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Conteú do Metodologia e Prá tica de Ensino de

Histó ria e Geografia


Aula 04 – O espaço está aí... Há que compreendê -
lo
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1. Compreender a importância da noção de espaço;

2. Reconhecer as etapas do aprendizado da noção de espaço;

3. Identificar as relações espaciais topológicas, projetivas e euclidianas;

4. Demonstrar que o entendimento da organização espacial deve ser iniciado


pelos espaços conhecidos da criança;

5. Reconhecer que a análise da organização espacial revela como a sociedade


divide o espaço e como os grupos sociais se apropriam dele;

6. Identificar o mapa como um dos recursos utilizados na escola para a


representação da realidade.

A localização e orientação espacial

Para o domínio de diferentes tipos de localização e orientação espacial, há


um longo caminho a ser percorrido pela criança. Nesse processo, há dois
aspectos essenciais: o esquema corporal e a lateralidade.

Por esquema corporal deve-se entender a exploração do espaço que depende


tanto de funções motoras quanto da percepção do espaço imediato: é a
consciência do próprio corpo e de seus movimentos, que se constrói aos
poucos, a partir do nascimento até atingir a adolescência.

Quanto á lateralidade, esta significa a percepção pela criança de que seu


corpo tem dois lados, e que eles se relacionam de forma diferenciada com o
espaço. Várias atividades são recomendadas para fazê-la tomar consciência
dessas habilidades e de sua predominância para a direita ou para a
esquerda.
Trabalhando com o esquema corporal e com a lateralidade, a criança ao
entrar na escola, já dispõe de algum modo, de um conhecimento sobre
localização espacial. Utiliza e expressa através do tato e de várias formas
de linguagem, noções espaciais como, por exemplo, as de vizinhança: dentro,
fora, interior, exterior, entre, fechado, aberto, ao lado.

O que a escola vai fazer nesse sentido, é criar situações através das quais a
criança possa ampliar e aprofundar essas noções, sempre a partir de
experiências concretas e da livre expressão do aluno.

As relações espaciais são, portanto, formas de contato e posicionamento da


criança com o espaço. Elas foram divididas em três tipos: topológicas,
projetivas e euclidianas.

Topológicas – são aquelas usadas para localizar pessoas e objetos, em


qualquer tipo de espaço (independente da forma) e sem considerar as
distâncias: dentro, fora, perto, longe, ao lado, vizinho, entre. Essas relações
são a base para o trabalho com o espaço geográfico. A partir delas se
desenvolverão as noções de limites políticos-administrativos entre
municípios, estados, países e suas fronteiras.

Relações Espaciais Projetivas – são aquelas que variam conforme o ponto de


referência do observador. Nesse momento, a criança passa a usar um outro
tipo de relação de acordo com o ponto de vista de quem vê: em cima,
embaixo, na frente, atrás, direita, esquerda, norte, sul, leste, oeste,
nordeste, sudeste, sudoeste, noroeste. Nas relações projetivas iniciais, o
ponto de referência é a própria criança; aos poucos, esse ponto de
referência se desloca para outras pessoas e objetos, conseguindo situar uns
em relação aos outros. A mudança das centrações permite à criança operar
tanto com a orientação corporal como, posteriormente, com as orientações
através dos pontos cardeais e colaterais. Para que isso ocorra, o professor
deverá desenvolver várias atividades, principalmente jogos, onde a criança
terá oportunidade de usar o conceito de direita/esquerda a partir do seu
ponto de vista, do ponto de vista do outro e entre os objetos e as pessoas
ao mesmo tempo. Encontra-se aí, também, o trabalho com as direções
cardeais e colaterais, que deverão ser aplicadas em várias situações
concretas: primeiro em trajetos, depois em mapas.
Relações Espaciais Euclidianas – são aquelas em que a criança localiza os
objetos, pessoas ou lugares, considerando um esquema de referência fixa
(eixos: vertical e horizontal) e usa medida de distância (linear, área,
angular), ou seja, leva em conta duas referências. Dá-se quando a criança é
capaz de localizar um objeto dizendo que o mesmo está a três passos a leste
e cinco ao norte. É uma forma de habilidade que a leva ao entendimento das
coordenadas geográficas.

As populações primitivas já usavam desenho para se orientarem. Na


exploração do ambiente, registravam os caminhos percorridos e os pontos
de referência usados em seus deslocamentos. Desenhos gravados em pedras
e cascas de árvores foram os primeiros mapas.

Hoje, há técnicas modernas para elaborar os mapas. O sensoriamento


remoto, as imagens por satélite e o uso de computadores são recurso
utilizados. Mas, quando pensamos em representação do espaço com a
criança, a leitura e interpretação de mapas é uma das últimas etapas.

Nos primeiros desenhos da criança, ela escolhe ou convenciona os símbolos,


através dos quais representará a realidade. Ela tem o seu próprio ponto de
vista, sendo a partir dele que fará o desenho. Um longo trabalho deverá ser
feito até que a criança chegue a ser um decodificador, ou seja, um leitor de
mapas feitos pelos outros.

É necessário estimular a observação e a exploração dos espaços vividos. Na


escola, os alunos poderão observar a sala de aula. O professor dever propor
que andem pela sala, parem em um lugar onde sintam-se bem e, deste,
desenhem o que estão vendo. Outra atividade fundamental é a
representação de objetos a partir de diferentes pontos de vista.

Ainda explorando o ambiente interno da escola, as crianças poderão criar


maquetes. A maquete é uma atividade importante no processo de
representação espacial. Ao observá-la de cima, a criança estará dando os
primeiros passos para entender a planificação, elemento fundamental na
feitura de plantas e mapas.

O trabalho com medidas não padronizadas: cabos de vassoura, barbantes,


passos, introduzirá a criança na questão da escala. “Cinco cabos de vassoura
no tamanho real corresponderão à medida de cinco lápis de isopor”.
O estudo do itinerário casa-escola e arredores é importante nas primeiras
séries. Tomando como ponto de referência a escola, o professor deverá
orientar o aluno na observação das ruas próximas, dos espaços
circunvizinhos, quarteirões e principais pontos de referência.

Os aspectos naturais também podem ser observados. No momento da


representação, criarão símbolos que comporão a legenda do desenho feito.
Quando o aluno já vivenciou diversas atividades como mapeador, o trabalho
com mapas elaborados pelos outros se torna um recurso significativo.

Oferecer a planta dos arredores da escola para que analisem, identificando


o trajeto casa-escola que fizeram anteriormente é uma oportunidade de
aprofundar a representação espacial.

Com o processo assim encaminhado, nas séries finais poderemos utilizar os


mapas do município, do estado e do Brasil, para localizar áreas e lugares,
identificar direções e analisar a distribuição de dados físico-territoriais.

Mas não só pelos mapas, plantas ou desenhos a realidade poderá ser


representada. A utilização de gráficos, gravuras e fotografias são recursos
que, interdisciplinarmente, podemos utilizar. Ao usarmos as tabelas e
gráficos, lançaremos mão da quantificação e interpretação de símbolos e
legendas.

A estruturação do espaço: organização

Vivemos em várias organizações espaciais: nossa casa, nosso bairro, a


cidade, a escola e tantas outras. Elas fazem parte de nosso cotidiano. A
ideia de organização está associada à de arrumação, engrenagem, estrutura,
totalidade. Organizar significa dispor, de uma determinada maneira,
elementos e partes de um todo.

A análise do espaço construído e organizado por grupos sociais e sociedades


em diferentes tempos é iniciada pela escola, para que a criança comece a
ver além daquilo que ela enxerga física e concretamente. Ou seja, para ela
passar a entender o bairro onde mora, por exemplo, não apenas como um
conjunto de prédios, um ao lado do outro, mas como um espaço organizado
socialmente que retrata uma divisão por classes sociais.

Cotidianamente, a criança está em contato com diferentes paisagens.


Inclusive num mesmo bairro ela pode observar prédios em ricos condomínios
e favelas. Aos poucos, a criança é incentivada a ver que esses contrastes
tão grandes, percebidos visualmente, revelam os contrastes maiores da
própria sociedade.

As primeiras análises que a criança faz sobre a organização do espaço,


devem ser bem simples e devem ter como objeto os espaços cotidianos,
como: a sala de aula, a escola, os estabelecimentos comerciais, a rua, o
bairro, a cidade. Ao observar a organização espacial desses lugares, a
criança pode perceber que à divisão do espaço corresponde uma divisão do
trabalho.

Isso significa que existe uma relação entre a construção física, sua
disposição espacial e sua finalidade. Assim, ela poderá descobrir por que a
sala da direção fica em tal posição da escola, ou então para que servem
portões tão grandes, corredores e outras construções.

O tema estruturação do espaço/organização espacial, deve estar presente


nos programas de Geografia, pois é um item importante para se alcançar o
objetivo maior dessa área: “construir um método de leitura da realidade em
que vive.”

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