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DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
Texto Didático n° 01
This article shows the Keynesian models to an open economy, which are developed in the text-
books of Macroeconomics. After presenting these kind of Keynesian models, the article
criticizes them since these models give up Keynes' theoretical approach that is developed in
the General Theory.
OS MODELOS "KEYNESIANOS" DE ECONOMIA ABERTA E AS SUAS
INCONSISTÊNCIAS KEYNESIANAS*
Introdução
1
A ausência de uma análise acerca do setor externo ao longo dos capítulos da General Theory, a despeito da
importância das relações externas na dinâmica da demanda efetiva, deve-se ao fato de que a atenção de Keynes estava
voltada, tão-somente, para a natureza endógena do processo produtivo, face à generalização da crise mundial, observada
durante a Grande Depressão dos anos 30.
Theory, tais como, princípio da demanda efetiva, natureza das expectativas e da incerteza e
não-neutralidade da moeda, entre outros, que constituem a essência da teoria monetária da
produção de Keynes.
Em uma economia aberta, tem-se a seguinte identidade básica que relaciona o Produto
Interno Bruto, PIB2, à demanda agregada:
Y ? C + I + G + (X-M) (1),
nos quais, como se sabe, Y representa o PIB, cuja "departamentalização", sob a ótica de
demanda, é observada em termos de consumo final do setor privado, C, investimento privado,
I, gastos do governo, G, e exportações líquidas, X - M.
A partir da identidade (1) pode-se enfatizar a absorção doméstica, tanto composta por
bens produzidos no país quanto por produtos importados, como E, tal que:
E? C+I+G (2).
Y ? E + (X - M) (3).
Y- E ? X - M (4).
Pela relação acima, quando X - M for positivo o país absorve um volume de produção
menor do que o PIB, realizando, então, transferências reais para o exterior, ao passo que se M
for maior do que X o país absorve um montante de produção maior do que o PIB, captando
poupança externa.
2
Por mais que seja repetitivo, torna-se necessário ressaltar que há uma importante distinção entre os conceitos de
Produto Interno Bruto, PIB, e Produto Nacional Bruto, PNB. Enquanto o PNB se refere à produção total da economia, o
PIB está associado à produção interna, incluindo a remuneração paga aos fatores de produção dos não-residentes. A
diferença entre estas duas grandezas, por sua vez, diz respeito à renda líquida enviada para o exterior, RLE, também,
denominada serviços de fatores.
Considerando-se, novamente, a identidade (1) e subtraindo-se os impostos líquidos, T,
de ambos os lados, pode-se expressar a relação do Produto Interno Bruto da seguinte maneira:
Y - T - C ? I + (G - T) + (X - M) (5).
(S - I) + (T - G) = X - M (5a),
nos quais c é a propensão a consumir - 0 < c < 1 -i é a taxa real de juros interna, Y* representa
o PIB mundial e r expressa a taxa real de câmbio3.
Re-escrevendo a equação acima em termos setoriais, encontra-se:
3
A taxa real de câmbio pode ser expressa pela seguinte relação: r = e.P*/P, sendo que e representa a taxa nominal de
câmbio e P* e P são, respectivamente, os níveis de preçosexterno e interno.
A equação (7), por sua vez, efetuada a departamentalização" da demanda, em termos
interno e externo, pode ser re-escrita como se segue:
4
Pelas condições de Marshall/Lerner, conhecida como abordagem das elasticidades, partindo-se de uma situação inicial
de comércio equilibrado,a melhora do balanço de pagamentos, quando ocorre uma desvalorização cambial, depende da
seguinte
relação:
em que Ex é a elasticidade preço da oferta das exportações, Nx representa a elasticidade preço da demanda das
exportações, Em expressa a elasticidade preço da oferta das importações e Nm é definido como sendo a elasticidade
preço da demanda das importações. A relação acima diz que o balanço de pagamentos responderá positivamente às
variações no poder de concorrência sempre que as ofertas e demandas, tanto de exportações quanto de importações,
forem elásticas. Veja, para tanto, Williamson, 1989, p.138-47.
M/P = L(Y, i), (8)
nos quais M/P é o estoque real de moeda ofertada e L representa a demanda por encaixes reais
de moeda.
As equações (7a) e (8) definem as curvas IS e LM, curvas em que os mercados real e
monetário, respectivamente, estão em equilíbrio.
Se, agora, o balanço de pagamentos, além de expressar o comportamento real da
economia, representar, também, a relação financeira do setor externo, qual seja, o mercado de
capitais, pode-se escrever a seguinte equação:
5
Os modelos Mundel/Fleming originaram-se, de forma independentes, a partir dos trabalhos de Fleming, 1962, e Mundell,
1963.
6
Pela hipótese de perfeita mobilidade de capital, os mercados de títulos, interno e externo, são condicionados pela
mesma taxa de retorno. Em outras palavras, as taxas de juros, interna e internacional, não podem desalinhar-se: i = i*.
Assim sendo, o movimento de capital torna-se bastante sensível à taxa de juros e, portanto, qualquer diferencial de juros
provoca deslocamentos maciços de fluxos de capital.
pagamentos. A conseqüência imediata do desequilíbrio externo será a expansão das reservas e,
via mecanismo de monetização, aumento da oferta monetária. Assim sendo, os resultados
desta política são idênticos aos resultados da política fiscal, quais sejam, maiores níveis de
renda e reservas cambiais, com a manutenção do equilíbrio do setor externo.
Em contrapartida, levando-se em consideração, mais uma vez, que há uma situação
inicial de equilíbrios interno e externo, os resultados advindos de políticas monetária, fiscal e
comercial, quando a taxa de câmbio é flexível, são, sucintamente, os seguintes:
(a) A expansão da oferta monetária eleva, no primeiro momento, o nível da renda às expensas,
entretanto, de um déficit no balanço de pagamentos. Como decorrência, torna-se necessário
desvalorizar a taxa de câmbio para que o equilíbrio externo seja restabelecido. Diante da
desvalorização cambial, as exportações líquidas aumentam, fazendo com que a economia
retorne à situação de equilíbrio externo. O resultado, portanto, mostra que os níveis de renda e
emprego são ainda maiores, comparados ao impacto monetário inicial;
(b) A expansão fiscal, por sua vez, provoca, de início, um crescimento da renda e um
desequilíbrio externo. A necessidade de se restaurar o equilíbrio do balanço de pagamentos,
supondo-se que o mesmo, face à conta movimento de capitais, seja positivo, faz com que a
taxa de câmbio seja valorizada. Desta maneira, o superávit externo se reduz, bem como
observa-se um efeito crowding-out pleno, a ponto, inclusive, de fazer com que a economia
retorne à sua situação original de equilíbrio;
(c) Políticas protecionistas, considerando-se que as importações sejam elásticas, geram
efeitos semelhantes aos provocados pela política fiscal, quais sejam, o nível de renda não se
altera e, devido à valorização cambial - admitindo-se que a mesma seja necessária para
arrefecer o superávit do balanço de pagamentos, conforme a hipótese acima apresentada - o
setor externo permanece equilibrado.
Dentro desse contexto teórico, descrito en passant, os policy makers procuram
conduzir a política econômica de maneira a expandir o nível de atividade econômica sem,
contudo, gerar crônicos desequilíbrios externos, tanto superavitários quanto deficitários.
Neste sentido, se o objetivo da política econômica consiste em dinamizar a demanda
agregada para reduzir, por exemplo, o nível de desemprego, as opções adequadas são políticas
fiscal e comercial, quando as taxas de câmbio são fixas, e monetária, na suposição de que haja
flexibilidade cambial.
A partir da descrição dos modelos "keynesianos" de economia aberta, deve -se indagar
se o approach teórico dos referidos modelos expressa, por um lado, as idéias de Keynes
pertinentes à ordem econômica internacional e, por outro, os principais fundamentos
metodológicos contidos na General Theory.
No que diz respeito à relação entre as concepções teóricas de Keynes sobre a ordem
econômica internacional e os modelos "keynesianos" de economia aberta, deve -se reconhecer
as limitações destes modelos, seja porque qualquer interpretação keynesiana tem que ser
contextualizada conforme as idéias de Keynes - movendo-se de uma posição teórica
tradicional para uma na qual há uma forma própria de pensar de Keynes - , seja pelo fato de que
os modelos "keynesianos" de economia aberta enfatizam as especificidades técnicas da
política econômica, preterindo, assim, os aspectos políticos e institucionais na discussão das
relações internacionais, predominantes na visão de Keynes7.
Por outro lado, entende-se que os modelos "keynesianos" de economia aberta, apesar
de serem analítica e logicamente bem formalizados e operacionalizados no plano econômico,
têm um approach teórico que distancia-se das análises de Keynes contidas na General
Theory, uma vez que interpretam e discutem a teoria keynesiana a partir da estrutura básica
dos diagramas hicksianos de IS/LM, cujos pontos centrais são os seguintes:
(a) "Departamentalização" dos mercados real e monetário, quando, em Keynes, as esferas real
e monetária fazem parte de uma teoria de "escolha de ativos";
(b) Substituição da análise de equilíbrio parcial marshalliana pela de equilíbrio geral
walrasiana, em que as condições ótimas de preços e quantidades, dadas as preferências, os
recursos e a tecnologia, passam a depender de um "leiloeiro" que ajusta os mercados para uma
posição de equilíbrio;
(c) Inversão da relação causal entre investimento e poupança, apresentada por Keynes, na
dinâmica de determinação da renda;
(d) Deslocamento da análise de tempo histórico para tempo lógico, fazendo com que as
decisões econômicas dos indivíduos não sejam afetadas pelas expectativas de incerteza sobre
o futuro8.
Os trabalhos de Hicks (1937 e 1980-81) ilustram as referidas idéias. A incoerência
entre a "departamentalização" dos mercados real e monetário é reconhecida pelo próprio
Hicks, no artigo de 1980-81. Em suas palavras,
"The relation which is expressed in the IS curve is a flow relation, which ... must refer
to a period ... But the relation expressed in the LM curve is ... a stock relation ... It must
therefore refer to a point of time, not to a period" (1980-81, p.150-1).
" ... is impossible to increase investment without increasing the willingness to save or
the quantity of money" (1937, p.152, grifos do autor).
7
Sobre as discussões e propostas de Keynes pertinentes às relações econômicas internacionais, sejam comerciais, sejam
monetário-financeiras, ver Ferrari F_, 1992, e Davidson, 1992-93.
8
Uma discussão acerca da incompatibilidade entre as teorias do mainstream, discutidas nos livros-texto de
Macroeconomia, e keynesiana, no que diz respeito, especificamente, à análise de equilíbrio e à noção de temporalidade
do processo produtivo, pode ser encontrada, por exemplo, em Dow, 1985, capítulo 5.
que o modelo de Keynes " ... was a model that was consistent with unemployment, while mine,
in his terms, was a full employment model" (1980-81, p.141).
Por quê? Porque, segundo Hicks
" ... the idea of IS-LM diagram came to me as a result of the work I had been doing on
three-way exchange, conceived in Walrasian manner ... In Walras, all markets are
cleared; but in IS-LM (following Keynes) the labor market is not cleared; there is
excess of supply labor" (1980-81, p.141-2).
" ... there is no sense in liquidity, unless expectations are uncertain. But how is an
uncertain expectation to be realized? When the moment arrives to which the
expectation refers, what replaces it is fact, fact which is not uncertain" (1980-81,
p.152, grifos do autor). " ... the economy must be treated as if it were in equilibrium
over the period" (1980-81, p.151, grifos originais)
FLEMING, M. Domestic Financial Policies Under Fixed and Under Floating Exchange Rates.
Staff Papers/IMF, 2, Nov 1962, p.369-79.
KEYNES, J.M. The General Theory of Empl oyment, Interest and Money. New York, HBJ
Book, 1964.
MUNDELL, R. Capital Mobility and Stabilization Policy Under Fixed and Flexible Exchange
Rates. Canadian Journal of Economics and Political Science, 29, Nov 1963,
p.475-85.