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PROFISSIONAL DO
SERVIÇO SOCIAL
Introdução
A ética pode ser compreendida como um modo de ser socialmente
determinado e, por isso, pensar seus significados implica conhecer os
pressupostos que a embasam. A análise sobre a ética se inicia com a
fundamentação sobre a teoria social de Marx — ética como uma cons-
trução histórica, efetivada pela capacidade que os homens possuem de
executar ações de maneira consciente e racional. A constituição histórica
do ser social explicada por Marx direciona o entendimento atual que se
faz sobre a ética. Tão importante quanto delimitar conceitos, é refletir
sobre a ética na sociedade contemporânea e no contexto profissional
do Serviço Social.
Neste capítulo, vamos discutir a ética a partir do seu movimento
histórico, refletir sobre o significado na sociedade atual e identificar o
ethos profissional do Serviço Social.
É o trabalho que instaura esse novo ser, na medida em que rompe com o padrão
imediato das atividades puramente naturais, estruturando uma atividade de
caráter prático-social: uma práxis que transforma a natureza e produzindo um
resultado antes inexistente: um produto material que responde a necessidades
sociais e as recria em condições históricas determinadas.
partilham uma mesma atividade e dependem uns dos outros para realizar
determinadas finalidades (BARROCO, 2009, p. 04).
Vê-se, pois, que estamos diante de um ser capaz de agir eticamente, quer dizer,
dotado de capacidades que lhe conferem possibilidades de escolher racional
e conscientemente entre alternativas de valor, de projetar teleologicamente
tais escolhas, de agir de modo a objetivá-las, buscando interferir na realidade
social em termos valorativos, de acordo com princípios, valores e projetos
éticos e políticos, em condições sócio-históricas determinadas (BARROCO,
2009, p. 06).
[...] a ética dirige-se à transformação dos homens entre si, de seus valores,
exigindo posicionamentos, escolhas, motivações que envolvem e mobili-
zam a consciência, as formas de sociabilidade, a capacidade teleológica dos
indivíduos, objetivando a liberdade, a universalidade e a emancipação do
gênero humano.
Barroco nos aponta aqui algo mais complexo que envolve a ética, que é a
alienação que existe como pano de fundo das relações humanas na sociedade
capitalista. Isso porque se os valores éticos nos norteiam para refletirmos
sobre o certo ou o errado, o justo e o injusto, o bom e o mau, dentre tantas
outras oposições, a sociedade capitalista nos impõe uma situação que por si
só já se apresenta como contraditória, que é a apropriação privada dos bens,
concentradas em uma minoria, enquanto a maior parte se encontra distante
da apropriação do fruto do seu próprio trabalho.
Para a autora, a liberdade de escolha, as possibilidades existentes, o valor
dado a cada uma dessas possibilidades e a consciência que embasa a decisão
final são fatores intimamente relacionados. Na sociedade capitalista o desen-
volvimento do trabalho faz com que a decisão por uma ou outra alternativa
não se limite à escolha entre duas possibilidades, mas entre o que possui e o
que não possui valor (BARROCO, 2009, p. 05).
Observa-se ainda que na sociedade capitalista, a alienação existente na
contradição própria deste sistema faz com que os julgamentos de valores sejam
baseados em juízos que somente respondem às necessidades superficiais e
imediatas. De acordo com Barroco (2009), ao adotar comportamentos orien-
tados por juízos carregados de preconceitos e estereótipos, o ser humano se
6 O processo de construção de um ethos profissional
[...] quando isto ocorre é porque suas diferenças não são aceitas socialmente e
neste caso estamos entrando no campo das questões de ordem ética e política,
espaço da luta pelo reconhecimento do direito à diferença, uma das dimensões
dos direitos humanos.
[...] uma ação prática consciente, que deriva de uma escolha racional entre
alternativas e orienta-se por valores que buscam objetivar algo que se considera
“valoroso”, “bom”, “justo”, contêm algumas mediações essenciais: a razão, as
alternativas, a consciência, o projeto que queremos realizar, os valores éticos,
a responsabilidade em face das implicações objetivas da ação para os outros
homens, para a sociedade. A questão da responsabilidade é, pois, central na
ação ética, uma vez que ela dá sentido à sociabilidade e à liberdade inerente
às escolhas (BARROCO, 2003, p. 08).
teoria e a prática, uma vez que a teoria não consegue desenvolver uma visão
de totalidade. Na origem da profissão, portanto, o ethos profissional representa
a imagem do Serviço Social tradicional e uma profissão baseada em valores
humanistas, em que não se registra a existência de um debate ético crítico,
estando a elaboração teórica da ética limitada ao Código de Ética.
Para Machado (2011, p. 36):
Machado (2011, p. 160) destaca, no entanto, que o projeto ético-político, assim como
o ethos da mobilidade do assistente social, tem o risco de perder a hegemonia na
contemporaneidade não só por vertentes conhecidas como conservadoras (p.ex.,
neotomismo, o positivismo, o funcionalismo, o personalismo, a fenomenologia e a teoria
dos sistemas), mas justamente dentro do próprio materialismo, com interpretações
do marxismo ortodoxo e ultrapassado, que, em vez de aglutinar profissionais apenas,
desune e fortalece grupos conservadores da própria categoria.
Leituras recomendadas
IAMAMOTO, M. V. Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho
e questão social. São Paulo: Cortez, 2011.
FORTI, V.; GUERRA, Y. (Org.). Projeto Ético-Político do Serviço Social: contribuições à sua
crítica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014.