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Entidade criada em 1946 e que, mais tarde, nos anos de 1990, receberia a denominação de Associação
Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (Abepss).
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críticas a elas. Essa explicação traz, em suas bases, uma postura em relação ao capitalismo,
que envolve basicamente a identificação, e, a partir dela, a necessidade de superação dos
limites que ele determina e promove em torno do desenvolvimento das possibilidades do
ser social. Essas possibilidades são produzidas por meio da concepção de homem e de
mundo que embasa essa corrente teórica, quer dizer, fundamentada em uma base ontológica
que define o ser social a partir de parâmetros críticos e propositivos ao modelo de
organização das relações sociais de produção, qual seja, a economia política do capital. Por
essa linha de reflexão, é desenvolvida uma concepção de trabalho e, a partir dela, uma
concepção de ética.
Incorporada às particularidades do trabalho profissional do assistente social, a
abordagem sobre ética adquire contornos específicos, relacionados às exigências da
regulamentação da profissão no Brasil e às possibilidades políticas que as competências que
lhe são atribuídas pela legislação encerram em seu universo de contradições. Essas
contradições devem ser compreendidas como um produto histórico, de processos políticos
construídos e dirigidos organizadamente pela categoria profissional em sua trajetória de
procuras e conquistas de uma identidade intelectualmente (politicamente) mais
amadurecida.
Expressão desse movimento são seus Códigos de Ética Profissional (1947,1965,
1975,1986, 1993), que acompanharam e expressaram essas buscas e empreendimentos de
estudos, pesquisas, debates e encaminhamentos, em que pese, em alguns casos, a existência
de conflitos, de distensões, de rompimentos, porém necessários e geradores de crescimentos
positivos para a imagem da categoria para a sociedade e para ela mesma, por meio da
construção de um projeto ético-político-profissional, que, pelos registros bibliográficos, tem
seu início em 1982.
O seu atual Código se coaduna com uma concepção de trabalho de aplicação do
conhecimento das Ciências Sociais, junto à Assistência Social, pela legitimação e pela
defesa dos direitos sociais estabelecidos pela Constituição Federal de 1988, embasadas pela
inspiração de um projeto de sociedade superador do modelo capitalista de organização
social. Com isso, a conotação do trabalho de Assistência Social sofre mudanças, saindo de
uma abordagem hegemonicamente assistencialista, focada em sua interpretação como
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benesse do Estado, para sua defesa como um direito do cidadão, por meio do qual são
dirigidas competências para a afirmação de outros direitos constitucionais.
Ética: “A ética se coloca como uma práxis supondo, portanto, uma prática concreta
e uma reflexão ética crítica.” (BARROCO, 2001, p. 65).
[...] se põe como uma ação prática dotada de uma moralidade que extrapola o
dever ser, instituindo-se no espaço do vir a ser, isto é na teleologia inscrita nas
decisões que objetivam ações práticas voltadas à superação dos entraves à
liberdade, à criação de necessidades livres. (BARROCO, 2001, p. 65).
A ética, entendida como uma ação prática consciente, que deriva de uma escolha
racional entre alternativas e orienta-se por valores que buscam objetivar algo
que se considera ‘valoroso, ‘bom, ‘justo, contêm algumas mediações essenciais: a
razão, as alternativas, a consciência, o projeto que queremos realizar, os valores
éticos, a responsabilidade em face de implicações objetivas da ação para os
outros homens, para a sociedade. A questão da responsabilidade é, pois, central
na ação da ética, uma vez que ela dá sentido à sociabilidade e à liberdade
inerentes às escolhas. (BARROCO, 2001, p. 61).
Para que a ética se realize como saber ontológico é preciso que ela conserve sua
perspectiva totalizante e crítica, capaz de desmistificar as formas reificadas de ser
e pensar. Assim, ela é, também, um instrumento crítico de outros saberes, de
elaborações éticas que possam estar contribuindo para o ocultamento das
mediações existentes entre a singularidade inerente a cotidianidade e o gênero
humano, reproduzindo com isto a alienação. [...] Quando a ética não exerce essa
função crítica pode contribuir, de modo peculiar, para a reprodução de
componentes alienantes. (BARROCO, 2001, p. 56).
Valores:
dinâmica complexa das mediações sociais faz com que os valores se desdobrem
em múltiplos significados. [...] Assim se coloca o caráter objetivo dos valores;
eles sempre correspondem a necessidades e possibilidades sociohistórica dos
homens, em sua práxis. (BARROCO, 2001, p. 29).
Ética e liberdade:
Moral:
Uma reflexão ética sobre a profissão demanda uma análise de seu significado na
divisão social do trabalho e no processo de reprodução das relações sociais, na sociedade
capitalista. (PAIVA, 1996).
A reflexão ética pode, então, ser encarada como uma das mediações entre o saber
teórico-metodológico e os limites e possibilidades da prática profissional. (PAIVA, 1996, p.
172).
imutáveis.” (PAIVA, 1996, p. 159). Inaugura uma nova concepção de homem, na condição
de ser histórico, social, prático e criador e não como ser determinado pela vontade divina.
Indica a urgência de objetivar sujeitos históricos para apreender suas necessidades
concretas (PAIVA, 1996).
– Contraposição do princípio de contradição ao de harmonia/estabilidade, e a
noção de compromisso a de neutralidade profissional. Tal compromisso se concretiza
por meio de deveres como: democratizar as informações aos usuários; criar espaços para
sua participação nos programas e nas decisões institucionais; denunciar falhas das
instituições e contribuir na alteração das correlações de forças, visando viabilizar demandas
de interesses dos usuários.
– Novo perfil profissional: o Assistente Social competente deve estar atento para a
conotação política da profissão e para os consequentes desafios de uma ação
comprometida. Qualificação adequada à pesquisa, à formulação e à gestão de políticas
sociais (PAIVA, 1996), quer dizer, à capacitação técnica, teórico-ética e política
desencadeada no processo de renovação pós reconceituação (BARROCO, 1996).
– Denúncia “responsável” (diferente de denuncismo): um elemento fundamental de
inovação empreendida refere-se à denúncia (denunciar as falhas da instituição e as falhas
éticas de outros profissionais) (PAIVA, 1996).
profissional a determinada classe social, pressupondo que seja “boa em si”, eliminando a
historicidade das escolhas morais, que, nem sempre, correspondem a necessidades de uma
classe (BARROCO, 1996).
– Legalidade: ele propunha-se muito mais a dar conta do aspecto político e
educativo, do que o propriamente normativo, ou seja, havia um privilégio das instruções
teórico-metodológicas de como conduzir a prática (PAIVA, 1996).
CÓDIGO DE 1993
Esse Código foi instituído pela resolução CFAS n. 273, de 13 de março de 1993, e
apresenta onze princípios fundamentais que balizam o projeto e os compromissos ético-
profissionais. Sua estrutura é composta por quatro títulos, seis capítulos e uma série de
artigos, organizados a partir da tríade: direitos, deveres e proibições (é vedado aquilo que
contraria o substrato dos direitos e deveres, na condição de formalizações de imperativos
éticos) (PAIVA,1996).
Nele a liberdade é reconhecida como valor ético central, junto às demandas
políticas a ela inerentes: autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos
sociais.
BIBLIOGRAFIA
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