se está
preparado para seguir em frente no Curso. Portanto, orientamos que sejam resolvi-
dos nos momentos indicados ao longo da apostila ou após a sua leitura.
Desejamos sucesso neste Módulo 1 e em todo o Curso de Fortalecimento dos Conse-
lhos e Fundos Municipais de Direitos da Pessoa Idosa!
Bons estudos!!!

6
Unidade 1
Envelhecimento populacional
-

e o sistema normativo de proteção


Nesta Unidade apresentamos importantes aspectos relaci-
onados ao envelhecimento da população brasileira e as ba-
ses do sistema normativo de proteção das pessoas idosas.
Assim, vamos compreender a harmonia existente entre os
planos normativos internacionais e nacionais. Para tanto,
abordaremos os seguintes conteúdos:
 Envelhecimento populacional;
 Marcos internacionais de proteção à pessoa idosa;
 Marcos nacionais contemporâneos de proteção à
pessoa idosa.

7
Unidade 1 – Envelhecimento populacional
e o sistema normativo de proteção

Envelhecimento populacional
A cada dia mais nos damos conta de que estamos diante da realidade de um Brasil
que vivencia o envelhecimento de sua população. Para além de estatísticas e dados
demográficos, se observarmos o número de pessoas idosas com as quais encontra-
mos ou convivemos cotidianamente nos diferentes ambientes, facilmente iremos
perceber o aumento nesse número nos últimos tempos. Para ratificar essa nossa per-
cepção, as projeções indicam que daqui a pouco – no ano de 2025, o Brasil será o 6º
país do mundo em números de pessoas idosas.
O envelhecimento individual pode ser compreendido sob vários aspectos. Do ponto
de vista cronológico, ele é expresso pela passagem do tempo. Do ponto de vista bio-
lógico, expressa-se na alteração no organismo humano decorrente de desgaste natu-
ral, que vai gerando, gradualmente, a redução de funções. O tempo e a forma que se
processam essas alterações dependem de cada um, de sua condição genética e do
ambiente onde vive.

Assim, a velhice Voltando ao ponto de vista cronológico, uma


questão que surge sempre que falamos em en-
representa a vitória de
velhecimento da população é a delimitação de
alguns indivíduos na luta uma linha divisória, normalmente cronológica,
contra diversas que define esse grupo etário.
possibilidades de morte
A Organização Mundial da Saúde considera
ocorridas em etapas
como pessoas idosas aquelas com idade igual
anteriores. ou superior a 65 anos em países desenvolvidos
e aquelas com 60 anos, ou mais, se residentes
Então, envelhecer é
em países em desenvolvimento. No Brasil, é
conquista!!! Esse número de
considerada pessoa idosa aquela com 60 anos
vencedores tem aumentado e mais.
a cada ano, transformando
Mas, enfim, o que é o envelhecimento popula-
um privilégio em um fato
cional e quais as suas implicações para go-
comum. verno e sociedade?
A população envelhece na medida em que cresce a proporção de pessoas idosas em
relação ao total da população. No caso do Brasil, esse envelhecimento ocorre, princi-
palmente pela redução contínua da taxa de fecundidade, em conjunto com a redução
da taxa de mortalidade em todas as idades, refletindo no aumento da esperança de
vida ao nascer.

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Ainda antes da pandemia pelo novo coronaví-
Esse cenário é resultado
rus, a diminuição da mortalidade na faixa etá-
dos avanços tecnológicos ria das pessoas idosas também vinha contri-
na área da saúde e no buindo para o aumento da longevidade dessa
acesso a serviços como população. Alterações nessa dinâmica podem
saúde, educação, ser esperadas, visto que já há estudo indi-
saneamento básico e cando redução na expectativa de vida da po-
melhoria da distribuição pulação brasileira após a chegada da COVID-
de renda. Mais uma vez, 19 (CASTRO et al., 2021)
então, o envelhecimento Uma característica que destaca as particulari-
é uma conquista! dades do processo de envelhecimento no Bra-
sil é que precisamos de menos de 25 anos
para que a proporção de pessoas idosas duplicasse de 7% (2000) para 14% (2020), ao
passo que essa mesma mudança ocorreu ao longo de 70 a 115 anos em países como
França, Suécia, Austrália e Estados Unidos (IBGE, 2016; UNITED NATIONS, 2017).
Para uma visualização desse acelerado processo de envelhecimento da população
brasileira, observe as pirâmides etárias, produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística (IBGE), para os anos 1980, 2010 e projetada para 2060 (Figura 2).

9
Unidade 1 – Envelhecimento populacional
e o sistema normativo de proteção

Observe que em 1980, o ele-


vado percentual de pessoas
até os 20 anos contribuiu para
uma conformação de base
alargada da pirâmide.
O aumento da proporção de
pessoas idosas na população
contribui para o estreita-
mento da base e alargamento
do topo, mais acentuado para
o ano de 2060.
Esse acelerado processo de
transição demográfica implica
em importantes desafios para
o Brasil, frente à necessidade
de adaptação mais rápida a
essa nova dinâmica populaci-
onal e a suas consequentes
demandas.
Essas demandas, que incluem
saúde e cuidados, trabalho e
mercado financeiro, moradia,
transporte e proteção social,
surgem em um contexto de
menor desenvolvimento eco-
nômico, de desigualdades so-
ciais importantes e de antigas
demandas sociais ainda não
superadas. Estas, referem-se,
por exemplo, à educação, sa-
úde e segurança para a popu-
lação como um todo.
Nesse sentido, precisamos es-
tar atentos para o fato de no
Figura 2. Pirâmides etárias, Brasil, 1980, 2010 e 2060. Brasil o envelhecimento não
Fonte: IBGE, apud Guia 1 – Introdução à Estratégia ser só heterogêneo. Ele tam-
Brasil Amigo da Pessoa Idosa, 2019 bém é desigual.

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Há diferenças importantes de expectativa e de qualidade de vida nas diferentes clas-
ses sociais e econômicas e que constituem questão central para governo e sociedade
civil considerarem no planejamento, implementação e gestão das políticas públicas
de interesse para esse grupo.
Além disso, de acordo com a Frente Nacional de Fortalecimento dos Conselhos, em
seu I Diagnóstico Nacional dos Conselhos de Direitos da Pessoa Idosa (GIACOMIN;
SOUZA, 2020, p.9.):

“envelhecer no Brasil é, ainda, enfrentar preconceitos, desrespeito,


invisibilidade e violência, mesmo sendo o envelhecimento uma
conquista com possibilidades de realizar projetos e sonhos”

Tendo em vista estes aspectos, é fundamental que Conselhos de Direitos da Pessoa


Idosa (CDPI) e toda a sociedade estejam comprometidos com a luta por agendas de
benefícios que, além de levarem em conta as diferenças internas deste segmento,
contemplem serviços, ações e programas voltados para a promoção dos direitos hu-
manos das pessoas idosas.
Mais que isso, devem combater o idadismo,
que é o preconceito em função da idade –
promovendo e incentivando mudanças de
valores em relação à pessoa idosa, especial-
mente no que se refere à imagem negativa
de fragilidade, dependência e perda de uti-
lidade social em geral associada ao envelhe-
cer e à aposentadoria.
Por fim, o breve panorama que apresenta-
mos é um convite a refletir sobre a impor-
tância de ações para defender e proteger os
direitos humanos das pessoas idosas no
Brasil e fomentar a cultura do envelhecimento, contribuindo para uma velhice digna
e bem sucedida no País. Os Conselhos de Direitos da Pessoa Idosa possuem um im-
portante papel neste sentido.

11
Unidade 1 – Envelhecimento populacional
e o sistema normativo de proteção

Marcos internacionais
de proteção à pessoa idosa
Conhecer o cenário internacional de debates e proposições sobre a temática do en-
velhecimento e da garantia de direitos às pessoas idosas é importante, pois nos ajuda
a compreender que grande parte dos problemas que enfrentamos também ocorre
em outros países.
O Brasil esteve representado nos eventos que produziram os principais marcos que
trataremos aqui e debateu sobre nossa realidade, trazendo ensinamentos que me-
lhoraram a compreensão da nossa realidade sobre o processo de envelhecimento e
influenciaram a elaboração dos nossos marcos nacionais, conforme você verá nessa
Unidade e no Módulo 2.

ATENÇÃO!
A partir desta breve contextualização, chamamos sua atenção para o
fato de que, no cenário internacional, o primeiro documento sobre en-
velhecimento e proteção aos direitos das pessoas idosas foi o Plano In-
ternacional sobre Envelhecimento.

O Plano Internacional sobre


Envelhecimento – Plano de Viena
Esse documento foi elaborado durante a I Assembleia Mundial sobre Envelhecimento,
ocorrida em Viena (Áustria), em 1982, sendo intitulado Plano de Viena. Seu intuito era
sensibilizar governos e sociedade sobre a importância da formulação e implantação de
políticas públicas voltadas para as pessoas idosas, além do desenvolvimento de estudos
sobre os aspectos do envelhecimento, tal como se pode ver pelos seus objetivos:
a) fomentar a compreensão nacional e internacional sobre as consequências econô-
micas, sociais e culturais que o envelhecimento da população tem no processo de de-
senvolvimento;
b) promover a compreensão nacional e internacional das questões humanitárias e de
desenvolvimento relacionadas ao envelhecimento;
c) propor e promover políticas e programas destinados a garantir a segurança social
e econômica para as pessoas idosas, assim como lhes dar oportunidades de contribuir
para o desenvolvimento e compartilhar de seus benefícios;
d) apresentar alternativas e opções políticas que sejam compatíveis com os valores e

12
metas nacionais e os princípios reconhecidos internacionalmente em relação ao enve-
lhecimento e às necessidades das pessoas idosas;
e) incentivar o desenvolvimento da educação, da formação e da pesquisa que per-
mita responder adequadamente ao envelhecimento da população mundial e promo-
ver o intercâmbio internacional de habilidades e conhecimentos nesta área (FREITAS,
2013, tradução livre. Apud NACIONES UNIDAS, 1982).

Dez anos depois, na Assembleia da ONU de 1992, foi aprovada a Proclamação sobre o
Envelhecimento, estabelecendo, dentre diferentes atos, o ano de 1999 como o Ano
Internacional das pessoas idosas, com o slogan:

“Uma sociedade para todas as idades”

A II Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre Envelhecimento foi realizada em


2002 – 20 anos após a primeira, em Madri, na Espanha. Dela, resultou o Plano de
Ação Internacional para o Envelhecimento, conhecido como Plano de Madri.
O Plano de Madri deu especial atenção ao envelhecimento nos países em desenvol-
vimento e elegeu como temas centrais a realização de todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais das pessoas idosas, seus direitos civis e políticos, e a elimi-
nação de todas as formas de violência e discriminação contra a pessoa idosa.

Convenção Interamericana sobre a Proteção dos


Direitos Humanos das Pessoas Idosas
Em junho de 2015, mês dedicado ao combate à violência contra a pessoa idosa, os
Estados Membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovaram a Con-
venção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos das Pessoas Idosas.
Com ela, as Américas passaram a ser o primeiro continente a contar com uma Con-
venção para proteger os direitos das pessoas idosas.

Saiba Mais!!!
O Brasil foi um dos primeiros a assinar. Entretanto, apesar de ter assi-
nado, o Brasil ainda não ratificou, o que quer dizer que o Legislativo
ainda não deliberou favoravelmente. Isso pode ser verificado no sítio
eletrônico da Câmara: https://bit.ly/3uWakw7

13
Unidade 1 – Envelhecimento populacional
e o sistema normativo de proteção

O objetivo da Convenção é o reconhecimento de que todos os direitos humanos e as


liberdades fundamentais existentes se aplicam às pessoas idosas, e que elas devem
gozar plenamente deles em igualdade de condições com os demais.
A Convenção permite reforçar as obrigações jurídicas de respeitar, promover e garan-
tir os direitos humanos das pessoas idosas. Uma vez ratificada, cria a obrigatoriedade
dos Estados participantes a adotar medidas, com o intuito de garantir à pessoa idosa
tratamento diferenciado e preferencial em todos os âmbitos.
Dois anos após a aprovação da Convenção
Interamericana sobre a Proteção dos Direi-
tos Humanos das Pessoas Idosas pelos Esta-
dos Membros da Organização dos Estados
Americanos (OEA), foi realizada a 4ª Confe-
rência Regional Intergovernamental sobre
Envelhecimento e Direitos das Pessoas Ido-
sas, de 27 a 30 de junho de 2017, em Assun-
ção, Paraguai. O Brasil enviou uma delegação
governamental à Conferência para apoiar e
recomendar a ratificação.
Até 2021, esses são os marcos internacionais
para a proteção e defesa dos direitos das
pessoas idosas no mundo e para o estabele-
cimento de políticas públicas voltadas para
esse grupo.
De maneira geral, a ênfase recai sobre a manutenção da vida ativa da população idosa
na sociedade, com ações de combate à pobreza, ações de promoção de integração e
de seguridade; sobre o estímulo à saúde e ao bem-estar na velhice, com políticas
voltadas a um desenvolvimento saudável; e sobre a criação de um ambiente propício
e favorável às pessoas idosas, com políticas focadas na solidariedade intergeracional.

Saiba Mais!!!
Para conhecer melhor a Convenção Interamericana sobre a Proteção
dos Direitos Humanos das Pessoas Idosas no que diz respeito aos seus
princípios, aos deveres dos estados signatários e quais são os direitos
protegidos, acesse o documento de criação, no endereço:
https://bit.ly/3waNhhj

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Marcos nacionais contemporâneos
de proteção à pessoa idosa
Os principais marcos legais brasileiros voltados para a população idosa se originaram
na década de 1990, embora sejam reconhecidos antecedentes do começo do Século
XX, tais como alguns artigos do Código Civil (1916). Depois, vieram artigos do Código
Penal (1940), do Código Eleitoral (1965) e outros normativos que abordam questões
do envelhecimento.
Alguns documentos consideram a Lei Eloy Chaves, de 1923, importante marco legal
para a proteção à pessoa idosa, por ser a primeira iniciativa de que se tem registro
para a garantia de aposentadorias, criando assim, o sistema previdenciário e
instituindo as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs) para os empregados de
empresas ferroviárias, o que depois se estendeu para outras categorias.
As Constituições brasileiras anteriores à de 1988 não expressavam a preocupação na
garantia de direitos às pessoas idosas, apenas enfatizavam a questão previdenciária,
de forma incipiente.

ATENÇÃO!
Importante sinalizar, ainda, que somente em 1986, durante a 8ª Confe-
rência Nacional de Saúde, emergiu a proposta de elaboração de uma
política global de assistência à população idosa, influenciada pelo Plano
de Viena. Desde então, o envelhecimento passou a ser pauta das políti-
cas públicas nacionais.

O grande marco em defesa dos direitos humanos das pessoas idosas se deu com o
advento da Constituição de 1988, que passou a evidenciar os direitos humanos,
conforme veremos a seguir.

A Constituição Federal Brasileira


No Brasil, antes da Constituição de 1988, poucas foram as iniciativas legais que
versaram sobre o amparo às pessoas idosas e a garantia de seus direitos, uma vez que
até então esta problemática ainda era pouco visível em uma sociedade percebida
como jovem.
Temas relacionados ao envelhecimento e à pessoa idosa transitavam de forma invisível
no cenário social, convivendo com distorções e forte marca cultural, envolvendo o
‘temor’ (pelo envelhecimento) e preconceitos em relação à pessoa idosa.

15
Unidade 1 – Envelhecimento populacional
e o sistema normativo de proteção

Na década de 1980, em especial durante a Assembleia Nacional Constituinte, as


entidades representativas das pessoas idosas e os movimentos de direitos humanos
trouxeram para a arena pública o debate sobre o envelhecimento e a consideração
da pessoa idosa como sujeito de direitos.

O processo de elaboração Em meio às rápidas transformações


demográficas e demandas da população
da Constituição de 1988
idosa, a Constituição Federal de 1988 foi a
possibilitou a participação
primeira a assegurar direitos à estas pessoas,
efetiva da sociedade e retirando-as da esfera exclusiva da filantropia
culminou na garantia da e da exclusividade de cuidado da família, para
elaboração de diferentes estabelecer o dever de proteção pelo Estado
leis que vieram atender e pela sociedade.
expectativas demandadas Assim, a Constituição Federal de 1988 prevê,
pelos mais diversos como um dos objetivos fundamentais da
segmentos sociais, incluindo República, a promoção do bem-estar de todos
a população idosa. os indivíduos, sem que haja qualquer forma
de discriminação.
A inserção das pessoas idosas não se deu apenas de forma ampla e geral. A
Constituição especifica que os filhos maiores devem amparar e ajudar os pais na
velhice, carência ou enfermidade. O texto constitucional acrescenta que o estado e a
sociedade têm o dever de proteger e amparar as pessoas idosas.
Além disso, a Constituição inaugura a abordagem da pessoa idosa para além dos as-
pectos vinculados ao mundo do trabalho e questões previdenciárias, colocando-a
como protagonista de sua história pessoal e social.
Com isso, ela modifica a concepção que se tinha, até o momento, sobre o
envelhecimento. Ela possibilitou o surgimento de um conjunto de ações voltadas à
proteção dessa população e, ao mesmo tempo, incentivando o protagonismo, a
participação social e a qualidade de vida.

TEXTO-DESTAQUE!
Foi a partir da Constituição de 1998 que ficou estabelecida a cobertura
universal das necessidades das pessoas idosas, com base na seguri-
dade social, por meio de programas de saúde, de assistência e de pre-
vidência, estruturados numa rede de proteção descentralizada, inte-
grada e participativa.

16
Desse modo, a Constituição assegura tanto a garantia de renda - como é o caso do
Benefício de Prestação Continuada (BPC) - como o fornecimento de serviços especia-
lizados prestados pela assistência social.
Um importante avanço trazido pela Constituição de 1988 para a defesa e proteção
dos direitos das pessoas idosas foi a introdução da participação civil dentro do espaço
público, estabelecendo a democracia participativa na administração pública
brasileira. Conforme veremos na Unidade 2, essa participação social se
institucionaliza, principalmente, por meio dos Conselhos.
Darlene Silveira (2013, p.74), em capítulo de livro sobre pessoas idosas e a
Constituição, chama atenção para o fato de que:
na década que segue a aprovação da Constituição de 1988, o
debate em torno da criação dos Conselhos do Idoso se configura
como o espaço que privilegia a participação das entidades
representativas da pessoa idosa e, especialmente, a participação
do idoso, dando-lhe voz no debate político em torno da afirmação
de seus direitos.

ATENÇÃO!
Importante destacar, também, que alguns documentos apontam obstá-
culos à efetivação da garantia de direitos às pessoas idosas, conforme
estabelece a Constituição de 1988. São resistências de ordem cultural,
política, econômica e social, visto que o envelhecimento no imaginário
coletivo ainda é associado a doenças, incapacidades, peso para a socie-
dade e para o sistema. O desafio presente é a superação da invisibili-
dade social da pessoa idosa, fruto dessa visão preconceituosa sobre a
velhice.

No enfrentamento desse desafio, os Conselhos de direitos das pessoas idosas podem


e devem contribuir efetivamente com inúmeras ações, conforme você verá ainda
nesse Módulo e, de maneira aprofundada, no Módulo 3.

A Política Nacional do Idoso


Para iniciar nosso aprendizado sobre a Política Nacional do Idoso (PNI), precisamos
voltar a mencionar os marcos internacionais em defesa e proteção dos direitos das
pessoas idosas e apresentar uma breve trajetória histórica até a criação da PNI.
Dessa forma, sabe-se que os resultados alcançados pela I Assembleia Mundial da ONU
sobre Envelhecimento, com consequente elaboração do Plano de Viena, foi
importante influência na definição da legislação brasileira.

17
Unidade 1 – Envelhecimento populacional
e o sistema normativo de proteção

Uma vez que o Brasil foi signatário do Plano de Viena em 1982, ele passou a
incorporar, de forma mais assertiva, este tema na sua agenda política.
Além disso, os princípios de independência, participação, cuidados, autorrealização
e dignidade – adotados na Assembleia Geral da ONU de 1991 e as recomendações
definidas nesses documentos, orientaram diferentes legislações e documentos naci-
onais, especialmente a elaboração da Lei no 8.842 de 1994, que sancionou a PNI, con-
forme veremos adiante.
Ana Amélia Camarano (2016, p. 18-19) descreve cada um desses princípios, a partir
de publicação anterior de Camarano & Pasinato (2004), conforme abaixo:
a) “A promoção da independência requer políticas públicas que garantam a autono-
mia física e financeira, ou seja, acesso aos direitos básicos de todo o ser humano: ali-
mentação, habitação, saúde, trabalho e educação, além de previdência.
b) Por participação, busca-se a integração das pessoas idosas na sociedade. Isso re-
quer a criação de um ambiente propício para que possam compartilhar suas experiên-
cias com outras gerações e se socializarem.
c) O tema cuidados refere-se à necessidade de as pessoas idosas usufruírem de todos
os direitos humanos e liberdades fundamentais por meio do cuidado familiar ou insti-
tucional.
d) Autorrealização significa a possibilidade de os indivíduos fazerem uso de oportuni-
dades para o desenvolvimento do seu potencial, via acesso a recursos educacionais,
culturais, espirituais e recreativos.
e) Por último, o quesito dignidade requer que se assegure as pessoas idosas a possi-
bilidade de uma vida digna e segura, livre de toda e qualquer forma de exploração e
maus tratos”.

Em 1994, dando prosseguimento às diretrizes lançadas pela Constituição de 1988 e


sob influência dos avanços e recomendações dos debates internacionais sobre a ques-
tão do envelhecimento, a Política Nacional do Idoso foi aprovada pela Lei no
8.842/1994 e regulamentada pelo Decreto no 1.948/1996.
Nesse sentido, a PNI busca tratar a pessoa idosa não apenas como um sujeito de
direitos, mas enfatiza a importância de sua autonomia, integração e participação
efetiva como instrumento de cidadania.

ATENÇÃO!
A PNI é fruto da reivindicação da sociedade e de amplos debates e con-
sultas ocorridos nos estados, com a participação de pessoas idosas (ati-
vas e aposentadas), pesquisadores, profissionais da área de gerontolo-
gia e geriatria e diferentes entidades representativas desse segmento,
os quais elaboraram um documento que serviu de referência para o
texto base da lei.

18
A Lei da PNI contém 22 artigos e é estruturada nos seguintes capítulos:
 capítulo 1 - Da Finalidade;
 capítulo 2 – Dos Princípios e das Diretrizes;
 capítulo 3 – Da Organização e Gestão;
 capítulo 4 – Das Ações Governamentais;
 capítulo 5 – Do Conselho Nacional; e
 capítulo6 – Das Disposições Gerais.
Destacaremos, a seguir, alguns aspectos relevantes dessa política.
Em seu Capítulo 1, consta que o objetivo da PNI é assegurar os direitos sociais da
pessoa idosa, criando condições para promover sua autonomia, integração e
participação efetiva na sociedade (BRASIL, 1994). Observe que o objetivo guarda
estreita relação com os princípios adotados pela Assembleia Mundial da ONU, de
1991, conforme apresentado no início desse tópico.
Ainda no Capítulo 1, Da Finalidade, a PNI normatiza a faixa etária ao tratar da pessoa
idosa. Assim, conforme o art. 2º:

“considera-se idoso, para os efeitos desta lei,


a pessoa maior de sessenta anos de idade”

Como referido no artigo, “para efeitos desta lei”, observamos que houve necessidade
de estabelecer um critério cronológico, que serve apenas de referência para o acesso
a direitos e oportunidades à pessoa idosa (BRASIL, 1994).
Como já vimos no início desta Unidade, o envelhecimento é complexo e heterogêneo.
Isso quer dizer que pessoas com 60, 70, 80 e 90 anos, embora consideradas “idosas”,
podem ter necessidades bastante diferentes.
No Capítulo 2, a Lei trata dos princípios da PNI, conforme segue:
I. a família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar à pessoa idosa
todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade,
defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida;
II. o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser
objeto de conhecimento e informação para todos;
III. a pessoa idosa não deve sofrer discriminação de qualquer natureza;
IV. a pessoa idosa deve ser o principal agente e o destinatário das transformações
a serem efetivadas por meio desta política;
V. as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as
contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas
pelos poderes públicos e pela sociedade em geral, na aplicação desta lei.

19
Unidade 1 – Envelhecimento populacional
e o sistema normativo de proteção

O que chama nossa atenção ao conhecermos esses princípios?


A lei estabelece que o processo de envelhecimento é de responsabilidade de todos
(família, sociedade e estado) e que esses mesmos atores devem assegurar à pessoa
idosa todos os direitos da cidadania, incluindo o combate à discriminação.
Também refuta qualquer forma de diferenciação que possa se traduzir em perda de
direitos. Além disso, reforça a importância do protagonismo da pessoa idosa, por
meio da participação ativa de discussões e decisões de temas do seu interesse no
âmbito das políticas públicas.

Esses princípios estão em sintonia com a Constituição de 1988 e com documentos


internacionais, conforme vimos, que influenciaram a legislação brasileira na área do
envelhecimento.

ATENÇÃO!
É importante que, para assegurar os objetivos, a PNI propõe diversas
ações governamentais que tratam dos direitos das pessoas idosas a par-
tir de políticas setoriais. No Módulo 2, você conhecerá um conjunto
dessas políticas.

20
Por ora, apresentamos no Quadro 1 algumas das principais ações conforme as áreas
ou setores:

Quadro 1. Ações governamentais propostas pela PNI


ÁREA AÇÕES GOVERNAMENTAIS
Prestar serviços voltados para o atendimento das necessidades básicas da
Assistência
pessoa idosa, como por exemplo, a capacitação de recursos humanos com
social
foco nas especificidades da pessoa idosa;
Garantir à pessoa idosa assistência à saúde nos diversos níveis de atenção, por
Saúde
meio de programas, serviços e outras políticas públicas
Propor mudanças nos programas educacionais, visando dar mais visibilidade
Educação ao processo de envelhecimento, além de apoiar a criação de estratégias de
educação para pessoas idosas;
Garantir mecanismos que impeçam discriminação da pessoa idosa quanto a
Previdência
sua participação no mercado de trabalho, no setor público e privado e
social
priorizar o atendimento da pessoa idosa nos benefícios previdenciários;
Habitação e Facilitar o acesso à moradia para a pessoa idosa e diminuir barreiras
urbanismo arquitetônicas;
Justiça Promover e defender os direitos da pessoa idosa;
Cultura, Garantir à pessoa idosa acesso aos locais e eventos culturais, além de
esporte e lazer incentivá-las a participar destes movimentos.
Fonte: Elaboração própria

Uma questão central para este Curso, assim como para os conselheiros, é conhecer
bem a lei que cria a PNI. Isto inclui ter adequada noção da sua estruturação e de seu
funcionamento, bem como do papel da sociedade nesse processo e de que forma a
lei prevê a organização e a gestão da PNI. Isso, porque essa lei, em sintonia com os
princípios da Constituição Federal de 1988, reconhece o controle social como corres-
ponsável pela gestão dessa política. Abordaremos a questão do controle social na
próxima Unidade deste Módulo.
Quando a PNI foi criada, a proporção da população idosa no Brasil era em torno de
8%. Em 2016, quando a PNI completou 20 anos de sua regulamentação, essa propor-
ção alcançou a marca de 13,7%. Este aumento do contingente amplia os desafios,
intensifica a necessidade de políticas públicas, demandando a atualização e o aprimo-
ramento da PNI. Um esforço de reflexões e avaliações da PNI, como contribuição ao
seu aprimoramento foi organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA), fundação vinculada ao então Ministério de Planejamento, Desenvolvimento e
Gestão.

21
Unidade 1 – Envelhecimento populacional
e o sistema normativo de proteção

Saiba Mais!!!
Para conhecer melhor a avaliação da PNI em seus 20 anos, consulte o
livro Política Nacional do Idoso: velhas e novas questões, organizado por
Alexandre de Oliveira Alcântara, Ana Amélia Camarano e Karla Cristina
Giacomin e publicado em 2016 pelo IPEA. O livro pode ser acessado na
íntegra no endereço: https://bit.ly/3yhudA1

Para uma boa atuação como conselheiro dos direitos da pessoa idosa, é fundamental
o amplo conhecimento da Política Nacional do Idoso.

O Estatuto do Idoso
Juntamente à Política Nacional do Idoso, o Estatuto é documento base para a prática
dos conselheiros de direitos da pessoa idosa. Assim, é fundamental ter pleno conhe-
cimento de seu conteúdo para que se possa defender, nas diferentes situações, os
direitos estabelecidos nesse documento. Assim, você pode consultá-lo na íntegra em
nossa Biblioteca Virtual!!!
Esse importante marco jurídico foi resultado da luta organizada de diferentes seg-
mentos da sociedade, comprometidos com a defesa dos direitos da pessoa idosa.
Dentre este, tem-se a Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas
(COBAP); o Movimento de Servidores Aposentados e Pensionistas (MOSAP); repre-
sentantes da Associação Nacional de Gerontologia (ANG), da Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia (SBGG), da Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura (CONTAG), e representantes religiosos, como a Pastoral da Pessoa Idosa.
O primeiro projeto de lei de Estatuto do Idoso no Brasil nasceu em 1997 e o segundo
em 1999. Em 2001, a Câmara dos Deputados constituiu uma comissão para examinar
as propostas ou projetos de lei que tratavam do Estatuto do Idoso. Houve participa-
ção do movimento social das pessoas idosas nos debates e, em seguida, foi organi-
zado em Brasília um seminário sobre o referido Estatuto, com importantes contribui-
ções ao projeto de Lei.
A partir de todos esses esforços, o projeto de Lei que cria o Estatuto do Idoso foi
aprovado em outubro de 2003 (Lei no 10.741/2003), passando a valer a partir de 1º
de janeiro de 2004.
Estruturado em 118 artigos, divididos em 07 (sete) títulos, o Estatuto versa sobre diver-
sas áreas dos direitos fundamentais e das necessidades de proteção às pessoas idosas,

22
objetivando reforçar as diretrizes contidas na Política Nacional do Idoso, muitas já as-
seguradas pela Constituição Federal de 1988, como já vimos aqui nesta Unidade.

TEXTO-DESTAQUE!
O Estatuto tem o objetivo de garantir os direitos às pessoas idosas,
consideradas como tais aquelas com idade igual ou superior a 60 anos.
Os principais direitos estabelecidos são: direito à vida, à proteção, à sa-
úde, ao trabalho, à previdência social, à assistência social, à educação, à
cultura, ao lazer, à moradia e ao voto.

Em se tratando da garantia de direitos, o Estatuto apresenta o princípio da proteção


integral às pessoas idosas. A proteção integral abrange a preservação da saúde física
e mental e o aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, para que a pessoa
idosa possa ter respeitada a liberdade e dignidade.

O Estatuto também apresenta o princípio da prioridade absoluta, que garante aten-


dimento preferencial imediato e individualizado às pessoas idosas, junto a órgãos pú-
blicos e privados, a sua preferência na formulação e na execução de políticas sociais;
a garantia de seu acesso à rede de serviços de saúde local; a destinação privilegiada
de recursos públicos ao setor; e a capacitação dos profissionais para atenderem pes-
soas idosas.

23
Unidade 1 – Envelhecimento populacional
e o sistema normativo de proteção

A Lei no 13.466 de 2017 alterou os artigos 3o,15 e 71 da Lei no 10.741 de 2003, a fim
de estabelecer a prioridade especial das pessoas maiores de 80 anos.
Três importantes destaques são dados ao Estatuto do Idoso, como se segue. O pri-
meiro deles diz respeito ao fato de o Estatuto reunir, em um único documento legal,
muitas das leis e políticas anteriormente aprovadas que estavam dispersas no orde-
namento jurídico. Essa característica do Estatuto facilita o manuseio desse instru-
mento legal e o torna mais acessível à população, o que favorece, indiretamente, o
cumprimento da lei.
O segundo destaque é o fato dele estabelecer um conjunto de crimes e sanções ad-
ministrativas para o não cumprimento dos direitos legais previstos no Estatuto. No
caso da violação destes direitos, caberá ao Ministério Público (MP) agir para a garan-
tia deles.
Ainda neste quesito, vale destacar alguns artigos do Estatuto, tendo em vista que a
violação dos direitos às pessoas idosas é um grave problema em nossa sociedade e os
Conselhos de direitos têm papel fundamental de contribuir na prevenção, fiscalização
e denúncia dessas violações.
Assim, destacamos os seguintes artigos do Estatuto:
O art. 4o, que determina que todos estão obrigados a prevenir a ameaça ou violação
dos direitos da pessoa idosa. Aqueles que não cumprirem com esse dever serão res-
ponsabilizados, quer sejam pessoas físicas ou jurídicas (empresas, instituições, enti-
dades governamentais etc.). Esta responsabilidade não é apenas criminal, mas tam-
bém civil;
O art. 5o, que se refere à punição por omissão e estabelece que o indivíduo que
omitir deverá pagar indenização por ameaça ou violação aos direitos do idoso;
O art. 6o, que estabelece que todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade
competente qualquer forma de violação a esta Lei (do Estatuto) que tenha testemu-
nhado ou de que tenha conhecimento.
O art. 19, que se refere especificamente à obrigação dos profissionais de saúde em
comunicar às autoridades policiais, Ministério Público e Conselhos de Direitos da
Pessoa Idosa, os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra pessoas
idosas. Este artigo foi substituído pela Lei no 12.461 de 2011. Com isso, passou a
incluir, também, a necessidade de comunicação de suspeita ou confirmação de vio-
lência, além das autoridades mencionadas no Estatuto, às autoridades sanitárias.

O terceiro destaque conferido ao Estatuto é o fato de atribuir funções de supervisão,


acompanhamento, fiscalização e avaliação das políticas, dos programas e das institui-
ções de atendimento à pessoa idosa aos Conselhos de Direitos da Pessoa Idosa.

24
Essa questão resgata a importância, já comentada no início desse tópico, do conse-
lheiro conhecer bem o Estatuto do Idoso. Chama a atenção, também, para a impor-
tância dos CDPI na contribuição para que o Estatuto cumpra com seus objetivos, re-
presentando, de fato, uma conquista para a sociedade brasileira.
Por fim, é importante pensarmos que, como ocorre com qualquer instrumento jurí-
dico, o Estatuto também necessita de aperfeiçoamentos, para efetivamente assegu-
rar os direitos das pessoas idosas. Por exemplo, a própria revisão da definição etária,
de forma a permitir uma uniformidade de critério para aplicação das leis, visto que
para alguns direitos a idade mínima é de 65 anos.

ATENÇÃO!
A necessidade de aperfeiçoamento não diminui a importância do Esta-
tuto como um dos principais documentos norteadores para que políti-
cas públicas direcionadas à população idosa sejam efetivamente imple-
mentadas.

Nessa realidade, o envolvimento e compromisso dos Conselhos de direitos das pes-


soas idosas com a implementação do Estatuto é condição essencial para garantir sua
aplicação e para identificar possibilidades para seu aperfeiçoamento.

Resumindo
Nessa Unidade tratamos do envelhecimento da população brasileira e da importância
desse fenômeno para as políticas públicas que garantam uma velhice digna e saudável
dessa população.
Além disso, foram abordados os principais marcos internacionais e nacionais voltados
para a proteção e defesa dos direitos das pessoas idosas.
Especificamente para as pessoas idosas, foram destacados os Planos de Ação para o En-
velhecimento, frutos de assembleias mundiais da Organização das Nações Unidas que
discutiram agendas voltadas para questões da velhice, da dignidade, da proteção, da au-
tonomia e do protagonismo das pessoas idosas. Enfatizamos, ainda, o quanto esses do-
cumentos influenciaram o Brasil, na construção de uma legislação específica para tais
pessoas. Conhecemos, ainda, a Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos
Humanos das pessoas idosas, da qual o Brasil é signatário, mas ainda sem se ratificar.
Em relação aos marcos nacionais, tivemos a oportunidade de discorrer sobre a Cons-
tituição Federal de 1988 e reconhecer a sua importância para a temática do envelhe-

25
Unidade 1 – Envelhecimento populacional
e o sistema normativo de proteção

cimento. Essa Constituição foi o primeiro documento nacional a reconhecer as pes-


soas idosas como sujeitos de direitos e a inaugurar uma nova visão da velhice, ao
enfatizar a importância da participação das pessoas idosas no controle social, por
meio dos Conselhos de direitos.
Outro importante tema tratado foi a Política Nacional do Idoso (PNI), nossa primeira
lei voltada especificamente para a promoção da autonomia, integração e participação
efetiva dessa população na sociedade. Conhecemos os seus princípios, principais
ações governamentais propostas para alcançar seus objetivos, orientações para sua
gestão e quão importantes são os Conselhos de direitos das pessoas idosas na gestão
dessa política.
Por último, abordamos o Estatuto do Idoso e sua importância para assegurar os direi-
tos da pessoa idosa no Brasil, promovendo sua inclusão social; os princípios de prote-
ção integral e prioridade absoluta, apresentados pelo Estatuto; aspectos importantes
previstos pelo Estatuto nas situações de violação de direitos da pessoa idosa e, nova-
mente, pudemos perceber a centralidade desse instrumento para orientar as ativida-
des dos conselheiros, bem como a importância dos Conselhos para a efetiva imple-
mentação do Estatuto.

PARA REFLETIR!
A partir de então, reflita: Em seu município, qual a impor-
tância do Estatuto do Idoso na orientação das ações volta-
das para a garantia de direitos das pessoas idosas?

26
Unidade 2
Os Conselhos de Direitos da Pessoa
-

Idosa e seu sistema de atuação


Nesta Unidade vamos dialogar sobre os diversos papéis políti-
cos e sociais assumidos pelos Conselhos de Direitos da Pessoa
Idosa, compreender suas atribuições legais e suas formas de
organização. Também, iremos abordar a forma de atuação sis-
têmica desses Conselhos e os resultados a serem alcançados.
Os conteúdos que compõem a Unidade são os que se seguem:
 Conceito e histórico de surgimento dos Conselhos;
 O papel dos Conselhos nacional, estadual e municipal de
direitos da pessoa idosa no sistema de Conselhos no Bra-
sil;
 Conselho como mecanismo participação e de controle
social;
 Atuação e resultados esperados para o Conselho.

27
Unidade 2 - Os Conselhos de Direitos da
Pessoa Idosa e seu sistema de atuação

Conceito e histórico de
surgimento dos Conselhos
Podemos entender por controle social a participação da sociedade na administração
pública, com o objetivo de acompanhar e fiscalizar as ações do governo, em seus di-
ferentes níveis; propor soluções para problemas, a fim de assegurar a manutenção
dos serviços de atendimento ao cidadão e o cumprimento das políticas públicas.

Os Conselhos são espaços No Brasil, podemos dizer que a origem


institucionais de exercício da dos Conselhos remete ao Século XX da
nossa história política, quando a exclu-
participação e do controle social.
são do povo do sistema político – fruto
Participação social é a inserção de uma cultura autoritária e privatista -
da sociedade em espaços já encontrava resistência de grupos mo-
públicos de interlocução com o bilizados da sociedade e movimentos
Estado, sendo ela uma das sociais engajados na luta pela participa-
formas de controle social. ção popular na política e pela inclusão
social de segmentos menos favorecidos.
Exemplos desses movimentos incluem as primeiras resistências indígenas e negras,
os abolicionistas, os inconfidentes e os movimentos operários.
Durante o período ditatorial militar, que se iniciou em 1964 e se seguiu por 21 anos
até meados da década de 1980, o estado exercia exclusivo controle sobre a sociedade
brasileira, impossibilitando qualquer forma de expressão popular e de diálogo em
torno de interesses e conflitos sociais. Em paralelo, as profundas mudanças econômi-
cas e políticas ocorridas na década de 1970 provocavam o surgimento de importantes
demandas sociais. Nesse ambiente de insatisfação, novas e importantes mobilizações
nasceram, tais como dos metalúrgicos do ABC paulista, os movimentos estudantis e
aqueles ligados às comunidades eclesiais de base.
Assim, esse período foi marcado por grande atividade de movimentos sociais organi-
zados como espaços reivindicativos de diferentes pautas, mas consensuais na luta
pela garantia dos direitos civis e pelo fortalecimento do papel da sociedade civil na
condução da vida política do País.
Foi a partir desses movimentos que se construiu uma nova cultura de participação
popular, caracterizada pela inserção de novos temas na agenda política, pela con-
quista do direito a ter direitos e do direito de participação da gestão pública.
O ápice dessa nova cultura ocorre com a promulgação da Constituição de 1988, que

28
ampliou diversas conquistas na esfera dos direitos sociais, introduziu a participação
civil dentro do espaço público e adotou a democracia participativa. Isto, ao prever a
participação dos cidadãos através dos denominados institutos de democracia direta
ou semidireta, como o plebiscito, a audiência pública, a iniciativa popular de lei, os
Conselhos, as conferências e outros canais institucionais de participação social.

TEXTO-DESTAQUE!
Os Conselhos, institucionalizados a partir da Constituição de 1988, são
instrumentos de controle social, por meio dos quais a sociedade exerce
papel ativo na defesa de seus interesses. Compostos por representantes
do estado e da sociedade, estes órgãos objetivam intermediar os inte-
resses desses dois segmentos na defesa e garantia de direitos, na identi-
ficação de problemas e respectivas soluções e na gestão de programas e
políticas públicas.

Os Conselhos assumem diferentes formas no Brasil, conforme as possibilidades de


atuação previstas nas políticas e leis específicas que os criam. Em relação ao alcance,
podem ser classificados em:
a) Conselhos gestores de programas governamentais: tais como os Conselhos de me-
renda ou alimentação escolar, ensino fundamental e crédito;
b) Conselhos de Políticas Públicas: focados na elaboração, implantação e controle de
políticas públicas, resultantes de leis federais que almejam materializar direitos de
natureza universal (Saúde, Educação, Cultura); e
c) Conselhos Temáticos: envolvidos não apenas com políticas públicas, ou ações do
governo, mas com outros temas, ditos transversais, que permeiam os direitos dos
indivíduos e da sociedade (Direitos Humanos, Direitos da Mulher, Direitos das Pes-
soas Idosas).

29
Unidade 2 - Os Conselhos de Direitos da
Pessoa Idosa e seu sistema de atuação

Em relação à composição dos Conselhos, é desejável que seja paritário. Conforme


veremos no Módulo 3, um Conselho paritário tem equilíbrio entre o quantitativo de
representantes do poder público e representantes da sociedade civil. O critério da
paridade visa garantir iguais oportunidades de participação entre governo e socie-
dade.
Conforme sua forma de intervenção ou competência decisória, os Conselhos se clas-
sificam em:
a) Consultivos: têm como função emitir pareceres e dar sugestões sobre as po-
líticas, não possuindo poder decisório;
b) Deliberativos: possuem o poder de discutir e decidir os rumos das políticas
públicas executadas pelo governo;
c) Fiscalizadores: possuem caráter fiscalizador, podendo (e devendo) fiscalizar
as contas públicas e emitir parecer conclusivo;
d) Normativos: podem criar e/ou reinterpretar normas públicas vigentes.
Vale esclarecer que, em relação à competência decisória, um mesmo Conselho pode
ter caráter consultivo, deliberativo, fiscalizador e normativo, a depender do ato nor-
mativo que o cria.

Saiba Mais!!!
Para aprender mais sobre outras características dos Conselhos, consulte
o artigo “O mapeamento da institucionalização dos Conselhos gestores
de políticas públicas nos municípios brasileiros”, da autora Danitza Pas-
samai R. Buvinich, publicado em 2014 na Revista de Administração Pú-
blica e disponível no link: https://bit.ly/3j4q64T

A partir de sua previsão pela Constituição Federal de 1988, os Conselhos podem ser
criados por leis, decretos ou portarias. Seus funcionamentos se estruturam por regras
formalizadas em estatutos, regimentos e outros documentos orientadores. No que se
refere ao Conselho Nacional do Idoso, a sua criação estava prevista no texto da Política
Nacional do Idoso (PNI), pela Lei no 8.842/1994, mas não se efetivou. Em 1996, essa lei
foi regulamentada por meio do Decreto no 1.948, que tornou responsabilidade do Mi-
nistério da Previdência e Assistência Social a coordenação das ações relativas à PNI.
Seis anos depois, foi criado, na estrutura básica do Ministério da Justiça, o Conselho
Nacional de Direitos do Idoso, por meio do Decreto no 4.227 de 2002. Inicialmente,
com caráter consultivo e sem paridade entre o número de representantes do Estado

30
e da sociedade civil, passou a ser paritário apenas com o Decreto no 4.287 do mesmo
ano. Atualmente, adota a denominação de Conselho Nacional de Direitos da Pessoa
Idosa.

TEXTO-DESTAQUE!
A Lei no 8.842/1994 também prevê a criação dos Conselhos de Direitos
da Pessoa Idosa nos níveis estaduais, distrital e municipais de governo.
Em Minas Gerais, o Conselho Estadual do Idoso - CEI - foi criado pela Lei
no 13.176 de 1999, ainda antes do CNDI.

Enquanto aqui no Módulo 1 abordamos o Conselho de Direitos em uma perspectiva


macro, maiores informações sobre o processo de criação dos Conselhos Municipais
serão disponibilizadas nos documentos de Orientações para a Criação de Conselhos.
Diante do que foi apresentado até aqui, podemos ter a dimensão de que os Conselhos
constituem uma das principais experiências de democracia participativa no Brasil con-
temporâneo. Eles se fazem presentes na maioria dos municípios brasileiros, articula-
dos desde o nível federal, cobrindo ampla gama de temas e segmentos populacionais,
representam conquista inegável do ponto de vista da construção de uma institucio-
nalidade democrática entre nós.

Saiba Mais!!!
No histórico de criação dos Conselhos, um instrumento bastante reconhecido
são os chamados Princípios de Paris. Esses princípios foram redigidos durante
os primeiros encontros internacionais de instituições voltadas para a garantia
dos direitos humanos, em Paris, no ano de 1991.
Os Princípios de Paris foram adotados pela Assembleia Geral das Nações Uni-
das, através da Resolução 48/134 de 1993 e apresentam um conjunto de ca-
racterísticas as quais as instituições voltadas para a garantia de direitos devem
apresentar. Essas características se relacionam à competência e às atribuições
dessas instituições, à estrutura de funcionamento e, ainda, à composição des-
sas instituições, com vistas à garantia de independência e pluralidade.
Para conhecer melhor os Princípios de Paris, acesse o documento Princípios
relativos ao Estatuto das instituições nacionais de direitos humanos (Princí-
pios de Paris) disponível no endereço: https://bit.ly/3eRqJfW

31
Unidade 2 - Os Conselhos de Direitos da
Pessoa Idosa e seu sistema de atuação

O papel dos Conselhos Nacional, Estadual


e Municipal de Direitos da Pessoa Idosa
no sistema de Conselhos no Brasil
A Lei que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso (PNI), conforme vimos no tópico
anterior, criou o Conselho Nacional do Idoso e há orientação para a criação dos Conse-
lhos de direitos da pessoa idosa nos níveis estaduais, distrital e municipais de governo.
Ao conjunto de Conselhos, nessas diferentes esferas de governo, denominamos Sis-
tema de Conselhos de Direitos das Pessoas Idosas no Brasil. Assim, esse sistema é
composto pelo Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa (CNDI), pelos Conse-
lhos Estaduais de Direitos da Pessoa Idosa e pelos Conselhos Municipais. A articulação
e permanente diálogo entre os Conselhos que compõem esse sistema é fundamental
para o cumprimento do Estatuto do Idoso. Na Figura 3 se apresenta uma representa-
ção esquemática desse sistema.

Figura 3. Sistema de Conselhos de Direitos das Pessoas Idosas no Brasil


Fonte: Criação dos Conselhos Municipais dos Direitos da Pessoa Idosa e Fundo do Idoso.
Manual de Orientação. Conselho Estadual dos Direitos do Idoso do Paraná. Disponível em:
http://www.dedihc.pr.gov.br/arquivos/File/IDOSOMANUALDEORIENTACOESONLINE.pdf

32
O papel do Conselho Nacional de Direitos da Pessoa Idosa
Você já sabe que a criação do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa (CNDI)
era prevista para 1994, mesmo ano em que foi criada a Política Nacional do Idoso.
Entretanto, ela somente se concretizou em 2002, sendo o CNDI vinculado ao então
Ministério da Justiça.
Inicialmente, o CNDI não era paritário, nem deliberativo. A paridade foi instituída por
meio do Decreto no 4.287, de 27 de junho de 2002 e o caráter deliberativo por meio
do Decreto no 5.109, de 17 de junho de 2004.
De forma geral, o CNDI tem como objetivo acompanhar a aplicação do Estatuto do
Idoso, da PNI e dos demais atos normativos relacionados ao atendimento do da pes-
soa idosa. Entre as competências que definem o seu papel, destacamos:
a) estimular a ampliação e aperfeiçoamento dos mecanismos de participação e
controle social;
b) apoiar os Conselhos Estaduais, do Distrito Federal e Municipais dos Direitos
da Pessoa Idosa, os órgãos estaduais, municipais e entidades não-governa-
mentais;
c) acompanhar a elaboração e a execução da proposta orçamentária da União;
d) promover a cooperação entre os governos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios e a sociedade civil organizada na formulação e exe-
cução da política nacional de defesa dos direitos da pessoa idosa; entre outras.
Até 2018, o CNDPI era constituído de forma paritária, contando com quatorze mem-
bros do governo e quatorze da sociedade civil.
Em 27 de junho de 2019, foi editado o Decreto no 9.893, de 27 de junho de 2019, que
revogou dispositivos legais do CNDI e estabeleceu nova composição de 06 (seis) mem-
bros, os quais são:
• o secretário nacional de promoção e defesa dos direitos da pessoa idosa do
MMFDH, que o presidirá;
• um representante da Secretaria Nacional da Família do Ministério da Mulher,
Família e Direitos Humanos (MMFDH), indicado pelo titular da secretaria e de-
signado pelo ministro de Estado;
• um representante da Secretaria Nacional de Proteção Global do MMFDH, in-
dicado pelo titular da secretaria e designado pelo ministro de Estado; e
• três representantes da sociedade civil organizada, indicados por entidades se-
lecionadas por meio de processo seletivo público e designados pelo ministro
de Estado da MMFDH.
Cada membro mencionado na composição acima terá um suplente, que o substituirá
em suas ausências e seus impedimentos.

33
Unidade 2 - Os Conselhos de Direitos da
Pessoa Idosa e seu sistema de atuação

ATENÇÃO!
Uma das atribuições mais importantes do CNDI é a coordenação da Con-
ferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa (CNDPI), momento no
qual a sociedade civil discute a política e formula propostas ao governo
federal.

Veremos, no Módulo 4, que a CNDPI é realizada em etapas, iniciando na esfera muni-


cipal ou regional, seguindo para a esfera estadual e, então, se encerra no âmbito na-
cional. Essa dinâmica caracteriza o enfoque sistêmico na atuação dos Conselhos,
sendo necessária a conexão entre os diferentes níveis (municipal, estadual e federal)
para se garantir ampla participação, debate e contribuição na proposição de ações e
políticas para a população idosa e melhorias na qualidade de vida dessa população.

Outra atribuição importante do CNDPI é a


gestão do Fundo Nacional do Idoso. No
Módulo 5 você verificará que o Fundo é
um poderoso instrumento de promoção
de projetos na sua cidade, pois permite a
captação de recursos para aplicação em
programas e ações relativos à pessoa
idosa.
Ações articuladas entre os diferentes ní-
veis podem fortalecer as políticas públicas
de atenção à pessoa idosa em todo o ter-
ritório nacional.
De acordo com seu regimento interno, o
CNDI tem a seguinte organização: plená-
rio, secretaria, comissões permanentes e Figura 4. Estrutura do CNDPI
grupos temáticos, conforme a Figura 4. Fonte: Regimento Interno do CNDI

O papel dos Conselhos Estaduais de Direitos da Pessoa Idosa


Os Conselhos Estaduais de Direitos da Pessoa Idosa são órgãos permanentes, paritá-
rios (com o mesmo número de representantes governamentais e não-governamen-
tais), consultivos, deliberativos, formuladores e controladores das políticas públicas e
ações voltadas para a pessoa idosa no estado.

34
Na estrutura sistêmica dos Conselhos de Direitos da Pessoa Idosa no Brasil, um dos
papéis mais importantes dos Conselhos Estaduais é o de orientação aos Conselhos
Municipais. Outras competências dos Conselhos Estaduais são destacadas abaixo:
• Zelar pela implantação, implementação, defesa e promoção dos direitos da
pessoa idosa;
• Propor, opinar e acompanhar a criação e elaboração da lei de criação da polí-
tica estadual da pessoa idosa;
• Propor, formular, acompanhar, fiscalizar e avaliar as políticas e ações do es-
tado destinadas à pessoa idosa, zelando pela sua execução;
• Cumprir e zelar pelas normas constitucionais e legais referentes à pessoa
idosa, sobretudo a Lei Federal no 8.842 de 1994 (Política Nacional do Idoso), a
Lei Federal no 10.741 de 2003 (Estatuto do Idoso), e demais leis de caráter
estadual;
• Denunciar à autoridade competente e aos Ministérios Públicos o descumpri-
mento de qualquer um dos dispositivos legais acima elencados;
• Receber e encaminhar aos órgãos competentes as petições, denúncias e re-
clamações sobre ameaças e violação dos direitos da pessoa idosa, e exigir das
instâncias competentes as medidas efetivas de proteção e reparação;
• Propor, incentivar e apoiar a realização de eventos, estudos e pesquisas vol-
tados para a promoção, proteção, a defesa dos direitos e melhoria da quali-
dade de vida da pessoa idosa;
• Incentivar a criação do fundo especial para captação de recursos destinados a
atender as políticas, ações e programas destinados à pessoa idosa, o Fundo
Estadual do Idoso;
• Deliberar sobre aplicação dos recursos oriundos do Fundo Estadual do Idoso,
elaborando e aprovando os planos de ação e aplicação, e, ainda, acompanhar,
fiscalizar sua utilização e avaliar os resultados;
• Elaborar seu regimento interno;
• Participar ativamente da elaboração das peças orçamentárias estaduais Plano
Plurianual (PPA) Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária
Anual (LOA), assegurando a inclusão de dotação orçamentária compatível
com as necessidades e prioridades estabelecidas, zelando pelo seu efetivo
cumprimento e esforçando-se para realizar quaisquer outras atribuições que
se apresentem;
• Divulgar os direitos das pessoas idosas, bem como os mecanismos que asse-
guram tais direitos;
• Organizar e realizar as conferências estaduais de direitos da pessoa idosa, em
conformidade com o CNDI e observando que a convocação para realização da
Conferência é feita pelo chefe do executivo, ou seja, o governador;
Além dessas competências, outras podem ser criadas, com vistas ao fortalecimento
do controle social e da proteção das pessoas idosas.

35
Unidade 2 - Os Conselhos de Direitos da
Pessoa Idosa e seu sistema de atuação

O papel dos Conselhos Municipais de Direitos da Pessoa Idosa


É no município que as pessoas idosas vivem e devem ter seus direitos efetivados. Por
isso, o Conselho Municipal tem importância central na proteção dos direitos dessas
pessoas.

TEXTO-DESTAQUE!
O Conselho Municipal de Direitos da Pessoa Idosa (CMDPI) é um órgão
permanente, paritário (com o mesmo número de representantes gover-
namentais e não-governamentais), consultivo, deliberativo, formulador
e controlador das políticas públicas e ações voltadas para a pessoa
idosa no município. É acompanhado por uma Secretaria Municipal que
deverá lhe dar apoio estrutural e funcional, não havendo para o Conselho
qualquer condição de subordinação.

São atribuições do Conselho Municipal de Direitos do Idoso:


• Formular, acompanhar, fiscalizar e avaliar a Política Municipal dos Direitos da
Pessoa Idosa, zelando pela sua execução;
• Elaborar proposições, objetivando aperfeiçoar a legislação pertinente à Polí-
tica Municipal dos Direitos do Idoso;
• Indicar as prioridades a serem incluídas no planejamento municipal quanto às
questões que dizem respeito à pessoa idosa;
• Cumprir e zelar pelo cumprimento das normas constitucionais e legais refe-
rentes à pessoa idosa, sobretudo a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do
Idoso e leis pertinentes de caráter estadual e municipal, denunciando à auto-
ridade competente e ao Ministério Público o descumprimento de qualquer
uma delas;
• Fiscalizar as entidades governamentais e não-governamentais de atendi-
mento à pessoa idosa, conforme o disposto no artigo 52 da Lei no.
10.741/2003 (Estatuto do Idoso);
• Propor, incentivar e apoiar a realização de eventos, estudos, programas e pes-
quisas voltados para promoção, proteção e defesa dos direitos da pessoa
idosa;
• Inscrever os programas das entidades governamentais e não governamentais
de assistência à pessoa idosa;
• Estabelecer a forma de participação da pessoa idosa residente no custeio da
entidade de longa permanência, filantrópica ou casa-lar, cuja cobrança é fa-
cultada, não podendo exceder a 70% (setenta por cento) de qualquer benefí-
cio previdenciário ou de assistência social percebido pela pessoa idosa;
• Deliberar sobre a definição da utilização dos recursos do Fundo Municipal do
Idoso, indicando prioridades para a destinação dos valores depositados no
Fundo Municipal, elaborando ou aprovando planos e programas em que está

36
prevista a aplicação de recursos oriundos daquele.
• Zelar pela efetiva descentralização político-administrativa e pela participação
de organizações representativas das pessoas idosas na implementação de po-
lítica, planos, programas e projetos de atendimento à pessoa idosa;
• Elaborar o seu regimento interno.
• Cabe ao Conselho, ainda, participar ativamente da elaboração das políticas
públicas de atendimento à pessoa idosa, cuidando e vigiando sua inclusão nas
peças orçamentárias municipais (Plano Plurianual – PPA, Lei de Diretrizes Or-
çamentárias – LDO e Lei Orçamentária Anual – LOA).

ATENÇÃO!
Conforme você verá no Módulo 5, um dos grandes desafios para os Con-
selhos Municipais é a criação e funcionamento dos Fundos Municipais do
Idoso. Nesse sentido, é fundamental que os conselheiros se engajem
nesse objetivo, pois são instrumentos de grande contribuição para o fi-
nanciamento de políticas públicas voltadas para este público nos municí-
pios.

37
Unidade 2 - Os Conselhos de Direitos da
Pessoa Idosa e seu sistema de atuação

Atuação e resultados esperados


para o Conselho
A democracia concretiza-se com a participação ativa dos cidadãos
nas políticas públicas, na definição de suas prioridades, de seus
conteúdos e recursos orçamentários, de segmentos sociais a serem
atendidos e na avaliação dos resultados dessas políticas.

A consolidação do conceito de cidadania e da noção de direitos contribuiu para o for-


talecimento da cultura democrática.
E, é nos espaços dos Conselhos que esta participação, preconizada na Constituição
Federal, acontece.
A composição plural e heterogênea, com representação da sociedade civil e do go-
verno em diferentes formatos, caracteriza os Conselhos como instâncias de negocia-
ção e diálogo em torno de conflitos entre diferentes grupos e interesses. Esse aspecto
contribui para qualificar o processo de proposição, monitoramento e avaliação das
políticas públicas.

38
Nesse sentido, a abertura do espaço político e o fortalecimento de uma cultura do
interesse público, tanto na sociedade civil quanto nos governantes, constitui das mais
importantes potencialidades dos Conselhos como instrumentos de democratização
da administração pública.
A abrangência de atuação dos Conselhos é bastante ampla. Suas decisões devem in-
cidir tanto sobre o formato das políticas públicas quanto sobre as estratégias e dire-
trizes para sua implementação. Por isso, devem, além de definir metas e diretrizes
políticas em relação à universalização de direitos e às políticas de atendimento esta-
belecidas nos direitos sociais, deliberar sobre o formato de gestão de maneira a ga-
rantir o controle social.

ATENÇÃO!
Para a garantia do controle social, é fundamental que os Conselhos fun-
cionem com composição paritária e representativa entre o poder gover-
namental e sociedade civil. Esta condição deve ser respeitada desde a
primeira ação após a publicação da lei.

Em relação à paridade, para que esta seja efetiva nos Conselhos, é preciso que ocorra
a alternância na diretoria e presidência da mesa diretora. No módulo 2 deste Curso,
você compreenderá melhor essas questões para o caso dos Conselhos Municipais de
Direitos da Pessoa Idosa.
Uma vez atuando para o efetivo controle social, as expectativas quanto ao funciona-
mento dos Conselhos incluem:
• Proteger os direitos adquiridos e lutar por novos direitos;
• Ser instrumento de democratização da gestão pública;
• Ser local de escuta e de diálogo;
• Dar mais transparência aos processos políticos e controlar a corrupção, quali-
ficando as políticas públicas;
• Fortalecer a democracia; e
• Ser um contrapeso a formas autoritárias de poder.
Existe consenso, por parte de diferentes estudiosos sobre Conselhos de Direitos, de
que esses espaços representam um dos avanços mais significativos da democracia
brasileira. A justificativa é que possibilitam o aumento da influência da sociedade civil
institucionalizada sobre o Estado na formulação de políticas públicas, na ampliação
da inclusão social, no aumento do controle público e no acompanhamento dos servi-
ços prestados pelo Estado.
Conforme vocês verão no Módulo 3, muitos elementos e condições são essenciais
para que os Conselhos atendam às expectativas de sua criação e atuem conforme as
atribuições e competências que lhe cabe.

39
Unidade 2 - Os Conselhos de Direitos da
Pessoa Idosa e seu sistema de atuação

A partir de então, o que podemos esperar de resultados do funcionamento dos


Conselhos?
A partir da atuação efetiva e do funcionamento adequado dos Conselhos, os efeitos
esperados envolvem especialmente três públicos, a saber: a sociedade, o Conselho
em si e o governo. Para melhor compreensão desses efeitos, eles podem ser divididos
nas seguintes categorias: educativos, normativos e políticos.
Os efeitos educativos esperados partem do pressuposto de que toda forma de gerar
conhecimentos nas atividades do Conselho contribui para a formação de conselhei-
ros, da sociedade como um todo e do processo de trabalho em si, que envolve Con-
selho e governo. Referem-se ao aprendizado contínuo que ocorre nos espaços de in-
teração entre governo e sociedade civil e que contribuem tanto para aperfeiçoar as
qualidades dos atores envolvidos quanto para aprimorar a capacidade de diálogo e o
processo de tomada de decisões.
No Quadro 2 se apresenta, de forma resumida, os efeitos educativos esperados do
funcionamento dos Conselhos para a combinação para cada público.

Quadro 2. Expectativas de resultados educativos esperados da atuação dos Conselhos


Efeitos educativos
Estímulo à consciência cidadã.
 Conscientizar a sociedade sobre os direitos e deveres e contribuir para o
Sociedade desenvolvimento do senso crítico;
 Contribuir para o engajamento cívico e para criar condições para que os cidadãos
possam participar dos processos democráticos.
Aprimoramento da capacidade deliberativa.
 Participar diretamente nos assuntos públicos, gerando aprendizagens que tendem a
Conselho aperfeiçoar qualidades, morais e práticas, preparando os conselheiros para se inserirem
nos processos deliberativos;
 Democratizar os saberes para melhorar e reforçar os argumentos para que se tenha
igualdade política.
Formação de governo reflexivo.
 Sensibilizar governos para o diálogo, aproveitando do espaço do Conselho para escutar
Governo as manifestações sociais, incorporando as críticas dos cidadãos em sua gestão;
 Estimular a tomada de decisões governamentais de maneira democrática, com abertura
para incorporar as manifestações sociais.
Fonte: Adaptado de Martins, 2015.
Os efeitos normativos dizem respeito à observância das normas e procedimentos para
fazer valer os direitos e a possibilidade de melhorias nas normas e para aperfeiçoar o
funcionamento dos Conselhos. Ou seja, tratam-se do que se espera em termos de
contribuição dessa estrutura para garantir e legitimar os Conselhos como espaços de
controle social. Da mesma forma que esperado para os efeitos educativos, eles se
aplicam à sociedade, ao Conselho e ao governo, conforme descrito no Quadro 3.

40
Quadro 3. Efeitos normativos esperados a partir do funcionamento dos Conselhos
Efeitos normativos
Garantia da inserção social.
 Inserção da sociedade nos assuntos públicos como um direito, garantindo o pluralismo
de vozes;
Sociedade  Garantir à sociedade o direito de se manifestar durante os processos deliberativos que
ocorrem no Conselho, livre de constrangimentos;
 Garantia do protagonismo do cidadão nos processos políticos para gerar uma
comunidade política.
Estimular processos deliberativos dinâmicos.
 Garantias de processos deliberativos dinâmicos e qualificados, decisões que continuam
Conselho influenciando resultados futuros;
 Garantia da igualdade e simetria para garantir qualidade deliberativa;
 Garantia de formas de comunicação democrática.
Garantir a accountability (prestação de contas à sociedade).
 Reconhecimento do Conselho como órgão de controle e proporcionar as condições para
Governo que o controle social seja exercido;
 Transparência no agir e nas apresentações das contas públicas.
 Publicização para atuação da cidadania e geração de opinião pública.
Fonte: Adaptado de Martins, 2015.

Quanto aos efeitos políticos (Quadro 4), o que se espera é que os Conselhos sejam
espaços cujas ações influenciem efetivamente as ações e políticas públicas. Assim,
configurando uma possibilidade de via de participação social política que não se
esgota nos mecanismos eleitorais.

Quadro 4. Efeitos políticos esperados a partir do funcionamento dos Conselhos


Efeitos políticos
Estimular o ativismo social
 Sociedade articulada, mobilizada politicamente, manifestando suas opiniões por meios
Sociedade que podem extrapolar a própria instituição participativa;
 Sociedade protagonista no processo político, inserindo as suas pautas nos processos
deliberativos e exercendo o monitoramento sobre as ações governamentais.
Promover a economia moral do desacordo
 Acomodar os conflitos e faltas de consenso no âmbito do espaço de diálogo,
Conselho minimizando as diferenças;
 Gerar estabilidade nas relações entre governo e sociedade, maximizando o respeito
mútuo;
 Espaço de transformações de preferências, onde se busca acordo e cooperação.
Contribuir para a inovação na gestão pública
Governo  Fomentar a interação sistêmica para a produção de um projeto conjunto e colaborativo;
 Buscar a eficiência com a inclusão da participação social.
 Inovar processos de gestão para promover a justiça social.
Fonte: Adaptado de Martins, 2015.

41
Unidade 2 - Os Conselhos de Direitos da
Pessoa Idosa e seu sistema de atuação

O conjunto dos efeitos esperados abre espaço para uma consciência política geral,
tanto por parte da população, do Conselho em si, quanto do estado. Isso permite
avançar na compreensão de que o estado necessita da colaboração da sociedade para
superar problemas de políticas públicas e favorecer a cultura de direitos.

ATENÇÃO!
Conforme você viu e conhecerá com mais detalhes no Módulo 3, os Con-
selhos de direitos das pessoas idosas possuem diferentes atribuições.

Em conjunto, o exercício dessas atribuições pode resultar em contribuições efetivas


de controle e acompanhamento das ações dos gestores públicos, no aconselhamento
da gestão sobre o direcionamento das políticas públicas e na participação efetiva das
decisões a serem tomadas pela administração pública.
Além disso, espera-se como importante resultado de desempenho dos Conselhos,
mobilização e sensibilização da sociedade civil acerca da necessidade e relevância da
participação popular na gestão dos municípios. Isto, pois a participação é uma forma
de se governar de modo interativo, equilibrando forças e interesses, e de se promover
a democratização.

42
No caso dos CDPI, seu adequado funcionamento tem grande contribuição na efetiva-
ção das políticas públicas voltadas para a pessoa idosa, promovendo a defesa e o com-
bate à violação de direitos e igualdade social, e para o bem-estar dessa população.
Outros benefícios também relevantes da atuação dos CDPI incluem a defesa dos di-
reitos da pessoa idosa e o combate à sua violação. Adicionalmente, tem-se o estímulo
ao protagonismo das pessoas idosas nas discussões e deliberações de políticas de seu
interesse, ao exercício de sua cidadania; e a promoção de uma cultura do envelheci-
mento, com solidariedade entre diferentes gerações, o que favorece a construção de
sociedades e municípios para todas as idades.

Resumindo
Na Unidade 2 vimos o que são Conselhos; e o histórico de criação dessas instâncias
no Brasil - desde o início dos movimentos de resistência e lutas por voz política, até a
institucionalização dessa participação pela Constituição Federal de 1988.
Também, destacamos o papel dos Conselhos Nacional, Estadual e Municipal no sis-
tema de Conselhos no Brasil e a importância da articulação entre esses para fortalecer
políticas voltadas para a pessoa idosa.
No terceiro tópico da Unidade conhecemos as expectativas de funcionamento dos
Conselhos e o que se esperar de resultados. Como espaços plurais e heterogêneos,
que atuam no controle social, há um conjunto de expectativas em relação aos Conse-
lhos, dentre as quais se incluem ser espaços de escuta e diálogo, de fortalecimento
da democracia e de maior transparência dos processos políticos.
Quanto aos resultados, eles contribuem, de maneira diferente, para
a sociedade, para o Conselho em si e para o governo. Também, vi-
mos que os resultados possuem natureza educativa, normativa e
política que, no conjunto, fortalecem a democracia.

PARA REFLETIR!
A partir de então, reflita: Como seria a nossa
sociedade em geral sem a existência dos
Conselhos? Em particular, como seria
o seu município?

43
Referências
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