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Gestão Escolar. Como priorizá-la?

Pare e pense em um polvo. Esta é ou não uma excelente metáfora para a figura do gestor escolar (e para a
gestão escolar )? Embora não faça o trabalho sozinho, pois pode contar com uma equipe, precisa conhecer
e acompanhar todos os processos.

Haja braços, não é mesmo?

É um profissional que desdobra-se tendo o aspecto pedagógico como foco principal, mas que não pode
desvinculá-lo da engrenagem administrativa. Mas manter o equilíbrio entre ambas as áreas é um dos seus
grandes desafios.

A complexidade da sua função e a alta demanda pela sua atenção podem induzir a um grave equívoco: ficar
muito absorvido pela parte burocrática e, por isso, diminuir as vistas à atividade fim. Ou seja, a educação.

Cada vez mais, afortunadamente, a gestão escolar vêm recebendo a atenção e a importância que merece.
Para sabermos um pouco mais sobre esse universo, fomos conversar com a doutora em Educação e
coordenadora do Mestrado Profissional em Gestão Educacional da Unisinos, Viviane Klaus. Acompanhe.

A multifacetada função do gestor educacional


 Diário Escola – O que é gestão escolar?

Dra. Viviane Klaus – A gestão escolar tem como principais desafios a condução político-pedagógica e
econômico-financeira da instituição de ensino. Faz parte do seu trabalho, que deve se pautar em uma
construção coletiva,compreender os desafios do processo de escolarização na contemporaneidade a partir
das novas relações espaço-temporais. Algumas perguntas norteadoras para a gestão escolar poderiam
ser: que sujeitos queremos formar?

Como responder aos desafios contemporâneos sem uma simples “adequação” a alguns pressupostos do
nosso tempo?Ou seja, como formar crianças e jovens críticos capazes de conviver neste tempo
histórico/social e de contribuir com o bem comum?

 Há diferença entre gestão e administração escolar? Quais são e por quê?

O termo “gestão escolar” emergiu no decorrer dos anos 1980, após a reaberturademocrática no País.
Vários autores da área da educação problematizaram a administração baseada em um modelo fabril
(hierárquico, burocrático, linear e altamente disciplinar) e defenderam a construção de processos de
gestão democrática (participação dos diferentes segmentos da comunidade escolar: pais, professores,
alunos, funcionários).

O trabalho de uma equipe diretiva (diretor/gestor escolar e coordenação pedagógica) deveria se dar a
partir da indissociabilidade entre teoria e prática, do binômio administrativo-pedagógico, bem como da
construção coletiva de um projeto formativo. Portanto, ter clareza do projeto educativo da instituição
escolar é fundamental, pois tal projeto pautará as concepções de gestão adotadas.

 É correto dizer que o diretor da escola é o gestor?


Sim. Porém, a equipe diretiva da escola, ou a equipe gestora, é composta por outros membros além do
diretor/gestor. Tal composição depende muito das estruturas institucionais, mas eu destacaria a parceria
entre diretor/gestor e a coordenação pedagógica como essencial.

 Que eixos norteadores de gestão um diretor deve ser capaz de aplicar em sua escola?

Pode-se destacar os seguintes eixos norteadores do trabalho do gestor escolar:

– articulação com os demais membros da equipe diretiva (coordenação pedagógica);

– diagnóstico e análise de cenário (análise do contexto dos sistemas educacionais no Brasil);

– planejamento e condução político-pedagógica (parceria permanente com a coordenação pedagógica da


instituição);

– elaboração, implementação e avaliação de projetos como forma de organização da ação administrativa


e pedagógica;

– desenvolvimento de uma gestão participativa, colegiada e sustentável (gestão de pessoas, do


conhecimento, da comunicação e econômico-financeira-peagógica);

– estudo da avaliação externa e da avaliação institucional como perspectivas de gestão educacional;

– postura reflexiva, com possibilidade de constituir-se um profissional que tem a pesquisa como base do
seu trabalho e do desenvolvimento de processos de formação continuada do corpo docente).
 Quais os principais problemas enfrentados pelos gestores de escolas privadas no Brasil?

Eu diria que os principais problemas enfrentados estão relacionados a pressões externas de diferentes
ordens, entre as quais destaco:

– avaliações externas e rankings educacionais que promovem uma competitividade entre as instituições;

– aferições de “qualidade educacional” que têm passado prioritariamente pela linguagem empresarial e
pelo “imperativo da inovação”, de modo que as famílias e alunos, por vezes, adotam uma postura muito
voltada para o atendimento de demandas de “clientes”;

– alargamento das funções da escola na contemporaneidade. Isso não significa ignorar as possibilidades
de gestão a partir dos indicadores das avaliações externas, bem como a importância da inovação no
cotidiano escolar e da escuta das famílias e dos estudantes.

Porém, um projeto educacional está diretamente relacionado com o estudo das intencionalidades
pedagógicas que passam pelo binômio tradição/inovação. A profissionalidade docente, que se pauta nos
saberes específicos, nos saberes da experiência e nos saberes pedagógicos, precisa ser realimentada em
tempos nos quais circulam “soluções” de todas as ordens na área da educação sem um conhecimento do
campo propriamente dito.

 Há uma tendência de o gestor escolar priorizar os aspectos administrativo e financeiro em


detrimento ao pedagógico? Como não deixar isso acontecer?

Sim, sem dúvida. E para que isso não ocorra é preciso ter clareza dos pressupostos educativos do Projeto
Político-Pedagógico da escola (pano de fundo). A parceria entre o gestor escolar e a coordenação
pedagógica é essencial. A compreensão do trabalho coletivo desenvolvido na escola como espaço de
formação continuada dos docentes é um eixo norteador importante para que não haja uma separação
entre administrativo e pedagógico. Essa articulação permanente entre teoria/prática e a pesquisa como
um princípio de todos os processos educativos desenvolvidos pode trazer contribuições importantes na
(re)invenção das práticas pedagógicas.

Glossário da Gestão Escolar – Gestão Democrática

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