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Direito
Internacional
Privado
UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Créditos
Direito
Internacional
Privado
Livro didático
Designer instrucional
Elizete Aparecida De Marco Coimbra
UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Copyright © Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por
UnisulVirtual 2016 qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
Livro Didático
Diagramador(a)
Diogo Silva Mecabô
S58
Silva, João Batista da
Direito internacional privado : livro didático / João Batista da Silva
; design instrucional Elizete Aparecida De Marco Coimbra. – Palhoça :
UnisulVirtual, 2016.
91 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-506-0032-1
e-ISBN 978-85-506-0018-5
Introdução | 7
Capítulo 1
Conceito e contextualização histórica do Direito
Internacional Privado | 9
Capítulo 2
Objeto e fontes do DIPr | 23
Capítulo 3
O DIPr e a legislação brasileira | 51
Considerações Finais | 87
Referências | 89
Palavras do Professor
Fica, então, o convite para que você explore as informações contidas neste livro
e colhidas dos mais variados e renomados autores, com o desejo de que elas
permitam o aprimoramento do seu conhecimento sobre esse importante e cada
vez mais atual ramo do Direito – o Direito Internacional Privado (DIPr), cujo alcance
e abrangência envolve todos os ramos do Direito sujeitos à extraterritorialidade –
esse instituto que permite a aplicação da norma estrangeira dentro do país, fato
recorrente no atual cenário da internacionalização das relações humanas.
Uma reflexão:
“Há homens que lutam um dia, e são bons; há homens que lutam por um ano, e
são melhores; há homens que lutam por vários anos, e são muito bons; há outros
que lutam durante toda a vida, esses são imprescindíveis.” (Bertold Brecht)
Seção 1
Diante do vigente cenário da globalização, a humanidade tem experimentado
mudanças éticas, econômicas, tecnológicas, ambientais e culturais as quais têm
proporcionado relações jurídico-privadas mais intensas no cenário internacional,
face à quantificação das relações humanas e materiais transcendendo as
fronteiras físicas dos Estados. Isso tem dado maior expressividade ao Direito
Internacional Privado (DIPr).
Mas, o que vem a ser o Direito Internacional Privado (DIPr) e em que contexto
histórico ele está inserido? Qual o papel e a importância do Estado e do Direito na
resolução de conflitos que envolvam a aplicação do direito estrangeiro pelo juiz
nacional?
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Capítulo 1
Tudo isso nos torna cada vez mais “cidadãos mundo”, sendo capazes de
interagir em tempo real, em todos os espaços de poder alcançáveis.
Vale destacar que o DIPr volta suas atenções para as questões relativas à pessoa
natural e suas relações com a família, os bens, as obrigações e as sucessões,
sempre priorizando e valorizando os princípios e fundamentos constitucionais,
bem como os tratados e convenções relativos aos Direitos Humanos.
Assim, no atual contexto histórico, talvez o mais efetivo dos desafios resida em
adequar o Direito Internacional às demandas oriundas dos Estados que têm
seu modelo constitutivo alicerçado no século XVI e cujas forças intrínsecas
extrapolam as delimitações espaciais e soberanas de poder. Afinal, há uma
interdependência que também nos identifica como seres humanos, ávidos por
direitos que nos contemporizem como iguais em um mundo cada vez mais local,
tornando-nos mais próximos e ciosos por direitos que assegurem nossa igual
condição humana.
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Direito Internacional Privado
Ulpiano, já por volta do ano 534, no Corpus Iuris Civilis (Corpo de Direito Civil),
referia:
UBI HOMO IBI SOCIETAS. UBI SOCIETAS, IBI JUS que significa “Onde está o
homem está a sociedade. Onde está a sociedade, está o Direito”.
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Capítulo 1
DEFININDO SOBERANIA
Fonte: Dicionário de política I Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino - Editora
Universidade de Brasília, 1ª ed., p.1179-1181, 1998.
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Direito Internacional Privado
DIREITO
ESTADO
PÚBLICO e PRIVADO
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Capítulo 1
Como os Estados são politicamente soberanos para criarem suas normas (leis)
e regerem suas estruturas e relações jurídicas que vão determinar sua atuação
interna e mesmo internacional (campo das relações entre Estados soberanos),
plausível que se verifiquem leis assimétricas entre os diferentes Estados para
reger um mesmo fato jurídico.
Por essas suas características, pode-se dizer que o DIPr consiste num
SOBREDIREITO, vez que traz o direito incidente sobre determinado fato jurídico,
indicando, assim, o direito aplicável, sem solucionar diretamente o litígio, o que
faz por intermédio dos elementos de conexão.
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Direito Internacional Privado
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Capítulo 1
Cumpre lembrar que dois fatores são indicativos do conflito de leis no espaço:
a diversidade legislativa, mediante a qual cada sistema jurídico, autônomo
e soberano dá tratamento diferente a aspectos sociais e, por outro lado, a
existência de uma sociedade transnacional, da qual resultam relações entre
indivíduos vinculados a sistemas jurídicos diferentes.
Já se pode aqui antecipar que o DIPr visa a responder a três questões básicas:
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Direito Internacional Privado
Resposta:
Por essa razão não se registravam conflitos entre as leis locais e as de outros
sistemas jurídicos. Portanto, o DIPr era desconhecido.
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Capítulo 1
Importante lembrar!
Pessoa Física
Para que um indivíduo seja considerado um sujeito de direito, ele deve obter a
personalidade jurídica, ou seja, a capacidade de obter direitos e obrigações, o que
ocorre com o nascimento com vida, dando-lhe a qualidade de nascituro, tornando-
se sujeito de direito.
Pessoa Jurídica
A pessoa jurídica adquire sua personalidade a partir do registro dos seus atos
constitutivos e respectivo registro legal em local específico.
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Direito Internacional Privado
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Capítulo 1
•• Joseph Story,
•• Friedrich Carl Von Savigny;
•• Pasquale Mancini.
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Direito Internacional Privado
Nádia de Araujo (2004, p. 36-37) esclarece que o método conflitual utilizado pelo
DIPr dos países da Europa e da América Latina tem como particularidade uma regra
de conflito que dá a solução de uma questão de direito contendo um conflito de leis
por meio da designação da lei aplicável pela utilização da norma indireta.
Assim, não compete ao DIPr fornecer a norma material aplicável ao caso concreto,
mas unicamente designar o ordenamento jurídico ao qual a norma aplicável
deverá ser requerida. Trata-se de escolher a lei melhor colocada para intervir em
razão da localização dos fatos, ou da relação dela com as pessoas a que esses
respeitam. Os valores predominantes, portanto, são os da segurança e certeza
jurídica, cuidando de atingir uma justiça formal, pois seu objetivo é garantir a
continuidade e estabilidade das situações jurídicas.
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Capítulo 2
Objeto e fontes do DIPr
Seção 1
No cenário globalizado do atual sistema internacional, o Estado se destaca como
instituição soberana constitutiva de uma ordem jurídica própria, todavia, cada
vez mais tendo de acolher relações humanas que transcendem as suas fronteiras
físicas e lhe requerem mecanismos seguros na efetivação de suas relações
jurídico-privadas, tanto na instância local/regional quanto global, insertas no
senso de cooperação internacional.
É pertinente lembrar que cada Estado possui uma ordem jurídica própria, cuja
expressão maior está na sua Constituição e que a globalização tem quantificado
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Capítulo 2
24
Direito Internacional Privado
O objeto do Direito Internacional Privado é, assim, decidir qual lei será aplicada
quando houver divergências entre as leis internas de dois países em questões de
interesse privado.
Eliane Braz (2006, p.7) afirma que a característica essencial do DIPr está na
conexão, pela qual o juiz é levado a considerar preceitos de ordem jurídica
distinta da sua, embora essa determinação decorra de norma territorial (lex fori).
É esse elemento estrangeiro (pessoa, coisa, ato jurídico, decisão judiciária) que
identifica o objeto do DIPr. Sem a sua existência, não podemos falar de DIPr.
Emerson Malheiro (2012, p. 9-10) ensina que conhecer o objeto do DIPr significa
desvendar o assunto sobre o qual versa essa ciência. Para esse autor, a disciplina
abrange cinco matérias distintas, a saber:
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Capítulo 2
DESTAQUE
Del’Olmo (2014, p. 4-5) nos ensina que o respeito aos direitos adquiridos é
considerado basilar para a segurança jurídica, fazendo parte dos ordenamentos
jurídicos contemporâneos, sendo que no Brasil ele está inserido na Carta Magna
(art. 5º, inc. XXXVI). Segundo esse autor, verificar a prevalência desses direitos
quando invocada em outro país interessa ao DIPr. Aduz que muitos autores têm-
se ocupado do tema, considerando-o objeto da disciplina (DIPr), enquanto outros
adotam posição diversa, entendendo que os direitos adquiridos alegados, nesse
contexto, não se afastam dos conflitos de leis, por estarem neles integrados. O
autor prossegue afirmando que seria um contrassenso imaginar o ser humano,
ao ultrapassar as fronteiras do seu país, deixando os direitos adquiridos,
especialmente os que constituem o seu estatuto pessoal. Trata-se de direitos
privados, os quais foram reconhecidos por ordenamento jurídico competente.
Nessa esfera são repelidos, por óbvio, os que ofendem a ordem pública, os bons
costumes e a soberania nacional. Assim, por exemplo, não se permitirão novas
núpcias de um cidadão árabe que aqui aportar já casado e alegar o direito de
poligamia existente na legislação de seu país. Igualmente alguém que trouxesse
seus escravos e quisesse mantê-los nessa condição aqui em nosso país.
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Direito Internacional Privado
Caio Mário da Silva Pereira (1951, p. 125) assim se pronuncia sobre o direito
adquirido: “Direito adquirido, in genere, abrange os direitos que o seu titular ou
alguém por ele possa exercer, como aqueles cujo começo de exercício tenha
termo pré-fixo ou condição preestabelecida, inalterável ao arbítrio de outrem.
São os direitos definitivamente incorporados ao patrimônio do seu titular, sejam
os já realizados ou aqueles que simplesmente dependem de um prazo para seu
exercício, sejam ainda os subordinados a uma condição inalterável ao arbítrio de
outrem. A lei nova não pode atingi-los, sem retroatividade.”.
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Capítulo 2
Assim, no Brasil, por exemplo, a aplicação de lei estrangeira pelo juiz brasileiro
na resolução de um determinado litígio não pode ofender a soberania nacional, a
ordem pública e os bons costumes (LINDB, art. 17).
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Direito Internacional Privado
Esta autora aduz que a característica essencial do DIPr está na conexão com a
lei estrangeira, pela qual o juiz é levado a considerar preceitos de ordem jurídica
distinta da sua, embora essa determinação decorra de norma territorial (lex fori).
É esse elemento estrangeiro (pessoa, coisa, ato jurídico, decisão judiciária) que
identifica o objeto do DIPr. Sem a sua existência não podemos falar de DIPr.
Nesse sentido, Braz defende que há várias concepções sobre qual seria o objeto
do DIPr e quais as matérias estariam relacionadas ao objetivo da disciplina. A
corrente alemã restringe o objeto da disciplina ao conflito de leis. A Europa
Oriental inclui o conflito de jurisdições. A Grã-Bretanha e os Estados Unidos
incluem, além do conflito das leis e o conflito de jurisdições, o reconhecimento de
sentenças estrangeiras.
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Capítulo 2
NOTA
1 A Lei nº 13.129/2015 altera a Lei nº 9.307/1996 e a Lei nº 6.404/1976, para ampliar o âmbito de aplicação
da arbitragem e dispor sobre a escolha dos árbitros quando as partes recorrem a órgão arbitral, a interrupção
da prescrição pela instituição da arbitragem, a concessão de tutelas cautelares e de urgência nos casos de
arbitragem, a carta arbitral e a sentença arbitral, e revoga dispositivos da Lei nº 9307/1997.
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Direito Internacional Privado
1.5 Nacionalidade
O direito à nacionalidade é um direito fundamental da pessoa humana, constituindo
disciplina jurídica de Direito Interno, vez que o Estado legisla soberanamente,
fixando suas próprias regras para os fins de concessão (aquisição/atribuição)
e cancelamento (perda) desse instituto jurídico. É tema versado no Direito
Constitucional, no Direito Civil e no Direito Internacional Público.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), de 1948, em seu artigo. 15, I,
proclama: “Todo homem tem direito a uma nacionalidade. Ninguém será arbitrariamente
privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade”.
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Capítulo 2
Jus sanguinis (vínculo familiar) e jus soli (vínculo territorial) são os critérios utilizados
pelos Estados para instituir a nacionalidade, em sua dimensão primária ou originária.
Em face dos critérios geradores da nacionalidade (jus sanguinis e jus soli), podem
ocorrer alguns conflitos de nacionalidade, como a plurinacionalidade (dupla
nacionalidade) e a anacionalidade ou apatridia (ausência de nacionalidade).
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Direito Internacional Privado
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Capítulo 2
Artigo 12:
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Direito Internacional Privado
Seção 2
2.1 Condição jurídica do estrangeiro
À luz do direito local de determinado Estado, estrangeiro é aquele que não
detém a mesma condição jurídica de alguém nato nesse local.
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Capítulo 2
Requer, assim, uma política imigratória mais humanista e pautada na garantia dos
direitos humanos, na preservação das instituições democráticas, na defesa do
trabalhador nacional, na defesa dos interesses socioeconômicos e culturais do
Brasil e mesmo na segurança da sociedade e das relações internacionais.
Além dessa regra prevista no artigo XIII, o seu parágrafo segundo estabelece o
direito que toda pessoa tem de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a esse
regressar, caso que requer uma legislação que defenda o cidadão.
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Direito Internacional Privado
Quando a autoridade, por qualquer motivo, não concede o visto pretendido pelo
estrangeiro, ele não é aceito dentro do território nacional e deve retornar ao país
de origem, nem chegando a ingressar em solo brasileiro, situação conhecida
como impedimento ou repatriação.
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Capítulo 2
Quem cuida das exclusões são as autoridades locais (no Brasil é a Polícia Federal
que cuida desse assunto), sem envolvimento da cúpula do Governo. O deportado
pode voltar ao país, desde que regularizada sua situação. A deportação dos
estrangeiros pelo Estado Brasileiro está prevista no Estatuto do Estrangeiro,
artigos 57 a 64.
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Direito Internacional Privado
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Capítulo 2
b) o fato deve ser punível nos Estados requerente e requerido - o Estado requerido
não concederá a extradição quando a infração ou a pena estiverem prescritas 1.
c) o fato de ainda não ter sido julgado no Estado requerido - não se concede a
extradição por fato que determine o pedido e que esteja sob julgamento ou já
julgado no país requerido;
h) quanto à gravidade das infrações - os atos mais graves dão origem à extradição.
As infrações terão que ser puníveis nos Estados requerente e requerido. Excluem-se
dos tratados de extradição certas categorias de delitos, como os crimes políticos
(exceção ao terrorismo), delitos de imprensa e contra a religião, delitos militares e
puramente militares (abandono de posto, insubordinação, deserção, covardia), e
delitos especiais, como os de caça e pesca, as contravenções fiscais etc.
1. Prescritas: A prescrição da pena acontece quando o Estado levou tanto tempo para terminar
o processo crime que esse já não terá mais validade. É como um perdão da pena pelo fato de o
Estado ter sido inerte por tanto tempo.
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Direito Internacional Privado
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Capítulo 2
Fonte: Adaptado de DEL’OLMO, Florisbal de Souza. Curso de Direito Internacional Privado- ( 2014, pp. 109-110).
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Direito Internacional Privado
Asilo diplomático
Asilo territorial
2.2.3 Refúgio
No que concerne ao Direito dos Refugiados, é importante salientar que a efetiva
proteção aos refugiados pela comunidade internacional somente surgiu com a
Sociedade de Nações ou Liga das Nações instituída em 1919, no pós-1ª Guerra
Mundial (1914/1918), pelo Tratado de Versalhes.
Isto porque, com o fim da 1ª Guerra Mundial, o mundo viu-se diante de grandes
problemas de movimentos massivos relacionados, principalmente com a
Revolução Russa e o desmoronamento do Império Otomano.
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Capítulo 2
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Direito Internacional Privado
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Capítulo 2
ASILO REFÚGIO
O ato que concede o asilo é constitutivo O ato que concede o refúgio é meramente
declaratório
Seção 3
3.1 Fontes do DIPr
Apresentamos a seguir os conceito de Fontes utilizados no DIPr:
De acordo com Nádia Araújo (2004), Fontes do direito são atos ou fatos aos
quais um ordenamento jurídico atribui idoneidade ou capacidade de produzir
norma jurídica.
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Direito Internacional Privado
3.2 Lei
É a fonte primária do DIPr na grande maioria dos países. E esta que, se existente,
na prática, deve ser consultada em primeiro lugar diante de uma relação jurídica
de direito privado com conexão internacional. (RECHSTEINER, 2000, p. 69)
3.3 Tratados
É ato jurídico por meio do qual se manifesta o acordo de vontades entre duas ou
mais pessoas internacionais.
3.4 Doutrina
A doutrina conjuga os estudos desenvolvidos pelos juristas, visando a
compreender os tópicos relativos ao Direito, como normas e institutos.
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Capítulo 2
3.5 Costume
Conjunto de regras imperativo-atributivas públicas e gerais criadas
espontaneamente pelo povo, convalidadas pela prática reiterada, uniforme e
constante de atos relevantes para o direito em determinado meio social, com a
convicção de sua necessidade ou conveniência e obrigatoriedade reconhecidas e,
não raro, impostos pelo Estado com validade jurídica. (MALHEIRO, 2012, p.38)
3.6 Jurisprudência
É a ciência da lei. Significa o conjunto das decisões, das aplicações e das
interpretações das leis.
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Direito Internacional Privado
Nacional, o qual determina a observância dos Tratados pelas Leis que lhe
sobrevenham e, também, para a extradição, porquanto lei interna (Estatuto do
Estrangeiro), submetida ao Tratado.
Destaque merecido, no rol das exceções, para a Emenda Constitucional n.º 45, de
8 de dezembro de 2004, que instituiu o § 3º ao artigo 5º da CRFB, assim redigido:
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Capítulo 3
O DIPr e a legislação brasileira
Seção 1
Com o advento da globalização, como vimos, a transposição das fronteiras
jurídicas dos Estados ganha amplitude, alicerçada nas tecnologias da informação,
da comunicação e dos meios de transportes, cuja interdependência permite
que a humanidade experimente uma considerável gama de relações privadas
envolvendo uma pluralidade de situações jurídicas internacionais – como, por
exemplo, comércio, crédito, economia, cultura, importação/exportação, família,
sucessão/inventário, obrigações e contratos internacionais, adoção internacional
e regime de bens – remetendo para o conflito de leis no espaço – em cujo
contexto o DIPr adquire expressão, na medida em que suas regras determinam
quando o direito estrangeiro será aplicável dentro do território nacional.
Maristela Basso (2013) nos faz lembrar que o DIPR é o ramo da ciência jurídica
que desafia o princípio da territorialidade das leis na medida em que fixa os
fundamentos da aplicação do direito estrangeiro pelo juiz nacional: Quando
aplicar? Em que casos? E quais os limites dessa aplicação?
É importante considerar, nesse contexto, que a lei é fonte primária do DIPr e deve
ser consultada, sempre que estivermos diante de uma relação jurídica de direito
privado com conexão internacional.
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Capítulo 3
Isso tem flexibilizado o entendimento de que as leis não valem ou não produzem
efeitos fora do território soberano dos Estados.
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer
declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.
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Direito Internacional Privado
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Capítulo 3
Assim, o Direito Processual Internacional tem por objeto o estudo dos aspectos
processuais que envolvem relações jurídicas entre elementos de mais de uma
ordem jurídica, como os direitos do estrangeiro em matéria processual e a
identificação do tribunal adequado para dirimir essas contendas.
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Direito Internacional Privado
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Capítulo 3
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Direito Internacional Privado
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Capítulo 3
Nesse sentido, elementos de conexão são normas estabelecidas pelo DIPr que
indicam o direito aplicável a uma ou diversas situações jurídicas unidas a mais de
um sistema legal.
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Direito Internacional Privado
A LINDB recebe tratamento especial, uma vez que é considerada como lei
reguladora das demais leis.
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Capítulo 3
Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e
cinco dias depois de oficialmente publicada.
§ 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto,
destinada à correção, o prazo desse artigo e dos parágrafos anteriores começará a
correr da nova publicação.
Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue. (Vide Lei nº 3.991, de 1961)
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
revogadora perdido a vigência.
Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.
Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.
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Direito Internacional Privado
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito,
o direito adquirido e a coisa julgada. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1957)
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle,
possa exercer, como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-fixo, ou condição
pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba
recurso. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)
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Capítulo 3
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em
que domiciliado, o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza
e a situação dos bens.
62
Direito Internacional Privado
Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei
que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo
os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.
63
Capítulo 3
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer
declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.
GETULIO VARGAS
Alexandre Marcondes Filho
Oswaldo Aranha.
64
Direito Internacional Privado
A Extraterritorialidade tem sua previsão legal nos artigos 7º, 10, 12 e 17, a saber:
65
Capítulo 3
países americanos;
•• lex loci actus: lei do local da realização do ato jurídico para reger
sua substância;
•• lex regit actus: lei do local da realização do ato jurídico para reger
suas formalidades;
•• lex loci contractus: lei do local onde o contrato foi firmado para
reger sua interpretação e seu cumprimento;
•• lex loci solutionis: lei do local onde as obrigações, ou a obrigação
principal do contrato deve ser cumprida;
•• lex voluntatis: lei escolhida pelos contratantes;
•• lex loci delicti: lei do lugar onde o ato ilícito foi cometido, que rege
a obrigação de indenizar;
•• lex damni: lei do lugar onde se manifestaram as consequências do
ato ilícito, para reger a obrigação de indenizar;
•• lex rei sitae ou lex situs: a coisa é regida pela lei do local em que
está situada;
•• mobilia sequuntur personam: o bem móvel é regido, segundo
certas legislações, pela lei do local em que seu proprietário está
domiciliado;
•• lex loci celebrationis: o casamento é regido, no que tange às suas
formalidades, pela lei do local de sua celebração;
•• lex monetae: lei do país cuja moeda a dívida ou outra obrigação
legal é expressa;
•• lex loci executionis: lei da jurisdição em que se efetua a execução
forçada de uma obrigação, via de regra, confunde-se com a lex
fori; em direito trabalhista, o local onde o contrato é executado pelo
contratado;
•• Lex favor infans: a lei que melhor protege o menor nas relações
familiares;
•• Lex favor negotii: a lei mais vantajosa para o empregador, nas
relações trabalhistas ou a lei que considera válidos o ato, o contrato
ou a constituição da sociedade;
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Direito Internacional Privado
Segundo Carla Noura Teixeira (2007), a lex fori tem várias acepções no DIPr, a saber:
Autonomia da vontade
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Capítulo 3
DESTAQUE
O artigo 78, do Código Civil, permite a escolha de foro que: “nos contratos
escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e
cumpram os direitos e obrigações deles decorrentes.
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Direito Internacional Privado
Atualmente, esse princípio perdeu seu caráter absoluto, devendo ser ponderado
com a função social dos contratos (Art. 421 Código Civil/02).
69
Capítulo 3
Segundo Beat Walter Rechsteiner (2000), as normas do DIPr fazem parte da ordem
jurídica nacional, que cada país possui suas próprias normas de DIPr e que esse é
internacional tão somente quanto ao seu objeto. Resolve conflitos de leis no espaço,
isto é, determina qual é o direito aplicável quando se trata de uma relação jurídica de
direito privado com conexão internacional. O direito aplicável é sempre o direito nacional
ou um determinado direito estrangeiro que as normas do DIPr da lex fori indicarem.
Por esse motivo, o juiz brasileiro não precisa levar em consideração o conteúdo
do DIPr estrangeiro, conforme a legislação em vigor, quando julga uma causa de
direito privado com conexão internacional.
Assim se, por exemplo, conforme o artigo 7º, § 4º da LINDB for aplicável a lei do
primeiro domicílio conjugal, quanto ao regime de bens de um casal que contraiu
núpcias no exterior, o juiz brasileiro aplica diretamente o direito substantivo ou
material estrangeiro, isto é, as normas do respectivo Código Civil sobre o regime
de bens entre os cônjuges. Entretanto, se o DIPr estrangeiro indica, por exemplo,
como direito aplicável o domicílio conjugal, ou o direito cuja nacionalidade os
cônjuges possuem, esse fato é irrelevante para o juiz.
70
Direito Internacional Privado
Para Teixeira (2007), Normas indicativas ou Indiretas são aquelas que se limitam
a indicar o direito aplicável a uma relação jurídica de direito privado com conexão
internacional, não solucionando a questão jurídica propriamente dita. As normas
conceituais ou qualificadoras em paralelo às normas indicativas ou indiretas atuam
de forma auxiliar ou complementar determinando, basicamente, como uma norma
indicativa ou indireta de DIPr deve ser interpretada e aplicada ao caso concreto.
Art. 9º, § 1º Obrigação que necessita de Lei do local onde foi constituída &
formalidade especial lei do local da execução
71
Capítulo 3
Agora observe!
Pode acontecer que tanto a lei do país de nacionalidade dos contratantes (Argentina
e Inglaterra), ou de residência deles (Argentina ou Chile), possa ser aplicada quanto
a lei do Estado onde elas estão realizando o negócio (Brasil – São Paulo).
Para começar a definir a situação, começaremos sempre a fazer a análise pela lei
do local onde a situação está acontecendo. Nesse caso, será pela lei brasileira.
Dentro do ordenamento jurídico de cada país, temos as leis de DIPr (que são
chamadas de leis de foro) e o restante das normas jurídicas (que são chamadas
de leis de fundo).
A Lei de Foro é o conjunto de artigos que tratam de dois assuntos: como resolver
os conflitos de leis no tempo e como resolver os conflitos de leis no espaço (aqui
definindo a teoria de remessa que o país adota e o elemento de conexão que
deve ser utilizado em cada caso).
72
Direito Internacional Privado
Segundo a Lei de Foro Brasileira (LINDB), a teoria que o Brasil adota é a chamada
teoria do envio.
A teoria do envio acontece quando não é possível utilizar a lei do próprio país
(por indicação do elemento de conexão nacional), essa permite a remessa da
pesquisa para a Lei de Fundo de outro país.
A teoria do reenvio faz a remessa para a Lei de Foro do outro país e, se essa Lei
de Foro indicar, por meio de seus elementos de conexão, a lei de um terceiro país,
deverá ser feita a pesquisa nesse terceiro país, e assim sucessivamente, até que
se encontre o país cuja Lei de Foro indique como competente para o caso a sua
Lei de Fundo. Por isso, essa segunda teoria se chama de reenvio, porque permite
tantas remessas quanto forem necessárias, diferentemente da primeira teoria que
só permite a primeira remessa, buscando diretamente a Lei de Fundo do outro país.
Conforme você pode perceber a seta que sai da Lei de Foro Brasileira está
indicando a competência da Lei de Fundo Argentina. Esse fenômeno É chamado
de envio. Assim, a lei brasileira recepciona a lei da Argentina para ser aplicada
num caso concreto.
73
Capítulo 3
Conforme você pode perceber, a seta que sai da Lei de Foro Brasileira está
indicando a competência da Lei de Foro Argentina. Mas a Lei de Foro Argentina
indica como competente, por força de seus elementos de conexão, a Lei de
Fundo Brasileira. Esse fenômeno é chamado de reenvio.
Assim, a lei brasileira recepciona a lei da Argentina, que indica novamente a Lei
de Fundo Brasileira, para ser aplicada num caso concreto a lei brasileira, mesmo
que, inicialmente, essa mesma tenha indicado a lei da argentina.
O artigo indica que, nos casos dos artigos anteriores (7º ao 15º), que estabelecem
os elementos de conexão da lei brasileira, se tiver que ser buscada a lei
estrangeira, essa busca será feita diretamente na Lei de Fundo, porque esse
artigo não permite que seja feita a busca em “qualquer remissão por ela feita a
outra lei”.
No caso que estamos analisando, pode ser que a lei chilena ou argentina também
tivessem elementos de conexão que indicassem elas próprias para serem
utilizadas. Estaríamos aí frente a um conflito positivo de competência.
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Direito Internacional Privado
Seção 2
2.1 Arbitragem
Sebastião José Roque (2009) defende que a arbitragem é um sistema de solução
pacífica de controvérsias internacionais e nacionais, de Direito Público ou Privado,
em que um julgador não pertencente à jurisdição normal é escolhido pelas partes
conflitantes para dirimir de forma rápida e discreta as divergências entre elas.
•• Há decisão.
•• As partes ficam vinculadas à decisão do árbitro.
75
Capítulo 3
Oriana Piske (2012), Juíza do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios,
em artigo intitulado: Considerações sobre a Arbitragem no Brasil – esclarece que
a Lei nº 9.307/96 constitui-se, na verdade, em uma legislação avançada sobre
arbitragem e estribada no que há de mais moderno a respeito dos princípios e
garantias dos litigantes. Trouxe sensível benefício à sociedade brasileira, pois
colocou à sua disposição um meio ágil de resolver controvérsias, com árbitros
por aqueles próprios escolhidos, imparciais e independentes, especialmente em
matéria técnica, tudo com sigilo, brevidade e com informalidade.
76
Direito Internacional Privado
Cláusula compromissória
Compromisso arbitral
Nesse caso, como as partes não haviam firmado o uso da arbitragem em caso de
conflito no momento da contratação, tendo o conflito surgido durante a execução
do contrato, as partes pactuam pela utilização da arbitragem como meio de
resolução do conflito existente.
77
Capítulo 3
Razões Jurídico-Legais
•• Excesso de ações no Poder Judiciário – reflexo muito da CF/88 e do
CDC/90;
•• Movimento no mundo jurídico brasileiro para gerar uma Justiça mais
rápida, mais eficaz (reformas processuais, antecipação de tutela
etc.)
Razões Econômico-Sociais
•• Processo de abertura econômica do país (Collor em 1990);
•• Plano Real (1994): Necessidade de captação de investimentos
estrangeiros, estabilização monetária, privatizações.
78
Direito Internacional Privado
Rapidez
Sigilo
Julgadores especializados
79
Capítulo 3
80
Direito Internacional Privado
Para evitar que esse acarrete conflitos de 2º grau, procura-se produzir o fator 4.
81
Capítulo 3
Principais Convenções:
•• Cartas rogatórias
•• Restituição internacional de menores
•• Letras de câmbio
•• Notas promissórias
•• Cheques
•• Obrigações alimentícias
•• Contratos internacionais
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Direito Internacional Privado
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Capítulo 3
84
Direito Internacional Privado
85
Capítulo 3
Código Bustamante
ENVOLVE:
86
Considerações Finais
Estar apto a assim agir é, sem dúvida, um diferencial, cujos reflexos são
perceptíveis tanto em nossa vida pessoal quanto profissional.
Forte abraço!
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Referências
BRAZ, Eliane. Curso de direito internacional privado. Coord. Lier Pires Ferreira
Júnior e Verônica Zarete Chaparro. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2006.
DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: parte geral. 10. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2012.
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GUERRA, Sidney. Curso de direito internacional público. 4. ed. Rio de Janeiro:
Lúmen Juris, 2009.
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Sobre o Professor Conteudista
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capa_curva.pdf 1 08/07/16 11:40