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Disciplina: Prática de ensino e estágio supervisionado em processos

educacionais

Aula 3: Gestão da instituição educativa II – significados,


dimensões e atores

Introdução
No cenário do ambiente escolar, o gestor precisa enfrentar os desafios do cotidiano da
instituição. Para isso, esse profissional segue determinados princípios que orientam
suas ações.

Nesta aula, propomos, então, que investigue as seguintes questões:

Que preceitos norteiam a gestão escolar?


Quais são as dimensões e os atores desse processo?

A ideia é que o conteúdo o ajude a responder essas perguntas. Bons estudos!

Objetivos
Identificar os princípios e significados da gestão escolar;
Reconhecer as áreas e dimensões dessa gestão, bem como os componentes do
cotidiano escolar;
Analisar os desafios do processo de gestão.
Princípios e significados da gestão
escolar

Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e
solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo,

sobretudo como se fôssemos os portadores da verdade


a ser transmitida aos demais, que aprendemos a
escutar, mas é escutando que aprendemos a falar com
eles. Somente quem escuta, paciente e criticamente, o

outro fala com ele, mesmo que, em certas condições,


precise falar a ele.

FREIRE, 2011, p. 128.

Começamos nosso estudo com esta citação do grande educador e pedagogo


brasileiro Paulo Freire (1921-1997), que nos ajuda a refletir sobre o conceito
de gestão escolar 1. . Para compreendermos seu real sentido, primeiro,
precisamos reconhecer que esse processo não se resume a ações de ordem
administrativa no interior da escola, mas está relacionado a outras instâncias,
configurando, assim, uma hierarquia de poderes.

De todas as esferas do sistema de ensino, é na escola que a democracia se


caracteriza amplamente, pois, nesse caso, as relações apresentam-se de
maneira horizontal. Dessa forma, na medida em que se garante a participação
de todos os setores da escola – educadores, alunos, funcionários e pais – nas
decisões sobre seus objetivos e seu funcionamento, há melhores condições
para pressionar os escalões superiores a dotar a escola de autonomia e de
recursos (PARO, 2001, p. 12).
Portanto, ao se caracterizar como área de atuação, a gestão escolar busca:

01

Atender bem a toda a população escolar, respeitando e considerando as


diferenças de todos os seus alunos.

02

Promover o acesso e a construção do conhecimento a partir de práticas


educacionais participativas.

03

Favorecer condições para que o educando possa enfrentar criticamente os


desafios de se tornar um cidadão atuante e transformador da realidade
sociocultural e econômica vigente, e de dar continuidade permanente a seus
estudos.

Em caráter abrangente, esse processo engloba, de forma associada, o


trabalho dos seguintes setores da escola:


Saiba mais

De acordo com o princípio da gestão democrática, a realização do


processo de gestão também inclui a participação ativa de todos os
professores e da comunidade escolar, de modo a contribuírem para sua
efetivação, que garante qualidade educacional para todos os alunos.
Dimensões da gestão escolar
A gestão escolar constitui-se, por si só, em uma dimensão importantíssima da
educação. Afinal, por meio dela, é possível observar, de forma global, a escola
e os problemas educacionais.

Além disso, pela visão estratégica e de conjunto, bem como pelas ações
interligadas como uma rede, esse processo abrange questões complicadas
que, de fato, funcionam de modo interdependente.

Assim, a gestão escolar é uma dimensão, um enfoque de atuação, um meio, e


não um fim em si mesmo, uma vez que seu objetivo final é a aprendizagem
efetiva e significativa dos alunos sobre o mundo e sobre si mesmos em
relação a este.

Com essa demanda, o sentido de educação e de escola se torna mais


complexo e requer cuidados especiais. O aluno não aprende apenas na sala de
aula, mas em todo o ambiente da escola, seja:
1

Pela maneira como é organizada e como funciona.

Pelas ações globais que promove.


3

Pela forma como nela se trabalha etc.

Pela atitude expressa em relação às pessoas, aos problemas educacionais e


sociais.
5

Pelo modo como as pessoas nela se relacionam e como esta se relaciona com
a comunidade.

Diante desse desafio, a gestão da escola e a


atuação dos profissionais que a impulsionam são
muito importantes.

Conforme destaca Lück (2009), a gestão escolar é uma estratégia de


intervenção organizadora e mobilizadora, de caráter abrangente e orientada
para propiciar mudanças e desenvolvimento dos processos educacionais, de
modo que se tornem cada vez mais potentes na formação e aprendizagem
dos alunos.

A tabela a seguir apresenta as áreas e dimensões da gestão escolar:

Gestão Escolar
Áreas e
Processos Metas
dimensões
Organização 1. Fundamentos e Garantir uma estrutura
princípios da educação e básica e necessária para
da gestão escolar; a implementação dos
2. Planejamento e
organização do trabalho objetivos educacionais e
escolar; da gestão escolar.
3. Monitoramento de
processos e avaliação
institucional;
4. Gestão de resultados
educacionais.
5. Gestão democrática e
Possibilitar
participativa;
transformações das
6. Gestão de pessoas;
práticas educacionais
7. Gestão pedagógica;
para ampliação e
Implementação 8. Gestão administrativa;
melhoria de seu alcance;
9. Gestões da cultura
Oferecer formação
escolar;
continuada dos
10. Gestão do cotidiano
professores.
escolar.

Educação autônoma e
emancipadora

O mundo não é. O mundo está sendo. Como
subjetividade curiosa, inteligente, [a qual interfere] na

objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu


papel no mundo não é só o de quem constata o que
ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito
de ocorrências. Não sou apenas objeto da história, mas

seu sujeito igualmente. No mundo da história, da


cultura, da política, constato não para me adaptar, mas

para mudar.

FREIRE, 2011.

Mais uma vez, usamos as palavras de Freire (2011) para explicar a mudança
de paradigma que fundamenta as práticas educativas. Este é o grande desafio
da gestão democrática: uma educação como processo de autonomia e sem
alienação nas relações sistema/escola e escola/aluno.

Na área do ensino, esse processo não se tornará efetivo somente pela


afirmação de princípios e alterações de normas. Ele precisa se basear em um
novo modelo, já tão proclamado por educadores como o brasileiro Anísio
Teixeira (1900-1971): a educação emancipadora.

Eis, aqui, mais um tema para discussão que se enquadra nesse conceito de
2
educação: a democracia pressupõe a autonomia das pessoas e das
instituições. Nesse sentido, educação emancipadora e gestão
democrática são indissociáveis.
Sem elas, estaríamos trabalhando em uma contradição intrínseca. Afinal,
escolas, profissionais da educação e estudantes privados de autonomia não
teriam a condição essencial para exercer uma gestão democrática – promover
uma educação cidadã.

A abordagem da gestão democrática da educação pública passa pela sala de


aula, pelo Projeto Político-Pedagógico (PPP) e pela autonomia da escola.

Para Bordignon (2004), além da autonomia, da participação e das formas de


escolha de conselheiros e dirigentes, da prática do cotidiano da sala de aula e
dos gabinetes burocráticos, a gestão democrática da escola cidadã precisa
estar ancorada em princípios coerentes com as finalidades da educação
emancipadora.

O autor enumera, então, os princípios que podem orientar, efetivamente, a


prática dos educadores. São eles:

01

Situar o aluno como centro e eixo da escola, e a escola como centro do


sistema de ensino.

02

Identificar o professor como educador, comprometido com a proposta


3
pedagógica da escola – “tessitura de liberdades, artífice da cidadania,
compromisso de sabedoria”.

03

Estabelecer o poder nos Conselhos Escolares e no fórum de gestão


democrática, privilegiando a decisão plural.

04
Abrir espaços de valorização das vivências dos alunos e experiências
inovadoras como momentos de aprendizagem.

05

Ouvir, acolher e defender a pluralidade das vozes e das formas de ser.

06

Cultivar a afetividade, tornando a escola um lugar de ser feliz.

07

Instituir a cultura do querer fazer, no lugar do dever fazer.

08

Garantir a coerência entre o falar, o fazer e o ser.

09

Agir com suavidade nos modos e firmeza na ação, praticando a tolerância com
as pessoas e a intransigência nos princípios.

10

Dar um sentido público à prática social da educação.

11

Assumir o compromisso radical com a não discriminação, a defesa dos direitos


humanos e a preservação da natureza.

12

Dar transparência às ações, eliminando a dissimulação.

12

Nutrir um clima organizacional positivo, desafiador, valorizando as pessoas e o


trabalho coletivo, ressaltando mais os sucessos do que as falhas – um
“compromisso amoroso de ser, conviver transformar”.

Finalmente, vale lembrar um velho princípio latino que afirma:


“As palavras comovem, mas os exemplos
arrastam”.

Freire (2011) enfatizou bem que nossas atitudes públicas têm um poder
pedagógico que se infiltra, de forma significativa, na sociedade, até porque:


Os dirigentes, embora afastados, às vezes distantes da
sala de aula, também educam, ou deseducam, pelas
suas atitudes.

FREIRE, 2011.

Por isso, educamos mais por nossos atos do que por nossas palavras. Nesse
contexto, é preciso ter clareza de que o discurso da gestão democrática não é
suficiente para uma pedagogia emancipadora.

Momento reflexão
Lück (2014) apresenta algumas posturas e atitudes de gestão responsáveis
pelos bons resultados da escola. São elas:
Responsabilidades

Comprometimento e divisão de responsabilidades – que facilitam a


participação dos envolvidos.

Reconhecimento

Reconhecimento dos esforços, dos avanços e das iniciativas dos


envolvidos – para estimular, motivar e tornar as pessoas mais eficazes e
felizes.

Parcerias

Realização de parcerias para atender as necessidades da escola – a


grande parceria é mantida com os professores e funcionários.

Comunicação

Exposição e transparências das metas pessoais de todos.

Bom senso

Tranquilidade e discernimento – para lidar com conflitos e adversidades.


Humildade

Superação do ego e da vaidade para manter a autoridade necessária – na


gestão coletiva, as ações conjuntas predominam.

Validação

Garantia da referência dos procedimentos – legislação vigente,


documentos norteadores das ações da escola, e decisões tomadas em
reuniões de professores, funcionários e pais.

Cultura

Criação de cultura de participação comunitária – que incita as pessoas a


se pronunciarem, colaborando para eliminar o medo da manifestação.

Monitoramento

Acompanhamento e auxílio na organização das regras e acordos, e


atenção para seu cumprimento.

Persistência

Constância e persistência em relação aos resultados.


Atenção

Intervenção em situações que afetam a rotina e os relacionamentos da


escola ou que a prejudiquem.


Comentário

Antes de finalizar a aula, reflita sobre seu campo de estágio:

Quais dessas atitudes você reconhece?


Que bons resultados promovem para a escola?

Em seguida, registre essas impressões em seu caderno de campo.


Atividades
1. Ao se caracterizar como área de atuação, a gestão escolar busca:

I. Atender a toda a população escolar, mas sem considerar as diferenças


de todos os seus alunos.

II. Determinar as condições em que o educando pode ou não dar


continuidade a seus estudos.

III. Promover o acesso e a construção do conhecimento a partir de


práticas educacionais participativas.

Entre os itens anteriores, está(ão) correto(s):

a) Somente I
b) Somente III
c) I e II
d) II e III
2. A gestão escolar constitui-se, por si só, em uma dimensão muito
importante da educação, porque:

a) Por meio dela, é possível observar, de forma global, a escola e os


problemas educacionais.
b) O foco é nas ações interligadas, mas que não devem funcionar de
forma interdependente.
c) Por meio dela, o diretor pode controlar toda a comunidade escolar
em suas várias dimensões.
d) O foco é nela própria, uma vez que seu objetivo final é a
aprendizagem efetiva e significativa dos alunos.
3. (ENADE – 2008) A Escola Nova Fronteira apresentava altos índices de
reprovação e de violência. Na avaliação dos professores, as práticas
pedagógicas eram individualizadas, e não havia articulação interna com a
comunidade.

A professora Clara foi eleita diretora e entendeu que os aspectos


administrativos deveriam dar sustentação aos pedagógicos. Ela liderou
um movimento de organização da escola rumo a uma instituição
autônoma e democrática.

Para isso, Clara considerou alguns dos princípios a seguir:

I. A implementação do PPP constrói a identidade da instituição por meio


de permanente reflexão e discussão.

II. A participação dos pais e da comunidade nas assembleias escolares é


uma forma de aproximar a escola da sociedade.

III. A centralização das ações desburocratiza os processos de gestão e de


organização.

IV. A gestão colegiada organiza o trabalho pedagógico, viabilizando a


ampla participação.

Entre os itens anteriores, os princípios da gestão democrática que devem


ser respeitados por essa professora são:

a) I e II
b) II e III
c) II e IV
d) I, II e IV

Notas
Gestão escolar 1
Nas palavras de Lück (2009):

“[...] constitui uma das áreas de atuação profissional na educação, destinada a


realizar o planejamento, a organização, a liderança, a orientação, a mediação, a
coordenação, o monitoramento e a avaliação dos processos necessários à efetividade
das ações educacionais orientadas para a promoção da aprendizagem e formação dos
alunos”.

2
Democracia

Exercício efetivo da cidadania.

Tessitura 3

Modo como estão interligadas as partes de um todo; organização, contextura.

(Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa)

Referências

ALMEIDA, C. M. de; SOARES, K. C. D. Pedagogo escolar: as funções supervisora e


orientadora. Curitiba: Intersaberes, 2012.

BORDIGNON, G. Gestão democrática da escola cidadã. In: FRIGOTTO, G.; CIAVATTA,


M. (Orgs.). Ensino Médio: ciência, cultura e trabalho. Brasília: MEC, SEMTEC, 2004.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Programa Nacional


de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Conselhos Escolares: uma estratégia
de gestão democrática da educação pública. Brasília: MEC, SEB, 2004. (Salto para o
Futuro: Gestão Democrática e Educação, Boletim 19).

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São


Paulo: Paz e Terra, 2011.

LÜCK, H. Dimensões de gestão escolar e suas competências. Curitiba: Positivo,


2009.

______. Liderança em gestão escolar. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2014. (Séries


Cadernos de Gestão).

PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. 3. ed. São Paulo: Ática, 2001.
VASCONCELLOS, C. dos S. Coordenação do trabalho pedagógico: do Projeto
Político-Pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Liberdade, 2002.

Próximos Passos

Rotina do pedagogo na função gestora;


Capacidade crítica de análise da função gestora no espaço observado.

Explore mais

Assista aos seguintes vídeos:

Palestra da professora Heloisa Lück.


<http://www.youtube.com/watch?v=oAoCxpyfmi8&feature=related>

A docente nos auxilia a entender melhor os significados de educação, escola


democrática e gestão escolar.

Entrevista com a professora e diretora Marcela de Oliveira


<https://www.youtube.com/watch?v=9Z3g_GDnAG0> .

Esta profissional da educação mostra como enfrentou os desafios da gestão


escolar, considerando a importância da adequada gestão e do bom planejamento
para a melhoria do ensino.

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