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RESUMO
O propósito desse texto é analisar as adaptações do “estilo de vida” dos grupos sociais
oriundos das zonas rurais do estado do Amazonas que migraram para a capital, Manaus,
principalmente a partir da implantação do modelo da Zona Franca de Manaus na segunda
metade da década de 70. Mais do que chegar a conclusões definitivas, buscaremos destacar
algumas questões que consideramos relevantes para contribuir com o debate sobre o tema.
ABSTRACT
The intention this text is analising the adaptation of “life style” of social grups originaries
of rural zone of Amazonas states that migraties for capital, Manaus, maining from of
introduciono of Freedom Zone of Manaus in the half second of 70’s. But that to arrive at
definitive conclusions, searching pointed some questions that we to consider importants for
to contribute was the debate about the subject.
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O autor é graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM e mestrando do
Programa de Pós-Graduação em Sociologia – PPGS, também pela mesma instituição.
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INTRODUÇÃO.
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... sistema de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a
funcionarem como estruturas estruturantes, isto é, como princípio que
gera e estrutura as práticas e as representações que podem ser
objetivamente “regulamentadas” e “reguladas” sem que por isso sejam o
produto de obediência de regras, objetivamente adaptadas a um fim, sem
que se tenha necessidade da projeção consciente deste fim ou do domínio
das operações para atingi-lo, mas sendo, ao mesmo tempo, coletivamente
orquestradas sem serem o produto da ação organizadora de um maestro
(BOURDIEU in ORTIZ, 1983, p. 15)
Sendo assim, podemos entender que dentre os grupos sociais que habitam as
zonas rurais do interior do estado do Amazonas podemos encontrar um habitus que pode
considerado como geral a todos eles, sem, contudo, esquecer-se das particularidades de
cada um que garantem a diversidade e a complexidade marcantes desses grupos. Temos
então, grupos rurais migrando para as cidades e sendo socializados a partir de novas
identidades, provocando uma fusão entre grupos sociais heterogêneos que partilham de um
mesmo habitus geral e um grupo social ainda maior, mais complexo e que também possui
habitus próprio, ou seja, os moradores da zona urbana, constituídos basicamente de uma
pequena-burguesia resultante dos resquícios da colonização. É notório que esse novo estilo
de vida continua sendo sistematizado pela “unidade originariamente sintética do habitus,
princípio unificador e gerador de todas as práticas”, portanto, o estilo de vida de um grupo
social pode ser entendido como
É aí que nossa hipótese ganha relevância, posto que temos, a partir de então, um
campo social que, para Bourdieu (In ORTIZ, 1993), é todo o espaço social onde se
estabelecem relações sociais regidas por lutas em torno do poder. Sabemos que os
resultados dessa luta desembocam, inevitavelmente, numa divisão social extremamente
desigual e injusta, porém, é esse um dos fatores principais que fazem com seja possível
percebermos como cada subgrupo traça suas estratégias de produção e reprodução da vida
dentro desse espaço social que, agora passa a ser comum, que é a cidade.
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Esse fato nos remete à noção de “necessidade”, analisada pelo autor e que nos
ajuda a questionar, quais são, então, os gostos, anseios e perspectivas da elite minoritária e
os da imensa população que constituiu e habita as periferias urbanas da cidade de Manaus?
O próprio autor nos indica que isso tem haver com as diferenças contidas nas “variações da
distância com o mundo – suas pressões materiais e suas urgências temporais – distância que
depende, ao mesmo tempo, da urgência objetiva da situação no momento considerado e da
disposição para tomar suas distâncias em relação a essa situação” (p. 85). Assim sendo, o
que configura como uma necessidade, ou um luxo inatingível, para um determinado grupo
social, no caso, o periférico, pode não ter a menor relevância para o outro, ou seja, a elite.
Como nos indica o próprio autor quando dá sua definição de gosto:
E mais,
Na medida em que cresce a distância objetiva com relação à necessidade,
o estilo de vida se torna, sempre, cada vez mais o produto de uma
“estilização da vida”, decisão sistemática que orienta e organiza as
práticas mais diversas. (BOURDIEU in ORTIZ, 1983, p. 87 – 88).
O campo onde essas diferenças de habitus podem ser percebidas de maneira mais
direta é o campo da economia, talvez por se tratar de um espaço social onde as lutas se dão
com maior vigor e de maneira mais incisiva. Assim sendo, podemos evidenciar, agora,
algumas características do estilo de vida econômico dessas populações, dando maior ênfase
para o tipo de organização do trabalho dentro da unidade familiar, como nos mostra
Abromovay (1992) ao destacar o “caráter familiar” com que cada uma dessas unidades de
produção dirige, organiza e executa os seus trabalhos uma vez que cada uma delas é uma
empresa que, associada às demais empresas que conformam determinada área, partilham
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das mesmas tecnologias e do mesmo modelo de administração, sendo, portanto, “as razões
pelas quais a agricultura capitalista contemporânea dos países centrais se desenvolveu” (p.
19). Portanto, para este autor:
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pequena escala, da maior parte dessa produção. Se antes, o pouco capital obtido com a
comercialização era investido apenas na manutenção das ferramentas e na obtenção de
algumas provisões essenciais (remédios, vestuário, etc.), agora, aumentam
significativamente, mesmo que ainda insuficientes, e passam a ter novos destinos como
habitações mais confortáveis, tecnologias que garantam o aumento da produção, etc.
Nesse sentido, verifica-se, nesse artigo, que a construção de um novo espaço e de
uma nova identidade, como já dissemos anteriormente, encontra-se relacionada com as
necessidades oriundas do sistema produtivo. No caso em questão, do sistema capitalista de
produção. Para tanto, a categoria habitus enquanto um sistema estruturado que pode tornar-
se um sistema estruturante, a partir de noções articuladas a ela como honra, gosto, estilo de
vida e ethos contribuíram para a verificação de uma sobreposição de identidades. Mas, será
que somente os movimentos migratórios podem ser considerados como o único fator
responsável por todas essas transformações? De certo que não. Eles fazem parte de um
processo mais complexo que envolve questões sociais num nível mais macro. É o que
veremos a seguir.
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Manaus como modelo econômico. Historicamente, as políticas de desenvolvimento
econômico do Brasil estiveram e, de certa maneira, ainda estão, pautadas no
desenvolvimento de grandes projetos nacionais, criados para dar conta de resolver, no
menor espaço de tempo, as crises que por ventura estejam comprometendo o sistema de
produção. Tem sido assim desde a extração das drogas do sertão, passando pelos dois ciclos
da borracha até chegar no período dos governos militares que, em nome da soberania
nacional e da expansão do progresso e do capitalismo e também devido à nova
reorganização da economia mundial adotam o modelo das chamadas áreas de livre
comércio, ou zonas francas. Sendo este um modelo capitalista de produção trata-se,
portanto, de um modelo excludente e de exploração.
Fato é que a Zona Franca de Manaus, ao redefinir o papel da Amazônia Ocidental
no cenário da economia capitalista global, encontrou aqui as condições ideais e necessárias
para a introdução das indústrias multinacionais, dentre elas a isenção dos impostos a
abundante e barata mão-de-obra, estando assim, inserida na consolidação desse processo
que vinha se desenvolvendo no séc. XX. A respeito disso, Ianni (2001: 183) nos ensina
que:
Essa nova ordem global traz consigo o surgimento da economia informacional que
também influencia na nova divisão internacional do trabalho ao acentuar as já conturbadas
relações de poder entre regiões, nações, continentes, etc. A noção de economia
informacional foi tomada aqui das teorias de Manuel Castells (1999: 87 - 88) que entende
que uma economia é “informacional porque a produtividade e a competitividade de
unidades ou agentes (...) dependem basicamente de sua capacidade de gerar, processar e
aplicar de forma eficiente a informação baseada em conhecimentos” e uma vez que “a
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produtividade impulsiona o desenvolvimento”, a combinação entre regiões
subdesenvolvidas, mão-de-obra farta e barata, isenção de impostos e avanços tecnológicos
tornou-se a fórmula perfeita para o aperfeiçoamento do modo de produção capitalista.
No que tange às novas dimensões assumidas pelo trabalho, engendradas por essa
também nova divisão internacional do trabalho, o que podemos observar é um intenso e
complexo processo de transição que, de uma forma ou de outra, mantêm o trabalhador sob
forte regime de exploração, pois, se antes era submetido a infindáveis jornadas de trabalho
que levavam à exaustão, agora, exigem níveis de qualificação que permitam o
desenvolvimento de múltiplas atividades de forma simultâneas. Em Manaus a formação do
“exército de reserva” foi beneficiada pelo forte movimento migratório no sentido
interior/capital que também respondeu pelo redimensionamento espacial e territorial da
cidade.
Ocorre, então, que uma vez que as necessidades de mão-de-obra nas fábricas do
Pólo Industrial não absorveram toda a população migrante, novas alternativas de para se
reorganizarem social, econômica, política e culturalmente tiveram de ser encontradas e aí,
percebemos a capacidade desses grupos sociais rurais de conviverem e superarem as
adversidades. Relegados à falta de assistência por parte do Estado não encontrando
posicionamento no mercado de trabalho formal esses grupos passam a ter então, na
informalidade, sua única alternativa de sobrevivência, especialmente na prestação de
serviços. E a diversidade desses serviços pode ser entendida como resultado da articulação
entre o habitus original trazido do interior e o habitus urbano.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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estabelecimentos comerciais dos bairros da cidade. Por fim, muitas são as possibilidades de
análises das articulações do habitus, das maneiras pelas quais grupos sociais engendram
suas lutas no “campo” e das alternativas encontradas para viabilizá-las.
REFERÊNCIAS
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