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Regularização jurídica de

INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

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Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA
PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS
LUCRATIVOS

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INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

Este curso é a realização de um projeto de Governança Colaborativa entre


vários parceiros para formar

Elaboração

Realização

Apoio

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Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV

Reitor – Demetrius David da Silva


Vice-Reitor - Rejane Nascentes
Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável - IPPDS/UFV
Diretor: Marcelo José Braga
Coordenação Acadêmica Projeto ILPIs Legal: Profa. Dra. Stefania Becattini Vaccaro
(https://orcid.org/0000-0003-0184-0020)

EXPEDIENTE

Autoras Texto Base: Stefania Becattini Vaccaro e Lívia Furtado Borges.


Revisão do conteúdo: Rodrigo Marques da Costa

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Apresentação

A pandemia do COVID trouxe inúmeros desafios para a gestão pública e social em


diferentes áreas, especialmente no cuidado, na promoção e na proteção da pessoa
idosa. Para enfrentar esses obstáculos a Secretaria do Estado de Desenvolvimento
Social de Minas Gerais articulou-se com diversas instituições públicas e privadas da
sociedade civil e com vários cidadãos para formar a Rede de Apoio à Pessoa Idosa
(RAPI).

Como fruto dessa iniciativa a RAPI desenvolveu junto à Escola de Formação em Di-
reitos Humanos de Minas Gerais (EFDH – MG) uma série de Cursos para promover a
melhoria do ambiente de proteção aos direitos da pessoa idosa e a capacitação dos
profissionais que trabalham junto a esse segmento populacional.

O curso Regularização jurídica das ILPIs sem fins lucrativos foi desenvolvido como
um projeto de extensão do Curso de Direito da Universidade Federal de Lavras (UFLA)
sob coordenação da advogada e Profa. a Dra. Stefania Becattini Vaccaro e com a co-
laboração da advogada, especialista em 3º Setor, Dra. Lívia Furtado Borges. Ambas
as autoras são pesquisadoras do Grupo de Trabalho Espaços Deliberativos e Gover-
nança Pública (GEGOP).

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Sumário

Introdução................................................................................................................ 7

1. ILPIs cuidado e proteção à pessoa idosa no Brasil................................................ 9

1.1 O atendimento integral e a interconexão com outros modelos.........................10


1.1.1 A opção pelo atendimento integral (Institucionalização).................................12
1.2 O poder público nas ILPIs................................................................................17

2. Natureza Jurídica................................................................................................. 21

2.1 Fundação e associação...................................................................................23


2.2 Estatuto Social nas ILPIs................................................................................26
2.3 Regimento Interno nas ILPIS...........................................................................29
2.4 Aplicação do MROSC para as ILPIs..................................................................30

3. Contrato de prestação de serviço à pessoa idosa................................................ 33

3.1 Planos de Atendimento e Procedimentos Operacionais...................................34


3.2 Dados e Imagem da pessoa idosa...................................................................35

4. Considerações finais............................................................................................ 39

Referências bibliográficas....................................................................................... 40

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INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

Introdução

Este curso tem como objetivo geral capacitar os atores locais que atuam no cuidado,
na promoção e na proteção da pessoa idosa como forma de alcançar os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS) nas políticas relacionadas à saúde, ao envelheci-
mento e ao estado de bem-estar.

O Curso foi desenvolvido como uma formação prática de gestores de Instituições de


Longa Permanência (ILPI), de gestores públicos que atuam nas políticas voltadas às
pessoas idosas, de membros dos Conselhos de Direitos da Pessoa Idosa e de todos
aqueles que se interessam pelo tema.

Nesse sentido, este material foi planejado para apresentar ao cursista problemas re-
correntes na gestão jurídica das ILPIs, as suas consequências para a sustentabilida-
de das instituições e as formas de adequação às legislações regentes.

Além disso, este Curso pretende ser uma forma de aproximação entre o público leigo
e o mundo jurídico já que a finalidade última do Direito é melhorar o funcionamento da
sociedade. Assim, as referências às normas e suas implicações legais foram realiza-
das numa linguagem acessível e desmistificada.

O Curso foi desenvolvido em formato 100% à distância dentro da plataforma da Escola


de Formação em Direitos Humanos de Minas Gerais (EFDH – MG) e conta com a utili-
zação de diferentes recursos pedagógicos: vídeos, apostila, exercícios de fixação e
estudos de caso. A carga horária programada deste módulo é de 15hs.

Neste Curso, esperamos que você aprenda a: (i) identificar exigências legais para fun-
cionamento regular das ILPIs e (ii) estabelecer uma ordem de prioridades na resolu-
ção dos problemas jurídicos.

O Curso está dividido em 3 unidades: o modelo de serviço socioassistencial das ILPIs;


a organização jurídica das ILPIs e; o atendimento à pessoa idosa. Em cada uma des-
sas unidades são apresentadas as normas de regência e seus objetivos, bem como
são apresentadas as providências necessárias para a regularização jurídica das exi-
gências.

Seja bem-vindo ao Curso e lembre-se que o sucesso de seu aprendizado depende de


sua participação ativa em sua formação. Bons estudos!

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INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

O MODELO DE SERVIÇO SOCIOASSISTENCIAL DAS ILPIS

O modelo de serviço
SOCIOASSISTENCIAL DAS ILPIS

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O modelo de serviço
SOCIOASSINTENCIAL DAS ILPIS

1. ILPIs cuidado e proteção à pessoa idosa no


Brasil

Em nosso País, o processo social de envelhecimento tem um importante marco na


Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88). Esse foi o primeiro
texto constitucional que considerou a pessoa idosa como sujeito de direitos e atribuiu
o dever de proteção à família, ao Estado e à sociedade (vide art. 229 e art. 230), asse-
gurando à pessoa idosa sua participação na comunidade, sua dignidade e bem-estar.

De forma preferencial, a CRFB/88 estabeleceu a família como principal responsável


pelo cuidado da pessoa idosa. Segundo Novaes (2003) essa escolha é fruto de uma
concepção histórica atrelada à imagem dos asilos como depósitos de velhos ou como
um lugar para morrer; bem como é fruto de uma estrutura familiar comum às socie-
dades latinas nos anos de 1980.

Ocorre, entretanto, que temos vivenciado


uma acelerada mudança nos arranjos fa-
SAIBA MAIS miliares, no papel da mulher na socieda-
de e também no crescimento da própria
Em sua origem na Grécia a palavra população idosa. Todos esses elementos
asilo estava associada à ideia de nos convidam a repensar os modelos de
refúgio e de inviolabilidade (asylum). cuidados voltados aos processos de en-
No período moderno os asilos foram
velhecimento.
destinados ao atendimento de pes-
Lá atrás os asilos foram vistos como o úl-
soas carentes que necessitavam de
moradia; assim era comum também
timo refúgio de pessoas desamparadas
receber o designativo abrigo. Até socioeconomicamente, hoje as institui-
hoje muitas instituições utilizam-se ções de longa permanência para idosos
desse nome. (ILPI) devem ser entendidas como parte
da rede de atenção voltada às pessoas
idosas e suas famílias.

Essa rede de atenção é um processo territorialmente construído pelo compromis-


so de diferentes atores sociais voltados a instituir políticas públicas de promoção da
pessoa idosa. A sua efetivação exige a participação ativa do poder público e da socie-
dade civil.

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Nesse sentido, o Estado brasileiro tem o dever (por meio de seus 3 entes federativos:
União, estados e municípios) de promover e de incentivar políticas públicas de forma
integrada, descentralizada e participativa. Já a sociedade deve participar de todas as
fases de desenvolvimento das políticas públicas (elaboração, implementação, exe-
cução e controle) de modo assegurar um envelhecimento saudável e ativo a qualquer
pessoa.

1.1 O atendimento integral e a interconexão com outros modelos

Dentro da perspectiva de incentivar e de promover políticas públicas integradas, des-


centralizadas e participativas, o Estado brasileiro tem desenvolvido um conjunto de
políticas setoriais para assegurar a autonomia, a proteção e a dignidade da pessoa
idosa. Entre essas, destacamos as políticas de assistência e de saúde.

Essas duas políticas independem do caráter contributivo diretamente pelos indiví-


duos e configuram importantes mecanismos de promoção da cidadania plena. Em
ambas as políticas há a gestão compartilhada nas três esferas de governo pela im-
plantação de Conselhos, pela criação de fundos específicos e pela criação de instân-
cias de pactuação e de realização de conferências temáticas.

A assistência social é direcionada à proteção da população social mais vulnerável,


enquanto a política de saúde é dirigida a toda a população e busca reduzir o risco de
doenças e de outros agravos.

Para operacionalização dessas políticas foram criados o Sistema Único de Assistên-


cia Social (SUAS) e o Sistema Único de Saúde (SUS). Em ambos, os municípios têm
papel de destaque na sua efetivação.

No tocante aos cuidados com a pessoa idosa, esses Sistemas têm interconexões im-
portantes. O Ministério da Saúde, por exemplo, instituiu a Atenção Domiciliar no âm-
bito do SUS (Portaria nº 2.029/2011) para:

atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a população que dele ne-


cessitar e esteja impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos abriga-
dos e acolhidos por instituições públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos
e eventualmente conveniadas com o Poder Público, nos meios urbano e rural
(inciso IV do art. 15 da Lei nº 10.741/2003, destacamos)

Além disso, a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (Portaria nº 2.528/2006) es-
tabeleceu como porta de entrada da Atenção Básica o Programa Saúde da Família
(PSF), atual Estratégia Saúde da Família (ESF).

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O modelo de serviço
SOCIOASSINTENCIAL DAS ILPIS

O SUAS, por sua vez, criou dois níveis de atendimento que alcançam a pessoa idosa:
Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial de Média e de Alta Comple-
xidade (PSE).

O PSE é voltado para pessoas em situação de risco em decorrência de abandono e de


violência. O programa conta com o serviço de Proteção e de Atendimento Especiali-
zado a Famílias e Indivíduos (PAEFI) em vulnerabilidade com ameaça e/ou violação de
direitos e pode vir a ser acionado para amparar pessoas idosas em situação de risco.

Já o sistema de Proteção Social Básico alcança a pessoa idosa de diferentes formas,


entre as quais:

• Programa de Atenção Integral da Família (PAIF) que busca preservar os laços


familiares;
• Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos;
• Serviço de proteção social básica no domicílio para pessoas idosas;
• Benefício de Prestação Continuada (BPC) que consiste no pagamento mensal de
um salário mínimo a pessoas com mais de 65 anos ou com deficiência incapaci-
tante que comprovem não dispor de meios suficientes para prover sua própria
subsistência e de sua família.

SAIBA MAIS
A insuficiência de meios de sobrevivência é verificada com base no percentual
de rendimento da unidade familiar (1/4 do salário mínimo vigente).

Para saber mais acesse: https://bit.ly/3vfCd2B

No âmbito da Política Nacional do Idoso (PNI) foram instituídas, no ano de 2001, as


normas e padrões de funcionamento para serviços e programas de atenção à pessoa
idosa (Portaria MPAS/SEAS nº 73/2001), conforme explicitado no Quadro 1.

A tipificação dos serviços socioassistenciais por graus de complexidade consta na


Resolução nº109/2009 do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), a qual in-
dica os objetivos de cada um dos serviços. De modo geral, esses serviços devem es-
tar integrados para criar uma rede de atendimento à pessoa idosa e sua família no
município.

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Quadro 1: Modalidades de serviços

• Estimula a permanência na família natural ou acolhedora.


• Oferta de suplementação financeira à família com recur-
I. Ambiente sos insuficientes.
domiciliar
• Visitas domiciliares de cuidadores especializados.
• Residência em repúblicas para idosos independentes.

• Oferecida residência em casa-lar para pequenos grupos


de idosos afastados da família e com renda insuficiente.
• Funcionamento de centros-dia para atendimento integral
às pessoas idosas necessitadas durante o dia, permitin-
II. Ambiente
do-lhes o retorno para suas próprias residências no perí-
comunitário
odo noturno.
• Constituição de centros de convivência como espaços de
desenvolvimento de atividades que promovam a sociabili-
dade e atividades produtivas.

III. Ambiente
• Serviços de atenção biopsicossocial, em regime integral,
integral
prestados por instituições asilares.
institucional

Quadro 1: Modalidade de Serviços


Fonte: desenvolvido a partir da sugestão de Diogo e Duarte (2002).

1.1.1 A opção pelo atendimento integral (Institucionalização)

A opção pelo atendimento integral foi inicialmente estruturada como estratégia resi-
dual para oferecer residência coletiva a idosos independentes em situação de carên-
cia de renda e/ou de família, bem como para aqueles que necessitarem de cuidados
prolongados para o desempenho das atividades diárias.

Ainda hoje condições socioeconômicas desfavoráveis e de saúde configuram as prin-


cipais motivações para buscar a institucionalização, mas já se identifica um cresci-
mento de motivação por opção pessoal (WATANABE, 2009). Aliás, o próprio Estatuto
do Idoso assegura o direito de escolha, vejamos:

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O modelo de serviço
SOCIOASSINTENCIAL DAS ILPIS

Art. 37. O idoso tem direito a moradia digna, no seio da família natural ou substi-
tuta, ou desacompanhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ain-
da, em instituição pública ou privada. (Lei nº 10.741/2003, destacamos)

As instituições de abrigamento integral


ou Instituições de Longa Permanência
SAIBA MAIS (ILPI) devem ser parte da infraestrutura
A terminologia Instituições de básica da rede de atendimento à pessoa
Longa Permanência para Idosos idosa e sua família, como indicado na Re-
é uma adaptação do termo Long- solução nº 109/2009 do CNAS.
Term Care Institution utilizado pela
Organização Mundial de Saúde Para a Agência Nacional de Vigilância Sa-
(OMS). nitária (ANVISA) as ILPIs são instituições
Esse termo é ainda pouco reconhe-
governamentais ou não governamentais,
cido pelas próprias instituições que de caráter residencial, destinadas a do-
continuam a utilizar outros designa- micílio coletivo de pessoas com idade
tivos, tais como: casa de repouso, igual ou superior a 60 anos com ou sem
clínicas geriátricas, abrigos, asilos. suporte familiar, em condição de liberda-
de, dignidade e cidadania.

As ILPIs governamentais compõem a estrutura do Estado e ofertam serviços gra-


tuitamente, sendo vedada a cobrança de qualquer contraprestação financeira. Sua
natureza é pública e sua criação, em regra, depende de lei específica.

As ILPIs não governamentais, por sua vez, têm natureza privada e podem ter finalida-
de lucrativa ou não. Mas, independentemente de sua finalidade, são fiscalizadas pelo
Estado.

Sendo uma instituição com finalidade lucrativa, deve-se adotar a forma empresária,
sendo seu nascimento legal condicionado ao registro na Junta Comercial.

Essa finalidade lucrativa faz com que a oferta de serviços seja condicionada à co-
brança de pagamentos de mensalidade de seus residentes, a exemplo de escolas
particulares.

Por outro lado, as instituições sem fins lucrativos podem adotar a forma de associa-
ção ou de fundação, sendo seu nascimento legal condicionado ao registro no Cartório
de Registro de Pessoas Civis.

O nome “sem fins lucrativos” significa que a finalidade última da instituição não é re-
alizar lucro para seus sócios. Isso, no entanto, não significa que a ILPI deva trabalhar
com prejuízos. Ao contrário!!!

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Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

Toda instituição sem fins lucrativos deve buscar ser superavitária (ter resultados fi-
nanceiros positivos) em seus resultados como forma de sustentabilidade de sua ati-
vidade.

A diferença principal entre as instituições com e sem finalidade lucrativa está na for-
ma de escrituração contábil que determina a obrigatoriedade, no caso de associação
ou de fundação, de reversão dos resultados integralmente aos objetivos sociais, sem
a possibilidade de retornar o patrimônio às pessoas que a instituíram (vide Lei nº
9.532/1997).

SAIBA MAIS
Para que uma instituição sem fins lucrativos seja reconhecida como filantrópi-
ca é preciso que seu objeto social esteja voltado à assistência social, à saúde e
à educação e que tenha o “Certificado de Entidade Beneficente de Assistência
Social” (CEBAS). Ou seja, nem toda instituição sem fins lucrativos é filantrópica.

Na realidade de nosso País, as ILPIs governamentais representam uma pequena pro-


porção na oferta de serviços. São as ILPIs sem fins lucrativos que vêm dando suporte
às necessidades sociais de abrigamento. Por isso, essas entidades são um importan-
te equipamento na prestação de serviço público para a pessoa idosa e seus familia-
res.

De modo geral, é comum encontrar na ILPIs graus de dependência diferenciados de


seus residentes, conforme o Quadro 2.

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O modelo de serviço
SOCIOASSINTENCIAL DAS ILPIS

Quadro 2: Graus de dependência


Política Nacional do Idoso RDC 502 Anvisa
I. Dependente I. Dependente
Considera-se o idoso que necessita de Condição do indivíduo que requer o au-
ajuda em mais de três atividades diárias xílio de pessoas ou de equipamentos
de autocuidado, tais como fazer a higie- especiais para a realização de atividade
ne pessoal, alimentar-se ou locomover- da vida diária.
-se. Também se considera aquele que
a) grau 1: Idoso independente, mas que
tenha comprometimento cognitivo de-
requeira uso de equipamentos de auto-
vido à idade.
ajuda.
b) grau 2: Idoso com dependência em
até três atividades de autocuidado para
II. Semipendente a vida diária tais como: alimentação,
mobilidade, higiene; sem comprometi-
Considera-se o idoso que necessita de
mento cognitivo ou com alteração cog-
ajuda em até três atividades diárias de
nitiva controlada;
autocuidado e não tenha nenhum com-
prometimento cognitivo devido a idade. c) grau 3: Idoso com dependência que
requeira assistência em todas.

III. Independente II. Independente/Autônomo


Todas as demais pessoas idosas. É aquele que detém poder decisório e
controle sobre a sua vida.
Quadro 2: Modalidade de Serviços
Fonte: Elaboração própria.

Também é comum o registro do percurso de in-dependência da pessoa idosa durante


o abrigamento, ou seja, que o residente modifique o grau de dependência durante sua
estadia. Por isso, é importante a instituição manter a abertura para a família (natural
ou acolhedora) e uma política de cuidados capaz de contemplar diferenças de trata-
mento individualizadas.

Por fim, lembre-se que o grau de dependência correlacionado ao número de pessoas


idosas abrigadas por segmento impacta diretamente a estrutura organizacional e os
processos operacionais das ILPIs (RDC 502, arts. 16 e 29).

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Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

1.1.2 Público-alvo

Em termos biológicos o envelhecimento tem início com o próprio nascimento e não


está atrelado a uma idade específica. Em termos socioeconômicos, no entanto, esse
processo é condicionado pelas fases de inserção do indivíduo no mercado de traba-
lho e pelas imagens que a velhice assume na sociedade.

Em termos jurídicos, o nosso sistema estabeleceu como critério de definição da po-


pulação idosa a idade de 60 anos. Apesar disso, algumas políticas utilizam-se do cri-
tério de 65 anos, à exemplo da gratuidade de transporte urbano e do recebimento do
Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Lembre-se, portanto, que existindo diferença na indicação de idade mínima para o


exercício de um direito irá prevalecer a idade que ofertar maior restrição ao exercício
desse direito, isto é, 65 anos.

Quanto ao abrigamento, a RDC 502 expressamente fixou idade igual ou superior a 60


anos. Assim, o público-alvo da ILPI é composto por pessoas que já atingiram essa
idade. Mas, na prática, algumas instituições acolhem pessoas com idade inferior.

O acolhimento de pessoas em idade inferior a 60 anos deve apenas ocorrer em casos


especiais (ex. abandono familiar ou insuficiência de recursos financeiros), autoriza-
dos por medidas judiciais ou extrajudiciais que amparem a institucionalização. Nes-
ses casos, a ILPI deve manter separados os registros de controle dessas pessoas já
que, para fins legais, não são classificados como idosas.

Também o abrigamento de pessoas portadoras de transtornos mentais deve ser uma


medida excepcional amparada por autorização judicial. Como regra, a Política Nacio-
nal do Idoso expressamente veda a permanência de portadores de doenças que ne-
cessitem de assistência médica e de enfermagem permanente em instituições
asilares de caráter social (art. 4º da Lei nº 8.842/1994).

Devemos ainda lembrar que a regulari-


dade dos cuidados com a pessoa idosa,
muitas vezes, exige a constituição de
SAIBA MAIS
curatela legal. Essa necessidade sur- Para saber a forma de decla-
ge quando uma pessoa idosa apresenta, rar a Curatela Legal e seus
temporária ou definitivamente, incapaci- limites acesse: https://bit.
dade mental, intelectual ou física. ly/3fdUnMv

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O modelo de serviço
SOCIOASSINTENCIAL DAS ILPIS

1.2 O poder público nas ILPIs

O exercício da atividade econômica no Brasil pode ser realizado livremente nos ter-
mos assegurados no art. 170 da CRFB/1988. Algumas atividades, no entanto, dizem
respeito ao interesse da coletividade e exigem para seu regular funcionamento a au-
torização pública, a qual ocorre pela expedição de alvarás e/ou de licenças. Esse é o
caso das ILPIs!

De acordo com o art. 52 do Estatuto do Idoso essas instituições devem ser fiscaliza-
das “pelos Conselhos do Idoso, Ministério Público, Vigilância Sanitária e outros".

Por consequência, é dever da ILPI organizar, manter atualizados e com fácil acesso
os documentos necessários à fiscalização, à avaliação e ao controle social (RDC 502,
art. 13).

Mas cuidado, fiscalizar significa muito mais que punir. O bom exercício da fiscaliza-
ção pressupõe orientação clara sobre os pressupostos de regularidade da atividade
antes de qualquer punição. Esse critério é conhecido como dupla visita e estabelece
que o órgão fiscalizador deve primeiro orientar e posteriormente retornar para veri-
ficar se as providências para regularidade foram adotadas. Só então, caso contrário,
deverá punir.

1.2.1 Alvarás

O Alvará de localização e funcionamento diz respeito à autorização para que a ILPI se


estabeleça em um endereço específico devendo o imóvel, obrigatoriamente, trazer
em sua frente o nome da instituição para que todos possam identificar (vide art. 37, §
2º do Estatuto do Idoso).

Esse documento é fornecido pela Prefei-


tura e deve ser emitido por unidade. As-
SAIBA MAIS
sim, se uma ILPI tem mais de uma unidade A RDC 502 (art. 14) permite que a
em funcionamento (matriz e filial) deverá ILPI terceirize os serviços de ali-
solicitar o alvará de localização e de fun- mentação, limpeza e lavanderia.
cionamento de forma individualizada. Para essa situação ser regular, é
preciso um contrato com o pres-
A edificação, o mobiliário, os espaços tador de serviço e a guarda da
e os equipamentos urbanos do local de cópia do alvará sanitário da em-
funcionamento da ILPI também devem presa terceirizada.

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Regularização jurídica de
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observar normas específicas. Os critérios e os parâmetros técnicos foram estabele-


cidos na NBR nº 9050.

Assim, será necessária a aprovação do projeto arquitetônico junto ao órgão municipal


competente e à autoridade sanitária local para obter o Alvará Sanitário (vide parágra-
fo único do art. 38 do Estatuto do Idoso).

Ainda para o regular funcionamento da instituição igualmente é necessário a obten-


ção do Laudo do Corpo de Bombeiros (CB) para certificar que o estabelecimento ado-
tou os procedimentos e os equipamentos de segurança e proteção contra incêndio.

1.2.2 Conselho de Assistência social

Se a instituição prestar serviços socioassistenciais (vide Resolução nº 109/2009 do


CNAS) deverá estar inscrita no Conselho Municipal de Assistência Social. Nesses ca-
sos, a instituição pode ainda solicitar sua Certificação de Entidade Beneficente de
Assistência Social (CEBAS).

A concessão desse certificado configura um direito da instituição que lhe assegura


isenções fiscais e prioridade na celebração de contratualização com o poder público,
dentre outros benefícios como a obtenção de descontos nas tarifas de energia elé-
trica.

1.2.3 Conselho de Direitos da Pessoa Idosa

O Estatuto do Idoso atribuiu competência aos Conselhos de direitos da pessoa ido-


sa para zelar pelo cumprimento dos direitos pertinentes à essa população e também
para fiscalizar as entidades públicas ou privadas que prestam serviços a essas pes-
soas. Assim, devem as ILPIs realizarem sua inscrição junto ao Conselho Nacional,
Estadual ou Municipal especificando seus regimes de atendimento (arts. 7º e 48 do
Estatuto do Idoso).

1.2.4 CAGEC

O Cadastro Geral de Convenentes do Estado de Minas Gerais (CAGEC) foi criado com a
finalidade de conferir transparência às pactuações entre o Estado e as organizações
da sociedade civil, fundos e serviços sociais autônomos.

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Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

A inscrição nesse cadastro somente é uma exigência se existir interesse da institui-


ção em formalizar convênios, acordos ou outros instrumentos similares com o Esta-
do.

Para realizar o cadastro é preciso a obtenção de vários documentos legais que ates-
tem a regularidade da instituição. A lista completa consta na Resolução Conjunta SE-
GOV/CGE nº 5 de Janeiro de 2020. Dentre as exigências, destacamos a necessidade
de apresentar Certidão Negativa (ou positiva com efeitos negativos) de débitos junto
à Justiça do Trabalho e junto ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para
atestar a regularidade das relações trabalhistas no âmbito da instituição.

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Regularização jurídica de

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INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DAS ILPIS

Organização jurídica das


ILPIS

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Organização jurídica das
ILPIS

2. Natureza Jurídica

A escolha da natureza jurídica diz respeito ao regime jurídico a que a ILPI estará sub-
metida e essa opção é um passo importante no planejamento de sustentabilidade da
instituição porque produz impacto direto sobre seus custos.

Como já vimos, uma ILPI pode ter natureza governamental ou não governamental.
As primeiras são regidas exclusivamente por normas de direito público, enquanto as
segundas são regidas pelo regime de direito privado, ainda que recebam verbas pú-
blicas.

Por óbvio, quando ocorre o recebimento de recursos públicos pelas ILPIs vários pro-
cedimentos de transparência e de controle devem ser observados na medida em que
são recursos pertencentes à toda sociedade.

As ILPIs não governamentais podem ser com ou sem finalidade lucrativa. Quando per-
seguirem a finalidade lucrativa devem adotar a forma empresária; quando se consti-
tuir sem finalidade lucrativa podem adotar a forma de associação ou de fundação.

O nascimento legal dessas instituições dá-se propriamente com o registro na Junta


Comercial do Estado quando com finalidade lucrativa ou no Cartório de Registro de
Pessoas Civis quando sem finalidade lucrativa.

Com o nascimento legal as instituições


adquirem personalidade jurídica autô-
noma diferente daquela de seus institui- ATENÇÃO!
dores e, por conseguinte, passam a ser
titular de direitos e deveres próprios. Se a instituição tem mais de um
estabelecimento em funciona-
Após o nascimento legal deve ser provi-
mento é preciso que cada um
denciado o Cadastro Nacional de Pessoa deles tenha um CNPJ.
Jurídica (CNPJ) junto à Receita Federal
do Brasil. Esse documento é similar ao É possível que essa regularização
Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e é seja feita pela expedição de do-
necessário para emitir notas fiscais e do- cumentos entre matriz e filial ou
como uma unidade autônoma. A
cumentos contábeis.
escolha entre uma ou outra opção
Sem a obtenção do CNPJ a instituição deve fazer parte do planejamento
da instituição.
pode ter existência de fato, mas terá uma

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Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

existência irregular jurídica que poderá trazer responsabilidade direta ao patrimônio


do gestor.

Além disso, a irregularidade jurídica impede que a instituição receba destinações de


Imposto de Renda dedutíveis, participe de editais e receba verbas públicas.

É possível que essa regularização seja feita pela expedição de documentos entre ma-
triz e filial ou como uma unidade autônoma. A escolha entre uma ou outra opção deve
fazer parte do planejamento da instituição.

Ao longo dos anos, as instituições sem finalidade lucrativa receberam muitos nomes
diferentes, veja no Quadro 3.

Quadro 3: O que é?
É uma atribuição conferida às entidades sem fins lucrativos que
buscam alcançar atividades de interesse social e, por tal, colocam-
ONG -se ao lado do Estado no cumprimento de suas atividades. Esse não
é um título jurídico propriamente, mas uma referência de mercado.

Trata-se de uma denominação utilizada por escolha de algumas


instituições. Esse designativo pode fazer parte da razão social da
INSTITUTO entidade ou de seu nome fantasia.

É um título jurídico que pode ser atribuído às instituições sem fins


lucrativos para recebimento de benefícios de natureza pública, tais
como dotações orçamentárias e cessão de bens. Para obtenção
OS desse título é obrigatório que seu Conselho de Administração re-
serve percentuais de representantes para o poder público e para a
sociedade civil.

É uma atribuição conferida às entidades sem fins lucrativos que


buscam alcançar atividades de interesse social e, por tal, colocam-
-se ao lado do Estado no cumprimento de suas atividades. Corres-
OSC ponde à designação ONG, porém ganhou maior relevância e uso por
ter sido adotada nos anos de 1990 pelo Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID). Igualmente às ONG esse não é um título ju-
rídico propriamente.

22
Organização jurídica das
ILPIS

Quadro 3: O que é?
É um título jurídico que pode ser atribuído às instituições sem fins
lucrativos constituídas há no mínimo 3 anos. A obtenção desse tí-
tulo traz diversas vantagens à instituição, tais como a possibilidade
OSCIP de remuneração dos dirigentes, a possibilidade de firmar termos
de parceria com o poder público e a possibilidade de receber doa-
ções de pessoas jurídicas.

Quadro 3. Fonte: Elaboração própria.

Organizações Não Governamentais (ONG), Instituto, Organização Social (OS), Organi-


zação da Sociedade Civil (OSC), Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
(OSCIP) são, portanto, títulos de reconhecimento correlacionados ao objeto de exer-
cício da entidade. Nenhum desses títulos afeta a natureza jurídica da ILPI sem fins
lucrativos, que apenas poderá optar entre ser uma associação ou uma fundação.

2.1 Fundação e associação

A fundação e a associação são duas formas de pessoas jurídicas de direito privado


que podem ser adotadas para a realização de atividade sem finalidade lucrativa. En-
tre essas formas, a associação é a mais usual porque dispensa um patrimônio mínimo
para sua constituição e apresenta maior flexibilidade para adaptar-se a diferentes
situações.

A associação é formada pela união de pessoas em prol de objetivos comuns sociais,


enquanto a fundação é instituída por uma pessoa física ou jurídica, que destina de-
terminado patrimônio para uma finalidade específica. Veja no Quadro 04 as principais
diferenças entre essas duas formas de organização.

Quadro 4: Diferenças
Associação Fundação
Constituída por pessoas. Constituída por patrimônio, que seja
aprovado previamente pelo Ministério
Público (MP).

23
Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

Quadro 4: Diferenças
Associação Fundação
Pode ou não ter patrimônio inicial. O patrimônio é condição para sua cria-
ção.

Os associados deliberam livremente. As regras de deliberação são definidas


pelo instituidor e fiscalizadas pelo MP.

Registro e administração mais simples. Registro e administração mais buro-


cráticos.

Criada por intermédio de decisão em Criada por intermédio de escritura pú-


assembleia, com transcrição em ata e blica ou testamento. Todos os atos de
elaboração de estatuto. criação ficam condicionados à prévia
aprovação do MP.

Regida pelos artigos 44 a 61 do Código Regida pelos artigos 62 a 69 do Código


Civil. Civil.

Quadro 4: Diferenças
Fonte: Cartilha 3º Setor da OAB/SP (2011).

A finalidade para a qual a associação ou a fundação foram constituídas deve estar


definida em seus respectivos estatutos. A principal diferença é que na associação a
finalidade é eleita livremente pelos associados, enquanto na fundação a finalidade é
eleita exclusivamente pelo instituidor devendo ter a aprovação do Ministério Público.

Na maioria dos casos em que a finalidade da fundação apresente-se inviável, por


quaisquer motivos, deverá ser promovida sua extinção e seu patrimônio destinado a
outra fundação de objetivo similar, salvo disposição em contrário (art. 69 do Código
Civil). Ou seja, mudar a finalidade para a qual a fundação foi constituída é um ato com-
plexo e de difícil aprovação.

Já no caso das associações é possível mudar sua finalidade ao longo de sua existên-
cia, sendo suficiente para tanto a deliberação dos associados em assembleia convo-
cada exclusivamente para essa finalidade.

24
Organização jurídica das
ILPIS

Recentemente, inclusive, foi autorizado as associações realizarem conversão de


sua natureza jurídica para finalidade lucrativa constituindo-se como uma sociedade.
Igualmente foi autorizado que sociedades empresárias convertam-se em uma asso-
ciação.

Assim, legalmente foi autorizada a con-


versão da natureza jurídica de uma so-
ciedade empresária para associação e
SAIBA MAIS vice-versa. Na prática, todavia, dificulda-
des de caráter contábil e tributário fazem
A Instrução Normativa (IN) do com que seja mais viável o encerramento
Departamento Nacional de de um formato jurídico para abertura de
Registro nº 81 de 10 de junho de outro.
2020 passou a prever a possibili-
dade de conversão de associação Por isso, o ideal é que antes de dar início
em sociedade empresária e ao nascimento jurídico da instituição seja
vice-versa. Para realizar esse realizado um projeto que expresse cla-
procedimento é preciso averbar a ramente a missão e os objetivos a serem
conversão no Cartório de Registro perseguidos. Também é importante rea-
Civil onde está registrado o esta-
lizar um planejamento prévio dos meios
tuto e, posteriormente, consolidar
que serão utilizados para atingir os fins
o ato constitutivo do tipo societá-
almejados. Esse exercício permitirá a es-
rio eleito na junta comercial.
colha do tipo jurídico mais adequado e
evitará gastos desnecessário de recur-
sos.

A realização desse planejamento, no entanto, ainda é uma realidade pouco difundi-


da entre aqueles que desejam constituir uma ILPI, especialmente em associações.
A causa dessa ausência está na origem caritativa desse setor ligada muitas vezes
a ações religiosas baseada no trabalho voluntário e em doações. O crescimento da
questão social e a regulação do setor, no entanto, vem exigindo a transformação da
base organizacional dessas instituições.

Assim como nas formas empresárias, as instituições sem fins lucrativos precisam
ter recursos próprios suficientes para manterem sua estrutura e para que consigam
cumprir com qualidade suas finalidades sociais.

As doações devem ser entendidas como renda extra capaz de trazer melhorias às ins-
tituições sem que, todavia, sua ausência comprometa seriamente a estrutura básica
organizacional. Por isso, o planejamento é fundamental!

Lembre-se: um dos pilares mais importantes desse planejamento é a forma como a


associação irá captar recursos para manter sua sustentabilidade financeira. Na cria-

25
Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

ção dessa estratégia pode ser importante a ajuda de profissionais para compreender
o contexto de atuação institucional e traçar possibilidades.
É claro que o planejamento inicial deverá passar por adaptações ao longo do tempo.
Ele precisará estar em constante atualização para acompanhar os rumos da insti-
tuição. Assim, é importante programar períodos com toda equipe para (re)pensar a
organização em todos seus aspectos.

2.2 Estatuto Social nas ILPIs

O objetivo precípuo das ILPIS é proporcionar a construção de um ambiente capaz de


assegurar a seus residentes o exercício dos direitos civis, políticos, econômicos, so-
ciais, culturais e individuais.

Neste sentido, a RDC 502 (art. 6º) estabelece as diretrizes que devem ser seguidas
pelas instituições, conforme consta no Quadro 05.

Quadro 5: Diretrizes Obrigatórias


• Observar os direitos e garantias dos idosos, inclusive o respeito à liberdade
de credo e a liberdade de ir e vir, desde que não exista restrição determinada
no Plano de Atenção à Saúde;
• Preservar a identidade e a privacidade do idoso, assegurando um ambiente
de respeito e dignidade;
• Promover ambiência acolhedora;
• Promover a convivência mista entre os residentes de diversos graus de de-
pendência;
• Promover integração dos idosos, nas atividades desenvolvidas pela comuni-
dade local;
• Favorecer o desenvolvimento de atividades conjuntas com pessoas de ou-
tras gerações;
• Incentivar e promover a participação da família e da comunidade na atenção
ao idoso residente;
• Desenvolver atividades que estimulem a autonomia dos idosos;
• Promover condições de lazer para os idosos tais como: atividades físicas, re-
creativas e culturais.
• Desenvolver atividades e rotinas para prevenir e coibir qualquer tipo de vio-
lência e discriminação contra pessoas nela residentes.
Quadro 5: Diretrizes obrigatórias. Fonte: Elaboração própria.

26
Organização jurídica das
ILPIS

Às diretrizes da RDC 502 somam-se os princípios estabelecidos no Estatuto do Idoso


que indicam a necessidade de:

• preservar os vínculos familiares


• realizar atendimentos personalizados e/ou em pequenos grupos
• garantir a participação do idoso nas atividades comunitárias internas e externas
• preservar a identidade do idoso, entre outros (vide art. 49).

Na prática, as diretrizes da RDC502e os princípios do Estatuto do Idoso devem ser a


base do Estatuto Social e do Regimento interno da ILPI.

O Estatuto Social é o documento mais importante da instituição porque nele devem


estar definidos os direitos e deveres dos associados, as regras de elaboração das
demais normas e os mecanismos de controle financeiro (vide art. 54 do Código Civil).
Sendo obrigatório prever:

• denominação, fins e sede da associação;


• equisitos para admissão, demissão e exclusão dos associados;
• direitos e deveres dos associados;
• ontes de recursos para sua manutenção;
• modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos;
• condições para a alteração das disposições estatutárias e para dissolução.

É possível que o Estatuto contenha outras previsões diferentes das expressamente


listadas acima, porém deve-se evitar documentos muito extensos já que esses, em
regra, dificultam a plena compreensão pelos envolvidos.

É ideal que seja elaborada uma proposta prévia de estatuto a ser debatida entre os
sócios fundantes na Assembleia Geral de Constituição.

Para a ocorrência da Assembleia Geral é necessária a convocação por edital, ampla-


mente divulgado, em que conste data, hora, local e a pauta de discussão.

Os participantes da Assembleia Geral de Constituição serão considerados os asso-


ciados fundadores da associação. Poderá o Estatuto ainda definir a possibilidade de
ingresso de outros associados - em quantidade limitada ou ilimitada - e se eles serão
pessoas físicas e/ou jurídicas.

Além disso, o Estatuto deve prever a estrutura de órgãos de funcionamento, o tempo


de mandato e também a previsão de funcionamento da Assembleia Geral como órgão
soberano. No Quadro 06 apresentamos a organização comum às associações.

27
Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

Quadro 6: Organização

É o órgão máximo das associações sendo composto, em regra,


ASSEMBLEIA GERAL pela totalidade dos associados. A apreciação de alguns temas
(ex. exclusão de associados) é de sua competência exclusiva.

É o órgão executivo que irá administrar a instituição. Pode ado-


DIRETORIA
tar formato de um único cargo ou com vários.

É órgão de apoio da Diretoria na tomada de decisão. Sua exis-


CONSELHO DE tência é facultativa, salvo nas Organizações Sociais (OS),
ADMINISTRAÇÃO quando deverá ser reservado um percentual de assentos para
representantes da sociedade civil e do governo.

É um órgão de controle. Sua existência é facultativa, salvo nas


CONSELHO FISCAL instituições que pretendam se constituir como Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP).

É possível a criação de conselhos consultivos, técnicos, de


OUTROS CONSELHOS
projetos, entre outros, desde que previstos em estatuto.

Quadro 6: Organização. Fonte: Elaboração própria.

A realização da Assembleia Geral de ATENÇÃO!


Constituição é um requisito obrigatório
para formalização da associação, mas Os dirigentes de uma instituição
esse ato sozinho não consolida o nasci- sem fins lucrativos podem rece-
mento legal da instituição. ber salário, desde que exista essa
previsão no Estatuto Social e seu
Aprovado o Estatuto Social deverá ser valor seja compatível com o mer-
realizada a eleição dos membros da Dire- cado e submetido à aprovação da
toria para exercício do primeiro mandato. Assembleia Geral.
Encerrados os debates deve ser lavrada
Também possível contratar um
uma ata detalhada com todas as ocor- gestor não associado para admi-
rências. nistrar o dia-a-dia da instituição.

28
Organização jurídica das
ILPIS

Para o nascimento legal da associação, deve ser realizado seu registro no Cartório de
Registro Civil das Pessoas Jurídicas da cidade em que possui sede apresentando os
seguintes documentos:

• Edital de convocação para Assembleia Geral de Constituição;


• Duas vias do Estatuto Social aprovado em Assembleia, o qual deverá ser assina-
do por advogado habilitado (Lei nº 8.906/94);
• Ata de fundação, aprovação do estatuto, eleição e posse da primeira diretoria,
com assinatura de todos os presentes;
• Consulta de viabilidade (Lei nº 11.598/2007);
• Documento Básico de Entrada (DBE).

O cartório irá fazer a análise de todos os documentos. Após esse momento, a associa-
ção adquire personalidade jurídica própria, mas ainda necessita providenciar a emis-
são do CNPJ junto à Receita Federal do Brasil.

Jamais esqueça que o Estatuto Social é a lei interna da instituição e, por isso, deve
estar alinhado com seu planejamento estratégico e com sua realidade. Caso contrá-
rio, deve ser realizada a atualização das normas estatutárias. De modo geral, sugere-
-se a revisão desse documento a cada 5 anos.

A elaboração do Estatuto Social no caso das fundações é realizada pelos próprios


instituidores que reservaram parte de seu patrimônio para criação da entidade. A
aprovação desse documento é competência do Ministério Público, órgão também in-
cumbido do exercício de fiscalização continuada daquela fundação. Já a administra-
ção da fundação, em geral, será realizada por um Conselho Curador, uma Diretoria e
um Conselho Fiscal.

2.3 Regimento Interno nas ILPIS

O Regimento interno é um documento obrigatório (RDC 502, art. 9º) que estabelece
as regras de funcionamento dos serviços da ILPI. Sua elaboração pode ser realizada
pela Diretoria ou a quem esta incumbir, mas deverá ser apresentado para aprovação
da Assembleia Geral.

A finalidade última desse documento é servir para direcionar a atuação dos funcioná-
rios, do público em geral e dos residentes. Assim, deve ser redigido em uma lingua-
gem clara e acessível para dar transparência às regras.

29
Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

Após sua aprovação, a cópia do Regimento Interno deve ser entregue para cada um
dos residentes que poderão vir a solicitar esclarecimentos e/ou fazer sugestões de
alterações.

Esse documento, igualmente ao Estatuto Social, deve ser revisado sempre que suas
normas estejam desalinhadas com a realidade institucional.

Lembre-se: que os dirigentes têm grande responsabilidade sobre a qualidade da


prestação do serviço ofertado a pessoa idosa podendo, inclusive, responder civil e
criminalmente (parágrafo único do art. 49 do Estatuto do Idoso) pelos atos pratica-
dos.

2.4 Aplicação do MROSC para as ILPIs

O Marco Regulatório das Organizações Civis (MROSC) surgiu a partir da articulação de


diferentes atores sociais governamentais e não governamentais na elaboração da Lei
nº 13.019/2014 no objetivo de fortalecer as instituições sem fins lucrativos.

Em essência, essa lei trouxe regras para parcerias em geral com a administração pú-
blica e medidas para sustentabilidade institucional pela simplificação de regimes tri-
butários e da concessão de títulos e/ou de certificados pelo Estado.

Essa Lei autorizou o regime jurídico de parcerias entre a administração pública e as


organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação sem que isso cons-
titua uma obrigatoriedade.

Assim, se uma instituição optar por utilizar exclusivamente de recursos privados sem
a realização de parcerias públicas estará dispensada da observância das normas do
MROSc.

Por outro lado, se a instituição pretender pactuar com quaisquer dos entes federati-
vos (União, estados, municípios) deverá seguir as previsões legais do MROSc. Neste
caso, o Estatuto Social da instituição deve expressamente prever os itens arrolados
no art. 33 da referida Lei.

Art. 33. Para celebrar as parcerias previstas nesta Lei, as organizações da so-
ciedade civil deverão ser regidas por normas de organização interna que pre-
vejam, expressamente:

I - objetivos voltados à promoção de atividades e finalidades de relevância pú-


blica e social;

30
Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

III - que, em caso de dissolução da entidade, o respectivo patrimônio líquido


seja transferido a outra pessoa jurídica de igual natureza que preencha os re-
quisitos desta Lei e cujo objeto social seja, preferencialmente, o mesmo da en-
tidade extinta;

IV - escrituração de acordo com os princípios fundamentais de contabilidade e


com as Normas Brasileiras de Contabilidade;

V - possuir:

a) no mínimo, um, dois ou três anos de existência, com cadastro ativo, compro-
vados por meio de documentação emitida pela Secretaria da Receita Federal
do Brasil, com base no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica - CNPJ, confor-
me, respectivamente, a parceria seja celebrada no âmbito dos Municípios, do
Distrito Federal ou dos Estados e da União, admitida a redução desses prazos
por ato específico de cada ente na hipótese de nenhuma organização atingi-
-los;

b) experiência prévia na realização, com efetividade, do objeto da parceria ou


de natureza semelhante;

c) instalações, condições materiais e capacidade técnica e operacional para o


desenvolvimento das atividades ou projetos previstos na parceria e o cumpri-
mento das metas estabelecidas.

No caso de parcerias públicas, a Instituição também deverá apresentar:

• certidões de regularidade fiscal, previdenciária e tributária;


• certidão de existência jurídica expedida pelo cartório de registro civil ou cópia
do estatuto registrado com suas alterações;
• cópia da ata de eleição da diretoria em exercício,
• relação nominal dos dirigentes com seus respectivos endereços e documentos
pessoais;
• comprovação de endereço da entidade.

O MROSc tornou obrigatório a realização de chamamento público para seleção das


organizações da sociedade civil interessadas em firmar parceria com a administra-
ção pública, a qual deverá seguir 5 fases para o estabelecimento regular da parceria:
planejamento, seleção e celebração, execução, monitoramento e avaliação, presta-
ção de contas.

31
Regularização jurídica de

3
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

ATENDIMENTO À PESSOA IDOSA

Atendimento à
PESSOA IDOSA

32
Atendimento à
PESSOA IDOSA

3. Contrato de prestação de serviço à pessoa


idosa

O Estatuto do Idoso estabelece a obrigatoriedade das ILPIs celebrarem, por escrito,


contrato de prestação de serviço especificando o tipo de atendimento, os direitos e
deveres das partes, as prestações decorrentes do contrato e os respectivos preços,
se for o caso (arts. 35 e 50).

No mesmo sentido, estabelece a RDC 502 (art. 12) que inclusive indica expressamente
a necessidade de existência do contrato de prestação de serviço ainda que a interna-
ção seja resultante de uma medida judicial.

A assinatura do contrato deve ser realizada pelo representante legal da ILPI e a pessoa
idosa. Caso alguma outra pessoa responsabilize-se por prestar informações acerca
da pessoa idosa ou responsabilize-se pelo pagamento das mensalidades deverá assi-
nar conjuntamente com a pessoa idosa o contrato de prestação de serviço.

Em caso de interdição judicial a assinatura do contrato deve ser realizada pelo cura-
dor. Se este for ao mesmo tempo curador e dirigente da instituição não deve assinar
como contratante e contratado. Nesses casos, o contrato de prestação de serviço
deve ser assinado por outro representante legal da instituição (art. 3º da Resolução nº
12 do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso).

No caso das ILPIs sem fins lucrativos é


autorizada a participação financeira da
pessoa idosa na manutenção da institui-
ção. O percentual da contraprestação no ATENÇÃO!
máximo pode alcançar 70% de qualquer
benefício previdenciário ou de assistên-
Sobre o atendimento prestado
cia social recebido pela pessoa idosa, pelas ILPIs não governamentais
podendo ser um percentual inferior. incide todas as garantias pre-
vistas no Código de Defesa do
A regulamentação do limite de percentu- Consumidor (CDC). Por isso, é
al cabe ao Conselho Municipal da Pessoa bem importante que o contrato
Idosa e na sua falta ao Conselho Munici- tipifique as características do
pal de Assistência Social. serviço e as eventuais exclusões
de cobertura.
O valor dessa contraprestação deverá
expressamente constar no contrato para
que a pessoa idosa venha a manifestar

33
Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

sua concordância. No contrato também deve ser assegurado que o restante do bene-
fício previdenciário, de no mínimo 30%, seja destinado à própria pessoa idosa (art. 2º
da Resolução nº 12 CNDI).

A ILPI deve manter registro financeiro com o número de pessoas idosas que realizam
contraprestação financeira com seus respectivos valores de participação indicando
as despesas subsidiadas com esses recursos (art. 2º Resolução nº 12 do CNDI).

Nos casos em que a instituição tenha a curatela do residente deverá realizar a presta-
ção individualizada do valor residual, de no mínimo 30%, demonstrando a realização
do gasto em prol do residente em itens que não sejam de prestação obrigatória da
ILPI.

Nas ILPIs governamentais não há pagamento de qualquer tipo de contraprestação


e nem a necessidade de pactuação contratual, pois a instituição é considerada um
equipamento da rede de serviço de assistência social similar às unidades de atendi-
mento do SUS.

Como a existência das ILPIs governamentais é muito rara é possível que o poder pú-
blico, em qualquer de suas três esferas, venha a firmar parcerias com ILPIs sem fins
lucrativos para transferir recursos financeiros de natureza pública. Nesses casos, o
instrumento de pactuação entre o poder público e a instituição deve prever o atendi-
mento de pessoas idosas sem qualquer rendimento.

Se a institucionalização for resultante de determinação judicial, o custeio pode ser


atribuído a terceira pessoa, inclusive ao próprio poder público. Mas, mesmo nestes
casos, deverá a ILPI providenciar a confecção do contrato de prestação de serviço.

Jamais esqueça é direito da pessoa idosa o recebimento de uma cópia do contrato

3.1 Planos de Atendimento e Procedimentos Operacionais

A RDC 502 (art. 36) estabelece a obrigatoriedade da ILPI elaborar, a cada dois anos, o
Plano de Atenção Integral à Saúde (PAIS) dos residentes. Dessa forma, passa a ser
um dever da instituição assegurar a efetivação do acesso à saúde da pessoa idosa
pela rede pública e/ou pela rede privada.

O PAIS deve observar os princípios da universalização, da equidade e da integralidade


abordando os aspectos de prevenção de doenças e de agravos, de promoção e de
proteção à saúde integral da pessoa idosa.

34
Atendimento à
PESSOA IDOSA

Anualmente, a ILPI deve avaliar a implantação e a efetividade das ações previstas no


PAIS (RDC 502, art. 38).

A ILPI ainda pode realizar o Plano de Atendimento Individual a seu residente como
instrumento de efetivação do atendimento personalizado preconizado no Estatuto
do Idoso (art. 50).

Optando ou não por fazer o Plano de Aten-


dimento Individual, a ILPI deve manter re-
gistro individualizado das patalogias, das ATENÇÃO!
medicações utilizadas e da comprovação
de vacinas, entre outros registros. É obrigatório que a instituição
tenha contratado um Responsável
As ILPIs, portanto, devem manter regis- Técnico (RT) com formação supe-
tro por escrito das rotinas e procedimen- rior e carga horária mínima de 20
tos em relação aos cuidados com seus horas/semana. Esse profissional
residentes. pode ser formado em qualquer
área, porém será o responsável
Também devem estabelecer um roteiro pelos medicamentos em uso
de Procedimentos Operacionais Padrão pelos idosos e pela representação
(POP) para cada área técnica a ser cum- da ILPI junto à vigilância sanitária
prido por seus colaboradores, o qual deve (RDC 502, arts. 10 e 11).
ser supervisionado por profissionais ha-
bilitados.

Por fim, é bom lembrar que atualmente a maior parte dos serviços ofertados pelas IL-
PIs são correlacionados ao atendimento curativo e biomédico tais como a assistência
de médicos, psicólogos, terapia ocupacional e fisioterapia.

Esse conjunto de serviços é muito importante, mas para o atendimento integral de


saúde da pessoa idosa é preciso a oferta de atividades que gerem renda, lazer, ca-
pacitação e sociabilidade, entre outros. Só assim, as instituições irão se constituir
como um espaço de acolhimento e de desenvolvimento integral para todo aquele que
nela venha a residir.

3.2 Dados e Imagem da pessoa idosa

Os avanços da informática em nossa sociedade têm levado à crescente disponibiliza-


ção de informações, de dados e de fotos nas redes virtuais. Também vem ocasionan-
do uma diluição entre os limites do espaço individual e do social.

35
Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

Essa é uma dinâmica nova que exige das ILPIs muita atenção para evitar a ocorrência
de ações prejudiciais a seus residentes e/ou de ações que possam vir a gerar danos à
própria instituição.

A primeira regra aqui é lembrar que o direito à imagem é um direito de personalidade


protegido pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (art. 5º, X) e
pelo Código Civil de 2002 (art. 20), tendo especial proteção no Estatuto do Idoso (art.
10, § 2º).

Assim, a utilização da imagem dos residentes em materiais de divulgação impressos


ou em mídia virtual, como as redes sociais, depende de expressa e prévia autoriza-
ção de seus titulares.

Caso o idoso não possa exprimir a sua vontade, a autorização expressa e prévia deve
ser dada por seu representante legal (familiares ou curador) podendo vir a ser revoga-
da a qualquer momento.

Essa autorização pode estar contida no contrato de prestação de serviços entre a


ILPI e a pessoa idosa (art. 35 e 50, I, do Estatuto do Idoso) ou pode ser um termo inde-
pendente. Em qualquer desses casos deverá conter explicitamente para quais meios,
fins e por qual período a imagem será utilizada.

Importante ressaltar também que a “curatela não alcança o direito sobre o próprio
corpo, sexualidade, matrimônio, privacidade, educação, saúde, trabalho da pessoa
interditada” (Brasil, 2020). Assim, mesmo que o diretor da ILPI seja curador da pessoa
idosa residente, ele não poderá dispor livremente de suas imagens.

A segunda regra é a necessidade de cuidado para disponibilização de imagens de-


gradantes, que demonstram fragilidades ou doenças de seus residentes nas redes
sociais.

A instituição não pode, por exemplo, expor pessoas idosas em situações vexatórias
ou íntimas para tentar “sensibilizar” e conseguir doadores. Também não deve, de for-
ma alguma, publicar dados pessoais das pessoas idosas, de seus familiares ou de
qualquer pessoa da instituição, sem autorização prévia. Tais atos configuram uma
violação à dignidade da pessoa humana e podem resultar no dever de indenização
financeira.

A terceira regra diz respeito à guarda e proteção dos dados de titularidade dos resi-
dentes. De acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei nº 13.709/2018) as ILPIs
são entendidas como Agente de Tratamento ao ter o controle e a operação de dados
pessoais de seus residentes.

36
Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

As ILPIS devem, portanto, adotar cuidados na gestão sobre dados e informações das
pessoas idosas seguindo os princípios da finalidade, da necessidade, da adequação,
da transparência e da segurança (art. 2º).

Por outro lado, o titular poderá a qualquer momento exercer seu direito de acesso aos
dados, à retificação e à exclusão. Mas, se a coleta e o registro de dados for resultante
de obrigação legal não poderão vir a ser objeto de exclusão.

Dessa forma, as ILPIs precisam estar atentas à guarda dos dados e informações dos
residentes já que são consideradas responsáveis pela preservação de risco de vaza-
mento ou utilizações indevidas.

Na prática, é preciso que a instituição faça o mapeamento de todos os dados que


possui, sejam documentos físicos ou eletrônicos. Posteriormente, deve identificar a
necessidade de guarda com o fim de garantir a segurança do seu armazenamento.
Todo esse cuidado sobre os dados diz respeito à gestão interna da instituição e deve
ser trabalhado pela Diretoria com toda a equipe.

37
Regularização jurídica de

4
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

CONSIDERAÇÕES FINAIS

CONSIDERAÇÕES FINAIS

38
CONSIDERAÇÕES FINAIS

4. Considerações finais

O objetivo dessa apostila foi apresentar em linguagem simples as principais obriga-


ções legais que se apresentam na gestão das ILPIs. O cumprimento dessas normas
não deve ser visto pelas instituições como um dever burocrático, mas como um bom
instrumento capaz de assegurar a promoção e a proteção dos direitos da pessoa ido-
sa.

A regularidade jurídica da instituição também deve ser vista como um fator crucial
para a sustentabilidade de longo prazo de suas atividades. Sem a conclusão dessa
etapa não é possível o recebimento de benefícios públicos, o recebimento de des-
tinação de Imposto de Renda de pessoas privadas, a participação em editais, entre
outros.

Por fim, a regularidade jurídica deve ser vista como um fator de segurança e de trans-
parência para todos da sociedade permitindo aos diferentes atores sociais diferen-
ciar as instituições e suas prestações de serviço.

Lembre-se que esse é um percurso de melhorias contínuas e que o apoio de profis-


sionais habilitados assegura uma travessia mais tranquila.

A Rede de Apoio a Pessoas Idosas (RAPI) e a Secretaria de Desenvolvimento do Esta-


do de Minas Gerais estão de portas abertas para ajudar nesse caminho!

39
Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

Referências bibliográficas

BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Curatela e tomada


de decisão apoiada: vamos falar sobre isso? Brasília. Secretaria Nacional de Promo-
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Regularização jurídica de
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILPI) SEM FINS LUCRATIVOS

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