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1 RESENHA
Desse modo, dado seu potencial equalizador e igualitário, abriu-se espaço para
uma nova e revolucionária, noção de hierarquia social, baseada no self pontual
tayloriano, ou seja, em uma concepção contingente e historicamente específica
de ser humano, presidida pela noção de cálculo, raciocínio prospectivo, auto-
controle e trabalho produtivo como fundamentos implícitos tanto da auto-
estima como do reconhecimento social dos indivíduos (SOUZA, 2004, p. 83).
com o habitus. Mais precisamente com o gosto, baseado nas preferências de cada um, que
pode ser fator elementar na legitimização da desigualdade.
Como a distinção social baseada no gosto não se limita aos artefatos da cultura
legítima, mas abrange todas as dimensões da vida humana que implicam
alguma escolha – vestuário, comida, formas de lazer, opções de consumo etc.
–, o gosto funciona como o sentido de distinção por excelência, permitindo
separar e unir pessoas e, conseqüentemente, forjar solidariedades ou constituir
divisões grupais de forma universal (tudo é gosto!) e invisível. [...] mesmo as
escolhas consideradas mais pessoais e recônditas, desde a preferência por
carro, compositor ou escritor até a escolha do parceiro sexual, são, na verdade,
frutos de fios invisíveis que interligam interesses de classe, fração de classe
ou, ainda, de posições relativas em cada campo das práticas sociais. Esses fios
tanto consolidam afinidades e simpatias, que constituem as redes de
solidariedade objetivamente definidas, como forjam antipatias firmadas pelo
preconceito (SOUZA, 2004, p. 85).
Nesse sentido, o autor ainda vai além da teoria de Bourdieu e elabora uma divisão
entre habitus primário e habitus precário. Assim, o segundo é o limite do primeiro. Ou
seja, é onde são alocados os sujeitos – ou a personalidade – que não consegue alcançar os
padrões esperados da sociedade. Logo, não pode ser considerado útil em seus
desempenhos e para integrar o meio social. O que torna necessário retomar os
entendimentos de meritocracia e desempenho.
Essas concepções sociais afastam ainda mais indivíduos de baixa renda e aquelas
à margem das comunidades. Os quais não conseguem desempenhar suficientemente o
que espera o capitalismo e a meritocracia. Isto é, a qualificação, posição e o salário não
estão de acordo com os padrões do que é útil para a soceidade competitiva.
Isso explica por que uma dona de casa, por exemplo, passa a ter um status
social objetivamente “derivado”, ou seja, sua importância e reconhecimento
sociais dependem de seu pertencimento a uma família ou a um “marido”. Ela
se torna, nesse sentido, dependente de critérios adscritivos, já que no contexto
meritocrático da “ideologia do desempenho” não possuiria valor autônomo
(SOUZA, 2004, p. 88).
Esse modelo que o autor vai chamar de transclassita estabelece, assim, metas de
desempenho de trabalho e de comportamento, que apenas após alcançado pelo indíviduo,
o concedem reconhecimento social. Porém, essa conquista é mascarada pela ideia de
meritocracia. O que, por consequência, faz com que a inadaptação e a marginalização
sejam percebidos como limitações pessoais; e não como barreiras sociais.
Conceitos que, inclusive, transpassam ao próprio tratamento social, eis que são
verificáveis no tratamento jurídico e econômico.
Por toda essa exploração, o autor reflete ser imprescindível reproduzir tais
conceitos de self pontual e habitus – inclusive suas divisões – para compreender o
fenômeno de naturalização das desigualdades sociais.
Com isso, Jessé Souza enfatiza a importância de compreender essas dinâmicas
para promover mudanças efetivas na sociedade brasileira, com o objetivo de construir
uma nova narrativa que desafie a "gramática social" da desigualdade e promova a justiça
social e a igualdade de oportunidades.
2 REFERÊNCIAS