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TEORIA DE VAN HIELE:UMA ALTERNATIVA PARA O ENSINO DA GEOMETRIA

NO 2ºCICLO.
Marilene Rosa dos Santos – PCP/SEE-PE – rosa.marilene@gmail.com

1- Introdução
Sabemos que a Geometria está presente em diversas situações da vida cotidiana do ser
humano: na natureza, nos objetos que usamos, nas brincadeiras infantis, nas construções, nas
artes. À nossa volta podemos observar as mais diferentes formas geométricas. Muitas dessas
formas fazem parte da natureza, outras já são resultados das ações do homem.
Pesquisas realizadas indicam que a aprendizagem geométrica é necessária ao
desenvolvimento da criança, pois como afirma Fainguelernt (1995), a geometria ativa as
estruturas mentais, possibilitando a passagem do estágio das operações concretas para o das
operações abstratas. E se este ensino, enfocar os aspectos topológico, projetivo e euclidiano, a
criança tem possibilidades de conhecer e explorar o espaço onde vive, fazer descobertas,
identificar as formas geométricas, etc., além do mais pode contribuir para o desenvolvimento
do pensamento crítico e autônomo.
No entanto, a escola, durante muito tempo, não procurou suficientemente estimular nos
alunos essa percepção da geometria no mundo em que vivemos. Ao analisar a geometria, nas
diversas modalidades de ensino, podemos observar que alguns alunos do ensino fundamental e
médio, apresentam grandes dificuldades nesta área do conhecimento matemático.

No Brasil, alguns argumentos podem ser usados para tentar justificar essas dificuldades,
pois pesquisas realizadas por vários autores, entre eles: Pavanello (1993) e Lorenzato (1995)
constataram um abandono do ensino da geometria nas aulas de matemática, provavelmente, um
dos motivos que levaram a esta ausência foi a falta de preparo do professor em geometria,
detectada após o movimento da Matemática Moderna no Brasil, onde a Álgebra era mais
enfatizada
Para Nasser (1994),....“Nas últimas décadas, uma necessidade de modificações no
ensino da geometria cresceu ao redor do mundo, devido às dificuldades encontradas e ao fraco
desempenho mostrado por alunos secundários em geometria”. Preocupados, professores
pesquisadores têm desenvolvido maneiras que façam o educando se interessar e envolver-se no
estudo da geometria.

Uma dessas formas é o estudo da teoria de Van Hiele, que apesar de ser um modelo
hierárquico poderá ajudar o professor na sua prática pedagógica. Trabalha com o
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desenvolvimento do raciocínio em Geometria plana, sugerindo cinco níveis hierárquicos de


atividades. Pode ser usado para orientar a formação, e avaliar as habilidades do aluno.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - (BRASIL, 1997, p. 55):
“Os conceitos geométricos constituem parte importante do currículo
de matemática no ensino fundamental, porque, por meio deles, o aluno
desenvolve um tipo especial de pensamento que lhe permite
compreender, descrever e representar, de forma organizada, o mundo
em que vive”.
Desta forma, ensinar conteúdos de geometria, a partir das séries iniciais, tem como
principal objetivo, resolver problemas do cotidiano.
Buscando contribuir para que o futuro cidadão do novo milênio, da periferia das cidades
possa desenvolver seu potencial intelectual com amplitude e em condições de competir na
sociedade, pois o saber tem um papel emancipador, surgiu esta pesquisa.
Por tudo isso, esse estudo consiste em analisar o nível de desenvolvimento do raciocínio
em geometria, através da Teoria de Van Hiele, dos alunos de uma 4ª série em uma escola
pública da Cidade do Paulista. Focaremos-nos no nível 1 - reconhecimento de figuras. De
forma mais específica verificamos o nível de desenvolvimento geométrico que os alunos da 4ª
série se encontravam e comparamos com os resultados obtidos após uma intervenção.

2- Problemática e fundamentação teórica


2.1 - O ensino de geometria nas séries iniciais
. Desde tempos muito antigos, o homem tem lidado com a Geometria. Concordamos
com Pavanello (1994) que a Geometria oferece um maior número de situações em que o aluno
pode construir sua criatividade ao interagir com as propriedades dos objetos. Essa construção
pode acontecer quando a criança desenvolve atividades manipulando e construindo figuras ou
objetos, observando suas características, comparando-os, associando-os de diferentes modos
para representá-los.
Assim a Geometria é considerada como uma ferramenta para compreender, descrever e
interagir com o espaço em que vivemos.
Podemos descrever muitos argumentos a favor do ensino de Geometria nos cinco
primeiros anos de escolaridade: apoio à construção de outros conceitos matemáticos pelo aluno,
leva-o a intuir, conjecturar, descobrir, projetar, representar quando lida com as formas e o
espaço, aprimora a percepção espacial, favorece a compreensão e produção de desenhos,
esquemas, mapas, gráficos e etc.
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Recentemente existe uma tendência de resgate da importância da Geometria para a


formação dos alunos, mas persistem grandes lacunas herdadas das dificuldades intrínsecas ao
tratamento dos conteúdos desse campo e amplificadas pelo descaso com que foram tratadas na
escola durante um longo período.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) propõem para o
ensino da geometria, que o aluno desenvolva a compreensão do mundo em que vive,
aprendendo a descrevê-lo, representá-lo e a se localizar nele, estimulando ainda a criança a
observar, perceber semelhanças e diferenças, a identificar regularidades, compreender conceitos
métricos, e permitir o estabelecimento de conexões entre a Matemática e outras áreas do
conhecimento.
Fonseca (2002) e Fainguelernt (1999) propõem práticas de oficinas para modificação
do ensino da Matemática na sala de aula e particularmente de Geometria. Também Pavanello
(1994) oferece atividades que trabalha a criatividade das crianças com as figuras geométricas.
Acreditamos ser importante este tipo de abordagem, uma vez que, muitos
pesquisadores apontam à falta de motivação por parte de alunos e professores, como uma das
causas para o abandono da Geometria nas escolas.
Portanto, todas as propostas encontradas convergem para o mesmo fim, ou seja, mostra
a tendência do trabalho da geometria no ensino fundamental, recomendando a exploração da
Geometria nessa faixa etária com muita oportunidade de atividades para as crianças. Por isso, é
importante realizar experiências oferecendo situações onde visualizem, comparem e desenhem
formas: É o momento do dobrar, recortar, moldar, deformar, montar, decompor, esticar, colar,
manipular. É uma etapa que pode parecer passatempo, porém é de fundamental importância.

2.2 - Geometria segundo a Teoria de Van Hiele


É um modelo que trabalha com o desenvolvimento do raciocínio em Geometria plana,
sugerindo cinco níveis hierárquicos de atividades adequadas com o estudo das figuras planas,
na identificação e construção das mesmas. Pode ser usado para orientar a formação, e avaliar as
habilidades do aluno.
Foi criado por Pierre Van Hiele e sua esposa Dina Van Hiele-Geoldof, tendo por base
nas dificuldades apresentadas por alunos do curso secundário na Holanda.
O modelo sugere que enquanto os alunos aprendem geometria, eles progridem
segundo uma seqüência de níveis de compreensão de conceitos, onde cada nível é caracterizado
por relação entre objetos de estudo e linguagem.
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Apesar de esse modelo ser hierárquico, obedecendo a uma seqüência, como se


estivesse reforçando a aprendizagem da geometria exclusivamente das partes para o todo, do
particular para o geral, sufocando a visão global. Ele aponta as lacunas de aprendizagem que o
aluno tem e assim o professor poderá organizar-se criativamente na sua prática pedagógica para
facilitar a aprendizagem do aluno. Estabelecendo estratégias metodológicas que favoreça a
resolução de problema e a interdidciplinaridade numa visão não linear.
No nível da visualização os indivíduos adquirem uma concepção de espaço em sua
volta, reconhecendo as figuras apenas pela sua aparência, já no nível de análise são
reconhecidas partes das figuras, as quais passam a ser identificada.

Posteriormente, surge à dedução informal, os indivíduos são capazes de deduzir as


propriedades de uma figura e reconhecer classes de figuras.
No nível formal os alunos são capazes de construir uma demonstração diante da
dedução do sistema axiomático. Quanto ao nível de rigor os estudantes são capazes de trabalhar
com diferentes sistemas axiomáticos e estabelecer a diferença entre os objetos e a sua essência.
Para melhor esclarecimento, segue abaixo um resumo desse modelo:
Nível de Van Características Exemplo
Hiele
Reconhecimento, comparação e Classificação de recortes de
1º Nível nomenclatura das figuras geométricas quadriláteros em grupos de
Reconhecimento por sua aparência global. quadrados, retângulos,
paralelogramos, losangos e
trapézios.
Análise das figuras em termos de seus Descrição de um quadrado através
2º Nível componentes, reconhecimento de suas de propriedades: 4 lados iguais, 4
Análise propriedades e uso dessas propriedades ângulos retos, lados opostos iguais
para resolver problemas. e paralelos.
Percepção da necessidade de uma Descrição de um quadrado através
definição precisa, e de que uma de suas propriedades mínimas: 4
3º Nível propriedade pode decorrer de outra; lados iguais, 4 ângulos retos.
Abstração Argumentação lógica informal e Reconhecimento de que o
ordenação de classes de figuras quadrado é também um retângulo.
geométricas.
Domínio do processo dedutivo e das Demonstração de propriedades
4º Nível demonstrações; dos triângulos e quadriláteros
Dedução Reconhecimento de condições usando a congruência de
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necessárias e suficientes. triângulos.

Capacidade de compreender Estabelecimento e demonstração


5º Nível demonstrações formais; de teoremas em uma geometria
Rigor Estabelecimento de teoremas em finita.
diversos sistemas e comparação dos
mesmos.
Quadro 01 - Descrição dos níveis de Van-Hiele
Fonte: Nasser et al (2000, p. 05).
Assim, de acordo com o quadro acima, percebemos que o Modelo de Van Hiele, leva o
aluno partir do nível da visualização de um conceito geométrico, seguir ao nível da análise,
prosseguir pelo nível da dedução formal e, finalmente atingir o nível do rigor da conceituação
do ente geométrico, passando a entender e relacionar conceitos geométricos abstratos.
Portanto, nesse estudo enfatizaremos apenas o nível 1, visto que o público alvo
pertencente a este estudo encontra-se ainda no Ensino Fundamental I.
3 - Metodologia
Essa pesquisa, de abordagem qualitativa, revestiu-se de um caráter diagnóstico e
exploratório, adotando para isto um estudo de caso.
Participaram desse projeto 28 alunos da 4ª série de uma escola pública municipal da
Cidade do Paulista/PE.
Primeiramente realizamos um pré-teste para detectar as dificuldades e lacunas existentes
em geometria plana, especificamente na parte de nomeação e classificação de figuras
geométricas. Nesse teste é solicitado do aluno que ele assinale a alternativa correta de acordo
com a aparência global da figura (teste nível 1 de Van Hiele).

Em seguida, após a análise dos resultados, dividimos nossa intervenção em 4


momentos, dando ênfase ao estudo dos triângulos, visto que o índice de acerto não foi
satisfatório. Assim nossos encontros foram organizados da seguinte forma: estudo do triângulo
eqüilátero, isóscele, escaleno e dos triângulos em gerais. Cada momento foi realizado em 2
horas.

As atividades eram realizadas em grupos ou duplas e utilizavam-se sempre materiais e


recursos didáticos, tais como: bloco lógico, palito, canudos, colagem, origami e geoplano,
tangram, visando além do conteúdo matemático, o reconhecimento dos triângulos em diversas
situações problema.
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Transcorrido todo o processo de intervenção, os alunos foram submetidos a um pós-teste,


com o objetivo de verificar a evolução quantitativa da aprendizagem sobre a nomeação e
classificação dos triângulos, visto que era notório no discurso a evolução qualitativa da
aprendizagem. O pós-teste aplicado apresentou as mesmas questões do pré-teste.

4- Resultados e Discussão

Nos resultados do pré-teste, detectamos que a maioria dos alunos da 4ª série não
reconhecia perfeitamente figuras geométricas, assim como percebemos através de depoimentos
que alguns nunca tinham estudado geometria.

Ao compararmos os resultados obtidos do pré e pós-teste, verificamos uma melhora


significativa de desempenho por parte dos alunos, após o período de intervenção. Fato que
podemos constatar na tabela 01 a seguir:

Tabela 01: Resultados comparativos entre o pré e o pós-teste.

Reconhece todos os Reconhece Não reconhece a


triângulos parcialmente figura do triângulo

Pré –teste 4% 92% 4%


Pós –teste 52% 39% 0%

Como podemos perceber na tabela acima, metade da turma reconhece a figura do


triângulo após a intervenção. No entanto, temos ainda 39% dos alunos que reconhecem apenas
parcialmente a figura em estudo, ou seja, ainda sente dificuldades de reconhecê-lo em posição
não prototípica.
Verifica-se também que após a intervenção não tivemos alunos sem reconhecer a
figura do triângulo. O que para nós é uma satisfação, no entanto precisamos intensificar os
trabalhos para que o nível de desenvolvimento geométrico alcance seu nível mais alto.
Conclusões

Inicialmente percebemos que os alunos da 4ª série de uma escola pública na Cidade do


Paulista- PE, na sua maioria, não reconhecia a figura do triângulo.

Entendemos que após uma pequena intervenção houve uma melhora significativa no
desempenho dos alunos, levando a crer que a Teoria de Van Hiele, o uso de recursos didáticos e
a interação social foram facilitadores na aprendizagem do reconhecimento da figura do
triângulo.
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Fatos que merecem destaques são que os alunos demonstraram uma curiosidade e
interesse de trabalhar com os recursos pedagógicos, uma vez que o professor regente da turma
não tem esta prática pedagógica. Outro fato é que, a interação entre alunos- professor e
pesquisador proporcionou aulas mais dinâmica que levaram a uma melhor compreensão do
objeto de estudo.

Portanto, a intervenção demonstra a viabilidade do projeto em sala de aula contribuindo


para uma educação de qualidade.

Referências
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
Matemática, V. 2. Brasília: MEC / SEF, 1997.
FAINGUELERNT, E.K. O ensino de Geometria no 1º e 2º Graus. In: A Educação
Matemática em Revista- SBEM, Ano III, n. 4, p. 45-53, 1995.
___________________. Educação Matemática: Representação e Construção em
Geometria. 1. ed. Artes Médicas sul - 1999.
FONSECA, Maria da Conceição F. R., et al. O ensino de geometria na escola fundamental -
três questões para formação do professor dos ciclos iniciais – 2. ed. – Belo Horizonte:
Autêntica, 2002.
LORENZATO, S. Porque não ensinar geometria? In: A Educação Matemática em Revista-
SBEM, ano III, n. 4 p. 3-13, 1º semestre. 1995.
NASSER, L. Usando a teoria de Van Hiele para melhorar o ensino secundário de
geometria no Brasil, Eventos; INEP, nº04, 2ª parte,1994.
NASSER, Lílian , et al. Geometria segundo a Teoria de Van Hiele – 3. ed. Instituto de
Matemática/ UFRJ - Projeto fundão, 2000.
PAVANELLO, R. M. O abandono do Ensino da Geometria no Brasil: Causas e
Conseqüências. In: Zetetiké, n.1, p. 07-17, Unicamp, mar. 1993.

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