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BERTONI, N. E. ; PINA NEVES, R. S. .

Aprender e ensinar geometria: um


desafio permanente. In: Nilza Eigenheer Bertoni. (Org.). Matemática nas formas
geométricas e na ecologia. Brasília: Publicação do Ministério da Educação,
2004, v. 1, p. 55-63.

A geometria como conhecimento matemático: origens e trajetória

Desde o primórdio da humanidade os fatos matemáticos já geravam duvidas e promoviam


descobertas.

Em civilizações como a egípcia a matemática apresentava caráter prático e imediato, ela ia se


aprimorando por meio de ensaio e erro. Tinha como motivação resolver problemas do
cotidiano e se aprimorava para conseguir soluções mais corretas ou mais eficientes.

Alguns outros povos, no entanto, como os gregos, não viam a matemática desta forma pratica
e imediatista, eles tomaram a matemática como um desafio a ser compreendido e
desvendado.

Este pensamento levou a consolidação de três diferentes concepções matemáticas:

 Logicismo: Trata da matemática como um ramo da Logica;

 Intuicionismo: Considera apenas as partes obtidas por processos de construção


efetiva;

 Formalismo: A matemática é vista como um conjunto de desenvolvimentos abstratos,


nos quais os termos são simbólicos e as afirmações são fórmulas envolvendo esses
símbolos

Entendendo a realidade do ensino e da aprendizagem da geometria

A concepção formalista na Matemática

A visão da matemática como sistema de símbolos que desempenham papeis bem definidos
sem preocupação com a interpretação promoveu um ambiente no qual grande parte da
população não conseguiu em tempo hábil se apropriar destes símbolos, criando assim uma
minoria capaz. Isto alimentou o mito da “matemática para poucos” levando a matemática a ser
vista como algo abstrato destinada a ser trabalhada apenas por “indivíduos com talento e
capacidades inatas”.

A influência do formalismo no ensino da Matemática

O formalismo no meio acadêmico leva a linguagem científica a não sofrer nenhuma


transposição no caminho da pesquisa matemática aos livros didáticos. Assim, confunde-se
saber científico com saber escolar, e exige do aluno um grau de compreensão muitas vezes
além de sua capacidade.

Também há a inexistência da diferenciação entre um “pesquisador matemático” e o “educador


matemático”, erroneamente assumindo que domínio do saber cientifico é o suficiente e
necessário para a pratica docente.

A visão da matemática como sistema de símbolos do formalismo nega a parte da matemática


que gerou hipóteses, alimentou dúvidas, viveu incertezas, tateios, imprecisões, enfim,
cometeu erros e acertos no movimento de sua constituição como ciência. Ao negar essa
oportunidade de percorrer os caminhos na busca do conhecimento, matamos o que há de
mais valioso no processo de aprendizagem: “o ensaio e o erro” na construção dos conceitos.

O formalismo e o ensino da geometria

Na prática dessa modalidade de orientação, ocorre uma “algebrização” da geometria,


distanciando-se da geometria prática (concepção egípcia), aproximando-se da geometria
formal (concepção grega). Essa disciplina acaba por ser tratada como apenas uma ferramenta
do pensamento algébrico.

Lorenzato (1995) aponta duas evidências como possíveis causas para a omissão geométrica.
Seriam elas:

- A falta de conhecimentos geométricos por parte dos professores

- A exagerada importância que o livro didático ocupa no ambiente escolar.

Aprendendo e ensinando geometria

Nós estamos constantemente inseridos no meio das formas geométricas, sendo assim o ensino
da geometria baseado apenas em formulas e definições, e que ignora o lado físico da
geometria há de ser questionado.

Uma forma mais efetiva de ensino de geometria seria incentivar que os alunos sintam, vejam,
observem, deduzam, validem e sistematizem a geometria presente à sua volta. A geometria
exige do aprendiz uma maneira específica de raciocinar, uma maneira de explorar e descobrir.
Não é suficiente conhecer bem a aritmética, álgebra ou análise para conseguir resolver
situações-problema em geometria.

No livro “Aprendendo e Ensinado Geometria” podemos observar a iniciativa de pesquisadores


na busca do entendimento e na proposição de soluções para a questão de ensino de
geometria.

No modelo proposto por Van Hiele, prevê-se uma hierarquia, uma progressão de níveis no
desenvolvimento:

1o) Reconhecimento;

2o) Análise;

3o) Abstração;

4o) Dedução;

5o) Rigor

É sugerido aos docentes tomarem ações que promovam a progressão do aluno de um nível a
outro, sendo elas: interrogação/informação; orientação dirigida; explicação; orientação livre e
integração.

No ensino da geometria dois enfoques devem ser considerados: o da geometria como ciência
do espaço e o da geometria como estrutura lógica.
As atividades propostas no ensino da geometria devem possibilitar ao aluno imaginar,
explorar, criar, levantar hipóteses e argumentar, levando os aprendizes a vivenciarem a
construção dos conceitos de geometria.

Aprender um conceito geométrico é percebê-lo em diferentes situações e colocá-lo em ação


numa situação em que se apresente, relacionando-o àqueles já internalizados pelo indivíduo. É
percebê-lo em constante transformação, sendo modificado, melhorado à medida que o
indivíduo, de posse de suas propriedades, lança-se na descoberta de outros conceitos.

Trata-se de fornecer aos alunos um conjunto de situações didáticas variadas em que ele terá a
oportunidade de “dialogar” com o saber geométrico em diferentes representações e, a partir
daí, com o auxílio da visualização, elaborar diferentes representações mentais.

O papel do desenho no ensino da geometria

No contexto escolar, o desenho é utilizado em várias disciplinas, mas em geometria seu uso é
mais efetivo. Ele ilustra noções abstratas e gerais, funcionando como “signo” auxiliar na
compreensão dos objetos.

Percebendo a importância do desenho nos processos de visualização e de representação é que


devemos buscar práticas pedagógicas que o valorizem e respeitem sua função na visualização.
Daí a necessidade de mudança na prática pedagógica, permitindo uma vivência da geometria,
baseada em uma educação visual, variedade de situações e da manipulação de objetos e de
desenhos.

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