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A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PRÁTICA

DIÁRIA

Gilsimara Pereira1 - UNIANDRADE


Guilherme Augusto Pianezzer2 - UNIANDRADE

Grupo de Trabalho - Educação da Infância


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Este artigo tem por objetivo analisar as contribuições dos jogos no desenvolvimento do
aprendizado de Matemática em alunos da Educação Infantil. Para isso foi desenvolvida uma
pesquisa qualitativa envolvendo estudo de caso com uma turma de 30 alunos de uma escola
pública do município de Curitiba. Como fundamentação teórica, explorou-se o fato que as
crianças começam a desenvolver certas competências desde muito cedo, de maneira que
quando entram numa instituição de Educação Infantil essas competências devem ser
exploradas de tal forma que venha a acrescentar no seu desenvolvimento. O objetivo deste
trabalho é levantar quais assuntos da área de matemática as crianças de zero a seis anos
conseguem desenvolver, além de descrever alguns métodos existentes para trabalhar com a
Matemática nesta faixa etária. No estudo de caso específico, apresentado neste trabalho, foi
descrita uma prática específica desenvolvida com crianças de dois a três anos, levando em
consideração a fundamentação teórica proposta no presente artigo. É importante também
considerar que a Matemática, assim como qualquer outra competência trabalhada na
Educação Infantil, pede utilizar a ludicidade no ensino-aprendizagem, considerando a
realidade e fatos do cotidiano, pois são aspectos extremamente influenciáveis nessa etapa de
construção do conhecimento. Assim, as reflexões feitas nesse artigo expressam a importância
do ensino da Matemática na Educação Infantil e de práticas que envolvam a ludicidade para
alcançar tais objetivos. Através deste estudo, foi possível verificar como os conceitos
matemáticos são incorporados pela criança através de atividades lúdicas e que estes
aprendizados vão muito além da prática de ensino em Matemática.

Palavras-chave: Competências e habilidades. Atividades lúdicas. Ensino de matemática.


Educação Infantil.

1
Graduanda em Licenciatura em Matemática no Centro Universitário Campos de Andrade E-mail:
gilsimarapereira@gmail.com.
2
Professor do curso de Licenciatura em Matemática da Uniandrade, doutorando em Métodos Numéricos em
Engenharia pela UFPR, especialista em Formação Pedagógica do Professor Universitário pela PUC-PR e
licenciado em Matemática pela PUC-PR. E-mail: guilherme.pianezzer@hotmail.com.

ISSN 2176-1396
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Introdução

Este artigo tem como objetivo analisar as contribuições dos jogos no desenvolvimento
do aprendizado da Matemática em alunos da Educação Infantil. Para isso, busca discutir quais
as competências e habilidades desenvolvidas pelo aluno na Educação Infantil, a partir do
estudo de atividades lúdicas direcionadas a este fim.
Desde cedo, as crianças entram em contato com grande quantidade e variedade de
noções matemáticas: quando começa a socialização entre familiares, a participar de notícias
em geral e a qualquer assunto que remeta a pensar, raciocinar, contar ou utilizar os números e
formas. Assim podemos dizer que a Matemática está presente, desde os primeiros anos de
vida, quando ele começa a ter: noção temporal como resposta a suas necessidades
fisiológicas; suas primeiras noções de espaço e forma, quando começa a reconhecer o espaço
a sua volta; e também noções de quantidade, quando instintivamente escolhe a quantidade
maior, ao oferecermos algo de seu interesse em duas quantidades diferentes;
Sendo assim é necessário aproveitar todas as oportunidades de aprendizado para
começar a ensinar Matemática desde a educação infantil, através de jogos, brincadeiras e
explorando situações cotidianas.
Nesse sentido, as práticas pedagógicas, os saberes prévios já adquiridos, bem como a
escolha de atividades específicas a serem trabalhadas melhora o aprendizado do aluno,
permitindo o desenvolvimento cognitivo do aluno.
A metodologia utilizada nesta pesquisa foi qualitativa envolvendo estudo de caso, com
o intuito de colher um material significativo e colaborativo para as reflexões/discussões do
ensino da Matemática na Educação Infantil. Este estudo de caso diz respeito a uma prática
desenvolvida com 30 alunos de uma turma de Educação Infantil de uma instituição pública do
município de Curitiba.
Para a análise de dados do estudo de caso, levou-se em consideração a fundamentação
teórica utilizada no artigo entre elas: as competências desenvolvidas na Educação Infantil, as
competências Matemáticas desenvolvidas na Educação Infantil e a importância do lúdico nas
atividades desenvolvidas com crianças.
Em um primeiro momento do texto, expõe-se quais as competências e habilidades
desenvolvidas na Educação Infantil, de acordo com o Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil e com o Caderno de Objetivos da Prefeitura Municipal de Curitiba.
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Enfatiza-se diversas áreas de formação humana, alguns de seus objetivos e algumas das
práticas que podem ser desenvolvidas dentro de cada área.
Em um segundo momento é apresentado quais as competências matemáticas
desenvolvidas na Educação Infantil, quais são os conteúdos abordados com crianças de zero a
seis anos e quais os objetivos em se trabalhar a Matemática com crianças pequenas. Expõe-se
como a Matemática deve começar a ser inserida nas práticas pedagógicas desenvolvidas
dentro das instituições, juntamente com os saberes prévios que as crianças trazem, a escolha
de atividades e caminhos diferentes para trabalhar essa disciplina, os quais são essenciais no
resultado da construção do conhecimento. Assim, a abordagem dos conteúdos precisa de um
contexto flexível que adapte as crianças, e que traga atividades diferenciadas envolvendo
brincadeiras e jogos envolvendo as vivências do cotidiano dos mesmos. “Quando brinca, a
criança se defronta com desafios e problemas, devendo constantemente buscar soluções para
as situações a ela colocadas” (SMOLE; DINIZ; CANDIDO, 2000, p. 14).
Todavia, também é apresentado, dentro deste artigo, a definição de lúdico e qual sua
importância no trabalho com a Educação Infantil, levando em conta que as brincadeiras são
essenciais para o desenvolvimento das crianças, pois são atividades primárias, as quais trazem
benefícios nos aspectos físico, intelectual e social.

Competências e habilidades desenvolvidas na Educação Infantil

As crianças desde muito cedo começam a desenvolver diferentes habilidades, e é na


Educação Infantil, primeira fase do ensino básico em que isso é trabalhado: durante a
permanência nas escolas, as crianças são estimuladas a desenvolver suas capacidades físicas e
mentais, a partir de estímulos naturais do ser humano e com a ajuda de profissionais que
atuam nessa área, que utilizam diferentes metodologias para desenvolver cada vez mais as
diversas competências intelectuais humanas:

Nesse sentido, destaca-se o brincar como fio condutor na Educação Infantil, como
espaço privilegiado de interação e de elaboração de conhecimentos pelas crianças,
entendendo-se que estará permeando as experiências de aprendizagem relacionadas
às áreas de Identidade, Relações Sociais e Naturais, Linguagens e Pensamento
Lógico-Matemático (CURITIBA, 2006, p. 3).

Também chamadas de áreas de formação humana, as competências desenvolvidas na


Educação Infantil são: Identidade, relações sociais e naturais, linguagens e o conhecimento
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matemático. Estas serão descritas na sequência, sendo que o conhecimento matemático será
discutido no capítulo seguinte.
Dentro de identidade o que se pretende é mostrar para as crianças o desenvolvimento
de sua própria identidade, quais são suas características físicas, seu traço familiar, em quais
culturas está inserida, quais os hábitos comuns no dia a dia, entre outros. Durante a
permanência da criança dentro de uma instituição de Educação Infantil são várias as práticas
que elas desenvolvem em prol de se descobrir como um ser humano:

A educação infantil atua na base da formação humana, na construção de diferentes


identidades, porque cada criança apresenta características singulares, que precisam
ser respeitadas. No respeito a essas individualidades, busca-se uma educação voltada
para um sujeito crítico, criativo, autônomo, solidário, cooperativo e argumentativo,
que saiba encontrar solução para os diversos problemas do cotidiano. Esse sujeito é
ponto de partida e de chegada da ação educativa (CURITIBA, 2012, p. 9).

Em relações sociais, a criança aprende a se perceber como membro integrante de uma


sociedade e de um espaço como um todo, se relaciona com pessoas de diferentes idades,
participa de brincadeiras representando papéis sociais exercidos pelos adultos, são ensinadas a
respeitar o próximo e como conviver com as pessoas em uma sociedade com regras e limites.
Em relações naturais tem experiências com elementos da natureza, sempre utilizando o lúdico
como a melhor maneira para se tratar desses assuntos, brincam com água, terra, e objetos
advindos da natureza, exploram possibilidades com o ar, o vento e com as temperaturas
variadas. Desde muito pequenas, pela interação com o meio natural e social no qual vivem, as
crianças aprendem sobre o mundo. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil: “O trabalho com os conhecimentos derivados das Ciências Humanas e
Naturais deve ser voltado para a ampliação das experiências das crianças e para a construção
de conhecimentos diversificados sobre o meio natural e social” (BRASIL, 1998, p. 166).
Suas representações e noções sobre o mundo estão associadas diretamente aos objetos
da sua realidade, por isso a importância de um espaço adequado para favorecer o aprendizado
das crianças. “É importante que as crianças tenham contato com diferentes elementos,
fenômenos e acontecimentos do mundo, sejam instigadas por questões significativas para
observá-los e explicá-los e tenham acesso a modos variados de compreendê-los e representá-
los” (BRASIL, 1998, p. 166).
Em relação às linguagens, são muitas as variantes trabalhadas na Educação Infantil,
dentre elas estão a linguagem movimento, visual, musical, dramática, dança, escrita,
oralidade, leitura. Todas elas são formas importantes de expressão e comunicação humana.
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Através delas as crianças se comunicam e atribuem sentido a sensações, sentimentos,


pensamento e realidade, por isso estão presentes no cotidiano da vida infantil.
O movimento, que também é uma forma de linguagem, é uma das primeiras formas de
expressão humana. A criança se utiliza do movimento para demonstrar sentimentos e/ou
sensações, e com o passar dos dias vai adquirindo maior controle sobre seu próprio corpo e
interagindo com o espaço. Na Educação Infantil o trabalho com o movimento é realizado
diariamente, onde os espaços são desafiadores e são elaboradas práticas para que as crianças
explorem diferentes possibilidades de movimento. “Quanto mais rico e desafiador for esse
ambiente, mais ele lhes possibilitará a ampliação de conhecimentos acerca de si mesma, dos
outros e do meio em que vivem” (BRASIL, 1998, p. 15).
Através da exploração desse ambiente desafiador a criança tem inúmeras experiências,
e isso faz com que seu desenvolvimento seja aprimorado.
Na linguagem Visual, as crianças têm suas primeiras experiências com papéis e
riscantes de variados tipos, como lápis, tinta, cola, giz etc. O contato com esses materiais vai
ampliando dia a dia, e aos poucos a criança começa a dar formas aos seus riscos, melhorando
seu domínio motor e criando seus desenhos. Também faz uso de massinhas e argila, onde
consegue fazer suas produções no espaço tridimensional. Todas essas produções têm
significado muito importante para a formação cognitiva das crianças.
A música está presente na vida de um bebê, desde muito antes do seu nascimento, pois
o mesmo consegue ouvir desde o momento em que seu aparelho auditivo é formado, ainda
durante a gestação reconhece a voz de familiares e sons comuns ao seu cotidiano. E por isso
na Educação Infantil o trabalho com a música começa desde os berçários, através de “cantigas
de ninar, exploração de sons vocais e de objetos sonoros de seu cotidiano, além das mais
variadas músicas presentes no seu contexto cultural” (CURITIBA, 2012, p. 16).
A Linguagem Dramática por sua vez, também é uma prática enriquecedora na
Educação Infantil, e está relacionado ao faz de conta, ao mundo da imaginação, o que para as
crianças se torna algo prazeroso e principalmente curioso. Essas práticas estão ligadas
diretamente ao brincar, isso em meio a diferentes possibilidades: figurinos, máscaras, vozes,
fantoches, pinturas, enfim, o professor deve oferecer para as crianças uma vasta possibilidade
de brincar de faz de conta.
A escrita, apesar de parecer algo que se desenvolve apenas a partir do ensino
fundamental, está presente na Educação Infantil também como uma forma de brincar. A
criança brinca de ser escritor e faz isso imitando a postura de escritor em situações de faz de
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conta. A partir da observação do professor como escriba, faz tentativas de escrita do próprio
nome tendo como referência seu próprio crachá. É certo que muitas vezes não é possível
decifrar o que ela escreveu, pois, seus traços ainda não possuem a forma de uma letra, porém
mesmo assim, podemos considerar como escrita, pois esses são os primeiros contatos e são
essas experiências que vão proporcionar o avanço dessa linguagem.
Por fim, a linguagem oral possibilita a estruturação de novas aprendizagens e
conhecimentos, uma vez que permite que a criança expresse suas ideias, sentimentos e
desejos. O bebê se expressa através do choro e de balbucios e essas são suas primeiras formas
de expressão. Com o tempo sua linguagem vai se desenvolvendo e então surgem as primeiras
palavras. A Educação Infantil precisa estabelecer meios para que a fala da criança se
desenvolva cada vez mais, tais como: rodas de conversa, rodas de apreciação, rodas de
entrevista, relatos, casos, recontos, exposições orais, canções, dramatizações, jogos
simbólicos, debates e diálogos que permeiam as situações do cotidiano, entre tantas outras.
Pois ela aprende a falar, falando.

Competências e habilidades próprias da Matemática desenvolvidas na Educação Infantil

A Matemática está presente em nossas vidas. Desde o momento em que nascemos o


mundo em que vivemos está cercado de conhecimentos matemáticos. Desde muito novas, as
crianças entram em contato com grande quantidade e variedade de noções matemáticas,
ouvem e falam sobre números, comparam, agrupam, separam, ordenam, acompanham a
marcação do tempo feita pelos adultos, exploram e comparam pesos e tamanhos, observam e
experimentam as propriedades e as formas dos objetos, percorrem e exploram diferentes
espaços e distâncias, etc: “A vivência nesse universo proporciona a ela a elaboração de
conhecimentos matemáticos, pelas trocas de experiências com outras crianças e com adultos,
pela exploração de objetos e materiais, pela participação em jogos e brincadeiras, além de
outras situações lúdicas” (CURITIBA, 2012, p. 39).
A instituição de Educação Infantil tem por objetivo ajudar as crianças a desenvolver
tais competências e habilidades. Cabe a ela, ampliar, aprofundar e sistematizar esses
conhecimentos conhecidos dentro e fora da instituição.
São diversas as maneiras de fazer com que esses conhecimentos sejam ampliados. Por
exemplo, quando a criança passa a perceber a passagem do tempo ao vivenciar situações da
rotina diária. Se o professor segue uma rotina dentro de sala, as crianças são capazes de
reconhecer a ordenação temporal dentro de uma determinada situação.
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Ainda, objetos de medição convencionais (calendário, relógio, fita métrica, balança,


etc.) passam a ter significado às crianças quando aprendem a maneira correta de uso. Maneira
tal que é passada como referência pelos adultos e que o fazem compreender quais suas
funções sociais.
Além disso, quando elas ouvem números em brincadeiras, parlendas ou músicas. Tais
atividades são frequentes na Educação Infantil, visto que são muitas as brincadeiras e músicas
que contem récitas numéricas. Em alguns casos, parecem apenas brincadeiras ou músicas
simples, mas, através delas, as crianças ampliam seu vocabulário numérico e aprendem a
contar involuntariamente.
Tais conhecimentos são ampliados, também, quando vivenciam situações de
contagem, leitura e escrita de números em que o adulto é referência. Por exemplo, quando se
contam o número de crianças dentro da sala ou a quantidade de peças de um jogo na hora de
guardar. Ou ao explorarem objetos e brinquedos que contenham números: telefones,
calculadoras, teclados de computador, relógios, entre outros. Esses objetos são de grande
interesse das crianças e propiciam possibilidades de ampliação do conhecimento matemático.
Também são importantes algumas noções de medidas como: cheio/vazio,
grande/pequeno, maior/menor, em cima/em baixo, perto/longe, etc. Estes possibilitam a
ampliação do vocabulário matemático. Nunca imaginamos que um dia alguém ensinou isso
para a gente, mas para as crianças o fato de ir buscar um objeto “em cima” ou “em baixo” de
outro, pode parecer muito complexo, por isso a importância de ensinar essas pequenas noções.
Com o tempo essas práticas se tornam corriqueiras, e as experiências precisam ser
ampliadas, para que as crianças reconheçam a função social dos números. Esse processo
acontece para as crianças de quatro a cinco anos, os quais estão na última fase da Educação
Infantil. “Nessa faixa etária os objetivos de aprendizagem são organizados em 3 eixos: Espaço
e Forma, Número e Sistema de Numeração e Grandezas e Medidas” (CURITIBA, 2012, p.
40).
Em espaço e forma desenvolve gradativamente noções de localização e orientação
espacial, tendo como referência pessoas e objetos entre si, explorando, identificando e
representando propriedades de objetos e figuras, como formas, tipos de contornos,
bidimensionalidade, tridimensionalidade, faces planas, lados retos, entre outros.
Dentro do eixo número e sistema de numeração as crianças começam a conhecer a
função social dos números em diferentes contextos, familiarizando-se com as regras e
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regularidades do sistema de numeração, a contagem, a leitura de números, o registro de


quantidades e noções de operações matemáticas.
Em grandezas e medidas desenvolve noções temporais nas vivências do cotidiano,
aprendendo a situar-se nos diferentes tempos da instituição.

A importância da ludicidade na Educação Infantil e no ensino da Matemática

As atividades lúdicas desenvolvidas na Educação Infantil têm o objetivo de produzir


prazer e de divertir ao mesmo tempo. Além disso, o lúdico é um fator positivo na construção
do conhecimento das crianças durante a infância, desenvolvendo nelas a imaginação, o
raciocínio, a criatividade e a espontaneidade.
De acordo com o dicionário, lúdico significa: “adj. Referente a, ou que tem o caráter
de jogos, brinquedos e divertimentos: a atividade lúdica das crianças” (FERREIRA, 1999).
Através da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos, seleciona ideias,
estabelece relações lógicas, integra percepções, faz estimativas compatíveis com o
crescimento físico e desenvolvimento e, por meio dele vai se socializando com as demais
crianças. Também desenvolve a linguagem, o pensamento, a socialização, a iniciativa e a
autoestima, bem como no desenvolvimento de habilidades do pensamento, como a
imaginação, a interpretação, a tomada de decisão, a criatividade, etc.
A base do trabalho com crianças na Educação Infantil se constitui em duas funções
que ocorrem simultaneamente e são indissociáveis: o cuidar e o educar, e as duas estão
norteadas pelo brincar:

Brincar é tão importante e sério para a criança como trabalhar é pro adulto. Isso
explica porque encontramos tanta dedicação da criança em relação ao brincar.
Brincando ela imita gestos atitudes do mundo adulto, descobre o mundo, vivencia
lei, regras, experimenta sensações (SMOLE; DINIZ; CANDIDO, 2000, p. 13).

São essenciais para o desenvolvimento das crianças, pois são atividades primárias, as
quais trazem benefícios nos aspectos físico, intelectual e social. Brincando, a criança
desenvolve a identidade e a autonomia, assim como a capacidade de socialização, através da
interação e experiências de regras perante a sociedade. Por meio das atividades lúdicas, a
criança forma conceitos, seleciona ideias, estabelece relações lógicas e, assim, segue se
socializando.
Sendo assim, podemos utilizar das atividades lúdicas para melhorar o processo de
ensino e aprendizagem de conceitos matemáticos.
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Enquanto brinca a criança é incentivada a realizar contagens, comparação de


quantidades, identificar algarismos, adicionar pontos que fez durante a brincadeira, perceber
intervalos numéricos. Em alguns jogos, como o jogo de memória e jogos de encaixe, pode ter
percepções sobre algumas formas geométricas. Também percebe distâncias, desenvolve
noções de velocidade, duração, tempo, força, altura, entre outras estimativas envolvendo
grandezas:

Desta forma, para as aulas de matemática a valorização das brincadeiras infantis


significa a conquista de um forte aliado nos processos de construção e expressão do
conhecimento e permite ao observador atento interpretar as sensações, os avanços e
as dificuldades que cada criança tem na construção e expressão do seu saber
(SMOLE; DINIZ; CANDIDO, 2000, p. 16).

Ou seja, utilizar atividades lúdicas para o ensino da Matemática, significa ampliar


maneiras de explorar ideias e conceitos matemáticos, de uma maneira diferente e com uma
ampla possibilidade de aprendizado.

Encaminhamento metodológico

A modalidade de pesquisa utilizada para esta investigação é análise de um estudo de


caso, pois a coleta de dados foi realizada pela pesquisadora e professora na instituição e na
turma na qual ela ministrou aulas no ano letivo de 2014. A observação foi participante,
auxiliando-os quando necessário. A pesquisadora observou a participação dos alunos e seu
interesse pelo jogo desenvolvido.
O jogo, o qual o resultado da observação é discutido neste capítulo, foi idealizado,
pela professora e pesquisadora para ser uma atividade a ser realizada com seus alunos, com o
intuito de começar a estabelecer a presença de jogos matemáticos no cotidiano das crianças.
Tal atividade foi realizada com 30 alunos, em uma turma Maternal II com faixa etária entre
dois a três anos, em uma instituição pública do município de Curitiba.
O objetivo desta atividade foi desenvolver algumas competências e habilidades,
discutidas previamente, os quais são trabalhados com os alunos durante o ano letivo. Tal
atividade foi desenvolvida em um contexto lúdico, visto que um dos focos no ensino com as
crianças é aprender brincando.
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Análise de dados: estudo de caso

A atividade desenvolvida consiste de um jogo, chamado ‘Todos se foram “Os Índios


do bote”’ e têm como objetivos principais utilizar da contagem nas brincadeiras e jogos, além
de compreender regras simples. Para o desenvolvimento do jogo foram utilizados dados
numerados de 0 a 3, indicando a quantidade; Tabuleiro em forma de bote, indicando o barco;
e 10 peças de tabuleiro indicando os índios. Para ser jogado são necessários dois jogadores.
Para a realização da atividade, primeiramente, a professora canta a música “Os dez
indiozinhos”, estimulando as crianças a cantarem e, consequentemente, falarem os números
presentes na letra da música. Depois induz os alunos a colocar ou tirar os indiozinhos do bote.
Cada criança joga o dado e coloca e/ou tira o número de índios referente ao número
representado no dado. E assim, sucessivamente, até que todas as peças tenham sido
movimentadas.
Ao aplicar a atividade e observar o interesse dos alunos, verificou-se que um jogo
matemático que tenha um contexto lúdico torna o aprendizado mais efetivo. Isso acontece,
pois, as crianças se envolvem cantando a música ao interagir durante o jogo, como representa
a Figura 1. Durante a realização da atividade, alguns alunos tiveram algumas dificuldades em
relação a compreender a quantidade, mas, com a ajuda da professora, logo desenvolveram o
jogo com tranquilidade.
Figura 1 – Participação das alunas na atividade proposta

Fonte: os autores.
Vale ressaltar a rapidez com que as crianças compreenderam as regras do jogo, por
conta do interesse que possuíam em participar da atividade. Mesmo sendo jogadas em dupla,
algumas duplas interagiram com as outras, ajudando-os, dando dicas e auxiliando na
contagem, melhorando a interação social e o convívio entre eles, como representa a Figura 2.
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De acordo com Smole, Diniz e Candido (2000, p. 14) “ao brincar a criança adquiri hábitos e
atitudes importantes para seu convívio social”.
Figura 2 – Participação das alunas na atividade proposta

Fonte: os autores.
Além disto, o uso do lúdico em sala de aula é uma alternativa de ensino que permite
desenvolver certas competências e habilidades que o aluno da Educação Infantil deve obter.
Em especial, na atividade descrita o aluno pode desenvolver, além das competências
matemáticas que o jogo permeia, outras competências como a musicalidade, a oralidade, e a
socialização. E ainda, caso o assunto em questão desperte o interesse dos alunos, pode-se
fazer um assunto mais aprofundado, levando livros infantis que tenham personagens índios,
para desenvolver a leitura. Pode-se trabalhar a cultura dos índios e seus modos de vida
descendência e raças fazendo um estudo sobre identidade. Em relações naturais, pode-se falar
sobre a vida deles dentro da mata fazendo uma relação com a questão ecológica. Dentro de
dança, falar sobre seus rituais. Em artes visuais pode-se trabalhar a pintura corporal dos índios
e artesanato feito por eles. E ainda a dramatização, utilizando figurinos indígenas. As quais
são competências previstas pelo Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e
também no Caderno de Objetivos da Prefeitura Municipal de Curitiba, como visto nos
capítulos anteriores.

Considerações Finais

Através dessa pesquisa foi possível entender como a Matemática é inserida na vida das
crianças ainda na Educação Infantil. Vimos que a Matemática está em grande parte das nossas
experiências diárias e que é muito importante ensinar a Matemática para as crianças de uma
forma lúdica, usando vários métodos exemplos: os jogos, brincadeiras que envolvam o
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raciocínio lógico, ou até mesmo levar a criança a práticas do dia a dia e com isso introduzir na
criança a Matemática como algo que usamos em nossa vida cotidiana.
Sabe-se que a Educação Infantil é a etapa escolar inicial, em que o aluno traz seus
conceitos e vivências de casa e dos lugares que passa. Na Educação Infantil, a sala de aula
deve ser um lugar de exploração das informações da realidade que cerca os alunos. Desse
modo, produzir para a criança situações diferentes e desafiadoras, que provoquem a
necessidade de resolver um problema concretizado é essencial para o processo de ensino e
aprendizagem. O trabalho com a Matemática na Educação Infantil deve propor que as
crianças façam mais do que ler números e decorar os nomes de figuras geométricas, sendo
preciso envolvê-las, partindo dos conhecimentos prévios que cada uma traz e avançar
mediante as situações significativas de aprendizagem.
A interação entre os alunos, a socialização de ideias e troca de informações são
elementos indispensáveis nas aulas de Matemática em todas as fases de escolaridade. Valores
como respeito, valorização e discussão do raciocínio, das soluções e os questionamentos dos
alunos, deve ser uma preocupação constante do professor de Educação Infantil. A ação
pedagógica em matemática organizada pelo trabalho em grupos não apenas propicia troca de
informações, mas cria situações que favorecem o desenvolvimento da sociabilidade, da
cooperação e do respeito mútuo entre os alunos, possibilitando aprendizagens significativas.
Além de favorecerem as noções matemáticas, o trabalho com as brincadeiras e jogos
deve servir para que os alunos de Educação Infantil ampliem suas competências pessoais,
entre elas as corporais e as espaciais. Enquanto brinca, a criança pode ser incentivada a
realizar contagens, comparação de quantidades, identificar algarismos, adicionar pontos que
fez durante a brincadeira, perceber intervalos numéricos, isto é, iniciar a aprendizagem de
conteúdos relacionados ao desenvolvimento do pensar aritmético.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial


curricular nacional para educação infantil: conhecimento de mundo. Brasília, DF:
MEC/SEF, 1998. v. 3.

CURITIBA. Secretaria Municipal da Educação. Diretrizes curriculares para a educação


municipal de Curitiba. Curitiba: Educação Infantil, 2006. v. 2.

______. Secretaria Municipal de Educação. Diretrizes curriculares para a educação


municipal de Curitiba – objetivos de aprendizagem: uma discussão permanente. Curitiba:
Educação Infantil, 2012.
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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua
portuguesa. 3. ed. São Paulo: Nova Fronteira, 1999.

SMOLE, Katia Stocco; DINIZ, Maria Ignez; CANDIDO, Patrícia. Brincadeiras infantis nas
aulas de matemática. Porto Alegre: Artmed, 2000. v. 1.

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