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As etapas do desenho infantil

Janaina Silva Xavier

Introdução
Caro estudante, os rabiscos das crianças pequeninas são extensões de seus gestos, que deixam marcas vigorosas
nas superfícies. A criança sente prazer em rabiscar e, à medida que domina o gesto, ela passa a desenhar de
forma mais intencional. Ela faz linhas, curvas, pontos e finalmente formas.

Pensadores têm estudado os desenhos infantis, procurando explicar o desenvolvimento artístico da criança.
Essas teorias ajudam a compreender as potencialidades perceptivas e cognitivas dos alunos.

A criança passa por uma evolução gráfica de seu desenho, juntamente com seu crescimento e amadurecimento
intelectual, físico e emocional. A função da escola é acompanhar esse desenvolvimento e possibilitar a atividade
criadora, observando se a criança está evoluindo adequadamente.

O desenho infantil
O professor é um dos principais observadores do desenho infantil e, sem dúvida, um dos mais indicados para
fazer uma avaliação correta dessa produção. A criança utiliza os seus desenhos como meio de representação
simbólica. Ela desenha à medida que se desenvolve e, por meio dos seus desenhos, o professor pode identificar
se ela está se o desenvolvimento está adequado.

Usar o desenho apenas como um exercício de relaxamento ou para preencher o tempo vago das aulas, ou ainda
para fazer trabalhinhos de datas comemorativas, é menosprezar a capacidade do desenho para o aprendizado. É
necessário que o professor se atente mais para o potencial do desenho e, para isso, ele precisa ter um olhar mais
crítico e sensível perante o desenho dos alunos.É importante destacar que a criança se interessa pelo desenho
antes mesmo de falar. Ela executa rabiscos e gestos sobre o papel e, a partir do domínio motor, vai evoluindo
gradativamente para possibilidades mais intencionais. Assim, é interessante classificar o desenho infantil em
etapas, para que o professor possa avaliar o percurso da criança.

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FIQUE ATENTO
Desde pequena, ao realizar ações sobre o papel, a criança está jogando e manipulando. Assim
como ela se suja com os alimentos, ela sente imenso prazer em borrar.

Segundo Mèredieu (2006), a mancha é anterior ao traço. Os rabiscos são as primeiras experiências da criança
com o desenho. Eles surgem quando a criança começa a andar e está tomando consciência do equilíbrio. Nesse
momento surge o interesse psicomotor pelo gesto gráfico. O gesto é uma extensão de sua expressão corporal. A
criança se satisfaz em realizar os movimentos de escorregar o lápis sobre o papel. É algo motor, rítmico e, ela
então, demora-se nesse ato.

Nos anos seguintes, antes mesmo de falar e escrever, a criança utiliza o desenho para representar tudo que não
consegue expressar com essas linguagens. No entanto, como o que a criança desenha não tem relação com a
realidade aparente, é muito difícil para o adulto interpretar o que a criança quer demonstrar. Gradativamente, à
medida que ela consegue expressar-se verbalmente, ela passa a anunciar o que estará desenhando antes de sua
execução.

Para Lowenfeld (1976), a criança passa por quatro fases distintas: Garatuja e Rabiscação; Figuração Pré-
Esquemática; Figuração Esquemática; Figuração Realista. Vamos conecer melhor cada uma delas? Acompanhe!

Garatuja e Rabiscação
É a fase em que a criança desenha sem intenção, apenas pelo prazer do gesto de rabiscar e começa quando ela
tem por volta de um ano e meio, quando apresenta gestos instintivos e descobre suas capacidades motoras,
fazendo diferentes tipos de riscos, mais fortes, mais leves, mais rápidos e mais demorados. Esses rabiscos são
chamados de garatujas. Ela ocupa toda a folha, sem uma relação entre um rabisco e outro.

Aos poucos, a criança começa a ser mais intencional e a observar o que produz. Ela não abandona as garatujas,
mas começam a aparecer formas circulares, riscos, cruzes, quadrados isolados. Essa evolução ocorre até por
volta dos três anos.

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Figura 1 - Garatuja
Fonte: Adaptado de HISTÓRIA DAS ARTES, 2019.

Ainda nessa fase surgem as histórias, onde a criança imagina e desenha suas invenções. Ela traça formas e dá
nome a elas. A figura humana começa a aparecer a partir de uma forma redonda de onde ela puxa riscos para
representar os braços e as pernas. As figuras estão soltas, não obedecem à proporção e à ordem, mas detalhes
como pontos e traços para representar cabelos, olhos, boca são frequentes. Essa fase se completa até os cinco
anos.

Figuração Pré-Esquemática
Neste estágio as figuras já estão presentes, pois a criança relaciona seus pensamentos com a realidade. As
garatujas perdem o sentido e a criança experimenta a forma. As figuras humanas são representadas
simbolicamente: são pessoas de seu cotidiano, feitas com linhas, ovais e círculos, com braços, pernas, cabeça e,
gradativamente, são enriquecidas com detalhes no rosto, mãos e roupas. A criança repete seu desenho tentando
melhorar seu desempenho. O tamanho é dado conforme o grau de importância do objeto ou da pessoa
representada. Há exageros e omissões.

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Figura 2 - Figuração Pré-Esquemática
Fonte: Adaptado de HISTÓRIA DAS ARTES, 2019.

Os desenhos são soltos, não são alinhados e a execução é acompanhada da fábula e da narrativa, com uma
sequência lógica. A pintura ainda é rabiscada e sem direção e as cores não seguem a realidade, mas sim, o gosto
pessoal e o estado emocional. Essa fase ocorre entre os quatro e os seis anos, aproximadamente.

Figuração Esquemática
Nesta fase as crianças desenham casas, pessoas, animais e demais objetos de seu contexto, observando ordem e
relações espaciais, ou seja, os elementos passam a ser colocados no lugar correto: nuvens e sol na parte superior
da folha, pessoas e casas na parte de baixo. Surge a linha de base representando o chão, sustentando os
desenhos. Nesses desenhos a criança expressa suas ideias sobre o mundo, mas sem uma preocupação realística
de cópia.

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Figura 3 - Figura 3 – Figuração Esquemática
Fonte: Adaptado de HISTÓRIA DAS ARTES, 2019.

As figuras geométricas se destacam e surgem também as transparências, que é quando a criança desenha coisas
dentro das casas, prédios e carros, mesmo que elas não sejam visíveis, porque a criança sabe que elas existem. As
cores e as formas passam a se relacionar com a realidade e a criança expressa afetividade com seus desenhos.
Essa etapa ocorre entre os sete e os nove anos.

Figuração Realista
Nesta última fase a criança é bastante realista, desenhando tudo o que vê. Ela compreende melhor o mundo e
consegue trabalhar em grupo. Percebe a diferença do tamanho dos objetos e desenha com proporção. Coloca o
que está à frente e esconde o que está atrás. Realiza acabamentos como sombra e começa a ter noção de
perspectiva. A figura humana é diferenciada pelos sexos. Esse estágio ocorre até por volta dos dez anos.

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Figura 4 - Figuração Realista
Fonte: Adaptado de HISTÓRIA DAS ARTES, 2019.

A partir da adolescência, a criança percebe que não consegue atingir o que pretende e se não for motivada ou
instruída para progredir desiste de desenhar, sentindo-se incapaz. A criança afirma não saber desenhar, fica
envergonhada e decepcionada. A partir de então, é preciso que ela receba uma orientação mais específica, a fim
de conseguir realizar seus desenhos de forma mais satisfatória e realística, que é o seu desejo.

FIQUE ATENTO
O desenho da criança não deve ser avaliado pelos padrões estéticos da arte adulta. Exigir da
criança destreza e cópia de trabalhos de adultos, ou mesmo a imitação da realidade, pode gerar
desmotivação ou insegurança, pois elas ainda não têm habilidades cognitivas e motoras para
esse desempenho. Elas passam a considerar seus desenhos inadequados e perdem o interesse
pelo desenho.

Para a criança o desenho possui uma função lúdica. Ela expressa sua imaginação por meio dos desenhos como

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Para a criança o desenho possui uma função lúdica. Ela expressa sua imaginação por meio dos desenhos como
uma forma de comunicação. Ao interromper esse processo natural, ela perde essa habilidade e passa a sentir
medo de transmitir no papel o que pensa e sente.

SAIBA MAIS
Veja o que a educadora Monique Deheinzelin fala sobre o pensamento e o desenho infantil no
vídeo produzido para a Revista Nova Escola. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
time_continue=83&v=AFx4ViEFjF8. Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do
livro Como usar artes visuais na sala de aula, da autora Kátia Helena Pereira. Editora Contexto.
Ano: 2009.

É comum que alguns professores pensem que a criança desenha espontaneamente e que, por isso, não precisa de
direcionamento ou acompanhamento. Isso pode ser um erro. O desenho é uma linguagem que precisa ser
explorada pelo docente e, para isso, ele deve conhecer o modo como a criança desenha.

EXEMPLO
O desenho pronto para colorir não possibilita a expressão da criança. Suas ideias, interesses,
imaginação e criatividade são tolhidas pelo desenho feito por um adulto. As próprias cores são
muitas vezes indicadas como sendo as “corretas” a serem utilizadas, impedindo a
experimentação. O desenho pronto também inibe e tira da criança o interesse pelo desenho
livre. O professor que traz trabalhos prontos para a criança realizar apenas uma pequena
interferência e não beneficia a construção dos saberes da criança. Os alunos somente
reproduzem, sem a necessidade de pensar ou se expressar. Essas atividades com imagens
estereotipadas empobrecem os processos mentais infantis.

Quando os alunos têm a oportunidade de desenhar com segurança e incentivo, eles se sentem mais confiantes e
esse ato desperta outras manifestações corporais, imaginativas, linguísticas e interpretativas. É importante que o
professor não iniba esse processo, mas que acompanhe e ofereça recursos e espaços adequados, estimulando a
criatividade e valorizando a produção.

Para saber mais, assista à videoaula sobre a expressão artística da criança e as etapas do desenho infantil.

https://www.youtube.com/embed/16uYLqzXVjs

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Fechamento
O professor deve observar o processo da criança, identificando o que ela está querendo desenhar e como ela
soluciona suas ideias graficamente. A reação positiva do professor encoraja a criança a prosseguir. Ele pode ler
ou contar uma história, cantar uma música, apresentar uma pintura, fazer um teatro e, em seguida, pedir para a
criança desenhar. Esses exercícios prévios despertam a imaginação e a criatividade da criança e o professor pode
avaliar o que o aluno compreendeu dos conteúdos que ele propôs. Desenhar para a criança é tão importante
quanto brincar e o professor precisa respeitar a produção do aluno, suas peculiaridades, desejos e seu jeito de
desenhar e pintar.

Referências
BOMBONATO, G. A.; FARAGO, A. C. As etapas do desenho infantil segundo autores contemporâneos. Cadernos de
Educação: Ensino e Sociedade, Bebedouro-SP, n. 3, 2016, p. 171-195.

CORREIA, C. C. Desenho na avaliação pedagógica e psicopedagógica. Revista Ciência Atual, Rio de Janeiro, v. 7,
n. 1, 2016, p. 12-16.

FERRAZ, M. H. C. de T.; FUSARI, M. F. de R. e. Metodologia do Ensino de Arte. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2007.

IAVELBERG, R. O desenho cultivado da criança: prática e formação de educadores. Porto Alegre, RS: Zouk,
2013.

LOWENFELD, V. A criança e sua arte. São Paulo: Mestre Jou, 1976.

LUQUET, G. O desenho infantil. Barcelona, Porto Civilização, 1969.

MÈREDIEU, F. de. O desenho infantil. São Paulo: Cultrix, 2006.

PIAGET, J. A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.

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