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Introdução
Sobre a pessoa e a obra de Isaac Ilkh Rubin inci<lir:11n alguns dos mais
dram:íticos e expressivos acomccimcncos do século XX. Século de cxm:mos, como
mostrou Eric Hohsbawm, que ensejou entusiasmos, grandes e luminmas expcc-
t:nivas. também foi tempo de barbárie, de <lcstruiç;lo, de tr;1gédias.
Rubin esteve ligado à extraordinária expcriência da Revolução Russa, que
canto mobilizou formi<loívds energias colccivas para a construção do mundo, como
liberdade, criatividade e igualdade, quanto padeceu das ddcrérias consequências
da imposição do regime scalinista e sua longa vigência.
Rubin, sujeito e representante do melhor que a Revolução Russa aportou
como renovação culcural, foi uma das incont;iveis vítimas da rcpr~ssáo stalinista.
Tendo começado sua carreira política entre os mcnchcviqucs, ele foi um dos gran-
des nomes do pensamento econômico marxista, um dos mais criativos e consis-
tentes int~rpretes de Marx. Sua obra no campo específico da tc:oria do valor e seus
trabalhos no campo da história do pensamento econômico são pomos altos do
pensamento econômico do século XX cm qualquer lacitude ou pc:rspcctiva.
Junto com Preobrazhensky, outra vícima do stalinismo, Rubin foz parte do
processo incrivelmente rico gerado pela Revolução Russa cm seus primeiros anos
nos campos artístico, cicnrífico e cultural, em que se destacam nomes e corremes
__l _________________ ~r
PCNSA""CNfO EÇONOM1ÇO
12
As .informaçóes
d L' , .
biográficas aprcs d - · d
cnfll as nesta scç:io foram cxrrafdas, em sua maioria, o
amgo e JUunu 11a Vasina (1994).
80DRE. 18-'AC RU91 ... E. SUA HISTORIA DO Pf:HSAfl#f;N1'0. 13
? contc:lído das Teoriiu d11 ""'iMmlia inclui também o texto do caderno 18 e rrc~hos
l!mlados de: outros cadernos redigidos até julho de 1863.
SDllHE ISA.AC RUOIN C SUA 15
estivessem e~ses cMudos. eles jti eram sufidememcncc porente!l para ;iuwri7.ar seu
amor a dar a pt'1hlico seus resultados, o que será feiro em primeiro lug:\r, cm 18 59,
com l~mt ti crítir11 d11 ermwmitt ptJlítim, c111c reúne os capítulos sobre a mercadoria
e o dinheiro (Marx, 1974).
Os planos de Marx, cmáo, incluíam uma continuação do livro de 1859.
que é o que ele se pós a fazer, entre 1861 e 1863, quando redigiu os cadernos 1 a V
do M,musaüo de 1861-1863, o capítulo sobre o capital em gemi, traduzido para
o pormguês por Leonardo Gomes de Deus e publicado pela Aurênrica Editora
em 2010 (Marx, 1974).
l:rnto a redação de Pant 11 crítica da eco11omitl política, publicada cm 1859,
quanto a do Mn1111scrito de /861-1863 pressupõem a existência de uma chave
analítica, de um ponto de visrn teórico que permitiu ao seu autor realizar a efetiva
crítica da economia política, o que não se confunde com a operação tradicional-
mente associada à palavra crírica", que se comema cm ser paráfrase, comentá-
11
depois, o sis[cma vai a11r.sumir ainda maior amplitude com a Ciência da lógit"tt, de
1812. Mils, desde 1805, Hegel j:í se achava pixparndo para lcdon;1r a hi!-t<íria da
filosofia cm perspectiva crícica, isto é, a parcir do emcndimc:nto que: toma a pró-
pria his1l1ria da filosoÍl;l como problema filoscííico, bto é, cm que os problemas
<la hi.wiria da filosofia ~·in intcrnalizados pela filosofia mcsmil. É o que di1. Hegel:
Ver-se-á que a hi~l1Íria da filo.mlia n:io se limi1a a expor os fo1ns c:((crnos, os õlcon-
ll-C.:imcmm adJcnt:ti!. 1111c formam o seu cuntclhln, ma!. prm:um dcmomtrar como
cs\c mesmo ccm1clulo, cmbnm p;m:ça dc~cnrnh·cr-sc historic.1mcmc, na realidade,
pL·ncn<:c à ciêm:ia <la filosnfi•t: a histiiria da filmofia ~. também ela, cicmifü:a, e
converte-se, pdo <)llC lhe é e~cnc:ial, cm ciência da lilo~ufia. {Hcgd, 1961, p. 43)
M.irx. que ,omcça c;om a an:ílisc da obra de J:tmcs Sccm1rc. O prol'.cdimcmo <lc
l\:Jm:o:kv, n:t pdtka, signific;ou reordenar o material de cal modo que a primeira
J
pane 0 livro reuniu autores merc:amilisras, pré-clássicos e fisiocmrns, que, 110
ccxio de f\.farx. conscawm dos apêndices do caderno 6.
É ~sa. basicamente, a grande ahcraç;ío que Kaucsky introduziu cm rclaç:\o
30 consmnce dos cadernos 6 a 15 do M111111scri1odt 1861-1863. A sc.~uência cxpo-
siriva de Kaursky, m:J.S também calvez o exemplo do próprio Marx ao cstilhclcc;cr
sequência cronológica na exposição das teorias sobre a mercadoria e o dinhdro,
cm Para a crltira da economia política, foram as rcfcrêndas nas quilis Ruhin se
baseou par.i redigir sua História do pe1uammto econômico. O livro cem quarc-m;1
capítulos, distribuídos em seis partes, das quais a úhima. composta por apenas
um capítulo, foi acrescentada na segunda edição. São das: 1) O mcrc;tntilismo e
seu declínio; 2) Os fisiocraras; 3) Adam Smith; 4) David RicarJo; 5) A desinte-
gração da escola clássica; e 6) Conclusão: uma breve revisão do curso.
Concebido como um manual para uso no ensino superior. a leitura da
História do pmsamemo etonômiro deveria ser acomp;tnhada do estudo d11s Tr:orMs
da mais·valia e de textos dos autores analisados ao longo da obra, como os que
foram selecionados e reunidos por Rubin na compilação Clássicos d,1 economia
política do sémÚJ XVII até meados do sémlo XIX.
Ao longo de sua História do pe1ua111ento econômico, Rubin buscou mostrar
a forte interação entre a evolução das ideias econômicas e a história econômica e
das lucas de classes. Cada uma das cinco partes principais que compõem o livro é
aberra com uma contextualização histórica, que reitera a lição de f\.farx quanto às
determinações materiais da existência, dos símbolos e das formas de consciência,
determinações que rejeitam o reducionismo e o unilateralismo. Diz Rubin no
prefácio à segunda edição de História do pensamento etonômico:
Ao mesmo tempo que expõe as raízes sociais que- balizam a c~1jctória das
ideias econômicas, o livro examina a obra de cada amor buscando explicitar suas
ideias como p:mc de um sistema, de "uma totalidade orgânica de conceitos e pro·
posiç6es intcrconccrndos logicamcntcn. Para Ruhin, "é aqui que começa a mais
importante de nm.sas tõ.lfefas - temos de revelar a conexão l<>gica que une as difc·
remes partes do sb.tema ou, reciprocamente, identificar aqueles pontos cm que ca1
conexão não existe e o sistema com~m comradiç<les ltígkas" (Rubin, 1979, p. 1O).•
Como o prl>prio autor ressalta, é jusrnmcnre a nt.-ccssidadc de conciliar
cssils chms cxigêndas - a an;ílisc do contexto do qual brotam as ideias e a cxpo·
siçáo de seu sentido tec'1rico - que torna especialmente difícil a tarefa de escrever
a história do pensamento cconi>mico, dificuldade que é enfrentada de maneira
exemplar por Rubin. Por outro lado, o escudo da evolução hisnírica das ideias
econômicas é visto por ele como um meio de alcançar uma compn;:cnsáo da eco·
nomia política tcc'>rica e, cm especial, da rcoria marxiana. O vasto e minucioso
conhecimento alcançado por Marx do pensamento econômico que o antecedeu
foi fundamcnt;.tl para a elaboração de sua teoria, para a conscruçáo da critica da
economia polícica.
E."ipcramos que a publicação desca tradução da História do ptnsammto eco-
nômico sirva aos leitores brasileiros e de ouuos países de língua portuguesa como
um meio de estimular o escudo das ideias dos economistas clássicos e de auxiliar
na compreensão da crítica de l\larx à economia polícica. Confiamos, finalmente,
que a publicação desce livro seja uma oportunidade de homenagear a memória e o
crabalho de Isaac Rubin, recirando·o do esquecimenco e do silêncio imposcos em
cempos sombrios por seus algo~s e adversários: que Rubin possa ser reconhecido
com justiça por aqueles que vieram depois.
Referências
DEUS, L. G. de. Apresemação. ln: MARX, K. Para a critica dt1 tco11omia política: manus·
crito de 1861·1863. Belo Horizonte: Autêmka, 2010.
HEGEL, G. \V. F. lntrodrt(áO à história da filosofia. 2. ed. Coimbra: Armênio Amodo, 1961.
- - · Ltâo11ts sobre bt historia dt la filosofi11. 7. ed. México: Fondo de Cu hum
Económico, 2002. 3 v.
Skinncr, da lJnivcrsidadc de Glasgow, por sua ajuda t"m pc:rquirir c~rta~ p:l!.o;;agco\
crcmamcnce vagas. ~ão é preciso dizer qu( todas essas pe'isoas são isentas C.c
cX • d fi .. . d '
qu:ilquer culpa por t.-Vcntua1s e c1t.·nc1as e~tc vo1ume.
Do11n/J Filtur
Birmingham, Inglaterra
Abril de 1979
PREFÁCIO DO AUTOR A SEGUNDA EDIÇÃO•
~;o contém as seguimes adições à primeira edição dcsca obra: ~)um capírulo de
conclusão _ 0 capítulo 40 _ que fornece uma breve m·isáo do macenal tr.nado; 2~ u~
índice onomáscico; 3) um índice temitico, para tornar mais fácil siruar problemas_ indi-
viduais no contexto histórico ueral; e 4) certas adições ;,, bibliograha. Com exccç.lo do
capírulo adicional já referido, ; texto do livro não sofreu nenhum tipo de alceraçào.
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· ri, u.rur.u, i 9S~. co~eção Os Ec\,"'lnom1stJ..~.. ~
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do ~"'Uio XVI~ cno~, \rc~r.imo" uma co!cç.to de cxrrarns C..ts obrJ..'i do) t.'4:"0nomistJ5
ao '"''"º XIX. intim'·
t(O,,onri11 política' (G ·.d
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. . .a1,,;,J, ,. . I.'t'iÁ"OI. (A.'Of10"1/I
,., ., · pn11t1U ' .. 'Ctdcsir.s
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J,i.
numa ordem ma,;,. o.~11 ar/l-RSS, 19~6). º"
c:x.;..-rrns ni:!'SJ. cc....?cç.i.o foram cfo•pasto)
n.t Pl'Ocnrc- oh~. ou menos i.:orrc.·)pondcntl." àquc:.1 C'Ol c;,uc cr.itJ.mo.-. do:> ('('onomistJS
P .. to ~ AC t O D D A\! TO R .i.. ~; ( C.. V .. D A t" <"> 1 ç. A O 35
Por ourro lado. não vc:mos como seja ?OSSÍ\'i:: '.imitar o âm~iro é.e no~·"º
csrudo mais c!.o que) o fiz,.;mo.c.. H,i :-iisrnri.1dorc~ <;,uc: coml\'..lm su.l e:-..r"losiç.io
a p.1nir da t.·ra dos füiocrJtas ou de Aci.1m Smith, qu.rndo a invóti~-.h;.io c-conô-
mi...-a ji hJvi,t JS'i.umiCo a fornu. de: siMl'fflJS t<.'()ricos acab.i~os. mais ou mt"nos
<..Ol'í<.'nr<.·..:.. Pon.'·m, St.' p.utirmos desse ponto. qu.mdo a t:conomia po~íric.l l.':1.m-
tl'n1P('r.'1n~;.1j.i l'mngiu l'nl :-.u~l forma cssc:nci.1'.ml·nrc- acab.1d.1, n.Íl) p1..'CC'f<.'llh."IS
<.·vi~knl'i.1r o procc.<.so (riricam1.:nt<.." impvrt.rntt.' por m<.·io do qu.1: c:ssa cil-n.:ia
l'l'lfl ,, .~a. Av.. im (orno Uffi.l compr<.·c:ns.ío ((>mp!<..'(;\ da C.'(On1..,miJ caritJ'.isca ~
En..,uanro a economia
. rural era organi1.ada em torno do m.inso
·IJ .J --..J -
,,,.1,
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., . ...,.ni:z.ava cm guumts. onuc a P•"'-'UÇao era real;•• ,
. d. · das odades se o.,...-· . -..ua
a 1n ustt1a ,._.J,. re nl\_uuia ac; ferramentas e inscrumcntos n
11r1t1t1os. \,,.aUd mest r--- . «cs-
por mtstm . "dad rabalhava .,..ssoalmente em su• própria oficina e
, . suiaoVl ect r- . OQ\
sarios para úmero de assistentes e aprendizes. Seus produ
a auda de um pequeno n . . . . tos
J • ,_. por encomenda de consumidores mdl\•1duais quan
Qnto podiam ser ICltO& • . to
para serem vendidos a habitantes loca15 ou a cami>one
mantidos tsn escaque . . - "''
.. • reado Como o mercado local era hmaado, o .mes:io .,0..
que v1aJavam ate o me · 1a
de antemão 0 volume da demanda por seu produto, ~~ mesmo temp..> que •
técnica primária, estática da produção artesanal, o permitia ad<quJr o m!ume d.i
produção exatamente àquilo que o me~do poderia ~uporta~. ToCC1s l~(ô .m:cslos
de cada profissão pertenciam a uma única corporaÇ30 - J;U:!d.: -, cu.i.IS regras
esrriw lhes permitiam regular a produção e tom.ir c;,u.L~ucr m<"t.:!ida nc.:-cssária
para tlimi111lr 4 concorrintia - seja entre os mestres indi,·icluJ.is de uma guilda
determinada. seja entre pessoas que não eram membros da gui!da. Esse direito
a um monopólio sobre a produção e a venda no âmbito de uma dada região
era concedido apenas aos membros da gui!da vin~aCos por suas regras escritas:
nenhum mesuc podia expandir arbitrariamente sua ?rOCução ou admitir assisten-
tes ou aprendizes cm número maior do que a.c;,ue!c Cchn!G.o estatutariamente. Ele
cn obrigado a preparar produtos de uma determinaG.a c;ua2idadc e a vendê-los
apenas a um preço estabelecido. A eliminação da concorrência significava que os
artesãos podiam comercializar suas mcrcaC.orias a preços a:cos e, assim, garantir
para si uma existência rcladvamcntc próspera, não obstante o volume limitado de
suas vendas.
No final da Idade Média, já se apresentavam sinm ce c;uc a economia
regional ou citadina que acabamos de descrever estava cm fase dr drdínio. Porém,
foi apenas na época do capital mercantil (séculos XVI e XVII) que se consolidou
ª
e difundiu quebra da velha economia regional e a transição a uma economia
nacional mais ampla. Como vimos, a economia regiona! era baseaàa numa com-
binação
•
do manso senhorial lUrai• com as gwldas
. · gra-
urbanas; portanto, a dcsmte
çao da economia .• ,_;onal
.,. so• podia ocorrer com a decompoS1ção
. desses doIS
· ele-
mencos. Em ambos os casos d . de
.. •sua ecomposição se deu por um mesmo coniunco
causa.. básicas· o rápido dcsc • ·
do · nvoivuncnto de uma ttonomia monetária, a expansa·o
mm:a"'1 e a força crcsccncc do capital ma-cantil.
Com o fim das Cruzada., I diu
m:rt Is tia na dade Média tardia, o comércio se expan
os f'4 " Euroµ Ocitknta/' o Orimte (o comércio com o Levante). Os
41
em !600.
Como uma consequência do comérdo colonial, enormes qu.rnciJ,1dcs de
1 1 mrtiiis preciosos (principalmcnce pra.ta, num primeiro momento) er~tm embarca-
das para a Europa, aumentando, assim, a quantidade de moeda em circulação.
Na América (México, Peru), os europeus descobriram enorml!s minas de pr.na
que podiam ser exploradas com muito menos u·.1balho do que o empregado nas
pobres e esgocadas minas da Europa. No auge desse processo, a metade do século
XVI assistiu à introdução de uma melhoria significativa da tecnologia da cxuaç.io
da prata- a amalgamaç.áo da prata com mercúrio-, e a Europa foi inundada com
enormes quancidades de prata e ouro baratos vindos da América. Seu primeiro
ponto de chegada foi a Espanha, de posse das colônias americanas. ~fas toda essa
riqueza não permanecia lá: atrasada, a Espanha feudal era obrigada a adquirir
bens indumiais, tanto para seu consumo próprio como para exportaçáo. E foi
assim que a balança comercial negativa da Espanha resultou numa evasão de seus
metais preciosos para todos os países da Europa, sendo as maiores quantidades
acumuladas na Holanda e na Inglaterra, nações em que o de.senvolvimenro do
cipiral mercantil e industrial estava mais avançado.
Se 0 comércio com as colônias proporcionou uma fluência de mccais
preciosos na Europa, tal Ruência trouxe consigo, por sua vez., um aumenro nas
trocas comerciais e o estabelecimento de uma economia monetária. Somente
durante
. . o século XVI os estoques de metais preciosos na Europa mais · do que
tnphcaram. Tal aument 0 na massa de metais preciosos cujo valor havia · cai'd0
como d conscqu~ncia
. . da maior
· f:ac1'l'd
1 ade com que agora' podiam ser. exmu'dos,
pro
séc 1unu XVImevicavdmemc
. . um aumento geral dos preços. De faco, a Europa do
u0 v1venc1ou uma "rcv0 l . ,, . ou
iriplicara .d" uçao no preço . Todos os preços duphcarorn
m em me: 13' mas por vezes mais do que isso. Assim, na Inglaterra. por
"' t ~ ... p('IO G AJ'' 1 "'I 1.1 L " ' : 4 •:'
43
exemplo, o preço do uigo. <1ue por muitos séi:ulus rnorn[in.·r:1 um.1 i:on ... 1.11111.' di:
5 a 6 xelins por 'luarco, alcançou o pTl·c;o de 22 xelins cm l 574 e -iO xdi11' no
final do mesmo sC:culo. Emlmra tamhJm tin·,~cm ;111111cmado, O!> 1,.11.irim pcrm.t·
neccr;tm considcravdmcmc an;Í!io Jo ;HJmcnlO llos prci;os: cnquanlo as prm·i ...i 1c"
ha\'ialll se rumado duas vele.') mai!I. c.ua'S (i!ioto i:. M.'ll!!. preços h;\\'i:un aumcn1.1du
cm 100%), o aumento pcrccnm;il nos saLiriui; núo ultrap.1".1ra .~0 11 á •l 'tOºli.
No final do século XVII. os !ioõlloírios rc;1is hol\'iam -.:.1ido par.1 .1prnxim.1&11nc1w:
a metade <lc ~cu valor no começo do ~.i:i.:ulo X\'l. () r.ipido mri1JW'1"it11c·11tt1 d.1
/111rgt1t·sit1 cm11trci11/ nos séc.:ulus XVI e X\'11 foi .K11rnpanh.1du dr.: um Jroi,citn
declínio no p:ulrfo de \'ida das da!>Sl'S mais haiX.l!io r.1.1 pop11Li~.i11: 11.í l·,11np1mc"11'J, m
artt•s1inJ e os op1•r,irios. O cmpohrcdmcnrn dus 1..·.1111ptllll''l'.~ e: doe; ~u11.'"-,h1 .; ap;m:1..·cu
corno um resultado inc\•i1frcl da di!!.~olu~·,io <l.1 orJcm fi.:11ll.1I no (,unpo e d.1~
guilJas n:IS cid01<lcs.
O crcsci1111.·nto da ci:onomia moncr:iri;t ommcntou 01 1l1"m1mrl.1 dos .•01hori·s
fi·utl11is por dinheiro e. ao mc:!.mo tempo, ;1briu a po:_;,iliilir.LtJc de fi.1rm.1ç:u1 dl.'
um extenso mercado de produtos :i.grkol:1.s. Os !>cnhurcs tê1H.!ai!io <l.1.s n:11i·óe~ -.:o-
mcrciais mais avançadas (Inglaterra e lr:lliot) i:nmcc;ouam a sub.;.dmir a!! ohrig.u;ôcs
in 1111t11ra de seus camponc!.<:s por uma ulha cm dinheiro: Os ~crvm campone-
ses, cujas obrigaçóes pr~\'ias ha\•iam sido fixadas por um costume de long.1 J,na.
foram gradualmente transformados cm livrc:s :urcnd.u;.írim que t:xplor.l\".Hll J
tcrr.1. com permissão do senhor feudal. Embora tivessem adquirido 5113 lihcrJadc.
sua incorporação, a renda mostrou-se um pesado fordo com o po1!1o'ar do 1cmpu.
Frequentemente o senhor feudal preforia arrendar sua terra no1o p•lf""J pcqucno!<i,
mas para gran<lcs camponesl!S, prósperos faiendciros que possui:un re-.:ur!loo.~ p.1ra
realizar melhorias em suas propriedades. Er-.1. comum que os senhores rurais in-
glc:ses do final do século XV e inicio do século XVI exp11/sasstm ele s1111s tc·nw os
ptq11enos (d111po,,nes-an-e,,dt11tirios e "cercassem" as tcrr3S comunais (lUC os cam-
poneses haviam usado para a criação de gado, uma vc..-z que e~sas :Ír(a.' - at;nra
livres - podiam ser mais bem uriliz.adas na criação de ovelhas. À medida que as
manufaturas têxteis inglesas e fl:m1engas aumentavam sua demanda por lá, oc;
preços subiam e a cri:tção de ovelhas se tornava um negócio mais r~ntãvcl do que
Nos países atrasados da Europa (Alemanha, Rússi.:1), o crc:sdmenm d.u uoci.s monct;iria'
levou a um dcsc:nvoh•imento complcramcntc diforcmc: os sc:nhon.-s fcudai~ p.L<1sar:u11 ~C"U!>
camponeses para um sistema de corveia e exp:mdir.un a área sujeita a ~e tipo dt' l.irnur. 1•
Oesisc modo, podiam obter uma quantidade maior de gr-los 11.1ra a \'cnda.
44
05 próprios homens", disse Thomas M
a agricultura. ~-~~-um contemporâneo seu: ·~%
século X\/I.1 Ou, como escreveu
de pona em p<>rta·
t
ªª
e in usma capiraHsras l .
' que e e defendia por meio do protecionismo. E aq
ui
emos o mercamilismo desenvo' .d . .
iVI o, ou o sistema de equilíbrio comercutl
Nota
I. A citação de Thoma..;, .Viorc (: Ge UtnpitI, tivro ~ '.ed. 0r.h: ·:-~orn.h .\.'.1:.;-c, l. ·,,,/',:,,,
São Paulo: Manin!'> Fonro.'\, 1993'.. A cit.1ç;·10 :ni1._·~i.u,1ml·nt..: a ~c:~o..:.:r ~;~e ,,·_::.,r ,.,_to
identificaC.o e uaduzida cio n.1~~0.
Cap:tu'o 2
CAPITAL MERCANTil E Po~:T:CA iv'cKCA:X';~:STA
NA INGLATERRA NOS st:cu~os xv: E xv:;
EmSora ?rat;cameme roCo.'- o:i. ?ªÍ~<:<; C.a Fum?a ?r<1.ri.:;.\:•N'n1 u~'"J ~n-:r;o
mercantilista durame o ~n{cio C.o ?erioC.o ca;iira_:ista, L- com o t'Xt'm/ C.l fr:;:Ji1-
1')
ln
..... ........ ,, ...
, 51
1
SE 1J O 'E C 1,. 1N1 (!
52
seu país de origem. No século XVI, ho
d cm parte, em Uve u111a
a ser processa a, da 1• ua inglesa e um force aumento na expor _
-0 a cr taçao de
redução na exparraça
bd•Sema• 1• ,·nglcsa• a indústria flamenga de tecido entroue
tecido inaca ª · 0 d ,culo XVII, já havia cedido a liderança à lngl rn
' . começo o se aterra
dcdm10 e, no . das exportações inglesas era a lã, agora o tecido ·
Se anccs o principal Jtcm assurnia
e~~·~~o···
o seu ringimento e ' . rccido mgles era exportado inacabado. O seu aca~-
ram rcal11~rlnc n~ 1-1 .... 1......t ......... e ............
CAPITAL MERCANTIL E POLIJICA ,_.IERCA ... TILl!lTA 53
54
__ 1 A burguesia procurou cada vez mais estende
a ollrica esrar.u- . • r sua
seu reRcxo n P __ , . lo para acelerar a trans1çao da economia fe ,_,
• . bre o EsrauO e usa- u....,
in8ucnc1a 50 ·ra1· As duas revoluções inglesas do século XVII for
nomia cap1 isra. arn a
para a eco . ões da burguesia. De sua parte, o Estado rinha u
nírida expressão das asp1raç • . d . d• . rn
. 'd d volvimenco do comercJO e a m usu1a como un1 rn .
interesse no rap1 o esen . E . cio
. rio poder e de enriquecer o tesouro. . assim. 0 sisrcrn
de aumenrar o seu prop . . a
'líb . rário aquele velho, obsolero coniunro de medida. restritivas
de equi 1 rio mone 1 , • • •
ramh~m ~nine 11S colôni11J. l/m;1 lt·i iruiml.ul.1 Ato d« N.1\'1.:g.h.,.h1. ph111111l!~·1d.1 pc1r
Cromwdl t'l11 J(,';), proibiu a t•xporr.1,.10 Jc: proJuh>' d,,, 1,:olt".111.1' hri1.'uli1...I-"
a qual,1uc.·1· cunro pilÍ-" qur 1ü11 a lnghunra: d11 111L· ... n111 11H1d11. 1lll'f1..11li1n,1 ... " '
pmlc.•rí;1111 -"l'T c.·111rc.·guc.·!'r> ;,_... lolôni.1 ... pnr um1c.·r1.·i;tnh:' inµle\t''· 11 ... 111do 11.1dn., J.1
Ingl<1tt·n;1 011 dt' \Ua\ tolimi;1 .... A nH.'\llla ll'i l'!ll<1hdc.·l i,1 l(Ul' 1t1d.1-. .1 ... nh·11... 1dori.1!1
impom1d<1!1 para :1 lngl.ttl'rr.1 rinham de.· !lc.•r tr.rn:-.por1.1J.t.,, p.,1 1t.1\ 1t1 .. inglc.''it'"' ou
perU.'llll'lltt"!I :10 paí~ omll· ;1"' ITit:'n:•1doria!I for.un proJ111id.1 .... 1-......., uh i111.1 mt:diJ..1
era dirigiJ.íl dO\ holandc!IC!I, 1.:uja frm.1 mc.·ri:anrc.· .1h:m:o1v.1. :1q11dc1 épol.1. um.1
grande: parecia do" cran1iponc.. mundiai . . l' c:nnfCl"ir;t .w p.li . . o mulo Jc.· ··c.:;urc-
gadores da Europa". O Aw de Navegação de!lt~riu um font· golpl' nm 11anspor-
tes holandeses e foi essencia1 para estimular u ue.o,dmentn J.J m11ri11h.1 mf'n:.mre
da lnglaierra.
As políticas do período mercantilista posterior, implementadas para ex-
pandir o comércio exterior e promover o desenvolvimemo dos transportes e d;11i
indústrias orientadas à exportação - desenvolvimi:nro do qu;1J aqude l..":omc.'.-rcio
dependia -, eram mais adequadas a um grau superior do desenvolvimento do
capitalismo mercantil do que as políticas da primeira fase do mercamili,mo. Em
contraste com o mercantilismo primitivo, i:m que as exportaçõi:s eram limitadas
a um pequeno número de sraples. o mercantilismo desenvolvido c-ra e.\-p1111sw-
nüta, visando à máxima extensão do comércio exterior. à conquisca de colônias
e à hegemonia no men:ado mundial. O mercantilismo primici\'o cxc-rciJ um
rlgido controle sobre toda tramafãO (omercial individmll: já o mercanrilismo
avançado restringiu sua regulação do comércio e da indúsrria (ambos cresciam
rapidamcmc) a uma escala mais ampla, naâonal. O mercantilismo primitivo
regulava diretamente o movimento de metais P"ciosos pard dentro e para fura
do país; o mercantilismo avançado buscou atingir esse mesmo fim regulando
a troca de mercadorias entre o pais e outras nações. Os represemantcs do mer-
cantilismo avançado não desejavam em absoluto atrair para o país 0 máximo
volume de merais preciosos: o Estado visava, fundamemalmenrc e anres de mais
nada, melhorar as condições das finanças do governo; a classe mercimti/ consi-
derava uma grande massa de metais preciosos uma condição necessária para 0
j 56 " ........ . ,1'.l"''-' 1
$ [ U Uó. ' - ' '•: i •.>
subsisúr sem sua assistência. A política mercantilisra andava de mãos dadas com
a ttgUÍaráo estatal de codos os aspectos da vida econômica nacional. O Escado in-
terferia no comércio e na indústria com uma barreira de medidas concebidas para
guiá-los na direção desejada (carifas ou proibição de importação e expo11açáo,
subsídios, !tacados comerciais, leis de navegação, etc.). Ele impunhaprrrosjitosa
'"""pagos ptla mão dt obra epor artigos dt subsistência e proibia o consumo de
artigos de luxo. Garancia a decerminados indivíduos ou companhias comerciais 0
direito dt monop61io sobre o comércio ou a produção industrial. Oferecia subrúlios
'conrtrróts dt tributos a empreendedores e, para estes últimos, arregimencava do
estnngeiro cxperienccs mestres-artesãos. Mais tarde, no fim do século ){VIII,
"'.'" compreensivo! politica de regulação econômica acabaria por enfrentar uma
v1olcnra oposiçã0 d •mcrgence e recém-consolidada burguesia
ª . ·mdusm'ai' maJ•
durante a época do capi'cal'ISmo primicivo, quando ela correspondia aos ·inte..,,..
da burgun;,, com.n · l cal pol"
ide .1 na' mca enconcrou apoio compleco e to e
cal nu< os
o ogos daquela classe - os mtrrantilistas.
Notas
J. As •fábricas• eram asscntamenro!'i comerciaio; murado-ç, :iutos~uficiC"ntC'~. ond-:- mer·
cadorcs estrangeiros ficavam alojados e faziam seus negócios. Muito frcqucnrcrr.cntc,
rodos os mercadores vindo~ de fora da <.idade cm qucn.in ficav.m1 hmpdaJ,,:, no
mesmo csrabelecimcmo. Ao momo tempo, no entanto, d.u ~t: 10rn.ir;;rn (1 pomc1 de
panida para muhas dali nov~ a.uociaç.õcs mcn;.imh l}UC iriam n.h,c:r nc~,.1 épo.:J.
2. Grande pane desse controle cabia aos Juiz.ado!> de Paz, que tinh;im uma J.mpla gama
de poderes para regular o comércio, a..\ ta.."<as safari.ai~. eh.:. cm rod.t J. cXlcm..ío Jo pais,
e não apenas no âmbito das guild:u municipais.
3. A pollcica da s111plt er<1 mais do que um simple~ meio de can:J.lizar e reHringir o
comércio; por proporcionar um monopólio sobre o mercado local .1 toda companhi.:i.
mercanril que dde dispunha, o direi(o de o1cc:sso:.. Jlllpl~ se tornou um "bjcto J\'iJa-
menrc cobiçado na Coroa. O uso que Rubin faz do rermo uhscun."(c a \'erdadcira
origem da insti[uiçáo, que cr;1 um meio pdo qual cidades p.micularcs tenu,·am se
estabelecer como centros comerciais medianh: sua (ro1nsformação em principal '"local
de conrrouo" (con10 os italianos o c:ham.iv.im) para o c:omCrdo de drfas mercado-
rias. Uma vez atingido esse obje1ivo - ..:orno cm Bruge.~ e n.a AnmCrpi.i. que us.ir.1m
a poliria da stAp/r para se constituir cm grandes ..:l.'ntros de mercado -, o prôx.imo
passo era tenrar usar cua concenuação paro. alimi:nw a produção e o comCrcio loca.is.
Capitulo 3
AS CARACTERISTICAS GERAIS DA
LITERATURA MERCANTILISTA
E foi assim, desse modo gradual e hesitantL', qut se produziram _ n.i forma de
ferramentas auxiliares na resolução de q1wtóes relativr15 ,1po/itic,1 nwiOii1tw .. a\
primeiras manifestações daquilo que viria a si: tornar a cifoli 4 lOllli:nipor~;nl'a
da economia política.
Nocamos ameriormenre que a política mcrcamilisu era J e.\prcs~ão da
união entre a Coroa e a burguesia mercantil cm desc:nvolvimr:nro, t' qui.: ,abtr se
o mercanrilismo a'isumíria um carácer burocrático ou burgul-.. . -capiralis!a era algo
que dependia das forças rdacíva.1o das Jua.~ forças sociais cnvnlvid.b ni.::.'t' b!oul
temporário. Em paí~es atrasados como a Alemanha, onde a hurgucsi,1 era fr.1c:1. era
o lado burocrático que predominava; em paísc'i avançado,, do' quai~ ,1 lnglatt..'rra
era o mais norável, preponderava o lado capitalisra. Em com:spondl·1wJ .1 c'i~c
estado de coisas, a lircratura mercamilisrn alemã assumiu hasic.1m..:1ltl· ,1 pcr~
pectiva do oficialismo burocrático, ao passo que na Inglaterra d.l r1..·A1.:ri.1 a visão
do comércio e dos negóáoJ. Para usar a descrição alramc:mt..' apropriada dada por
um economista, as obras mercantilistas alemãs eram cw·nôalmcnrL' cscriw. por
oficiais e para oficiais; as inglesas, escritas por ncgociantc.1o e p.ir.1 n1..·g;oci.HHL'~. Na
atrasada Alemanha, onde o sistema de guildas ainda .1oubsísriJ 11..·nazmcnn:, Jcu-se
um esplêndido florescimento da lirerarura "camcralisra", dcdicad:1 principJlmcmc
a questões relativas ao gcrendamcnro finam:eiro e ao controle administrativo da
vida económica. Já na Inglaterra surgiram. a partir de discussóL's sobre problt:mas
de política econômica, os precursores daquelas ideia!> que mais carde si::riam apro-
priadas e desenvolvidas pela escola clássica. Ao tratarmos da litcrarur:i mercanti-
lista, teremos sempre cm mcnrc essa escola comL'rcial-mcrcantil qui.: constitui seu
corpo mais avançado e característico. Recebendo sua mais clara formulação na
Inglaterra,• ela exerceu a mais profunda inffuência sobre a evolução futura do pen-
samento econômico.
Um rei que deseje entesourar muita moeda a:m de se empenhar com tod°' °'
bon!i meios em manter e inacmenw seu comércio exterior, pois esse ~ o 4nico
caminho nio apenas pata levá-lo aos seus próprios fins, mas também para enriqu..
cer seus súditos. o que lhe garante um benefício adicional.'
A moeda acumulada pelo tesouro estatal não deve exceder aquele nível
quo corresponde ao volume do comércio exterior e da renda nacional. De outro
modn, "toda• moeda num tal Estado seria subitamente açambarcada pelo resou~
do principc, 0 que destruiria o cultivo da terra e as técnicas manuais e levarl•
:. ruína, "':to da riquna pública corno da privada". Um colapso econ~ini~
. a (•Moa da h• h"l"d
pm·aria ' 1 ade de uma proveitosa a tosquia de seus súditoS •
A.<>1m, a própria Co
roa tem todo .interesse em empregar aóvamenre medidas para.
promo1•cr o Ct«cimenco do comé . d • didas possalll agir
tcmporariam~nre . reio, mesmo on e ta.IS me caso ela
contra seus 1n teresscs 6sc:ais, como, por exemplo, no
63
Pois quando o mercador recebe uma boa encomenda ultramarina de seu ce<:ido
ou. outras men:adorias, ele imediatamente retorna para comprar uma quamidadc
maior, o que eleva o preço de nossa lã e outraS mercadorias e, consequentemcnre,
awncnra as rendas dos senhores rurais {•••].E como, também por esse meio, mais
dinheiro ~ ganho e uazido para o Reino, muitos homens pas.sam a ter condições
de comprar terras, o que acaba por cnCU"eo:r seu prcço.6
Ver capitulo 6.
s4 Havia. pa~m. uma
questão sobre a qual os inceresses de arnb
. 1d d' • . as as dos
i . cidiam e náo mostr.1
coin 1
vam 0 mínimo sma e 1vergenc1a: a explora _
"dões de camponeses sem-terra e de arruinado
Stl
o;ao da ri.,,
_ t
1 ba/JuuÍ4••· As mu a s anesaos
"" d I ·ficados e 05 mendigos sem-reto descartados pelo 1 'º'
bundo• esc as51 co apso da
•""P . ral d guildas foram um objeto bem-vindo de explora .
econom1.1 ru e as . . Çao Para a
. . para a agricultura. O l1m1tt kgal estabelecido par.
indúsma.. assim como n os iafáno
viva aprovação, ranto do senhor rural quanto do bu , '
obreve. em gcral • 3 . ... . . .. rgucs. o,
mercantilisras nunca deixaram de se queixar da mdolenc1a dos trabalhado.,,
ou de sua falia de disciplina e baixa adaptação à rotina do rrab,tlho industrial. Se
0 pão est:i barato. 0 operário uabalha apenas dois dias na semana, ou 0 que for
necessário para assegurar as necessidades da vida, e o resto do rernpo é livre P"'
diversão e embriaguez. Para fazê-lo trabalhar numa base constante, sem inter·
rupçócs. ele rem de ser submetido, mais do que à coerção estatal, ao duro Hagdo
da escassez e da necessidade - em suma, à coerção exercida pelo alto ptc:ço dos
cem.is. No início do século XIX, a burguesia inglesa confrontaria os propricti-
rim rurais pela redução do preço dos cereais e, consequencememe, redução do
preço da força de trabalho. Mas no século XVII, muitos mercantilistas in~""
escavam em pleno acordo com os propriecários rurais na defesa dos alros preços
dos cereais como um rncio de forçar os trabalhadores à labuta. Chegavam acé
mesmo à alirma\,âo paradoxal de que cereais caros tornam o trabalho barato e viC<-
·vctsa, uma vez que o alto preço dos cereais faz o trabalhador empregar à SlLl
arividade um esforço maior.
De aconlo com Petcy, esccevendo na segunda metade do século XVII:
"observado por Clothiets, e por outros que empregam um grande número de
pessoas pobte5, que quando os cereais são abundantes, o trabalho dos pob"'
é proporcionalmente caro e diflcil de conseguir (pois são ião licenciosos que
~ham apenas para corner ou, mais ainda, para beber)". 8 Disso se seguequ<
ªlei que estabelece tais salários [... ] deveria conceder ao trabalhador apenas 0
escriramen1e nccessári0 . d b le ir.ibalhi
para viver; pois se ela lhe concede o o ro, e
apenas ª metade do que podctia ter trabalhado· o que para o público. repies<•~
umapen! d ~ ' ' em
•1• . a os ruros de tanto trabalho".• Para Petcy, não há nada injusto
imitar os salários dos 0 b vantagem
,_ P res, de rnodo que eles não 1irem nenhuma rn
uc seu rernpo 0 · . f'etl)' te
de se encarregarCioso e queiram trabalhar".'º O público na visão de
desses . . , ' do que
' os
dcsc •ndividuos inaptos ao trabalho; do mesmo mo nl'
tnpr<gados, eles <fev · ·-•' na'°
eriarn ser encaminhados ao 1rabalho nas mh-•
65
truçáo de esrrad:is e edifícios, erc. - uma política recomendável porque i'.· c1.pv,
de "forçar suas memes à disciplina e à obediência e seus corpos :\ pacic?ncia para
aguardar o surgimento de um rrab.ilho mais rcnrávd tiuando :.l ner.::cssiJJ.de a.:;sim
o exigir". 11 Em sua defesa dos inrcrcsscs do jovem c1piralisrno ,;: sua pn:o..:upa-
ção pela conquista de mercados c.Hrangcirm par;i os comerciantes e c.::xponadorcs
ingleses, os mercantilistas estavam naturalmente preocupados ..::om a mobilização
de uma base adequada de mão de obra disciplinada e barata. o~ mcrcamilis-
tas defendiam algo scmdhanrc à lei de ferro dos s,ikirim cmbora apcnas cm
forma embrionária. Todavia, de acordo com .t narun:za geral de sua domrinJ, tal
lei ainda não Jparccc como proposição teórica, mas comu prcscriçoio prádca: a
visão mercantilista ~ J de que o salário do trabalhador náo deve exceder os meios
mínimo.s necessários para a subsistêm:ia.
O ponto de vista cumcrcial-merc~ntil d;i literatura m.::rcamilista inglesa,
que emt'.'rgc tão daramcntc.; t'm sua atirudc com as diferences classes sociais,
também deixou .mas marcas no conjunto de problema.s - e suas soluções - que
constituíam seu objcro de inrercs.se. f: muiro frequente a afirmação de que a
doutrina mercantilisca seria redurívcl à ideia de que os metais preciosos são a
única forma <.h: riqueza. Adam Smith critica duramcme "a noção absurda dos
mercantilistas de que a riqueza consisre na moeda". E, no ::mamo, ral caracreri-
zaçáo é bastante injusta. Os mcrcamilistas consideravam o aumento na quanti-
dade de metais preciosos não como uma fome da riqueza da nação, mas como
um dos sinais de que essa riqueza escava crescendo. Apenas os mercantilistas
primitivos permaneciam intelectualmente confinados na esfera da circulação
monetária. Os teóricos do mercantilismo desenvolvido, com a doutrina do "equi-
líbrio comercial", desvelaram a conexão entre o movimento dos metais preciosos
e o desenvolvimento gcral do comércio e da indústria. Muita coisa ainda restava
superficial nessa análise da in[erconexáo entre diferentes fenômenos econômicos.
mas ela escava livre das noções ingênuas de seus predecessores e, desse modo,
abria o caminho para o futuro desenvolvimenco cicntí6co. Devemos, agora,
passar à descrição do conteúdo e da evolução das visões mercantilistas.
Notas
1. Apud R. H. Tawney, &ligion and therist ofcapiu/Um, Londres: John Murray, 1964,
p. 34-35.
2. Traduzido do rwso.
_i. ~fun.d~o i~:~:oh:.<~'.:~;~~;'..mde. in: Ear(J• m~lish tmcrs
Th1..im:1'>
.t_
·\.fun. • J ~Rrn:M1....Culloch.
fni:?IJn · .. º" "º"'111tl"rt,
originalmente publicado pelo Poli . I
cJ1wli1 rl1Í • . 1 fica Eco
J 18 ,6 n:imP""'º para a Economic Hiscory Society d ••rny
Club. Lo~ ~~. ~ ' · · • a Cainb .
Uni"crsir)' f'r<ss. 1954. P· 188-189. rirtg.
;, lhid .. p. UJ.
e.. lbid .. r· H~-
1biJ.. p. 1.1.i.
s. Sir\'<'illioun Pc[ry. Pofüical arirhmt-rick. .in: 7he tro11omh-11·ri1m,~ . Pr
•..of"s·rr \\''·rll1t1m
:, ''··editado por Charles Henry HuJI. reimpresso por Aup,wcu~ ~ t. Kcfü· N "J,
196.1. "· 1. p. i74 led. br.1S.: William Petcy, Aritmética pt'liric.i, in: el/n··. _º"ªYork,
S;o Paulo: Abril Cuhur.J. 1983. coleção Os Economisus i. "'""'••miras,
9. Idem. . :tnd conrributions.. in: Ecoum•r"·
.., A m:.uise of.. taxes 1,·mhigs. H ull edition
p. 81 [cJ. bras.: William Ptrcy, Tratado dos impostos ~ contribuições, in: '
.. ,_
Obw ironõmiC11S, Sáo Paulo: Abril Culcural, l 9tB. co( ... -:i 0 •Js E~onommas].
- . --·
!O. lbid .. p. 20.
11. lbid.. p.31.
Capilulo 4
OS PRIMEIROS MERCANTILISTAS INGLESES
que tc~Clrrilm a da com mJis ag:ressi\'idJdl-. A Coroa emitia novas moeda~ com
,1 ml"~rno \•alor nominal das anteriores. porém contendo uma menor quamidadc:
Je nll'lal. Ma!<i umJ \'Cl que l':iS.U novas rnoc-d..1s. embora mai' ll·vc~ do 4uc Js J.n-
rcriml'!I Jl· ffil'(mo \'alur nominJ.I. cinham sc:u valor lixado lcg;1Jmcnrt.:. :mn.iva-sc..·
rentávd cnvi.u ,1 mot:J.1 JrllitP p.i.ra fora Jo p.iís a fim de 't:rcm t\:ÍundiJJ!> ou
truí.".l.JJ..s por moeda . .·str.mgdrJ.. l) fa10 dl!' que, assim, a mocJ,1 ruim 1.''.\puh.1q .1
mocJa hoa dd cirrnlJçjo Joml~~tica e J transferi,\ p.u.i. 'l c\Ecrit)I fo1 ll\•l.1Lll1 f't'I
7humilJ Gresh1tm. um dM primeiros men.:anciliscas, .:m m. .·.tdt':-O Jt, ~ ..·.:ull1 \\'l. . .
passou dc:sdt• t.•mão ,1 ~cr cunh'-'ddo (omo "lei d~ Grc~h.un- F,1i 1.1 ill l'.1~ . .· lll'~!>.J 1
dewJlorizaç.ão dds moed.1!1 ingle~dS que tlS primc:!iro!< mt'ri.:.m1il l~l.1!1- ._·,p\1\..tr,un .t
<leprcd.1çãu da moeda ingles.1 i:m rclJç.'io à hol.mdc:s.1 ~\.l'llll' 111..li...idt• rl·L1 dl.'tl'·
rior.içáo da 1.1x;1 Je dmbi(i do xdini) e o fato de ")Ut' il\l.'C,1i~ prl·,il'!<•'" .;.'.,l.1v.1m
s.:ndo c:x:pon.1J1),. PJCa rcrn~Jiar º·' males dct dc::'v.1ll'ri1.l,:h' .l.t n;,,....,Lt ...Lt pinr.1
da raxa. dt' dmbio ~ Ja fuga consrnnre di: moeda parJ t~lrJ. •l• p.tt:-. ~,:- rill·r"-.mtilio,;~
t;.15 dc:.fendcram "COt'fÇ~io l' J imc:n.·cnç.fo dirc:l.t J,, [,t,\d"' 11.1 ot~r .i J.l ~ir"·ul.l.~.lli
.L~ ini •.:i.li' ''\'\'. "·" Cht'gnu-~(' .1 L"\pccul.H 4ul· ,_.u .rntor ÍIW•L' ninblh.:m nh·nn~ Lk•
l1ur \'\'illi.1111 Slukt:'r~·JrL", nu~ :l ('pir:i~\· gn.1'. .k.1hnu pnr .mihui-l.1 .1 \X,.illi·Jm
\t.díurd 1 \fUd1h mú, lút'lllL'~ _-,uh_·l . . ,_l r..i.11 1.1u.· o \i, ro, ~mhur" l'llhli ... J.Jo cm
1-)t'J. l,1:. n.1 \nJJdL, l''Lrit•• l:lll \").jlJ p1.): J1J111 ~11.... Em nn"a txpl1~i1r.\l1, l'
dL·,1~11.11, rn •• , 111111•1 11\ir.t ,Jt' l lJ\t-, ( \utfun.i'. 1
\ .iln.1 !~1i l\111u n.1 f(•Tn\J ~k 1:.11;; Ll•nn·r.. Jç.rn cnm: rt";i1i.~L·nuntL'S r.lt·
d1fn.·nk, • !.10.,·, d.11u•pt1:.1~.1" litn ,.1·:.1lhcin1 !nu pmprkt.lri1• rnr.1\1, um f.w:n-
dcir" í11u, .1p.11,111. urn 111t·r1 ,,.J.,·. llm -<flc\jJ, 1.: ,1111 tcúlni;n. Fi.:.1 L'\'i1.L11t-· q11c .l
t'i\1111111 ·. \j11(\,.t .1, opinio, d1· .t•1:t1r un \li,\ krll.lli\.l J1.• rt\.1•1h·i~i:r n\ im,·r..:\'>c!-
.._\r".L" ll.h\L'\ \111.iJi'>. 1~)1.lu• •1uc •n•1i.1m ;1;HtL !\{) Jl'h.ltt' rn.l.un;:.ni ..ln .1\to
\ .dL11 d11\ pk·1,L1\. l' t.1tL1 t!lll t~ 11;.l ,l-'l'' · .i:Jr .\ L ulp.1 ..\0,1.· f:i.1t1 n·i ~tprl.'\cn!.\ll~l' Jc
Unl.1 \)lJlí.l d.t~'l'. 0o (_rq\ht.::f•• ••li'•v,:.: q11·~ ,,, Illlf(,\Jnt1.:\ .\UnlL'ntU.101 I.lncú
11\ prt\1'- li.ti mcr1.JJ1'ri.1" L\Ul 11, pr1\F·!,·1.1rit1, rur.ú.., '..<.: \'i.1:n diJntt: J.1 t:\((1lh..1.
1..0líl' .1h.rnJc1n ...ir ,ll.l\ pL)pridJJ,._ ·-~: í'J...~,.:r do tul:ho do ·ulo :1.tti,·id.iJ~ mais
lu1..r.iti1 ,\ d.i •. ri.1";-J.'' dl' lr:l·Jh, '· \) i°.L·t·!;2-.:i~< •<.1p.H.l/ q111.:i\,l-1t.' 1.\1) úrt.:o J,\.'a tt.:fíól.'i
Jl' p.1:-ti. 1.· ,l.1 .i\t;i ~cnJ.1 qul.'. :.:k 1inh.i J...: p.i.g.ar J.ú~ :;c:nhon.:.-> rur..1.is. O m..:rcador i.:
ú .l((l'.'>;hl r.Ut'tl'nt .li~ÍUh t..Ll!ll <J .l<J.m..::lrll ~fC)1.<.:0t;: Ju•, ~.1\Jrio,.., Jc,~ trJbJlh..1.dorcs
... pd.1 Lpl'J.1 lhl .:ornCr ... in.
() t1.·tlk1~{) bu,..:Jrll.h.1 (t111cili.ir º" i'ltl'k~sc~ dn!i d.rim p.:irtidm, t'XpÕc·lhcs
J.' ..:.iu).1\ Sl'r.li;, .:!u . . rc<>n.:m . . . 1:mpL'hrt.:cimenrc• Jn reino: 1 depreciaç:í,1) e dete-
ririrtlfâ11 d.1 llwt'd.1 mgi(.;,:...: J ,·xp,ir:.;1-.i1J d:· dm/1áro lt'q11idJ que d..1.i .:.h.:ctlrrc. ;\s
mocdJ.-. in~l.:~.lS Jc vJ!l'f pldr~miI.id0 l.'.:-rfo saind0 upidam.:ntc Jo pJb: "todas
J!'.i t:oi~J...' icnJl·m .1 .lfluir p.u.t 11 lug.u 11nJc ~ln nui~ nlor\1..:1.Ja~; . . . pnr i'~t), noss.o
te~ouro 1.:sd. indo cmbor.1 rn1 nJ\ lu:'~ .~ Além Jis::io, essa dcri.:rioração no va.lor da
mocd..1. 1.·ncue....-..'.u muih1 ,h mi:r.:JJoriJ:- import.tdl..-., criplic.mdl1 ~c::u-; prcço:i.. Os
mercador...: . . cqr.rngsirl1:- .1timum que n:u.1 csüo vendendo \UJ.S mcrcaJnri.t.'> por
um lucro nuior Jtl "\llt' .mt1..:~, lll.L.., que sjo forçJdos .i. .1umtmarem ~cu:i preços
em vimh.ll· d.1 .:.·fl1-.:111 1h1 \,t\~1r J..1.. mot-da inglesa. Nos~a moeda, (Offil' ~e s,\be.
rcm ~cu prci.,\\ Jl'tlni.:.ll1, "nJ.o pt..H :.cu nome, m.u. tpclo~ ulor e pd.11.j,uantidad.t:
Jo 111.l(lTi.11 de "\lll' l Íl·it.1".' Por outro laJo, os preços d.is mer..:.iJori ..1.$ qu ...· os e.s-
crangcirn:-. üllllprJm na lngl.itt:'rra aumçnuram numa meJiJ,\ menor. Vendemos
nosws produto~ - em especial nossa.' mJt~rias-primJ..'>- m.1is tiar.itos, t: º"' e5tran-
geitos ClS transformam cm mercadorias indu ... ui~1i~ que- no~ ~ão vendidas de volta
mai!. cara.,, A.\sim, com a lã inglesa, O!. i.:~trangdro:-. fabrium roup.b, casa..:os, >.alc:s
e mtrcadorias do gl!nero; com o couro ingli:.>, f.ucm ..:imus e: luva.!.; com o latáo
. _ . Ih.,., e pratos. e todos os artigos acabam impor d
im?;le.. t.m:m 1..0 e e:. t:a os d
-
pd. ln~IJterra.
1
·~la
Qui: .mt'·•·
alWi. somos nós, qut' \'emas e sofremos uma tal C!<lpol'
. iaç:io. con .
homens rrabalhariam ;,, cusra dos esmmgeiros;; rod.1s J.s tax;ts seriam 'nossas
1
Um dia rcrguntci a um encadernador "por que não tínhamos papel bran<"
111
marrom fab nca
· dos no reino, do mesmo modo como eles eram fabricados
. . d<
além-mar" · Ele· encao,
- respondcu-me que até pouco tempo houvera fabncaÇáO
. ur
· do remo.
papel no imet1or · Ate. que o fabricante percebeu que nao
· podia comi"
ar [•I
com 0 papel mais har:un \•in.1n A... .. 1~ ... L ............... ccim foi forçado a abandol1
1 ' " •Mf I• C•., ,, 1 I< •.a li 1 IL
71
fabricação ~l· papel. E n;io h:i por qu"· •t>pr~·cndê-lo, poh ninguém "''t:tri:t dhptH!o
~ P~ar mais pelo papd apcn;L'> pdo fam de de tl't sidu fabric.lt.10 aqui; nu~ cu pr::-
lcrma que .,i,: .i c.:11tr;1J.1 J11 (l.lpd ?lo p.1Ío;, HI q1 1c de li\'l"'>'>C ~illt1
ti\"c\'>1.: impedido
tio sobrc.:arrcgado com t.ua.~ <JUc, llJ l:poL.\ ..:m '-luc foi importado. nu~~a gemi:::
pudc:-.sc pag.ir pdu p.1pd dm c:~tr;mgciru~ um prc1,•> tlll'nur J,, qut• .1.qudc que cb
mamo~ Pílf..l\"J.m pdo ~cu prúprin p.ipd. ·
•
7~ ~ . , -'
, de bens estrangeiros rncrouuL.hJu~ ;-,~ ~),u.s .. iaJ conce -
. no 01.uncro críodo em que o cap1calismo inglê . Pç.ao
.:onrraç:a0 . . enrc: l um P s ainda n·
rresnllndia ptrtctralf1 ava-se em rransiçáo; e em que a burguesia . ao
"' ,~ 1 'd 'enconrr. ,. . ingles
dC"iCnvo \'I 0 • porração de maccraa.1;-pnma.s. ainda . a,
csu\·J corre na ex . nao Pod·
1.i
. rtiitindicando um
de enconrrar ·
amplos mercados no exterior para os pr d
. . 0 Utos d
ª
1
Notas
Aobra aqui atribuída a Hales rraz o título A discours• of th• common wt41 of tht
'.'a/m o/ England' foi reimpressa pela Cambridge University Press em 1983· O
hvro arribuido a St>fford bl· rode
• pu reado cm 1581 sob o título que consta no te>J
~~-d- .,.
ç.ao ªque Marx se refere no primeiro livro de O cap1ta11 •
l<><menrc do original h . d dºror.
. 'e OJe se considera que "W. S." refere-se às iniciais o e i
l</a de Stolford ou náo Todas . b ·dgc de
· as citações são extraídas da edição de Cam n
•
A di!cormr ofthr rommon wrttl. Dif~n:ntcmcnrc.· do caso das obras dos mcr<::ancilisra..,
posteriores, ahcramos a grafia do texto para adequá-la ao u!'o moderno, pois, de
ourro moJo, o tc.'XU> tlifidlml·nu: por.lcri.l :.cr i.:omprccndido. No entanto, não mo·
dcrniz.amos ,1 linguagem: ondl· inserções ou mud;mças Sl" fizeram necessárias, das
foram c.:uluc.:adas cnm: colchelc.!i.
2. J-fales, A dúcorme o/1/J,•,·0111111011 ll't.'11/, p. 79 .
.~. lhiJ., p. 1O!.
4. hto l:, a!i rua.~ apli1.:01da.' pelos países estrangeiros sobre a imporraçáo de matérias-
·primJ!i inglesas.
'i. Isto.:, j .... u.~ra J,,!i c!icrangciros.
(J. 1-foles, A diJcourse ofthe cummon wea/, p. 64-65.
,. lbid., p. 65-66.
li
Capitulo 5
A DOUTRINA MERCANTILISTA EM SEU APOGEU
ThomasMun
Cf. capítulo 2.
rti 1 ,u 5ll'nrJr su:i.'i ;iti,·ilLHll'-" cnml·rciai-.. Narur<t/n-h:nr
.. ciJc1 ,·111111
1 rcri.L ••., .10 ata<.JUL' furio.,<l d11~ dt:frn~orc:~ d e,
\ 1;í.:ncJI' n.1• . ·a1«·ir;1. por _Ht.1 'L. . . .· .- , , . . o Velho
'nh1Jl..;r.11J. J • J1 ,l:,:u/11 :\\li. l\pro ..... l\.l-:-.<.. .1 \'l.\:io d
J1.L'1111J __ .. Ji fll' hlll ( · _ . __ e que
,..~!fl~IH1 .. \Ul ' . · ·..1us;1r:l ,\ rlllll.l d1..· !-!,l.l!iJl' rarr1: d
r.bini-· ,.._ . inJi.1s l)flL'rH.U~ L " . . .. - e nossa
• . •(1ll"í..:it1 ..:1 1!11 - 1 ~ I Jíl i:vit.i-b ; no 1111(111 do '><..'Clllo. ral con .·
') '' - 'l ,f t:1,·.1 Sll f~ ,
,I .. · . \JCÇ;io
inJu~Ir1.1. ,J!l' tl.•• . • ! Fr.1 irwvir.ivd qLh.'.~l' º-" p.trm..l.mn:-. Jo cornércio co
.-r.t f'f.\tl'-·l!lld:!•' unin~.1-. ••Ulllt'nt;If L'tHltí.I .t prnihi~·an geral da t.'X rn
. )ril11r.:i.• yu1~-~~tn1 .u.:- . . . .. . .. ·. - . . . . porra.
J) JnJi~-· l . . I · 1., ·nnl!HT uma 1.rHh.J d.1s \ lH11.s .l!lth1uJd· d
',c,l.1. ,k.' 1;·11.1111 ( l ( ct .. . . . . " , .l.\ O.\
,.i1 1 J.- 11 ·' . ··nrili~r.1.,. i'.u.i ~ç lipM .w vdlw ,,1.,tt·111.1 11111111..·unu , de, J[ni:seri.
pri111,1r.,• m.. r..., . l .. . ilihrio i.:om1:H:ial". As tlt1v.1s vi~t1c.; rcn·hcra
Jflíll ~m:.t n111·.1 [C1'ri.1 t i1 n1u . . . , . • ~1 sua
i . mti' brilh.1ntt' iw lino Jc:: um Jo.s J1rt·tnres d.1 l .lHllp.mh1;1 das lndias
ê\prc'-'·w 1 ; 11~m.i~ .\fun ( 1ÇJ-1 (1·f \ ). in1irubdo () 011·iqll,.,_;,.,ouo d, 1 f 11gf.turrra
l1rid1tfü.
'.l:.iiglmd;· tn't1Jtlft l~rjimw~i:11 mid,·i. A 11hra dt.· Mun _que,
Jr .:i,·nt.I ;:nt [(iJO. sÓ l~1i puhlii.:aJ.1 rosrum.~l~ll.'IH<.' l"lll 1(1(14 - l'Xtmpliilca
;p;.•.;;Jf
mdlwr Jli ~u~ ,1u.i1qui:r llllffJ J literarura mt·n:.uuil1st.1 l' St' tornou, nas palavras
de Encd~. ··l, l'i.rngdlw mcrcrnrilisra" · 1
~~lun n:-w ,·11nrN:t .1s Jourrinas anteriort's sohn: ns b1..·nefícios que a aqui.
iição Jc ffil'L!b prcLio5ns trJZ para a n:u;ão, ou. i.:omo de chamava, a mulriplíca-
ç.io Jl· seu' ~lôtiuro~"'. O que de argumenta C:- que: tais "tesouros" não podem ser
muhiplicJdo~ por mdo Je medidm coercitivas do Estt1do p11m reguiar diretamnut
,, ármli(.Íli 1i1011rúrit1 (proibição da exportação de moeda. taxa de dmhio fixa,
mud211.;as no comeúdo me1álico das moedas, ecc.). A entrada ou saída de metais
precioso~\~ cond.Jcionada por uma balança comercial posiciva ou negaciva.
Pomnro, o único caminho para aumencar nossa riqueza e nosso ccsouro é o comir·
cio tttrrior, no qual lemos sempre de observar esca regra: vender para os cscrangei-
ros ~um \-alor maior do que deles compramos. Pois suponhamos que, ~cando 0
reino m6cicnicmcntc Jbas1ecido de lccido, chumbo, esranho, aço, peixe e ouuas
mcrcadori.l!I naciva.1, exportemos anualmente o excedence para ourros países pdo
valor de 2.2 milhõe~ d /"b aics
e 1 ra.s, e que i.::om essa soma possamos acravcssar os rn
ett.1.ur ffit'rcadorias est . ·1h ·es de
libr.u· ~ . , rangeira.s para nosso consumo, pelo valor de 1 mi 0 ,
. e manrivesscmo~ es.sa prárica regularmencc em nosso comércio, podefla·
mos estar certos de ~ue o . ·j Jibra5i
· remo se enriqueceria anualmente cm 200 nu
rncrcmcntando o ltsouro da nação.1
. ·orno n:suha<lo dt: 11ma
Em outras p.1bvr.1s. v t!inhcim Jluird pt1ril n pau ~ . n <~hjctivo ~ inno-
. . [k.;-..1 pn:mi1':-.J, segue-se que. ~e: . . . <l' i"rcan-
b,,11111_.t (1111/t'ffiid pnsittt'll. 1 - ·~'\IV L'i ' li ....
,.u . . ., ) n -1,' .í obr .1 da:-. rcg;u açoc!> t•xcc.
:·l'í , - •
du1ir <linheiro Tlll pai~. is t • lídL.l l'LonúmiL.1 ;thran~l·nl<.', qm
dlismo primili\'ti, nu:- (l n· . . uli.alo tk ~11n.1 Pº . .- indúscriJ.~
l J,1.., orientada,')
. . • -· 1 ('llf nu.:10 d.1 proOlll~,ll ·
mdhtirc n cquil1bnn ((lmi.:rt1.1. , ·1·brio t11m1.:n.i.1\ p•>tk :-.cr . . ustcn-
.1t1 cr.lll"!Hlíh: l' :1 l'Xpt1rt;11;.w. ( J.!f,lllH.'Tlt..:. i• lll_lll 1 ·I .. l ws:w das
. JlfllÇH' Je O\CH<ldntÍ.I!-. qu.l!llO \)l .1 tXf·
t.1Jo r.unn pnt tt'.rtl·~ n.1. tllll e t ~'l'~ m.\i,, .1 JikrnH,..l h111d.1n1l'n1.1l t·1Hlt' tv1~n- e
t•xpn1t.1•.;m·,, Aqui 'L' no1.1. um. . 1 1 f Ji llll 1 proib1çao
.. . (), nll'fl;ltllili:-.1.1:-. dt) Pl'IÍtHlt} iflllL.I ll' l'll • •.
\t'U:-. pr..:dc1..t 'M 1rt:-.. I . . 1 i 1, 1..·..,tr.11\~t·lf,l"; Mun,
. ·J11 ·i.o n.1 imp1Hr.1\.L<1 t t' \\ltlL.ll ~ir•·
J.1 t·:qwn.1<,.10 t' um.1 ll \· . , 1. ,, nn .Jc,cnvoki111l'nto tl.1 c·.-..porltlfÚO J,•
por <111trn l.Hl11 .•1p11 ... 1.1 ..,11.1:-. t..,pu.11 t,•. . l ).., k vbt l t:r<l da
. l r . . . 1 ditl.·rt'll\·l, <..'111 :-.t'll . . n: ... pt:dl\10.\ pon t . t .• '
nun-.ulrm.u "~.(:·"'·'·! 1 ,;r:n~i..,:11} .. r.1du.1\ tl.1 lngl.1rt·rr;l, ik i1m:1 n.1,·,\o tplt' importa
mc~m.~ um rc tXO t , : • . u111: iui,·.-10 que cxpona :-.u.1s prúpria.'> m.rnufoturas.
m.rnul.m1r.1:-. c..,u.1ng.1..n.1" .1 . 1 1 •r(;ultil
. '\11n ljl 1r1..·ü· t11mt1 o rl-prc"c1n.1n1e J1..· um c.1p1t.1 n t
N1·..,s.1 t<lllJUntur.1. '' · ' • . - 1· . ·
cm pr<Kt'.S·'º tle .lt\Uisiç:ltl de novo.., mcrcaJos '-' que ,1spir:.1 .1 cxpansao l e:: suas
cxpnn.1~í1c,, F.nqu.mtn .1 prl·ot.:up.1çáo de Hah:.., {Stafford) t:r.1 J Jc proLeger o
mcrudo Jom;..,rilo J,1 inva....lo Je mcrca<l1>rias cstrangcir~1~. \.lun sc concentra na
conqui.,t.l Jc ml·rc.ido' t'Xtl'rnos p.ua a Inglaterra. É verdade.~ claro que Mun não
ti:m nadJ contl a .1 redu,·áo da importação de merc:.tdoria~ e~trangciras; mas de
rcjcitJ 0 ~ método.'> antcriormeme usa<los para atingir t:sse fim, isto é, a proibição
direta. Para dt:', rai~ medidas ap~nas incentivam oucros países a fazerem o mesmo,
0 que prejudica, cm grande parte, as exportações inglesas, quando para Mun o
objetivo principal~ justamence a expansão dessas exponações.
Mun reivindica urgentemente que o comércio de exportação e as indús-
trias de transporte e de exportação sejam encorajados e expandidos. A Inglaterra
tem de extrair benefícios não apenas de sua produção "natural", de seus ex:ceden-
ces de mat~rias-primas. mas também da produção "artificial", isto é, de artigos
indusrriais de sua própria produção e de mercadorias importadas de oucros países
{fndia, por exemplo). Para isso, é preciso haver incentivo, primeiro, para que as
matérias-primas sejam crabalhada.o; pela indúscria doméstica e exportadas como
produtos acabados; e, segundo, para desenvolver o comércio de transporte de mer-
cadorias, no qual a produção de nações como a Índia será imporcada para ser
revendida a oucros países a um preço maior. Essa "reelaboração" de matérias-
78 e' ~·I."' '·•
d i·is csrrangeiras são exaltadas por Mu
. . . .. ·n.-nd;I' de: nlc:n.::1 or . . -.. n corno
-prinu:- t n; . ·mcnto d~1 naçao. a.
. . do enriqueci . -
narur~us nao nos trazem t
lirilu.:ipJI. torne . qul' n~issa!I me•rGtdorias
. anto lu
··.s:tbc.:roo~ . .. . . ~ que 0 valor dos canhõc~ e rifles. preg era
... Jú!'rn;I , umJ \C:: • os e ªrad
quanto nCl!i!l·1111 -om que: des são fahm:ados. assim como Os
. r do qu< o aço L o preço do
é muito maio d lá Consequencemenre. "Jcvcmos consid
..·J ~ m.1ior do qm: o a . . ...\ . . erar asas
t1,;(;I 0 • • ,. •• • do que ;J. riqueza natural . e: i: cssc:n...:1al que ·l .
. r ·s como n1;11s hu.:ra\dS •. . e as se1arn
:1r '" .. d O que: é nccessano e ganhar mercados para a ex _
fortemenc~· encorap.. a~.·ndusrriais. mas isso . .
so
,
sc=ra
.,
posstvd
ponação
M ..' pudermos d' .
d
de nossas mc:r..:a onas i tnunuir
st:US preços.
Podemos [... J ganh•lí o máximo que pudermo~ com .1 n:n1..b de.· manufaturas,
e rambém \•endé~la.c; a um preço alco. desde que is.~o n;hl ..:ausc uma diminui-
ção na qu.mridadc d~ vendas. Mas quanto .J.qul."k· i.:x1.:cdcmc de mercadorias que
05
estrangeiros i;ompram e que cambém podem obccr de omras nações. ou que
podem sub~rituir- e com mais facilidade - por mcn.:J.doria..c; semelhantes de outros
lugares. m.-sse caso. temos de nos esforçar cm vcndC-las o mais barato possivd, a
fim de não perdermos a primazia nesse mercado."'
mação sofrida pela economia inglesa de meados do século XVI a meados do sicul•
· . mercantilistas era a de que o preço de". ndi. do
)(Vil. A reclamação dos primeiros
tecido inglês
. era demas ·iadamenre baixo: alguns dentre eles defendiam
. a adoçáO
de medidas
M . para a elevaçao • 0 ca de
. dos preços das mercadorias exportadas. Na ep
un, a sl[uaçáo era our
ta • d ra: ªexportação de matérias-primas cedera ugar ª
1 . apor~
çao e produtos induscri . b ora. '°m
a car E d 3.Js aca ados, e a Inglaterra se confrontava, ag
eª e expandir seu pocenci·a1 exportador e deslocar seus vários concorrenrc>
Onde não se podia deter um monopólio do mercado, crJ preciso c!.magar os l:om-
petidorcs c.:scrangc:iros h;1ixando os preços.'"
A laboração de m•H'-~ria~-primas e a cxporcaç;in de manufarnras domC"-
ticas n.10 podem ser a l111ica fonte de.: lucro para o país: lamb~m é pn·dso haver
de produtos t'S/r1mgárm. Aqui. ;.1 preoi.:up11ç:io fundamcm;1I Jc ~·1un é
1-et1t·11tl1
defenda o cumérdo J"· transpom.· de mcr,adorias - c.·!oopc:ci:ilmc111..: com .1s Índias
Orientais - concra. os ataques de seus oponcnccs. ;vtun Jrgumcma quc •1 impor-
caç;io ,Jc m.:rcac.fori;i_., cstrang1.~iras e sua subscquenrc "·xponaç:lo I.'. r"·vcn<la para
ouuos paísc~ trazem riqueza. canro para o rdno cm geral como par;1 o tesouro
real. Espcd.1lmc111e lu..:r;uivo é o cr.tn)ponc de mcn.. .idorias para lugares longín-
quos como as Índia\ Orienrab. Essas mercadorias coloniais podem ser adquiridas
por uma ninharia: urna libr11 de pimenl.1, por exemplo,~ i.:omprac.l.1 por rrês pt'uce
e vendida por vinte c quatro pe1w· no~ mercado!> da Europ•t. O lucro de vinte e
um pt'lli"t' n;io lii.:;1 int1.·ira1111."nrc com o 1111."rcador, evidentemente, um11 vez «lUC os
gasto!> J;,1 navc:gaçáo de long.1 distáncia !'láo enormes, incluindo c.:ustoc; das cmbar-
caçôcs, da o>mrJ.t:iç:10 1.· m;111uten\âO <lc marinhdros, do !lcguro. <lils tarifas alfan-
deg~iria!'I. e.li." impo!>Cll,, cu:. ~l.1s quando o cranspone C: feito em n.tvio!t ingleses,
c:.sas soma) 'ão gasta!> intciramemc no!> porto!> da lnglacerra. o que enriquece este
país :t expensas dos ourros. 6 "Olm.~mos um luc;ro maior com essJ.~ mcn:;tdorias
das Ímlitu do que aquelas naçõ<.·s de onde elas provêm e à!> quais da!> pertencem
propriamenre. sendo part1.• da riqueza natural de seus países."":" Nesse caso, o de-
senvolvimento Jo c.:omérdo trará um benefício maior para o país do que aquel~
que !>Uas riquezas ··namrais" poderiam propordonar por si mc.!smas, sem scn:m
frutificadas pelo comércio 1.· pda indústria.
O que provocava objeções ao comércio com as Índias Oriencais era o faca
de que, como vimos, eh: necessitava da exportação de moeda como pagamento
A necessidade de baixar os preços a fim Jc 'ompcrir com su,csso por mcr,ados estran-
geiros foi <.1bscrvada pdos mercantilisras do fim do século XVIl. Chi/d escreveu: "Se fosse
apena~ uma questão de 'omércio, poderfamoi., 'ºmo dit. o prO\·érbio, ter o 'ontn1lc Jc
qualquer mc:n-ado que- quisé.\!>emos. Ma.s nas c:"ondi~ócs em que atu.ilmcnt"· no.s encon-
tramos, em que cada nação prucura apoderJr-sc da maior cnrn p11 1hívd Jc çomércio.
outro provérbitl se mosua apn1priaJo: l)U1.·111 quer lucr;tr d"·nuis .1caba por perJl!'r tudo"
[tr.lduzido do nmo - N. do T.I.]. Também D'A1't'111111t afirmJ 1.1uc ôlpcna.. rnm o preço
baixo do rrabalho c Ja.,,. m1.·rcadori;1s mô\nufoturaJa., ~ pos~ívcl rn;mrcr unu posii;•\o i:om-
pedtiva nos mercados estrangeiros. ToJoo; 1.·sscs argumento$ expressam dara e inequivo-
camente o pomo de vista do mel"C"ador-cxponador.
· pirradil.) J,... iJ~.;.. ~-· !..:.'..:;.. __ : .... ~ ..., 1v1un
, 4 ,~;:i.,. 1u,· . . r.t!n 1m l se Pro.
1_~.;.' ,. ·'h... l .. \ ' .... "i , e contras da exporcaçáo de moeda para f
i .-.·Ih·· 'l'br~· ,..,~ pn1s a ndi
·n1;1,· .; ... ~! , , \·: .. . o cxccdemc das exporcaçócs da Inglaterra ba.
"'5 que
... ,-~lo i... :m.•. m11.1ml so re
"t' ,,,,,' ·_ d ,
•
d· , 00 mil libras esrerhnas. e que essa soma ingress
"l' 1 ~ i:-:H'l'rr'.1~-oc.:" .:1.t e; - . e___ ava no
· ·· - . . A questão que a1 surgia era: o que "'''" corn
., 1 :, ~--,p;,1 dinheiro 'r'I''º· · d Cssc
'·· ' · . • . 's à proibição completa a exportação de di h .
.~j~~dtn: o\queles tavora\el . _ . n Ciro
.. · 1 devcria permanecer na Inglaterra, pos1çao a qual M
.u:on!>Clha,·am que (e un se
opunha ,-igorosamence:
Se f..• ]. uma vcz acumulada uma soma de dinheiro por meio do comércio, decide-
-si: manter essa soma imóvel no interior do reino, isso fará com que ourras naçãcs
consumam uma quanridade maior de nossas mercadorias do que o faziam ilnk-
riormcnrc. de modo que possamos dizer que nosso comércio está mais intenso e
maior? Não, na verdade isso não produzirá tal efeito positivo, mas, anta, com 0
passar do tempo. podemos esperar que se produza o efeito contrário. 8
Num ral caso, a moeda ficará guardada dentro do país como tesouro mono
e só se tornará uma fonte de ganho se for novamente colocada em circulação
comercial. Suponha-se, por exemplo, que, dessa quantia, 100 mil libras sejam ex-
portadas para as fndias Orientais, e que as mercadorias compradas com essa soma
sejam, então, revendidas em outros países a um preço muito maior (digamos, a
300 mil libras). Evidentemente, um lucro considerável será obtido pela nação
como resultado dessa operação. E embora seja verdade que o número de merca-
dorias importadas aumentou, isso serviu apenas para gerar, posteriormente, um
crescimento ainda maior nas exportações. Os oponentes do comércio com as
Índias Orientais objetam que, enquanto o dinheiro é enviado para fora do país.
0 que se recebe em troca são apenas mercadorias. Mas se essas mercadorias não
são para nosso próprio consumo, mas para revenda futura, a diferença inteira
entre seus preços de compra e de venda tem necessariamente de aumenrar. "seja
cm moeda, seja cm mercadorias a serem novamente exportadas". "Aqueles que
têm mercadorias não podem querer moed a.. , pots, . com sua vend a, e• o btido um
lucro.' Toda quanridade de moeda que exportamos para a Ind1a · . retorna Pªra nós
aumentada por um lucro. "E • assim, - vemos que a corrente de mercad orta · s que
deslàlca nosso rcsou ro se torna, mais. tarde, um Ruxo de moeda que o ennq · uec•
· "'º Um pats
numa quantidade muito maior. • pode obter um lucro enorme quand0
,
export.1 !'lia m1,i:d.1 p.1r:1 .1h.:111.k1 .l.' n..:Ll''~i,i.1.Jl, d .. ,,•nhh·•· ,_i, :. 1i1··r··.. ·, L-
mcn:aJNi;1,.
Poi\, ,,. O\H fi'lr;:Hn\1\~ .1r«n.1• º'" •.,.-... , '~" ~!!l"l•L•''"' n.1 <"\'••1.• ,,,, ,.1.11~;;,, ·l'I ;n,lP
dl' fon\,1 ;1 ll'rl,1 11111,1 ~:r 11\th_ •p1.1Pr1,J.i.lr ,1\ r,1õl1•• ,, 111;'0.11,·n•,,. •1.\!'· \''''•,li\ l11u~n
do qut: pu1 11111 1~11.ul11•1. m.;, •t ,.,n,i.lu.1111·,.,. wli 11.ih.~:h,. n.1 ,,,:11,·11.1, 'lu' ,·
u ubjcti\·u ,1, i,.,j,, •• ,, u ''lli'l·11~·.. '· \\ h '!l"' ,, 1 .l;u: ._ .. p10• ,.,,,. ,h -. 1t.t• .tt,li,, ' 1
84
:,.,.; <Xttrior é o resulcado lógico do papel d
r. ·ram ao com~,·~0 este último
que eles CODi<n d lucros imensos e como atividade que proporciona uni •.
0 uma fonte e 'd . .,. a rap1<fa
com . . E embora essas duas i e1as mercannuscas foss
i"1;áo de cap1t1Jts- , ern ma;,
acum1 "di •arizadas como absurdas, e.as reAetiam, não ob
carde cruelmente n cw. . . ,. . sta.ntc, as
_ . da era mercant1l-cap1tai1Sca e os mteresses reais da
condições hisc6ncas .,. queras
.. uem os mercanth!Stas acuavam como porca-vozes. Vi
classes soci:11s para q ._ _ •sto quo
• edominante dos mercannhstas era com qucscoes de ,. .
a preocupaçao pr • _ . , . po.1c1ca
. . que a teoria econom1ca estava apenas em sua int.\ncia. c'es s
ccononuca, e 1 , • • • ~ • e con..
cencavam com fórmulas teóricas mai desenvomdas e mg<·nua.<, desde que l'<s·
d às demandas práticas de seu tempo. O !eg.tdo .:;uc nos foi de ad
ponessem . . ' · •xo
pelos mercantiliscas não é uma teoria econômica que '1b.tr.:;ue a cociidade dos
fenômenos da economia capitalista, mas um corpo de ob!".ts .:ontendo apenas
concepções teóricas rudimentares cujo desenvo!vimenco e consolidação foram.
deixados aos economistas posteriores. Assim, as di.<tintas .:orrences da doutrina
mercantilista - uma tratando do valor de troca e 6a mooca, a Outra do lucro e
do comércio exterior - tiveram destinos diferences. À mocida que as con.:!içõcs
comerciais foram se alterando e o capita!ismo inCustri.L se Cesenvo~vendo, o caráter
fa!acioso da teoria do comércio exterior como única fonte de !ucro tornou-se ól>vio.
A evolução ulterior do pensamenco econômico ;>or obra dos fisiocracas e da escola
clássica acabaria por derrubar a incerprecaçáo mercanri:isr.a do comércio attriort
do lucro. Já as teorias embrionárias do valor de troca e da moeda desenvolvidas na
litcramra mercanti!ista mosuaram-se, ao contrário, ca;>azes de Gesenvo!vimento
teórico adicional: apropriadas por esco:as posteriores de economiscas e libertas
da con.'usão ingênua de valor de croca com dinheiro e de dinheiro com ouro •
prata, essas ceorias emJrionárias seriam, mais rarde, reromac!as e aperfeiçoadas. O
profundo inccrcsse dos mercanti!iscas pelo prob!ema do comércio e pdo processo
mediante
• o qual as mcrcac.onas• - sao • trocadas por dmhe1ro
. . permmu-1 -- 'hes ro
' rmU:as
um numero considerável de ideias correras sobre a narureza do va!or de troca e
sua
. ..
forma monetária. ~ · . d ,_ .~.se os
.. o interior a uceratura mercantilista, encontt,,,,. ..
m1c1os
. de
• _uma teoria do lo b Ih 1 d u...nce
va r-tra a o, que desempenharia wn pape. e ,,.-
unporrancia na evo!ução suJsequente de nossa ci~ncia.
Notas
1. Engels, Anti D"l · F ·c<irich
- umng, Moscou· Pro
Enoc's An . D'· . ·
" b" h
gt"as "u llS crs, 19
69 'c<l
~ ·
bras.: n , Jc
º " ' tz- ülmng. Ri0 de Janeiro: Paz e Terra, 19771• :-;a verdade, a fro;cC e
A OOUTR:ltrrfA MEACA,,.Tll.ISTA EM SEU APOGEU 85
Marx, e não de Engels, pois foi Marx quem escreveu o capitulo sobre o desenvolvi-
mento histórico da economia politica do qual a citação é exuaida (segunda seção,
capítulo 10, .. Da história crítica"). Sobre o Jivro de Mun, Marx afirma: "Esse escrito
teve, j:i em sua primeira edição [A discottrse oftradeftom England unto tht east ináies,
1609; a edição de 1621 foi reimpressa em McCulloch, 1954, p. 1-47 - N. do T.l.],
a importância específica de se voltar concra o sistema monttdrio primitivo, à época
ainda defendido na Inglaterra como prática estatal, e, desse modo, ele representa a
autoSJcp11TtJf1Í1J do sistema mercantil em relação ao sistema que o gerou. Já em sua
primeira forma, o livro obteve várias edições e exerceu uma inAuência direta sobre
a legi~laçáo. Na edição póstuma de 1664 (England's masure etc.), inteiramente rec-
Jaborada pelo autor, ele ainda se manteria por vários séculos como o evangelho do
mercantiJismo. Assim, se há uma obra do mercantilismo que tenha marcado época
' 2.
[...~.trata-se desse livro" {.Anti-Dühring, p. 216).
Mun, England's trc:asurc, in: McCulloch, 1954, p. 125.
3. lbid., p. 133-134.
4. lbid., p. 128.
5. lbid. Xessa passagem, Rubin parafraseia o ccxco de Mun.
6. Mun, England's creasure, in: McCu!loch, 1954, p. 130-131 e 136.
7. lbid., p. 131.
8. lbid., p. 138.
9. lbid., p. 137.
10. lbid., p. 139.
11. lbid.,p.141.
12. Charles D'Avenmc, An essay on the East-lndia trade, ecc., Londres, 1697, in:
D'Avcnant, Disco11rses on the public """'ues~ and on the tratk o/E11glllnJ... , parte II,
Londres, 1968, p. 31. Apud Mane, Karl, Thtories ofsurplus value, parte 1, Moscou:
Progres.s Publishers, 1969, p. 179 :ed. bras.: Marx, Karl, Trorias da mais-t111/ia, 3 v.,
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980;.
13. Peny, Political arithmerick, in: Hull, .&onomk um"ting.r, v. 1, p. 256.
14. lbid., p. 258.
Capítu:o 6
A REAÇÃO AO MERCANTILISMO
Dudley North
88
"dade de moeda é a consequência de um cr .
um aumento na quant1 escimento
do comércio. · · • pu'bl"1ca, propensa a atribuir da
"d . comum na opmiao
Essa não é ai eia . to .._
• . • escassez de moeda. Quando um negociante não co
ragnação no comercio a . llsegu.
suas mercadorias, ele conclui que a causa disso é
encontrar mercado para • .• a quan.
. ufi . de moeda dentro do pais - uma V1Sao que, no entanto, é pro-
tidade ins ciente
fundamente equivocada.
Porém, para examinar a qucsráo mais de perto, o que querem essas pessoa, que
clamam por dinheiro? Começarei com o mendigo; ele quer e importuna por
dinheiro. O que ele faria com o dinheiro se ele o tivesse? Compraria pão, ct~
Então, 0 que de quer não é, na verdade, dinheiro, mas pão e outras coisas ne-
cessárias para viver. Pois bem, o fazendeiro reclama, pois quer dinheiro; cena.
mente, não pelas razões do mendigo, para sustentar a vida ou pagar dívidas, mas
pensa que, se houvesse mais dinheiro no país, ele teria um melhor preço para seus
produtos. Asi;im, parece que não é dinheiro o que ele quer, mas um bom PK\O
para o seu grão e o seu gado, que ele venderia se pudesse, mas não o pode.2
Medidas designadas para recer moeda dentro do país servirão apenas para
retartÍltr o comértio.
Se uma lei for feita, e, mais ainda, for observada, estabelecendo que a nenhum
homem é permitido levar dinheiro para fora de uma cidade, país ou divisão par-
ticulares, tendo liberdade apenas para transportar bens de rodo tipo, porém sendo
obrigado a deixar para trás todo dinheiro que leva consigo, a consequência seria
que uma ral cidade ou país seria excluído d.o restante da naçáoi e nenhum homem
ousaria negociar em seu mercado levando consigo seu dinheiro, porque ele ~
obrigado a comprar, quer queira, quer não: e, por outro lado, o povo desse lugar
não poderia ir a outros mercados como compradores, mas apenas como vendedo-
res, não tendo permissão para levar consigo qualquer quantia de dinheiro. Ora,
tal conjunto de leis não levaria rapidamente uma cidade ou país a uma condição
miserável em relação aos seus vizinhos que vivem num regime de livre-comércio?'
O mesmo destino triste se abateria sobre uma nação inteira caso ela intro-
duzisse restrições similares ao comércio, pois "no que diz respeito ao comércio,
uma nação no mundo é, em todos os sentidos, como uma cidade no reino, ou
uma família na cidade".6 O ideal de North é que o comércio mundial seja tão
livre e irrestrito quanto possível.
Um país que, por suas leis e decretos, retém sua moeda, mantendo~a em
reservas ociosas, infüge a si mesmo um prejuízo.
Nenhum homem é mais rico por ter sua propriedade toda acumulada consigo,
em djnhciro, pratarias, etc., mas, ao contrário, isso o torna mais pobre. Mais rico
é aquele homem cuja propriedade está numa condição de crescimento, seja sob a
forma de terras para a produção, de dinheiro que rende juros, ou de mercadorias
para o comércio: qualquer homem que, repentinamente, transformasse toda sua
propriedade em dinheiro e a mantivesse morta sentiria rapidamente a pobreza a
esmagá-lo!
iucro mator.
• Em l 621, Culpeper, um velho partidário dos interesses rurais• escreve•:
Onde
. . quer que 0 diruheiro . seja caro, a terra será barata, e onde quer que o
d
mheiro seja barato , , réstl11'os
forçam ª
' terra sera cara. , ...; Os altos juros sobre os emP
a v~nda da terra a um preço menor". s .
Apoio para as ciem das d or de iurOS
veio ramb' d an os senhores rurais por uma caxa men ._, ·"~
em e cerras se • d . • . eeiaornv·
aquelas . , çoes burguesia industrial e comercial, esp . ~·
ª
que tlll..'lam inter
esse nos negócios da Companhia das n as
f di Orien
A flEAÇÃO AO MERCANT11.1Si.tO 91
do dinheiro que se empresta a juros nessa nação, apenas uma décima parte é usada
pelos comerciantes, que o utilizam para administrar suas atividades comerciais; a
maior parte é empregada para suprir a luxúria e sustentar as despesas de pessoas
que, embora grandes proprietárias de terras, gastam com mais rapidez do que suas
· terras lhes podem suprir. 9
Um limite legal à taxa de juros apenas criaria uma situação difícil e precária
para aqueles comerciantes em busca de crédito e exerceria uma influência retar-
dadora sobre o comércio. "Não são os juros baixos que tornam o comércio maior,
mas é o comércio maior ~...~ que torna os juros menores", aumentando a acu-
mulação de capitais e estimulando 0 invescimento. 10 Se a taxa de juros deve cair,
isso será o resultado de uma livre expansão do comérdo, e não de uma regulação
compulsória. De modo que "será melhor para a nação deixar que captadores de
92 O ME.ACA"° • .~
Notas
l. Dudley North, Discour.;es upon trade, in: McCulloch, Early english lrtU:ts on
commerce, 1954, p. 529-530.
2. !bid., p. 525.
3. lbid., P· 531.
4. lbid.
5. !bid., p. 527-528.
6. lbid., p. 528.
7. lbid., p. 525.
8. Thomas Culpeper, A tract against usurie, Londres, 1621. Citações traduzidas do tusso.
9. North, Discurses, in: McCulloch, Early English tracts on commer«, 1954, p. 520.
10. lbid., p. 518.
11. lbid., p. 521.
12. lbid., p. 518.
13. lbid., p. 513.
Capitulo 7
A EVOLUÇÃO DA TEORIA DO VALOR
William Petty
Todas as coisas que são compradas e vendidas têm seu preço aumentado ou
diminuído na mesma medida cm que há mais compradores ou vendedores. Onde
há um grande número de compradores para poucos vendedores, o preço da coisa
a ser vendida será barato. Por outro lado, se surgirem muitos compradores para
poucos vendedores, a mesma coisa encarecerá imcdiatamente.1
Quando se fala em valor de troca, este só pode ser considerado "num dado
lugar e num dado momento"; não se pode tratar do valor de troca sem nenhuma
base fixa e objetivamente determinada.
Essa ~egaçáo de toda regularidade determinada por leis por trás da formação
~o preço foi também uma posição defendida pelos primeiros defensores da teoria
aa utilitÍ41Íe
. • •· holas Barbon,*** um contemporâneo inglês de Locke foº
sub7'· tiva. ""
1
um ativo participante d f.eb re d a especulação que se abateu sobre a Inglaterra
ª '
Sua obra An inquiry into the principks ofpolitical wmomy foi ?ub!icada em 1767. Ve•
100 o t,iiC"'C""NTll.•Sr,10 E SEU occ1.1NIO
O mérodo que utilizo não é muito usual, pois, cm vez de usar apenas palavras
comparativas e superlativas e argumentos intdecruais, resolvi seguir o caminho
[... ] de me expressar em cermos de número. peso ou medida; de usar apenas argu-
mem:os empíricos ~arguments ofsense~ e considerar apenas aquelas causas que têm
seus fundamem:os visíveis na narurez.a.
&sa obra foi publicada posrumameme em 1690. Suas demais obras incluem A trtatist of
taxes and eonrributions, publicada em 1662, e 7ht po/iti,a/ anaMmy o/lreland, publicada
cm 1672.
" evoi.uÇAO OA TEOl'U1' DO VJl\1.0R 101
naquilo que lhes conferia uma unidade. É verdade que Petcy não escava plena-
mente conscience das dificuldades envolvidas na pas5agem de dados estatísticos
individuais para amplas generalizações teóricas, e que essa simplicidade o levou a
fazer generalizações apressadas e a estabelecer derivações que se mostraram com
frequência equivocadas. No entanto, suas conjecturas e hipóteses apresentavam
invariavelmente o grande alcance do gênio e lhe garantiram uma reputação como
um dos fundadores da economia polícica moderna e precursores da teoria do
valor-trabalho.
Como mercantilista, para quem a troca de produtos por dinheiro tinha im-
portância decisiva, Petty se preocupava especialmente com o problema do preço,
entendido não como um preço do produco no mercado, acidentalmente deter-
minado por causas "extrínsecas", mas como seu "preço natural", que depende de
facores "intrínsecos". Mantendo a identificação mercantilista do dinheiro com os
metais preciosos, Petty põe o problema do "preço natural" ou do valor na forma
de uma questão: por que uma cerca quantidade de prata é oferecida por um dado
produto? Em sua resposta, Petty esboça, com engenhosa simplicidade, as ideias
básicas da teoria do valor-trabalho.
Se um homem pode trazer para Londres uma onça de prata extraída das minas do
Peru no mesmo tempo em que de pode produzir um alqueire de trigo, então um
é o preço natural do outro; mas se, em razão da descoberca de novas minas, mais
fáceis de serem exploradas, um homem pode obcer duas onças de cobre com o
mesmo esforço anteriormente empregado na obtenção de uma única onça, encão
o uigo custará 10 xelins por alqueire, ao passo que antes ele cusrava 5 xdins caeuri;
paribus. 5 [ ••• )O trigo é mais baraco onde um homem produz crigo para dez do que
onde ele pode fazer o mesmo, porém produzindo apenas para seis [... ] O trigo será
duas vezes mais caro onde há duzentos agrk:ulcores realizando o mesmo trabalho
que <:cm homens poderiam realizar. 6
Trigo e prata terão igual valor porque iguais quantidades de traba?ho foram
gastas em sua produção. A magnitude do valor de um produto depende da quan-
tidade~ trabalho ~spendido em'"ª prod11çáo.
Da magnirnde do valor de um produto, Petty passa à análise de seus com~
ponentes individuais. Ele distingue duas partes do valor de qualquer produto
(o trigo é seu exemplo mais frequente): sal.ários e renda fundiária. Antes, quando
102 O fl/IERCA"'ITll..ISMO IE SEU OIECl.INIÕ
Suponhamos que um homem pud~se, com suas pn.>pri.tS m.il':rr., pl.mr.tr trigo
sobre um cerro pedaço de terra, isto é, quC' de pos.~t i.:avar, ..:-ciÍJ.r, .tr.tr, i;arin,1r,
colher, uanspomr para casa, debulhar e peneirar do modo como""' ~.1p.n.1i de sua
(erra o exige: e, ao final, ri~. ainda, sementes par.1 um.1 nov.1 scm ..•;tdur.1. F.nc;i..o,
se esse homem deduzisse do produto de sua 1."0lheira ;,i $e'mcncc que dela resulta,
.wim como aquilo que ele mies.mo con.o;umiu e deu rarJ. outro.~ cm ttO\:a d(' roupas
e outros produtos neccsd.rios. o que restaria da oolhcitl seria a renda n.nur-.il e
\ verdadeira da terra naquele ano. 7
'· -..... ·,
\
O tamanho in natrmt da renda é d.cccrminado deduzindo-se do produto
J cotai os artigos de consu.ono do uabalhac?or (sua remuneração) e os custos de
F~
sew; meios de produção (suas semenca). Assim, o que Pctcy tem cm mente - e
apresenta à guisa de renda fondidria- é o m11is-v11/or total, incluindo o lucro.
Tendo determinado a renda. in Mtura. Pctty pergunta, então, q1111/ será se11
P"fº em dinheiro, isto é, por que quantidade de prata ela pode ser trocada.
Pode-se, no entanto, colocar uma questão adicional, mesmo que colateral: quan-
to de dinheiro inglês vale esse trigo ou essa renda? Respondo: tanto quanto o
dinheiro que um outro homem poderia obter, no mesmo espaço de tempo, para
além e acima de seu gasto, caso se dedic.assc inteiramente à sua produção; viJt-
liut:• suponhamos que um outro homem viajasse para um país onde há pr:ua, e
lá a escavasse, re6n~ e a crouxc.ue consigo para o momo lugar cm que o outro
homem plantou seu trigo, e que lá ele cunhasse a prau:, etc., sendo sempre a
mesma pessoa a trabalhar todo o tempo a sua prata, obtendo alimentos e: vesti~
menras par.a su.u necessidades; então, a prata de: um cem de ser estimada como
tendo O mesmo valor do trigo do outro: um tendo o vaior, talvez, de: vinte: onças. e
Cf. capórulo 3.
--
A C"OLUÇAO OA T1'0RIA 00 VALOR 103
0 outro de vinte alqueires. Disso se segue que! o preço de um alqueire de seu trigo
i: uma OO\"a de pr-.H.1. 9
Uma vc:z que se sabe o preço de um a_;queire de trigo. este pode ser usado
para determinar o preço do rrigo que forma a renda - isro é, a renda mo11e1ríria
total.
Pecrv acompanha essa discussão com uma tentariva muico corajosa de
deduzir 0 ~rero da f(rrtl da renda monetária tocal. À época de Petty. a cerra na
Inglaterra já havia se ternado um objeto de compra e venda, com um preço
aproximadameme igual à renda anual cocal muMplicada por vime (ou, mais pre-
cisamence, por vime e um). Pc;:ccy sabia, a parcir de sua.s experii;:ncias como ne~
gociante, que uma parcela de cerra que produzia uma renda anual de 50 libras
era vendida por aproximadamence mi! libras. Petcy pergunta: por que o ?reço da
cerra é igua1 a vime ve-L.C.s a sua renda anual? Tomando como ponco de panida
sua invcscigaçáo sobre a renda, mas sem conhecimento das leis que governam a
formação do lucro e do juro, Pecry não podia saber que essa relação entre a renda
anual e o preço da tecra depende da cv.:a média de juro que prevalecia à épo~a (na
Inglacerra, em terno de 5%), e que a primeira muda de acordo com o último (por
exemplo, se a caxa de juros cai de 5% para 4%, o preço da mesma porção de cerra
aumencará para 1.250 libras, ou vinte e cinco vezes a renda anuaJ). Assim, Pecry
recorre ao seguinte argumento artificial: o comprador avalia que, ao comprar a
terra, ele escará garantindo uma receita anual para si mesmo, seu fi!ho e seu nero;
a preocupação das pessoas em relação à posteridade não cosfuma ulcrapassar esse
limice. Suponha-se que o comprador esceja na casa dos 50 anos, o fitho tenha 28 e
o neto, 7 anos de idade. De acordo com as escarísricas de mortalidade de Graunc,
essas três pessoas podem viver, em média, mais 22 anos. Assim, ao avaliar que a
cerra lhe proverá uma receita anual por vime e dois anos, o comprador concorda
em pagar por ela uma soma vince e duas vezes maior do que a renda anual rota!.
Por mais errôneÕ que esse argumenco de Pecry possa ser, ele concém uma
ideia fértil, dotada de profunda verdade: "o valor da terra" não é nada mais do
que a soma de um número definido tk rtntÚu an1111is. Como o tamanho da renda
monecária depende do valor de wn alqueire de trigo, e como este, por sua vez, é
determinado pela quantidade de crabalho despendido em sua proCução, segue-se
que o trabalho é a fonte não apenas do valor do trigo. mas. na concabUidade final,
também do "valor da cerra". O argumenco de Pcccy represcnca umJ primeira e
seu oCCLINIO
104 O 1iUi:RCANTILISM0 C
· e renda natural·,
ual ele seria trocado; entre remunerações naturais
de prata pelad q ral e renda monetária; entre renda monetária e preço da terra; e
entre ren a natu dº d
entre preço da terra e raxa dei· uros. Todavia, juncamente com esses ru imentos~ e
uma compreensáo COrrera da relação entre valor e trabalho, encontramos
, . • comba/hre-
• · n try um conceito diferente de valor, cuja fonte e ambu1da a tra o
quenaa cm ~• • b ~ "O
n '"'expressou
e naturerA. re ....J brilhantemente essa ideia em sua ceie • re rase:
• ,. 10
trabalho é o pai e o princípio ativo da riqueza, assim como a terra e ~ua mac ·.
É e1aro que e1e se .... r 4 , aqui , à riqueza material ou valores dt uso, cuia produçao
-'ere
requer, de fa to, a U nião ativa entre as forças da natureza e a atividade humana.
n ré uma vez que 0 valor de um produto (que ele não diferencia do produto
,-o m, d . d
cm s~mesmo) é criado pelo trabalho e pela terra, a determinação .ª magmtu e
desse valor necessita que, primeiramente, seja encontrada uma medida geral pela
qual a ação das forças da natureza e a atividade laboriosa do homem possam ser
comparadas. E assim surge o prob!ema de uma "medida de valor", que se funda-
menta, por sua vez, no problema da "paridade entre terra e trabalho".
todas as coisas deveriam ser valoradas por duas denominações naturais: terra e
uabalho; assim, podemos dizer que um navio ou uma peça de roupa valem uma
cena medida de terra e uma medida de trabalho; se é verdade que tanto navios
quanto roupas são o produto da terra e do trabalho dos homens sobre a terra,
então podemos estabelecer uma paridade natural entre terra e trabalho que nos
permita exptcSSar o valor de cada um deles do mesmo modo ou melhor do que o
dos dois juntos e converrê-los um no outro com tanta facilidade e precisão como
convertem.os ptnce cm libras. 11
"ª'""
Seu F.ss(li JtlT la d11 eommtrtt t1I gin/Ta/ foi publicado postumamente: cm 1n5.
[A edição francesa da obra de Ca.ntillon foi publicada sob o nome de R,;c:hnrd Cantillon
e: reimpressa cm Am.~terdã cm 1756 (sendo CSSôl a edição que M.1.rx cit::i. no volume 1
de O et1pilaf). Uma ediçào inglcs::i., publicada como 1ht ana/yJis oftradt, tommeret, tll.
bJ Philip Cantillon, latt oftln â17 ofLonáon, merehnnt, foi publicada cm 1759. Embora
a edição fi:anccsa afirme ser uma trodução do inglês original, Marx a.firma. que, tanto a
dac.. da edição ing1esn como o f.uo de: que ela continha revisões substanciais em relação
à edição francesa, tornava isso impossível. Ver Capit11/, v. l, p. 697. -N. doT.1.1.
Partindo das ideias errôneas de Peny, Cantil!on se afasta
• 18
que nela i:rabalharam · - correra da ccona . do vai or-trabalho. Ma.is
· a.tn~-
.
ainda mais de uma form ulaçao , . """"'•
•• vai da terrà' ao trabalho, ele acaba, ao contrario, escabcie-
visando reduzir o or .
·gua1d d tce trabalho humano e uma decermmada porção de terra.
cendo uma i a een . ,
Por fim, uacemos de James Steuarr. * em CUJa obra tambem encontramos
essa mesma confusão entce valor de rroca e valor de uso. No interior de UJll
produto concreto do trabalho (isio é, de um valor de uso), Steuar< estabelece a
difecença entce 0 ,,,bstrato material, que é dado pela natureza, e a modificação
nele operada pelo trabalho bumaw. Embora possa parecer estranho, ele chama
0 material natural. a pardr do qual o produto~ criado, de seu •valor inrrinseco".
o "valor intrínseco" de um vaso de prata é a matéria-prima (a prata) a partir da
qual ele foi fabricado. Sua modificação por obra do trabalhador que fez o vaso
constitui seu "valor útil".
O que Steuar< tem em mente, portanto, é o trabalho útil roncmo que cria
valor de uso e dá "forma a uma substância, tornando-a, assim, útil, ornamental
1 ou, em suma, adequada ao homem, mediata ou imcdiacamencc".20
/ Foi, portanto, durante a era mercantilista que surgiram, de modo embrio-
nário, as principais te0rias do valor que desempenhariam um papel importante na
subsequente história do pensamento econômico: a teoria da oferta e da demanda,
a teoria da utilidade mbfetiva, a teoria dos custo' de produ;ão e a teoria do valor-
-trabalho. Seria apenas com a escola austríaca que a teoria da utilidade subjeriva
seria aplicada na ciência econômica com algum sucesso. Dentre as outras, foi a
teoria do valor-trabalho que exerceu o maior impacto sobre a evolução ulterior
do pensamento econômico. Nas mãos de Petty e seus seguidores, essa teoria foi
submetida ª uma série de contradições evidentes, sendo deslocada por Loclce
Ver 0 começo do presente capítulo. ~brc sua teorfa do dinheiro, ver o fim do capírulo 8.
1' EVOl.UÇÃO D1' TEOFl.11' 00 VAl.OA 109
Notas
1. John Locke, Some co,uideratiom of the consequences o/ the lowering of interest. and
rttúing the vaf"e ofmoney (1691), publicado como um Essay on interest and 1111'1.e o/
money, Londres: Alex. Murray & Son, 1870, p. 245.
z. Sir James Stcuart, An inquiry into the principies ofpolitica/ economy (edição abreviada
em dois volumes, editada por Andrew S. Skinner, publicada pela Scottish Economic
Sociecy, Edimburgo: Oliver & Boyd, 1966), v. 1, p. 159; grifos de Rubin.
3. lbid., v. l, p. 160-161; grifos de Rubin.
4. lbid., v. l, p. 161.
5. Petcy, A treacise of taxes and contribucions, in: Hull, Economic writings, p. 50-51.
6. lbid., p. 90.
7. Percy, A treacise oftaxes and cootributions, in: Hull, Economic writing.r, p. 43.
8. A saber; isto é (N. do T.B.).
9. Pcccy, A creatise of taxes and contributions, in: Hull, Economic writings, p. 43.
I O. lbid., p. 68.
l I. lbid., p. 44-45.
12. Pecry, The political anatomy oflreland, in: Hull, &onomic writing.r, p. 181; grifos de
Pecry.
13. lbid., p. 181-182. Por "dia de comidà Petty entende a comida necessária para
um dia de subsist~ncia. As palavras ''numa média" não foram incluídas na citação
dessa passagem por Rubin, mas foram aqui reinseridas por sua importância para o
argumento de Petcy e como evidência do genuíno insight de Petcy sobre a questão do
trab:i.lho socialmente necessário. Na passagem imediatamente precedente ao crecho
citado por Rubin, de diz: .. Que alguns homens comem mais do que outros é algo
irrelevante, um.ava. que por dia de comida entendemos 1/1.000 parte daquilo que
cem homens de todos tipos e tamanhos comerão a fim de viver, crabalhar e procriar.
E campouco importa que um dia de comida num lugar possa requerer mais trabal.lio
para ser produzido do que noutro lugar, pois consideramos a comida mais barata
possível dos respectivos países do mundo".
14. Loo:ke. Tr,;omati.«1ofrivi/goum1111ent, Londres:]. M. Dent & Sons, 1962
:e&. or:is.: John Locke. Dois uarados sobre o governo, São Paulo: Marcin; ~ l3g
!99S:. "'"-
J
Capitulo8
A EVOLUÇÃO DA TEORIA DA MOEDA
DavidHume
com a doutrina de Law, o valor das moedas é composto de duas parres: a primeira
é seu "valor real".' determinado pelo valor do metal que ela contém; além disso,
no encanto, ela rambém possui um "valor adicional", que provém do uso do mera!
em questão como espécie e da demanda adicional por esse mera! produzida pela
manufarura de moedas.
Coino seus objeàvos eram práticos, os argumentos e discussões nos escritos
mercantilistas sobre a moeda são fortuitos e desconexos. Apenas em meados do
século XVIII, quando a literatura mercanrilista estava em seus dias de declínio,
podemos encontrar duas teorias que exerceriam um papel importante nos escritos
ulteriores sobre o dinheiro até nossos dias: a conhecida "teoria quantitativa da
moeda", de David Hume, e a reoria oposta a ela, elaborada por James Steuart.
David Hume (1711-1776) foi ao mesmo tempo um célebre filósofo e
um economista notável. Ensaios, publicado em 1753, desferiu, com sua crítica
engenhosa e brilhante, o último golpe nas ideias mercanrilisras. Como Hume
era, em geral, um claro defensor do livre-comércio, ele não pode, é claro, ser
considerado um mercantilista no sentido exato do termo. Na história do pen-
samento econômico, Hume ocupa normalmente um lugar entre os fisiocratas
e Adam Smith, de quem foi tanto um predecessor direto quanto um amigo
baseante próximo. No entanto, a fim de dar uma maior clareza à nossa apresen-
tação, pensamos que nos seria permitido tratar das obras de Hume na presente
seção, que cobre não apenas a era em que as ideias mercanriliscas viveram seu
apogeu, mas também o período de seu declínio.
As questões em corno das quais as ideias de Hume estão centradas são
as mesma,s que foram constantemente debatidas nos escritos mercantilistas, a
saber, o equilíbrio comercia~ a taxa de juros e a moeda. Em sua discussão das duas
primeiras dessas questões, o poder de Hume está não tanto em sua originalidade
quanco no desenvolvimento brilhante e na formulação decisiva que ele deu a
ideias que já haviam sido expressas antes dele, particularmente por North. Se, no
final do século XVII, a voz de Norrh permanecera isolada, Hume, com sua crítica
do mercantilismo, expressou em meados do século XVIII 0 pensamento geral de
sua época.
A crítica contundente de Hume à ideia de um equilíbrio comercial deriva
de sua concepção geral de comércio. Para os mercantilistas, o objetivo do comércio
exterior era trazer vantagens à nação comerciante a expensas de outras; para
Hume, no entanto, o comércio exterior consiste de uma troca mútua de produtos
A CVOLUÇÃO OA TEORIA OA MOEDA 113
114 º "'c""c .... "L'.:;;"'º l ·&e"as esboçadas por Nort:h; seu avanÇo
. Hume desenvo ve I i d.' h .
a qudtáV dos Juros. ' diferencia capital de m e1ro e em sua ideia
. . • ·a com que eie H
consiste na ins1scc:nci d d da taxa de lucros. ume tem em vista
a de juros epen e
corrm de que a rax . d l . de crédito do que o dos mercantilistas·
. i de.senvolV'1do e re açao . .
um s1scema ma 5 b crédito ao consumidor, ao qual recorriam.
f;al frequenremence so re o
esces avaro .. Hume no entanto, tem em mente o crédito
~s ialmence os ariscocrac35 rurais, ,
pec . d mercadores e manufacuradores.
prod'ucivo desuna o aos • . d H , .
A pane mais original da dourrina econom1ca e ur:1e ~ sua teona quan-
titati11a da moeda, cambém intimamente vinculada a sua polem1ca contra os mer-
cancilisras, Gue viam a crescente quantidade de dinheiro vivo como um poderoso
estímulo à expansão do comércio e da indúsrria. O objecivo expresso de Hume
era mostrar que mesmo um descacado aumenco no volume total de moeda não
aumencaria de modo algum a riqueza de uma nação, mas geraria apenas um
aumento correspondente e universal dos preços nominais das mercadorias. Desse
modo, a polêmica de Hume com os mercantilistas levou-o a uma teoria "quami-
'\ tativa" da moeda, de acordo com a qual o vakr (ou poder de compra) do dinheiro
é determinado pela quantidade total desce último.
I nação
Suponha-se, diz Hurne, que a quantidade de moeda no interior de uma
~ja muJtiplicada por dois. Isso signjfica um aumento de sua riqueza? De
forma alguma, uma vez que são os produtos e o trabalho que constituem a riqueza
de uma nação. "O dinheiro não é senão a representação do trabalho e das mer-
caéorias e serve apenas como um método para taxá-los e estimá-los."7 Ele é uma
unidade condicional de contabilidade, um "instrumenro que os homens conven-
cionaram para facilitar a troca de uma mercadoria por outra" e, como tal, não tem
nenhum valor em si mesmo.• Seguindo Locke, e afirmando que o dinheiro tem
"fundamenra!menre um valor fictício)) ,9 Hume assenta-se firmemenre no terreno
de wna teoria nominalista da moeda e cm oposição à doucrina mercantilista d.e
queª moe~ em si mesma (isco é, ouro e prata) possui verdadeiro valor.
Obv1ameme, uma vez q 'dad
ue ªum e monecária se torna apenas um repre-
sentante de um determinado n, .
dad tal d umero de mercadorias, todo aumento na quanu-
e to e moeda (ou dimi•uiçã d li ,
que cada un1'dade da moeda do " 0 a massa geral de mercadorias) signi cara
,
um ,. . pais represema menos mercadorias. "Parece ser
a ma.."<ima aucoev1deme a d
proporção encre d . e que os preços de todas as coisas dependem da
merca or1as e dinh .
noucro desS<.< fato eJro, e que toda alteração considerável num ou
res tem o mesmo ef; .
eu:o, aumentando ou diminujndo o preço.
A EVOLUÇÃO OA TEOAIA OA r.tOliOA 115
devemos notar que 0 próprio Hume realizou correções na teoria que abriam
caminho para sua supera.çã.o. Pois é Hume, como vemos, quem reconhece que,
quando a quantidade de moeda num pais dobra de 1 milhão para 2 milhões de
rublos, 0 mifüão adicional poderia ser acumulado em "balis" como reserva; nesse
caso, "a quantidade de moeda em circulação" permanecerá a mesma de antes_ 1
milhão de rublos-, e nenhum aumenro no preço das mercadoria.< será provocado.
A duplicação do volume de moeda de uma nação não gera nenhuma onda de
aumento de preços, desde que parce dessa massa de dinheiro seja colocada fora
de circulação. Mas se isso é assim, surge a questão: o que determina a quantidade
de dinheiro que entra em cim1laçáo? Obviamente, é a demanda da circulação de
mercadorias, c;ue, por sua vez, depende da massa de mercadorias e de seus preços
(estes dependendo do valor das mercadorias e do valor dos metais pr<-.::iosos que
funcionam como dinheiro). É impossível, portanto, afirmar que a quantidade
de dinheiro em circulação determina os preços das mercadorias; ao contrário, é a
demanda pela circulação de mercadorias - inc!uindo os preços das mercadorias_
que determina a quantidade de dinheiro em dmtlação.
Tal foi a posição defendida em meados do século XVIII por James Sttt<ort,
de quem já tratamos anteriormente.• Em quescões de po!itica econômica, Steuan
(cuja obra foi publicada em 1767) foi um porca-voz cardio das visões dos mercan-
tilistas e, nesse sentido, fica muito atrás de Hume na apreensão das necessidades
de sua própria época. No entanto, seu vínculo às ideias mercamiliscas o procegeu
do erro nominalista de ver a moeda como um simp!es símbolo. Em sua objeção à
teoria quantitativa da moeda, Sceuarc argumenta que o nível dos preços das merca-
dorias depende de outras causas que não a quantidade de moeda no país. "O preço
padrão de roda coisa" é determinado pe!as "comp!exas operações de demanda e
concorrência" que "não guarda nenhuma proporção determinada com a quanti-
dade de ouro e praca no pais".' 5
Ver capfru!o 7.
A IEVOl,,UÇÃO OA Tl!.OfUA OA '-"OIEOA 119
----:;;: principal obra de Tooke é Histo1] o/priw, aná o/the state o/tht cim1/ation, from 1839
to 1847 inclusi1JI!. rJhomasTookc, 1774-1858. Rubin refere-se à obra como A histo17 o/
prictt (1838-1857). Há uma edição anterior do tramdo de Tooke (Londres, 1838), com
o mesmo árulo, porém cobrindo o período de 1793 a 1837. Há, t~bém, "'.""edição
posterior, em coautoria com \Villiam Newmarch (1820-1822), A l11sto17 o/pnm, ando/
tftt state ofthe circulation dt1ring thc nine ytars J848-1856; seus dois volumes formam os
120
Notas
!. 0 termo usado por Rubin é "valor intrínseco" (vnutrrenyaya stoimost). O termo
próprio de Law é dado nesta passagem: "A praca era trocada em proporção ao valor
de uso que da possuía, consequentemente, em proporção a seu valor real. Ao ser
adocada como dinheiro, ela recebeu um valor adicional". John Law, Considirations
sur /, numérairt et /, commeru (1705). apud Mane em Capital, livro!, p. 185 [ed.
bras.: Karl Marx, O capitah crítica da economia política, livro I, tradução Rubens
Enderle, São Paulo: Boicempo, 2013].
2. David Hume, Of thc: jealousy of crade, in: David Hume, writinu on economia,
editado com uma introdução de Eugcnc Rotwein, Madison: lJniversicy of WISconsin
Press, 1970, p. 79 :cd. bras.: David Hume, Escn"tos sobrt economia, São Paulo: Abril
Cultural, 1983, coleção Os Economistas].
3. lbid.,p. 78.
4. Hume, Of c.~e balance of cradc, in: D11Vid Hume, writint,J on economia (edição e in-
crodução de Rocwein). p. 75. A reprodução dessa passagem por Rubin é um pouco
mais do que uma paráfrase; aqui cicamos o original.
5. lbid.• p. 76.
6. Humc, Of interest, in: David Hume, writinu on economia (edição e introdução de
Rotwein). p. 50-56.
7. Humc, Of money, in: David Hume, writint,J on economics (edição e incrodução de
Rorwein), p. 37.
8. lbid .• p.33.
9. Ofintetesr, in: David Hume, writinu on economics (edição e inuodução de Rorwein).
p.48.
1O. Of money, in: David Hume, writings on economia (edição e introdução de Rocwein).
p. 41-42.
· fto
volumes cinco e seis da His•ory '!!.çpnces
N· m 1792 <o the prtsent time (Londres. 1557)'
• ao_ enco~tram~ nenhuma referência à edição relativa aos anos cicados por Rubin· A
edoçao aqui mencionada foi publicada em Londres, cm 1~8 - "<.CD T.I.'
A evOLUÇAO DA TEORIA DA ""º"ºA 121
o imp:ino sobre o sal. Tanto o valor dos impostos. como o mo~o pelo qual eles
seriam arrecadados mudavam frequentemente, e assim o campesmaco nunca sabia
previamente quanto lhe seria cobrado. O que gc~mente acontecia era que a
cobrança das taxas era delegada a ricos coletores de impostos (fermiers généra/;),•
que usavam seu privilégio para constituir fortunas; às vezes, o tesouro recebia
apenas uma pequena fatia dos imposros totais arrecadados. Esses impostos, Para
0 Estado (aos quais se devem acrescentar os dízimos para a Igreja), exauriam a
economia camponesa. Não muito antes da Revolução, o duque de Liancoun
afirmava que uma política fiscal baseada "no coscume de constantemente exigir
dinhriro do agricultor sem dar a ele nada em troei' retardaria severamente 0
progresso agrícola. lJm outro impedimento a esse progresso era a política de P'<f•
dos meais. Desde Colbert, o governo implementara com diligência crescente
/ uma política mercantilista de diminuição do prtço dos cereais: seu objetivo era,
antes de mais nada, baratear as matérias-primas e a máo de obra requeridas pda
indústria e, em segundo lugar, garantir que a população urbana - particular-
mente a de Paris - fosse abastecida. A exportação de cer;,_;s para o exterior foi
proibida; j:i sua importação foi permitida. Dentro do país, o comércio de cereais
foi submetido a urna regulação extremamente rígida: a venda de cereais escava
proibida em oucros lugares que não os mercados, e eles não podiam ser transpor-
tados para fora de uma ci&dc; cm razão dos temores de especulação e alta de
preços, as atividades dos mercadores de cereais foram altamente restringidas, bem
como o movimento de cereais entre as províncias. O resultado foi que o alio
preço dos cereais, cm algumas localidades, foi acompanhado de uma desvalori-
iaçáo em outras, e os preços flutuaram fortemente de ano a ano. A agriculcura
sofreu a um só tempo com os baixos preços dos cereais e com a incerteza gerada
por sua constante flutuação.
Arruinados por pagamentos ao senhor e ao Estado e sofrendo sob a
política. do preÇo dos ce~: · camponesa era incapaz
........s, a economia ' .. ~u)ar
d e acl.U~· ..
os meios para realizar melhorias na térnica agrfcola. O sistema triplo de rotal'Í°
do cultivo [ti,,,. fie/d sys1nn; predominava, embora cm muitos locais ainda foss<
utili1.ado o sistema duplo · A semeadura de forragem fora introduzi.dª so 111entc
cm algumas províncias do Norte. Enquanto a mistura de diferentes plantiOS e a
A 51TU"ÇÃO EiCON0MIColl. Noll. Fl'l.oll.NÇ#li . • • 131
Notas
l. As cirações da parte 2 não referenciadas nas notas foram tradu7.idas do russo.
2. O inrendenre era um representante da Coroa numa província parricular, respollsá.
vd pela inspeção de vários serviços públicos. Bacalan era, n• wrdade, intendente
de comércio; em 1764, ele publicou seu Paradoxes pb;/osor•hiques mr la /ih.ri;;,
commerce entre les nations.
3. Arrhur Young, Trowls in FT'4nce during the years 1787, 1788, & 1789, editado por
Consranria Maxwell, Cambridge: Cambridge L'niversity Press, 1929. "Todas as
moças e mulheres do campo andam sem sapatos e meias; e os homens que aram a
terra não possuem nem tamancos nem meias. Essa é uma pobreza que abala as raízes
da prosperidade nacional, sendo um maior consumo entre os pobres mais imperioso
do que entre os ricos. A riqueza de uma nação está em sua circulação e consumo; e
o caso do povo pobre privado do uso de manufaruras de couro e lá deveria ser con-
siderado como um mal de primeira magnirude. Isso me fez lembrar da miséria da
Irlanda" (Young, Troveis in Fronu, 1929, p. 23-24).
4. O co:ecor de imposcos (otkupshchik) era aque!e que pagava ao governo uma raxa
pelo rlireiro de colera.r impostos (sdaVllt' vzimpnie nalogov ntJ otkup, ou, !ireraimcnre,
"fa1.er a colhdta dos imposros"),
5. Young, Trnvels in Frt111ct, eclitado por C. Maxwell, 1929, p. 16.
Capi:u:o 10
A HISTÓRIA DA ESCOLA FISIOCRATA
quência - a famosa fórmula dos livre-cambistaS: laissez faire (mais tarde comple-
mencada. provavelmeme por Gournay, com as palavras, et laissez passer).
Assim, em meados do sêculo XVIII, podiam-se encontrar cercos pensadores
cujas ideias individuais e demandas práticas se tornariam parte do sistema fisia..
crata. Mas foi na metade do século XVIII que essas ideias e demandas se tornaram
0 assunto de um vivo debate entre amplos setores da sociedade. A degradação da
As mais nod.veis das outras obr:u de Qucsnay são sua ANIÜH do Ttz/Jkau konomiqu~
[c:d. bras.: Françoi> Qucsnay, QJMJm mmômico dosjisiD<rallll, São Paulo: Abril Cultural,
1983, coleção Os Economisw], seu Dnpotism~ tk bt Chint e seus Dialogua sur k
eommuu ti sur ln tnttJtlux da a.nisans.
Os seguidores de Quesnay se aurodenominavam "cconomisw". mas ficawn conheci..
dos pela alcunha de "6siocraw" depois que Dupont publicou a. obm de Qucsnay sob
o ~bre ritulo Physiocracy. or w ammg<mmt ofw Star. that is most.P"Jitabk for W
hu""'n """· fjsiocracia significa •governo da natureza".
...
' . ...·.. ·-:_.,,,_~- __ ... ____ ._ ·----=.
--~
138 os F rs 1 o e R. ATA s
Notas
1. Apud Gaetano Salvemini, lhe French Revolurion, 1788-1792, Londres: Jonathan
Cape, 1954, p. 33.
2. Este é, na verdade, o subcfrulo da Philosophie rurale, escrito por Mirabeau, com a
colaboração.de Quesnay e publicado em 1763. Alguns excracos aparecem em Ronald
L. Meek, Theeconomicsofphysiocracy, Londres: George Allen &:Unwin, 1962.
Capítulo 11
A FILOSOFIA SOCIAL DOS FISIOCRATAS
sobre ela estivesse firmemente garantida, e tal investimento era uma condição
necessária para a prosperidade agrícola. Os fuioeratas concordavam que os pro-
prietários de grandes fazendas deviam deixar suas terras, contanto que eles as
deixassem para os agricultores capitalisw.
Como vemos, a doutrina fisiocrata do direito natural carrega as marcas
visíveis da ambivalência de seu programa social e econômico moderado-burguês.
Uma vez em que se inclinavam para um compromisso político com a monarquia
e um compromisso econômico com os grandes proprietários rurais, eles se auto-
declaravam defensores da primeira e ofereciam argumentos para os segundos. Por
outro lado, porque esperavam que o resultado de seu tipo de compromisso social
e político fosse o livre desenvolvimento do capitalismo no âmbito da economia.
eles proclamavam como sua "ordem natural" o sistema da economia burguesa
liberta de resquícios feudais e baseada na propriedade privada. A garantia da
"propriedade privada" significava que o produtor seria liberado da servidão e dos
grilhões do feudalismo e das guildas. A garantia da "propriedade móvel" signi-
ficava a afirmação do poder do capital e a vitória da livre concorrência na troca
de mercadorias. Finalmente, "propriedade rural" significava, para os fisiocratas,
a forma burguesa da posse rural, desincumbida das taxas senhoriais e baseada na
forma capitalista da renda.
Para estabelecer esse tipo d.e "ordem natural" na economia, seria necessirio
<liminar as restrições da tut<kz estatal. O Estado deve permitir um amplo espaço
de ação para a obra das leis naturais e para o livre jogo dos interesses individuais.
concentrando-se apenas na eliminação das barreiras artificiais que travam a ação
dessas leis.
O que se requer para tornar uma nação próspera? Cultivar a terra com o máximo
sucesso possível e salvaguardar a sociedade de ladrões e mendigos. A realização da
primeira dessas exigências deve ser deixada ao inkrtsse individual de cada pessoa;
a realização da segunda deve ser atribuída ao EsttllÍJJ.
146
e usurpação das sábias leis narurais. Para des, a livre e irrestrita atividaM dos ind;
víduos era a melhor garantia de que a "ordem natural" seria estabelecida na -
nomia. Os fisiocracas eram defensores fervorosos do individualismo econom1co • C:
comum aos ideólogos da burguesia nascente.
Nota
Capítulo 12
AAGRICULTURA DE GRANDE E PEQUENA ESCALA
A cerra empregada no cultivo de cereais deveria ser reunida, tanto quanto posivcl.
em grandes fazendas cultivadas por um rico agricultor, pois em grandes emp-
agrícolas exigem"'5C menos gascos com a manutenção e reparação de edifícios e,
proporcionalmente, muitó menos custos e um produto líquido mcito maior do
que nas fa7.Cndas pequenas. Uma multiplicidade de pequenos agricultores é p1t-
judicial à população.'
. . . l
capitar.s pam a agrw1 rura.
•o "aovcrno deveria se preocupar mais com .,.,..,,_
,_ _ _'"'
. do que com acrair homens. :Nao falcarao homens lá 0 .,_
riqueza para o campo •...,
.
h ouv(r riqueza; mas sem riqueza, há um. declínio geral, a cerra perde seu valor e
· do de recursos e de poder." 5 O conjunto da política econômica'n..
· e• priva
o reino
siocrata era designado a incentivar o fluxo de capitais das cidades para o campo,
do comércio e da indústria para a agricultura. Para esse fim, o preço dos cereais
deveria ser mantido alto, pois isso faria da agricultura um empreendimento es-
pecialmente rentável. Também para esse fim, seria preciso garantir ao agricultor
a inviolabilidade do capital que ele investiu na terra e livrá-lo das obrigações
pessoais e impostos rurais, que deveriam recair in toto sobre os terra-cenences.
"Assim, é preciso haver plena segurança para o pronto emprego da riqueza no
cultivo da cerra, e plena liberdade de comércio na produção." De outro modo, "os
habitantes ricos, que ocupam posições destacadas ~...],levariam para as cidades a
riqueza que eles empregam na agricultura a fim de lá gozarem dos privilégios que
:.!' lhes seriam garantidos por um governo não esclarecido e favorecedor de merce-
nários citadinos".6 O mal maior causado pelas medidas mercantilistas é que, ao
estimular arcificialmem:e o comércio e a indústria, e graças ao sistema de cmprés--
timos estatais e de coleta de impostos, elas "separam as finanças da agricultura e
privam o campo da riqueza necessária para a melhoria da propriedade rural e para
as operações implicadas no cultivo da terra".7
O ideal fisiocrara não era, portanto, a agricultura natural de um pattiar·
cado, mas a agricultura de mercadorias que produz para o mercado e é organi·
zada por fazendeiros capitalisras. Eles compreenderam que somente a aplicação
do capital na agricultura aumentaria a produtividade desta última e romaria
possível a extração de um "produto líquido" (receita líquida). As fazendas camPo·
nesas de pequena escala não fornecem nenhum produto líquido. Quanto maior e
o capital investido na agricultura, maior é o rendimento, menores os cusros Po'
unidade do produto e maior a receita agrícola líquida. O capital investido pcl~s
agricultores, diz Quesnay, tem de ser de tamanho suficiente, "pois se os jnV(SP"
memos não são suficientes, os gastos do cultivo são proporcionalmente mais alto'
e menor é o rendimento do produto líquido".• "Assim, quanto mais insuficien~
são os investimentos, menos lucrativos são para o Estado os homens e a tcrt2-
Em outras palavras, quanto menor é o total de capital investido, maiores são os
custos por unidade e mais baixa é a produtividade da agricultura. O investi1fltP'°
A AGRICULTURA DE GRANDE E PIEOUENA
151
Quanto mais aperfeiçoado é o cultivo e quanto mais incenso ele se torna, maiores
são esses investimentos. Há necessidade de gado, de inscrumentos e de conscru-
ções para abrigar o gado e armazenar o produi:o; é necessário pagar um número de
pessoas proporcional à dimensão do empreendimento e garantir sua subsistência
acé a colheica. 12
-
"' Quesnay usa o i:ermo •adiantamencos• como capital que é investido na produção.
.,,.
152 Fl&10CMATA 5
Notas
1. Qucsnay, Thc general maxims, uaduzido em Mcek, Tht ttmomics ofphysiomt]o
1962, p. 243 [ed. bras.: François Quesnay, Máximas gerais do governo econômico
de um reino agrícola, in: Claudio Napoleoni (org.), Smith, Ricardo, Marx, Rio de
Janeiro: Graal, 1978].
2. lbid., p. 235.
3. Turgot, Refiections on the formarion and the disrriburion of wealdi, in: TUTf;"
•• progrw, soâoloo and «onomics, uaduzido e editado por Ronald L. Mctk.
Cambridge: Cambridge University Press, 1973, p. 133. .
4• Quesnay, Maxims, in: Meek, 7he tconomics ofphysiocracy, 1962, p. 242.
5. lbid., p. 254.
6. lbid., p. 254-255.
7. lbid., p. 238.
8. lbid., p. 233.
9. lbid., p. 242.
10. Qucsnay, Maxims in· M--'· ·fos d<
Rubin. ' · ' ~ 7he «onomi.cs ofphysiocracy, 1962, p. 238; gt'
Divisáo tk c/ass., tk acordo com Quemay Divisão tk classes tk acordo com Turgot
1. Oasse dos proprietários; 1. Classe dos proprietários;
2. Oasse produtiva (agriculrorcs); 2. Fazendeiros capitalistas;
3. Classe estéril (comercial e industrial). 3. Trabalhadores agrícolas;
4. Capitalistas industriais;
5. Trabalhadores indusuiais.
-
• Os exemplos numéricos usados aqui e na discussão seguinte são cxcraídos da A1111/yse
que Qucsnay apresenca de seu 7izhkau konomitpm mudamos ..libras"' para ..rublos"·
fTraduz.ido em R. L Meek, &onomics ofphysiomu:y, p. 150-167. Restauramos o ttrmo
"libr:is" - N. do T.I.].
156 OS fllSIOCll4T4S
É somente em Turgoc que enconcramos uma indicação dara de que o agricultor (assim
como o capitalina industrial) recebe "'um luao suficiente para compensá-lo por aquilo
que seu dinheiro deveria ter rendido se tivesse sido empregado na aquisição de uma
fazenda [..•] sem nenhum esforço" e que está acim3. da reposição de seu capjta.l gasro e
do sa1ário por seu trabalho pessoal no interior da empresa. Turgot foi um dos primeiros
cscrirorcs a tentar fornecer uma teoria do lucro e determinar sua magnitude. A seu ver, o
lucro do capital é igual à renda total que o proprietário de um capital monetário receberia
se o tivesse usado para comprar uma área de terra. Se uma p:i.rccla. da terra comprada
por mil libras tivesse um rendimento liquido (renda) de 50 libras, então wn capital de
mil libras teria de render um lucro de 50 libras - cm outras palavras, a mxa de lucro será
estabelecida cm 5%. O erro de Turgot é derivar o tamanho do lucro do preço da terra,
quando, na verdade, é juSlamcntc o concrário: as mudanÇ2S no preço d:t terra dependem
das Ru1uaÇ6c., na taxa de lucro (ou juro). Com uma taxa de juro de 5%, uma área de
terra rendendo um produro líquido de 50 libras será vendida por mil libras; se a wra de
juro é de 10%1 o preço dessa mesma área de rcrra não excederá 500 libras. O exemplo
ck Turgot mostra que mesmo 0 mais cap:t.cirado cérebro dentre os 6siocraw continuou
ªbuscar aplicações para as leis da economia capital.isca (nesse caso, para a taXa de lucro)
unicamente no interior da esfera da agricultura (aqui, o preço da terra). Isso demonstra
0 auaso das condições econ6micas francesas e o continuo predomínio da agricultura. A
Ol:planação que Turgor fornece da cuca de lucro tem muiw similaridades com a expla-
nação da taxa de juro nprcscntada por Pctty (ver capitulo 7).
158 0$ FISIOCRAT"S
foram cobertos. Como defensor da classe agrícola, Quesnay quer "reservar" llll!
rendimento mínimo (lucro) para o agriculror, rendimento que estaria seguro das
garras de ávidos proprietários fundiários e de um governo extravagante. O Únieo
caminho que ele enconcra para fazer isso é descrever o rendimento inteiro dos
agricu!cores como uma compensação por seu capital e como meios necessários
para sua subsistência. Para manter em segurança o rendimento dos fazendei.
ros, Quesnay cransferiu-os do âmbito do rendimemo líquido e da reposição dos
custos de produção e deixou a renda paga aos proprietários fundiários como 0
único item que forma o rendimento líquido. Para proteger o lucro dos agrkuho.
res, Quesnay os cravestiu de crabalhadores e camponeses que não recebem senão
seus meios necessários de subsistência.
Oucra razão para essa desconsideração do lucro dos agricultores reside nas
condições acrasadas da França do século XVIII, onde os agricultores ainda eram
numericamente escassos e encontravam-se espalhados n:um mar de camponeses
e métayers. Na França daquela época, o arrendatário agricultor nem sempre era
claramente discinguido daquele outro arrendatário, o métayer, embora este último
(como o camponês) excraísse de seu cultivo apenas seus meios necessários de sub-
sistência. Além disso, o agricultor frequentemente trabalhava sua propriedade
juncamente com seus trabalhadores e parecia se fundir com eles socialmente. A
natureza do agricultor como capitalista ainda não havia se cristalizado com claraa
suficiente; os laços entre fazendeiro, camponês, métayer e trabalhador agrícola
tornou a transição de um para o outro muito pouco perceptível.
Já tivemos de fazer uma breve referência à terceira classe de pessoas ernpre-
gadas na agricultura (classe que Quesnay não distingue como um grupo espea·
fico), isto é, aos trabalhadores agrícolas assalariados.
Esses trabalhadores a<>rícolas vendem aos fazendeiros seu "crabaJho', ou
e d " salário'
rorça e crabalho, e recebem em troca um salário. Qual 0 tamanho desse
D e acord o com a teona • dos salários não excede o nu'nirn° 0",
· fi·s1ocrata, o mvel
• · para sustentar a existência dos trabalhadores. Nas palavras de Ques"'"·
cessar10
"o nível dos salários, e consequencemence os benefícios que os assalariados pe<l~
0 bter . fixados e reduzidos a um mínimo pela extrema concorrênº'
para si, são d
que existe entre eles".' O salário depende do preço dos alimentos do rrabalhª º''
. ,;s
acima de tudo dos cereais. "A remuneração diária de um ::oi
trabalhad~r é fii<ad3
ou menos naturalmente com base no oreco 2o.s cereais."6 Esta assiro chaJ.Oª
CLASSES SOCIAIS 159
de ferro dos salários", que durante os séculos XVII e XVIII teve muitos defenso-
res entre os mercanrilistas, foi formulada de modo ainda mais preciso porTurgot
(que é, por isso, considerado o seu amor):
Uma vez que [o empregador~ tem à escolha um grande número de operários, ele
prefere aquele que trabalha a um preço menor. Assim, os operários são obrigados a
competir uns com os outros e baixar seus preços. Em todo cipo de trabalho cem de
ocorrer necessariamente, e assim ocorre na realidade, que o salário do trabalhador
é limitado ao necessário para sua subsiscência.7
Notas
3. lbid., p. 155.
4. Literalmente, "inve.sâmentos na terra", uaduzidos por Meek como "groundad:
. . VQtl(tl~
5. Quesnay, The second economtc problem, m: Mcclc, 7he economics ofPhJsio ·
1962, p. 194. """
6. lbid., p. 258.
7. Turgor, Reflexions, in: Meck, 7he economics o/physiocracy, 1962, p. 122.
Capítulo 14
O PRODUTO LÍQUIDO
. coniroma
assim, , dos com 0 problema da renda: como se podia explicar esse '"ai
v or
Dê ao cozinheiro urna medida de ervilhas, com as quais ele deva preparar seu
;ancar; ele lhe trará as ervilhas à mesa, bem cozidas e bem servidas, mas na mesma
quantidade em que elas lhe foram dadas; por outro lado, porém, dê a mesma quan~
tidade para o jardineiro, a fim de que ele as plante; transcorrido o tempo devido, ele
retornará a você pelo menos o quádruplo da quantidade de ervilhas que lhe fora
dada inicialmente. Essa é a verdadeira e única produção. 2
Apenas ã. agricultura gera uma nova matéria em troca daquilo que é con-
sumido e destruído pelo homem. A indústria não pode ctiar nenhuma substância,
mas apenas transformar ou modificar sua forma.
A agricultura gera nova substância material para a sociedade humana.
Como a melhor parte disso consiste nos meios de subsistência humana, a agri-
cukura é não somente a fonte de nova substância material mas também a únifa
fonte desses meios de subsistência humana. Isso significa, por sua Ve"l, que a agricul-
tura rende os meios de subsistência não apenas para os agricultores, mas também
para outras classes da sociedade. "É o trabalho do agricultor que regenera não
só os bens de subsistência que ele mesmo destruiu como também aqueles des-
truídos por todos os outros consumidores." É isso que confere uma suprema su-
perioridade social à classe de agricultores, que "podem sempre subsistir por sua
própria conta, vivendo dos frutos de seu próprio trabalho. O outro, se deixado a si
mesmo, não poderia obter nenhuma subsistência de seu próprio trabalho estéril",
a menos que pudesse receber meios de subsistência da agriculrura. 3
Mas sabemos também que esses meios necessários de subsistência consti-
tuem os salários, tanto dos crabalhadores agrícolas como dos operários industriais.
Segue-se, portanto, que a agricultura é a fonte de salários, tanto para a população
agrfcola quanto para a industrial. "De qualquer modo que o trabalho [do agricul-
tor] faça a terra produzir além de suas necessidades pessoais, esse é o único fundo
do qual são pagos os salários que todos os membros da sociedade recebem em
uoca por seu crabalho."4 Ao entregar parte de seus meios de subsiscênda à classe
indus[rial em troca das manufaturas desta última~ os agricultores aparentemente
lhes pagam sua subsistência, ou salários. Os agrkulmres formam a classe que paga
0 trabalho da população industrial; esta é "assalariada" pela classe agrícola.
agrícola tem um valor mais alto. "Seu erro", escreveu Marx, "estava em confundir
0 aumento da substância material, que - em razão dos processos naturais de
vegetação e geração - distingue a agricultura e a pecuária da manufatura, com
0 aumento do valor de troca." 5 Os fisiocratas não suspeitavam que a incapacidade
do trabalho industrial em criar nova substância material não o impossibilitava de
modo algum de ser uma fonte de mais-valor. Não tivessem incluído artificialmente
0 lucro capitalista nos custos de produção e eles ceriam sido forçados a concluir
que a indústria também rende um lucro ou rendimento líquido superior à mera
restauração de seus custos de produção. Por outro lado, os fisiocratas falharam
em captar que esse aumento na quantidade material dos produtos agrícolas (um
aumento que eles atribuíam à maior produtividade física da cerra) ainda não sig-
nificava qualquer crescimento na sua quantidad• de valor d• troca. Os fisiocracas
confundiram a produção de produtos in natura (valores de uso) com a produção
de valor de troca. Tal confusão reflete meramente o estado atrasado da agricul-
tura francesa no século XVIII, que passava por uma fase de transição de uma
economia natural para uma economia de trocas.
Apesar da profundidade desses erros, a teoria fisiocrata do rendimento
líquido continha ideias férteis para seu desenvolvimento futuro.
Os fisiocratas viam que a caracteriscica decisiva da prosperidade econômica
era o crescimento do rendimento líquido ou mais-valor e que o principal objetivo
do processo produtivo era aumentar esse rendimento. Mesmo que equivocados
ao atribuir exclusivamente à agricultura a capacidade de gerar um rendimento
líquido, eles foram perfeitamente consistentes em chegar à conclusão de que
somente a agricultura constitui um emprego "produtivo". Sua doutrina errônea
da produtividade exclusiva da agricultura estava, portanto, fundada numa ideia
correta: a de que, do ponto de vista da economia capitalista, apenas o trabalho
'fU• rende mais-valor pode ser considerado produtivo.
No encanto, os fisiocratas prestaram um serviço ainda maior ao levar a
questão da origem do mais-valor da esfera da troca para a esfera da produção.
Os mercantilisias haviam conhecido o mais-valor fundamentalmente como lucro
sobre o comércio, no qual eles não viam mais do que a remarcação que o mer-
ca.dor realiza no preço da mercadoria. Em sua visão, o lucro tem sua fonte no
âmbito da troca, especialmente o do comércio exrerior, ocupação que eles consi-
deravam a mais lucrariva. A doutrina mercantilista de que o comc;;rcio é a fonce
de rendimento (ou lucro) líquido foi duramen<e refuiada pelos fisiocraias. Para
eles, o comércio não traz nenhuma riqueza 11ov11 para o país, uma vez que a livre
168 OS FISIOCA.ATAS
De minha parte, não pos.so ver no comércio nada além da troca de valor por
outro valor igual, sem qualquer produção, mesmo que determinadas circunstân.
cias tornem essa troca lucrativa para uma ou outra das partes contratantes, ou até
para ambas. De faco, deve-se considerar que o comércio é lucrativo para as duas
\ pan:es. pois cada uma delas procura para si mesma o gozo da riqueza que elas
podem obter apenas por meio da troca. Mas aqui não há jamais outra coisa senão
uma troca de um item de riqueza de um valor por outro item de riqueza de valor
igual e, por conseguinte, absolutamente nenhum crescimento da riqueza.6
· . dores? É
Ha reaJmence uma maior necessidade de compradores do que de vende sd
realmente mais lucrativo vender do que comprar? Deve 0 dinheiro ralJnCPC( 0
preferido às boas coisas da vida? Certamente, são essas coisas que constl(l.lefll
o l"AOOUTO 1.lov100 169
Notas
l. "Devemos esrabelecer uma d.isrinção entre um somllr dos itens de riqueza que .são
combinados uns com os ouuos e a produrão de riqueza. Ou seja, ~ preciso disrin..
guir enuc um crescimento proporcionado ptla combint1{io de marérias-primas- que
implica o consumo ele coisas que já existiam antes desse crescimento- e umagmzrio
ou criação de riqueza, que consriNi uma renovação e um crescimento rttlÍ da riqueza
renascente" (Quesnay, Dialogue sur ks lftlVllllX tks artisAns (Diálogo sobre o uabalho
dos artesãos], traduzido em Mcek, 7ht «0nomia ofpbysiomcy, 1962, P· 207).
2. Apud Marx, 7htorin ofsurplus 1111/u<, parte 1, Moscou: Progress Publishers, edição
inglesa, 1%9, p. 60.
r
3. Apud Georges Weu!ersse, ú mouvement physiocratique en France (de 1756 à 1770),
v. 1 (Haia: Editions Mouton, 1968, reimpressão fotográiica da edição de 1910),
p. 256.
4. Turgoc, Reflections, in: Meek, lheeconomicsofphysiocracy, 1962, p. 122. "O agricul-
tor, no geral, pode passar sem o trabalho do outro trabalhador, mas nenhum traba-
L'-t.ador pode trabalhar se o agricultor não o sustenta. Nessa circulação, que por meio
da croca recíproca de necessidades torna os homens necessários uns para os outros e
constitui o elo da sociedade, é, port:anto, o trabalho do agricultor o primeiro motor,
Tudo o que a terra, graças ao trabalho do agricultor, produz além de suas necessida-
des pessoais é o único fundo a partir do qual são pagos os salários que todos os outros
membros da sociedade recebem em troca de seu trabalho. Estes últimos, fazendo uso
da faculdade que, nessa troca, lhes é dada de comprar os produtos do agricultor, não
fazem mais do que lhe devolver exatamente aquilo que dele receberam. Temos, aqui,
uma diferença básica entre esses dois tipos de trabalho [... ]."' Essa passagem mostrai
além do ponto para que Rubin aqui chama a atenção, o verdadeiro insight de Turgot
sobre o salário, cuja natureza é a de ser antecipa® ao trabalhador pelo capitalista,
depois retornando necessariamente a este último; isco é, a ideia do salário como parre
do capital circulante do capitalista. Marx demonstra isso muito claramente ao longo
de suas discussões sobre a circulação capitalista. no livro II de O capital, especial-
mente cm seus esquemas da reprodução simples.
5. Marx, 1heories ofsurp/us va!ue, parte li Moscou: Progress Publishers, edição inglesa,
p. 62-63; grifos de Marx.
6. Quesnay, Dialogue on the work of anisans, in: Meek, lhe economics o/phyJiocr•tJ•
1962, p. 214.
7. Quesnay, Maxims, in: Meek, lhe economics ofphysiocracy, p. 252.
8. lbid., p. 251.
9. lbid.
1O. Quesnay, Dialogue on thc work of artisans, in: Meek, lhe economics ofphysiocr4 tJ•
1962. p. 218.
11. lbid., p. 219.
Capítu:o ~5
Emão, tem início um processo de troca ou circulaçáo entre essas três classe'
~ue consiste numa série de atos de compra e venda entre elas. Para conferir
ª.nossa exposição, apresentamos dois esquemas: o primeiro descreve a transfere~:
dar:
• · d e dinheil1l·
eia de produtos entre as dif.erences clas.ses, e o segundo, a transferenc1a
A Agricultores
Produtos. indu.stti:i"Ls 2 P Proprietários
- representa a classe dos agri"ultores. o com lcua J o dos indmtriais e o com a lcua Po dos
propri(:cários ou tcrra-rcnenrcs.
~o segundo at0 de circulação, os proprietários tomam seu bilhão de libras
restante e compram produrns industriais para seu próprio consumo; esses produ.
tos se movem de [para P, enquanto o dinheiro se move de P para!. O resultado
desse segundo ato da circulação é: A tem 4 bilhões em produtos agríco\,, e
1 bilhão em dinheiro; P tem 1 bilhão em gêneros alimentícios e 1 bilhão de libras
em produtos industriais; e l cem 1 bilhão em produtos industriais e J bilháo de
libras em dinheiro.
~o terceiro aro de circulação, os industriais> que rt"ceberam l bilhão em
dinheiro dos proprietários,* comam esse dinheiro para comprar dos agri.cuhores
Como os industriais, no terceiro ato da circulação, dão aos agricultores 0 linh12 "'""'º
dinheiro que eles próprios haviam recebido dos proprietários no segundo at~· ~a) IC>"'
no esquema da circulação monetária leva diretamente à linha 3 (assim como hn·caJl'lelltc
à linha 4 e esta à linha 5). O uso de urna linha ininterrupta mostra que é fisJ dorí;l."
a mesma moeda que aqui troca de mãos. No esquema da circulação de mer;is. 11"
as linhas nio estão conectadas umas com as ouuas, mas estão enuecortadas.
Table11u, cada produto é uansferido do produto ao consumidor apenas urna ver-
OIE 0 VI: S N,\Y 175
,,...,
1
176 OS FISIOCA.ATAS
esteja completo, ele volta à classe P como renda do ano vindouro. Essa transfe-
rência numa só direção de 2 bilhões em dinheiro de A para P foi indicada cm
nosso segundo esquema pelas duas linhas entrecortadas (passo número 6), cada
uma representando uma transferência de 1 bilhão de libras.• Em suma, o segundo
esquema mostra claramente o crescente movimenro circular do dinheiro; ele passa
de uma mão para a próxima e, evenrualmente, retorna ao seu ponto de partida:
l bilhão de libras passa de P para A, e então volta para P; outro bilhão de libras é
transferido de P para /, então de I para A, de A retorna para I e, então, volta para
A, a partir do qual passa, como renda, a P. 4
Como resultado desse processo de circulação, o produto social agregado é
distribuído entre as diferentes classes sociais de maneira a permitir que o procmo
retome ao seu nível anterior. Os agricultores têm 2 bilhões em gêneros alimcntÍ-
'
' dos (assim como sementes, forragem, etc.) com que mantêm, tanto a si mesmos
quanto a seus trabalhadores, por um ano inteiro; além disso, eles têm l bilhão em
bens industriais para renovar a porção depreciada de seu capital fixo. Eles foram,
assim, compensados pela totalidade de seu capital circulante mais seu capital fixo
desgastado e podem recomeçar o processo de produção em seu volume anterior,
obrendo uma colheita no valor de 5 bilhões de libras no final do ano. A classe in·
dustrial tem seus meios necessários de subsistência (no valor de l bilhão de libras)
mais as matérias-primas (também no valor de l bilhão) que, quando trabalhadas
ao longo do ano vindouro, resultarão na manufatura de bens acabados no valor
de 2 bilhões de libras. Como o valor dos bens indusrriais é igual ao valor das
matérias-primas mais o valor dos meios de subsistência consumidos pelos indus-
triais, é óbvio que a indústria não cria nenhum rendimento líquido. Os agricul·
tores e industriais têm, portanto, estoque suficiente de produtos, canto para seu
consumo pessoal quanto para repetir oprocesso de produção. Finalmente, os proprie-
tários de terra têm aqueles gêneros alimentícios e as mercadorias necessárias para
o consumo de um ano.
O caso que Quesnay examina cm seu Tabkau é o de uma reprodu;íi4 silfl'
'- em que esta se dá na mesma escala que anteriormente. Ele escava, no entaDtº'
p.,,s, ro-
perfeitamcnte conscicnre de que havia outras duas formas de reprodução: ª rep
----- <1>(d'°
Indicamos o movimento de dinheiro (6~ra 2) durante os aros de oornp~ e."°')., 5).
O TABLEAU SCONOMIOUE OE OUCSNAV 177
Notas
1. . n ··h . Moscou· Progress Publishers,
Engcls, Prefácio à terceira edição alemã deA11n·Llll rmg. J •
í
180 OS FISIOCRATAS
França atinjam o seu nível no mercado mundial, é preciso franquear aos cereais
franceses um acesso livre e irrescrito ao mercado mundial _ 0 que explica a !uca per-
sisrence dos fuiocracas concra as proibições mercantilistas da exportáçiÍIJ ~ cereais.
Originalmente, os .fisiocracas entendiam por "livre-comércio", acima de tudo, a
livre exporcação de cereais. Na visão de Quesnay, a livre imporcaçáo de cereais
só poderia ser permicida nos anos de má colheica, de forma que ele defendia 0
livre-comércio à medida que os inceresses da agricultura o demandassem. Foram
os discípulos de Quesnay que conferiram ao slogan "livre-comércio" um carácer
mais amplo e mais absoluto, e foi apenas com eles que a famosa fórmula dos
livre-cambiscas - laissez faire, laissez p11Sser - começou a ser repetida com fre-
quência crescente.
Os lisiocratas não buscavam a liberdade de comércio simplesmence como
um meio de elevar os preços dos produtos agrícolas; ela era, cambém, um meio
pelo qual os preços dos produtos industriais podiam ser reduzidos. A livre importação
de manufaturas bararas da Inglaterra ou de outras nações indusuiais enfraquece-
ria a posição monopolista das manufaturas locais e das guildas de mescres-arcesáos,
cujos preços inflacionados sobre os produtos acabados prejudicavam seus consu-
midores agrícolas. Ninguém deveria se queixar dos estrangeiros que inundavam
a França com manufaturas baracas e destruíam seus industriais locais. O país só
ganharia se esses industriais franceses concluíssem que não era luaaóvo conónua-
rem a produzir e a investirem seu capital na agricultura: cada libra investida na
agricultura renderia um produto líquido, ao passo que na indústria ele circulava
sem gerar nenhum "incremento". "Uma nação agrícola deveria facilitar um ativo
comércio exterior de produtos primários, por meio de um passivo comércio
exterior de mercadorias manufaturadas que ela pode comprar vantajosamente do
exterior.,, Assim, o ideal .6.siocrata de política comercial externa. - um ideal ditado
pelos inceresses da agricultura e da classe dos agricultores- era vender Ctrl!ais para
o exterior por alros preços e, on contrapartida, comprar do at~rior 1111Znufat1lrll.f
industriais baratas.
Assim, o primeiro beneficio do livre-comércio é garantir a um país ªum preço
vantajoso em suas vendas e compras" (isto é, um alto preço dos produtos agrícolas
e um baixo preço dos bens induscriais). o segundo benefício do livre-comércio é
queª concorrência mútua entre os mercadores os força a abaixarª remuneração
e reduz.ir seu lucro sobre o comércio ao nível dt stuS mtios neeessdrios de subslstindtJ.
Somente a livre concorrência pode forçar industriais e mercado«.S a abrirem mão
de seus lucros excessivos de monopoliscas, cujo fardo recai sobreª classe dos agri-
(
182 O.S l'ISIOCRATAS
cultores. Temos, então, a famosa máxima VIII de Quesnay: "A política econômica
governamental deve se preocupar em encorajar apenas os gasros produtivos e 0
comércio de produtos primários '.a produção e a circulação de produtos agríc0-
las- I.R.: e não deve interferir nos gastos estéreis :a indústria e o comércio-1.R.;".'
Para que a classe dos agricultores seja aliviada de seu fardo de "sustentar" a
esfera da indústria e do comércio, é preciso que esta última esteja livre da inrerfe-
r<ncia estatal e se torne uma arena para a concorrência desenfreada enrre indus-
rriais e mercadores (tanto nativos quanto estrangeiros).
Para os fisiocratas, o livre-comércio era um meio de fazer que as "tesouras"
se movessem na direção oposta, em que os preços dos produtos industriais cairiam
ao nível dos custos necessários de produção e o preço dos produtos agrícolas au-
mentaria ao nível do mercado mundial. A classe dos agricultores, no entanto,
tinha de se defender não apenas da política mercami!ista de encorajar unilateral-
mente a indústria e o comércio a expensas da agricultura; seus interesses também
tinham de ser protegidos das exigências excessivas dos proprietários fondiários e
do governo. No capítulo 9, vimos que, depois que o agricultor pagava a renda
e os impostos, o que sobrava era, com frequência, apenas o suficiente para sua
escassa subsistência. Era compreensível, então, que, sob essas condições, aqueles
que possuíam capital demonstrassem tão pouco desejo de arrendar terra. Para
atrair capitais para a agricultura, os agricultores teriam de ter a garantia de que 0
montante combinado de sua renda e dos impostos (juntamente com o dízimo da
igreja) não ultrapassaria o "rendimento" total que resta depois que seu capital e
seu lucro no cultivo foram cobertos. A doutrina tributária dos fisiocratas era UlD•
reivindicação de tal garantia.
Os fisiocratas defendiam que todas as formas de impostos diretos e
indiretos fossem substituídas por um único imposto rural direto, a recair sobre
0 "rendimento". O imposto tem de ser proporcional ~o rendimento líquido, au·
meneável apenas em proporção ao crescimento desse rendimento. Mas como 0
rendimento líquido vai para os proprietários de terra como renda, o imposto t(/ll
de recair exclusivamente sobre os proprietários fondidrios e ser calculado segundo
certa proporção à renda que eles recebem.• Esse plano de um imposto único sobrf
----- ,r·
Em ~ua A~alyse, Quesnay afirma que, do rendimento líquido cotal, quauo de ,sece pifl\'
tes sao reudas ~los proprietários fundiários, duas vão para 0 E.nado em forIJ\3. de
postos e uma vaJ para a igreja como dízimo.
P01..IT1C" ECONÔhl~C" 183
Os impostos não deveriam [...~ incidir sobre a riqueza dos agricultores da proprie-
dade rural, pois os investimentos que se realiMm na agricultura de uni reino deveriam
ser considerados como se fossem uma propriedadefixa que necessita ser preservada com
máximo cuidado a fim de assegurar a produção de tributos. rendimento e subsi'stênda
para todas as classes de cidadiios. Do contrário, a tributação degenera em espoliação
e gera um estado de declínio que não tarda em arruinar o Estado."'
E.o;iado _ o que requer que a renda e os impostos sejam limitados pelo tamanho
do rendimento líquido, isto é, pela introdução de um único imposto sobre a renda.
Como a reoria econ6mica dos lisiocratas visava descobrir as leis da reprodução
capitalista, sua política tconômica tinha de assegurar que esse processo de reprodu-
ção se desenrolasse normalmente. No encan10, como vimos em nosso capítulo
sobre o direito natural, os fisiocratas consideravam suas leis da reprodução capi-
talista leis "naturais" ecernas e imucáveis. É, porcanto, compreensível que eles con-
cebessem seus princípios de política econ6mica como sendo comandados pelo
direito natural. Eles declaravam o livre-cométcio como uma "liberdade sagrada,
que pode ser vista como um resumo de todos os direitos do homem", exatamente
do mesmo modo como a "taxação é subordinada pelo Criador da natureza a
uma ordem definida", prescrita por leis naturais e coincidentes com o programa
tributário dos fisiocratas. Todas essas partes do sistema fisiocrata - a concepção
filosófica das leis naturais, as leis teóricas da reprodução e os princípios de política
econ6mica - eram inextricavelmenre ligados uns aos outros pela unidade de sua
posição social e de classe, ela mesma exemplificada por seu sistema.
Notas
1. Qucsnay, Maxims, in: Mcelc, lhe economies ofphysiOCT11C], p. 235; grifos de Quesnay.
2. lbid., p. 233.
3. Marx, 1heories ofsurplus valw, Moscou: Progrcss Publisher>, edição inglesa, parte !,
p.52.
4. Qucsnay, Maxims, in: Meek, 1he wmomia ofpbysior:r119, 1962, p. 232; grifos de
Qucsnay.
Capítu:o 17
O LEGADO TEÓRICO DOS FISIOCRATAS
proc!uco S(J('ial, e este é, então, distribuído - por uns poucos atos essenciais da
ârr1</açiio (sendo cada um deles, em si mesmo, uma generalização de uma mu).
tip!icidade infinita de atos específicos de compra e venda) - entre as principais
classes sociais. Pertencem a Quesnay; o conceito da economia como um processo
periodicamente repetido de reprodução; a ideia de que a riqueza de uma nação
é o resultado de um processo de produção que se renova a cada ano; a ideia de
que o produto nacional é distribuído entre classes sociais individuais _cada urna
dessas ideias fundamentais da economia política clássica, que mais tarde seriam
desenvolvidas por Smith e Ricardo.
~ão obstante os erros e a falta de jeito do Tabkatt économiqtte, a teoria
da reprodução social criada por Quesnay pode ser considerada, no geral, 0 pen-
samento mais maduro e completo entre suas criações. Suas ideias básicas se
tornaram parte dos fundamentos da ciência econômica, cm que permanecem
até nossos dias. O quão avançada era sua teoria da reprodução para os padrócs
de sua época se evidencia no fato de q uc os economistas clássicos não apenas
falharam em aperfeiçoar suas ideias, como também, ao menos nessa área, ficaram
atrás de Quesnay. Isso é mais verdade no que diz respeito aos epígonos da escola
clássica, que falhatam em fazer qualquer uso científico das ideias seminais do
Tableatt économique. Enquanto a obra de Quesnay foi, em outras áreas (como
no problema do mais-valor, do capital, dos salários e do dinheiro), aperfeiçoada
pot Smith e Ricardo, seria necessário esperar mais de um século até que a teoria
da reprodução social pudesse ser desenvolvida. Foi somente Marx, no segundo
volume de O capital, quem puxou o fio da investigação inicial de Quesnay-
depois melhorada com a teoria da reprodução social contida no Tableau - '
desenvolveu-a até sua completude.
Essa teoria nos conduz diretamente ao problema do capital e do mais-valor.
e é o desenvolvimento fisiocrara desse problema que constitui seu segundo~~
de serviço científico. Os fisiocraras entenderam a reprodução como a produ:,
de um prorluto que recoloca seu próprio valor (o capital investido) e rende, ai de
desse valor, um excedente ou rendimento líquido (mais-valor). O pro~•'·
reprodução abarca, assim, a recolocação do capital e a produção de ma!S· ·do
d" to [íqUI
Contrapondo agudamente os custos de produção (capital) ao ren unen ·cJistl'
{mais~valor), os fisiocratas caracterizaram incisivamente a economia capi esS'J
como uma economia cujo objetivo é a produção de mais-valor. Ao faze'
·-· o LEGADO TEOA.ICO ººª ,;1s1ocAAT"'S 189
disrinçáo, trouxeram uma grande clare1.a, tanto para o problema d.o capital
quanto para o do mais-valor.
Diferentemente dos mercantilistas, cuja atenção estava focada na forma
dinheiro do capital, os fisiocratas defenderam um conceito de capital produtivo
como a totalidade dos meios de produção. Eles reali1.aram a primeira e, para sua
época, a melhor análise do capital, tanto do ponto de vista de seus elementos
materiais quanto daquele de sua tttXtl de circuúrçáo. Por seu uso dos termos
"'avances primitives" e ªavances annuellel' eles estabeleceram uma distinção fim-
damental entre capitalfoo e circttÚtnte, uma distinção de que Smith se apropriou
in toto e que predomina na ciência econômica até nossos dias. 1 O que é ina-
dequado na teoria fisiocrata do capital (assim como na teoria dos economistas
da escola clássica) é que ela ignora a forma social do capital e se concentra nas
funções técnicas daqueles meios de produção que funcionam como capkal. No
entanto, essa falha - que eles compartilham com a escola clássica - é inerente a
toda tendência científica que. presa a um horizonte burguês, toma a forma da
economia burguesa como eterna e "natural" da economia em geral. É justamente
essa concepção que alimentou os ideólogos progressista& da burguesia durante o
período em que esta ainda desempenhava um papel revolucionário cm sua luta
contra os resquícios da ordem feudal.
A mesma falha básica emerge, mas com uma força ainda maior, em sua
doutrina do rendimento liquido (mais-valor). Como os fisiocrataS não atentavam
para o lucro, o mais-valor foi conhecido por eles apenas na forma da mida da
temz, o que os levou a procurar sua fonte nas propriedades especificas da agri-
cultura. O problema da inter-relação entre diferentes classes sociais (o problema
do mais-valor) foi confundido com o problema da inter-relação entre diferen-
tes ramos de produção. Uma vea. que os fisiocrataS haviam fracassado em sua
tentativa de explicar o mais-valor (renda) com base no valor maior dos produtos
agric:oias, eles não tinham outro recurso senão procurar sua fonte na produtivi·
dade física da natureza. Os lisiocrataS confundiram uma quantia excedem• de
""1or com um produto excedente in natura, a produção de valor com a produção
da substância material e a capacidade da agricultura de produzir valor com a
Produtividade física da terra. Assim, o que os fisiocraw encontraram foi uma
solução f/'sico-naturalista do problema do mais-valor: sua doutrina da natureza
corno fonte do valor e uma teoria da producividacle exclusiva da agricultura. Isso
;.
190 OS r:1s10CRATAS
Apenas Tu~t mostra ter tido uma visão mais ampla e estar mais inclinado ª. J11~:
prcocupaçao com os interesses da indústria e da burguesia comcrcial·induscrW 1~
cooson~cia com isso, ele dcrnonstrou um interesse re6rico maior no probletnª. d~r é
(ver cap1tulo 13). {A concepção dcTurgot sobre a narurcza do lucro e do in:US"fisheis'
discuti~ ~r Ma~,~ ~e~ ~-~orias dtz mais-valia, Moscou: Progres5 pu.b
O L.ECADO TEORICO DOS FIS•OCA.ATAS 191
haja uma troca de equivalentes. É óbvio que, se esse fosse o caso, um aumento
no valor ocorreria não no processo de troca, mas no processo de produção que
0 precede. A ideia de que o valor i criado no interior do processo de produção e
determinado antes de o produto ingressar no processo de tirculação pertence aos
fisiocratas e forma a base necessária da teoria do mais-valor. Se os mercantilistas
(e especialmente Petty) forneceram uma das primeiras formulações da teoria do
valor-trabalho, o mérito de ter posto o problema do mais-valor pertence aos fisio-
cracas (muito embora sua falta de uma correta teoria do valor os tenha impedido
de solucionar corretamente esse problema). O progresso científico subsequente
consistiu de uma tentativa de criar uma síntese entre a teoria do valor e a teoria do
mais-valor (Smith e Ricardo), uma síntese que apenas Marx seria capaz de realizar
com sucesso.
Nota
1. t interessante conrrastar essa afirmação de Rubin com a visão de Marx. que, no
llvro II de O capital (Capital, Moscou: Progress Publishers, edição inglesa, 1967),
cap. l O, diz que o único avanço de Smich em relação à distinção correta entre
capital fixo e capital circulante realizada pelos fisiocra<as está em sua habilidade para
generalizá-la a todas as esferas da produção capiralista e não con6ná-la simplesmente
à agricultura. Porém, cm todos os outros aspectos, Marx considera a discwsão de
Smith e sua compreensão do problema como um retrocesso em relação aos 6sio-
aatas. Pois a adoção por Smith daquilo que estava correto na doutrina .fisiocrata
coexiste com sua apropriação de alguns de seus erros básicos (mais imporrantc, a
confusão de capiu/ circulante, que é uma relação de valor, com os meios foicos de
subsistência dos uabalhadorcs), erros que tinham uma base lógica no sistema dos
6siocraras, mas que, na teoria de Smith, serviram apenas para obscurecer as relações
m;Us essenciais em.rc capital constante e variável. Para uma discussão mais completa
dessa questão, ver a quinta nota do editor no capírulo 24.
Parte 3
ADAM SMITH
·---
Ca;>ftu:o ~ 8
O CAP:TAUSMO INDUSTRIAL NA INGLATERRA
EM MEADOS DO SÉCULO XVIII
96 ADA.M SMITH
__ ,
emqua....,wuasas casas havia um ttntn-. e em quase todo tt1lfer uma peça de 10ltpa
~•..: ou ;ha//oo11: '.•••! todo fabricante de roupas cem de ter um cavalo, calvei do;,,
para 0 transporte de sua manufatura; [.•.] assim, todo manufaturador g•ralmcn..
cria uma vaca ou duas, ou mais, para sua família; [••• ) uma casa [está) plena de
trabalhadores robustos, alguns tingindo, outros vestindo as roupas, oucros no tear.
[...] Mulheres e crianças [...] estão sempre ocupadas cardando, tecendo, etc., de
modo que não resta nenhuma mão livre e todos podem ganhar seu pão, do mais
jovem aré o mais velho; acima de quatro anos de idade, quase todos trabalham,
geram seu próprio sustent:o. 1
recompensa por seu trabalho) e passava a pertencer ao mercador. Esre, por sua
vez, <ornava-se um mercador-empreendedor [putter out), comandando muitos
mesrres-arresãos de pequena escala que agora se rornavam trabalhadores depen-
_____
dentes da indúsrria domésrica. As oficinas artesanais independentes deram lugar
à <ottage. ou sistema domistieo de i"dústria de larga escala, cuja expansão sigrtifioou
../
198 A.DAM SML"l'l-i
/'
200 ADAM SMITH
as carc:fu mais simples já eram realizadas por trabalhadores sem experiência pré.
via _ um grupo completamente inexistente no período das guildas. Por ºUtro
lado, a necessidade de coordenar o trabalho de muitos indivíduos dentro de
uma única em;:iresa levou a uma divisão dos encarregados da organização da
manufatura: além do empreendedor, que era o organizador máximo da empraa.
surgiram capatazes, supervisores, vigias, etc. Com a manufatura, os uabalhad~
res com~aram a ser separados em grupos horizoncais: embora artesãos treinados
ou craba.1hadorcs habilidosos ainda formassem o núcleo básico, agora eles tinham
trabalhadores sem treinamento abaixo e encarregados da administrarão acima deles.
\ Por fim, paralelamente a essa especialização dos trabalhadores, ocorreu uma
CSf'(ciali1.ação ou diferenciação dos instrumentos de trabt1lho. Uma ferramenta par·
\ ricular era agora modificada para depender da natureza da operação na qual ela
seria empregada. Isso fez. com que surgissem diferences tipos de martelos, serrotes,
etc., cada um dos quais adaptado da melhor maneira possível a uma operação es-
pecífica. As ferramentas continuaram, no entanto, a ser operadas manualmente,
com sua eficácia dependendo da força e da destreza daquele que as manuseavL
Elas eram pouco mais do que um suplemento para os trabalhadores vivos, que
ainda ocupavam a posição principal no processo produtivo. A manufatura se
baseava na temologi11 manual, cujo 11/to n{ve/ de prod1'tivitÍtlde se devia àfrag111tn·
t11çiio do processo produtivo, à especialização dos trabalh11dores e à diferenciação
dos instrumentos J, tr11b11/ho.
Assim, na Inglaterra do século XVIII foram se desenvolvendo, no inccrior
da indústria, relações novas, capitalistas, ao lado das guildas artesanais p~·
mente existentes! o sisttma doméstico se difundira rapidamente, mas o mesrno nao
ocorreu com a m11nufatu.ra. No curso de seu crescimento, a indústria capitalisU
confroncou·se com obstáculos criados pela atrasada legislação então existente: cin
panicular, o sistema Je gui!Jas, que fora estabelecido para proteger OS intcrCSSCS
das oficina.~ ancsanais, e a politica áo mercantilismo. . de-
As ngulaçii<s da gui/tÍll conferiam o direito a se empenhar de modo"' d•
pendente na indústria apenas àquelas pessoas que haviam concluído scce anosdi-
csrudos e se tornado membros de uma guilda (conforme a lei sobre 0 apt<I'
zado promwga ' da por Elisabete l, em 1562, e que ainda continuava enl vi"°' no
::i-codo
século XVIII). Es.a.s mesmas regulações proibiam a venda de mercadoriasª "'
comprador que não 6...,. parte de uma guilda. A proibição de eonuatar '"eou
do que um certo número de trabalhadores jornaleiros e de aprendizes bJoqu O.S
a construção de manufaruras. Uma complacência estrita com as regulaçóCS
.. ,,...,... .. .,jy- .....,..,... .._. .......... -1 •. _ __
Nota
OJ.nicl Dcfoc, A 1011t thto' the wfiqfe lrf.1nd o/ Grt11t Britnin, v. 2, 1.Qndtc.s: Pcccr
!.
Davic~. 1928, p. 601-602. Um tenter é um .:a.valete u.~ado par.a est<.'.'ndcr a l'oupa:
um .d111//()IJ11 (:uma p(.·qut·na peça de: tt."cido usada para cobrir forros. Em~ora Rubin
apr<.':.('l'lt(." c.li~C~ m:chos como se fo1'.~cm uma única passagem condnua, tr3U-:'ic, nJ
y(·rdadc, de uma Junção Ge sentenças t0madas de diferentes parágrafos da nJ.rrativa
de Dcfoc. Decidimos fragmentai' as semer.ças tal como da.ç se a?rescnrJ.m no
original d< Defoe.
Capítulo 19
ADAM SMITH, O HOMEM
Não aceito nenhuma. desçulpa de seu estado de saúde, que suponho ser apenas um
subterfúgio inventado pela indolência e pelo amor à solidão. De fa•to, m•u. caro
Smith, se você continuar a recorrer a pretex.ros dessa natwt'Z3. voce acabara Por
romper todos os laços com a sociedade humana, para grande prejuí:zo de ambas
as parres.2
Notas
J. Carca de Hume a Smich, de 20 de agosto de 1769, in: Erncsc Campbell Mossner e Ian
Simpson Ross (ed.), 7he cormpondenct ofAbm Smith, Oxford: Oxford University
l'rcss, t977, p. 155.
2. lbid., 28 de janeiro de 1772, p. 160.
Capítu:o 20
A FILOSOFIA SOCIAL DE SMITH
. . d
O sr. Quesnay parece ter [...] 1magma r corpo político) prospera apenas
o que 'º
. f. • libe-dade e perfeita justiça. Ele
sob um cerco regime, o exaco regime da per ei ta d
lítio• o esforço natural que to o
parece não ter considerado que, no corpo po ' . ..
. condição é um pnncip10
homem faz continu~mente para melhorar sua propna ,.
. . muitos a~pectos, 0-; nlaus ere1tos
de preservação capaz de prevenir e comglf, em · Uma
dº da é parcial e opressiva.
de uma política econômica que, em certa me 1 ' • or grau, nem
.. dá-lo cm maior ou men
tal poliuca econômica, embora possa retar
214 AOAM SMITH
Mas o homem tem quase sempre necessidade da ajuda de seus irmãos, e seria cm
vão ele esperar essa ajuda apenas de sua benevolência. ~ mais provável que ele a
obtenha se conseguir mover a seu favor o tlmor-prtJprio dessas pessoas, mostrando·
-lhes que é para sua pr6pria vantagem que elas fazem por ele aquilo que de lhes
pede. Quem quer que ofereça a outrem uma barganha de qualquer tipo escara
fazendo uma tal proposta. Dê-me aquilo que quero e voei tmi aquilo que quer é o
significado de qualquer oferta desse tipo; e é desse modo que obtemos uns dos
ouuos a maior parte daqueles bons oficios de que necessitamos. Não é da benevo-
lência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que obtemos nosso jantar, mas
de sua preocupação com mu pr6prios intertsset!
do:
ou Um interesse pessoal individual o torna apto a estabelecer trocas com
pessoas; e a aspiração à troca, como veremos, produz, por sua vez, a divisão
balho entre as pessoas.
i111/j • O argumento acima apresentado caracteriza de modo nítido o método
i11st;•idualista
._ · li'sta de Smith. Ele explica a origem das mais
, raciona · 1mponan
· tcs
irnu •tuzço., so · . ( · d
eia.is nesse caso, a troca e a divisão do trabalho) a pamr a nature-a
tavcl do . J• •J • do
muzvzauo abstrato - seu interesse pessoal e sua busca consciente
, .·vel Por isso ele arribui ao homem abstrato motivos e 4.I-
maior rendimento pos~:i · ) - d d
. -·o à ermuta ou à troca que sao, na ver a e~ o resuftadc
• i·
pirações ra~m, a inc11naça p . .
- : - - 'd ore o indivíduo por essas mesmas mst1tuições sociais (
da mB u~nc1a e.xerci .1 so , . a
_ __ e ,~ a rroca) por longos penodos de tempo - influências ou
d1v1sao do uava...no e . . . .. i. e
- como meios de explicação dessas msmu1çoes. Smith dedui.
e!e apre.)enca, cncao, . .. . .
da nacur= do homem as instituições soc1oeconom1cas básicas que caracterizain
a economia capicalisra de mercadorias; o que ele toma como natureza humana,
no emamo, é a natureza determinada do homem tal como ela ganha forma sob a
inBuência da economia capitalista de mercadorias.
Smith aplica esse mesmo método de mover-se do indivíduo para a
sociedade quando explica outras instituições socioeconômicas. Ele explica o apa-
recimento do dinheiro pelo simples fato de que, em razão da inconveniência da
troca in natura,
.
As palavras que destacamos são aquelas que caracterizam de modo especial
0 mécodo de Smith. A explicação das instituições sociais deve ser buscada na
natureza de "cada homem", isto é, nos interesses pessoais de cada indivíduo; Po'
. ~
lSSO amamos o método de Smith de individualista. Também o chamamos.
racionalista porque, ao falar sobre o homem "prudente", que pesa conscienoo-
pe~
sameme suas vantagens, Smith toma o cálculo racional dos benefícios e
-meremes a d"iscmcas
. atividades econômicas - cálculo que s6 se desenvo1ve n 0-
da altamente desenvolvida economia capitalista e de mercadorias - coino tJf!lª
'da•de da natureza humana em geral. Além disso, essas ações do indWialh'
propne --
ocorrem em qualquer período da soc1e
•
- • do crab, do
. d ad e• ( uma vez que a d'iv1sao
1
cada homem, na medida cm que não viola as Jcis da justiça, é deixado pcrfeita-
lllcnte livre para buscar seu próprio interesse da forma como achar melhor e para
coloear tanto sua indústria como seu capital cm concorrência com aqueles de um
our.ro homem, ou conjunto de homens. O soberano é completamente livre de
220 ADAM SMITH
é • deSay,•
velho regime e do mercantilismo; posteriormente, por m, nas maos _•
especialmente de Bastiat, ele se converteu num instrumento de defesa do capita
!ismo contra os ataques dos socialistas. .e<fad•
Smith, portanto, considerava os fenôm~nos c:ronômi~s da so:cJhor
b ur~esa "naturais" , no senrido de que eles haviam Sido arraniados da
A fl'ILOSOFIA SOCIAL
221
corno "natural" é o mesmo que julgá-lo como algo positivo. Aqui, ser "natural"
. ·fica que ele corresponde aos princípios do direito natural Adic·10 al
s1gn1 · n mente
ao uso do termo "natural" em sentido valorativo, Smith também 0 emprega, no
entanto, quando profere juíws puramente teóricos, em que sua tarefa é investi-
gar um fenômeno tal como ele existe, independentemente de qualquer valoração
pcsiáva ou negativa. Aqui, identificar um fenômeno como "natural" tem um
sentido puramente teórico, indicando, como já notamos, que os fenômenos econô-
micos possuem uma regularidade "natural~ determinada por leis e independente
de qualquer interferência do Estado. Quando Smith diz que o "preço natural" (o
valor) de uma mercadoria substitui seus custos de produção e obtém um lucro
médio, ele quer dizer que, onde houver livre concorrência e nenhuma intervenção
do furado, os preços das mercadorias seguirão uma tendência a se manterem no
nível indicado. Esse nível normal, estabelecido espontaneamente para o preço da
mercadoria em questão, constitui seu preço "natural". O que é "natural", nesse
caso, é o resultado, alcançado de modo regular e espontâneo sem que o Estado
coloque qualquer constrangimento à livre concorrência dos indivíduos. Por isso,
o conceito "natural" abarca duas caracterísricas: !) espontaneidade e 2) regulari-
dade determinada por leis. Quanto à primeira, um preço só é reconhecido como
"natural" quando é o resultado espontàneo da livre concorrência e do conflito dos
interesses individuais; nesse sentido, 0 preço "natural" (livre) tem de ser contra-
posto tanto ao preço "posro legalmenre"' o preço fixo esrabelecido pelo Estado
ou pelas guildas, quanto ao preço "monopolisra". Quanro ao segundo arriburo,
nem todo preço de mercado é idenrificado como "narural", mas apenas "o preço
centra] em torno do qual os preços de rodas as mercadorias gravitam continua-
lnente" 12 d estabelecido
' em outras palavras, aquele nível de preços que rem e ser
sob condições de equilíbrio de mercado, onde há um equihbrio encre oferta e
demanda N . • ai" (valor) - que expressa
· esse sentido, Smirh diferencia preço narur
a '•guiar·1d d d d dos preços de
• a e dererminada por leis dos fenômenos o merca 0 -
lllercado" n d d d ll ruações na oferta e
' que nuruam constantemente, depen en o 35 u
!\a demanda.
Esse " fu •o extremamente im-
p0 segundo conceiro de "narural exerce uma nça ai
rtante . rural de nível narur
d no siscema reórico de Smirh: ele fala de preço na ' .
Os salári d . " al" não siurufica quC' os
os, o lucro e da renda. Aqui, o conce1co narur ,:J
222 ADAM SMIT"
. d d" -
prcce1cos o 1rc'ltO na
rural são absorvidos, mas um reconhecimento da '"'"[,,ri
-o... -
_, , .1 terminadapor leis dos fenômenos do mercado. Embora Smith USe
dnaeespontuneaeae. . .
periodicamente 0 cermo em seu primeiro sentido valoranvo, ele o emprega com
mais frequência em seu segundo significado, puramente teórico; de todo modo,
ele não confunde os sentidos prático e teórico do termo. A transição smithiana de
uma compreensão valoraciva para uma compreensão teórica do termo "natural"
representou um grande avanço para o estu/ÍQ puramente teórico, cientifico-causa/
dos fenômenos econômicos.
k investigações económicas dos mercantilistas tinham um caráter prático;
suas obras eram preponderantemente uma coleção de prescrições prátictJS a serem
imp!ementadas pelo Estado. O embrião de uma análise teórica que encontramos
cm Petty reve pouco impacto sobre o rumo do pensamento mercantilista. Também
com os fisiocratas, a atenção não era focada tanto na investigação daquilo que
existe (isto é, dos fenômenos reais da economia capitalista) quanto na elaboração
daquilo que deveria existir (isco é, as condições que tinham de ser implementadas
para o florescimento da economia da nação). Eles consideravam suas leis e propo·
sições econômicas como prescrições do direito natural. É apenas porque romavaJll
o capitalismo como a ordem natural ideal que a análise dos lisiocratas contém
valiosos elementos teóricos para a compreensão da economia capitalista. Se 0
sistema mercantilista era por natureza prático, e se o dos lisiocratas era teológico.
Smith põe a si mesmo conscientemente a tarefa de estudar a economia capitalis13
' teoricamente. É verdade que questões de política econômica são, para Smith, ex·
uemamente importantes e estão frequentemente entrelaçadas com suas anáJises
teóricas no curso de sua exposição; porém, no principal, esta é mantida como 111""
todologicamente distinta e isolada de suas considerações sobre questões prááca5·
É verdade que alguns dos mais sérios erros de Smith podem ser explicados Po1
sua confusão enue problemas teóricos e práticos (ver 0 capítulo 22, "A teoria do
vaior") , mas nao• h'a nisso
· nc: nhuma razão para surpresa: por ter se or1g--
·a;nado •
partir de necessidades práticas e ter se dissolvido em política econômica em selll
estágios primitivos, a teoria econômica não era imediatamente capaz de obter
uma consciência clara de si mesma como um método de análise teórica pura· D•
todo modo, a análise de Smith representou um grande e decisivo avanÇO rnctO"
dológico: ele pôs a economia política no caminho do estu/ÍQ teórico dos Jenôtflf,,os
. _,_ . . l" ,..,. fiindac!o!
reais "" economia capita tSta. •~ISSO reside a reputação de Smith como o
da economia política.
A PILOSOPIA SOCIAL OE SMITM 223
Notas
!. Adam Smith, An inquiry into the 1111turt and causes ofthe Wealth ofnt1tions, editado
p<>r Jl H. Campbell, A. S. Skinner e W. B. Todd, Oxford: Oxford University Press,
1976, livro rv; cap. 9, p. 674; grifos de Rubin.
2. lbid.
3. Traduzido do russo.
4. Wealth o/nations, livro II, cap. 3, p. 343.
5. lbid., livro III, cap. 3, p. 405.
6. Adam Smith, The theory ofmoral sentiment:s, Londres: George Bel! & Sons, 1875 [ed.
btaS.: Adam Smith, Teoria dos sentimentos morais, São Paulo: Martins Fontes, 2002],
parte II, seção II, cap. 3, p. 124; grifos de Rubin.
7. Wealth ofnations, livro l, cap. 2, p. 26-27; grifos de Rubin.
8. lbid., livro!, cap. 4, p. 37-38; grifos de Rubin.
9. lbid., livro rv; cap. 2, p. 456. E.<ta é a passagem em que Smith expõe seu famoso
conceiro da "mão invisível". "No momento em que cada indivíduo empreende
tanto quanto pode para empregar seu capital no sustento da indústria doméstica, de
modo a fuer com que os produtos dessa indústria renham o maior valor possívd, ele
trabalha necessariamente para tornar o rendimenro anual da sociedade tão grande
quanto possível. De fato, ele geralmente não pretende promover o inreresse público
e tampouco sabe o quanto o está promovendo. Ao preferir investir na indústria
doméstica em detrimento da estrangeira, ele visa apenas à sua própria segurança;
e ao conduzir aquela indústria de modo que seus produtos alcancem o maior valor
pos&vel, ele busca apenas o seu próprio rendimento, e nisso ele é, como em rudo o
mais, conduzido por uma mão invisível que o leva a realizar um fim que não fazia
Parte de sua intenção. E não constitui um prejuízo para a sociedade o fato de que
esse fim não fizesse parte de sua intenção. Ao buscar seu próprio interesse, ele fre-
quentemente promove 0 interesse da sociedade de modo mais efetivo do que o con-
seguiria, caso quisesse promovê-lo realmente."
10. lbid., livro lY. cap 9 687
li . ' • •P· •
• lbid.; grifos de Rubin.
12. lbid., livro l
• cap. 7, p. 75; grifos de Rubin.
capítulo 21
A DIVISÃO DO TRABALHO
'd srozam de uma harmonia completa tk interessts. Por meio de seu traL'<
Yl UOS ~ L.TclJ.ClO,
. da"°"''
A divisão social do trabalho aparece para Smith somente na forma ,Oo
ao passo que, por outro lado, a troca do prodttto do tr11baU10 é reduzida, deª~ J.s
com essa visão, a uma troca de 11tivid11des íabor11is de produtores individuaJ$·
--- A. DIVISÃO 00
---... .. -- ... --
Tl't"e#lil.HO 23 ,
..:
Notas
1. Mun, England's creasure by forraign trade, in: McCul\och, Early English on "ª'"
commrrct, Londres: Cambridge Universiry Press, 1954, p. 125; grifos de Mun.
2. Smith, Incroduccion and plan of the work, 7he wealth ofnations, p. 10.
3. lbid., p. 14-17.
4. "No progresso da divisão do trabalho, o emprego da maior pane daqueles que
vivem do trabalho, isto é, da maior pane do povo, acaba confinado a umas poucas
operações muito simples; frequentemem:e, a uma ou duas. Mas o entendimento da
maior parte dos homens é necessariamente formado por seus empregos ordinários.
O homem cuja vida é gasta na realização de poucas operações simples, cujos efeitos
também são, talvez, sempre os mesmos, ou quase os mesmos, não tem qualquer
chance de exercer seu entendimento ou de exercitar sua invenção em encontrar
meios de remover as dificuldades com as quais ele nunca se depara. Naturalmente,
ele perde, portanto, o hábito de tal exercício e geralmente se torna cão c:srúpido e
ignorante quanto é possível a uma criatura humana se tornar. O to.rpor de sua mente
0 torna não apenas incapaz de apreciar ou tomar parte em qualquer conversação
racion~. mas de conceber qualquer coisa generosa e nobre1 ou de ter um sentimento
terno e, consequentemente, formar um juízo justo acerca de muitos dos deveres or-
dinários da vida privada [... ].A uniformidade de sua vida estacionária[... ] corrompe
acé mesmo a atividade de seu corpo, tornand~ incapaz de exteriorizar suas forças
com 'Vigor e perseverança em qualquer ourra atividade diferente daquela para ªqual
ele foi alimentado. Sua destreza em sua atividade panicular parece, desse modo. ser
adquirida a expensas de suas virtudes inrdectuaís, sociais e marciais. Mas em toda
Sôciedadc avançada e civilizada esse é o estado cm que o pobre trabalhador, isto é, a
gl'ande massa do povo tem necessariamente de cair, a menos que 0 governo as.suroa
0 encargo de evitá-lo" (7he wealth of114tions, livro V, cap. l, P· 781 "782).
234
capical fixo, tanto de um indivíduo como d.e uma sociedade. não formam parte do
rendimento bruto ou líquido de nenhum dos dois, então o dinheiro, por meio do
qual toda a renda da sociedade é regularmente disuibuída entre todos seus diferences
membros, não faz parte dessa renda. A grande engrenagem da circulação é cotal-
menre diferente dos bens que circulam por intermédio dela. A renda da sociedade
consiste intciramence naqueles bens, e não na engrenagem que os faz circular. Ao
computar, seja a renda bruta, seja a renda líquida de qualquer sociedade, temos
sempre de deduzir do total de dinheiro e bens que nela circulam anualmente o valor
total do dinheiro, do qual nem uma mínima porção pode jamais fazer parte de
qualquer uma dessas formas de rendimento" (Smith, 7he wealth ofTUttions, livro ll,
cap. 2, p. 289).
14. Smith, 7he wealth ofnations, livro II, cap. 2, p. 321.
capitulo22
A TEORIA DO VALOR
Ycrapítulo 7.
Ver capítulo 20.
A, Tlõ.'.ORIA DD YA~DR 237
~ . S ·m
0 uma medida secundária do valor de uma mercadoria, mi t
oma a quantidade
• d d •os
degrd I / dada qua.ntlda e e gr-J
os que e a poderá obrer ao ser rrocada (uma vt:t. que uma rabalho)
SCtnprc será. capaz de adquirir aproximadamente a mesma quantidade de t ' ·
/
• ·.L. da medida de valor pareça se originar de su
Em bora a ceona sm1ai1ana a
d como uma sociedade de crabalhadores el
• 0 da sociedade e croca . • a
concepça . d , . Q ando dizemos que numa soCiedade de simples
d do se~mce e1e1ro. u
pa ece º d . rodos os seus membros crocarn os produtos de seu
rodurores de merca or1as .
P ince cambém crocam o seu próprio crabalho, usamos
crabalho. e que, por consegu ' -
• " , ,,· semidos diferences. Os produtos do crabalho sao realmeme
0 ceemo troca em ao
trocados e colocados em pé de igualdade uns com os outros no mercado: aqui
temos uoca no sentido Iiceral da palavra. Já pela "troca" de trabalho efetivo en-
tendemos essencialmente um processo por meio do qual as atividades laborais
dos indivíduos estão ligadas umas às outras e distribuídas, processo que é inti-
mamente associado à troca dos produtos do trabalho no mercado. Em sentido
literal, não há nenhuma troca de trabalho, uma vez que não é o trabalho efetivo
que é comprado e vendido no mercado, mas apenas os produtos do crabalho.
A atividade laboral dos indivíduos exerce uma fimçáo social definida, mas não
constirui um objeto de compra e venda. Quando dizemos que há uma "troca" de
trabalho, entendemos que os trabalhos são socialmente iguais :uravnenie], e não
que são igualados f,priravnivanie] no mercado.
Desse modo, quando dizemos que, numa sociedade de troca (onde as
pessoas se relacionam umas com as outras como simples produtoras de mer-
cadorias), eu uso meu tecido para dominar ou comprar o trabalho de outrem,
isso quer dizer apenas que, ao adquirir o que ele fabricou, exerço uma influên-
cia indireca sobre o trabalho de um outro produtor de mercadorias. Eu croco o
meu produto dimameme por um produto do trabalho, e não pelo trabalho de
outrem. Em troca por meu tecido, eu recebo açúcar e com isso também recebo
indirecamence o trabalho d 0 d d , ' ' .
pro ucor o açucar. Em outras palavras, adquiro
o crabalho de outra "'"'S
, .. ºª b e
so uma lOrma já materializada como um pro 11to
d
que ele produziu. Isso difi ' .
balh ere enormemente da troca direta de meu tecido pelo
era o de alguém isto é 1 fi
0 d·~ . .' ª
' pe orça de trabalho de um trabalhador assalariado.
que i erenc1a tao nitidamente d. ' - .!
do crabalh
o que é comprado (e balh
essesº" casos e nao apenas a forma materta
. .
também 0 tip d la _ . ra 0 macenalizado versus trabalho vivo), como
o e re çao sacra[ que bel
~o primeiro caso l se esra ece encre os participantes na croca.
, e es se relacionam.
de mercadorias· n um com o outro como simples produrores
' 0 segundo, como ca · al" (
da troca de um P d pit !Sta e trabalhador. O primeiro caso 0
ro Uto por outro .
traço básico de tod . ' ou por trabalho materializado) conscicui um
a economia de me d .
rca onas; o segundo (o da troca de um
A TEORIA DO VAr..OR 239
,,duto pur trabalho vivo, ou de capital por força de trabalho) ocorre apenas no .
P . da economia capitalista. Somente no segundo caso, 0 rrabalho ~unc1ona
. ter1or
.
lll
direcarnen te como um objeto de compra e venda ou como uma mercadoria ('isco e,.
força de trabalho).
eomº 0 erro de Sm1t'h estava em conrun e d'ir a •troca• soc1'/(
a ou, mais propria-
cqualizaçáo) do trabalho, que ocorre em toda economia de mercadorias
~·
com a •çroca", no mercado, do trabalho como um objeto de compra e venda, 0'
que ocorre apenas na economia capiralista. Smith diz que adquiro ou compro,
com meu tecido, o trabalho de outras pessoas. Mas quando se pergunta se estou
aocando meu tecido por trabalho materializado (isto é, pelo produto do trabalho
de outrem) ou pelo trabalho vivo de um trabalhador assalariado, Smith não
apresenta nenhuma resposta clara. Ele fala sobre "a quantidade, seja de trabalho
de outros homens, seja, o que é a mesma coisa, de produto do trabalho de outros
homens que lhe é permitido [o proprietário de uma dada mercadoria - l.R]
compcar ou comandar".3 Essa confusão entre o trabalho e os produtos do trabalho
permeia toda a análise de Smith. No começo do capítulo 5, ele tem em mente
oato de dispor do trabalho de outros produtores de mercadorias independentes
mediante a aquisição dos produtos de seu trabalho. Mas no final desse capítulo,
de dá uma ênfase maior à troca de uma mercadoria por trabalho vivo, ou força
1ÍL trabalho: o possuidor da mercadoria aparece, agora, como um "empregador",
• ª mercadoria entregue em troca pelo trabalho como "o preço do trabalho",
ou salário do trabalhador. 4 Introduzir características inerentes à economia capi-
talista numa análise do valor das mercadorias, ou de uma simples economia de
mercadorias, significa introduzir uma terrível confusão nessa análise. A concepção
smithiana do trabalho que é adquirido em troca de uma dada mercadoria, e que
também serve como uma medida do valor dessa mesma mercadoria, converte-se,
na realidade' em dois· conceitos:
· ' vezes, ela aparece como •trabalho maten'ali-
as
zado COmandado• ·• às vezes, como •trabalho vivo· comandado"·
. • A confusão conceituai de Smith resulta do fato de que, tendo falhado desde
0 1n1cio em
captar a natureza social do processo de •troca• do trabalh0 numa
CConol'llia de mercadorias, ele considerou erradamente esta últ1ma
de · pe1ª "uocà'
Se na p.ro<luçáo de
\Uii,.detc ~quantidade menor de trabalho co_m~ça ~ser
<minada mercadoria, também rem de diminuirª q
:::dade de trabalho
242 1>.0I<"" sY•T"'
quando forem uocadas. Do total de 120 libras, o capitalista pode adqu. ~ elas
. irir, Pri-
meiramente, a mtima qun1111dadt de traballio dos trabalhadores contratados
foi •a.w na manufatura das mcrcadorias . em questao. ("mo e,• 100 1·ibras ou t\.llc
,. ' asorn;.
de seus salários)· em segundo lugar, ele pode comprar uma quantidade ad· .
' 1c1ona1
de trabalho com as 20 libras que restaram e q_ue constituem seu lucro C
· orn0
resu:rado 0 V3lor das mercadorias não é mais determinado (medido) pela
' quan.
tidade de trabalho despendido em sua produção (de fato, Smith aoora suL,1Jst1tu
. .
t> 1
0 "trabalho pago", isto é, os salários ou "o valor do trabalho", por trabalho des-
pendido). O valor das mercadorias é, agora, grande o suficiente para pagar inte-
gralmente pelo trabalho despendido cm sua produção e, além disso, obter cena
quantia de luero. Em outras palavras, numa economia capitalista, o valor da mer-
cadoria é definido como a soma dos salários mais o lurro (e, em certas circunstân-
cias, mais a renda), isco é, como a soma de seus "custos de produção" tomados
no sentido amplo do termo. Smith abandona, aqui, o terreno da teoria do valor-
•trabalho, substituindo-a pela teoria dos custos de produção. Anteriormente, ele
definira o V3lor de uma mercadoria pela quantidade de trabalho despendido em
sua produção; agora, ele o define como a soma de salários, lucro e renda. Antes,
afirmara que o valor de uma mercadoria se dilui no rendimento (salários, lucro
e renda); agora, ele diz que o V3lor é composto de rendimentos, que, portanco,
funcionam como as "fontes" d!l val!lr de uoca de uma mercadoria. Os rendimen-
tos são aquilo que é primário e dado, a!l passo que o valor da mercadoria é visto
como m:u11dário e derivado, formado pela adição de rendimentos separad!ls. A
magnitude do valor de uma mercadoria depende das "taxas naturais" de salários,
lucro t nnda.10
Sinteti7.ando a linha de pensamento de Smith, pode-se dizer que sua teoria
do valor padece do defeito fundamental de urna dualidade em seu procedimento
metod!llógico global. Sua análise das causas das mudanças no valor o conduzª
um conceito de "trabalho despendido"; sua busca por uma medida de valor, sendo
deriV3da de uma compreensão individualista da divisão do trabalho, leva-o ª Ulll
conceito de "trabalho comandado". Além disso, esses dois conceitos de trabalho
· · · d · . · almentc
sao vmos a pasur e seus aspectos objeúvos e subjetivos, embora pnncip , e
. d . . Mais --~o· e, cl
a parur os pnme1ros. • ainda, o conceito de "trabalho comanaau .
'fu 1
mesmo, 1 rca o, gurando na maior parte das vezes como "crabai.u0 material •
b d fj . 1L
li\ Tt;o~,- D ----
Q VALQll 2,45
.Jn comandadô (a troca entre simples produt , _
111'" • ores uc mertad .
raidoria por mercadoria), outras vezes co • orias, ou uma tro
de 111c • • mo trabalho . ta
Uota entre o capitalista e o trabalhador VlVo comandado•
(IJllU. ' ou a troca de
0 capital por trabalho como força de trabalh ) Co uma mercadoria
co111 • d ·r··• , o. mooque rcd.
nmeiro mOtlVO, O O O !CIO , O trab3.iho cornand d , p Om1na é
oP
.e.lho despendido e se toma indiferente se 0 valo da
ª 0 e considerad0 ·igual ao
II"""' . r mercadoria é d .
do por um ou pelo outro. Aqui Smith opera com um . d etenm-
1\;\ • a tcona o valot·trabalh
de 1110do que o parald1smo e a reconciliabilidade dessas d • 0
. . uas vias de sua teoria
escondem seu dualismo metodológico. Porém assim que . •
. .. '. o motivo capitalista"
entra em cena, as duas mlhas analmCJS e os dois conceitos d -uh .
e t•..,., o divergem
marcadamente. Numa economia capitalista, o uabalho mater"ali 1 z
ado
na merca-
doria é trocado por uma quantidade maior de trabalho vivo·, é uma troca de não
equivalentes, e Smith é incapaz de explicá-la do pomo de vista do valor-trabalho.
Ao conservar o "trabalho comandado" em seu antigo papel de medida de valor,
Slllirh é obrigado a abandonar a compreensão do "trabalho despendido" como 0
regulador das proporções da troca. O valor da mercadoria depende, agora, náo
miis do "trabalho despendido", mas do tamanho dos rendimentos dos vários
panicipanccs na produção (isto é, de salários, renda e lucro). Embora a ideia do
nlor-trabalho seja um dos motivos básicos do pensamento de Smith, ele náo a
concluiu, e quando a aplicou à economia capitalista, ele a substituiu pela teoria
tios rostos de produção. A teoria do valor-trabalho de Smith naufragou, pois era
impossível aplicá-la à troca de trabalho materialir.aM por trabalho vivo (ou capital
por trabalho).
Enquanto Smith se manteve denuo dos limiteS de uma economia simples
ele mercadorias, os elementos contraditórios que essa teoria trazia consigo (o
1cgulado1 das mudanças no valor e na medida de valor, o trabalho despendido
'o trabalho comandado, o trabalho materializado comandado e o uabalno vivo
comandado) ainda puderam se manter em alguma forma de equilíbrio instável.
,,_ . ,. . · al" sra esse cquih'brio
''"'assim que Smith estendeu suas análises à economia capit 1 • •
· • de Smith emergiram
instavel foi destru[do, e o caráter dualista dos construtos .
'l do . smithiana foi apro-
a Ul. do dia. Cada um dos diferentes aspectos da utnna 1
.:.J _ . . res Ricardo desenvo veu
~•...., e desenvolvido pelas escolas econômicas posteno · • . valor de
1111\ lad da áx" ma consistcncta - 0
o teoria de Smith ao definir - com ª m 1 • Malthus descnvol·
Notas
t. No ""'° rus.<o, consta: ob'rkt ili pudmtt, significando, nesse caso, o objeto de u111a
invcsrigação ou estudo.
2. No final do capilUlo 4 do Uvro l, Smith descreve como ele procederá em sua análise
do valor. "Para invc.<rigar os princípi0$ que regulam o valor cambiável dos mercadt>-
rias, procurarei mostrar, primeiro, qual é a medida real desse valor cambiável; ou em
que consiste o preço teal de iodas as mercadorios; segundo, quais são os diferentes
parte.< que compõem ou constituem c.<se preço real. E, por fim, quais são as difc.
rcnteS circunstâncias que. às vezes, elevam algumas ou todas essas partes difercnlCS
do preço acima, e às va.es abaixo. de sua tan. natural ou ordinária; ou, quais são
as causas que às vezes impedem que o pr~ de mercado, isro é, o preço real das
mcrcUorias, coincida <Xal'amcntc com o que se pode chamar de seu preço natural"
(Smith, Wta/1hof1111tions, livro 1, eap. 4, p. 46).
3. Smith, Wu/th ofnations, livro I, eap. 5. p. 48; grifos de Rubin.
4· lbid., P. 51. "Mas embora iguais quantidade.< de trabalho sejam sempre de igual
valor para 0 trabalhador, para a pessoa que o emprega, cios aparentam às vezes ter
um. valor maior o1.1 menor. Ele as compra ora cm uoca de uma quantidade ma,jor.
oro menor dc produtos, e para ele o preço do trabalho parece variar como 0 P~
de todas as outras coisos. Ele lhe pateec caro num momenro barato noutrO· N•
tealidadc, por<m • rod • ' uo-"
, •sao os P UlOS que estão baratos num momento, e caros nou
5. lb1d., p. 50.
6. lbid.
7· ~ P""'&ens ciwt.s ncssc par:ígrafo são extraídas de Smith, Wtalth o/nati•llS· JiVIO
'eap. 5• P. 49-50: grifos de Rubin.
-' .......
247
~
Ver capítulo 23.
250 "º""' 5 "'''"
•.·~
esraanada ou em declínio, elas não seriam fortes o suficiente para estancar uma
das associações de trabalhad,,res
queda nos salários. A subestimação da importdnda
em Smith reRete 0 estado imaturo dos movimentos operários durante a sua época.
Ao mesmo tempo, ela se enquadra em sua visão geral, pois implica que a vida
econômic.a cem de ser deixada ao livre jogo dos interesses pessoais dos inciividuos.
Notas
1. Traduzimos o termo zemel'naya renta como "renda fundiária Lf!ormd rem~"' (ou
"renda rural" [land rent]), que é seu sentido mais preciso, e como ..a renda da cerra
[the rent ofian~". a terminologia usada por Smith, quando se trata da renda corno
categoria econômica que especifica a relação social que os proprietários fundiários
mantêm com as outras classes da sociedade. A discussão específica de Smith sobre a
renda fundiária aparece no livro V do Wealth ofnations.
2. Smith, Wtalth ofnations, livro !, cap. 6, p. 66.
3. lbid., cap. 8, p. 83; grifos de Rubin.
4. lbid.
5. A frase de Rubin é chi.styi ili netrudovoi dokhod, que iiteralmence quer dizer "rendi·
mento líquido ou não adquirido (não trabalhado)", ~o entanto, no contexto em
que a frase se enconua, essa tradução não reproduziria o sentido pleno do uabalho
como a única fonte do valor.
6. A citação é do livro!, cap. 11, p. 162-163. Sobre a primeira fonte de renda, Smith
afirma: "Há algumas parte.s dos produtos da terra cm relação às quais a demanda cem
de ser sempre tal que garanta um preço maior do que aquele suficiente para levá-la ao
mercado; e há outras em relação às quais a demanda pode ou não ser tal que garanta
esse preço maior. As primeiras têm sempre de proporcionar uma renda ao proprie-
tário fundiário. As últimas, às vezes podem, e às vezes não podem, proporcioná-la,
dependendo das diferentes circunstâncias" (livro I, cap. 11, p. 162). A terceira fonce
de renda é discutida por Smith da seguinte forma: uMas quando, no incremento e
no cultivo da terra, o trabalho de uma familia pode prover alimentos para dois, 0
.__ ,comercial (o que era errado, na medida em que a divisão enrre cap· , li
capiw . . , . • 1raJ xo
e circulante se aplica a~enas ao ca~ita.i produn~o, e nao ao capital comercial).4
Ora, 0 capital arculante difere do capital fixo de acordo com 0 tempo
ue leva para circular. Seu valor (por exemplo, matérias-primas) é plenamente
;esiaurado ao proprietário da fábrica pelo preço de seu produto ao final de um
único µr!odo de produfáo. Já o valor do capital fixo (por exemplo, a maquinaria),
por ourro lado, é restaurado apenas em parte, sendo totalmente cancelado apenas
depois de completados vdrios períodos de produfáo. Smith se manteve vago sobre
essa distinção, voltando sua atenção para o aspecto material dos fenômenos como
coisas, para a maquinaria in natura, e não para o seu valor. Enquanto o valor
inteiro de uma máquina entra na circulação, mesmo que devagar e por partes, a
máquina permanece todo o rempo em posse do proprietário da fábrica aré que
ela esteja completamente depreciada. Ao perceber isso, Smirh chega à estranha
conclusão de que nenhuma parte do capital fixo _entra na drtulafáo: diferen-
temente do capital circulante (matérias-primas, por exemplo), que, "continua-
mente, parte dele [de seu proprietário - N. do T.I.J numa forma e a ele recoma
em outra forma", o capital fixo rende um lucro "sem mudar de mãos, ou sem
precisar circular". 5 As incongruências a que uma tal definição conduz Smith são
visíveis pelo modo como ele é compelido a classificar o valor da semente que o
agriculror armazena para posterior semeadura como capical fixo, simplesmente
porque cal valor permanece em posse do agriculcor. Usando a mesma definição,
Smith julga as mercadorias dos comerciantes como capical circulante, embora,
em sentido geral, elas constituam mercadoria, ou capital comercial, e de modo
algum capital produtivo.
Em sua teoria do capital, Smirh chegou muito perto do problema da repro-
dução, inclusive aquele da relação entre capital e rendimento. Ele 0 formulou em
termos muito mais amplos do que o haviam feito os lisiocracas, compreendendo
que ª formação do rendimento líquido - na forma do lucro - também ocorre no
âmbito da indústria. No enranco, o resrance de sua análise da reprodução é plena
dos mais l!agrantes erros. .
Como vimos de acordo com a ceoria de Smith, uma porção de cap1cal
é gasta na compra ~e implementos de produção (capital fixo) e de matérias-
·primas (capital circulante). Disso parece se seguir que o valor do :rodur~ ~uai
da sociedade como um rodo tem primeiramente de ser destinado a rcpos'.çao do
capital rotai gasro; apenas 0 que resta além dessa soma constitui o rendimento
. uc é, então, dividido entre as três classes sociais ?'mo salários,
C. <0<u:G.lde, q 1• • firuwn simultaneamente como uma porção
' ,.. e unc!a (enquanto os war1os .,, . .
.u:io l a renda formam o mais-valor, ou rendunento
c:!o e.a ia! circu!anrc, o ucro e .
p ns Smith realmente chega a uma compreensao correta
üquido). Em cerw ?"'-'"&• '
do prol>!cma:
:---
v., o capitulo 37, sobre Sismondi, ""pane 5•
~..;.n- --·- .·.;;.;;J' "''"'
/ 266 ADA.- 91111Tl'I
:----
Ver o capirulo 37, sobre Sismondi, na parte 5.
268 14.0/4.lol 5UITMI
adidonJ a.o valor dos mareriais sobre os quais ele trabalha aquele valor de sua
pré>pria manutenção e do lucro_ de seu possuidor.~:.o trabalho de um servente
domésdco, ao contrário, não ad1c1ona valor algum.
Podemos ver como o conceito de trabalho produtlvo mudou com a evolu-
ç:io do conceito de mais-valor {ou rendimento liquido). A única forma como 0 ;
mcrcant:Uista.s haviam conhecido o mais-valor era a do lucro comercial obtido com
0 comércio exterior e que a.fluía para o país como ouro ou prata. Desse modo,
para eles, 0 uabalho mais produtivo era o dos mercadores e navegadores envolvidos
no comércio exterior. Os fisiocraras compreenderam que o mais-valor era cria.do
no processo de produção, mas, ignorando o lucro e identificando mais-valor com
rmda, chegaram à conclusão errônea de que apenas o uabalho da população agrí-
to!a é produtivo. Smith, expandindo o conceito de mais-valor para nele incluir 0
lucro, transcendeu o conceito rescrito de trabalho produtivo defendido pelos fisio-
cratas. De acordo com sua teoria, todo trabalho assalnriado, seja ele agrícola ou
indusrrial, é produtivo quando trocado diretamente por capital e quando tende
um lucro ao capitalista.
Nesse ponto, Smith dedva a distinção entre trabalho produtivo e impmdu-
àvo de suas diferentes formas sociais, mais do que de suas propriedades maceriais.
Com base na definiçáo acima, o trabalho de um servente deve ser considerado
improdutivo se o capitalista o concratou para serviços pessoais, e produtivo quando
ele é empregado por um capitalista que administra um grande restaurante. No
primeiro caso, o empregador se relaciona com o servente como um comprador-
-consumidor; no segundo, como um comprador-capicalista. Embora, em scnt:ido
material, o trabalho do servente seja idêntico nos dois casos, cada um deles acarre-
ta diferentes relações sociais e de produção entre as pessoas, consticuindo uma
relaçáo produtiva num e.aso, e improdutiva noutro. Aqui, no entanto, Smith falha
em alcançar uma correta conclusão e se mostra incapaz de diferenciar a forma
social do trabalho de seu conteúdo material. Observando 0 que ocorria ao seu
redor, Smith percebeu que o empreendedor, às VC'll::l, usa seu capital para contratar
trabalhadores cuja atividade é incorporada cm objetos materiais, ou mercadorias,
mas outras vezes usa seu rcncümento para comprar serviços pessoais quando essa
pr<>pricdadc do matcrialidodc cst;\ au<cn te. A partir disso, ele chega à conclusão
de que o trabalho produrivo é aquele que
--
rn~mo instante cm que são rca1i1.ados e raramente deixam qualquer craço ou
,~lor au:ls de si, para o qual uma c;uantidade igual de serviço poderia ser buscada
pastcriormcnce. 11
t.:otas
l. S'.o iexto russo. conSta chistoklrozyaistuennot1 que significa "puramente CCOnôrnico"
~a p3gini seguinte, consta ch111mokhozyttisrotnn0t, ou "economia privada". Co~
0 primeiro desses termos par«< fazer pouco senrido no conrexm em que Rubin 0
utiliza, 0 consideramos - talvez de m....odo atrevido - um erro de imprcs..'\ão e 0 tr;i.
duzimos como '"economia privada", a 6m de coad1Jná~lo com o segundo termo que
aparece no 1cxto.
2. Smith, Wtalrh ofnations, livro II, cap. l, p. 279; grifos de Rubin.
3. lbid .. p. 28 !.
"· No livro li de O capiraf, Marx distingue três formas assumidas relo <apiral indus-
trial, cada uma delas c:aracteriiada por sua própria fórmula de circulação: 0 capital
montrdrio, cuja fórmula básica é D-M ... C ... M' - D', isto é, dinheiro (D) ó trans-
formado cm mercadorias (..\oi - meios de produção• foiça de trabalho), que funciona
como capillll prf/tÍutiuo (C) e a pmir do qual a[>arecem mercadorias de maior valor,
que são, por lim, transformadas novamente em din.i.ciro (M'. isto é, uma soma
maior do que anres, porque contém um incremenro de mais-valor). Segundo, h:i
capital produtiuo, que se refere espcci6camenre à forma assumida pelo capital no
inrcrior do processo de produção. Seu circuito é C ... M' - D' - M ... C. Quer dizer,
o processo de produção rende mercadorias aumentadas pdo mais-valor e que são,
então, vendidas por dinheiro. Se rodo o mais-valor tem de ir para o consumo pessoal
do ca[>italista (isto é, ser consumida como ren<fimcnro), as mercadorias adquiridas
para renovar a produção (meios de produção e força de trabalho) terão o mesmo
valor que antes, e teremos, então, M ... C (a reprodução simples). Se parre do mais-
-valor é capitalizada e usada para adquirir um valor maior de meios de produção <
de foiça de trabalho, representada pelo e original no começo do circuito, teremos
como resultado dessa acumulação C ... P' no final dessa fórmula. Aqui começamos
com a mercadoria-produto total tal como ela emerge do processo de produção.
i><o é, contendo o valor original de C mais 0 mais-valor. Tal mercadoria é, então,
transformada cm capital monetário, que é usado para comprar novamente meios de
produção e força de trabalho. Estes, depois de funcionar no processo de produção.
rendem uma nova mercadoria, M'' que também conrém o valor do capital produóVO
original mais o mais-valor. Toda a diocussão de Marx sobre 0 capital fixo e cir<U·
lante gira em como dessas distinções, pois, como Marx enfatiza, a distinção cnt!<'
oapiral fixo e circulante só tem relevância no interior do pro<tsso dt proáu;ão. O erro
de Smirh, como R.ubin discute aqui, foi 0 de confundir a circulação do valor eom 3
A TEORIA 00 CAPITAL E ºº TRA.BALlotO P1t.otn.1T1vQ
271 ._
circu)açá.o dos objetos materiais que incorporam esse valor. O capital circulancc é 0
capital cujo valorcompleta o cin:uito inteiro do capitalprodutivo num único período
de produção. O capical fixo é o capital cujo ualor acravcssa esse mesmo ci"uico
apenas durante um longo período de tempo, isto é, ao longo de vário. períodos de
produção. Foi a.<Sim que Smith écscmbocou na confusão entre capital eireulante
(que é nccess:iriamcntc parte de Q e capital tm circulaçio, c;ucr ditcr, 0 capit11/-
-mrrratloria (ou o que Rubin chama, aqui, de capital comercial).
5, Smith, Wtalth ofnations, livro li, cap. !, p. 279.
6. lbid., cap. 2, p. 286-287.
7, lbid., livro!, cap. 6, p. 69.
8. lbid., livro II. cap. 2, p. 337. Outras passagens na mesma página rracam do mesmo
pon[O. "'O que quer que uma pessoa poupe de seu rendimento, ela adiciona a seu
capital, e ou emprega-o na manutenção de um volume adicional de mão de obra
produtiva, ou capacita outra pessoa a fazê-fo, cmprescando a ela por um juro r...]
A parcimônia, ao aumentar o fundo descinado à manutenção Ca mão de obra
produciYat tende a aumenrar o volume dessa mão de obra, cujo trabalho incremcnca
o valor do sujeito a quem ela é conferida."
9. lbid., livro II, cap. 3, p. 337-338.
10. lbid., p. 330.
11. lbid.
P~nlo '1
DAVID RICARDO
capítulo 25
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NA INGLATERRA
:--- gl •
Corn - ' • - de Rubin à "[no acerca
...exceç:ao dessa adição, mantivemos as constantes rererenc1as" ~ anha" "Reino
e ao i lês" difi • 1 para Gra-Bret •
U .d ~g" . no restante do texto, em vez de m~. . ca: os . b . ente mais acura-
dos ruo, bncânico", etc. "Grã-Bretanha" e "brnamco senam o vigiam como palco
na - - - ( . "dade da ln aterra
maioria dos casos, mas, por várias razoes ª pnorl . da ·dade "Reino
ccnuaJ da Rev nsohdada ena
lJ 'd olução Indusrrial, a narureza pouco co _ d F.srado em muiras
ru o"
.... r ' que se formaria apenas em 1901, a
fa1 ta de cencrallzaçao.. oglacara" e "ingles
••
~«ras - - ) d ·d- os mancer 1n
n..., , assim como a preferência de Rubm , eci im
'"- do T.I.].
276 O/WIO ll!CA.ll00
!1fl1·SC maiores, mas os fusos usados na fiação preservavam seu sistema medieval
277
-.
ie consrruçáo, e os fiandeiros eram incapazes de fornecer aos tecelões fios sufi-
cientes. Em 1769, Arkwrighr registrou a pateme de sua máquina de fiar hidráu-
lica. uma versão melhorada da máqttina de fiar que ele invemara na década de
1730. Dentro de um ano, Hargrcaves patenteou sua máquina de fiar "Jenny".
Fmalmcnre, em 1779, Crompron combinou os avanços dessas duas invenções
em sua "Mule", que começou rapidamente a eliminar a fiação manual. Um
fiandciro, usando essa máquina, podia preparar duzentas vezes mais fios do que
poderia fazê-lo sem ela. Agora eram os tecelões que não podiam dar conta de
todo o fio fornecido pelos fiandeiros: havia uma necessidade urgente de melhoria
nos métodos de tecelagem. Em 1785, Carrwright inventou o tear mecdnico, mas
ele só foi extensivamente usado depois que uma série de aperfeiçoamenros foram
feitos nessa máquina. A partir de 1813, ela começou a supJancar a tecelagem
manual. Gradualmenre, as máquinas de fiar e tecer se espalharam também na
indúsrria de lã.
Um segundo campo de invenções técnicas foi o da metalurgia. Até meados
do século XVIII, ran to o ferro como o ferro fundido eram produzidos com o uso
da lenha. Altas-fornos eram construídos próximos às floresras e moviam-se para
novas áreas quando o abastecimento de madeira se exauria No século XVII, ª
Inglaterra já começava a viver uma escassez de fiorescas. No começo do século
XVJII, a escassez e o alto preço da lenha precipitaram a metalurgia com uma
stvera crise recessiva, comando-se essencial encontrar novas formas de combusá-
vel. Tal combustível existia na forma de carvão mineral, mas, aré meados do século
XVIII, todas as remativas de destilar o carvão e usá-lo no processamenro do ferro
foram fracassadas. Foi somente depois de meados do século XVIII que 0 ferro-
~ foi extensivamente produzido a partir do combusóvel mineral (o mérodo
de Derby, inventado em 1735). Iniciando em 1780, o ferro forjado começou:
ser produzido com o carvão mineral. graças ao novo mérodo de "p~de.lagem
inventado por Core em 1780. A combinação de forro e carvão, que seria rao impor-
tanre para o capicalismo, agora se cornava realidade. 1 , d .
. al invenção desse peno o.
Finalmente houve a mais importance e umvers b
em. 1769, James ~att conscruiu sua famosa máquintJ 11 vapor- wna. bom. ~~araª
SUcção de água das minas. A remoção arrificial de água das minas. uv~ra iru,c10 .no
. , siro a pnme1ra maquma
SCculo XVI. Em 1698, Severi inventara, para esse propo ' ul XVIII
a vapor, que, na versão melhorada por Kewcomen. no começo do séc 0 •
278
:--- -N
aquc 1es ramos da in
· d•us......
·"· (ia.is como fiação e tecelagem)
. cm que
, o desemprego
__ u . do
trabalho manual pela maquinaria foi muiro rápido. rambém curam os 5il.latJOS cm
dinheiro.
282 DAVID RICARDO
-- A ampla massa dos trabalhadores sofria não apenas com 0 cereal caro,
bém com a introdução da maquinaria, com o desemprero e os baixos
~
salários. Os primeiros ideólo~os do prole:ariado já haviam captado que a raiz
desses males não estava nas leis dos cercais, mas no sistema capitalista. Xo en-
canco, a propaganda dos primeiros socialistas utópicos (Owen, por exemplo)
não atingia mais do que um círculo muito rescrito de pessoas. A ampla massa
dos rrabalhadores continuava a ser influenciada pela ideia da agitação contra as
leis dos cereais. As primeiras décadas da Inglaterra do século XJX transcorreram
num ambiente de luta acirrada entre a classe dos proprietários fundiários e a da
burguesia comercial e industrial, que era apoiada pela massa dos crabalhadores
e pequeno-burgueses. Em 1815, os proprietários rurais ainda prevaleciam, e as
carifas procecionisras sobre os cereais sofreram um aumenco. Em 1820, os mer-
cadores de Londres apresentaram sua famosa petição ao parlamento, na qual
demandavam a introdução do livre-comércio como o único meio pelo qual os
producos das fábricas inglesas poderiam obter amplo acesso aos mercados estran-
geiros. Em 1822, os mercadores de Manchester formularam a mesma demanda
em seu pr6prio memorando. Manchester, o centro da produção cêxril, tornara-se
0 baluarte dos partidários do livre-comércio, que, por essa razão, ficaram conhe-
cidos como escola de Manchester. Com a crise industrial do fim dos anos 1830,
ª lura pelo livre-comércio assumiu maiores dimensões. A cámara de comércio
de Manchester apresentou uma petição ao Parlamenro, na qual explicava que,
"sern a revogação imediara das taxas sobre os cereais, a ruína da indústria fabril
[seria] inevitável, e que apenas a ampla aplicação do princípio do livre-comércio
[poderia] assegurar a prosperidade futura da indústria e a paz no pais"! A Liga
Contra a Lei dos Cereais [Anti-Corn lllw úagut], fundada por Cobden e Brighr,
reuniu centenas de milhares de apoiadores e promoveu uma poderosa agicaçã~
Por todo 0 país. Em 1846, as longas décadas de luca foram finalmente condui-
das
.
com a " . da b
virona
. l . dos ttreais foram
urgues1a: as ets . .
revogadas, e a Inglaterra
ingressou definitivamente num sisrcma de livre-comert:to.
Ab . 'tória anenas no período que se seguiu à morte
urguesia assegurou sua VJ r· 'al . d ·al
de Ricardo, embora o debate hiscórico enrre a burguesia co~erc1 -in us,"' e
a cJ • . •• estivesse bem esclarec1do em sua epoca.
asse dos proprietários fundiários Iª
Toda . ·card0 deu nessa acmosfera de luta entre classes
a aovidade literária de Ri se . • .do
Sociais. Os fenômenos socioeconômicos fundamenws de seu tempo - o rapi
284 ::."'"°'º A.•C,.A.DO
~;:,::~~::::~::::~;:~::.::::::~~~,:.:!~~:~:;
~ ae~ Cc -:.Ji.~ ?J: ~..~~
A R;EVOLUÇ,l,O INOUSTAIAL NA INCL#t,TEAAA. 285
Notas
!. Um estudo detalhado e interessante da mudança tecnológica durante a Revolução
Inc!usuial, incluindo os eventos que Rubin menciona aqui, é David Landes, 7ht
unbound Prometheus, Cambridge: Cambridge Univcrsity Press, 1969, cap. 2, "A
R<voluçáo Industrial na Grã-Bretanha" [ed. bras.: David Landcs, Prometm fina.
torr<ntllJÍo: tr11nsfom1ação tecnológica t tksenvolvimento industrial na Europa Ocidmtal
dtlde J750atla nossa época, 2. ed., Rio de Janeiro: Campus, 2005].
2. Tmduzido do russo.
3, Ambas as citações foram traduzidas do russo.
4. Tmduzido do russo.
5. N'o original, consta 1912, o que é obviamente um erro tipogrã.6.co.
6. Safe in their barns, these Sabine nllm sent I 711eir brtthnm out to battle- wh1?for rt11t!
(A citação é do poema de Byron, "'lhe age ofbronzc").
7. Tmduzido do russo.
8. !\este ponto falta uma frase no original russo. O trecho entre "a ociosidade..." e o
fim da frase foi aqui reconstruido tomando-se como base o sentido aparente do que
foi impresso no original e o argumento de Rubin cm apículos posteriores.
capítulo26
AVIDA DE RICARDO
.
Embora
•
o próprio Ricard0 tcn ha d'1to, certa VC2:, que não mais
. d o que
~e=~~=~ . ªa lgl
n aterra haV1am. compreendido seu 1·1vro•
este lhe garantiu uma enorm fama
. e entre seus contemporâneos e fez de seu
auior o hder de uma es l . .
~-- • . coa inteira. Ricardo tornou-se o centro das diSCUS"
SVQ economicas vitais de sua é bel ai
poca e esta cceu um constante contato pesso
ou por correspondência com t d
o os os economistas importantes de seu teinPº'
A V 1o A oe A. 1 e A Ili: oo 289
resses de uma classe social singular. De fato, Ricardo escava subjetivamente correto
em ver-se como um defensor dos "verdadeiros" princípios econômicos e dos in-
teresses de rodo 0 "povo" (que ele contrapôs, numa de suas obras, aos interesses
da aristocracia e da monarquia), uma Vt!/Z que o que ele defendia era invariavel-
mente a necessidade do rápido desenvolvimento das forças produtivas, que, em
sua época, só podia ocorrer na forma do desenvolvimento econômico capita-
lista. As altas t:ucas sobre os cereais, as leis sobre o pauperismo, o governo da
oligarquia terra-renenre, tudo isso retardava o crescimento das forças produtivas,
de modo que Ricardo era coerente ao se voltar contra esses fatores. Por outro
lado, é verdade que ele jamais imaginou que o crescimento das forças produtivas
pudesse ser possível numa forma diferente daquela da economia capitalista, e,
assim, ele rejeitou os esquemas comunistas de Owen (ver capítulo 27).
Os horizontes de Ricardo jamais se estenderam para além da economia
capitalista. No encanto, se ele defendeu ardentemente os interesses do capita-
lismo foi porque suas pesquisas, sendo realizadas com a mais extrema honestidade
e probidade cienrífiea, levaram-no a ver a economia capicalista como o único
sistema econômico com alcance suficiente para um crescimento das forras prod11-
tivas e da riqueza da sociedade como um todo. Nas palavras de Marx,
Notas
1. Se Ricatdo possuía algum vinculo religioso dogmático, tal vínculo era com OS
'"unhários
11
•
2. On the high price ofbullion, a ptoof ofthc deprcciation ofbank notes (1810). in:
1'1t works a11d comspo111knct ofDavid Ricardo, editado por Sraffa com a colaboração
de M. H. Dobb, Cambridge: Cambridge University l'rcss, 1951. v. 3.
3. Ricardo, cana a Trowcr de 29 de outubro de 1815, in: \%rks, editado por Sralfa,
Cambridge: Cambridge University Prcss, 1952, v. 6, p. 315.
4. Marx, 1'1<orits ofmrplus "ª'"'• parte li, Moscou: Pmgress l'ublishers, edição inglesa.
p. 118; grifos de Marx.
capítulo 27
AS BASES FILOSÓFICAS E METODOLÓGICAS
DA TEORIA DE RICARDO
-
• Essa cicação. assim como a anterior. foi extraída da obra de Bentham ['Ou tl~ory o/legis~
lation, p. 120 - N. do T.I.].
~:=----·--
ela se confroncava com uma tarefa mais modesta: garantir a cada indivíduo a
liberdade de selecionar 0 que é mais rentável ("útil" ou que proporciona a "II!aior
felicidade possivdi entre aqueles empreendimentos que lhe são oferecidos pelo
sisresna social tal como ele é.
Ricardo tornou-se um adepto filosófico do utilitarismo por inccrrnC:-dio de
James Mill, aucor que, em questões econômicas, fora pupilo de Ricardo. Bcnth31IJ
afirma: "Eu fui o pai espiritual de Mil!, e Mil! foi O pai espiritual de Ricardo: de
modo que Ricardo foi meu neto espiritual". 12 Tal como Bentham, Ricardo escava
firmemente convencido de que "onde houver livre concorr~ncia, os interesses do
individuo e os da tom unidade jamais diferirão".• O interesse da sodedade pode
residir unicamente na realização ótima dos interesses de seus membros consti-
rucivos. Aquilo que é menos remável para os indivíduos também :éJ, portanto,
menos rentável para<> Estado"."
soas cartas·
Pode uma pc..<oa razoável acreditar, com Owen, que uma sociedade, <ai como ele
a projeta. florescerá e produzirá mai• do que jamais foi produzido por um número
igual de homens, simple•mencc ao serem estimulados a ttabalhar em nome do
interesse da comunidade, em vez de em nome de seu interesse privado? A expe-
riênda de séculos inteiros não está contra elc?l5
A nacureza não fu nada para o homem nas manufarur.is? São nada as forças do
m nossa maquinar.ia e auxiliam na navegação? A pressão
vencoedaágua.qucmove . . .
da atmosfera e a elasricidade do vapor, que nos perm.1tc construir as mais cstu-
• - ,.~ 0 das dádivas da natureza? Para não falar dos cft:icos
pendas ~umas - nao
~-.
296 OA.VIO RICARDO
297
' ..
"''nrr.\nJ" impc.-Jimcn.f\.1 J.lgunl C'nl seu -:.m1~nho. Se Smith cst.i prc.'pJ.rJ.do p.\r.t
J's"·rcwr J('tJ.lh;tJ.lm1mtc t\'li inumc.•r,\vd.'i ohst.kulo..-. quC" intcrfc.•rc.·nl R.\ c.'qu.tli?..i-
-;J1.' 1.t.t r.t,.t dC' lut:n' e n1.'\S s.11.lri,'-" n1..'\'I dit"<rcnra: r.mt,,s d.C' pr(.,Ju\:\o, Rk.trJ.1.., os
1,'itJ. .ll't.'llJ!I J(' p.t.'li..'li.lg('ftl.
Ri..:-JrJ\."I "·on1..-elx• ,, (\'\.11\\'nliot -:Jrit.Uist.1 c.'\,m.o um cn1..,rn1c nt«J.nism.,, 1,"\Jjo
fon,·il'll,\nl('l\t\' li\'rt d(' cm.\." t 31\S('gur.\JC'I pdo Jc:s~jo d.e IUí'I\." m.\xim""" d.os Q.-
rit.lli"'r.,~; tJ.1 J('~l"i'' rcsult.\ n.t '-'l\l.ttif.J.ç:1C\ ,{.\ t.1.X.t J(' lu~I\\ <'nl t\.-,J.{l.'li: "S
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f"(\'\\lu\:\,1 ("'\.'nl Jif'°n,"O\JS OJ t~\'.\.\ Jc \U~f\\ Sc."nJ"" m.1ntiJ.\.'li: .1.pcn.t,.; ~U.tnJ,, sd.o
n(\,~\,\ri.l' r.tTJ t"\iUili\1fJ.T ,\.'i \'-'nt.tgl'"S ,1btiJ,\~ P..,'\f .t!gurts r.lm"'\.'li. J.t prt.:~.u..;;io
s"'~I\:' ""Utrt.\"l),1t •i'Wr,rrbtâd /'·''·' "bu11,'Ja 1/0 m.1ic1r 1~,·m <.~ .t t~'T\'.l b.t... k.1 que
m1,wl' .1 t\.'\'n,1n1i.1 ~Jrit.1lisr.t e.\ lf'i ,/,1 r"1f"•:/i~4J;'11'' ti,: 1.Lv.1: dt' !1i,·ro ~ suJ: ?ci b.iska.
:"'-" ~.l_rt.lr ,, r.\1'\('l l'.'('Otr.\\ Jcs.'i.J lei. Rk.\rJ\, ,Pl\lV.\ ser. um.t \"(/ m.th. SUí'Cfk'\T J.
~m\ch. ~. ,.,·rJ.1J"· 'lni:- este.' \ihin'"' j.1 hJ\'i.\ .\r~·k·ntJJ,, unl '\u.1Jr,, m.1s,niti."'' Jcs·
-.;k'\·1i.·nJ\' ""''"'"' ,, UJ.°t1.llh1.1 (' "' ..:-.1pitJ.I r.\S.'li,\lll JC' ,tl~uns rJm""S J.1 pr"'dU\.i.l' p.trJ.
''Utl\\.'li t''f mt:i,, ,ic Jc.'!l."\'i1."' R\'\S ~'['(\''~ J(' mcr..:",1J," J.t... nict\. .td,,ri.1!1. ('nl rc:fa,.,\,, .l
0
~\l.'li "PI'\'\''-~ n.uurJ.ts" \v.1!,,l\:'s\ ~\' c."nt.\nt\."I, J.ind.t n:'"' cst.\\~., ,·~Jr.,, ~'·lrJ. Smith
'\li<' "' \'n'lrt1i.'\'ll\.~tJ.,,r l'.'.\ritJ.!•:.:t.\ \"\.('I\.'\' UM l'.1.f'd (('RtrJ.1 n('S."<:' Ff\\1,'t"'SSI.'~ de r<.-Jis·
tr~~'Ui\.t.1.1 ,i.\.'li t\'l\""J." ;'l\XÍUti\\\S, Smith .\inJ.1 rc-"'""l qu<' .., cmrrc.x·nd(\'l\'! .lM~umiu
S\I.\ fun\d\' Jc primdl\' n'k.'t''r nes,'li(' pl\X'C'SS'' 1'1..'r intcrnw,ti"" J1.,'li tr.\f:\.1lh...tJ,,rc:"s
~'.lrJ. J.qu~:c:- "'"ª~ !u,r.\ti'".:; \ti'\\ \.'\'R:IC\l,U,~ndJ. J.1.' mJfor ~n.\iit\.' Jisf''ni\'d .l. csrcs
u~_r•n,""" ~!""~ l""""'" <" JJ. ~.r.m~"' d..:- .SUJ !'l\Xlu\-,\,,~ "'"'rrigc J.ei;"lui!i~ri"'\~ c."1'ttr\"
,~. .·rt..l ~ ~('ntJ.n,l.1 -:.....• ª'""'1\.'..t-.;!\'ri.l".. O ntl)\·imcn"'" J.J ~'-'n1.."mi.t .:.\rit.\lis[J. inr<."irJ
,-s~.1 "Ll~\~;n,1J."" J. lei d.t" um.1 TJ...'\J. i~u.\t d<' !u1.'f\'. ('SS(' '"prin~(ri"" "1,U( «r-lr«' "'
,·.1~"~ri.: J.1.n,;c.' J: t:..t1,t~ r.tn'"" d.tt't\-..!u,",\\'\ J'l_u.i.nriJ.tdccx.lt.tJc':U<." e!"°' n«'-'$."irJ'".!.'
----.............
...
299
dili.:u\d.\J(' ": aun\c."nt.\d.l \"''-'lt.' t:\C1.." JC' c.1uc d(' n.lo p1..lJc c..·ni nl·nhum mon\C!'nto
dt'i\'iJ.r su.t •U<nç;\,, c.i.i..: inúml'r.\s pR.·mi.......:.t.~ '1"'-' t.l .tUtt.lr poscuh1. ~;a '-'xplidr.1, sc:j;1
l.\\'.'ic.1mc.·ntc. O m~t<"dt.' rk,1rJi.m"" Jc: .m.lliSc.' .1bsrr.1c.t i: pr<i.'1."i10.inwntc aquilo qui:
C<'nttrc." .l S<.'U pc.·n.1>.tmc:nt<."' t(,\\rh..'\' su.\ .,,\,nSi.'i(c.~l\1.."iJ e imrc.•pidc:'t. ,fotJ.ndo--" de: un'
ptlJ<.•r J(,· tr.\\".lr \.llô f\'l\..lV\ll\1..'IU(.\..: J(' ~''"'\.\ u.·nJ.:01Kl.1 Jt."\S t~·n,\ll\c.'R\."JS (""\lO(imkt.lS .ué
S(U tlm.1J.l n\~t . ,J," . pc.:rnütiu ,\ R.koll\''"' supc.~.u ,1$ v;.iri.l." ""mcr.Wi,·~,c.-s de: Smith~
''-'nscruir un'\.\ tc."\.'tiJ l<.,~k.\mcmc.· n\,\iS intt-gr.t1 c ..:"t.lt.'Sa do v;.tlor e." da Jistrihui\áo.
Se Rk.1r\.h' n·n\ "',te ~r rc.·prc:cnJiJ'-1. n.\t.' é.· pt."'r tc."r .i.plk.1t.k' um mi:mJo
.d\~[f,lt\.l, nl.lS \"')f (('( esqUc.'\.°it..il'l qUt..' JS r'-'Si\\ÍC.'S tc.'\.\rk,1S ls qu.liS dwgou USotnd..:'I
r.i.1 mc.~t"'J,, sj," P'-"Si\-\'es 1.'tmtil:,•.:Plf<'>"· ;\dnl•t de.' tud~. R.k.t~fo: -.:o~\t.l ~utl\l~ ~....
r~scnt.\fl(('S J.t C:S\."\,),\ c:\.isSi1i.\\, }'l'rJC:ll Jc." \'iSt.l .\ Únt\:'õl \.'\.'\R~l\;IC.l h1st\~t'l~õl h;t.(l\..,l
r.ir,\ J. t'('t\,i,\\l Jc: (\lJ,u~ ~( pn'p,1Si.\"\ÍC.iõ J,\ tc.'\.lri.t «c."ll'\~1mi.:,\: J. t..'!\.istc.~ndJ de.• un1,1
detc.·rmin~\d.l J~rn1o1 ,.,,.-;,:/ 1/.1 (,"tmrm11~1 (l,.(t.' é. " '"pit.\li:.mt."l). Que . .·ss._1 for~ll.ª
sod.U Ja c:,x,nonli.1 ciws.« d.e.' ·'fiJ.K''"r p.n.1. Rk.mit' ""'"'""' .1.ls1..' d.\Jo e inrdlg1~
·cl . . • ·cc:"'ristko.l quc: ele.· rc..':'.'"ui.1 c.•nl ''"'n1unl úlm f\."J'""' os
" pt..\r si mi::i>mt." e um.\ "°'r.u: • •
• j • que n"" lu~1r J . ". wlht.' SlSCc.'n\,\ ku...ttl. ~""l~.1r.tm
1ul'\.\l"'f.''\'i J.l _jc.WCR\ bur~ucs:1.l~ • ..
>·
1
300 ..... ••«•••
u= nova ordem social por eles vista como natural, racional e eterna. ·~ leis tcai
cla .:.:onomio política não mudam", <$Creveu Ricardo. É, portanto, compreensi~
,! que mesmo esse pensador que - esrabelecencl.o a diferença entre valor e riqueza e
/
formulando suas doutrinas do valor-trabalho e da renda - tanto contribuiu Para
uansformar a economia política numa ciência social procurasse prontamente a
explicação última dos fenómenos socioeconómicos na ação de leis nat1trais "imu-
táveis" (a lei biológica da população e a lei fasice-química do declínio da fertili-
dade do solo).
Além de ignorar a precondiçáo sócio-histórica básica de sua investigação,
Ricardo frequentemente se esqueceu ou perdeu de vista as premissa.< P•trciais que
formavam a base de suas proposições teóricas. Ele se esqueceu que toda tendência
econômica só se manifesta plenamente na dltSb1cia de tendências contrapostas,
ou, como ele dii, "todas as outras condições sendo iguais". Ao subestimar a mul-
tiplicidade de tendências que se entrelaçam umas às outras na vida real. Ricardo
se inclinou a explicar os fenômenos reais, criados por muitos fatores diferentes,
cm t<rmos da atividade de uma úniea lei abstrata. Tal lei abscrara ricardiana, por
exemplo, estabelece que, quando os fazendeiros começam a cultivar cerras infe-
riores, provocará um aumento no valor de derecminada medida de cereais (con-
siderando que a têcnica e outras condições permaneçam as mesmas). O autor se
apressa, cmão, a aplicar essa lei a siruações reais, declarando que o aumento real
no prtç<> dos cereais ê explicado pelo fato de que os fazendeiros cultivam, agora,
um>. terra inferior. Ric:lldo toma outra dessas leis abstratas: de que o aurn<mo
geal nos salários necessariamente baixa a t3l<3 de lucro (todas as outras coisas
pennanccendo iguais) e, prttipitadamentc (e de modo errôneo). a utiliza para
explicar o fato hi•tórico da queda na tillta de lucro. Essa tendência a atribuir uma
v:Lidade in,-011diâonal a conclu.<ôes ro11dicio11ais e a detectar 2 atividad< imediata
das leis "pu!2S" nos fenômenos históricos wu:rrtos levou Ricardo a cometer uma
série de erros. Tai.~ erros, no encanto, nio 0 impediram de capear (p.i:edsaroence
por meio do uso do método da abstração) as tendências básicas cuja operação
aJ11linU4, embora :.S '"""' oculto., reside na base da «o7lomia tapit11/ista. É por
CS$3. raúo que os c:onstrutos teóricos de Riardo, uma vez alterados e corrigidos.
pr<Servatn •ua v.ilidadc ainda hoje, e podemos reconhecer sua obra como um dos
grandes monumentos do pensament0.
~~
.wo!fHdd (1844-1880), «:onomisia burguês alemão.
--
Em geral. a cxpasiçáo de Rubin sobre as ideias de Ricardo sobre 0 confüto entre
os proprietário• rurais e as outra.• classes da sociedade requer alguma qualificação,
<Sp«ialmcnc< no que di1. rrspcito ao modo como Rubin expõe a teoria da renda de
Ri0tn!O (capítulo 29). Ricardo fe-, Uma série de afirmações similares a essa passagem
Jc Ellhlio sobre • iTJjfub1cia do hoixo prrço doi rmais nos /urros do rapital: •seguc-
·st, então. que o interesse do proprietário fundiário é sempre oposto ao interesse
d< qualquer outra classe na comunidade. Sua situação não pode ser mais próspera
do que quando o alimento é escasso e caro, ao posso que todas as outras pessoas
,;o immamentc beneficiadas pela comida bama" (Ricardo, in: W&rks, edimdo por
Sralfa. Cambridge University Press, 1951, v. 4, p. 21 [ed. bras.: David Ricardo,
Ensaio acerca da. inAuên,ia do baixo preço do c:erea! sobre os lucros do capital, in:
Claudio Napolconi, Smith, Ricarda, Marx. Rio de Janeiro: Graal, 1978]. No mesmo
parágrafo, pofi.tm, Ricardo qualifica jmcd.iatameme o contexto cm que ele faz essa
a6rmação: "Renda alta e lucros baixos. pelo fato de acompanharem um ao outro
invariaYclmcntc 1 jamais devtrillm sn 11.luos dt rtclamafáD 'ftlttndo são o efeito do (urso
Mtr1ral tldS roisas.
Eles são a prova "'ais incqw'voa da riqu~ e da prosperidade, e de uma
população abundante, comparada com a fertilidade do solo. Os lucros gerais do
capital dependem inteiramente dos lucros da última porção de capirol cmpn:gada
na terra; se. porta.nro. os proprlctirios fundi.:irio..~ n:nuncbssc::m às suas rendas, eles
nem aumentariam os \ucros gerais do capital, ~m 3ba.ixariam o preço dos ccrc!'ilis
parn o consumidor. Isso não teria outro efeito sen;\o, com.o o sr. Malch.u.s: observou.
permitir que aq\\cles faunddros - cujas terras pagam, agora, umíl renda - \'ivam
como cavalheiro( (ibid .. p. 21-22; grifo.< da tradução inglesa).
O E11s11io sobrt 0 fldi."<o preço Jos «teais é um panActo comparativamente antigo
(1815). F.m sua correspondência após a publicaç:io de /'rindpios, Ricardo csclM<CCU
ainda mais sua posição. "Ele (Mahhus} não agiu de modo propriamente coc~co
para comigo cm i;uas notas sobre: a passagem de meu !ivro, que di7·. que:: 0 im<"rcsse
do proprietário rural é oposto ao do rcstan«: da comunidade. Eu não visava. oom
essa. ali.rma.çáo, f.n.cr nenhuma rcAexr\O hoscil :ios proprieclrios ruroi5 - sua renda é
o efeito dt âA·un.(tt111cilu sof,re as q11nis ~la 11do 1<m qu11lqutr tonrrolt.
e>;e~cuando·
-se o futo de que e\es~o os legisladores e esrJ.bc\ccem n:sui1r"ÕCS à imponaç~ de
ccrcruo (Carca de 2 de maio de 1820 • McCulloch, in: l~orÁ" editado por Sralf.i,
;.;,.;..~--------·· -~~-
.. maiS'
J..... rcJm nenhuma época e em nenhum ru:ís u- _ d
.. . r- • ··• ...o esro manufarurador de
m>rcs-comuns poderia dcs6lar de um modo tão aurcm risf.. O . . .
lUer a: euo. pr1nopJo da
utilidade não é de modo ~g~m uma descoberta de Benrham. Ele simplesmente l'(-
produziu, ao seu modo cstup1do, o que Helvétius e ourros franceses haviam dito com
humor e ingenuidade no século XVIII[ ... ]. [E]le, que julgaria todas as ações, mo-
vimentos. relações humanas, etc. de acordo com o princípio da utilidade, reria sido
0 primeiro a cratar da namrcza humana em geral e, enrão, com .a narurcza humana
al como historicamente modificada em cada época. Be.ntham não se perturba com
isso. Com a mais tola ingenuidade, ele sustenra que o moderno pequeno-burgu~.
espccialmcnre o pequeno-burguês inglês, é o homem norma[, O que quer que seja
úril para esse tipo peculiar de homem normal, assim como para seu mundo, é útil em
si e por si mesmo r... J. E.~se é o tipo de lixo com que o bravo colega, com seu more
•nuJJa dies sine linea" [nenhum dia sem sua linha), preencheu montanhas de livros.
Se: cu tivesse a coragem de meu amigo Heinrich Heine, eu chamaria o sr. Jeremy de
um gênio da estupidez burguesa" (Cnpital, Penguin edirion, v. 1, p. 758-759e s.).
8. A c:xpressão é de 'lheo? ofkgislation. Um conceito similar frequentemente usado é
•cálculo hcdonísdco".
9. Traduzido do russo.
10. Traduzido do russo. ..Oca, como não há nenhum homem que esteja rã.o seguro de
esrar i11climulo, em todas as ocasiões, a promover vossa felicidade como vós mesmos
cst.Us, tampouco há quaJqucr homem que possa ter tido ião boas oportunidades
como deveis 1er tido de sa/Jer o que é mais apropriado à obrençáo dCSSC' propósito.
Pois quem poderia sa:bcr melhor do que vós o que é que vos dá prazer ou dor?"
(Bentham, ]., Principlts ofmomls and legisfation, p. 267; grifos de Bentham).
li. Traduzido do russo.
12. Bentham apud Sraffa em sua introdução ao v. 6 de Wór/u, P· xxviii e "
13. As duas citações são de Ricardo, On the principies of politial economy and
caxaiion, v. 1 da edição de Sralfa. Wbrks, Cambridge: Cambridge Univ.rsity Pms,
1951, p. 349-350 e s.
14. R;.cardo, Principies, p. 133-134; grifos de Rubin. 46
!5. Ricardo, Cana a Trower, 8 de julho de 1819, in: Sralfa (ed.). Wórks, v. 8• P· '
l6..Smith, W.alth ofn11tions, livro II, cap. 5. P· 363·364 ·
17• Ricardo, Prindpks, p. 76 e s.
IS. lbid., p. 94; grifos de Rubin. . .. b essa qu<>"Cio [do
19 [b· d d 1 e minha opmi:w so n:
· 1d., p. 388. "Sinco-me obriga o a cc ara ,_ ·cdadel porque elas
,_._ d d'fu ntes classes Uãl soc1 '
Cicu:o da maquinaria em cada uma as 1 re
v·J
/
3()4 D"'VID 111C:AlllOO
. ~·: esteja cicnre de ccr jamais publicado qualquer coisa a respeito da m.\quin.iri.J. que
deva ser retifi.ado. sei que dei meu apoio, de ourr.u formas, a doutrinas que .l,!:('lr.i.
penso serem errônea [••• ].
Desde a primeira vez que V<>lrci minha :ucnçáo pari as quci;t~s de '-'\:\,n\'Rli.1,
política, fui da opinião de que uma tal aplicação da maquinolri.\ .a. '"~"'-' "~ r.1.mO)
d.a produção ct.1, na medida cm que cinha por efeito a «onomi.t de tr.i~..,:~...... urn
bem geral que possuía apenas a inconveniência de. na ma:"'ri.\ ~~ .:~'s, ~:"\.'\\\(".1,r .i
u.insfcrCncia de capital e trabalho de um emprego par.a outro. : •••: A d.i~ ~"'" tr.a-
balhadores.. pon:anto. seria igualmenrc bcncfici;idJ. rc!I) u.~ ~ m.11\ uin.1.riJ., umJ. vez
que eles poderia.m comprar m.ais mcrcadori2S C<'m os m(:l;m.1.'S s:a:.i.""'.1o.'$. 'E ~ ?Cm.l\il
que não ocorreria qualquer redução dos salinos. por.çu<" o ti:a;i:t-i.;.l'~ ter~.1. (' ,?l..,,.:~r ~e
demandar e cmp~ ..i mesma quantid.aU Ge tr.t~~o Cc .l.-'l~o.. c:'T'.~'!".1 c:c ;t1.11:!.e.sc
csw sob a n~icbdc de cmpregá·Io na pro<!uçio Gc U!!'..6 me:-,.b!. ,r~.t
. n"'' ou, no
mínimo. di.têttntc :.•.:. Como ~...~ me par«ia ~uc :,,.,-cr:.a .a :r.o~.a .:er:unda b:
tr.1.ba!ho de antes. e que os sa!ários não seriam m.ais :..a;_"<OS. ~.se: ~1,;.e ia ~;~se m.·
ba!.~Or.1 ~ciparia, igu.a!mcncc com as OUL"2S ~~ Õ \'C:,~Crr. -.::-~,C,. ~O
banteuncow gerai d1s mcrac:!orW: p~1X.1Go :-e:o ;;5(1 6. ~ ..: n.;..ria..
Essas eram .u mi.n.'w: op:niõcs. e c12S conÓ'luam ::U:~.m.~ :&.--::o <;.ua."lro
C"..in.'w O?~ KCl'Cli Co ?:O?rictirio ruia: e éo cap:a.::..~ ~~ e::r:~.. cor.-\'C'n('iCo
&<iueaR.:'.-'5ti'n1!\áoCo~o!n:.m.a..-w~~u~'U..~é~~r;!C..rrrC":'\:t:nLli!O
injuriOA a inr~ 6; üs_o;c êos cn:.-rL~ia<!orc\..
:\.~~..: eTO foi ~?Or c;ue scm?:-c <iUc a :-enêa ~<;,u..iGa C.e \.l..'i1.a -soc:~e c:o.:cs.se.
~lé:::i ~.a S!..:a ~ 'x-~'% ~:a. ?Qri."!1. ••C-:o ra.zbcs ?i.'"a eo.•.._.. \i.i:.:.r."·~~o
com o~ Ce ~'.X o ~ ~:~o Co ~~ os .?:-O?r~os ;....~c~l)S e os ai~
~' ecr:\I""...~ IC'~ :-c.C:rrlC".~O ?Jê.c ~•..:> ;i::aso ~;;e o O'.. ~o F....~&. c:.o ç:-.:a.: a
~ Zii':..:~ ::a:f.-a.."":".cz::e éc;>c'...Ce. ?X.~ ci:nint!ir, e, ?='r"~"i:I), 6i se ~;e:..
k<:';':':lf.1.c.e:-::.,,ç-·...ea.:":"4.,.~c:;...:s:;.~":i!.~a·:.:c;-•.a:'°~r..C::::..e!"'.:o:lç::J:CoCo;-U-
~.\ t aft[l.'f\.""~nu.• ll fo.h, d<" que Gr.i.m!ll.:i fc-t un101. obM:-rvaçlo idêntiCJ ~obre .l. contri·
•· ~\li\"''' de Ri\°.m.to l,.lr.1 tl mc.'.·t1..ldo ana?itko de M.1rx: ..A 6m de ot.1.bc:cccr a origem
J,i 111,1!\l,flJ ,t.- ~,r,\>.:i!lo ~ ..,!. M"r~ nl'\:C\\.irio C.\tu1..far .1 conccpç.\o de lcU cconl\mi&:a\
N.1\l(IC\·i,b rur O.av1d R11...rrJ.o. Tr.u.i:-~ de admi['ir que Rk.i.rdo foi imponantc na
fonJJot·''' J.a hlo..C'lfi.i ,.t,. l'r.h.i' n;,,, •1f14.·n.i... pdo concciTO dC' "valor" na economia. mas
1.un~n illt imlwn.lnli: 'füo\( 1 f'il.l"1t~nt(', \ugcrinJo um modo de~ pensar e intuir
.l hi.,h\riA e .1 viJ.1. O m~todo do \uponh.amo\ que : .•. ; •• da prcmi1.u que fornccc
umJ. i:ert• cQndu..,io, Grvt•rid., polrccc·me, \Cr ic!emi6caCo como um do.ç ponm.s
de r-in:iJJ ~um do~ ~tímulo.. imde1.."tui1i!1o} éa cit;>eriéncia fi!o~flc.a da !l!o!!Ofia da
rr~i~. V;i,lc" f'l""J. invt"!\ti~r ~ Ricarc!o J.i foi ;&igum~ VC"l C\rudaêo sob ti\( ponto de
vU.u.• ;,Gr;lm~i. S1!J..1i1ms from tlie prüon 11orebooh. I.onê.rc~: U.wrcn~ .md Wi\hart,
N".'1, ?· ~12 :c<1.. ~r~.: Gr01.m.sci. Clláenu)I do tlÍrcm. Rlo Ce ).neiro: CivUizaç.io
Br~i:clr.t. ~ j : • v. ! . Gl~('rno l:,
noca 52:.
capitulo 28
A TEORIA DO VALOR
1. Valor-trabalho
Adam Smith, como sabemos, deixou para trá< um bom número de pro-
blemas e contradições não resolvidos {ver capírulo 22). Recordemos os mais
importantes:
Q)iando dou duas mil vezes mais tecido por \ libra de ouro do que dou por \ \ihra
d.e fcrrol é isso uma prova de que eu confiro duas mi\ \'C2CS mai.s uti.\1.dadc ao ouro
do <.\ue ao ferro~ Ccrwncnte. não. \sso pro\"a somente, corno é admiti.do pc\o st.
Say. (\UC o c.usto àc proc:\ução cio ouro é duas mi.\ vacs maior do que o c:usto de
proàu~ do feno. Se o custo de produção dos doi.s meta.is fosse o mesmo, cu daria.
o mesmo preço por e\G; mas se a uti.\i.d.adc fosse a medi.da de valor, é provávc\ que
cu desse mais pc\o ferro.8
f. o custo d.e produção que tem, no final ~contais, de regu\ar o preço das mera·
dor\as, e não, como se disse com frequênc\a, a proporção cnue oferta e demanda~
de fato, a propo~ entre. oferta e demanda pode, por um tempo. afetar o valor Gc
mercado de uma mercadoria. até que e\a seja fornecida cm maior ou menor abun·
dância, de açordo com o aumento ou dirni.nuiçã.o da demanda; mas esse. cfci.to
será apenas de duração temporã.ri.a.. Se o custo da produçio de chapéus diminuir,
seu preço cai.ri. ao seu novo preço natural., embora a demanda possa ter dobrado•
trip\i.~ ou quadrup\\ado.'
q:
la •0 da lei do valor-trabalho e à ultrapassagem da te0ria dos custos de produção,
Smith, por suas próprias inconsistências, acabara por acolher (ver as seções 2
e 3 deste capítulo). .
Assim, vemos que Ricardo contribuiu imensamente para 0 aperfeiçoa-
mento da teoria do valor. Ele libertou a ideia do valor-trabalho das múltiplas
contradições que encontramos cm Smith; fundamentalmente, ele reformou o
aspecto quantitativo da reocia do valor. Ele descartou a procura por uma mediàa
constante de valor - aquela miragem enganadora que os economiscas procuraram
desde Petty até Smith - e apresentou uma doutrina de como mudanças quanti-
tati1Jll5 "" valor dos produtos são cau.<almente dependentes de mudanças na quan-
tidaú de trabalho despendida em SUll produção. Ricardo vê o desenvolvimento da
produtividade do trabalho como a causa última por trás das mudanças no valor
das mercadorias: porém) mais do que isso, ele também olha nessa direção para
encontrar a chave do enigma de como os diferentes ramos de produção (agri-
cultura e indústria) e as di.ferentes classes sociais {proprietários fundiários, ca-
pi.ta\istas e trabalhadores) se rcladonam uns com os outros. Ricardo explicou o
barateamento progressivo das manufaturas industriais e o progressivo aumento
110 preço dos produtos agrko\as _ ambos fenômenos característicos da lnglaterra
do inicio d.o século XlX _ cm termos dos efeitos de uma e mesma /ri do valor-
-trabalho. O va\or das mercadorias industriais cai como um resultado do progresso
ticnico - da introdução da maquinari.a e da maior produtividade do trabalho.
O aumento no valor dos produtos agrícolas se origina da quancidade maior de
tra.ba.lho necessária para sua produção~ a qual. por sua vez, é ocasionada pe!o
cultivo crescente de terras menos férteis. Essa tcnd~nci.a decrescente no valor dos
produtos industriais e o movimento ascendc-nte no valor dos produtos agrícolas
fornecem a chave para a compreensão das tendências por uás da cilscróuiçáo da
renda da. nação entre as classes. O aumento nos saLí.rios provoca incvita~elme~tc
t&»ia: queda na taxa de lucro. Desse modo, Ricardo assenta toda sua teona da d1s~
,-·
,/ valor permaneceram fora de seu campo de visão. Aqui encontramos 0 calcanhar
de Aquiles de uma teoria cujos horizontes não conseguem se estender para além
daqudes da economia capitalista. Rica~do ~oma fen~menos que percenccm a u111a
forma específica. de economia e os aplica a economia em geral. A5 formas sociais
que as coisas adquirem no comexro de determinadas relações de produção são
tomadas por Ricardo como propriedtvie< das coisas em si mesmas. Ele não du•ida
que todo e qualquer produto do trabalho possui "valor". Jamais lhe ocorre que 0
valor é uma forma social específica que o produto do trabalho adquire somenre
quando 0 trabalho social é organizado numa forma social definida. As mudança.
na magnitude do valor dos produtos são condicionadas por mudanças na quan-
tidade de trabalho necessária para sua produção. Essa é a lei básica de Ricardo.
Sua atenção dirige-se ao aspecto quantitativo dos fenômenos, à "magnitude do
valor" e à "quantidade de trabalho". Ele não demonstra nenhuma preocupação
com a "forma qualitativa ou social do valor", que não é mais do que a expressão
material das re/a;ões sociais e de produção tnt:re pmoas como produtores de mer-
cadorias independentes. Ricardo tampouco mostra qualquer interesse pela forma
qualitativa ou social com a qual o trabalho é organiZAdo: não nos dá qualquer
explicação se fala do trabalho como um fator técnico de produção (trabalho
concreto), ou do trabalho social, organizado como uma agregação de unidades in-
dependentes e privadas, conectadas umas às outras, mediante a troca genera1izada
dos produtos de seu trabalho (trabalho abstrato). Cercamente, encontramos em
Ricardo os elementos embrionários de uma teoria do trabalho qualificado e so-
cialmente necessário, mas caberia a Marx desenvolver a teoria, tanto do trabalho
socialmente abstrato quanto da "forma social do valor".• Para ele, a forma social
existente dos fenómenos econômicos (isto é, a forma capitalista) já escava dada
antecipadamente, sendo algo já conhecido que, portamo, não requeria qualquer
análise. Quanto ao aspecto qualitativo do valor, somente um pensador que tivesse
Essa desconsideração pda forma do valor levou Ricardo, do mesmo modo (01110. M
o~tros reprcscnranccs da escola clássica, a não comprecndtr a função social do Jinht:rq.
:cardo_ defendeu uma teoria •quanciraciva" do dinhl!'iro, e, cx1,,.-ecuando sUa Goutfllll
~ m.o~mcnr~ dos mcrais preciosos cnttt os paiscs, não acrc:"5".C'ntou nad.i 0 "\-0. dr.
principio, àquilo que Humc ji ha\ia formulado (ver o (a_rirulo S, sobl'C' Hurnt'-
" Tt:o11t1A. CIO V°'l..Oft 315
2. Capital e mais-valor
A incapacidade de Ricardo de apreender a natureza social do valor como
uma expressão das relações de produção entre pessoas criou-lhe enormes dificul-
dades, mesmo em sua teoria do valor-trabalho; ao chegar à sua teoria do capital
t do mais-valor, as dificuldades s6 aumentaram. No entanto, Ricardo realizou
··-
nao apenas a n:"munc-ra\J,o do crJ.OO,;.• o \sa.mos. ·
""' cruirecm adicional (re"dd) qw: se origina não no traLn
cunbc.impar.irendr:ru o . .....-i..no,
m.ts J1JS fon;:is da rutura>? De modo algum. rc:•:°nde Ricardo em S\13. teoria da
_, _ d ai;, detetminado pela quanridadc de crabalho neccssãr·
rend\1. O \'a&L'r o ccr< . ia Par::t.
__ , . m·i c·r~ da ,,,.;, inkrior qualidade. O valor do c.:r<•al produz"ido
prvuU.7J-1o nu . .. ~.. . . cm.
r.i1 rerr.t SI.' dividt' :tpcnas em. :;..1lários e lu('ro. ~ melhores terra.;: rt-,;c.·bc.~ 111 \UT\J. rcnJ;i
J.it°Cn"nci.1.dJ. que r.."On.;;iSce no\o de um.1 ocm.tl\'.'aljàO do va!ôr d.1 º'c:"n.::,td.\."lriJ., tna..;
otpcnJS di dit~R'n.;a cncrc 0 v.Jôr-trJhalho do ~('~.tl pr...'1.u1id1." n.\ t"'trJ. rndhor e
scu ,""Jlor "'""'m" trJ.f1.'llho sodotl. r.tl romo derttmin.1do f't'l.t..;: \.'\."ln ..ii\~.s Jt' Pr\.~uç.io
dt pior qualid.1tic:". A Kn&t n.\('I é um.1 p..m:c.• '"""n1.t"'-'º"''ntc "i"""' Pl\\"O. .~
n;.t.; tc:rrJ."l
J.'i.SUmir ~t E"--".;i,..._to. Rii:.m:io simpHfi..:-\."•U t1.'\i.'.lc.l "" Pl\.'~tcntJ. d.1 1\'!,t\.\o.." entre valor
t renJimc.•ntV$ (\'c."lr.m.·mo..; J. csso\ quc~t.\o n1..' .:.1ritu!o ~9' d<' m'"~º ~uc rcst.1\"J.
.1pcn.t."" C"xplkar J rd.1ço\o enm: sal.trios e Ju,n,,'\.
Continul·mos: o v.Uor do rl'\.~UtO é sufidt."nt(' n.l\,'\ J.~·n.t..;; t'Jr.1 rc.·munrr.u-
"crJb.tlho dC"S~·ndido cm su.1 produç.\o. MJ..." t.un~m ?J.r..\ ren~('r um !ul,·ro al~m
disso. ~ão tt wrd.1dc que isso inva.lid.1 t.tmbc.~m J. !ci ~""\ '".L1."'lr? ~.io ~ n.•rd.1d~ que 0
fato d~ que C' Yllor d..., produro se \."OnlpÕC' dc sa.!.i.rt1."I.."" e :u.:r\' t('m d.(' ..:'""nhitar .:om
.a lei segundo J qual o v.Uor do produto /: d.et('rnÜnJ~o t.k"'I somt·nte pelJ. quJ.nti~
d.1d< d< cr•balho despendido cm sua produção:>~ l'Jt.l r<>;'<-'nd<r 3 <ss~ problema
em sua pJc:nirude, s~ria nCCCS.<rriário descobrir as ?ds ÇU(' reg~m a cro..:a de capital
por crabaJbo \'iVO (força de crabaJho), UmJ tr<Xa 0.1.«'ada n.i.< r<'.aÇÓ<S de produção
<ntr< capi1alisras e uabalhadorcs os.<alariJdos. ~fa.• o ,.._.n,amenco de Ricardo
estava, como sab~mos, muito longe de investigJ.r a...;, rdJ.çõcs dC" produção c:ntre
as pessoo.<. Os acributos sociais do capital. por um lado. e os da forÇ3 de trabalho
(trabalho as..Wariado), por outro, estão simplesmente ausen1<s. Para Ricardo, t•-
pitdf r tr4balho se confrontam como diferences elementos mauri,;is da produçio.
Ricardo define capical em termos rlt11ico-mareriais, como "aquela parte da riqua~
de um país que é empregada na produção e que consiste de alimentos. cccidos.
fcrramcmas, mat(rias--primas, ma.quinaria, etc. necessários para a realização do
trabalho".• O capital, cncão, é meios de produção, ou "trabalho acumulado", d<
de mcn:adoriJs, surge n~\ sodc.·dade um novo e mais complc."Xo tipo de ~!11rdo tÍt
protlt1f1Ítl: .tquda entre capitalistas e uabJ.~hadores as..'\alariados. No entanto. o
m~todo de: distinguir e cstud.u graduJ.:mentc as diferentes formas das ulaçôcs
de produção entre as pessoas era. estranho aos economistas d.tssicos. Smith
ai:ahara concluindo que a troca. de capitJ.l por trabalho• subverte as leis pelas
quais as mel\".adorias são trocadas um.L." pdas outras. Ricardo pôde evitar c:ssa
conclusão apc:nas porque delimitou cautelosamente esses dois tipos de troca. Por
ser incapaz de explicar a troca de ,wpital por tr11balho de modo coerente com a
lei pela. qual mercadoria é trôt:•ld.i por mfrt.wdoritt, ele se limicou a uma tartfa
mais modesta: demonstrar que as leis que governam a troca mútua de meKado·
rias (i.>to é, a lei do valor-trabalho) nrio são abolidas pelo fato de que o capital é
trocado por trab•lho.
Suponhamo., diz Ricardo, que um caçador, ao caçar um cervo, despenda
a mesma quantidade de trabalho de um pescador ao pescar dois salmões, e que
os meios de produção que cada um deles utiliza (o arco e a flecha do caçador, o
. produtoS de quantidadcs idénticas de
barcoe os ·implemcnros do pescador) seiam
··~
/ "
trabalho..•CSS< caso.
um cervo seria trocado por dois salmões, sendo abs0 1
. . uia.
. ., ca··~or e 0 pesc.,dor sao produtores independentes
mente 1ndircrentc se o ~ . . ou ell\...
. . __ ,. •'onduzindoseu nC26c10 com a aiuda do t~~balho as.<ala .ado
pres:ir1os capnaa1st~ "' o . . ri ,
l'o:o úl<irno ca.so, 0 produto seria dividido coere o cap1cahsia e os trabalhadores,
mas i"o [a propoição do produco destinada ao. •alários - T.l.] n:io afct.,ia e.,
nada o vJ.lor rcladvo da carne do peixe e da caça, umJ. vc.:z que O!i satl.rios strial\\
.simulcanca.mtnté' 2ltos ou baixos nas dua!ti ativid.tdcs. Se o "·'\"ador .llc~Assc Cst.1.r
pag,.do uma grande parcela, ou o valor de uma g-.nde p.1tcd,1 de '"·' caça
C'R\ troca de
como s:alários _ p2 ra induzir o pcS\.-ador a en,rcg.tr·lh(' mJ.i.s pci\.cs
sua cãça -, este responderia que é igua lmentc ,,fct.td.1.' pdJ. m~:.:n~J. (' .\llSJ.: e assim,
sob quaisquer variações de salários e dC' 1ui:ros [...J. a. t•nd. nJ.nu·J.l de troi:a ~t~
de um cervo por dois s.tlmóc:~. u
Em outras palavra.<, seja qual for o prinâpio pdo qu.1\ o c.1pit.1l ~trocado
por trabalho, a croca de uma 111rrc11dorüt por outrt1 ainda º"'"''
«'m b:~<c na /ri do
VtJ/or-trablllho: as proporções cm que as mercadoria.< s.\o tr<...:.1d.~' um:\.< por OUCl':l.<
sio determinadas exclusivamente pela.< quantidades rei.tiva.< de t<Jb.1lho requeri-
das para sua produção.
Podemos, agora, ver o erro presente na vis.\o de Smith, segundo a qual
os m1dimmto1 (salários e lucro) apar<'<cm. na ..:onomia c.ipit•tlista, romo 3S
fontes básicas de valor, as magnitudcs prim:lrias que, quando alteradas, acarrccam
mudanças no VtJ!orda mercadoria.
«<•ária para produzi-la). todo aumento numo de suas partes (isto é, nos salários)
provocad inv.1Ci;1Vdn\Cnte uma qu<-.:ia na outra (i.<to '" no lucro).
Em segundo lugar, a proposiç.io sob discussão é a prova de qu< Ricardo
vi• o lucro como aquela parte do 1111lor do produto - criado pelo trab.t!ho do
•ptr.irio - que resta depois de deduzidos os salários, e que se move, portanto,
no sentido inverso destes últimos. A posição dr Ricardo desautori1.a, aqui, toda
'qualquer tentativa de interpretar sua doutrina como uma teoria dos custos de
produção. Se sua vis(io fosse a de que 0 valor {: determinado em conformidade
com os custos de produç;\o, ism é, por aquilo que{: cfccivamentc pago ao trabalho
na forma de salários, as mudanças nestes últimos provocariam uma alteração
correspondente no valor do produto. No entanto, essa é juscamenre a visão contra
a qual Ricardo se r«bda tão resolutamente. Sua asserção de que os salários e
os lucros alteram uns aos outros em proporção inversa só é compreensível sob
urna condição: se o lucro tem sua fonte no mais-valor criado pdo trabalho do
opcrano. s
' · omos compelidos, portanto, a rcconhe... -- que
. a idti11 dt
. mais-valor
(vise . ) 'd b se do s1Stema de Ricardo, e que
a eni seu aspecto quancitauvo res• e na ª .
•lc a ªI?l'1ca com uma consiscência maLOr - d0
que 0
fez Smirh. O fato de Ricardo
fl:r . troca de mercadorias por outras e
COnccorrado sua atenção principa1mente na
. d r sar diretamente a croca de capital por trabalho não refura de lllodo
evu:a o ana 1 uco 0 faro de as menções específicas de Ricardo
al•um sua alirmaçáo; campo .h r ao
ª firequenres do que em Sml[ ' que rrequemement <..
mais-valor serem menos Ih d f; e ,.,
. , "d d • • feitas no produto do traba a or em avor do capit 1.
referência as e uçoes . .. . a isra
. , . r d"ário Para Ricardo, a ex1srenc1a do lucro - e mesm "-
e do proptJe[ario 1un t • ., . • , . o"'t'
uma raxa de lucro igual - é pressuposta Jª nas pnme1ras paginas de seu escudo,
fornecendo, por assim dizer, um pano de fundo permanente à tela que ele •srá
. Embora Ricardo não investigue direrameme as orii;ens do lucro
por pmcar. . . ... ,a
direção geral de seu pensamento o leva ao concel[O de mais-valor. O valor do
produro é uma magnitude fixada de modo preciso, dere~minada p~l~ quantidade
de trabalho necessária para sua produção. Essa magnitude se d1v1dc em duas
partes: salários e lucro. Destes, os salários são fixos, sendo determinados pelo
valor dos meios de subsistência do trabalhador (ver o capítulo 30) - isto é, pela
quantidade de trabalho necessária para produzir cereais na terra de qualidade
mais baixa. O que resta depois que os salários (isco é, o va'.or dos meios de sub-
sistência do trabalhador) foram deduzidos do valor do produto constitui o lucro.
Assim como Smith, Ricardo analisou o lucro e a renda como entidades
separadas, em vez de reuni-las sob a categoria geral co mais-valor. Ele confundiu
mais--valor com lucro, estendendo erroneamente a este as !eis aplicáveis àquele.
Ricardo ignora a nacureza social do lucro, vo!tando toda sua atenção a
seu aspecto quantirativo. O grau de produtividade do trabalho 1111 agriculttira,
o valor dos meios de subsistência do trabalhador, o tamanho dos salários e, de·
pendendo das flutuações nestes úlrimos, o tamanho dos lucros são as conexões
causais e as relações quantitativas que ele estuda. Ricardo faz o tamanho dos !urros
depender exclusivamente da magnitude dos salários e, desse modo, em última
instância, das mudanças na produtividade do trabalho no ámbico da agriculrura.
Isso é demasiadamente unilinear e estreito. Uma vez que estamos lidando com a
mt1SS11 dos lucros, isso depende não apenas do tamanho dos salários, mas rambém
preços de produção
3.
Até esse momento Ricardo foi mais ou menos bem-sucedido em evitar os
erros cometidos pela teoria do valor de Smith. É verdade que ele não resolveu
propriamente o problema da troca de capital por trabalho, que fora tão difi-
cuiroso para Smith. Mas, ao se concentrar num único aspecto da questão, ele
neutralizou seus perigos inerentes e pôde mostrar que a distribuição do valor
do produto entre capitalista e trabalhador não afera de modo algum os valores
rtlativos dos produtos que são trocados. É claro que esse argumento esconde suas
próprias armadilhas. Ele supõe, por exemplo, que um aumento nos valores (e
uma correspondente queda nos lucros) afera, na mesma medida, cada uma das
duas mercadorias que esrão sendo trocadas. Tal suposição, no entanto, é justifi-
cada somente sob uma condição: a de que os produtores das duas mercadorias
invistam seu capital inteiro na compra de força de trabalho (isco é, na contratação
de trabalhadores), ou dividam-no entre capital consrance e variável exatamente
nas mesmas proporções (Ricardo fala de capital fixo e circulante, mas isso não
afeta em nada o problema). Se cada um deles gasta mil libras em capital consrante
(maquinaria, matérias-primas, ecc.) e mil libras na contratação de trabalhadores,
um aumento nos salários (digamos, de 20%) terá o mesmo efeito sobre os dois
empreendedores e não terá influência alguma nos valores relativos de suas mer-
cadorias. Uma questão diferente é se, enquanto um empresário. divide seu capital
nas proporções aqui estabelecidas, o outro aplica todo seu capital de 2 mil libras
pura e simplesmente na contratação de trabalhadores. Obviamente, um aumento
de 20% nos salários será sentido mais pelo segundo empreendedor, e sua raxa de
lucro cairá abaixo daquela obtida pelo primeiro. Para equalizar a taxa de lucro
nos dois ramos de produção, o valor relativo dos produtos no segundo ramo
tem de crescer em comparação ao valor dos produtos no primeiro, de modo a
compensá-lo pela perda maior sofrida com o aumento nos salários. 13 Chegamos,
então, a uma exceção à regra de que uma mudança nos salários não afeta o valor
relativo dos produtos que estão sendo trocados. Se a troca ocorre entre ramos de
produção com diferentes composições orgânicas de capital, todo aumento nos
salários será acompanhado de um aumento no valor relativo* dos produtos do
ramo de produção cuja cscrucura orgânica do capical é m11is baixa (isto é, 0 ramo
:---- ~ ~~
Na verdade, é o "preço da produção" que muda, e não o valor do P uco. 0•
/ .
com a maior proporçao
producos no wno CUJ
- de trabalho vivo) e de uma 'f"eda no valor relativo d
. • .
·a escrucura do capllal e maJS alta. Consequenccmentc
_ • • •
Os
• 0s
va!om re"1tivos dos produtos (produzidos seja por cap!taJS com diferentes com-
posições orgânicas, seja por capitais fixos de. durabilidades desiguais, ou por
capitais dotados de períodos desiguais de rendimento) podem se modificar não
apenas por mudanças nas quantidades r~lativas de irabal~~ neccssá'.ia.• para sua
produção, mas cambém por uma al1traçao no nlvel dos sa/drios (que significa urna
alteração correspondente na caxa de lucro). Essa é a famosa "exceção" à lei do
valor-trabalho que Ricardo examina nas seções IV e V do primeiro capitulo de
seus Princípios. O cabeçalho da seção IV diz: "O principio de que a quantidade de
trabalho despendida na produção de mercadorias regu!a seu valor rc:ativo, con-
sideravelmence modificado pelo emprego da maquinaria e outros capitais fixos e
duráveis".• A lei do valor-trabalho coriserva sua plena ,-..Jidade apenas quando os
produtos trocados são produzidos por capitais de igual composição orgânica, com
a mesma longroidnde e investidos por iguais períodos de tempo."
Ricardo ilustra sua ideia com o seguinte exemp!o. O faundeiro A contrata
cem trabalhadores, pagando a cada um deles um sa'.ário de SO !ibras por ano. Seu
capical circulante (variável) total é de S mil libras. Supon.'iamos que ele não realiza
nenhum gasto de capital fixo. Dada uma taxa média de :ucro de 10%, o cereal
do fazendeiro terá, no final do ano, um valor de 5.SOO libras. Ao mesmo tempo,
o manufaturador de tecidos B também contrata cem trab.Lhadores, investindo
cm seus negócios um capital circulante de 5 mil libras. Porém, para manufatu-
rar o tecido, esses trabalhadores usam uma maquinaria no valor de 5.500 libras.
Isso significa que B está investindo em seu negócio um capital total de 1O.SOO
libras. Se, para firis d< simplificação, supomos que a maquinaria não deprecia, 0
tecido que foi manufaturado no curso do ano terá um valor de 6.0SO libras: S mil
libras como reposição pelo capital circulante, mais SOO libras(= 10% desse capital
de circulação), mais S50 libras (= 10% do capital fixo). Embora tanto o cereal
quanto o recido tenham sido produzidos com iguais quancidades de trabalho
(cem homens),•• o cecido tem mais valor do que o cereal: no preço do tecido, entra
~car<fo fala sempre de capitais fixo e circulante mas por este último ele entende esscn·
aa.l~ence ~ capital aplic;<io na comrntação de ;rabalhadores (isto é, capital variável, na
~rminologia de Marx). tf.ssa cicação <de Sraffa, Principks, p. 30 - N. do T.I.] .
e!:.vc:z que postulamos que a maquinaria usada na manufatul'a de tecido não dep~~
ao tnnsfere nada de seu valor ao tecido, [Aqui, Rubin poderia ter dico, mais propr1a
o\ TEOiitlo\ DO Yo\LO" 323
- - mente,
- - -que- ela não transfere nada de seu valor ao 'tHllor do tecido. · Embora ·~arx-.de pra.-
. nha f::..'ad 0 d0 valor sendo tran.,.fen o ou
ticarncntc todos os economistas marxisw: - te ;u al é
dado diretamente à mercadoria. não se pode perder de vista o faro ck ~ue o v or biuma
. d" •0 cxce1cncedopro ema
propnedade soci11/, e não m11ttri11/ do produto. Para uma iscussa d b·- próprio
ClUs
ado pela •materiali1.2Ção memal das rclaçoes
• h 3,; (esrassen ooo ,...
. uman E A. Preobrajcnski, 7111 nttu
da economia política} entre c:studances do marxismo, ver ' D nto de vista de seu
J:"
«•••mies, Oxford: Oxford Univcrsicy !'r<ss. I965. P· 147º 150• . 0 economia poliria,
método, especialmente de S('U rracamenco 6losófico das a.rcg~na.ç
Prcobrajcnski e Rubin tinham muito em comurn - N. do T.l.j
/
> reconciliar a lei do valor-trabalho com a lei da equaliuçiio da t11Xa de lucro do
/ capitai. Vimos que, ames de haver qualquer mudança nos salários - e complera-
mente indcpt:ndeme dessa mudança -, o valor do cereal escava para 0 valor do
tecido na razão de 5.550:6.050 libras, ainda que quantidades iguais de trabalho
tivessem sido despendidas em sua produção. Temos aqui duas mercadorias pro.
<luzidas com iguais quantidades de rrabalho (cem trabalhadores), mas nas quais
os capirais avançados são desiguais (5.500 libras comparados com 10.SOO libras).
Desse ponro de visca da reoria do valor-trabalho, o valor-trabalho possuído pelas
du:ls mercadorias é igual. Do ponto de vista da lei de uma taxa igual de lucro,
o preço da última mercadoria cem de ser maior, uma vez que contém um lucro
de um capitd! maior. Como resolver essa contradição~ Foi para responder a essa
questão que Marx construiu sua teoria dos "preços de produção». De acordo com
a croria de Marx, numa economia capitalista, com sua tendência a uma equaliza-
çá:o da taxa de lucro, as mercadorias são vendidas não por seus valores-trabalho,
mas por seus "preços de produção", isco é, pelos custos de produção mais o lucro
médio. A massa total de mais-valor produzida na sociedade é dividida entre rodos
os seus capitais em proporção ao tamanho de cada um. Se algumas mercadorias
são vendidas a um preço acima de seu valor-trabalho, outras são vendidas a um
preço abaixo dele. Vm ramo de produção com uma alta estrutura de capital
recebe um lucro médio que excede o mais-valor total que esse ramo produziu.
Es~.as s@mas "adicionais" de lucro são extraídas, no entanto, da reserva geral de
mais-valor criada pelo conjunto de rodos os ramos da produção.
Ricardo foi não apenas incapaz de resolver o problema dos "preços de
produção"; ele sequer pôde C()/ocd-/o em toda sua abrang~ncia. É verdade que
de compreendeu que, <::om dois ramos de produção tendo difert>ntes estruturas
orgânica!' dt." capital, os preços de seus produtos t~m de divi:rgir de seus valores-
-uahalho a fim de possibilitar a c:qualização de suas raxas dC" lucro. Ricardo come-
çou por se fixar firmemente à ideia de que a cend~·ncia dominante no âmbito
da economia capiralisra é a da equ11/iwç1ío dos /u,·ros. Ele não cinha dúvidas de
que: 0 tecido rem de custar ma.is do que o ce-real, apesar de seus valores-trabalho
igu.,is. de modo que seu proprietário pudesse obter um lucro de seu investimento
mJior de capital. O direito do manu.famrador de tecido a receber um lucro ~or
rcspondenre ao tamanho de seu capital parecia para Ricardo rão nacural que
a questão de onde se originava esse lucro de 550 libras não lhe inre-ressava. ~o
p , 'J d ·asnao
osrutar umd ra.~a méa1'a de lucro desde o início, isto é, que as mcrca ori le
são vcnd idas por seus valores-crabalho, mas por seus preços de produção. e
"""~ .........
A Tl;:Of'llA 00 l/A~OR 325
evita o problema bdsico de como é formada a taxa média de luert> e como o valor-
-trabalho é transformado _em preços de produção. Sua atenção se direciona, antes,
especificamente para o efeito que as mudanças 1ws saldrios rt:rn nos preços relativos
das mercadorias produzidas por capitais com composições orgânicas desiguais,
independentemente de alterações no valor-crabalho. Ricardo, ao estabelecer que
as mudanças nos salários e no lucro influenciam os valores relativos das merca-
dorias, reconhece que temos, aqui, uma "modificação" na - ou uma "exceção"
à-lei do valor-crabalho. Ele se consola com o faco de essa "exceção" ser de pouca
importância: o efeito que as mudanças nos salários (e no lucro) exercem sobre 05
valores relativos das mercadorias é insignificante se comparado ao impacco das
mudanças na quantidade de trabalho necessária para sua produção. Ao analisar
as mudanças quantitativas que ocorrem no valor das rnercaC.orias, o crescimenro
na produrividade do trabalho conserva seu papel anterior corno fator predomi-
nante. Sobre essa base, Ricardo considera legítimo deixar de lado essa exceção
e considerar "todas as grandes variações que ocorrem no valor relativo das mer-
cadorias como sendo produzidas pela maior ou menor quamiC.ade de trabalho
que pode ser requerida de tempo em tempo para produzi-las''. 15 Apesar de suas
exceções, a lei do valor comerva j'U/I validade, e a parcir dela ele constrói toda sua
teoria da distribuição.
Embora Ricardo continue se prendendo à lei do valor-trabalho, as exceções
a ela provocam, na verdade, uma lacuna em sua formulação da teoria do valor.
À questão "de onde vem o lucro do capital fixo?". Ricardo náo dá qualquer
resposta. Em vez de demonscrar que o produto de um ramo de produção será
vendido acima de seu valor-trabalho na mesma proporção em que o produto
de ourro ramo será vendido abaixo de seu próprio valor-crabalho, Ricardo faz
outra suposição. toralmenre ininteligível: o cereal é vendido por seu valor inttiro
(5.500), mas o tecido é vendido dâmo de seu valor (5.500 libras+ 550 libm). Em
vez de demonstrar o processo pelo qual a raxa média de lucro é formada, Ricardo
roma- de anremlo e sem fornecer qU3lquer explicação- a taxa de lucro como de
10%. A fonte do lucro do capital circulm1tt (variivd) é o volor-rrabolho de 5.500
libras criado pelo trabalho de cem homens; ela cai, pcrcanto, com co~o aumemo
, . ( . · lante) malS o lucro do
nos salários (e vice-versa): a soma dos salanos capita1circu .
< · l d tante em 5 500 libras. O
apita circulame é postulada como permanecen cons ° · . lo
lu d d' · d. valor-uabalho criado pe
cro o capital fixo é mecanicamente a 1oono 0 ª0 . d
trabalho dos operários na taxa definida de 10% (isco é, um lucro de onge7 :
. I 6 é adicionado ao va or
conhecida igual a 550 libras, ou 10% do capita xo,
326 Olo.VIO jl.lCl<itOO
Notas
l l. (:,,,,,,, 1'•11"'• ,,i,~,,. ,,,,;., ••1"w '"'"' •:1·1.>1';·,;,,, ,,;,, ,;,, '"''"'"''" ''· wb"''
'""'""''' ~"~ i!•J;,.; ffirf' ;,tjr i,.
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1 · 'l:fil.t, 'f'J'.;,l,1,1, 11: l,1;11;((,I/, '/:rlo?f': tr,f t;ff•
"'.rr,1r '11Jr Í'11;,r1!1, 'V~ f;.,};,1,l,t, '~ 'rJil ;,1r..11,!.1, tl'Ít/lf11p ·.;rr.:. ,_,,, ,,.~:.1,ht1:,, '1';'/~, '-
ti6, ~ ".l'lif. 'IÚ1fl':, 11/nt/11/1. • '
li L • '!. "ll1'1'1fil, 'hrr,11 1,:/./:flil ,'l.rr./ ,.,,, ~·J ~/Ul'ÍJr; itJ 1h1
li ~111 '"""/11111//111 • ''li '
,,::,.,~. ,,,,,,;;,,, ~~;~, · J, :,;,~ 1111/.;1/11·~ ;:_y1,_1:.;~ •/), ;,:. ,~,,,:;,;-, ·.::, :.·,:r.n.'1'11,1/,
,J,j1t•!flu~1111 , ,-r.1111/:,f -~'·" ': ,n;:. f.I/.. ;11'""//.. ;,:///.' ,•1r.,. rr.:.•, ·r·,:. f"ffJ:
[#3.5 desiguais de lucro - e a realidade" claramc!'nte obse1Vávd da vida econômica
'°cidi3.Jl3. na qual cais disparidades na ca.xa dC" lucro exisccm somente cm ~os ex-
• .5 Tomemos dois capitais, A e B, cada um compreendendo capitais rota.is
«P"'ºnai.
de lOO (extraímos esse exemplo do capitulo 9 de O rapitlll, v. 3):
A. SOc + 20v + 20s = 120
B. 70c + 30v + 30s = 130
~e: capjral constante; v: capital variável; s: salários; L: lucro - N. da T.B.~
Os dois capitais são de tamanho idêntico, mas criam produtos de valor desigual
cm virwde das diferentes proporções entre o capjtal constante, que simplesmente
uansfcre seu valor ao do proCuco final, e o capital variável, que é o único elemento
aiac!or de valor. Além &so, embora de camanho igual, ~ capitais possuem taxas
d.e !ucro desiguais. A wca de !ucro, que é definida como a ruáo do mais-valor ao
Capítulo 29
A RENDA FUNDIÁRIA
-
damento de cerras ou na produtividade de dispêndios sucessivos de trabalho, é
mas porque o valor do cereal particular em questão está abaixo do valor social-
mente necessário. Com essa explanação, Ricardo rejeita resolutamente a segunda
das teorias que mencionamos anteriormente, a saber, a teoria do "monopólio",
que vê a renda como um incremento adicionado ao valor do produco.
-
• Não obstante cssadi6
cando, as.sim, mudan:~ ~constantemente prescncc, sua magnitude fl.ucua, pro"o-
o ume da renda diferencial.
.....
...
A RENDA FUN01AR1A 337
e 0 ·fazendeiro obter uma tal área para o cultivo sem pagar uma renda ao pro-
Po~io fundiário? Ricardo presume, obviamente, a existência de terra de pior
p:alidade livremente acessível a qualquer um que queira nela trabalhar. Em outras
~vras. Ricardo ignora aquelas limitações que a propriedade privada na terra -
induindo a terra bastante pobre - impõe ao investimento do capital na agricul-
iur.1. Somente desse modo Ricardo pôde chegar à conclusão de que dreas de terra
IÍl qualidaJe inferior não geram rentÚl alguma.
A teoria da renda de Ricardo nos apresenta, então, as crês seguintes propo-
sições: 1) não existe renda absoluta (isto é, a renda paga para se cultivar uma cerra
da mais baixa qualidade); 2) a única renda que existe é a renda diferencial, que é
igual à diferença entre dispêndios individuais e socialmente neeessdrios de trabalho
(ou capical) e que cresce em virtude do fato de os fazendeiros cultivarem cada vez
mais terras de qualidade inferior; 3) a totalidade da renda diferencial é destinada
ao proprietdrio tÚl terra. A primeira tese de Ricardo, como vemos, é errada e
necessita de "correção. Sua doutrina da renda diferencial é, no geral, correta. É
ainda verdade que a teoria da renda diferencial, ral como Ricardo a desenvolve,
contém uma série de elementos supérfluos que precisam ser expurgados. Ricardo
amarrou sua teoria da renda à ideia equivocada de que, como os trabalhadores
cultivavam cerras de qualidade cada vez pior, a quantidade de trabalho necessária
para produzir um alqueire de cereal cresceria e haveria um aumento inevitável e
progressivo cm seu preço. De fato, Ricardo reconhece que o progresso da cccnolo-
gia agrícola reduz a quantidade de trabalho requerida para produzir cereal, porém
cJc pensa que tais avanços técnicos podem apenas retardar momentaneamente ou
atenuar a ação da assim chamada lei tÚl 'JertilidAde decrescente do solo", mas não
podem aboli-la.
A ideia errônea de Ricardo de que o progresso técnico na agricultura vai
na direção oposta à do descnvolvimemo industrial é apenas o reflexo cc6rico
~os fenômenos econômicos fortuitos que se manifestaram temporariamentt na
nglacerra no começo do século XIX. A indústria inglesa na época de Ricardo foi
:reada pela rápida introdução da produção mecanizada e pelo barateamento
mercadorias. Em sua teoria do valor, Ricardo generalizou esse fenômeno: ele
escava convencido de que
1 SS
coo
al no preço do cereal e da renda fundiária; '""'•ndo
-~... l
um aumen•"ºnos ~anos
__ ,,_.
-:nais
no,.... ' enquanto os salários reais permanecem constantes ou a··
."e mesmo caem;
e cc rceiro, uma taxa decrescente do lucro (isso será discutido mais adiante, no pro-•
ximO capimlo). Essa inteira teoria da distribuição parte da suposição de que os
preços dos cereais aumentarão inevitavelmente pela ação da lei da "fertilidade
decrescente do solo".
Cada uma dessas conclusões se baseia numa generalização precipitada de
uns poucos fatos extraídos da história da agricultura inglesa no começo do século
XIX. Em primeiro lugar, é historicamente incorreto que a melhor terra foi sempre
cultivada antes das áreas inferiores. Carey mostra, usando exemplos históricos,
que os agricultores frequentemente começavam a cuhivar terras que eram de pior
qualidade, porem mais acessíveis, e somente mais tarde passavam ao cultivo de
cerras de melhor qualidade (ver o capírulo 36, sobre Carcy e Bastiat, na parte 5).
Em segundo lugar - e este é o erro decisivo de Ricardo-, é falso que a cransição
gradual para o cultivo de terra inferior leve inevitavelmente a um aumento pro-
gressivo no preço dos cereais. Uma vez que novas melhorias técnicas são introdu-
zidas, o cereal pode ser produzido numa terra inferior com um custo de produção
mais baixo do que ele o podia antes numa terra de melhor qualidade. Os brilhan·
tes sucessos da tecnologia agríc:ola, em meados do século XIX, abaixaram pro-
gressivamente os dispêndios de trabalho e capital requeridos para produzir uma
unidade de cereal e superaram as previsões pessimistas de Ricardo e Malchus.
Em terceiro lugar, é incorreto que a renda só aumente quando haja um aumento
no preço do cercai. Se a diferença na produtividade das diferentes terras se amplia
• aumenta o número de alqueires de cereal colhido por acre, a renda pode crescer
mesmo com a queda no preço do cereal. Não menos errônea foi a tentativa de
Ricardo de explicai a taxa decrescente rk lucro com base num aumento no preço do
cereal: sua explicação repousa, na verdade, na crescente composição orgânica do
capital (ver capitulo 30). Qualquer uma dessas asserções cai tão logo removem~
sua premissa básica de um aumento inevitável e progressivo no preço dos cercais.
. falsas que possam ser as previsoes
Por mais · • de R'teardo sobre as tendências
dos rnovimentos
. do rendimento, isso nao - ·mval'd
1 a
em absoluto a importância
. .
te6ricade sua doutrina sobre a renda diferencial. Aceitemos que Ricardo foi his-
t · • l mpre começam cul-
oncamentc descuidado ao sustentar que os agncu cores se
ti•- d do às piores Digamos que sua
••n o as melhores cerras, apenas depois passan ·
_J 340 OAVID RLC::Alil00
Notas
Ricardo, Principies, p. 74.
2. Jbid., p. 75: grifos de Rubin.
}. Jbid., p. 36.
4. lbid., p. 93: grifos de Rubin.
5, lbid., p. 97: grifos de Rubin.
Capítulo 30
SALÁRIOS E LUCRO
.
dSI"º· Tais caracterísricas da lei de ferro são intensificadas ainda ma'IS pelOS fi'-'-
IUSOS
fanbmentos com que ~cardo a justifi~. ~pecialmente falsa é a ideia de que se
pode considerar a velocidade ou a lenndão com que os trabalhadores se repro-
Jr1zem uma causa dos movimentos ascendentes ou descendentes nos sal:lrios. A
aparição ou desaparição de uma população trabalhadora excedente depende, na
economia capitalista, não do aumento absoluto ou do declínio no número de
trabalhadores, mas da expansão e contração periódicas da produção capitalista.
O exército de reserva de desempregados é uma guarnição necessária da economia
capitalista, que não deriva de modo algum do fato de os trabalhadores estarem
se reproduzindo com uma rapidez excepcional. Em períodos de expansão, a
indústria capitalista recruta novos trabalhadores desse exército de reserva: para
fat.ê-lo, ela não cem de esperar os vinte anos que, na suposição de Ricardo, devem
transcorrer até que um aumenco nos salários encoraje os trabalhadores a se mul-
tiplicarem e dê ao mundo trabalhadores genuinamente "novos". Se procurarmos
por aquele mecanismo que força os salários a gravitarem em corno do nível dos
meios habituais de subsistência~ não poderemos encontrá-lo na malthusiana ªlei
absoluta da população", mas numa "lei relativa".
Assim, a doutrina ricardiana do nível "estático,, dos salários, apesar do
núcleo saudável que ela esconde, foi desfigurada pela base biológica ou "natural"
que Ricardo lhe forneceu. Sua interessante doutrina da "dinâmica" dos movi-
mentos do salário sofre exatamente do mesmo defeito. Aqui Ricardo procura a
causa última dos fenômenos nas ações das leis natucais: a lei "flsico-química., da
fertilidade decresçente do solo e a lei "biológica" da população. Em nosso capítulo
sobre a renda, vimos que Ricardo, baseado numa crença err6nea da permanência
desta última lei, considerou como inevitável que os preços do cereal e de outros
produtos agrícolas crescessem progressivamente. Como o trabalhador requer dc-
ccrminada quantidade de gêneros alimcnticios para sobreviver, todo aumenta nos
seus preços provocará invariavelmente o aumenco no "preço natural" do trabalho,
ou nos salários nominais (mesmo que os salários reais permaneçam inalterados ou
arC mesmo caiam, corno veremos mais adiante). "A mesma causa que: devaª renda,
a saber, a dificuldade crescente cm prover uma quantidade adicional de alimentos
com a mesma quantidade pcoporcional de trabalho, cambém aumentará os salários
[... ].Mas há essa diferença essencial entre o aumento da renda e o aumento dos
salários."' A renda do proprietário fundiário crescerá canto em termos de cereal
(em Virtude da expansão do cultivo a terras de qualidade inferior e à disparidade
) 348 DA.V•O 1111c ... A.OO
"
> ·1·dade das áreas superiores e a das inferiores) quamo .
crescente entre a fen1 1 ~ . • ll\ais
acumulação de capiral cai de 2% para 1o/o, a demanda por força de trabalho ficará
obviamente atrás de sua oferta; cm outras palavras, os salários reais cairão. De fato,
isso náo invalida de modo algum o imenso valor da teoria ricardiana da distribui-
ção, que marcou roda uma época na hiscória de nossa ciência.
Ricardo foi 0 primeiro a tratar do problema da distribuição em toda a SUa
crtensíio e a fazer dele 0 Ponto central de sua investigação. "Determinar as leis que
regulam essa distribuiçáo é o principal problema da economia política", escreve
ele no prefácio de seus Princípios. Numa carta a Malthus, Ricardo contrapõe sua
própria concepção da economia policio. como a ciência que se ocupa das leis
de distribuiçáo dos produtos entre as classes à concepção de Malthus, que vê a
economia pcliâca como a ciência da natureza e das causas da riqueza. Enquanto
os capitulas de Smith sobre a dimibuiçáo permanecem como uma coleçáo de
fatos e observações disparatadas, Ricardo apresenta um quadro compleco e teori-
camente estruturado das interdependências e dos movimentos dos rendlmentos,
o qual ele constrói com base num único principio. Tal principio é o do valor-
-uabalho. Em Smith, a teoria do valor e a teoria da distribuição permanecem
logicamente separadas: ele flutua constantemente entre dois pontos de vista, ora
afirmando seu ponto de partida, ora o rendimento. Embora tenha expressado
numa cana a visão de que uma resolução dos grandes p<0blemas da economia
política- renda, salários e lucro - não se ligava necessariamente à teoria do valor,
Ricardo baseou sua investigaçáo inteira no prindpw do valor-trabalho, sobre o
qual ele conmói, então, sua teoria da distribuição.
O segundo grande mérito de Ricardo é ter dado primazia ao problema
das participações relativas das diferentes classes sociais no valor do produto, mais
do que à distribuição, entre essas classes, de cotas absolutas nos produtos naturais
(o predominante ponto de vantagem encontrado em Smith e, em parte, apropria-
do por Ricardo). Suponhamos, diz Ricardo, que o trabalhador passe ª receber
urna vez. e meia mais alimento, roupas, etc. do que anteriormente. Se. ao mesmo
tempo, a produtividade do trabalho dobrasse (causando, assim, a diminuiçáO do
valor dos produtos pela metade), diríamos que a cota (ou "valor real") dos salários
diminuiu. Mesmo que o trabalhador obtenha, agora, um número maior de P'~
dt. º' Ri ~~
u 111 natura, sua cota relativa no valor do produto social diminuiu. cal'
opr:metroª
. .mero duz1r. na ciência esse mécodo de exposição do pro ble:rna que 1
foi subsequentemente desenvolvido por Rodberrus e por Mant - este último, e!1\
sua chamada "teoria do pauperismo"
. dis-
. Ao apresentar 0 problema da disuibuição relativa, Ricardo foi capaz de f,11\
ccrrur claramente a.s CfJntradições dos intereSJes de classe na sociedade capitalista·
SA.~ARIO$ E l.l.IC:Ro 351
pleno acordo com os traços característicos de sua época e com sua própria posição
social e de classe, Ricardo enfarizou especial e persistentemente o conA.ito entre
os interesses dos proprietários fundiários e os das demais classes da sociedade: a
queda na produtividade agrícola e o preço crescente dos cereais baixam a taxa de
lucro e estancam a acumulação do capital, causam a deterioração da siruação dos
trabalhadores e, ao mesmo tempo, tornam os proprietários rurais exorbitante~
mente ricos. No encanto, para1elarnent:e a essa contradição básica, que dominou
tanto a realidade da Inglaterra do início do século XIX quanto suas concepções
teóricas, podemos encontrar nos escricas de Ricardo as linhas gerais da grande
luta histórica que começava a ser cravada encre a burguesia e o proletariado. No
esquema de Smith, um aumenco nos salários não ameaça em nada os interes--
ses dos capitalistas, uma va. que ele causa um aumento no preço do produto e,
desse modo, é pago pelo consumidor. No esquema de Ricardo, um aumento nos
salários náo é acompanhado de um aumento geral no preço do produto1 mas
acarreta inevitavelmente uma queda no lucro: vemos, refletida nessa lei, a con-
tradição irreconciliável dos interesses de classe da burguesia e do prolerariado.
De fato, os trabalhadores podem receber uma quantidade maior de alimento,
roupa, etc. e, assim, melhorar sua situação ao mesmo tempo que os capitalistas
se tornam mais ricos. Os apologistas do capitalismo, Carey e Basciat, em sua
polêmica contra a doutrina de Ricardo (ver o capírulo 36, sobre Carey e Bas<iat},
consideraram apenas essa possibilidade de melhorar as condições dos trabalhado-
res. O que eles ignoraram, no entanto, foi a doucrina ricardiana d.a distribuição
relativa: a classe trabalhadora não pode aumentar sua cota relativa no valor do
produto social, a não ser que haja uma queda na coca relativa destinada aos capi-
talistas. Com Ricardo, a escola clássica abandonou as visões ingênuas de Smith
sobre ª harmonia de interesses entre as diferences classes e reconheceu aberra-
rncme a existência, no interior da economia capitalisra, de profundos conflitos
de classe. Mas quando, em meados do século XIX. ess.s contradições de classe
adquiriram uma tal força a ponto de ameaçar a própria existência do capitalis~o,
a ciência ewnômica burguesa rompeu com a teoria de Ricardo. Começava, enrao,
0 Período de desintegração da escola c/4ssica.
Notas
3. lbid.. p. 96-97.
4. Jbid .. p. 94.
5. Ibid., p. 105.
6. Ibid .. p.102.
7. lbid.; grifos de Robin.
s. lbid.• p. 110.
9. lbid.. p. 111.
10. lbid., p. 120: grifos de Rubin.
11. lbid., p. 120-121.
12. lbid., p. 122.
13. lbid., p. 101-102, 103.
Parte 5
A DESINTEGRAÇÃO DA ESCOLA CLÁSSICA
capítulo 31
MALTHUS E A LEI DA POPULAÇÃO
356
·meira merade do século XIX a aristocracia~·-'
Todavia, se durante a pn . ._,..
. . ia! da Inglaterra cravaram uma acirrada luta uma concra
a bu~es1a mdustr • , . a
e " . pla ~m• de quescões em relaçao as quais as duas classe
outra, ainda havia urna am b-·- . . s
. ,. ·lhavam seus inceresses. Assim, canco os clássicos (Ricardo)
propnecar1as comparti . - d .
ram com i..ual zelo pela abohçao as velhas leis do paupc-
como ;.Malthus luta
.r15mo, que raz·1am da manutenção1;1 •
.. .
• •
dos pobres locais uma obngaçao paroquial
.
Também em questões doutrinárias havia pontos harmon1cos entre Malchus e os
clássicos. Em seus debates contra a teoria do valor-trabalho, Malthus desenvolveu
ideias formuladas pelo próprio Smith- ideias que formavam a parte mais frágil da
teoria smithiana. Malthus elegeu esse lado fraco da escola clássica como o suporte
ceórico para sua reação contra ela.
Em geral, a teoria da população de Malchus foi aceita pdos partidários
da teoria clássica, que a utilizaram para explicar uma série de fenômenos, como,
por demplo, os salários (ver o capítulo 30, sobre a teoria ricardiana do salário),
embora a teoria náo tivesse qualquer conexão com seus ensinamentos principais.
A primeira obra de Malchus sobre a população foi uma reação contra o
Iluminismo burguês e o radicalismo sociopolítico que encerrou o século XVIII.
Em 1793, foi publicado o livro de um inglês, Godwin, defensor milicance de uma
reforma social e política e oponente da propriedade privada, que ele via como
a causa primária da pobreza e da situação calamitosa das classes mais baixas da
população.' Godwin pensava que uma reforma das instituições sociais poderia
abrir à humanidade a possibilidade de uma melhora ilimitada de suas vidas -
uma ideia que, na França, era desenvolvida simulcaneamente por Condorcet. O
Ensaio sobre a população foi uma resposta a Godwin. 2 Malchus pretendia mostrar
queª verdadeira causa da pobreza reside não nas inadequações do sistema social,
mas nas contradições naturais e inexoráveis entre o ímpeto humano desenfreado
para multiplicar e os limites do aumento nos meios de subsistência. Malchus sinc<-
cizou essas ideias nas três proposições seguintes:
:-----:---- . r ão de ue a popufo.ç:io
Nao é necessário mençionar o foco ac Ma!chu:> tc:r baseado sua asse ç <:.
dobrará a. cada 25 anos em material fuccual não verificado.
0 prindpio dtt popu/açáJJ esd liquidado como argumento e se tran.forma num
CIOS de f:uos coletados para ilustrar o efeito de lei• que não mais existem. Além da
teoria da progiwão aritmética, não há nada no Ensaio que demonstre por que a
produção dos meios de subsistência do homem não possa ctesccr tá<> rapidamente
quanto uma população "incontrolada".•
Foi dito que eu mia escrito um quarto volume para provar que a população au·
menta numa proporção geométrica, ao passo que os alimenros, num• proporção
aritmética; mas isso não é verdade. A primeira dessas proposições considerei pro-
..da desde: o momcnm cm que o crcscimenm americano foi relatado. e a segunda.
logo depois de ter sido enunciada. O objeto principal de minha obra era indagar
sobre os efeitos que essas leis, que considcriei como estabelecidas nas primeiras seis
p;íginas !do primeiro capírulo de E"11lio sobrt0 Princípio da População - I.lt].
Que a pnncip
· · ai e mais permanente causa da pobreza tem Pouca ou nenh•""' ·-
1 d" rop•••
rc ação ''ti" com as formas de governo ou com a divisão desigual da p rego
dadc; e que, como o rico não põs5ui, cm realidade, o potkr de encontrar ernP
·----. ----~-- \" ... ·•
...ra ... _
MALTHUS I! A l.El DA POPl,/LAÇA,Q 361
e manutenção para o pobre, este não podei conforme a natureza das coisas, possuir
o áireitO de exigi-los do rico; essas são importantes verdades que resultam do
principio da população, que, q1mndo adequadamenre explicado, não é de modo
algum inacessível à compreensão do homem comum. E é evidente que todo
homem que, nas cL'\S..~es mais baixas da sociedade, romassc conhecimento dessas
vcrdadc.~1 estaria mais C.isposco a suportar com mai$ paciência os tormentos que 0
afügern, sencindo~se menos descontente e menos revoltado contra o governo e as
classes mais altas da sociedade a respeito de sua pobreza; ele se rornaria, em geral,
menos dispos[O à insubordinação e à turbulência; e se recebesse assistência, .stja
de alguma instituição pública, seja da caridade privada, ele a teeeberia oom mais
gratidão e apreciaria mais jwu.mentc seu valor.7
Seria difícil encontrar palavras que revelem mais vivamente a.i unáên-
cillS rtacio11árias de Malthus e seu desejo de provar a rodo cusro a necessidade
da pobreza e do desemprego. No entanro, de um ponto de vista re6rico, foi essa
tarefa de justificar as calamidades do capitalismo que Malthus cumpriu do modo
mais satisfatório. Mesmo aqueles economistas que se inclinam a uma concordân~
eia torai ou parcial com as duas primeiras proposições de Malchus percebem a
ftagrantc falsidade da terceira. A pobreza e o desemprego modernos resultam não
de qualquer escassez de meios de subsistência, mas, ao contrário, do aumenro
colossal das forças produtivas e da tecnologia rnc:cânica sob condições capita-
listas, Eles têm de ser reconhecidos como um produto de condições sociais,
mais do que naturais; como produto da "'superpopulação relativa" inerente
à economia capitalista, e não de uma "superpopulação absoluta" derivada da
Pl'Ópria natureza do homem. A r<ncativa de Malrhus de lançar a responsabili-
dade pela pobreza contemporânea em fatores biológicos e puramente técnicos
Íoi completamente fracassada.
Embora Ricardo renha compartilhado da teoria da população de Malrhus,
os do'lS fo Iam oponentes dirccos quanto à teoria '- "',,1o,· A visão de Malrhus. era a
· '"'
de l .~ donnnáa e dcrermmado,
que o valor das mercadorias é regulado pe a 0;•rt1r ' /
, • . é salários mais lucro ,e
Clb. condições normais, pelos crutos áe proa:tfll0 • lSto ' fo d
. 1 balho tal como rmu1a a
'<nela). Rejeitando resolutamente a teot1a do va or-tra d 1 Tal
Por "• . '
"'-lcardo, Malthus reteve o lado mais rraco
da teoria smichiana o va:or.
doria
co lho áiáa do valor de uma mcrca
mo Smith, ele considerou que a me r m• uocad 11 rém há uma
0
•ra a quantidade de trabalho que ela comprará quando a. '
A oe.s•NTl!.ORAÇAO OA ESCOLA cLASSICA
362
decurso de uma semana, com um lucro de 20 libras, isto é, por 120 libras. Com
essa soma de dinheiro, o capitalista pode, agora, contratar mais trabalhadores
do que antes, isto é, doze trabalhadores. Isso significa que o valor do que foi
produzido é medido pelos doze trabalhos semanais que ele pode comprar quando
crocado. O capitalista gasta na produção do produto uma quantidade definida
de trabalho (de seus trabalhadores) e pode comprar uma quantidade maior de
trabalho quando o produto final é trocado. De onde provém esse excesso que
forma o lucro? A essa questão, Malchus não dá qualquer resposta. Ele pensa ob-
viamente que o lucro é uma etiqueta de preço que o capitalista adiciona ao valor
de uma mercadoria a ser paga pelo consumidor. Desse modo, Malthus recua às
ultrapassadas concepções mercantilistas do "lucro sobre a alienação".
. De todo modo, quem são esses consumidores que pagam pelas meccadorias
m015 do que seu valor? Os trabalhadores podem comprar apenas uma porção das
mercadorias produzidas por seu trabalho, uma vez que o preço dessas meccado·
rias (120 llbras) é maior d0 que os saianos
. . rotais que eles receberam ( 100 l"b 1 ras ·
)
De modo similu' os caP1·tal"iscas, que aspiram, se possível, a reduzir seu propri • ·o
consumo pessoal corn o 0 b' . d . o-
. Jenvo e acumular capital, não podem consumlf ª t
talidade do produto exced O ___ ,. do
. ente. produto total produ7.ido não pode ser r=1za
sem a ajuda de compradores • . • ro-
prietários fu d'. . - terce1ros -, que não podem ser senão OS P
teoria dos m~~ios'.os funcionários do Estado, etc. A.sim, Malchus chega à sua
En ªº'e a sua doutrina da utz·L·zaaae
;_ , ao -·- .1 ·vo•
, conmmidor improuutz
quanto o objetivo que a 1 1• . . 0 do
crescimento u· . d d csco a e assica designava à economJa era .
irn1ca o a produção, cujo mocor é a classe dos capitalisras in-
MAl.T .. us E A l.EI OA POPUl.AÇAo 363
Em relação aos capitalistas r...~. des rC:m cercamente o poder de consumir seus
lucros ou o rendimento que eles obcêm pelo emprego de seus capitais; e, se eles
os consumissem [... ], haveria pouca necessidade de consumidores improducivos.
Mas tal consumo não se enquadra nos hábitos atuais da maioria dos capitalistas.
O grande objetivo de suas vidas é acumular uma fortuna, seja porque é seu dever
manter uma provisão para suas famílias, seja porque não podem gasear conforta-
velmente seu rendimento quando são obrigados a passar seis ou sete horas por dia
num escritório contábil[ ... ]
Deve haver, portanto, uma classe considerável de pessoas dotadas [anto de
vontade como de poder de consumir mais riqueza material do que elas mesmas
produzem, ou as classes mercantis não poderiam continuar a produzir lucrativa-
mente muito mais do que 0 que elas consomem. Nessa classe, os proprietários
rurais ocupam, sem dúvida, uma posição proeminente [. · .]
E no que diz respeito (aos] trabalhadores, deve-se admitir que, se eles possuem
a vontade, não possuem 0 poder de realizá-la [... ] Mas como um grande aumento
do consumo entre as classes crabalhadoras cem de aumentar em muito o custo
de produção, é preciso abaixar os lucros e diminuir ou desrruir a mocivaçáo de
acumular, antes que a agricultura, as manufaturas e o comércio renham alcançado
Df.SINTt:OA ... ÇÃO O .. ESCOLA CLÃSSICA
364
Malthus náo percebeu que os capiralistas, que não podem de fato destinar
seu mais-valor inteiro ao consumo pessoal, ainda preferem não vende-lo aos pro-
prietários fundiários, mas acumulá-lo na forma d.e novas máquinas, fábricas, etc.,
de modo a txpandir a prodrirão. Os paitidários da burguesia industrial conside-
raram os métodos salutares de Malthus como altamente inviáveis. Um ricardiano
objetou a Malthus nos seguintes teimos: "Ficamos continuamente confundidos,
nessas especulações, entre o objetivo de aumentar a produção e o de refreá-la.
Quando um homem está à procura de uma demandd, o sr. Malthus o recomenda
que pague a outra pessoa para que esta compre seus produtos?".•
O choque entre Malthus e seus oponentes é ilustrativo da luta entre a
aristocracia rural ta burgrmia comerrial-industrial- uma luta que ocupou toda a
história da lnglare1ra durante a primeira merade do século XIX.
Notas
l. William Godwin, An ~nqniry amttming politi,al ju.stict, aná its injlumce on gmtral
vfrtUl anJ happinm.
2. "O grande erro que atravessa toda a obra do sr. Godwin é a auibuiçáo de quase
todos os vícios e da miséria que prevalece na sociedade civil às insdtuições humanas.
As regulações poUlicas e a administração da propriedade são. para ele, as fontes
de todo mal, 0 celeiro de todos os crimes que degradam a humanidade. Se isso
fosse realmcmc vacfo.dc, não pareceria ser uma tarefa absolutamente desesperada
remover complctamcme o mal da fuce da terra, e a razio parece ser o insuumcnto
próprio e adequado para a rea 1·1zaçao _ . M as a verdade é
- de um tão grande propos1to.
q~c, embora as insticuições humanas pareçam ser, e de faro o são, as causas óbvias
e mcomcstá.vcis de muitas falhas na sociedade elas são na realidade, 1evcs e su-
pcr6ciais cm compa - ' ' 1 al11 das
raçao com aquelas causas profundas do mal que resu t
leis da natureza d .• h ·nciplt
e as pa1xoes da humanidade" (Malthus An tssay on t. t í'''
o/population, reimpressão da terceira edição, Londres: ~ard, Lock & Co., 1a90,
MALTHL18 E A LEI OA. POPULAÇA.O 365
P· 207-208 [ed. bras.: Thomas Rohm Malrhus, Ensaio sobre apopulacão, 2. ed., São
Paulo: Abril Cultural, 1986, coleção Os Economisras]).
3. Mal1hus, An may 011 tht principie ofpopuliuion, 1890, p. 14.
4. Edwin Connan, A history of tht theories ofprodurtio11 and Jisrribution ;,, Eng/uh
politir11/ tco11omy,.from 1776-1848, Londres: P. S. King & Son, 1924, p. 144.
5. Marx, no livro 1 de O capital (Capital, edição da Pcnguin, p. 800), refere-se a Oncs
como "11111 dus gr:mJcs escricores econômicos do .século XVIII [que] consideram
o antagonismo da produção capitalis1a como uma lei narural universal da riqueza
social''. Ele cita a partir de D~l/a mnomia nazionak (1777), de Ones: "Na economia
de uma nação, as vantagens e os males .sempre se conu·.1halançam uns aos ourros: a
abundância de riqUL'U de algumas pessoas é .sempre igual à falta de riqueza de outras
[ .•. ].A grande riqueza de um pequeno número é sempre acompanhada da absolura
privação dos bens de primeira necessidade de mui1os ourros. A riqueza de uma nação
corresponde à sua população, e sua miséria corresponde à sua riqueza. A diligência
de alguns compele outros à ociosidade. O pobre e o ocioso são uma consequência
necessária do rico e do homem arivo [...]".
6. Malthus, An ""'"! on tht principkofpopulation, p. 552 e s.
7. lbid., p. 541-542; grifos de Malthus.
!-·
8. Malthus, Tht principies ofpolitirai tc0nomy, fac-símile da edição de 1836, reimpressa .,
pelo lnterna[ional Economic Circlc, Tóquio, em colaboração com a London School
~!
ofEconomics, Tóquio: Kyo bun Kwan, 1936, p. 399-405 [ed. bru.: Thom., Robert
Malthus, Princípios át 1co11omia política t amsidn-a(Õts sobre n111 aplicarão prd1ic11,
2. ed., São Paulo: Abril Cultural, 1986, coleção Os Economistas].
9. Passagem cilada por Marx cm 1T1torits ofsurplru valut, pane III, p. 60 e atribuída ao
autor anônimo de An int/1tiry ;mo 1host prinâpks, resp«ting tht natu" ofánnaná anti
the ntrtssity of rorurmrption, lattly adlHmlttd by mr. Mahhus, Londres, 1821, p. 55;
grifos de Marx.
·-·~
capítulo 32
O INÍCIO DA ECONOMIA VULGAR
say
A escola clássica estudou as formas sociais das coisas (valor, salários, lucro,
renda) sem perceber claramente que estas não são mais do que uma expressão
das relações sociais de produção entre pessoas. Daí decorre a dualidade nas con-
clusões da escola clássica. Uma vez que estudavam as formas sociais das coisas
como distintas delas mesmas (por exemplo, o valor do produto como distinto
do próprio produto como um valor de uso), eles as tomavam como o resultado
do trabalho humano (ainda que sem qualquer consciência dara da forma social
em que esse trabalho é organizado) e, desse modo, também da sociedade humana.
Desse ponto de vista do "trabalho", os economistas clássicos reduziram os salários,
o lucro e a renda ao valor, e este último ao trabalho. Eles encontraram no valor a
base profundamente oculta de todos os fenômenos econômicos e, com sua teoria
do valor-trabalho, assentaram as fundações da economia política como ciência
social. Por outro lado, visto que estudaram as formas sociais das coisas, os eco-
nomistas clássicos se inclinaram a buscar sua origem nas propriedades naturais
ou técnico-materiais das próprias coisas. Para eles, parecia perfeitamente natural
que os meios de produção (maquinaria, etc.) tivessem a forma social do capital.
Parecia não menos natural que 0 capital tivesse de obter um lucro. A partir daqui,
era fácil chegar à conclusão de que é o capital, em sua forma técnico-material
(maquinaria, etc.), que gera 0 lucro para seu possuidor. Tais visões escavam em
plena harmonia com as ideias triviais, "vulgares"' que reinavam no interior dos
círculos empresariais e entre 0 público geral, que se limitava à observação superfi-
cial dos fenômenos econômicos.
A dualidade entre os pontos de vista do "trabalho" e "vulgar" deixou suas
!\\artas no sistema de Smith. Onde escava tentando empregar uma análise teórica
º"' ESCOLA c1.AsS•CA
368 A 0ESll\IT1iGRf4ÇÃ0
I fe • enos econômicos, ele identificou o trabalh
desvelar as causas dos nom . . o
para rou esre último como a magmtude primária que se
como a fon« do valor e procu d .
sal , . lucro e renda. Por outro lado, on e Smith
resolve, encáo, em ar1os, '
se limitou
,_ ô econômicos tal como eles se apresentam a observaÇao·
descrever os rrn menos
ª .
el . valor como 0 resultado da adição de salários e lucro (e renda)
super6aal, e v1u o . ,
. d fo por sua vez, determinadas pela lei da oferta e da demanda
cuias gran ezas ram. . .
• . de vista levou Smith à teoria do valor-trabalho, e o segundo a
O pr1me1ro ponc0 p , • _ '
uma reoria vulgar dos cusros de produçao (que se baseava, em ultima instância,
na ceoria da oferta e da demanda).
Ricardo desenvolveu o lado mais valioso da doutrina de Smith, seu ponto
de vista do "rtabalho": ele aderiu coerentemente à teoria do valor-trabalho e fez
dela a base de sua reoria da distribuição. No entanto, mesmo na versão melhorada
formulada por Ricardo, a teoria do valor-trabalho se mostrou em contradição
com o &!o básico da economia capicalisra, a saber, o de que as mercadorias são
vendidas a preços que consistem nos custos de produção mais o lucro médio.
Os oponentes de Ricardo se aproveitaram dessa contradição: eles propuseram
descartar inreiramenre a teoria do valor-trabalho e se limitar à teoria vulgar dos
cuscos de produção, que apenas generaliza o ponto de vista do empreendedor
capiralisra. Esre último considera que o preço de sua mercadoria cem de, no
mínimo, compensá-lo por todos os seus gastos na produção (a contratação de rta·
balhadores e o capital consrance) e ainda render um lucro médio. Generalizando
essa visão, o economisra "vulgar" diz: o valor de uma mercadoria é determinado
por seus cusros de produção mais o lucro habitual sobre o capital. De onde vem
esse lucro (isro é, a quantia excedente para além dos custos de produção). por que
ele se esrabelecc nesse nível e o que determina o tamanho dos próprios custos
de produção (isto é, o valor das matérias-primas, da maquinaria e da força de
trabalho) são questões básicas que não atraem a atenção nem do empreendedor,
~ q~al elas de fato não concernem, nem do economista vul=. cujas análiseS
1arn:us ultrapassam a superfície dos eventos "
ll:o mesmo momento em que a escola · clássica dava seus primeiros y---"''°"
uma
. , corrcnce "vu).,,•
.,- • -·-' l ,
..-~e a a tendência principal que Ricardo represeº •
cava
Iª começava a se desenvolv · do-se sobre o lado fraco da teoria
· sm•"chiaDa.
Jª· sabemos que Malchus suber, apoian
· · · da ofertll
smuiu a teoria do valor-trabalho pela teoria
O INICIO OA. ECONOti!rA. VVL.GA.fiil 369
Riwdo Say
~llti.:"0~,~.,'-10-,-ce-m_d_e_se_r_fu_n-:d-am_e_n_i;-:-ilm-en-t-je 1. O valor é confundido com a ;;;;;;-
discinguido da ..riqueza" (valor de uso).
Como fica claro no primeiro ponro, a teoria do valor de Say diverge radi-
calmente das teorias de Smith e Ricardo. Na tradição da escola francesa (os fisio-
cratas, Condillac), ele confunde valor com valor de wo. Para Ricardo, a utilidade
de um produto é uma condição necessária de seu valor de troca. Para Say, isso
não é suficieme. De acordo com sua visão, "a tttilidt1de das coi~as é o fundamento
de seu valot - a magnitude da utilidttde subjetivt1nunte reco11heâtk1 de um arcigo
determina a magnitude de seu valor de troca objetivo. "O preço é a medida d.o
valor das coisas, e seu valor é a medida de sua utilidade. [ ... ] O valor de uoca. ou
prcço1 é um índice da reconhecida utilidade de uma coba." 1
Ricardo argumentou contra essa teoria subjetiva do valor, tanco em seus
Pritidpios (capítulo 20) como em sua correspondência com Say. Por que, pergunta
Ricardo, pagamos duas mil vezes mais por 1 libra de ouro do que por 1 libra
de ferro, embora os reconheçamos como igualmente úteis? Say poderia apenas
responder que 1.99912.000 da utilidade do ferro nos é dada gratuitamente pela
natureza •e temas apenas de pagar 112.000 por essa parttetpaçao
. . - em su a utilidade,.
o que correspond.e ao taman I10 d os gastos que uvcmos
. . Pª ra produII·
d e rea 11zar
-la. Com isso S · d . · dos CJiJfO!
' ay cranstta a teoria da utilidade subjetiva para a teoria
de prod1<pio.
Não prec's1 d fundido 0
amos nos surpreender, então, que Say, ten o con Jo
valor com o valor d . d cos seo
e uso, rc1cite a teoria do valor-trabalho. Os pro u ' as
valores de uso, só d . , . 'd das forÇ
d po cm ser cnados pelo trabalho se este e assisti 0 P ê-5
a nature7.a e p ·I . . I) "Essas tr
r e os metas de produção (que Say chama de capita · ·a
ronccs são ind' . . , a reorl
, . . ispensavc1s a criação de produtos", que, de acordo com . Je i
de Say, stgntfica a "cria ,. d 'lºd ,, S utiltd•
çao e UtJ 1 ade . 2 E uma vez que, para ay. a
371
Say obteve seu maior sucesso na França. Em razão do relativo arraso eco-
~õmico desse pais, 0 erro tradicional dos economistas franceses, em oposição aos
ingleses, foi sua inabilidade para formular um conceito claro de valor e sua incli·
nação a substitui-lo por um conceito · de valor de uso. Porém, mesmo na l n&"~!aterra.
1
•Ugar de seu nascimento,
ª escola c1ass1ca,
• .
mesmo que mais lentamente 0
d que na
França, enirou num período de dccl' . 1 . -
in10 e vu garizaçao.
o INICIO DA eco ... OMIA VULGAR
373
Notas
Jean-Baptiste Say, A treatise o~ political tconom~; or tht production, distribution and
!. ronsumption of wealth, tradu21do da quarta edição francesa por e. R. Prinsep, cm
dois volumes, Londres, 1821, p. 4.5 [Jean-Baptiste Say, Tratado duconomia politica,
2• cd .• São Paulo: Abril Cultural, 1986, coleção Os Economistas]; grifos de Rubin.
2. Jbid., p. 40.
3. t 0 que Say chama de "serviços produtivos" dos três fatores de produção.
4. Say, Trtatise (tradução de Prinsep), v. 1, p. 37-38. Por "indústria" (,focu/:I indus-
triilk), Say entende a força de trabalho humana; "trabalho" é a atividade ou o serviço
produtivo criado pelo fator "indústria".
5, Ricardo, Principies (edição de Sraffa), p. 285; grifos de Ricardo.
6. Jean-Baptiste Say, Traitl d'lconomie politiqut, 6. ed., Paris, 1841, livro I, v. 1, cap. 4,
p. 72 e s. Esta nota foi adicionada em edições posteriores do Traitl e não aparece na
tradução de Prinsep.
capítu:o 33
os DEBATES EM TORNO DA TEORIA
RICARDIANA DO VALOR
----
•
••
Sua principal obra é: A . . / d·
(1825)
....
fi. cntua mertation rm the nature, meas11re, and causts '1
0 t vafut
·-u Defi,q~~ Ol(C-:'trcmamcntc c:rltic::a a Malchus e longameme atacada por este últitnO e
n1t1ons •.:. do T.l.)
J1I
ÍlllpG'ences para salvar da ruína a escola "ricardiana" que presidiam. Mill forneceu
uma c:Xposiçáo clara e sistemática da teoria de Ricardo, mas, por não ser um
pensador criativo, foi incapaz de fazer avançar a ciência econômica. Cega e dogma-
;amence fiel às palavras de Ricardo, ele se satisfez com uma cesoluçáo meramente
verbal das concradiçóes em que seu mestre se enredara. Ainda menos capaz de
soeorrer a teoria ricardiana era o presunçoso e irreverente McCulloch.
Tanto Mil! quanto McCulloch tentaram - sem nenhum sucesso- mostrar
que, apesar das "exceções" admitidas por Ricardo, a lei do valor-trabalho se
afirma diretamente quando as mercadorias são trocadas na economia capitalista.
O pcoblema da troca de mercadorias produzidas por capitais de composições
orgânicas desiguais foi facilmente resolvido por eles, com a simples afirmação de
que a maioria das mercadorias é produzida por capitais de composição orgânica
média e. portanto, são vendidas por seu valor-traba1ho. Mas, encáo, canto Mill
quonto McCulloch se defrontaram com uma segunda exceção mencionada por
Ricardo e que surge quando as roraçóes de capitais são de diferences períodos de
tempo. Como explicamos o valor maior de um produto produzido por um capital
investido por um período maior comparado a outros produtos que contêm uma
quantidade idêntica de trabalho? Em outras palavras, onde cscá a origem do lucro
total maior obtido por um capital que permanece cm drcuitt;ão por um período
maior de umpo? Este é um problema extremamente difícil, que diz respeito simul-
taneamente à teoria do valor e à teoria do lucro. Numa cana a McCulloch, Ricardo
reconhece ter falhado completamente em superar a dificuldade apresentada pelo
vinho que é mantido num porão por três ou quatro anos, ou pelo carvalho, que
CUsca 2 xelins de trabalho para ser plantado mas que alcança, mais tarde, o valor
~00 libras. Ricardo, como sabemos, não podia encontrar outra saída do que
arar esses casos como "exceções• à lei do valor-trabalho e reconhecer que o
valor do vinho ou do carvalho (cal como o de qualquer produco produzido por
um capical investido por um período maior) é determinado não simplesmente
pela quantidade de trabalho necessária para sua produção, mas também pela
duração do Umpo ao longo do qual o capital é invmido.
Essa explanação não satisfez a Mill, nem a McCulloch. "O cempo não faz
nada,, Corno pode ele criar valor?", J pergunta Mill. O trabalho somente, e não o
tcrnpo, cria valor - para os dois aurores, essa era a regra. Mas como, nesse caso,
P<>der-se-ia explicar o valor maior do vinho envelhecido? Obviamente, não rescava
llcnhurna outra saída senão supor que a afreraçáo à qual o vinho escava sujeito
0 no porão é equivalente a um dispêndio ad· .
éuranre seu armazt'namenc . . JCJona]
. uma suposição arriscada, expressa com mais caurel
de trabalho humano. Foi a Por
.d ulceriormente por McCulloch.
Mill. porém desenvo1v1 a
"Supúnhamos", diz McCulloch,
que um barril de vinho novo, que custa 50 libras, seja colocado nurn por.ia e
que, ao final de doze meses, ele valha 55 libras; a questão é se as 5 libras de valor
adicional acrescentado ao vinho devem ser consideradas como uma compensação
pelo ttmpo em que 0 capiral no valor de 50 libras ficou parado, ou como 0 valor
do crabalho adicional eferivamence realizado no vinho.
se armazenarmos uma mercadoria, como um barril de vinho que ainda não atingiu
sua maturidade e no qual uma mudança ou efeito devem serproduzidos, ele receberá
um valor adicional ao final de um ano; ao passo que, se armazenássemos um barril
de vinho que jd tivesse atingido itut maturidade e no qual nenhum efeito benéfico
ou desejável pudesse ser produzido em cem ou mil anos, ele não poderia cer seu
valor aumentado nem mesmo infimamente. Isso parece provar indubitavelmente
que o valor adicional adquirido pelo vinho durante o período em que permaneceu
armazenado no porão é [... ] uma compensação pelo efeito ou mudança que nele
se produziu. 4
Estendamos o significado do termo "trabalho" a limites tais que ele ab3rque, além
do trabalho humano, o esforço do gado, a obra da m3quinaria e os processos da
380 A OIESINTIEORAÇÃ0
Notas
1. Malchus, 7/u measureofvaluestated and il!ustTated, Londres, 1822, p. 12-13 e s. "Os
efeitos dos retornos lemos ou rápidos e de diferentes proporções de capicais fixos
e circulanres são distintamente considerados pelo sr. Ricardo; mas em sua última
edição (a cerceira, p. 32), ele subestimou muito sua quantidad~. Eles são teórica e
praricameme tão consideráveis a ponco de destruir imeiramence a posição de que as
mercadorias são trocadas umas pc:las outras de acordo com a quantidade de crabalho
que foi empregada cm cada uma delas; mas, até onde sei, ninguém jamais afirmou
queª quantidade diferente de trabalho empregado nas mercadorias não ~ja uma
fonte muito mais poderosa de diferenciação do valor."
Há, também, a passagem bastante conhecida de Malchus em Definitions in políti-
ca/ tconomy. Londres, 1827, p. 26-27: "Ora, essa proposição ~'de que as mercadorias
são uocadas umas pelas outras de acordo com a quantidade de rrabalho manual ndas
empregado' - N. do T.1.J é concradicada pela experi~ncia universal. A mais simples
observação servirá essóeS
paxa nos convencer de que, depois de fazer rodos as cone
necessárias para os desvios temporários do curso natural e ordinário das coisaS• a
classe das mercadorias · . . uemº•
SUJCltas a essa lei da troca é limitada do modo mais ex
ao passo que as classes - .. d ·as O
, . nao SUJenas a ela abarcam a grande massa das merca on ..
propno sr. Ricardo, de fato d . . . exanu-
ª mice cons1deravcis
1 exceções a essa regra; mas se
os oEeATES EM TOA:"'º DA TEORIA A:ICAA:PIANA ºº YALOFI 381
namos as classes que formam suas exceções - isto é, os casos em que as quantidades
de capital fixo empregadas são diferentes e de diferentes graus de duração e em que
os períodos de retorno do capital circulante empregado não são o mesmo-, veremos
que elas são tão numerosas que a regra pode ser considerada como a exceção, e as
cxccçócs, a regra".
2. Torrens, A11 esStty on t!Jt produclion ofwea/th, Londres, 1821, p. 28-29, apud Marx
em 1heorje5 ofiurplu.~ t111/ue, parrc III, p. 72.
,/ É uma loucura exrrema supor que qualquer associ~tção possa manter os salários
num patamar elevado arcificial. Não é do recurso perigoso e geralmente prejudiciaJ
converceu-se cada vez mais num instrumento "apo!og~tico" cie defesa cios inte-
resses da burguesia. Paralelamente ao declínio no nivei teórico da doutrina ciássica.
suas implicações sociais pr1ític1zs se rornaram reacionárias. A economia "vu:~r"
tornou-se inseparável da "apoiogC:tica" burguesa. Veremos a confirmação diss: na
rcoria do lucro.
Notas
1. Jane Man.:et, ConvaMtiom 011 po!itkal eco11omy, p. 117-118. apud Cannan, 7hton"ó·
ofproduction a11d di.·uribution ;,1 E11g/ish politkal t,·onomy, p. 24.2.
2. James Mill, Elements of policicaJ economy, in: Jam~ Mil!. Seltt"ted tl·onomh· writin...~.
introduzido e editado por Donald \V'inch, Edimburgo: Olivc:r & Boyd, 1966,
p. 230.
3. McCu!loch, Principies of po!itica/ eco11omy, Edimburgo: \~'illiam Tait, 1$43.
p. 379-380; grifos de .\l!cCu:loch.
4. McCulloch, Combinarion by work-people, Encyclopedia Brittlmrka, SO. ed.
5. A L. Peny, Elemencs of policical economy, p. 123, apud Francis A \V'alker, 'lhe
w11gesquestion, Londres: Macmillan, 1882, p. 143.
6. Diferentemente de Rodbenus, a obra de Hermann recebe um tratamento compa-
racivamenre escasso nas histórias marxistas do pensamento econômico. Uma boa
resenha de suas ideias e de seu livro Staatswirtfthaftliche Unteriuchungen, publicado
pela primeira vez em I 832, pode ser encontrada em Capital and interest, a criticai
history ofeconomic theory, de Eugen von Bõhm-Bawerk. Londres: Macmillan, 1890.
O livro de Bõhm-Bawerk é, no geral, uma excelente fonte de referência para a
maioria dos economistas de que Rubin trata nesta seção.
7. A afirmação de Mill foi feita numa resenha do livro de Thornron publicada na
Fortni'ghtly Review (maio de 1869), parte da qual é reproduzida no apêndicC" à edição
de W. J. Ashley de Principies ofpolitica/ economy, de Mil! (Londres: Longmans, Green
& Co., 1921, p. 992-993). Desses excertos, citaremos as passagens mais s.aliences:
"O preço do trabalho, em vez de ser determinado pela divisão dos processos encre O
empregador e os trabalhadores, determina ele mesmo essa divisão. Se de compra seu
trabalho mais barato, ele pode gastar mais consigo mesmo. Se de tem de pagar ma.is
pelo trabalho, o pagamento adicional é extraído de seu próprio rendimento [... ].
Não há nenhuma lei da natureza que coroe inerencc:menre impossível que os saláríos
aumentem até 0 ponto de absorver não apenas os fundos que ele pretendia aplicar
em seu negócio, mas a totalidade daquilo que ele reserva para seus gastos privados.
A gi;s1NTCGAA.ÇÃO OA ESCOLA CLASSICA
390
além dos gastos com 05 meios de suhsisrênda. O limite reoll do aumcmo é a consi·
Jcr.içio prádca de a partir de que valor de o arruinaria ou o k'Varia a ahandonar 0
negócio, e não os limitc:s incxm·jvcis do fundo salari:tl [ ... }.
A douuina até então professada por todos ou pela maioria dos economistas
(incluindo cu mesmo). doutrina 'lnc negava a po~sihilidadc de que ;1s associações
Jc uaba1hadores pudessem provocar um aumento nos sal:lrios, uu que limitava suas
ações, a esse respeito, à obtenção de um aumcmo que a con~om:ncia do mercado
teria produzido sem elas - tal doutrina é de~provida de fundamento cicmi6co e tem
de: ser dcscirtada. A correç-jo ou o erro dos procellimcmns dos sindko1tos se tornam
uma questão de prudência e dever social, e não uma quc\t;io pcrcmptoriamentc
decidida pc:las necessidades inHt'XÍvcis da economia política".
8. Francis A. ""'alkcr, 1'1e wagrs q11es1io11, Lmdrcs: Macmillan, 1882, p. 142.
Capítulo 35
A TEORIA DAABSTIN!ô:NCIA
Senior
392
rna.;s ra:-.Oriosa. habitando o território mais fértil, se devotasse todo seu trabalho
J prOC.ução de resultados imediatos e consumisse sua produção assim que esta
fo~ co~ida, em pouco tempo se depararia com a insuficiência de seus esforços
extremos para produzir até mesmo os simples bens de primeira necessidade." Essa
população só será capaz de extrair o máximo benefício da atividade de seu próprio
rraba!ho e dos agentes da natureza se se "abstiver" de consumir imediatamente
uma dada parte da produção por ela criada e decidir cmprcgá~la como capital ou
"meios ce produção ulrerior". 2
A sociedade moderna deve sua imensa riqueza à abstirn.~·ncia das gerações
?recedentes.
As ferramentas de um carpinteiro estão entre as mais sim pie~ que nos ocorrem.
~3..\ que 1arriftrio tk usufruto presente teve de fai.er o capitalista que primeiro abriu
a mina da qual o prego e o martelo são os produtos~ Quanto tr11b11lho direcionado
11 multados distantes teve de ser empregado por aqueles que fabricaram os instru-
mentos com os quais essa mina foi trabalhada! [... ] Podemos concluir que não
há um só prego ~ ... ~ que não seja. num de{erminado grau, o produco de a/giim
trabaUio que visa it obtenção de um resultado distante, ou, em nossa nomenclatura.
de alguma abstinência sofrida ames da conquisca.3
Produção, e não um exceden1e além deles - excedente cuja origem imrigou ráo
persistentemente os economistas.
. A doutrina de Senior carrega a inconfundível marca de uma apologé-
tica: servindo para justificar o lucro do capiial, da não explica minimamencc sua
origem. Suponhamos que um capitalista realmente mereça um lucro como uma
recompensa por sua abstinência. De onde ele tira esse lucro? Senior não responde.
Certamente, o valor não pode ser criado passivamente pelo fato purammt~ ':j. .
<oWgi<o da abstinência. O próprio Senior reconhece a liaqueza de sua posiçao:
394
. bscinênda, sendo uma mera negação, não pode
.. _ 1 . Jizl!'r que a pur.\ a pro-
p,lUC'·)c!' . . . . , .. S·nior não encontra nenhuma resposta a essa obJ· _
J . um eteno posm' o . e "I •Çao
""' mesma coisa poderia valer para a ibcrdade" e a "int
. · Ji.:rcs-:c:ntar que: a . rc-
!it'RJO . nio esrns s;io aceitas muuo corretamente como "agent
·J,i'. e que, no c:ma • es
pi .. ~ . ~ i ninguém até o momento pensou em afirmar que a "i
Jdn~ . Sc:J.t como ro , n-
'J • r a fonte do valor de um produto. Say, de seu próprio ponto d
m~r 1 c:z possa se • _ e
vi~rJ, fora coc:rtn[e 30 examinar todos os tres f.uores de produçao em seu aspecro
rimir<>-miruriiil (trJbalho, natureza e capital no sentido de meios de produção);
Senior, por outro lado, destrói a validade desse esquema ao si mar o fato puramemt
psirológiro da abstinência ao lado do trabalho e da natureza.
Além de sc:r inútil como exphznaráo dos fenômenos econômicos, a teoria
d.t .ibslinência áe1rreve fa]samentc tanto como o capitalismo passou a existir
quanro as caraw:rísticas básicas desse sistema econômico. Ela supõe que o capital
foi acumulado por pessoas industriosas e de ampla visáo, que se abstiveram de
consumir diretamente os produtos criados por seu próprio trabalho. Também
encontramos esse ingênuo "como de fadas" cm Smith, e a ciência histórica
contestou-o mostrando que a fonte da acumulação primitiva do capital foi a
aprop1iação, pelos grupos mais elevados da sociedade, dos produtos do trabalho
de 011trns pessons. Se a "abstinência" desempenhou um papel insignificante mesmo
durante o período da acumulação primitiva do capital, é um absurdo vê-la como
uma fonte de lucro numa economia capitalista desenvolvida. L1ssallc (em seu
livro Kapiral 1111d Arbeit) avaliou com um ácido sarcasmo a afirmação de que "os
mais dolorosos esforços da vontade humanà' refreiam os capirnlistas da rentação
de dissipar suas fortunas inteiras de uma só vez:
Notas
1. Nassau Senior, An outline ofthe scimce o/political economy, Londres: AJan & Unwin,
1951.
2. lbid., p. 58.
3. lbid., p. 68; grifos de Rubin.
4. lbid., p. 59.
5. lbid., p. 60.
6. lbid.
7. Ao longo dessa discus<io, Rubin u.<a a palavra protsmt ("juro") para se referir ao
lucro.
8. Senior, An outline or the scimct ofpolitical economy, P· 91.
9. lbid., P· 59; grifos de Rubin.
IO. Apud Bõhm-Bawerk, Capital and intemt, p. 276.
11. Senior An outl· .rthe ·
' meº' sczence ofpolitical economy, p. 129.
12. Bõhm-Bawerk, Capital and inttmt, p. 286.
13. Capítulo 9 da cd" • . gl
içao m csa, Penguin, p. 333-338.
capítuio 36
A HARMONIA DOS INTERESSES
carey e Bastiat
A partir desse momento, a luta de classes assumiu uma forma cada vez mais
explícita e ameaçadora, canto na prática como na teoria. Este foi o sinal para 0 sur-
gimento da economia ciencífica burguesa. Daqui em diante, não se tratava mais de
saber se este ou aquele teorema era verdadeiro ou falso, mas sim se ele era útil ou
prejudicial ao capital, conveniente ou inconveniente, de acordo com as regulações
vigentes ou conrrário a elas. ~o lugar de investigadores desinceressados. entra~
em cena espadachins mercenários; no lugar da genuína pesquisa cientifica, a ma
consciência e a má intenção da apclogécica. 1
Assim, ambos lucram imcnsamcnre com as melhorias realizadas. Com cada mo-
"imemo realizado na mesma direção, os mesmotõ resultados conrinuam a ser
obtidos - ªcota do tr11baU111dor aumcnrando com rodo aumento da produtividade
ou do esforço, eª cota do capitalista diminuindo regularmente com o consrante
aumcnco da quantidttde e com a igualmcnce consranre tendência em direção à
e'f1111/iZa(âo das várias or ~ d .
P çoes as quais a sociedade é composta. 10
Aqueles que possuem capiral chegaram a possuí-lo apenas por meio de seu trabalho
ou de suas privações. [... ] De sua parte, abrir mão desse capital seria privar a si
mesmos da vantagem especial que eles têm em vista, uansferir essa vantagem para
outros, prestar a outros um serviço. Não podemos, então, sem abandonarmos os
mais simples princípios da razão e da justiça, deixar de notar que os proprietúios
d. . de se recusar a efecuar essa transferência, anã
do capital rêm pleno ICe1ro . - o ser em
. r remente neaoc1ado
uoca de um outro serv1;0 iv o::i
e voluncanamenre consenfd 1
1 o. 7
crações que Car<.·y emprega nesse livro para tentar provar os benefícios mútuos do
progresso econômico, canto p.ua o capital como para o trabalho, são muito similares
à.~ ilustrações cmprt'gadas por Basciat em seu Harmonfo· économiques.
). Carq, 7ht pa.<t, the pment, and the fi1trm (Filadélfia, 1843), p. 74-75. Carcy in-
corporou quJsc todo <.'.\se capitulo (capítulo 1. "Man and land") a seu último livro.
Prinrip/eJ· o/:•orit1! .~cience:. a frase aqui citada reaparece no v. 3, p. 154 dessa obra.
4. Marx, cana a Engels, de 26 de: novembro de 1869, in: Karl Marx e Friedrich Engels,
Selecud corrr.>f'ondence, .\10,cou, 1965, p. 227.
5. Carey, Prillcif'lei o/social ;cience, FiladC:lfia, 1858-1865, v. 3, p. 11 l.
6. lbid.; grifos de C>rey.
7. lbid., p. 113; grifos ée Rubin. t notável o ralemo de Carey em repetir a si mesmo
e rumin.ar o mc~mo argumento e a mesma fraseologia numa passagem após a outra.
Apc:nas corno um c-ntrc muitos exem?los, compare-se a frase aqui citada por Robin
com o seguinte trecho, na p. 132 do mesmo volume: "A cada estágio sucessivo de
melhoria, o valor do ~omc-m cresce em comparação com o capita! - o aabalho
presente adquirindo ?Oder a t:'xpensas das acumulações passadas".
8. lbid., p. 114-115.
9. lbid., p. 112; grifos de Carc-y.
IO. lbid., p. 113; grifos do Rubin.
11. lbid .• p. 113.
12. lbid., p. 168.
13· Aqui Rubin apc.·nas repete a esst·ncia do comemário de Marx na carta a Engels acima
citada (Seledetl correspondence, p. 228): "O único mérito de Carey é que ele é tão uni-
lateral ao afirmar a transição das terras piores para as melhores quanto o é Ricardo
ao afirmar o comrário. ~a realidade, porém, dift:'rentes tipos de terra, desiguais em
grau de fertilidade, são sempre cultivadas sirnulraneamente ~ ... :.e foi isso que, mais
tarde, tornou tão difícil o fracionamento das reeras comuns. :\o entanro, no que
diz respeito ao progresso do cultivo ao longo do curso da hiscória, este ocorre, a
depender das circunstâncias, em ambas as dir<çóes, mas muitas vl:ZC.S uma tendência
prevalece por um período, e depois outra".
14. B
astiat, Hannonies ofpolitical economy. p. l; grifos de Bastiar.
... or.s1NTtGA.llÇAO ;)A e:scOLA cLASSICA
406
:---
fuas principais obras económicas são Nouveaux prindpes d'iro11omie polüique (1819)
:~: ~ras.: Jean-Charles Leonard Simonde de Sismondi, Novos princípios de e•o11omln
~ lfrca 0819-1827), Curitiba: Segc.sta, 2009] e Etr1de1 sur l'i•onomü po!itiqtu (1837).
ém. dessas, ele escreveu também uma série de notáveis obras histórica<;: l'l1útoire des
ripubliques italiemm dans /e Moyen A'ge, L'histoire des ft1111çais, cncre oum.s.
. . . . , .· menco do capicalismo e seu decorrente deslocamenc d
do fo:n~o('V ~<:Sl'fi''-"''\l • • o e
·am "-"ncsl>s, ru:na dos ri:cdões manuais e crescente paupcnsmo e desernprego.
' '. 1 ,1- !SIS que atinciram a indústria inglesa, arruinando os
A< cnst.• at l õ ) t l:) pr0-
. . . . , t-·;,ri -as e deixando os trabalhadores sem uma migalha de pao·
ont:"t.lrh. . ~ ae a... l ,
~auwlm uml profunda impressão em Sismondi, forçando-o a duvidar da vali-
ó~e da c<.-oria clássica que ele aceitara até então. Em seu livro Nouveaux príncipes
d'iconomie polirique (1819). ele rompeu definitivamente com a "doutrina orco-
C.oxa... dos clássicos e apresentou um quadro incisivo das contradições e calamidades
do ~i:m~ma capicalisra.
:\o prefácio à segunda edição de seu livro, Sismondi descreveu eloqueme-
menre a im?ressão que a Inglaterra capitalista lhe causou.
r ·m 0
~ criad.i uma @·mitnda 11díd01MI de igual quantidade para o urras merca-
J~ri~. ·~um produro", diz Say, "n.áo é criado ~cm que, -n~·ssc mcnno insranre, e/e
dem;wde d1..· um nu:n:aJo 011 rros produros cu1.1 .sº:n.;itona ~e .valor roca/ é i=qui-
\·,ilcnce ao seu próprio valor". 9 De faro, o pmprierarm d~· fabrica, .:lo vender .~eu
tr:âdo, recebe 10 mil filims. Dessa soma, de cem um c;apH;1/ de 8 mil libras, que
ele inw:.ste novamente na produção de u:ciJo, isw ~. l.:onrrara rrah;11Judores (Say,
St!~uindo 0 exemplo deSmirl1, ignora os gasros do ctpíra/ con.~r.1nrc: e ;1s.~ume qut'
0 ~pical foreiro tf. rw final, gasto com salários), os quais. re1.:dwndo ;1s su;u: 8 mil
Jibra.s cm safarias, criam uma dem:mda por artigos de t:on.~umo, O lucro do pro-
pric:rJrio da fábrica é de 2 mil libras, que ele despende cm 1111._.im de rnnrnmo e
artigos de luxo. No final, é criada uma demanda roral Jc.· 1O mil /ibr.1s, c:xaramcnre
igual ao valor du reddo.
Nu c:nc:mro, o que aconceceri.1 se o propri<.·r;irio d.1 t:ibrica quisesse
acumular a metade de seu lucro em vez de ga:mi-lo inrcir.itlH:IH~ no consumo
pessoal? N!io seria enrão a demanda (8 mil libr.JS + mil /ibr.is) menor do que a
oferta (10 mil libras)? Os seguidores de Say e Ricardo diri.un que nâo, pois, ao
acumular, o proprietário da {Jbrica esrá adicionando mil /ihr.is <W seu c;ipiwl, isro
é, eni conrracando trabalhadores adicionais que criaâo um.1 Jcm;inda ulrerior
para os meios de consumo igual a 1O mil libtilS. A dem;mJ.1 ror.i/ scd. como
antes, igual a 10 mil libras (9 mil libras + mil libras), com a diferença de que
ª demanda dos trabalhadores por meios de consumo reri :iumc.·ntado em mil
lib~as, .ªºpasso que a demanda do propriecário d.1 f.ibrica por arrigos de luxo
cera caido na mesma proporção. O caráter da demanda terá se .ilrc.·rado. mas seu
:oral concinuará a ser determinado pdo valor do teciJo que {oj produzido. isro
e, pelo volume da produç<io. No final do processo, o tecido rerá sido trocado por
ourros produtos: OilS pala\Tas de Say, "um ripo de produro é trocado por ourro",
eª produçjo aumcncada de d · . co na
d d um pro uro será equilibrad:J. por um crcsc1mcn
r:man a porourros. ·~ mcr · • . /; ·media-
ramcnre "IJJ cima/ a 3 c1rcunsranc1a da oiilçdo de 11111 produto"' 'Ire 1 JS
pela/>'"' di - " p ra ourros producos", diz SJy. 'º''A demandt é limitada apen
o ll(ao , repete RJcardo J' A J J [ou no
modo de dizer f ., • prouuçdo cnit seu próprio 111ercaao '
gera• a aferra cr· , , bsurdo.
pon;mco, dizer 'ªsua proprfa demanda" - N. do T.I.}; e a
. que o vofumecot I d d 1 moda
0 ni'vr:/ geral da demanda. 3 a pro ução pode ultrapassar de a gum
Gostaria que a fábrica, assim como a indústria agrícola, fosse dividida num grande
número de oficinas independentes, e não concentrada nas mãos de um único
empresário a supervisionar centenas de milhares de trabalhadores. Gostaria que
os capitais industriais fossem divididos entre um grande número de capicalisw
médios, e não concentrado nas mãos de uma pessoa que possui milhõcs. 24
Notas
:---
A principal obra de R.1vcnstune é seu Aftrv tlou/Jts 11s to the corrn:mess ofsoml' opi11io11s
gent'ra/ly t'lllt'rtained 011 the st1bject ofpolitkal eco11omy. publicada em 1821. 1110mas
Hodgskin nasceu cm 1787 e morreu en1 1869. Suas prindp:IÍs obras soio l11bo11rdtfr·m/l'á
(~ 82 5) [cd. br.is.: lho mas Hodgskin, A defi·sa do m1óalho comnz as prt'tensóes do tnpital.
Sao Paulo: Abril Cuhuml, 198.~. colc..-ção Os EconomisrnsJ, Pop11/ar politiml ero11011~J'
( 1~~7) e 1'1e nahmtl a11d artijiâal right ofproperry co11muted ( 1832).
~ilham Thompson nasceu cm 1785 e morreu cm 1833; suas principais obras são lnquiry
" 110 th~ prfoâples of the distributio11 ofwea/th most amdt1ctiue to hm111111 h11ppiness ( 1824)
420
. es propunham o escabdecimento de comu .
. ,. . de Owen, esses escncor n1-
socia.isus . ~ .d~ . ocialistas, no entanto, eram marcados por uma in-
dades scx:i~1scas. Seus I cais s . . , . . .
. bras connnham mumeros resqu1c1os dos ideais d
consiscCncia exrrema, e suas o . a
.· Como seus precursores, Godwm e Owen, rodos esses eco-
pc~uena-burgue~1a. . .. . . al. ,
nomiscas realizaram uma crícica mc1S1va da econom1~ capa_ isca, e essa e a parte
majs consiscence de suas obras, que se moscram muuo mais fracas ao dcsenvol-
vc:rem uma teoria econômica. Em essênciai todos eles aceitaram (e, às v~zes, sem
, · · ) os princípios básicos da teoria de Ricardo, ap<nas dando a ela
qua.iquer cntica . • . . .
urna inrerprecaçáo diference do ponto de vista de seus propnos 1dea1s socialis-
tas. Sempre que os clássicos colocavam um sinal positivo, os socialistas punham
um negativo; e, inversamente, onde os clássicos punham um sina~ ncg.uivo, eles
colocavam um positivo.
Em sua.filosofia social, os socialistas utópicos comparci:!'-taram, na maior
parte das vaes, as ideias do direito natural. A esse respeiro. e!C's n.ío se diferen-
ciaram dos primeiros represencames da escola clássica. :\"o entanto, eles diver-
giram radicalmence desces últimos ao responder à questão sobre ar~· que pomo
um sistema social podia ser considerado "natural", racional e jw•co. Smith havia
identificado a ordem capitalista como a natural. Os socialistas con~ideraram que
cal ordem se baseava na usurpação (a cerra, como meio de produção. tendo sido
apropriada pelos proprietários fundiários e pelos capitalistas), na viol~·n.:ia e no
desengano. Eles a designaram como um sistema "inarura!". É pos.!>ívd, pergunta
Hodgskin, reconhecer como "wn fenômeno natural a presente distribuição de
riqueza, sabendo que ela é, em todas as suas partes, uma violação evidente daquela
lei natural que dá a riqueza ao trabalho e apenas a ele, e sabendo que ela só é
manei~ mediante a força armada e por um sistema jurídico cruel e sangrenro"? 1
_ Ja podemos ver, por essa citação, por que os socialistas consideram que
º.sistema capitalista está em contradição com a lei natural: a seu ver, ele é um
SlStema que viola a lei "n ai" , lo ·a]
acur ao va r-trabalho. Aqui o sentido novo e especi
que os socialistas dão à lei do valor-trabalho se mostra de modo brilhante. Eles
aceitam essa lei plenamente tal Ri
· . ' como cardo a formulou. Os socialisras repetem
ins1sten1emence, junto com Ric d " ,,
-
ar o, que o trabalho é a única fonre de valor '
Notas
1. Thomas Hodgskin, Popular political econamy, Londres, 1827. p. 267.
2. William Thompson, An inquiry into the principies ofthe distribu.tion o/ wea!th, 3. ed..
1869, p. 67.
3. John Bray. ll1baurs wrongs and labours mnedy; ar the age of might and the age of
right, L:eds, 1839, p. 33; citado por Marx em The pauerty of philosoplry. Progress
Publishcrs. edição inglesa, Moscou, 19661 p. 61 (ed. bras.: Karl Marx, A müiria da
filosofia, São Paulo: Expr<ssáo Popular, 2009}.
4. Robert Owen, Reporc to the councy oflanark, in: Robert Owen. A new view of
society arid othu writingr, Londres: Everyman, 1927 • p. 250.
5. Hodgskin, Pop11/ar polirical "onomy. P· 245.
6. Traduzido do russo.
7 · Thompson,An inquiry into the principl.es ofthe distribution of wealth, 3. ed., P· 127.
Cap:!u'o 39
O CREPÚSCULO DA ESCOLA CLÁSSICA
John Stuart Mil/
Jr.: ~cu século".' Poderia parecer que Mill. com seu poder <lc pcnsamenro,• sua
univcr!io.ll _ e. podemos até di1.cr, sobre-humana - c<hu:aç:.io coordenada por seu
p:ii. j;imcs Mill. e, finalmente, com sua sensibilidade cm rchtçilo ;l!i corrcmcs soci;lis
m.ii\ progrcssisrns de sua época, csrnria melhor qualificado para a rc;tliz:1ç;lo dessa
grouulima t;m:fo do que omros crnnomis1as. No cmanto, Mill j;unais conseguiu
C\f.:n:vcr "uma obra similar, cm seu ohjcto e sua concepção gcr;.11, àqucl.1 de Adam
Smitl{,2 Embora seu livro tenha ohtido uma enorme fama e fos!ioc considcrndo
0 mdhor curso de economia política até o final do século XIX, tanrn su;1s idci;u
sodulilost'1fü:as quanto tct'>rico-cconbmkas continham fo1111;u/i,·,ks p:.1tcntcs e in-
solúveis. Adam Smhh expressara o ponro de vista da chls!<ie mai!'I progressista de
sua época, a burguesia indu~trial, de cuja pd.tica social de extraiu su;\ filosofia
social e sua tc.."Oria cconc"1mica, fundindo uma à outr;1. Em me~1do!<i do !.éculo XIX,
~ ideias do libem/iJmo econ<unico e polítko <]UC f\.till cxprcs.s;tra já est:n·am
defimrdas. As contradições da economia capitalist:1, a destimiç;io das massas mais
baixas da população, a luta de classes do proletariado e a crítica dos pensadores
socialinas já haviam minado a fé no sistema capitalisca como o portildor do bem·
·estar geral a harmonizar os interesses de todos os mcmhrus da socic..-dade. Mill
não permaneceu cego aos sinais dos tempos: ele mostrou uma ardente compaixão
pelo destino dos camponeses irlandeses, acompanhou com simpatia os sucessos
do movimento dos trabalhadores e estudou com inrcrcsse as ideias dos sJ.int·
..simonistas e fouricriS[as. Ele voltou as cosras às ideias do liberalismo burguês que
lhe haviam sido tão caras em sua infância e, em sua idade avanç11da, tornou·se
tada Yt.-z mais inclinado às ideias do socialismo. Mill, no entanto, jamais conseguiu
nansitar completamente 1>ara o pomo de vista da classe trabalhadora: tomado de
hesitação e dúvida, dctcve·se a meio caminho entre o /ihemlismo t o socialismo,
e é di!lso l\Ue rcsuha a profu:i.ãu de conmuliçócs que permeia sua filosofia social.J
. O tom básico das rcllcxócs sociofil<m'>ficas de Mill é o de profunda dtsilw
s11t1 cnm o siucma tal>italina e: sua incrente co11rnm:11da t luta enrre indivíduos e
O CRt.PUSCULO O.\ ESCOL.\ CLASSICA 427
cbs.u·s. O tempo cm l}lll' AJ01111 Smith podia cscn..'\·cr <Jllc 0 indivíduo, "ao huscar
pniprio inrcrcssc [... J. promove frcqucmcmemc o imcressc da sociedade de
st·U
Cunl~·''º 'llll' n.'iu ,i111p.11i1.0 curn o ideal de \'itb .~1i...tc.•nr;1Jo por .1q11dt:s quC"
pc.·m;1111 llllc,; o c.·,1.ul11 nurm.11 dos sc.·rc~ lrnrnanus é o da l111a pda supremacia. que.· o
c~t.tdu e.ln pi,otc.·in, e.ln c... magamcmo, do acoro,·douncmo e do l"Sp<.'linhar dos 1.:.1l-
ca11h;1rc.·!>, t]Ut' c.·1111,titui o tipo c:xi~rc111c da vida social, é a ccmdi\·;io mJis J~l'j.í\'t'I
p.ua J. t:',pCcic humana, ou <}UC não são mais do que os siniomas dc."SagrJ.d.i,ds de
uma c.l.1:0. t:N'' do proµrc.·"n imliMrial. o;
Acé o prcst:"nrc, é qucstion:iwl c.iuc as in\'Cnc;úes ntt."(ànkas j.i fdras tt'UhJ.m ~c:n·ido
para alh·i;ar a lalnua diária Jo ser humano. O que das fizt:"rJ.rn foi. anu.'S. pci~~i
bili1ar a uma poimla'j';io maior \'i\-cr a mesma vida Jc mrina t' dt' prh."tu t:' ª um
nl1rnt:"ro maior tlt:" nmnuf:uur:idures acumular gr-.inJcs fonun.u. 7
Mas omlc esrnva a saída dc:ssa simação? Mill fora inHucndado pc:los socfa-
lista.li U[<'»pkos e n:io remia colocar a questão, seja de "uma rc.'('Ol1'1oitlcr:t\<ÍU !.:l'm~ ~e
todos os primeiros pri,,dpius"nos c.1uais a economia cs1:1v:t funJaJ:t, scj:t da po~\ih•
lidaJe de .substituir o c;1pitalismo pelo soci11Íismo. Mill rejeita at1udcs ar~umcnrm
que pretendem provar que uma economia sodalin:t é impo!ISÍ'·d. "Se, pona1110,
uma escolha tivesse de ser fd1a emrc o comunhmo. com 10d.u. ili suas ch.inco. ,. 0
presente: C:Ui!do Ja srn.:iL.J;ule, com tudo!!. os sc"U.S !IOÍrimciuos e inju~dça.s f.•• J lUdJ~
as dificuldades, grnnJt'S Oll pequcllil.li, do CUll1llllj,111ll pc!o;lfi;UTI ;tpt:fl,I\ C'.111~0 ro
.. • . rtido pdo sm:i;1l1,r1u•.
na halan,·a." No c111:mw. r\'fill não mma dL·..:h1,·;1rncmc pa . 11
O . l I . ·· r •iuu: d;1 pmprin u e.·
. co1uuni!>mo é cert;tmt:'nte mdhor, diz e e. 'o tjllt • '~ • t'S - ou não rcf4-iJ\·.J
pra\'aJ;i 111/ ,·omo ekl i•': nm.s ainda n;iu poJcnuir. ~;tbt"r St: de o;cria p
OA ESCOLA. CLASSICA
428
. · ...:C' privad·i• r.tl como ela poderia vir 11 ser", se submerida a abrangcn-
.J. •~rl.""'?rtc..'\"..J
ce. .•rC"~•Mmas ~iais. A questão dos "méritos comparacivos" do comunismo versus
um lt1pitt:hmo reformado pc-rmanece irresoluta. "'Sabemos muito pouco sobre 0
que s.i<' .:arazes de o:.tli1.ar canto a ação individual em sua melhor forma quanro
0 soci.i'.ismo C'm sua mc!hor forma, de modo que não estamos em condições de
d,xidr ,,ua: da.< duas será a forma definitiva da sociedade humana." 8 Sendo assim,
3 (.nk;i. coi!'.l a fazc:r é submeter o socialismo ao "julgamento d.a experi~ncia,,, es-
ta1x!ccendo um .. númc:ro modestoª de comunidades socia?ista.~. Mali enquanto
a qu~tio das vantagens do socialismo permanece em aberco, "o objetivo a ser
bu~do é, no presente estágio do desenvolvimento humano, não a subversão do
sistem.i da propriedade individual1 mas sua reforma e a plena participação de: cada
membro da comunidade em seus benefícios" ,9
Portanto, sem rejeitar o socialismo em principio, Mill rc:m como objetivo
principal a imp?cmemação de uma série de reformas sociais que melhorarão a
condição das classes mais baixa<. Ele dama pela formação de 11ssod11çiíes de tra-
balhadores, tanco dentro como fora da produção, pela limitação do direito de
hmznça e por altos im?Ostos sobre a renda fundiária. Assim como Shmondi antes
àde, ~ill defende elo~uentemente a economia camponesa de pequena escala e
?Cde que as terras apropriadas pelos proprietários rurais sejam e11trt'g11es 1iq11e/eJ
que a.< cultivam. ;\;o papel e no discurso - como membro do parlamento -, Mill
defendeu corajosa e francamente a causa de rodos os desafonunados, Jurou pc-los
direito> do campesinato irlandês, protestou conrra a brutalidade colonial da
lnglaterra e travou uma apaixonada lura pela igualdade das mulheres. Moscrou·SC
cxrremam.enrc simpático cm relação aos avanços feitos pdo movimento operário
e s.ua. c~sccnte autoconsciência: os trabalhadores não sentem mais "qualquer
rc:ve.rcncia ou princípio religioso de obediência a mantê-los numa sujeição men·
ral 3 classe acima d 1 • A . dicali-
.J 1 e cs · o mesmo tempo, no encanto, Mill reme a ra
~•de da •Uta de classe Ih mo
SCrt\ racionais".10 s e aconse a os trabalhadores a "'comporrarem·SC' co
432
Em nossa análise l... J <los n:qui~itos <la produção, c!ll:ontrnmos, :1lêm do trabalho,
um outro deme1110 necessário: o capital. E e.\te sendo o rcçuhado da absrinên~
eia, 0 produto ou ~cu valor <leve ~cr suficicmc par.l rc111unc1ar nim apenas rodo
0
trabalh:i rc<1uerido, ma."> a ahninênda de todas as pcs.">oas que cfetuar;tm ª re~
muncraçao da~ diícrcntcs cl:l\\cs de trahalh:tdurcs. O retorno pela ab!itinC:nôa é
o lucru.•s
Comcqucnrcmcntc, o valor d. n~
li<la<l" d. l' . e uma mercadoria é (.lcrcrminado pcl;t qua
c Jtl tzrws ga.\ta cm sua ro 1 .' . a
A-. mrn.:adoria'!I \;io , ' P 'ui.;a() n1:11s o lucro médio sobre C.!oS:l som•·
n.1tural e pcrm·i I 1rr-1s
de ou. ord(J com 0 • ncnccrncncc trocadas umas pc as Ol •
pro<l111i-lt, e o mon1;1111c comparativo <lc sal;írio.!o que tem de ser pago par:l
. montante con1p;1rílliV<1 d . 1 . . 1 ·1pi-
c U<.:ros <Jllc deve ser ohmlo pc os e.
O CAEPUSCULO DA ESCOLA CLASSICA 433
talistas que pagam esses salários". 16 A teoria vulgar dos custos de produção subs-
timiu a teoria do valor-trabalho.
Mil! tinha de efetuar essa substituição caso pretendesse enfrentar aquelas
"exceções" à lei do valor-trabalho que Ricardo destacara e cuja explanação fora
buscada cm vão por James Mil! e McCulloch. Uma vez que o valor de uma merca-
doria é determinado pela soma de salários (ou custos de produção) mais 0 lucro,
não surpreende que o valor do vinho que ficou armazenado por dez anos no
porão sofra um aumento: um lucro é adicionado ao capital que foi investido
por dez anos e entra como um elemento independente no valor da mercadoria.
Em resumo, se o capital é investido por um período mais longo num ramo da
produção do que noucro (ou se a complexidade do trabalho ou outras circuns-
tâncias dão a esse ramo uma caxa de salários ou de lucro mais alta), o valor de
um prodmo produzido no primeiro ramo será maior do que o valor do produto
produzido no segundo - mesmo que quantidades iguais de trabalho sejam des-
pendidas cm sua produção. Do pomo de vista da teoria dos custos de produção,
não há problema algum em explicar essas "exceções".
O que resta, então, da lei do v1lfor-trab1dho? Ela tem validade apenas numa
tinica circunstimcia raramente encontrada. Se dois ramos da produção invesrem
seus capitais por períodos iguais de tempo e (êm níveis idê11tkos de salários e
lucros, cncão seus producos serão trocados um pelo outro quando manufacurados
com dispêndios iguais de crabalho. Jsso, é claro, faz pleno sentido: de acordo com
as suposições, um:i igualdade de trabalho despendido significa (uma vez que os
níveis de salário solo iguais) que há uma igualdade nos gastos rotais com salários e
que, consequentemente, há também uma igualdade no lucro tocai obtido (já que
tanto os níveis de lucro quanto os períodos de circulação do capital são idênticos).
E111 essência, o que Mill está dizendo é que as mercadorias serão uocadas uma
pela OUtra n;io porque tiveram quan,idades iguais de tmb11'ho despendidas cm
sua produção, mas porque têm iguais e11sto1 de produrão (isto é, os salários totais)
rnais o lucro.
Mill, como vemos, paga um caro preço por sua explanação das "exceções"
à lei do valor-(rabalho: uma rejeição completa (embora dissimulada) dessa lei,
que forma a parte mais valiosa do legado smid1iano e ricardiano. /\tfcsmu com
toda a semelhança supcrfidill entre os sistcnrns de Rit."':lrdo e /\.-fifi, há entre dcs
uina divergência fundamenttll e de princípio. Ricardo con~idcrou a /~; d11 va/or-
·trahalho <:orno a lei hoí.'iica. Seu erro foi pensar que, na economia c1pirnJisra, essa
tSCOl,li CLASSICA
O r S '-. T t.V" .,ç ... •> D A
434
leis icóricas só podia ser resolvida subordinando-se uma à ou1ra. Para Marx, 3
lei biísiat é a lei do valor-m1balho, da qual deve ser deduzida a lei dos custos de
produção. Mill identificou a lei dos custos de produção como a lei bdsica, da qual
ele detluz a lei do valor-trabalho como um exemplo ocasional. Mill conseguiu
eliminar a conrradiç:ío de Ricardo ao preço de repudiar a lei do valor-trabalho,
que funciona como o regulador básico e oculto da economia capitalista de merca-
dori;1s. Ele evitou conduzir uma an:.ílisc das leis internas da economia capitalista,
limitilndo-se a fazer generalizações sobre seus fenômenos externos. Nesse scmido,
se afastou de Ricardo e passou ao campo dos "vulgarizadores" pós-ricardianos.
Mill conquistou a harmonia de seu modelo a expensas de sua profundidade. A
fórmula de Mill csd de acordo com os dlculos do manufamrador: o valor de
uma mercadoria é dl.'tl.'rminado pelos custos de produç:.io mais o lucro. Mas como
determinamos o nível dos custos de produção? Não seria pelo valor da força de
trabalho, d;1s matérias-primas, crc.? Mas isso é cair num círculo vicioso, expli-
cando o valor de um produto (a mercadoria) pelo valor de outros (os meios de
produção).
Ainda mais importantes são as duas ouuas quesrões às quais MilJ não
furne<:c quall1uer rl.'sposta: qual é a 01'ign11 do lucro, e por que ele se encomra num
nível pankular? Ao passo que Ricardo se aproximilva da ideia do mais-valor e via
0 h1<:ro como uma pttrte do Vttlor criado pelo tmb11/ho do operário, o lucro emerge,
para lvlill, l·omo um valor 11tlidmuulo tto "v11'or tio tnt!Jttlho" (isro é, aos saloírios).
Nesse ponto, Mill não fui <:apaz de se livrnr da influênda dos vulgarizadores pós-
-ricardinos. Numa p;1ssagem, de declara, no cspírico de Ricardo, que "a causa do
hi<:ro é que o tr;1halho produz mais do que é requerido para sua manmenção". 18
Com mais frequência, no eru:.uno, ele explka o hu.:ro dr.indo a teoria da abs-
tinência de .Scnior: "Assim como os s:1l:írins do trahalhaJor são a rcmuneraç:io
do trnbalho, assim tilmbém os lu<:ros do rnpito11ist;1 s;.io, de acordo com a feliz
cxpres~;io do sr. Senior, a remuner;.u;áo da abstinêm:i:1".' 9
A obra de Mill. por ele coru:cbid:t como a inauguraç:.io de uma nova era
no <lcsenvolvimcmo do pcns:unemo econômico, foi apenas o sim1I de que a
escola d:.íssica cst:tva em seus est;ígios finais de dcsinrcgraç:io. Ele dcmonscrou
c~~c foto c.lc dt1is modos. A parcc da obra de Mill dc<lkada à filosojitt socit1/ deixa
claro lJUc as ideias do liberalismo econômico desenvolvidas pela escola doísska
haviam se tornado irrevogavelmente ohsolcras e não eram mais adcquad;Lli par.t
l\."solvcr a grande tarefa histórica de abolir um sistema social base-Jdo na expio~
436 " o~ :'.'"" T \. G A" ç "o D" E se o LA e L "s s 1 e A
ra\lC' C.o :'lom<m pe~o homi:m. A porção eco11ómic11 d'"° sua obra é a prova caba!
C.o ~4at\."i de qu< a ceoria dá..;;sica era impotente: c-iara desve~ar a inerente rcgu!ari 4
umaprdrica social progressista. A atividade prática de Mil~ foi !'upcrior à sua teoria
econVmka e, muitas \"C-«S, a comradissc.
~1;:; foi capaz de sup<rar o rorruranrt: abi~mo '-"ntrc t1..'0ria c pr.ícica ao dar
a pro°:)~ema.s sociais uma formulação utópir11. Ele anaHsou os prós e contras das
reformas wciais sc-m se perguntar cm que medida cs:rri.a.c.. rt.·formas eram o produto
necessário do descnvo!vimenco interno da soci\.~adc capica~i~ta. Foi apena.Ili por
essa ru.ão que, ao analisar a economia capitalista, de pôde se concc..·ntar com as
ultrapassadas teorias de seus predecessores. Em Mill, uma ti!o~ofia sociaI utópica
coexiste com uma teoria econômica antiquada. Abrir nova~ per!:opcccivas para ª
teoria econômica exigia, primeiramente, uma rcformulaç~\O do imdro problema
social. Quando Karl Marx operou a transição do sociali•mo utópico para 0 s<>-
ciaHsmo cientifico, ele se colocou a tarefa de demon~trar que o M>cialismo é 01113
fase necessária da história humana, sendo derivado do próprio dcsenvolvimcnco
interno da sociedade capitalista. Para que Marx pudesse assentar o socialism~
numa base ciemifica, ele teve de desvelar a regularidade govcrn.tda por leis por tra5
dodescnvoivimento
' · da economia capi[alista, que forma a base de tod a a soei«dad<
burguesa. Marx limpou a teoria econômica da excresci:ncia vulg.ir deixada ~la
quedadae~ola clássica: como ponto de partida de sua análise, ele tomou 35 ideias
mais vitais de Smh:h e Ricardo, reelaborou-as minuciosam(."nte e ~s ineorPorou
nurn sistema sociológico unificado e cocrence. Desse modo, Marx desenV'ol\ICU
as mai> voliosas das ·d · da
1 cias
\ . · aurou um•
csco a classica e, ao mesmo tt.•mpo. m.iueo- . ·-·J
nova era no desenvolvimento do pensamento econômico. Ele: cumpriu a di:11..1
tarefa que estava alé d 1 nô.rnicOS
. m o a cancc de Mill: aprt.·sentar os "fc:n'°'m~;nos eco ..
da !i.OC1cdadc na rela . .d .as 50c1JiS
d , .. çao em que eles se encontram com as mdhore.o; 1 ei . . 'li·
o pn.:sentc • Ec rcali1.ou a simcse do sociafümo âe111íjieo com d teorilt tco1101111t
Notas
1. Mercantilismo
A política mercantilista, que acelerou o rompimento com a economia
feudal e as oficinas artesanais, correspondeu aos interesses da burguesia comercial
e do carital mercantil. Seu principal objetivo foi fomentar um rápido crescimento
do comércio exterior (juntameme com os transportes e as indl1strias exportado-
ras, tais como a de têxteis de lfl), esforçando-se particularmente por imensificar
o fluxo de memis preciosos para dentro do país, o que, por sua vez, acelerou a
transição de uma economia natural para uma economia monet;iria. É, portamo,
compreensível que a literarum mercamilism renha focado sua atenção funJamcn-
t;tlmemc cm dois problemilS estreitamente inter-relacionados: 1) a questão do
comC:rdo exterior e da bitlilnça comercial; e 2) a questão da regulação da circula-
ção de dinheiro. Podemos distinguir três períodos cm que se buscaram soluções
p;tr;\ eSSl'S problemas: a) o período mercantilista inicial; b) o período e.la doutrina
2. Os fisiocratas
O termo "fi.siocrara.s" é aplicado a um grupo de economisrns surgido nos
anos 1760, fundamenrnlmente na França. O líder da escofa foi François Quesnay. 1
que reuniu cm torno de si um número de discípulos e apoiadorc:s. Após um.breve
período de brilhante sucesso. a doutrina 6siocrdta foi suplantada por r~omts da
nova escola "'clássica., que emergira na Inglarcrrd, passando, então, a ser v1sra. ~m
I
1
despre-.to e até mesmo escárnio. Moux foi um dos primeiros a no~r os me~uo~
c.:icncíficos dos fisiocraras, que, milis co1.rJc, g:1nhariam um n:conhec1menro c1en
f
1
tífico cada vez maior.
·r ra rcJlcdra as conej"iço~ cs econômiCIS
. Enquouno a doutrina mcrcanu 1 ~ 1 reoria lisim.:rara correspondia mais
111glcsas dumnre a era do capilal mercann • a d éc 1 XVIII. Essa /_.
às condic;itcs cconcimkas e sociais da frança de me:1Jos o s u o 1
446 CO,..CLUSAO
era uma época em que a França travava uma !uca global contra a Inglaterra pela
su?remacia naval, comercial e colonia.! e, depois d.e longas guerras, fora forçaêa
a c«ler 0 primeiro lugar a sua rival. A política mercanti~ista - implemenraCa
com especial determinação sob o ministério de Co:bert - de encorajamento da
inC.úmia, dos transportes e do comércio a expensas do Estado fracassara cm
atingir seus objetivos e devorara recursos enormes.
O efeito combinado da política mercantilista com os resc; uícios feudais
resultara na devastação da agricu!tura. Cma miríade C.e fatores agiram para deter
o cresdmento agríco~a: uma tecno:ogia agríco!a atrasada, acompanhada por más
co~~eitas; a po:ítica mercantl!ista de proi:,içáo das exportações de cereais, que
a~iuva os seus preços; e um sistema tributário cu;o ?eso inteiro recaía sobre os
ombros C.o cam~sinato e poupava a nobreza. Em seu programa de reformas eco-
nômkas, os 5siocratas ~uscavam e!iminar cacia um C.esses fatores. E!es defendiam
arC.en:ememe o ti?O C.e agric\L.tura radona! çue :ia,ia obtido sucesso notáve: na
:ng:a:erra. re<:omenê.anC.o çue a terra fosse arrenC.aia ?ara agrkU.:tores C.e grande
csc~a com ca?!ti. a~un6i.'1te. DemanC.a.vam o fim das proi:,ições das expor[açócs
~e cereJ.ls. ê.ern.o:uuanC." o beneficio C.os a:tos preços C.os cereais e C.os baixos
?:oreis C.os ?r0C.i.!':C'S lnC.usuia.:.s. R.n.imem:e, a iim C.e :ivrar os agricu~tores Gos
?CS-JC.os ;_"'n?'=>s::os. ê.e:enC.l.i..-n ..;ue toC.os os tri~utos recaíssem sobre a renda rCl.-C--
:,:.:.a_ r-e:os ?rO?rie~::os :i.:.."1C.i.árlos.
O ?rogta.rn..i C\Xl~ôm:co C.os :is:o..:ratas, es?«ia!mente seu es..:;_uerna ~e:
rc~n'!l.3. trf:oiut.ir.a. corrl!$:-o:\Cla aos in:ercsses Ca burruesia rura! e era 2.irigiCO
OO:i.":..."'a ª :io~rcza :euCà.. ;;o ema.."':.-:.o~ como não ~i: ~ ';,a..;;ear em ncn.'i.~ª
ir~uentc (u.."!la vez <:ue a :iurrues;arrura! na França d.e meJCos e.o
c.'o3SSC so..:ii.
sttu:.o ~"'\~: ainCa era mC.:to ~uena e i~i~i.:.'i.can;:e), os fi.~iocratas i,nvestl~
suas es?Cra.'lças ?r~nci?à.mcnte na Coroa, d;çuem esperavam a rea!iza\iº e.JS
re:ºormas Cc:s.eiaC.as É. . . , \.. _-. í. ito cu.:.o ~
.. ; · ?Qr-..a..'lto. ;,,astantc com?reens1\·c, c;,ue ten~w.w .e •
<;uc ?OCJ,am :>a:a amcnlzar as ~ Ce seu programa d.iriaidas conua a no~f(Zl
fcuc.a!cemvc:z.é:
•
• . 0
isso. ten...i.am ac1rraCo o ataque à po!itica mer\:.an
tilista-fles
atenuaram o caráter bu..~ês Cc seu programa e acentuaram enf.a.áca.mcntc slll
natUr~ agriria. O s~ogan da defesa da agricu!:cura contra as consequências danosas
da ;>o.inca :nercanti~ista tornou-se a palavra de ordem favorita dos fisiocratJS·
Os rnercanti!i h · rna.r un'l
. . sw aVlam sustentado que o melhor meio para to cas
palS ?ros~ro era d.cscnvo' . O fisio'ra()!o
, .ver cxtcns1vamente o comércio exterior. s
rcconncccram que a única fonte de riqueza de uma nação era a agricultut3· .
UMA BREVE REVISÃO DO CURSO 447
marerial no lugar da produção do valor. Era nc-cessário dar uma nova base à teoria
do valor rão vigorosamcnre avançada pelos fisiocratas, principalmente à reoria do
valor-trabalho formulada pelos mercantilistas, e por Pctty em particular. Coube a
Adam Smirh realizar essa tarefa.
3. Adam Smith
Os mcrcancilisrns agiram como defensores dos interesses do capital mer-
cantil. Porém, no século XVIII, a polícica mcrcantilisra já havia se tornado um
freio ao dcsenvolvimcnm do capirnlismo: ela retardava a transição do domínio
do capital mcrcanril para o domínio do capital industrial. Na França, a burguesia
rural, para quem os fisiocraras agiam como plcnipotendários, era numericamente
pequena e rinha pouca influência. Por isso, os fisiocraras eram impocenres para
derrubar a dominaç;.io do capiral mercantil. Apenas a burguesia industrial nas
cidades detinha o poder de esmagar o domínio do mercantilismo; de modo
similar, no plano da teoria econômica, foi somente graças aos esforços da escola
dois!ika, reprc..·scntando os interesses do capit;.11ismo industrial, que o mcrcand-
lismo fi1i vencido como doutrina. Adam Smith é considerado o pai fundador da
csc.:ola c.:l;ísska.
A primeira metade do século XVIII foi um período de transição na história
<la cc.:onomia inglesa. Embora as oficinas ancsanais ainda conservassem parcial-
mcme sua posição, elas cederam um espaço significmivo à indústria dumésrica.
Deu-se, também, a expansão mais modesta da manufatura.
Adam Smith pode ser considerado o economista do período da manufa-
ttua. O nascimento do capitalismo indusrrial de grande escala, na forma das ma-
nufaturas baseadas na divisão do trabalho, tornaram possível a Smich:
Smith inido\ sua obra dcscrcvt~ndo a divisão do traba!ho, que ele vê como
'-"' mc:Hlor mdo d.: a.umcnrar a produtividade do craba!ho. Ta} visão era um reflexo
Jas condiçfo< próprias do período da manufatura, quando ainda não havia uma
aplkaçjo difundida da maquinaria e a base do progresso tc'.-cnico era, acima de
ruJo, a divis:\o do trabalho. Por estar fundamcma:mcmc preocupado com as
van[.1gcns récnico·maceriais da divisão do rraba~ho e não com .sua forma social, é
P<'rfdtam,·ntc com;>rccnsivcl que Smith confundisse a divisão social do trabalho
,·nm: ~mprc.~a..ç diferences com a divisão rc'.:-cnica do craba1ho no interior de uma
única t·mprcsa. Apesar desse erro, a doutrina smithiana da divisão do trabalho é
extremamente valiosa. Partindo dela, Smith concebeu a totalidade da sociedade
como uma vasta sociedade laboral de pessoas que trabalham umas para as outras
e trocam mutuamente os produtos de seu traba!ho. A concepção da sociedade
como uma sociedade sjmukaneamente de trabalho e de troca entre indivíduos
pc:rmitiu a Smith capear a importância da indústria e conferir um Iugar central à
t<."Oria do va!or·rrabalho~
Smith concebeu a sociedade como um agrupamenco laboral de indivíduos
inc~rdcpenáences em virtude de sua atividade produtiva. Djferenremente dos
m1.:rcanti!isras, de compreendeu que a troca de uma mercadoria por dinheiro se
resume, em úlcima instância, na <roca de produtos do trabalho de diferentes pro-
durores. Por outro lado, ele superou a unilatera'.idade dos fisiocraras, que viam 0
movimento das mercadorias como um movimento da matéria, ou da substância
~arer'.al da narureza, da classe dos cultivadores para outras classes da sociedade
(isto e, para as classes dos proprietários fundiários e dos industriais). Por crás da
troca de produtos do trabalho, Smith percebeu uma troca de atividades labor3is
d~. diferences
. pro<!mores. se t odos os produtores dependem uns dos oucros, ;sso
ehmina. .ºb.viamcme a posição privilegiada que os merc.anraistas haviam conferld~
ao ,comercio exterior e os fi.slocratas à agricultura. Se a indústria depende da ª'!l1.
CUJtur~. cn~ão csca úlcima tem de depender da indústria exatamente na mestni1
exrcm.io. f. absurdo susr " u)açio
• 1 ·a1 entar que • população agrícola "sustenta a PoP
mc..ustrt • qu1: .s.erla. cm !ti m .. . "l" , . • rainos
d . · c~ma, otcn . A agriculcura e a indusrna sao
• produçao com igual , •
1: s 'fltll.,. a troca cnrre das é uma troca de equivalenres.
cndo superado o erro fi · · Ituta e
tnd · · 5 . h . siocrata quanto à inccr·relação entre agr1cu .
u~ma, m1t pode. então eh duc1·
vidadc do tr balh d . • cgar ªuma compreensão mai~ correra da pro .
a• oe ocap1tal
quando rende val . ·
Oca d0
CO•
S h < rodu""°
com mitb, todo crabal o e P . ·'·
or ou mais.valor n· · o-r1C1P
tur.l. ou na indUst . (S . h ' ao importando se ele é aplicado na 3 eo Ih
na ... lTIJt vacila em sua definição, ora definjndo o rraba o
produtivo como aqut·:e qu\:' aumenta o mais-v;J./or, ora i..:omo o rrahalho QUe !>i.:'
AlC:m G(· csn.:ndcr o conc1...·iw dt.· trab:llho produtivo, Smich (,1m&1.~m ampliou
o concdto de capital. Durante o p~riodo mercancilisca, o qu~ se chamavJ ca.phal
<.·r,t nornuJm1.:ntc uma soma d~ dinheiro emprestada a juro~. Os JisiocrJr.1s sus-
í(.'ntaram que: o capiral (eles empregaram usualmenrc- o ramo !t:.< 1111rflll't'f) não
é o dinheiro real, mas os produros empregados como mdos de proJuçtio. No
topo desses m<.·ios, eles rinham em mente ap<:'nas aquele capital invcMido na
agriculrura e, mais ainda, o viam fundamt:ntalm<:nce como um meio para o
aumento do "produto líquido" (isco é, a renda). Smith ampliou o concc.:iro de
capita~ e estendeu-o igua!menre à indúsffia e ao comércio. Além di.~so, vinculou
inrjmamenrc o conceico de capjca! ao conceito de lucro, conc,:bcndo-o como
propriedade que rende lucro. Assim o fazendo, ele colocou ao lado do conccüo
"nacional-econômico" de capiral (no sentido de meios de produção) que encon-
rramos nos fisiocratas um conceito "privado-econômko" de capiral como um
meio de se cxrrair lucro.
Partindo de sua doucrina da divisão do crabalho. Smich siruou a rcori:I
do valor numa posição nova e central. Os fisiocraras, com sc.·u ponro de l'Üira
limicado e nacuraiisra, haviam confundido o valor com .a substância m.areri.1 1.
Smirh aceicou as ideias que já se encontravam de modo embrion.írio c.·ntr'-' 05
m.ercanrilisras (especialmente em Percy) e deu continuidade ao dc..""Sc-m'oh-imenro
da rcorfa do valor-craba!ho. O curso do pensamento de Smicb segu(.' aprox.im.idJ-
mente esse caminho: numa sociedadl." funda.da na divisão dü crJh.Uho. cJ.da pessv.1
produz para outras pessoas e. ao ingressar n.i rroca, r<;'ceb(' .iqude.s produro:-o ;ue
são necessários para sua própria sub:-ois[C:nôa. Ao adquirir <>.S produros do rrJbaJho
de Outrem, nosso produtor esr:í realmente dispi.."lndo JcJ craba!ho de oum:m.
ou "comandanào-o". Ma.;; como nosso producor der~rmina o valor do que de
b Ih d ras pessoas que de pode
mesmo produziu? Pefa quantidade de rra a 0 e out .
b d Smith Mas como dt"n:rrnmJr
0 cer em troca de seu próprio produco, respon e · . __
mo.s essa quantidade" de rra.balho? I"uma economi.i ::.imples de mercadoria::.. ·~('V
, d despende na ,...rodw.;:11)
sera igual .l. qu.:intidade di: trabalho que nosso pro uror l rd
de seus produtos. Aç.sim, Smith às vc:v:s dercrrnin;t corrt"tamcnce ova or ..: um.1
d .- ao pas...o que ,.-m ourros
rnerc.o.doria a pMtir do valor ga."ro em sua pro ui,.a~, do cmb:ilho qw: .1 na•r-
momencos de o d1..•rc..·rn1in.1 c.•quivoc;ldamcnrc
d
por meio • :
d F qu inru Sm1rh p...·rm.1nu.t
••. no!':
.
cadoria em quesrão comprará quan ° rroca ª·.
,n · _ nfu,,,lo rcórii.:; 1 11:1<'1 rr.1:
limites de uma economiJ. ~;imples de: mcrco1doriJS, t.:.'i\:l c..o .
452 co .... CLUSA.0
lp1.111th1 ..:hl·~.1 J t't""lH\Ullli.1 (.1pi1.11ist;1, Smith nt·~.t .1 .11,_.:hl d.1 J,·j d,l ,·,tlllr ·tr.1h.1lho:
.1q11i dt• St' h.t!<l'i.111.1 tt'lllÜ \'111~.tr thls l"ll~hlS ,h.· ('l"l1,iLh;.h'. l\1r ~ll.1:-. \',1dl.1,·()t•s no
.i.111l1ih' tl.1 h·,1ri.l d,l \·,1101, Smitl1 !<t' h'rn.ni.1 t1 pr;..·,·111,,1r ,l.1:-. ,lu.h n111t'l1lt'S t!.1
t'úllh1mi.1 p,1l1ti\,l Ih' inKi,1 ,ll1 !<t;..:ull1 \1\.: .1 1,·1hll~lll·i.1 ,-J.1~~il..l. l}llt' .1k.1m,;l1U
-'ll.l ll\.li!< .1h.1 l'\prt''-'·"' ú'lll Ril".u,f,l, l' .1 u111,·nh' n1l::.11. h'l'l"t"'t'llt.1,l.1 l'''r S.1y.
:\ il1ú 1 11!<i'h~nd.1 ,!.1 tl'l11i.1 ,f,, ,·.1!,11· ,f,· S111ith ll i111i•úliu ,f,· 1~1111l·, n 11111.1 tt·,tri.1
,l.t ,(i,11iltui,.h, pll'll,llHt'llll' d.1\1,11,1,l.1. f· w1,f.1,I,· , 111 ,. dl· t~·: 11 111 ~:1.111,lt· ,l\.,111\l' :o.t·
"'llll'·ll.l\ltl "'"' l'!< ti!<i11,·1.l1.I.\, l"lt• Mlh!<lituiu ,, 1:1h11 ,.,')lh·lll.I ,1.1~ ,-J.1!<.\\'S .\lld.1i!<
,1,,, li,ii'll.1\.1' l,l.1"'' ''''-' J1h'plit'l,lli\1!< li.11hli.11j,,,, ,l,l"t' p10,fut1\.l l" tl.l:O..\l' l".\h'ljl)
l''ll um l'''l'h'lll.l '''11,·111 ,fü·i,lhf,, t'IU l''''l'li1·t.ui'" rn1. 1i,, ,.111i1.1li~t.1:-. i11,l11.,t1i.ii!<
t' ll.ll'.llh.hf,iin ,l\\,\J,11i,1d, 1 ~. 1:1l' l'lllllllt'hlll lllllt'l,lllll"llt1..• ,1.\ llt~S 1~11111.1~ dt" lt'lhjj.
lfü'llh' '1 11 '' '·hl.1 um.1 ,f,·!<.,,h d.1:-..'t'!< rt'ú"bt·: s.11.i1i11:-., lun,1 l' 11·1hl.1. S111i1h 1u1·rt·,,·
'i,·,lu,, ''!<pn·i.ilnwtUt· l'L 1 r h'r di!<ti11g11i1lo d.H.lllll'nll' .1 l.·.1t 1 ·t~tllÜ dt• llll"lll imlus·
ni.11. '}111• ''-' li!<i,1\r.t1.1!< h,1\"i,uu il~lhn.1du. •
. ~h'-'lllll wm lolltl.\ l"'!<l'-' ,l\',111\0s rt·.1li1.11lo.\ por Smith 11.l 1t·11ria tl.1 tlbtri·
hm,.h,,:-;,·1111·111111,·1111 \· 11 · ) ,
• • l ''·''· Jllt'.\t.10 Pl'rn1.11tl'\l'U, no gnal, alt.1111L'llh.' int.""<11111' t'U '
L'lll p.irtt· l'°'l\lll' dt• 11 ·111 (Olbt"rvou o l'llllto lll· vist;.l da ll'Ori;t do v.1lor~tr;1ho 1 lho.
IH.b 0 .1h.11ulonu11 l'lll i; ,. I· . ·. J
. .
. . .
1 or t .1 h:on.1 os u1srns Je pruJuçiio. Se: U\''-'~Sl' lll•llW '
·J 1
.1 itumnn.1 de que o v.tlor J . . . e:
Ji,·idi 1 . . . . . . c um produto e cr1;t<lo pelo m1halho hurno1n<>
l u 1:ntrc.: \s li1k·~ntcs ·h . .. .
0 · · . J' ns
J .. 1.:: ·!rises soc1;.us, a mtcrJcpcnJCncia dos rcn m1cn '
.1) van.1s d1sses lhe teria salmJ . li . .· or
meio l · . 0 aos o tos e demandado umot duc1Jmro10 P
'e uma tl'ona dil distrihui ..· M · Jos
custo!ri Jc rod ..· 'iªº· as como Smich se baseou na tc!oria
P U'i,10, de ;1cordo com I J Ja
suma Jos v · ·
anos cusm~ de pru<lu ••
a qua o valor do produto é o resulrn
d . 01
°
na produção (sal. . 1 çao - ou o rendimenco daqueles que participa
anos, ucro e renda) -, esses diferentes rcndimenros condnuararn
I
UMA BREVE REVISÃO OO CURSO 453
a ser, par,1 ele. algo anterior ao valor e independentes uns dos outros. Em l'CZ de
considerar primiírio o valor do prodmo e S<."C:undoírio o rendimento, Smith \•is-
lumbrou no valor uma magnitude secundária, derivada do rendimenro. Mas se
l'!\Sl' ÍO!i>sc o ciso, a qucsc;lo surgiriil imediatamente: como o camanho desses rcn-
tlimcnws - isto é. sahírios e lucro - é determinado? Smith n;io cnconrrou uma
fl'S(lO!\t.1 melhor par;t essa <Jlll'St•io do que apelar à cearia da oferm e da demanda.
P.ir.1 ck·. o n ivd dos lucros depende da abund:incia de e;1piml ou, par•• ser mais
l'l'L'Cist), de !i>t1.1 1:1xa de acumulou,·oin: <zu;1ndt> o capital está crescendo mpid.1mentc,
.1 t;tx.1 de (uno L·;1i: quando o Gtpital rot;1I de um pais dt·dina, a mx•t de lucro sohe.
~1.ts um .111111t·mo no c1pical indka um cresdmL'IUO simulr;inco na dcmomda por
fu1\.t lll' tr.1h.1lhn l' l-, a.,sirn, ;Kom1Mnh.1do c.lc um ollll11l'ntO nos s;1Joirius. O inverso
Ol"lll"Ct" tJll:mdo o L.1piral ro1.1l 1.IL• 11111 p.tis l'Sl:Í diminuindo. Hnalml'nrc. 1.111;mJo
l'-'-'l" t-.1pit.1l t·st.l 1111111 l"Sl.lllll l' ... r.1don.írio, 1.111ro os ....11.irins t)llillllll os hKros Sl' l'.\-
1.1hdt'ú'l11 num nh-d h:1i,o. Dt•sst' mrnl<'• o nuwimL'lllO tios fl•ndimt'llltlS, 1:111ro
tios l·,1pi1.1li . . 1.1s tJtl.mto dos 1r.1h.1lh;idon·s, dt"('L'1tdL 0
do t•st:tdo d.1 t.'L·onomi;a ck
um.1 n.1,·.10: st.· d.1 l".\l.i 1111111.1 fasl" prtlglL'.\Si\";t, l'Sl.tt.·ionoiria ou dl·din.lllll'. Com
1.11 f'llSi,·.10, dilidl111l'l1lt.' podl"l"·Sl'~ht di1t•r l)lll.' .Smich rt•solVt'U o prohlt"lllil tfa dis-
trihui\.IO: d ..· .1pl'l1,1S l~'l"TIL"(l'll Ulllol dt·.\l·rh;.io f:tL·rn;1I - i.lt."lll11f'ol11h;1tf.t lft.• lllllõl l'X-
pl.111.1,-.1n -'lljll'l"lid.11 - ~"-"-'-'l'S fatos no t•spiri10 d.1 IL'Ori.11.!.i nl~·rt;1 e do1 dL'l11illltfa.
(.. '.011hl· .to Ollll"ll g1.u1lk· l'L"tlllOl11is1.1 d:l t'Sl"Ol:t 1..·l;ii.:sil.l, n,l\·id Rk:mlu, d.ir
o p.1 . . . .0 dl·dsi\"o t'll1 dil"l\·.io à. 11.·ori.1 ~tt db1rih11i1.;oio.
4. David Ricardo
A vid.1 lk· 1),l\'id llkomlo t.'oindde 111;1is ou menu!> nun o.1 L'l·.1 d.1 Rl•\·olu,·:io
lndu.\lri.tl i11glL·s.1, lJlll', ;ul i111n,..f111.ir ;t mw:t m:u111ini.lri.11.· ;to tlt•scn\'Oln·r r.tpid.i-
111L"llh: •t prollu,·:io l~1hril. <lL·sloi.:ou com SUL"l'S!ill as formas :uucriol"c's Jt.• imhisrrfa
(:ls olidn.1s i.lfll'S,lllilis, :.1 inJüsrrht Jomésrk;1 e: ;1s manufarurots). Sl' Smirh pode sL·r
dtounaJn o cconomisr;t do período Jo1 m:111ufomr.1, Riem.lo (: 0 eL·~uomisrol J;t
l"r;t dot Rcvolm;oit1 I11Jus1rial, cuj.u; L·;u:u.:tcrísckots b:isil·;1s serfam rcflcrid:L~ cm sua
teoria do v;.1Jor-m1bollho. Nela Rkardo generalizou os nnilriplos focos assoc:ia~os
ao bararl'amcnro drásrko e r:ípido d:is manufarnr:1s inJusrrfais que resulrou J:1 m-
J · iJ·iJe cr:c:nka do m1bo1lho.
tro d ução da nova maquinaria e do avanço na pro uuv ' . • I· •I .
F..ni sua teoria da disrribuiçáo, e mais nomvdmcnre cm sua doumna ~a ~-"'a, e t:
. b r ucsia e 05 propr1cranos fun-
rcffcnu o acirramenro da lura de classes corre a u g . . .
d.. . . .
lanos ocorrido junmmenrc com os prunc1ros s
ucessos da indusma fahr1I.
t) máiti) funll.rnwni.il tll' Ril.u ....lo ~ o dL· ILT lib1.:n.1dn .1 lL'o1ü do v.ilor-
-cr.ilullh) J.i~ (orm.iJii,·lit·::. intc:rn:ts dL' qul' l'l.1 \ofri.1 na l~irmul.11.;;io dt• Smiih e dt..•
lt'í tt·nr.iJi' U!>-.lf t'S.'.J tt·ori.1 p.1r.1 t'xplh:.u llS f1:11ú111t·1ws tl.l discribui~;hi.
Smirh fa\li;ira L'lll fazer uma <listinç<-IO sullL"iL'lltt'lllt'!lh.' d.1r.1 t'lllfl' a quan-
tid.ttk ik tr.ihalho tk'pl'ndi<la na pr11du~.hl Jl' um produh) t' .1 qu.wtid.i<lt• dl'
cr.ih.illw l}lll' e5se produ10 podL'd comprar q11a11Jo Crn(.ltln. :\1) 111.1111c1 t'\\t' ponto
Jc Yi~t•I Ju;tlístico, Smi1h rc:conhl'ú'LI que o v;tlor dt· um pr11duc1) pPtiL· mud.u
ramo como rc.:sulca<lo dl' mu<l.1nça\ na produri\'id.1dl' tl11 c1.1\),1ll111 c111111cg.1d 11 p.ira
pro<lui.i-lo, quanw cm coml'quênda de: ahL'raçúc., 1w "ulP1 \ln u ,1h.1\\10" (i,ro é,
n.i quanriJaJt: dt: s;1hírins mi cu~cos de produç;io).
Rilotrdo atacou esse erro comt:ci<lo por Smich t: lknwn,trou d.1r.1mt:nrc que:
a quantiJ,ulc.: de tr.1ha\ho que se poJL' adquirir l'lll trou lk dl'tcrr11in.1da mcrt."J-
Joria não pode servir como uma medida il\\·,1ri.h d lk !'il'U ',dor: l' tpil' pronirar
por uma tal mt:di<la inv<ui;ívd l-, t:m gt:r;t\. um.11.m·fa \;·1. 1'i1..,u~lo i..:011\iJcrJ uma
mudança na quantidade de trabalho gasto na proJuçjo dl.:" rncr1...1dori:1!> a única
fome (com cxceção dos ca!>OS apontado!. ..thaixo) Jt: nrntbni.;.i_, t:lll !'IL'll valor.
Ponamo, ele foz a mag1Jitude do vt1!or de uma mcrcJ.Jori.1 dc:pt:ndcr dir1..·tamcntc
do dc!.cnvolvimc11to da pmtlutivitl1u!t• tàui(il tio(1; 1/i,dho. Ao adt:rir comi~tcn
tcnu:ntc a essa pmiçoio, Ril:ar<lo dl'u uma gr.11H.le contrihui~;-10 par.1 rc.~o!Vt:r o
prohlcma q1111mi111tit·o do valor, aindJ que, com seu horizontl· li mirado (como 0
de Smith) à economia capitalista, de ignora~se a naturoa tjfl•ili1 111ilot1 ou social do
vJlor wmo a expre~são cxccrna de um tipo determinado lk rdaçút·s <lc produção
~mrc as pessoas.
Smith nega que a lei do valor-trabalho ame no imerior <la econorni~1 c;tpi~
t.ili~t.~, ~cgunJo a qual o valor <lo produto n;io vai diretamente p•tra seu produtor.
mas e lr.igmcntado cm sahi.rim e lucro. Para rcfu1Jr radica.lmL'ntC essa falsa visão
de ~mi ih, leria sido ncces~;Íriu explicar as leis pelas quais o capical é trocado por
for~,1 de tr.1halho O · ·. <l d . ·· d ·!JS
. . .. . . · unico nrn o e explicar essas leis st:ria pela analise aquc
ri.:l.1'rocs soc1a1s de pro<l ..- ' do
d. _.. uçao que unem o trahalha<lor ao c1pitalisrn. Mas o meio
i.: .111ali~c das rdaçúcs de P <l • d h<-
cido d. Ir . d ro uçao como relações enrn: pessoas crn c.10 cscon
e ic1r o como o era d. S . 1 lt . -urso
\cn.io dt::ix;1r de lado a ' ues ~ . nrn 1. icar<lo, portanto, n;io tinha ourro_ ri:L. do
sua inv .. _ l tau colocada por Smirh. E assim o fez, resmngm
emgaçao, nesse ponto • - · Por
se tratar d . .. 'a qui:siao <lo valor "relativo" das mcrcadonas.
0 valor relativo" d d . · l ucr
niudanca 1. . e uas mercadonas A e B, é ôbvio qw: qu.t q
. nos ~a anos dos tr·1lnlh· d ·crça
mua inllu~ncia u ·ri ' ' '1 ores (um aumemo, por ext!mplo) que ex _
tu ornic nos custos totais de produç;io das duas mercadorias n:10
UJJIA DlitíV[ HLVISAO DO CUfl~O 455
,1 (~tomí cm nada seu valor "rdarivo". O rcsuhado de um aumento nos 5,1!.irios n;io
é um aumenrn no valor do prodmo, como Smid1 pensara, mas ;.ipcnas uma dimi-
nuição no níwl dos lucros. Não importa como o valor do produco é disrribuíJo
cnm: sal;irios e lucro, pois isso não afcra a magnirndc do valor do pro<hno. qut:,
na economia capitalisra, é determinado pda quantidade de crabalho necessária
pilra produzi-lo. A~suminJo a posição dt: lJUC: os sahírios e o lucro se convertem
rcciprrn:amcntc um no ourro, Ricardo forneceu a base para a visão de que 0 lucro
é 11111;1 porc;;io do valor do prodmo que os rrabalhadores criaram com seu rrahalho
e ljllC o capitaliM<t apropria para si.
Dc~\c modo, Ricardo rccificou o erro de Smich, que consistia cm negar
que a lei do valor-rrabalho opera na economia capiralista. Mas de não conseguiu
mo~trar <.::omo a lei do valor-trabalho, que n;.ío se manifcsra dirctamcnce nos
trahalhos da econmnia capirnlisca, pode regulá-la indiretamence por meio dos
preços de produção. Ricardo n;ío reve sucesso em explanar a aparencc conrradiçáo
entre a lei do valor-cr:1h;1Jho e os fenômenos observáveis da economia capiralisra.
Na verdade, Ricardo só pôde eliminar a inffuência das ffuruil.ções nos salários (e
as flutuaçôes correspondentes na caxa de lucro) sobre os valores rdacivos das duas
mt:rcadorias A e B nos casos em que os salários têm aproximadamence o mesmo
peso nos <.::UMos de produç:ío das duas mercadorias, isto é, quando cada um dos
dois ramos de produção emprega capitais com composições orgânicas idêncicas.
Se os c;.ipitais que produzem as mercadorias A e B têm composições org:\nicas
desiguais (ou períodos de rendimencos desiguais), rodo aumento nos salários (ou
queda na taxa de lucro) afetará mais perceprivclmcnce a mercadoria produzida
com o capi1al de composição orgânica menor, digamos, a mercadoria A. Para
preservar o mesmo nívd de lucro nos dois ramos da produção, o valor relativo
da mercadoria A terá de aumentar em comparação com a mercadoria B. Assim,
Ricardo chega a sua famosa "exceção" à lei do valor-trabalho. Os valores relativos
das mercadorias A e B ser..ío trocados não apenas com flucuações nas quantida-
des relativas de trabalho necessárias para sua prodm,õlo, mas tambc!m com uma
rnudança na taxa de lucro (ou com uma correspondente mudança nos sal:írio.!õ).
O lrtcro do capital é, com efeito, um fator indcpendcnre a regular o valor dos
producos juntamente com o trabalho.
Ao permitir essas "exceções" à lei do valor-trabalho, Rk;mJo abriu o c:1mi-
nho para que os economisras vulgares (lvtalrhus, James Mill, l'vlcCulloch, etc.)
abandonassem completamcme a teoria Jo valor-trabalho. O próprio Ricardo, no
entanto, considerou essas "exceções" de impominda secundária cm comparaç-.io
456 e 0 .. e ~ us .i. o
Ao !ratar da renda n · 1 s
comi) a d"fi· . . ª0 como uma a<liçáo ao valor soda) do cerca , ma
\· , 1 er~n'ia cmre seu valor soda! e o valor do cercai na ári:a de terra pardcup
.ir crn 11uc,t;.m, Ricardo púde tor . · .' "o
J.c> v.il11Mrabalho nar sua tcona da renda cocrentc com o prmupl
\
1 · Ao mesmo tempo e! • • d . . d ·nda
aquela, ccmclu\ô 1• . ' e [Cntou i:nvar de sua teoria a rc
'
l.r e<; ogicas que se h·1 • • • A era
....,
.
da Revolução ln<l . . 'rmoni1...1nam com os eventos ri:a1s.
U\Ul;tl ingle\a eira .• · . d os
ctcrtzou-si: nao apenas pela force que ª n
,.,;:r·
UMA BREVE REVISÃO DO
eu teso 457
Preços
.
das manufaturas industriais ocorrida com a introdu .- d
• . .
.
çao a nova maqu1-
nar1a, mas tambcm, Juntamente com isso ' por um enorme au mcnro no preço
dos cereais. "foi aumento se explicava, em pane, pela rápida industrialização do
país, pelo bloqueio continental de Napoleão e pelas altas tarifas de imponação
de cercais que haviam sido aplicadas em beneficio da aristocracia inglesa. Era um
fenômeno tempodrio, mas Ricardo fez dele uma lei permanente da economia
capicalista. A seu ver, o crescimento da população tomaria cada vez mais necessá-
rio transtCrir o cultivo para terras cada vez piores, o que provocaria um atamcnro
nos prc~·os dos cercais e uma tendência ascendente no valor da renda fundiária,
tanto a real como a nominal. Assim, todas as vantagens da industrialização do
país bcncfic.:fariam a classe dos proprietários rurais. Os trabalhadores não teriilm
nenhuma participaç;ío nos benefícios porque, apesar de seus salários nominais
crescerem com o aumento nos preços dos cereais, seu salários reais permanece-
riam. na melhor das hipóteses, esracion:irios, isto é, no nível mínimo dos mcfos
de subsistência requeridos para o trabalhador e sua família (o que Lassalle viria a
chamar de "lei de ferro dos sal;írios")_ Já o lucro, exibiria uma tendência de queda
inexorável. graças ao aumento inevitável nos salários nominais. A queda nos
lucros frearia o ímpcco capitalista para acumular capit;1J, e o progresso econômico
da nação seria incviravclmcnce desacelerado, aproximando-se cada vez mais da
estagnação tocai.
O quadro inteiro dos movimentos de rendimento encre as diferences
classes sociais exposto por Ricardo parte da suposição de que os preços dos grãos
concinuarão necessariamente a aumentar. Ricardo subestimou as possibilidades
de um fone crescimento na producividade do crabalho agrícola. Sua doucrina de
um aumcnco necessário e inexorável no prc:ço do cercai, bem como as conclusões
daí extraídas, não foi confirmada pelos facos. Apesar disso, sua teoria da discri-
buiçáo represencou um enorme avanço ciencífico. EJa retrarou o vasro alcance
dos rnovirncncos no rendimenco de todas as classes sociais e sua íncima inrer-
conexáo, descreveu essa dinâmica como uma consequência necessária da Jci do
valor-trabalho e revelou claramence os conflicos que cxiscem enrrc os inrcresses
das classes individuais.
458 coN~LusAo
eks\. Por \"oha dos anos 1830. iniciou-se o período de "di:simi:graçáo" da escola
lljssko1. Osc:conomistolS burgueses de então repmliaram a h:ori.1 do v.1lor-tr.abalho
Jc)cn\"oh·id.1 por Smith e Ricardo. A fim de mostrar que o lucro n;ío é uma pane
Ju \"Jlor criado pelo tr;1halho dos operários, eles forjamm 110\";lS ti:orias sohre
sua origem. A doutrina de Say foi a de que o lucro é criado pela prodmiviJou.le
dos mdos de produção pcncncemes ao capit;.11ista (a ti:oria <la "pro<lmivida<lc do
capiran: Senior viu o lucro como a recompensa pda "ahstinl-nciot" <lo c.1pit11lista
que acumula capital ao deixar de satisfazer dirct;.m1c111c suas ni:ccssi<lades pessoais
(a teoria da "ahstinência"). À medida que a economia politka se torna apolo-
g~tka e vulgar, surge t~1mhém uma oposição a ela. Comrn a economia política
estavam os representantes da classe dos propriet;írios fundiários, empurrados p;ua
º.segundo plano pda burgue.~ia (~·lalthus, para quem apen;:1s a existência de uma
nca classe de proprict;Írios rumis poderia criar um mercado para as m;111ufarnr.1s
indumi~bi,): ~s defensores da pequena burguesia, <lo campcsinato e das oficinas
art~anais (Sismondi, que afirmou que o capirnlismo, causando a ruína <lo cam-
pcsm~t~ e das oficinas, reduz o poder de compra da população e, com isso, cria as
condiçoes para consramcs e · ) fi 1
h· li rises ; e, na inemc, os primeiros defensores da classe
tra a tadora (os socialistas utópicos).
Nota
l. '.'Jichul.i\ l\arhon Adis
J\fllcrQ(f . , crnmroftmdr(l.ondrcs, 1690),p.13-15. "Ovalordc1odas
onas nasce de seu uso· coisas
{...) O U\U d . ' ~m qualquer uso não possuem valor algum.
ª~ coi~~ dl"\"e suprir a 5 Jixó . .
p.11-:i11:·. 1iuc são inatas : .. , . P cs e as nc.-ccss1JaJcs do homem: ha duas
p.ua ~uprir c.,~as d~ a i:~pcc1~ humana: as paixões do corpo e as paixões do espírito;
.u ncecss1dadcs, todas . .
P0 rca111n, possuem um vai 35 coisas sob o sol se tornam úteJS e,
n.uur.1lmcn1c reni . . or. (...) As paixões do espírito são infinit·15· o homem
. ª'P•raçoti e, à medida •. ' ' .
torn.'.rn rn:us rclinados e mais capazes de que ~u csp1rno se deva, seus senudos se
p41"<ol"!i a11mc:111;arn iunt dclenc: seus desejos liát> alargados e suas
amcmc com seus anseios."
POSFÁCIO Á EDIÇÃO INGLESA
AlJlldL'.' que l.'onhco.:m a ohr<l Em,Jios sobrt• 11 fl'oria mrnxÍiffl do v11'or, di.:
haac Ilich Rubin, j;í c~t;ío familiarizaJos com o nodvd conhcdmcnro que o ;tu-
tor po.s.,ui do p1..·n . . ouncnw de ~ 1arx. l lúttiri11 do pcm11m1·ntn rconr;,nico é a primeira
tradw,:úo inglesa lk· uma obra que consricui um importantt: complcmcnro a
Emaios. Ela t'.- <ll.'dil:ada ao cscudo das doutrinas cconômic1s anrcriorL's a O c11piMI,
doutrinas l}UC foram, portamo, estudadas e discutidas por lvfarx. N;io se rr~Ha,
por~m. de um simpll.'s manual conveniente, limitado a cratar com uma sistcma-
tkidadc m;tior os dcnu:ntos da an;i(bc espalhados cm Contrílmi{'1ÍlJ à crírica d11
economia poltíiett, O c11pitt1! e Tt:ori11s da m1zis-v11/it1. Ao concrário, ela comt'.-m con-
tribuiçócs originais, tais como os oiro primeiro c;tpírulos sobre o mcrcancilisrno,
uma domrina que Marx invoca com frequência, que ele conhecia muico bem,
mas que jamais foi o objeto de um estudo ordenado cm seus tcxcos. Além do
mais, e isso distingue a presenre obra das "histórias do pensamento econômko"
tradicionais, Rubin se dedicou a situar em seus respectivos contexrns as rcorfos de
que trata. Geralmeme com grande sabedoria, ele mostra como as particularidades
de cada teoria refletem a simação social e econômica do país no período cm que
foi formulada. Obviamcme, essa pr.:rspcctiva histórica n:ío está ausente nos rextm
de Marx - como prova o exemplo nocávcl do esmdo <la corrente fisiocrarn (!vbrx,
l 969, p. 44-68). Mas Marx nonnalmcmc roma a discussão das teses dL· seus
predecessores como um pretexto para o desenvolvimento de suas próprias con~
ccpçües, de modo que sua abordagem sobre essas teses pcm:nce mais à crfric:i
"interna", e suas referências ao contexto histórico ocupam apenas uma posiç.io
subordinada r.:m comparação a essa críti1:a.
p[NSA"'ENlO c:coNôMICO
460
A / listóritt de Ruhin é, porcanco, uma obra original, mas qrn: deve muito
J.s análise!> de Marx, rnm;uH!o cmprcstado delas sua cstrurnra. O conhcciml'nto
· 1 que Rlibin po~sui lh• obr;J. de Marx n;ío deve .ser l'ntl'tH.litlo nll110
cxccpc1onil
enu.liçáo acadêmica. Por ra1.ôcs que sáo perfeitamente daras p.1r.1 qu.tlqun um,
a obra de ?\farx, m;lis do que a de qualquer outro l'Conombt.1 .11111.: . . Pll dq,l1i~
dele_ e sil igu;it1da por pouquíssimos filósofos-. atraiu um 11Ú1Hl'r11 \ t 111,i1ll'1.íwl
de exegetas honcscos e dcdicados que náo se ddxaram inti111i1l.tr 111.:m i11·Jl, l~'1ki~o
de seus escritos, nem pda frequente tt:cnicidadc- de seus 1Jbil'l1''· \ 1.t, ·'' 1\llilul-
dadcs peculiares a seu pensamento, tais como a amhip1i1Lhk' 11u .1 t·,t1.mht'f,l de
alguma de suJ.s fórmulas e o pc.:so J;ts qucstôc.:s trJJii..:illll,Ü'.'> J.t l·1.:1.11h1rni.1 pPlitit.:.1
acad~mica - à qual sua teoria devia sc.:r uma r1..·spll~tJ - (llmbin.1111-.-.c p.1r.1 l~1rm.1r
um obsüculo à efetiva apropriaçáo do próprio quc~tiL'll.lllh.'IH'l que d.i :-.cntido
e cocr~ncia ao projcco de O Ctlpit11/. Ruhin dominou iu'.'>t.ln11..'lltl' l'"e quc~tion.1-
mento. o grau desse domínio é mostrado pd.t~ expl.m.t~ÓL'~ que de rropóc. t.'111
Emaim, dus conceitos fundamentais da tcori.1 m,1r\i.rn.1 Jo \",tllH. conc1..·ito~ muito
frequentemente invocados de modo mistt:rioso ou qu.bc: mi'.'>tico: conteúdo e
forma do valor, trabalho igual, trabalho social, trJbJ!ho J.h..,tr.tto. n~1b.1lho sodal-
mente nt:cess.irio, etc. É muito claro que cncontn:mos e~"C me~mo domínio na
pc.:r~pcctiva de Rubin sobre as doutrinas econômicas anteriores a ~ 1.1rx. r.1áo pda
qual~ .presente obra é particularmt"nte adt"quadJ a t:\clan.:u.:r m principais remas
J.1 crmca que Marx ft"Z <l . ..
. · ªeconomia po11uca em geral e do!:! escritores clássicos cm
p.uucular, crítica na qu· I
. ª se mostra sua verdadeira originali<lJ.Jc.
E na originali<la<le de lvt- . . . .
\'d J arx, em seu propno entendimento de~.<.a ongrna-
1 a e e na eventual <li!.t·inci . d
f . I ' a entre as uas - entre o que ~forx pcn ....lva e~tar
all.:nt u e o que ele reJlmeme fez - .. ~ .
. •que encomramo1> o cnmpkxo de qu~.,wcs .ts
qn.Hs a exegese m.irxisrn. recente se\' 1 . "
<l ·o . . lQ 0 ta quando apresenta o probli.:ma do "ohJcto
..: wp1111 • uai é a rdaçáo encr . ..
poliüc . e a perspectiva de l\farx ao tratar da cconon11·1
a e a pcr':ipccuva (ou
continuid.idc ou de ru
ª" pcrs le. . .. ') .
l cti\as, de seus predecessores? lrata-se c
d.
fun<l.tmcntal d ptura, de ruptura parcial no interior de uma concinuid•tde
, e ruptura inco1nph:ta o "' d
l\U<!..!.tão nes\cs tcrn . . ' u 0 que: Obviamente, Rubin não tr•Ha 3
. . lns, que ainda não es . . , .
prcol:upaçao cin atrib . 1 . tavam em voga aquela epoca. Em sua
P·\fcxe, acima <lc tud u1r e og10 ou culpa a cada autor numa base imparcial, de
o, e~tar .ttcn10 à .
e outro, ao progn:.;,sivo cnt ·I conunui<la<le proclamada entre um autor
i\ -;.íntc\t: <lclinitiv.i no . • rc açamcmo dos temas que serão organizados numa
s1s1cn1a completo ofo .· . /
\ TCl:ido pela exposição de O c1lf11' 1 •
' ...,
J
POSFA.CIO A EDIÇA.O INGlESA 46"
Ele preccnde forn~cer soluções ao problem.i do e~ui'.íbrio ?1..1::.ro p1..1r ro~o :.i.<>t1.:ma
de produção; para fazê-lo, procura dete-rmlnar as. rehçt'('S fl.'("Íf'rll(.\~ l~U.: t0m de
ser respeitadas pelos elementos que entram e sat>m do proce.;.so ~:c1'::"1.1'. de n.:·pro-
dução. Ele propõe, assim, uma norma idea! de funcionJ.mtnto do:- !-.i:-tt,;m.ls cco--
nômicos. &se procedimcnco exige que objeto~ mareria'.ment.: difçrcnt1.'S sej.im
com.parados e reci?rocamente medidos. especia~mt'nte os sal.trios. o pro~uto so-
cial e, no imerior do produro social, as mercaCorias hett'rog_~neas. E].: só pode
ser realiudo, porcanto, sob a condição de que seja con!ootirui'6o um insrrum1.·nro
artificial que torne possível a quantificação com?arariva dos objetos t'm questão.
Tal instrumento não deve ser entendido como tma,;mente arbitrário, mas deve. ao
contr.írio, satisfazer certo número de condições, sendo a principal delas a de que
0 próprio instrumento não esteja sujeito às causas da variação p.tra cuja medida
dl' mesmo foi criado. !\:essa perspectiva, a teoria do valor se roma a elaboração
C.e um pndriío invariávrl de valores, que é, primeiramente, um instrum~nro para a
homogenei1.açâo dos bens h • d ·
eterogcneos encontrados num processo de pro uçao
e de troca; e, cm segundo l 0 • • - s
f. uoar, um instrumento para a medida das vanaçoc
so nda.s pelas rn..xas de câ.mbi d b ~ .
d. . _ 0 os 1.:ns emre dois estados sucessivos do processo
-~?v.,
POSFACIO A EDIÇAO /NG1.ESA 463
ainda mais daramenre, com o esclarecimenro da ordem dn1 tdlt$/IJ e doi efeitoJ
cnn·dados nos inúmeros processos que conscicut"m o real. Para os represt"ncan-
res dessa segunda conc~pção, os modelos normativos propostos pelo primeiro
pro..:<.·<.fimC"nco p.areccm objcros imagfoários. Em parcicular, a conscruçáo de uma
mcdid.1 in.vJri;ivcl de valor designada a tornar possível a homogenci7.ação de bc:ns
hr:r~rogi?nt'os é denunciada como uma busca absurda. A equaJfaaçáo das merca-
doria~. objt:r.un de!., é d11tl11 de fato na cquival~·ncia das mt"rcadorias csrabelecida
espontancamt"ncc no processo de croca. A tarefa reórica é explicar essa equiva-
lência. i::.ro é, exibir a lei que govc:rna suas variações. A aurêncica análise reótica
é um escudo da." cau.'i.as efetivas dos fenômenos reais. É unicamente essa segunda
incerprc.•ração do objt'to da economia polírica e, como resulcado, do conteúdo da
teoria do valor que Rubin considera perrinenre. "No entanro, a reoria do valor
não se prc.'Ocupa com a análise ou com a procura de um padrão oper11cio1111/ de
equalização; ela busca uma explanação "'""''do processo objetiuo de equalização
das diferenres formas de trabalho que efetivamente têm lugar numa sociedade
capitalista de m<rcadorias" (Rubin, 1972, p. 169). Essa éa visão peremptória de
Rubin em Ensaios.
A concepção norm.niva do discurso da economia política dominou :i
prárica no sl'Culo XX e não enconrrou uma oposição séria. O ideal de um predo-
mínio maremárico de modelos abscratos foi imposco à comunidade cientifica em
geral na esreira dos brilhantes sucessos obridos pela formalização da macem.ácic:i
e da lógica e na cstejra das. esperanças ocasionalmencc falsas que ela alimentou.
A principal preocupação dos economisras foi canalizada para a construção de
modelos formalmente satisfatórios em decrimenro de qualquer ceHexão sobre a
relação problemática encce esses modelos e os rcferences dos quais eles, apesar de
cudo, afirmavam oferecer uma explanação. Não é evidenre, porém, que a incer-
Vençáo desse novo paradigma econômko renha significado uma mutação inespe-
rada no objeto ela economia política. Ao contrário, Rubin mostra que a tentação
normativa já estava latente em doutrinas muito anteriores, precisamente na forma
da busca por uma medida invariável de valores. De acordo com ele, a concepção
smithiana do valor, em particular, apresenta uma tensão intc."cna que resulra da so-
breposição da rarefa prática da determinação de uma medida invariável de valores,
de um lado, e da pesquisa dentífica das causas objedvas das v~riações n~. valor
das mercadorias, de outro. Podemos identificar a fonte dos deslizes da análise de
S.rnirh nessa ambiguidade merodoJógica fundamenral, t'<}uivocos que: são n:gisrra-
PENSAMENTO ECONÔMICO
464 t<ISTOAIA 00
\in\!u.ig('m ('fll que é <lira algo que o {CÓrico {em de elucidar.• Isso que é "dito" é
\,,t;.1ç:10 Jc toda~ as c.uactcrí~tkas concretas de atos de trabalho, a redução do
J •1
P< 1na1110, os homem. nfm relacionam entre si seus produtos do traba\ho como
v.1lur~·\ por 1..umhlcrarc1n c!.~:ts coi!-<l~ meros invlilucrus maccriais de crnbalho
hum.um de lllc\1110 tipo. Ao contr:\rio. Pon1uc equiparam cnirc ~i seus produtos
th: <lili:rcntt..:\ tipo~ na troca, como valores, cl1.:s t.:<luipar;un cntrc si seus diferentes
u.iliJ\ho\ Lomo tr.1halho l1111n:rno. (lvbrx, 1974, v. 1, p. 78 lctl. br~ls.: ~for.<, 20t3.
p. 1·1 11:1
P os.~ Ai: 'o 1'. ' o '~ 1'. o '"1 o Lt s. Jt 46
Qu,110 in11:rL"SSL" que essas discussôes detalhadas sobre a exegese <los rcxtos
Je Marx tl-m para nosso ohjL"tivo geral, isto é, para a an~ílisc da rdaçáo emre Marx
e 01s dou1ri1101s econúmkolS ou11criorl's? Como dissl'mos - e, nesse p<lnro, apenas
ri:prtimos a Jl·mmhtra~·:io convincL"ntc de Rubin -, fozt'r da n:duc;:ío <lo trabalho
compkxo .10 tr.1h.1\ho simples a condiç;h> de v.11idoulc da teoria marxian;l do valor·
·tr.1h.1lho é rcvd.1r unu i1u:omprccn~áo dos termos nos quai~ o pmhlema é pusm
por M.ux. U lllt'-\11\0 v.1ll· p.1r;1 tt·oria ricomlia1101 llt1 \'al0Mr.1b.1\ho? P.uccc·nos que
J. rt... poq.1, .ttpli. tt'lll Je ~t·r nt·g.uiv.1. Pois ?-.forx herdou unw a prúpri.1 q11t·st;io
qu.11110 .1 tr.:111.1~·.io <le fl'.~ponJC-l.1 in\'oc-.rndo as dil~·rcn~·,1s nos s.11.irios formu!J.·
J.1~ rdo pnipri11 Ric.udo. 1:oi Ric.mlo l}lll\ St'guindn Smith. in1rod111.iu a t'St'.lb
J11~ ~.11.itios - .H11t1nutic.1memc c·st.1hc•ledd.1. t: daro, pd.1 compctiç;h1 - conw
um wm:ci"o l}Ut' tinh.1 Jc sc·r le\',hlo c·m 1.:0111;1 a fim de su,qt•nt•1r o princípio Jc:
J(mJu ..:om o l}u.1\ os \',tlorc•s rc·cipro..:os s:10 prnpor..:ionais J.s quantidoulc·s n:l.11h-.t.~
r1:1\lll'riJ.1~ p.u.1 prnd111i-los (Ric.1rdo, l lr::-'ia, p. 20·21 ). E, cm 1\Jfréri,11/.tfilosif.r.
~1.1rx n10m11u-se um ric.mli.mo ortodoxo, com sua atirma~·;to Je que "os v.1lorl'S
pollcm Sl'f mcditlos pdo tc·mpo de iraha\ho", m;1s quc·, "par;t :1plil·;1r uma r;il
mcilid.1, kmos de ter uma csl".1la comp•lr•Uiv:t Je diforentl'S dias <le cr.1hJlhit
(~l.irx, 193(i, P· 46). ?-.bs ;\ teori;t propriamente marxiana do v.1lor, d.1hor.id:i.
nm Gno1tlriJJe, cm seguida na Comrilmiçtio à crítim d11 economia polítka, e ad-
quirindo sua forma definitiva crn O mpit11/, é o rcsuhaJo da rec11pcr.1ç;io Ja cen-
ir.ilidJik da concc:pçjo ricmliana, a fim de deter as uwpias iguali1;irias que cerias
cmremes sociali~ias (Proudhon, Darimon, etc.) pensavam podcr erigir sobre:
c'\'.l lOIHepç.in. l\fas essa ohra dL" rcmodclaç:io levou a mais do que uma simples
tcli~ca<,..io. NJ verdade, da culminou numa mutaç;io rndic:1l no significaJo dl
lcoria <lo valor-irahalhu, a 1al pomo que a identidade terminológica e analogia ª
que: alguma!> de fnrm 11 1 .- d d ru rJo
d açocs e Marx oíerccem com as proposições e ca
~"~ 111 !>cr 11 \idcrattl'. ba.,1ame mistificadoras. O rnrdio abandono da rcfcr<!n·
'º
eia a c~cala do~ salário\ . O . inda
ligavun a . t:lll ''1/'''''' rompeu um dos l1himos nexos que 3
r~\~n - dlcoria do v.1\ur de Marx à prohlemoilica ricardiana. E, invcrs:uneucc:. a
~hihi \<!.: ~S\~ rcfcrén,ia cm Princ~1itJ1, de Ricmlo, contrari:11nen1c ao q11c afir~J
n, e lcm.:munha Jo f:uo d c' ·.io
pr;i1ic..a d· f; ' e que 0 rompi111e1110 de Ri,arJo colll a cone 1\
a lati: a colocada à lt:O . <l . I . lu sc:rTl
qu.ilific.i\ão. 113 11 v.1 or-1rab.11ho noio pode ser st1!>le111.ll
O problema de uma "medida i1w.iriân:I de \·.1/ur~ n.io era mais do que- um nomc-
cspúrio p:1.ra a busca do conccim, da n.nurt"Ll. do nzlor- propriamente dito. cuja
de6ni<j<io não podia consiuir cm muro ,;iJore. come11ucnremcmc. n.io podfa est21'
sujeira a variaçôe:; como valor. fuce cr:1. o umpo tÚ mibalho, o tr11baU10 soci11/ raJ
como de se aprcscnra c.\pccifü-;imenrc na produç.lo de mercadorias. (Marx, 1969.
v.3.p. IJ4-1.l5;cf.Marx, J96'J.v. l,p.150-15J;v.2,p.202)
Em ra;-~io des~a ldrura distorc:ida, que o levou a irm:rpremr cuc "foho pro-
blema" dos cconomhras como uma ahordagcm equivocada, Marx jamais qucs-
rionou a~ fin:llidadcs da teoria econ6mic.:i acarrc1;1d;u pda lnm:.1 de um p 3 dr-.io
invariável. Como vimos, Ruliin dirigiu sua atenção à forma aMUmid;1 pda eco·
nomia política ac."ldêmka no século )()( e foi, nesse pnmo, mais peupicai: do
47Q HISTO~IA DO PEt.ISAMEt.ITO EC0t.IÔM1CO
que Marx. Mas a convicção com a qual Rubin conclui que Ricardo "rejeitou de-
cisivamente toda e qualquer tentativa de encontrar uma medida invariável de
valor, mostrando repecidas vezes que cal medida não podia ser encontrada" (ver
capítulo 28) deixa perplexo mais de um lcicor conccmporàneo. Pois os esforços
de Sraffa em publicar o úlcimo cexco de Ricardo, Vitlor absoluto e valor de troca,
trouxeram à luz evidências de que a determinação de uma medida invariável de
valores estava longe de ser algo esrranho às preocupações de Ricardo, mas, ao
contrário, tornou-se o principal objeto de suas reAcxõcs até o fim de sua vida.
Alêm disso, a linha geral de sua obra final {suas questões e suas respostas) já
estava comida em Prfocípios, panicularmente no capítulo 1, seção 6, cujo título
é "Sobre uma medida invariável de valores". Contrariamente à tese de Rubin - e
Rubin cercamente conhecia bem esse texto -, Ricardo não questiona de modo
algum o principio da busca por um padrão invariável, mas apenas sublinha as
dificuldades da tarefa e põe as condições que tal instrumento teria de sadsfozer.
E a .solução que ele esboça é idCntica àquela que ele dest!nvolveria mais carde em
\-ã/or abJoÍuto e valor de troca. Ele argumenra que não é possível enconrr3 r um
instrumento perfeito de medida, mas apenas "a máxima aproximação possi"d de
um padrão de medida de valor que possa .ser ceoricamente concebido" (Ricardo,
197Sa, P· 45}. Ele prossegue considerando o ouro uma mercadoria que, ..por ser
produzida com tais proporções dos dois cipos de capital, aproxima-se 0 m:íxifllO
possível da quamidade mC:dia empregada na produção da maioria das mercado·
rias" e sugere que essas proporções poderiam ser "praticamente equidi.sc;mces dos
dois extremos - o polo em que pouco capital fixo é usado e o polo em que pouc~
uabalho é empregado -, de modo a formar um justo meio-termo cnrre eles
(RimJo, 1975a, p. 45-46).
. A"lnkrprctaçáo da prohlcm;ícica de Ricardo mais comumcnce ac ~- . a
dias de hoje tem origem nos comentários e nos e.scricos de Srafía, que ediiou
publica ' d 0 b "d r< qu''
çao as ras completas de Ricardo. Para de, é algo auroevl cn . rttl
busca por um padrão invariável de: valores é "uma parte r:.ío centr-.11 do sistc:. e
de Ricardo" (Sra.ffa 19 -, . d .- 0 0 pL·rn1 11
' ' · • '5, P· xhx) que apenas o domínio desse: Pª r.i -0 t
fundament:u sua te . d d" . . . . crprcc.tÇ.I
d . ona a 1stnbu1çáo. E fácil perceber que essa rnr un1J.
iamctralmcme oposta. d R b" . • iluntinJ
J· . . a eu m.Elaédcnossoinct:rc.s,~eporquc: . . 1·.i.i.j
•m~n~ao da teoria ricardiana que os marxistas, em sua pressa cm assuu• J. (Jr
tcona•n.tarxiana, geralmcnrc deixaram de considerar. M;ls da nos parece pro\: P
um seno dano ao pensamcmo de Ricardo. Sraffa acredita poder soJudonJ
POSl"ÃCIO A [OIÇA.O ' " G L t S ... 471
rü B numa. rdação que ea metade daquela e.xistente em t 1• Por maiores que sejam
JS prc:J.u~óes que devemos tomar ao formular esse principio - a fim de csc~tpar
da obitç.áo de que ele propõe uma esquematizaçáo excessiva d.os processos re.lis -,
permane..::e \'ilido que sua aceitação implica que a \·ariaç:w lk produtiviJaJc num
ramo de produção afeta diret.zmeme, com os demais faton.·s pcrm;.rncccndo iguais,
o valor da mercadoria produzida naquele ramo, e apenas de. As variações na pro-
dufr.id.ade provêm do tempo de trabalho d~tivamente ga.."'to na produção, isto é,
do trabalho concreto. Para Ricardo. são as d1m1çó,-s respeaitas do rempo de mzbalho
coro-"Te:o que governam as rdaçóc:::s de uoca de mercadorias. É n~rdade que Marx
a.firrr:.a que.. embora a economia política clássica jamais tenha feito explicitameme
a cb:inç.ão emre o trabalho concreto e o abstrato, ela o fez, no entanto, íncons-
c:e~terr:.:::nte, a par.:ir do momento em que atribuiu ao trabalho a propriedade de
ser a fo:-i;e d.e valor í~farx, 19-:-4, v. 1, p. 8-i-85,i. Essa ali.rmaç.á.o não invalida nossa
t::-,.e.. 'onsid:rando-sc que a terminolog:a usada se rorne mais precisa. É correto
d:u:r qce. para Ricardo, quando, por ext:mplo, 0 produto de um dia de trabalho
de um joalh:::iro é trocado pelo produto de um dia de trabalho de um grande
cm~móo, a equivalência entre e..ses produtos s.ó é uma função do tempo de
trdba!ho sob a condição de uma identidade de destreza dos trabalhos em questão.
.~ formas particulares que t:<:.ses trabalhos assumem não intervêm na determina·
~ relações de troca, mas é a igualdade das durações reais do rrabalho - ou
çáo
~ duraçóes do tempo de trabalho real - que é a base da relação de equivalt!ncia
dos pmducos. Es!.a versão do princípio da dccc:rminaçáo do valor pelo tempo de
tr,a~alho ga~to na produção das mercadorias confere a ele um cscacuco episccmo·
lo.gic.:o particular: na teoria, ele e<>tá aberro à verificação empírica. O que querernos
d11J.:r, alJlÜ, é que na pc . . dº rndo
d ' n.pccuva ncar 1ana, deve ser possível mostrar, por
e exemplo~. que uma m· d . A . ·J mo o
dobro do preço médio de erca on~ , cu!º preço médio é c..o;mbelcc1 o cora ser
produ7.ida. De modo si . uma mercadoria B, requer o dobro do tempo Pª·o no
tem) d milar, d<..'Vc ser poso;ívcl mostrar que uma modificaça
1o e tmhalhu neccw' · · é ex·
pre~m ano para a produçáo de uma dada mercadoria
e'>sa vc~~ .º~ª modificação proporcional cm seu valur de rroca. E. no cnt•u1tO·
dif1luldad:~a~1.' ~1uc náo é cxduí<la crn princípio, cncontm certo núnu:ro Jc
ljllandu 1. tct:111c;u .<111a11do se con~itlcra sua implcmcnt:IÇ•ÍO pr:ítica. De f;iti>•
ent:unos e~tnuar a'> vari:i -(i , d. !· n ·as rt:l
pro<lmivi<ladc d ç es e preço <1uc ~e seguem da.!> mu< ·1 \ . 1
cinpíric.•: ~ d'~~i trahallio, cn<.:ontramos uma série de ub.~t:kulns :i vcrífi~ç.t<,
1 cremes propnrçócl! nas <juai~ os c1pit;1i~ fixos e os <.::1pit;ais cir'll
POSFAC:IO A ED•ÇAO •lfG~E.SA 473
Sabemos que essa é a posiçoi.o adorada pdo filósofo ÍrJ.n,ês Louis Althus..,er ~ seus dii.ci-
pulos.. BaHbar d~sl.'n\'olvc.•u sistcma.cicamc."nce c.ssc ponto de vista em c;,,q irudts t/11 m11-
1irittlim1e his1oriq11t', de I 974. Ele atirm;\ que o texro que Marl( Jc.-dica ao foci.chismo da
mercadoria (Marx, I 974, v. l, p. 76 e s.) foi fo.-qucnremcnre tornado como o ponto de
parcida dõt daborJ.c;âo de uma ..teoria do fcrichi:-mo"', cntendiJa ~orno um dcmenro de
uma rc.-oria ,,fa_., iJ\.-ologias m.otis geral, e are! mc.-.smo de um.t reori.:t. Jo 'onhedmenro. Após
uma ;1.n:.\lise do rcuo cm qucMão, de conclui que ~\..t." difcn:mo cc:macivas baseadas na
an;Hise do fetichismo produzirõAm apenas "filo)Qfot..;. Go cc.,nhc..-cimenro ou amropok1gias
idca!i.sras· (Balibar, 1974. p. 2\S). entre as. quais ele inclui os escritos de lukics e:m
Hütúri11 r eo11Jdê,,cit1 d~ r/1/fft' (\ 971) e, mmbém, .1lgum;U análises de Ro!>a Luxemburg.o
cm lmrod11rtin iJ «0110111id polítfrw. De acordo i:om de. cs!>a..;, incerprcmçõc~ n;lo são
simple.;. erro.<;; ela... de)cnvvlwm algo latente no1 própria prob:emátiCl. de Marx, porém
\art·nce o;om\!'n11: porque "c.-s..;..'\ problemoirk.t é, em últim.l .in;\li~e. 01pcn.i.' uma variante
C:ipccífic;1 de uma prob\cmãckaji/01ôjic·t1 prc..":..marxi)t,it' (&:ibar, 1974'. p. 220). ~;\o
podemoi.., aqui, \!'ntt.ir no debate sobn: as condições ?.lra .l consrru.;iio de uma teoria
mouer\ali~ta d:t,,. ldc..-ologia~. Sobre is.'iO. c;-.1.bc apcn.'\s um.l ob)c,'fYJ\âi>: n;io se pode negar
que o conceito de '"fotichismo da mcrc;.\dori.1". junt:lme!ltc com a.s dabora'fÕCi; qut:!'acom-
panham c."!r.!r.:l tCOri3, ;\.'i.\im CQIUO ~US rrc."!r...;UpO.~tC.l!r. g_nosiolc.igicos ,\ CC!l.pdtO da "ilus.i.O da
com}kriçáo" (Marx, l 974, v. 3~ p. 852. e :i.), !oen.·i:im. na vii...io de: M.1.tx, pa,..1. explicar ois
mi:.tificaçóc..-.,; (ou ~ c:feito.o; d:i m;{ cc.m1pr\'Cn.s;"10) cm que .i a.-onomia polirica burguc.'S:l
gc:ralruentc se move. Or.i, eo;~a:.. prcMupo:oiçôi..., ~no.\io\(\gic.u, en1 panic:ular .1 opoi.i.;lo
aparência-c..sêricia da socie<fadc ca"irafora, d'-·tcrmino1rn .i (')Colha que MaD. faz no ord.c-
namc:m:o dci....1 exposição da... carc.-g,,na.' cm O ct1pi1,,/, i"'~º é, <k·tc.•rminam o pl.1.no de.;.\:&
obra. R.27..âo pc:fa qua! m\o ,: i:orrc:to rc:futoi-:.b rur.1 e.• simplc."'lonu:nte t:omo n;io m.lf('ri.llis-
tas )Cm k pergunrar pe!.1~ con~cqu\·nd.l"' qui.· t;1l n:fut.1ç~10 poJ" ter p:lr3. ª"' jusrilica\"ÕCS
d:i ordem demon ..tr.triva de O (tJ/'iftll
M:u h;i m.lis a .sc:-r d iro qu;1ntc> a i~ CQmO mo~u·.in1~ ao nos fi'Íe-rirmoloo l .Jn;iliM." de"
Ruhin \Obre l'\\t' ª'~unto, .apc.·n.i' a ten1.íric.1 do f~tichíi.mo pcrmifL' opcra-r .1. i.ubveNo d('
:.ignilicado a que .\fan: i..ubinete .i lei do ,~.ifor. Sc-m c:.~;1 ~uln·c~10, concdto" t'iio impor-
tami.::' ..:orno tr.1h.1Jho '<!eia!.. tt.1h.l'ho ~C"ra? ou tr.Jba.lho roc-ia:mcntC" nc."«'.4.;.Ú'io ~o v.v.iO!i
de 'l.CntiJ(l. De.-..~ pumo Jc \'l\t,1, parc.·..:c.."-nôlo dc....onc."\to& 3 refc."~n.;ia de Bollibat ;io (".;1.pirulo
"' d.J /111r11dlf(•i11 il e••1,1onti41 P'Jlitioz, de Rrua. Luxemburgo. cm que cfa im.i.gin.J. uma
\O\:i\.'\!.1Je fic.:tic.:i.1 onde() tr.l~.1.!ho ..~ p!.anej.1dl) e org.tni1..ido ªE'C""ª"' p.i.r.i ,.çr ~ub)tiruido,
ªf't'" o dC''·•l'ªr"-c.:"ncnro .abf\1pto d:i .1dminbu·.1.;:io cc-ntr.J.?iud..a d;i ptodu.;:to, pcl:i rroc;:1
<'t.NSAMCNTO ECONÔMICO
476
·
s.: ':'<-".iicnns<" . . ~-,rn··im<ntO do (discutívei) primeiro esboço G.e uma exp!anação
J.\. ..... 1: ...
m.ir.:ri.i.:~:o.ta da..~ formJ.-" da ideo:ogia burguesa. ~a verdade, a comparação entre
J. . .'JÇ:lo de mc:rcaCorias e formas de produção não !::>ascadas na mercadoria
·)r. "...-'
(~1..··;~;nsün Crusoé em sua il'.ia, as rdações ?essoais de uma sociedade feudal, uma
s. . . . (i<.·(..1(.e rural ?ªtriareal e uma "associação de homens !ivres que trab~ham com
m~i0s de ?roC.ução coletivos", na qual podemos recon~-i<:"cer, em linhas gerais, a
Ct.'OriJ. socialista do futuro) é desenvo~vida por meio da aná!ise do "fetichismo"
(Y.m. 1974, v. l, p. 76 e s. '.ed. bras.: Marx, 2013, p. 153:), e a?enas da pode
exercer a função social gera! que Marx atribui à lei d.o valor. Mesmo que Marx
n.io tivesse feito essa comparação explicitamente, seus leirores teriam de reconhe-
cer sua ?resença tácita desde o início de sua interrogação e reinterpretação da lei
C.o valor. O objerivo dessa comparação é, de faro, indicar que a forma-valor dos
prOCutos do crabafüo desempenha, de um modo historicamenr<: sem preceden-
tes, uma função necessária em toda sociedade humana. Os modos de realização
podem mudar, mas a função propriamente dica é invariável. Tal função consisce
na distTibuiçiio proporcional, en/Te os diferentes ramos de produção, tÍll totalidade das
forças de trabalho disponíveis, de tal modo que se roma possível a reprodução de
todas as conC.içóes da produção. A famosa cana de Marx a Kugd man, de l l de
ju~ho G.c l868, enfatiza claramente aquilo que é, de faro, o ponto de parrida de seu
~tuC.o da relação de troca.
Qualquer criança .-.abe que uma nação que deixasse de trabalhar, não digo por
um ano, mas mc!imo por algumas semanas, pereceria. Qualquer criança sabe.
também, que :l!. ma.\sa.s dos produtos correspondentes às diferences necessidades
rcqu('rcm ma.\\a.'> diforcntc.s e quantitativamente determinada.e; do crabalho tocai d:i
\OC.icódc. Q_uc C\\a, flt'<eJsid11dt• da dütribuiçâo do trabalho social en1 propcr~óCS
dctínid;i_\ nio pode .. . d .- 0 50cial.
~r e11m 1nad:i por uma farnlll p11r1im!t1r da pro uya
m~ apcn;t\ mudar ~cu rm,d11de11p11riçiio, é. algo evidente por si mesmo. E a formª
pc1a qual cs~a dimibuiç:10 proporcion.:il do traba{ho St" afirm;t nurna sociedade
onde a intercon~xão Co [taOa..'ho social se manifcsca na "º'"" prif, u/d de proéuco."
1
·.,,/'
478 HISTORIA 00 PENSAMENTO ECONÕMICO
outras doutrinas econômicas em que foi tratada. Ela é um meio particular para
a rea\ii.ação de uma função social universal, promovendo a coesão social numa
sociedade que não é unificada por nenhuma instância jurídico-po!ítica. E isso
não significa di 7.er que tal instância não exista, mas que seu modo cspccífico de
intervenção consiste em não intervir, ou em suspender toda rt·gulaçáo que possa
apresentar um obstáculo à produção ou ao comércio dos ag\:."'.ntt·s-produtorcs.
Assim, Marx lança mão da teoria do valor·trabalho ap..:nas porque vê nela
a possibilidade de indicar a presença, por trás da estrutura das proporções da
troca de mercadorias, de uma segunda estrutura sobre a qua! a primeira está
assentada, a saber: a distribuição, entre os vários ramos da produção, da força
de trabalho socialmente disponível. Em seu próprio vocabulário, a troca de mer·
cadorias converte o trabalho privado em trabalho social. Mas essa interpretação
da lei do valor·traba\ho constitui rea~mente uma subversão total do significado e
do objetivo da lei cm comparação com seu tratamento nas doutrinas burguesas,
incluindo a teoria ricardiana. E ela imiica que, em.re o trabalho e o valor, existtlm
relações estruturais muito mais complexas do que relações mecânicas unilaterais que
temos em mente, mais ou menos conscienÚmente, quando falamos de uma relação
de caiisa e efeito. Pois as relações de troca de mercadorias não são simplesrocntc
0 resultado da distribuição proporcional do tempo de trabalho social global;
.·· ...
,. ,
ramo a outro. gcr.1.l do trabalho ou os movimentos de co1.ptr.i
'•,.
POSFACIO A ED•ÇAO lf!IC~E:SA 47
~iJ.r.i i!"--.o. A o:ios:ção c;uc e!c es[a':>elecc enue uma determinação "prática" e uma
6c:tcrm:.naçáo "[eórica" C.os fins da economia poh'.tica - uma oposição que [Cm
~m ~mcre'!.sc: in~iscudvc! como ddimitaçáo preliminar de objetivos - não é sufi-
ciente para cc;gotar as várias !mp!icaçóes dos diferentes entendimentos da teoria
Go va!or. ~uma palavra. as concepções epistemo?ógicas de Rubin nos parecem ser
cara\:teri1.ac!a"' ?OC um excessivo esquematismo, no qual ele obviamente imagina
que o conceito de "t"'-oria" possuiu um significado inequívoco. Ele atribui a toda
aborci.agcm que vise à descoberta das causalidades que regem a realidade o quali-
h..:.atívo de ..teoria" ou "ciência" - ambos os termos, para ele, são sinônimos. Ele
jamais duvida que a própria noção de causalidade possa ser problemática e ter
difcrc.·nte'!. aceitações de acordo com a nature-1.a dos objetos entre os quais a exis-
tência de uma relação causal é investigada. Ele não suspeita, portanto, que a c:au-
salid.adl! pos."'3. não ser a mesma coisa numa teoria que faz do tempo de trabalho
concreto a causa da magnitude do valor (a teoria ricardiana) e numa outra te0ria
que trata o trabalho concreto como a substânda do valor (a teoria de Marx). Mas
C!I~'\ ra1.áo metodológica não é a única coisa que explica a negligência de Rubin.
Sua cegueira para a incompatibilidade irredutível entre as teorias marxiana e ri·
cardiana também deriva da indiscutível ambiguidade, tanto dos cextos quanto,
provavc\mcncc, também, do pensamento de Marx. Pois não se pode negar que
0 ti..>xto de O (llpi111/ n;\o é inteiramente livre de elementos lieados à versão ricar·
diana, iuo é, ao conceito de uma relação causal direta encre: cempo de crabalho
rfet~vtJmentt de..pcndido na produção de uma mercadoria e o valor dessa mera.·
don.;\, F.n~ntramos uma claro. indicação disso, por exemplo, nas linhas que Marx
dc.-d.Lca " alguma\ proposições que :i;e seguem da redução do valor de uoca :10
tempo de uaba\ho.. {M 1970
'-.feito da <."V 1 ~· . ' arx., . . ª· P· 37). Sob essa rubrica, Marx tem em vista 0
.1 . 0
uç.\o da pmduuvidadc do trabalho no valor de croc:a. Marx diz essen·
eia mente que, i.c o valor de ti' d . -•o
pelo d oca e uma mercadoria é efetivamente deteraunau
tempo e tr.1balho necc"irio . r r'!'li:
pr.)duüv , • para prodm·.1-lo, cmáo a estagnação das ior.,-
ª' 1.:, por Cl\ni.cg,uintc do pc.· • d0 d od · d<
uma mer.,·.ac.\oria t. d ' no e tempo neces..o;;\rio para a pr uçao
n.l rrnJutiviJad \:: e 1'.'!.ultolr na e'tabilidad(' dl!~'i!.!' valor de uoc3. Urn aumento
( e.: tr,1hotlho no nm b . . da no
VJ.\or c.\.\:1. unic.hJ. d. ' 0 so con:;adc.•r.içlo provoc:.u.1 que •
rrov,1i.:.tr,i, ao ~ll::r' t. R\t•ri.;;\dc.iri.i., J.O p;l~\() que Unl J('dinio nJ pí\.""lfundiJ.tJ~
.i.r~\\nl\'n1.1.,_.\" J. ·lr~'· ·Ul~lc.'nto nc)l,M.: valor. Enl.'.c.\ntr.i.mo.~ .i mcsm.1 forn1.i de:"
. .: "'º o ma1)o :<i.U-.:i.nto, l'nt O r11ri111/ (M.mc.. 1974.. v. 1. P· 2(.,_.~7).
P08'1ACIO A .EDIÇÃO IHGi.cs... 481
~
lcitorcsconttmporãncos ral
definições do conceito d ~ mente não arentam para as dificuldades geradas pelas duas
. . e tempo de trabalho socialmente necessário" de que ua1arnos
• bºd•
rrJ4k· entanto, destacam-se por terem pero: ~
Stru~:!,º~ M.arx~ Capi1al (l 9GB, v. l. do concci~o: por exemplo, Rosdolsk~, /,rtJ
de 1 ~ &pirallugnffi bei /(ar{ M. cap. 3) e, cspcc1almcntc, Rcichclt, Zur fogue. .
cmpo dc1r:i.halho SOcialrn .arx 0974, v. 3, A-4: "Digressão sobre o concc1to
cn1cnCCcssário").
POSF AC 1 O A E OI Ç AO 1 N OL ESA 48~
para o valor de q ualquc:r outra mercadoria assim como o tempo de trabalho nc~
cessário para a produção de uma esrá para o tempo de trabalho necessário para
a produção da outra" (Marx, 1974, v. 1, p. 47 [ed. bras.: Marx, 2013, p. 117]).
Leremos e releremos essas páginas em vão se quisermos entender como Marx
atribui tal poder operarivo ao conceiro de "rernpo de rr.1halho socialmcnre neces-
sário". As razões por que ele dá a esse conceito tamanha importância devem ser
buscadas em ourro lugar. Por "outro lugar", emendemos uma outra definição do
mesmo conceito. E isso só é formulado expliciramente no volume 3 de O c11pit11l
contra os partidários da concepção que ele chama de "economicista" lança lUJ. sobre
os profundos motivos d · . bef11
d. e sua pos1çao. De fato, ele compreendeu perfeicamence
que cocar qualquer espa fc ~ • • • d 6 içáO
do conceito seria arn ço para rc erenc1as que não sejam tecnologu:<tS na e n ns#
forma;ots _ eaçar 0 papei exclusivo da produtividade do trabalho e dm 174
qur ek sofre na de. . ~ · pi/OI
(cf. R b· urmmaçao tÍIJs valores das mercadorias e seus movim
• U ID, 1972, p. 195-206) S J6 ·ça do
uabalti .1 · · omente uma definição puramente tecno gi
0 SOC1a mente necessári. . oduco
como uma vari. e! . 0 pcmuce tomar a unidade de valor de um pr
av independente da d .L d rnofl.S#
ttaç.ão nos cap'tul emanua, e essa é a parte vital de sua e
J os16cl7deEn.saios.
POSIFAC!O À ISDIÇÃO '"'OLC~A 465
Sobre c~s.i qu~c;\o, as obras de Louis Nchus.o;er apenas aruafilà'.lf'Jm uma tese dís.sici. da
cxcge~ marxista: cf. Alchus.o;er, 1970, cap. 2, B e 9.
ç;.·
._,,.
486
uma fase de distribuição> uma fase de troca e uma fue de consumo podia pôr em
mo,·imenro uma p1uralidade Ce causalidades recíprocas. Além disso, ao final da
segunda parrc dessa obra, ~farx prevê que essa reciprocidade de determinações
talva derive c!o paradigma ci(nti.fico imp~ícito que inspirou sua reinterpretação
da !~i ~o va!or. Ta.1 p.uac!igma consis[e em comparar a esfera das relações sodrr
~conom:cas com km org1111ümo cujo processo vital é inteiramente ordenado pelos
impera.th·os da sobrevivência.
Está claro, no emanco, que a proc!ução, em sua forma uni/aura/, é ela mesma de--
terminada pelos outros momentos. Por exemplo, se o mercado, isro é, a esfera da
..... ,
A inAu~ia da biologi3. é pcrccpcivcl n:is: merát'°i."lr.is a que ~:irx ~\°l~rc nu~ f"?"oso
taco (Marx, 1969, v. 2. p. 1S2-l S9). cm que ele comparJ. os respccuv~ ~ctOC<>$ de
Srnic."i. e Ricardo. ~ele, Smith é criti..:ado por oscilar em constante ambigwdade entre
dois planos hctcrogc!noos de ano\!ise, o das "ap-.a.r(-nda.o;. de competiçlo" e um ou~~·
situado sob o primeiro, no qual são articuladas "as rc~açõcs- internas do s~c~ma ~urguc:s_'
sua ..escrucura oculta", sua '"6.siologi.i incern:i' ou suas ·relações org.uu~ 1 ~t~r~ 35· •
O mérito de Ricardo é, por outro lado, daramc::nte ter mostrado a ·\·eN!ai:~irJ. ;o;.:o.~u.
da sociedade burguesa•. A metáfora orgânica é ainda mais 6b'ia. na ~"la. ª cnt!:
russa, que descreve o método de Marx; ele a cita com aprovaç.io no PostJ.Oõ .i scgun
edição alemã (Marx, 1974, v. !, p. 26).
rüo ~,.,.J.,,· ~r ((.'n.:c.·hido .,c.·m um fim, e tal fim não é senão a reprodução de su~
...·onc..1 i..;~\C'' inct'rn.l.' de.· n:i~tl·nda, ou ...cja, da vida. Dcvc-.\e c.c,clar<:ccr ao máximo
<°''<." p-.:.•nttl .imc' de p\ir <."m quc.,r:lo o prindpio geral de interrogação de Marx. Se
<i1')l"l.im._..., ,1 c., ..c.· prin(Ípio c,;m nome do., impa.,.,c., a que de no\. par<.·cc conduzir,
c,l so.: quc,ti ..-..n.im<>... n;\o {: c.·.,ra ou .-~quda .fin.11id.1Jc, arríbuída arbitrariamente ao
permanece ahcrt<.1 p:mr pr1•,o.,ívcí., tcm;,~ÍV'd', de r1:v1r,·.uu-;.:lri •i<Jhrc a bav.: r!i; 'Jrtia
tooría emendada do va!r.1r-m1.ba!h1), O•J ·.rhrc <.11Jr:ra ba.-..c q•Ja!qucr. Ora, <.a.hcmrJ',
que tai~ tentativas ~io juc,tamente aqui!r., que a pcv11..1ha :i.ca~émia. aG,r,ra, ma.e,
elas são a <..-vidência de que toda'!> a'!> Hçf..>e\ dr.1 fraa.sv., de O capiuz/ não foram 3.\-
similadas. As plenas implicações de~o;e fraca..'iso W ?Odcm ser ª?rcciadas em \Ua
totalidade com uma reconsideração do conteúdo que ~arx conferiu a seu projeto
critico e, em particular, por uma investigação do papel nele desempenhado pelo
conceito de um equilíbrio da reprodução social que, por intermédio do mercado,
é realiudo por detrás dos agentes econômicos.
... final prevista na lei da queda tendencial da raxa de lucro e nos meios. de dcitos contra-
ditôri~ que os proprierários de capira.is põem cm obra. J. hm de aliviar cs..,;a caxa di..'4..'rl"!i·
j. ccnre (conci:ntraçâo e ccncraJizaçio cn.>sccntes de capital). E..-.;tricamentc falando. essa tei
conscirui a lei do descnvolvimcnro do sistema de produç;io 'ªPitafoi;ra. Aférn do mai.~. as
cri5c$ cidiças e a tendência dc..-crescente da taxa de rucro C)tão ligadas (Marx. 1974, v. 3.
p. 256-257). Mas as crises podem ~er concebida...; como momentos inseridos n:1 rcgufaç:i:o
do sistema, visto que. no final, das re~tauram um novo equifrbrio i.."X<tl•lnlencc no ponto
em que permitiram o colapso do equilíbrio am~rior. Ao conuário, o fenómeno da caxa
deck'SCCntc de lucro nos dá, de acordo com Marx, uma ch;1.vc para a comprcensJo dos
limite.~ da pr0duçã:o capicalisra. Pois a '"r.axa de lucro", e noío a produção de vak~tc:!ri de
uso. é a '"força que mociva a produção capiralisra" (Marx, 1974. v. 3. p. 259), .'\ua queda
cnfr.1.quc.-ce a principal força mocriz da acumulação, dcsencorai.i a consriruição de novos
capicais aucônomos e parece ameaçar, numa data fucurJ, o dc.scnvolvim<!ncO da.iiô forças
producivas (Mane, 1974, v. 3. p. 260-261). f: por isso que, diz .'vfarx, os economj!J,cas
rêm um genuíno "horror" quando notam esse fenômeno, pois a produçJ.o capirafüca
se mostra, aqui, noío como a forma absolura do desenvolvimento das forças produriva.llõ,
mas como uma forma cransjcória que um dja impt."<lirá eSS"e ~envolvimento, d.::pois de
cê-la ajudado incomen~uravdmcoce cm comparaçoio com rdaçõcç de produção am~riorcs
(~farx, 1974, v. 3, p. 241-242, 260-261). É, ral~1.. surpn.'Cndc:nce que, ao lid:u com a
crítica manãana da economia polfrica, foquemo~ nos.<a acenção na ccoria da$ crisC'$., mais
do que na lei da qut.-da (cndcndal da cllxa de lucro. A ra1.ão é que esm.mos intc:res~.1dos na
inrcrprctaçJ.o de O eupi1t1/ realizada por Rubin. a qual rem co.mo eixo cc:ntral o problema
do \'alor, de modo que ele.: raramence tl'3'3 do.\ temas do volume 3 de O t't1pitttl. A reoria
da\. ~ri'IC.~. ~o entanto, dii rcspeico dirctamcnce a uma quesc:\o que a intcrpreraç;io de
Ruom traz para o primeiro plano da análise, a saber, o papel da.~ hipóteses do equilibrio
na conwuç.i.o de O t11pi1ttl - o que explica a ênfu$e que aqui damo.s a ess:t questão.
.. c.'"''"r.•o" r.01ç1.'"J ,,.,_ll;A. 49;S
Com rc.·~pl'ico à lei da qu1.-da ccndcncial da c.u.a de luc:ro, um;1. cricic.1 f!'X.'.luscíva de
.\1Jrx njo poderi.1, e.~ d.iro. evir,u um;t inrcrro,g.içiio do c.r.uuto e d.t va!idadcd:i. lkiMns-
tm1f:io que: .\far.\ ÍJz d1."i\J lei. :\'os conrcm.m.·me)) com ~uhlinhJI o S\.~uime ponto: a
dcmon~cr JÇ.iô de Mal":\ da lei da qu\.~a rcnd.:ncfal da tan de lucro nos pan.'C'e deri~·Jr d.i
'oncc.•plf:l,> ri..:'ardfan.i da t1.'0riJ d.o valor. Uma afirm~lo ª""im /.:,sem Jú,•ida, par.tdoxal
par:i. .lqudL·s que ,abcm que Ricardo propõe uma demoni.trni.·J.o do m~mo fenômeno ro-
c,1lmc:-ncc- <.!i~cinc.i. dilqud;1 de ,\.fane.. :vfa.,. lembrc.•me)) que L~Mmos con.,idcr3ndo como um
c."k·01cnr~' rkMJi.cno no pen..,.\menco de .\farx a l:'oncc:pçjo Je .lCordo com a qual ;t pro-
Cucí\·ióde d-0 trJb.dho - e 5Uõl.S varia\"Õcs-é a causa dín:r.i. C' txelusiva da m:tgnicudedo
va!or do pn,,c!utll-m~·rc:11fori.1. t' da." mucfanç.l.~ quçck sofre. Ora, de faro, c.'ffltlconccp.;jl.'I
da rdJÇ[10 cr.ib;lthofvalor qut' ~usccnc.i a dcmonscrJçáo marxiana da t.ua dccn:.M:cnri: Jc
lucro, um.1 w.7. qot' y.\ cc.•ndi·nd.1 pro,g.n.-.~.,iva dC' um.a queda na caxa gcr.11 de- lucro é,
pon.1mô, Jpt'n,1~ mn11 c-xpm.,1io pn.wlittr 110 111odr1 de prod1tf1in e11pi1t1/i1111 do dc.,cn\•oM-
mcnci..-.. progre.~:,.i\'O éa pwJudviJade .r.o..:ial do tro1:b.1lho.. (~fan:. 1974, v. $, p. 2B). Ao
comr.irii.', a ade.·'·~º ~·llcrit.1 ''º signi6cado ~ociohlgico J.i ld do valor. i~ro é. seu signiticado
PWi"ri.m1cntc.' m;ir.,.i.ino, que o converte numa ld que rc,gub a distribuição do rr.1.balho
sod;il cncrc LlS difcrc.·nrc:s r:.\n10.~ de produç.í.o. priva de ~ignific.1Jo qu.tlqul'1' qw.ncificõ1çlo
glnh11/ do valM (ou do m.tb-valor) produúdo pcfa cocalidaJe dos r.imos no i:ur51) de.· um
cido dL" prWuç{ro. Esse.• !'li~nihcaJo marxiano põe t.'m çuc:~táo. conR"qucn11:ml•nsc. cod.ts
3.1' tt.'l\C.iÚva.' de c~timJr ;, vari.ii.·õcs qoantiwívJ!i d.1 mõbsa c:lt.' m.u.vvJlor produr.id.1.
asi.im .;(1mo da t.\x.1: de lucro. ls.o;o .;onllrma .1qui/o que:' di~~mo.~ an[criorml"Dte. que 0
C<lnCL·ito ricardi.mo de mais-valor c:merg.: pred!'lal'TTL'nt~ etndc o pc.'m.irncnto de .\fan: )C'
~cpara com sua,, prÓpri.1.s difii:ul~ad~ int~rnaç. . • • . i s eraill. n m-st" tC)J,l:' as
Par.\ proV'df que a rrodu\lO 'ªpnafo•ra n,l('I pode 1~,~~ ~ !,;Í St.'~3.~c."Cc."fÍ~t: l'.'P'-"<:ílios-
SU;\$ l:'ondii.·ôcs. e ~orma.' di~cinca.~, t~~ os se~s pn~l'~ª~. e ."sol: ct: ;\1.i.rx. ;%9. v. 2.
~m suma. a propnJ pr11duft/ll 1wp1111/11111 (~fdrx. J9(: ~. · P
p. '2~1.
496 HISTOR•" ºº l"CNSAMCNTO ecoNOM•CO
checrou ao fundo de sua teoria das crises. Sem dúvida, uma afirmação cão peremp-
tóri: como essa encontraria muitos economistas marxistas prontos a contradizê-
-la. A maioria está de acordo com o fato de que a teoria da.-. crises está incompleta
em o capital, mas muiros a consideram, apesar disso, uma base sólida para uma
elaboração ulterior. ~ós, no enranco, pensamos que as hipóteses constitutivas de
O(apitai são um obsráculo a isso. Não podemos, no âmbito rescrito deste posf.í.cio,
enfrencar as várias teses formulada.iç sobre essa questão e antecipar todas as pos.sivcis
objeções à nossa posição. Devemos restringir-nos a jndicar o probh:m.1 dl'cisivo
que é, a nosso ver, o obstáculo inevitável para todas as tc:'\lrht.c: que.· pr"·t"·ndt"m. dar
continuidade a O capital. tentando estabelecer uma ponte- (,,'ntrc.• o plan"\ .th.suato
no qual i;uas anáJisei; se desdobram e o escudo de conjunturas (,,. . . . n~r"·r.1:-0.
É verdade que, tanto nos Grundrissê como cm O ''lfi:d!, ou nJs 1i•ori11s
áa m11is-ualia1 encontramos os elementos cspJ.rsos d.e: um c~tudo das 'rbcs.
A parce 2 das Teorias da mais-valia chega a nos dprcsencJ.r umJ. .sinr"·sc- suficien-
temente completa para que possamos nos basear nela intdr.amC"nce. Entre outros.
dois estágios sucessivos nesse estudo podem ser idc:ntificados. como j:i era o caso
.
,1,
cm O capital {Marx, 1974, v. 1, p. 145). O primeiro ~onsistc: c:m n:vdar. passo a
passo com o aumento na compreensão da., regu~J.rid.a.dcs pccu!iares ao i;iscc..·mJ àe
l produção capitalista, as formas que já trazem consigo a j>O.'Jibilitlr1de de: di!lun-
O primeiro capitulo dos Grtmdri~e mo~tr.i 'ºm total clarc1.J. que a rcorg;.mizaçào
marxiana da reoria ricardiana do valor foi mocivaCa ?Or sua ?rcocu~~ào cm diminar a
possibilidade de uma interpretação utópica de.~~ tooria, imerprctaç;io que j.i. era reali1.J.d.1
pelos parcidárjos dos cenilicados de tr.1balho :Jabour 1uk~11J:. O ponto <!cci:-i\•o dcs~a
critica era mostrar que o tempo de trabalho efetivamente ga...;.:o na produção de men:ado-
ri~ não poderia, de modo algum, servjr como medic!a direta c!oi. valorc:.1o, ncnl t.lmpouco
como o prindpio de distribuição do ganho sociai. A "gênese" do dinheiro - isto~. a
dcmo~traçâo de que a ~nerali7.ação da. forma·mcrcadorid do produto implitw .1 c:o.pc·
cia.!il.1.ç.i.O de uma mercadoria particular na função de cquiva:cnre univerc.a.l - adquire
significado no âmbito des.\a polêmica. Sua realização é suii,icntc para c.1ota~·lccc:r que o
sucesso do ato de troca depende de outros fatores. Pois a exi:-tc?nôa do dinheiro di~:..ocia
a unidade da. troca.- que existia na ~rmura - em doii. aros distinto!.: compr.i e venda,
~ue "pode~ ser com:sponGentc=s ou não, podem se t.-quilíbrar ou não e podem cntrJr cm
OC$proporçao um com o oucro. Ccrc.unente. eles sempre tentarão cquali7.ar um .:om o
outro.; m~, no lugar da antiga iguoUdade im1.>diara, emerge o movimento constame de
e~uali 7..açao, que pressupõe, c:vidcnrcmcnrc, uma mio equivalência constante. Agora é in·
~irarn~nt~ ~ivel que a consonância s6 possa ser alcançada passando pda mais extrema
di~nancaa (Marx, 1973a. P• 148). E as.sim está dada a forma mais dementar da crise.
·-.....__ ....
497
· 1 em gc•ral
d o c;1pu;1 • os preços das mercadorias são considcrildo~
• , no qual . como
idémicos aos valom das mercadorias" (Marx, 1969, v. 2. p. 51 5). Sabemos <]Uc 0
plano da obra sofreu inl1mcrns modificaçôcs no curso de sua longa e trabalhosa
elaboração. O que foi fdro da seção sobre a compcciçáo no eshoi;o fi11;1I desse
plano? Rosdolsky apresenta uma discuss;io dcrnlhada desso1 <]Ul'StÚl> l'lll ~ll•l <11,r,1
exegética dedicada aos Gr1111dtisse. Ele chega à condu~ão - a nosso \'l'r, L"n1win-
cen1c-dc que Marx, à época cm que escrevia O c11pi111!, l.·m p.1niL"ular '' \t1l1111ll.: .\,
abandonou a principal disrinç:io por ele cstahclc<.:id;t na lnrr,ll..l111,.·.il1d1.·18"7 l'lllrc
a an;ilise do ..capilal cm geral" e a da compcti\·jo (Ro:-.1.h1l:-.ky. l lJhX. '" 1. p. Jc, c
n. 35). Uma gmn<lc p;1rtc dos tem;1s ;.uneriormcnh: dl·111..:.11J)s s,1h l'~~.1 !ll'gund;1
rubrica foi absorvida na an;ilisc do ..C•tpirnl cm gL-r.11". Apen.1s .1lf_1111s prohlcm;1s
cspL-cífic.:os, entre eles o do "mo\'imcmo n:.1! dos pr1.:\l)S dc lllt'r(.1,lo", IC.ir.un pm-
tergados, desse modo, para um futuro cstudo ~obre J. comp1..·tiç.io. ~las ~larx rüo
considcmva a nccc.'i'ii<ladc dl'ssc csmdo algo ..:rudal p.1r.1 su.1 obra. "() mm·iml'IUO
amai da competição C!ltá fora de llOSSO cscopo. Jc mOdll quc prl'..:i:-..1111os ;1pen;t!I
apn:scnmr a organiz;1ção intl.'rnil <lo modo dl.' pwllu~jo ..:.1pitalist.1 l.'m Mlil m~Jia
ideal. por assim dizer" (~farx. 1974. V. 3. r· SJ 1). 1:. Pº''Í\"d. no l"ntanto. (011..:t.'<lcr
que Marx limitou suas :.unbic;ól.'s inidais e dn.:um..:rl.'\"CU sua uhr.1 ao c:-.tudo <lo
"c;,1pital cm gcral", acre!l.cemanJo a is'o ;1lg.uns tl.'lllil!I que: n;io pcrccndam origi-
nalmente a esse co;;mJo. É igualmente possí\"cl !tu..r1.:mar, ao mc~mo tempo, qul.'
náo há nada <.JllC lltlS impl.'Çil de realizar o l"!'!CUJo do ''mu,·imcnto real Jo3 prl'c.;os
de mercado", que. segundo a pr<Ípria 3\'i.lliaçáo de ~1arx, é indi.,pcn..,1ivcl para um
entcndimcmo completo do!t ICnômcnos d;ls crises. ~la!t é cxatamcnh.: aqui qul.'
rcsidt: a dificuldade. Sc:ria possível, sobre a base dil ccoria marxiana do \";l)or ou
dos custos de produção, construir um novo est;,ígio qul.' indua urna tl.'oria dos
preços? Ou, formulado de outro modo: p<>dl.' o procc3SO dl.' connctizaç:10 aludido
c~pcdalmcntc no começo do volume 3 de O mpirt1/ - um procc~~o quc no!t é
l.'xpmto "passo a pa!tsu" sob a forma que ele a~sume "na superfídl.' da sociedade,
na ação de diferentes capitais uns sobrl.' os outros, na compl.'tiçáo e 11;1 consciência
comum dos préiprios ílgcml.'s <ll' produção" (~farx, 1974. v. 3, p. 25)- transcorrer
sem qualquer imerrupçáo, pcb adição dc novos parâmetros e sl.'nllo conduzido
à explicação das cau~as dos movimentos dos prcço.!t? É preciso observar o que
aqud~s aurnrc~ que idcnrifirnm as particularidades mctodolcígic;.1s da abordagcm
marxiana - referimo-nos, aqui, 110 "méwdo de st: dcvar do abMraco ao concreto"
(M:lrx, ) 973b, P· 1O1) - têm cm ntl.'OC!.! quando invo..:arn os novos p;,u;imcuos
...... _
499
e!tlloas leis não podem ser observadas cm seu C.'ilado puro ,,,; tj11e a oferta e a de-
mantÍlt deixem tk agir, isto é, sej11m igr,,1/adt11. Na realidade, a oforta e a deman-
da nunca coincidem. [... ) Mas a economia polhica supõe que uma coincide com a
omra. Por quê? Para poder estudar os fcniJmcnos em suas rdaçôes fundamc:"ncais,
na forma que corresponde a sua conc.:epçlo, i!tto é, para esmJâ-los indc:"pc:"ndcn1c-
mcnrc das aparêndas cau!riadas pelo movimc1110 da oferta e da Jcmand.1. A outra
ra1.:io é c1u.:ontrar as tcndêndas atuais de M:US movimentos e, cm c:crtJ. me<liJ.1,
registrá-las. (~farx, 1974, v. 3. p. 189-190)"
l"r:-;.J, p. (w'>-6~:!)
Cf. nossa interpretação do papel da compe[içlo na relação da.-. leis do modo de pr<.~uçáo
capitalista com seu tratamento cm Hegel: '"Es.o;e.s va.,.to.s agn:gados de voliçócs, imcrcs-
ses e acividades con~titucm os ins.crumc:ntos e os meios do Espírito do Mundo p.ira a
obtenção de scu objetivo; tornando-o consciente e realizando-o. ~ ... ~ Ma.s que aquda.s
manifo~caçócs de vitalidade por parte dos indivíduos e dos povos, em que ele) procuram
e !)itisf.u.cm seus próprios propósiros, sejam, ao mesmo tempo. os meios e os instrumen-
tos c!.c um propósito maior e mais amplo do qual eles nada sabem - que eles realizam
inconscic:ntcmcnte-é o que poderia ser questionado'" (Hegel, 1956, p. 25). A inAu~nda
q~c õ\.3. ~brade Hegel e, ra.lve-1. mais ainda, a lógka CX('rceu na constituição de O c11pital
ainda esta, ('m nossos dias, 1ong(' de ser perfdrnmcme elucidada, apesar das inúmeras
obra.~ invcst'.gativas que a.s relações entre Marx e Hegel in5pir.tram. A ra7.âO é que poucos
auco~ dedicaram uma atenção sh.tcmárica às rstruttmts da obra, salvo algumas raras
excc:çuc:.s. dentre as quais estão R. Rosdol,..ky e H. Rcichclt. A afirmação de Reichelt de
que a lei do valor é ..um tipo de !oÍnCC$C' cransccndcntal, um prindpio unificador que age
sem ~osw conhccimcnco no plano d.o trabalho social" (Reichelc, 1970, p. 144), causaria
.trrc:f10s cm muito'> marxistas persuadidos do materialismo da gnosiologia marxiana. Mas
ª su~screvcmo:i..sem hesitar, por ra1.õcs que se mostram de: modo suficiemementc claro a
partir de no:i.~a interprctaç:lo do signiJicado particular que Marx acribui à "lei do valor".
PO!r."AC10 A t:oo..,A.o ''"<>~e-..,. S03
uma produção cujos parâme[roS foram rndos comrolados, eles negam a desordem
consdwríva da produção capfralis[a de mercadorias. Mui[o an[es que a ideologia
ciemlfica formalis[a dvesse aler[ado para essa concepção de discurso econômico,
a nJwra.a dos problemas posrns pelas doutrinas econômicas "burguesas" havia
preparado o terreno que seria subsequentemente ocupado pelos modelos mare-
m.i.cicos. Marx denunciou esse princípio quando criticou, como um sinal caracce-
risrico da abordagem apologética, o faro de ela assimilar a produção de mercadoria
à produção "social", de modo que a "sociedade, como se de acordo com um
plano, distribuísse seus meios de produção e suas forças produtivas no grau e na
medida requeridos para a satisfação das várias necessidades sociais, fazendo com
que cada esfera da produção receba a cota de capital social requc:rida para satisfa-
zer a necessidade correspondente" (Marx, 1969, v. 2, p. 529). Visto que concebia
sua abordagem como crlcica, o próprio Marx esperava pôr a questão inicial da
economia política de um modo diference.
Ao contrário, a questão que tem de ser respondida é: uma vez. que, com base na
produção capitalista, cada um trabalha para 5-i mesmo e um rrabalho parcicular
... tem ao mesmo tempo de aparecer como 5eu oposto, como rrabalho geral ab.1otrato
e, sob essa forma, como trabalho social - como é pos.1oívd adquirir o c:qui~íbrio e a
ima~em_ técnica dos interesses de classe da burguesia. ~ ... ] Modelos de expansão em equi-
libno v1.1oam aos objetivos de classe sob o pretexto de pensar seu objeto (a economia das
alegadas 'sociedades induscriais') [... ]" (Badiou, 1969, p. 16).
505
teoria marxista parece constituir uma prova direta da i . .
menta te6rica fornecida pelo mod l d ·1 . ndependcnc1a da ferra-
. . eo ocqu1 ibnonaeconom·1 l .
1deolog1a que justifique 0 sistema • . . acm rc açaoatoda
econom1co ex.mente
Temos aqui um tipo de demonstração ada~ d
concluir que o sistema capitalista de produ - . 1 'SU7i um ~uc nos força a
. çao e rea mente um sistema cm e ui
librio e que as reviravoltas que o afetam p · d' :q •
eno icamente podem ser atribuídas
a fatores externos a sua lógica intrínseca? Na v d d . . .
. er: a e. ta1 cone1usao s1gmficaria
mc~~rer no mesmo erro daqueles que empregam modelos abstratos na economia
polmca: o erro de confundir as capacidades operativas do modelo teórico com
as propriedades do objeto real. Pensamos que é possível e legítimo int.erpretar os
impasses da teoria marxista de outro modo. O centro de interesse dessa teoria é.
obviamente, diferente daquele da maioria das doutrinas econômicas burguesas:
compreender as Autuações conjunturais nos preços é de pouca importância para
a teoria marxista. Como vimos, a lei do valor, cm sua versão marxiana, é. ames,
um princípio de organização no sentido que esse conceito tem para a biologia da
primeira metade do século XX- uma estrutura invisível que assegura a indepcn-
dt-ncia recíproca das estruturas visíveis e que, garantindo o ser, anima a própria
possibilidade da exist~·ncia. Mas, por mais diferente que o paradigma impliciro
da abordagi:m marxiana possa ser, em comparação com os modelos formais que
inspiram a economia polidca amalmente, ele compartilha com elas uma hipótese
principal. Quando aplicado à esfc:ra das relações socioeconômicas, o paradigma
marxiano impõe-lhes a forma de uma totalidade fechada dotada de leis "na<urais".
isto é, leis independ~m:es de possíveis intervenções de instâncias políticas, jurídicas
ou sC'lciais. Marx acolheu, sem hesitar, o postulado da economia política burguesa
de acordo com o qual o mundo das relações sociocconômicas é habitado por uma
dinâmica espontânea, regulado por uma ordem imanente.
A análise de Rubin ainda l-, uma vez mais, altamente instrutiva. Sua fi-
delidade a Marx, mesmo naquilo que era, talvez, um prc..·i.::oncdro a limitar seu
pensamt:nto crítico, se mostra nos comtntários que ele dedica aos concdtos d.e
"direiros naturais" e "lei natural" tais como empregados, respectivamente, pelos
.
fisiocrataç e por Smith. ~esse ponto, o leitor pode consu1tar os capítulos 11e17.
.,
. .. . ratas e capitulo ko, no
que tratam do cerna dos "direitos naturais nos 6SlOC ' 0 ral"
. . bre o concdro de "natu
qual encontramos observações mu1to pcmnences so .
. h a1 o nos 6.siocrar.is, o con.:c1ro
em Smith. Rubin afirma que, em Sm1t • t com . • . funde
d la óes soc1oecononucas •
de uma "naturalidade" peculiar ao campo as re ç
506
11111 ,.j .. mli1..·.iJl, tc.'tlrk'l, ..:om um signifü:aJo axiológko: tc~íri~o ".ª medida em
"!m· ,, :., 111 l·c:im Jl~ignJ um.1 rcguharidadc cxprimiv_cl cm lei~ _cu!nt~fic.:;u.• uma ~·
~ul.iriJJ.J,· c:.. pimi.mc.uuenre po~rn cm ;tç.il> pela ll\'rC m;m1tcst~ç:.10 dos dcscios
e inin.niY.b iiH.li\·j,fu.ib; axiolligka pun1uc c.·:i;sa urdem, s.:n<lo mdcpcndcrne de
"'•LI intcm:nlj.ill institudono1I, dc.·,·c trou.cr o máximo de hem.estar, tanto para 0
inJi\iJuo , 11111 ,l p.u.1 a sodcdaJc.• ~l.1s s1• Smith 01inJ;1 jll!'.t:tpôc ns usos tClÍrico e
i.lt-.ilii·•iúJ 110 tC"rmu "n;uumr, de nornmlmcntc n;io os confum1c. De acordo com
Ru'1in~Smith foi 0 primeiro a limp;ir o terreno par;t um csmdo prm1m1•me l1•1írirn
tL·nium:nos n.uur;1is. MA tr.msi\-.ÍO JL' Smith de um entcmlimcmo \',1lur;.nivo
1..f11,
~.l.1i' dl· 11111 ~":'"ulo dl·pui,, e num l:11111cxto hi.,t<'1rku nmitu <liíl..'fl'lltc, os h:liric.:u!> J,,
l·..:onumi.1 pur.t rcmm.mun Jt.._,.i,·crgunli;1tl,1111c111c, uma vc1. mah, C\!l,l!o bd.ts hipt.UC:!IC!I
'.Himi''.·1~. l'.1m d,.,, 1:1! como p.ua Smi1h, m. sil~nilit·.ulrn, ,,pnlo~Ctku e rr·árfrn !IC
llll~J.l'u~m cm'"ª dcfini~o do nbjc1u da 1c:uria et:1111l1111ka. A c.:omp;u,1 ~·.iu 1.l.1)>. Jifcn:ntl:S
ddmu""º de cconomi.t pum propo,ta por \"X Jlro1o;, 'lllC clc ulwiamc.·111c consiJcr•l como
0
0 1un·.ik·n1c\, C nmi10 duquc111c:. l'Jimc:im, l'lc Ji1 <JUc a cc.:on11mi;1 pma é "o c,cuJu Jc
lei\ de alg,~rn tno~u n.nurais e llc:"(tº\~âri.t\ de ac.:cm.1n com as qu.ii~ a UUL'õl, a produ,.io, a
N.l prnJw.;:m s.od.11 de \Ua viJ,i, U\ homem. est.ihc\~"t;o;:m rcl.içô~-s. J.ellniJ..l-\ q\Lc ~io
imli .. p1.:n.,.ivl·i:. e i1Hll'pcmh:ntc.'! Jl! sua VntU.\Jc, rd.lçt"K·~ d.e proJuç.io ll,lll! corrc:.-
pO!Hh:m a um nt;Ít~io ddlnido Jc su.ls forças prnd\ltiv.is m.ucdab. A somJ. una\
lln,.1.., rel.11,úl'.:. <lc pro<luç;lO cumtitui a estrulura l!lOllÔmiw d.i. sodc.:d..uli:, a b~c
n-.ll ">uhr1.· a qual ~l! ergui! uma 11upcresm11ura lq~.ll e política e à <1u.il corre~pon·
<lcm forma'> <lclini1.h111.k c:on:)ciênda ..oda\. (~\J.rx., 19".'0h. P· \81)
Ora, c:::.:::.as rdaçôcs de produção s;io dd1nidJ.s l..'.omo rdaçúes q~c _acarreta~
tanto condiçói:s juriJko-poHticas (e mc~mo ilko1ógit.:as.) como condiço~s ccono-
micas. Os suicitos Hvrcs que se encontram no arn de troca de mcrcadonas ou ~o
contrato <lc uabalho (uma forma particular da uoca) s:io livres apcnas·p·cla açio
arecem ser cond1c10nantes
de uma legislação e de um poder que, sob essa 1uz., P .
•• • • 1 • 0 casiona\mcntc que certos upm.
e condtc1onaJos. Na vcnh<l.c, Marx rc1,;on \cce • • 0
- . tos exm1ccononucos com
de rdaçücs de produçáo podem ter comuangimen . . s
. - . . . . . l "' ro<lução comunal mais ou mcno
sua cond1çao de ex1stcnc1a: por cxcmp 01 na P . _ como na Ásia,
prirnitiva" na Índia. ou quando o próprio Estado possul ªterra,
508 .. tSTÕH.lA 00
d.u "Form.15 <;u< prca:dem a produção cap1tal1sra (Marx, 197:•·.P· 471~. Sem
dú\•ida, algun.o; argumentarão que a atitude de ~\1arx cm relaçao as relaçoes de
pro~:iu\io :uio úmtiulas na mercadoria não contradiz sua abordagem das relações
d., produ.;io tk mirrddnrim realizada cm O capital l'aia ele, de faro, a auronomia
das !eis econômicas não é urna lei geral, válida para todas as formas hístórica' da
,rOOu.;ão social, mas, ao contrário, urna propriedade caractcristica apenas da'i
~:ações de produção de mercadoria.•. É apenas essa propriedade que, a seu ver,
c:xp;ica e justifica o nascimento e o desenvolvimento da teoria econômica, um
dcSC"nvo!vimento que segue passo a passo o aparecimento dos vários elementos
que foram integrados ao modo de produção capjtalista plenamente desenvolvido
- comércio, trabalho assalariado, cooperação na manufatura, mecanização, ecc.
Sio essas condições da produção de mercadorias, e apenas elas, e.que se afirmam
sem entrar na consciência dos participantes e que só podem ser ahstrtrídas da prá-
dta tlidria por meio de uma laboriosa investigarão teórk11; condições que agem,
portanto, como leis natrtrtLis, tal como Mar,.· tlemo11itrou decorrer 11etrs.tt1riame11te d11
nanireza tia produrão rk mercmlorias" (Engels, !974, v. 3, p. 899).
O conceito de fetichismo da mercadoria, uma ve-l mais, tinha a rart"fa de dar
conta da mistificação rcificante sofrida pefas relações de produção na economia
de: produção de mercadoria.ç. !\!o entanto, como dcvcmo.ç enrendt:"r css3 mistifi..
cação? Se a "naturalidade" das Jeis cconômicaç é definitivamente jfosórfa, a crfrica
da 1 ~nom~a política tem de negar a própria exisrl·ncia do objeto da economia
po,1tica e nao apenas sua p;erensão de va!idade para todas as épocas históricas. Ao
contrário, ao conferir uma validade objetiva - mesmo que refativa - àc; catego~
rias d. economia burguesa (Marx, l 974, v. 1. p. 80-81), é possível que o próprio
.V.arx tenha, no final, caido na armadilha da ideologia monrada pelo funciona-
~nco da sociedade capitalista, uma ideologia que designa à esfera economia pre-
ci~mcnte aquele lugar no qual o discurso de O c1Jpitt1/ ainda está situado.
Referências
Fontes pdm8rias
Fontes secundárias
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