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Estado do Rio de Janeiro

Prefeitura de Volta Redonda


SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
Departamento Pedagógico
Seção de Educação Infantil

GRAFISMO INFANTIL

“A finalidade última da intervenção pedagógica é contribuir para que o aluno desenvolva as capacidades de
realizar aprendizagens significativas por si mesma [...] e que aprenda a aprender.”
(César Coll, 1990)

Diversos autores como: Dewey (1934), Read (1958), Luquet (1969), Novaes (1972),
Lowenfeld (1977), May (1982), Rivière (1995), Mèredieu (1995), Pillar (1996), Gardner (1999),
Perondi (2001) estudaram e descreveram as etapas evolutivas do grafismo infantil. Embora a
abordagem e a nomenclatura que eles utilizaram variem, não existem divergências profundas entre
esses autores.
O desenho é uma representação gráfica de um objeto real ou de uma ideia abstrata. O desenho é
uma das formas de expressão mais antigas da humanidade. Utiliza-se o desenho como uma forma de
comunicação desde a pré-história, quando os primeiros homens, através de pequenas figuras
desenhadas nas rochas e nas paredes das cavernas, manifestavam suas ideias e pensamentos entre si.
O desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas que, no início,
dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para construções cada vez mais ordenadas,
fazendo surgir os primeiros símbolos. Essa passagem é possível graças às interações da criança com o
ato de desenhar e com desenhos de outras pessoas.
Na garatuja, a criança tem como hipótese que o desenho é simplesmente uma ação sobre uma
superfície e ela sente prazer ao constatar os efeitos visuais que essa ação produziu. No decorrer do
tempo, as garatujas, que refletiam sobre tudo o prolongamento de movimentos rítmicos de ir e vir
transformam-se em formas definidas que apresentam maior ordenação e podem estar se referindo a
objetos naturais, objetos imaginários ou mesmo a outros desenhos. Na evolução da garatuja para o
desenho de formas mais estruturadas, a criança desenvolve a intenção de elaborar imagens no fazer
artístico. Começando com símbolos muito simples, ela passa a articulá-los no espaço bidimensional do
papel, na areia, na parede ou em qualquer outra superfície. Passa também a constatar a regularidade
nos desenhos presentes no meio ambiente e nos trabalhos aos quais ela tem acesso, incorporando esse
conhecimento em suas próprias produções.
No início, a criança trabalha sobre a hipótese de que o desenho serve para imprimir tudo o que
ela sabe sobre o mundo. No decorrer da simbolização, a criança incorpora progressivamente
regularidades ou códigos de representação das imagens do entorno, passando a considerar a hipótese
de que o desenho serve para imprimir o que se vê.
É assim que, por meio do desenho, a criança cria e recria individualmente formas expressivas,
integrando percepção, imaginação, reflexão e sensibilidade, que podem então ser apropriadas pelas
leituras simbólicas de outras crianças e adultos.
O desenho está também intimamente ligado com o desenvolvimento da escrita. Parte atraente
do universo adulto, dotada de prestígio por ser "secreta", a escrita exerce uma verdadeira fascinação
sobre a criança, e isso bem antes de ela própria poder traçar verdadeiros signos. Muito cedo ela tenta
imitar a escrita dos adultos. Porém, mais tarde, quando ingressa na escola verifica-se uma diminuição
da produção gráfica, já que a escrita (considerada mais importante) passa a ser concorrente do
desenho.
O desenho como possibilidade de brincar, o desenho como possibilidade de falar de registrar,
marca o desenvolvimento da infância, porém em cada estágio, o desenho assume um caráter próprio.
Estes estágios definem maneiras de desenhar que são bastante similares em todas as crianças, apesar
das diferenças individuais de temperamento e sensibilidade. Esta maneira de desenhar própria de cada
idade varia, inclusive, muito pouco de cultura para cultura.

A partir dos desenhos...

Os desenhos infantis devem ser aproveitados, perguntando-se às crianças o que desenharam,


escrevendo, então, em outra folha o que representam. Essa atitude de contar a história dos desenhos é muito
importante.
É essencial que o adulto saiba respeitar a fase do desenho em que a criança se encontra, aliando a essa
atitude o desafio e os incentivos necessários para que ela vá fazendo novas experiências e descobertas. Motivada
e confiante, tendo à sua disposição diferentes materiais para se expressar graficamente, a criança pode
desenvolver o grafismo, sem que mais tarde diga repetidamente aquela frase tão comum entre nós: “mas eu não
sei desenhar...”. Na verdade, todos já soubemos desenhar, mas fomos impedidos e bloqueados no nosso
crescimento pelos adultos de então...
Para que possamos respeitar o desenho das crianças e solicitar delas formas diferentes – que têm
possibilidades de desenvolver, é necessário, pois, conhecermos as fases do desenho.

O que caracteriza o desenho infantil?

O desenho, para a criança, tem como função principal a representação de algo. A criança quer dar ao
desenho uma configuração exata. A intenção realista da criança é notável na sua tendência geral de figurar nos
desenhos. Segundo as declarações delas, o dever de um desenho é assemelhar-se ao real, seja no aspecto de
conjunto, seja nos detalhes. Mas, é evidente que ela não consegue, muitas vezes. Por isso, é perigoso
interpretarmos os desenhos infantis. É melhor deixar que a própria criança comente sobre seus desenhos.
O importante é respeitar os ritmos de cada criança e permitir que ela possa desenhar livremente, sem
intervenção direta, explorando diversos materiais, suportes e situações.
Para tentarmos entender melhor o universo infantil muitas vezes buscamos interpretar os seus desenhos,
devemos, porém lembrar que a interpretação de um desenho isolada do contexto em que foi elaborado não faz
sentido. É aconselhável, ao professor, que ofereça às crianças o contato com diferentes tipos de desenhos e
obras de artes, que elas façam a leitura de suas produções e escutem a de outros e também que sugira a criança
desenhar a partir de observações diversas (cenas, objetos, pessoas) para que possamos ajudá-la a nutrisse de
informações e enriquecer o seu grafismo. Assim elas poderão reformular suas ideias e construir novos
conhecimentos. Enfim, o desenho infantil é um universo cheio de mundos a serem explorados.

São quatro fases na evolução do desenho...

1º) Realismo Fortuito:

Inicialmente, a criança desenha sem intenção de produzir imagem, realizando apenas uma descarga
espontânea de energia, acompanhada de prazer. Acidentalmente, ela desenha um objeto real e isto lhe dá muito
prazer. Não há ainda a intenção de representação; a criança não compreende que ela tem o poder de desenhar.
Através de repetidos rabiscos acidentais, a criança percebe que seus traços podem representar alguma
coisa. A partir dessa descoberta casual ela passa a dizer ou a nomear o que desenhou, a dar uma interpretação
aos desenhos. Essa interpretação é dada ou pela configuração global do desenho ou por uma parte. Assim, ela
dará ao traço a significação de um objeto qualquer, podendo também lhe atribuir vários significados diferentes.
A partir da semelhança fortuita entre o traço e o objeto, a criança tenta fazer com que o desenho se
assemelhe ainda mais ao objeto real. Seriam, então, dois momentos: no primeiro, a semelhança não é
voluntariamente produzida; no segundo, a semelhança é
voluntária.

rabiscação
celular

Na transição para a próxima fase, a criança já descobre através de movimentos circulares que pode
representar uma forma: célula. Esta representa um carro, o papai ou a bola através da linguagem verbal. No
interior da célula surgem olhos e boca. Pernas e braços pendurados na cabeça aparecem nas fases iniciais da
representação de figura humana. No desenho livre da criança, os elementos nascem do todo. Assim como no
grafismo livre, os detalhes naturalmente aparecem na célula, a criança será capaz de descobrir mais tarde,
sílabas e letras no todo significativo da palavra.

2º) Realismo Gorado:

Nesta fase, o desenho ainda não chega a ser realista, porque a criança encontra dificuldades, ou seja, ela
não consegue representar, ainda, nas figuras que faz, o objeto real. A criança não estabelece as relações
existentes entre os elementos e o todo, mas já há alguma intencionalidade. As figuras se relacionam em si, mas
não entre si. Nesta fase, a criança:

 Exagera as dimensões – exagera segundo a importância que dá ao detalhe.

 Subestima a relação de tangência.


 Subestima a relação de inclusão: olhos são desenhados fora do rosto etc.

 Negligencia relações espaciais de situação entre os elementos do mesmo objeto: faz dedos nos
braços, meninos sentados fora da cadeira etc.

Aos poucos, a atenção torna-se mais contínua, e ela passa a pensar nos desenhos já feitos e no que está
fazendo.

3º) Realismo Intelectual:

Nesta fase, o desenho da criança torna-se propriamente realista. Existe preocupação de desenhar o que
ela sabe que existe. A criança desenha o que pensa e não o que vê. As figuras já relacionam-se entre si (cena),
mas não a partir de um único ponto de vista. O desenho contém os elementos reais do objeto (mesmo invisíveis)
e ela dá a cada um a sua forma característica.

Algumas características desta fase:

 Transparência – aparecem no desenho elementos como se os que se superpõem a eles fossem


transparentes.

 Projeção no solo – é como se o objeto fosse visto de cima.


 Rebatimento no plano.

 Mudança do ponto de vista – como, por exemplo, a criança desenha um homem de perfil com
os dois olhos de frente, sentado sobre um cavalo onde só é figurado um olho.

Essas características demonstram que a criança tem o objetivo de representar o objeto de maneira fiel e
completa. Porém, é preciso que o objeto (todo e partes) seja desenhado a partir de um ponto de vista único para
que a representação seja coerente.

4º) Realismo Visual:

Nesta fase, a transparência é substituída pela opacidade, o rebatimento e as misturas de ponto de vista
são substituídos pela perspectiva. Essa substituição dá-se gradualmente. Já cria cenas com perspectiva.

Muitas dificuldades persistem por falta de exercitação, desconhecimento das leis de perspectiva. Essa
fase tem o objetivo de relacionar a representação gráfica à aparência visual.
Quando o adulto reconhece, valoriza e favorece o desenvolvimento do desenho infantil, ele permite às
crianças conquistar cada vez mais formas aprimoradas de representação.

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