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Módulo 1: Disciplina 1:

Macroeconomia, Mercado Financeiro,


Contabilidade Mercado de Capitais
e Riscos e Macroeconomia
Disciplina 1: Mercado Financeiro, Mercado de Capitais e Macroeconomia 2

Sumário

Apresentação 3

Por que a macroeconomia é chamada de economia agregada? 4

O Sistema de Contas Nacionais (SCN) 6


Disciplina 1: Mercado Financeiro, Mercado de Capitais e Macroeconomia 3

Apresentação
Para compreender melhor tudo o que você terá nessa jornada de estudos, ações,
títulos, derivativos e todos esses nomes que você vai ouvir muito daqui pra frente,
precisamos começar do básico: os conceitos econômicos.

A economia é a ciência que estuda a escassez, em outras palavras, como nós,


agentes econômicos, tomamos decisões e alocamos nossos recursos com base na
finitude destes – quanto mais escasso maior será seu valor.

Para entender cada uma dessas decisões coletivas que afetam nosso dia a dia,
veremos nesta apostila alguns conceitos que englobam grande parte do estudo de
economia, tais como: macroeconomia (economia agregada), microeconomia (como
as empresas e consumidores se comportam), os indicadores econômicos e muito
mais.

Vamos ao que interessa?


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Por que a
macroeconomia é
chamada de economia
agregada?
A macroeconomia é basicamente o estudo de estados de equilíbrio da economia,
seja um país, uma empresa, etc.

Pensamos no mercado como um sistema fechado, como o nosso planeta, um


número total de trabalhadores, produzindo X produtos e obtendo Y de renda.

Os agentes econômicos que compõem esta economia são divididos em quatro


categorias: famílias, empresas, o governo e o setor externo.

Numa economia fechada, abstraindo a existência do governo e do setor externo,


exemplificamos a macroeconomia pelo Fluxo Circular da Renda, uma simplificação
da economia geral, que agrega os agentes em dois grupos: famílias que consomem
e empresas que produzem.

Famílias consomem bens produzidos pelas empresas. Para que os bens sejam
produzidos, é necessária a transformação de insumos e dos fatores de produção –
capital e trabalho.

Mas como as empresas obtêm estes recursos?

Fazendo uma troca, as famílias cedem sua força de trabalho e seu capital, que será
remunerado - em forma de salário ou juros de aplicações.

Com esse capital em mãos, elas terão a possibilidade de consumir.

Entendeu a circularidade aqui?

A remuneração dos fatores de produção é o que chamamos de renda.


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Salário, juros, lucros e aluguéis são, respectivamente, o pagamento do fator trabalho e


dos capitais financeiro, empresarial e de empréstimo, formando a renda total.

Num sistema fechado, toda a renda obtida é utilizada para o consumo, gerando o
equilíbrio da economia.

Elaboração: Empiricus

O Sistema de Contas
Nacionais (SCN)
O Sistema de Contas Nacionais é a ferramenta que organiza e apresenta a geração de
renda de um país.

É a partir dele que chegamos aos agregados macroeconômicos como o PIB e seus
pares menos conhecidos – Produto Nacional Bruto (PNB), Produto Interno Líquido (PIL),
etc.

O SCN utiliza a lógica do fluxo circular de renda, isto é, se entrou dinheiro em algum
lugar significa que esse mesmo valor saiu de outro lugar.

Por isso, a sua estrutura é composta por balancetes, ferramenta contábil que equilibra
as contas de débito (saída de recursos) e crédito (entrada de recursos). Ao final, o total
de crédito deve ser igual ao total de débito.
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Vamos pensar num exemplo bem simples:

Imagine que a sua renda é composta pelo seu salário de R$3.000,00 e o aluguel de um
imóvel de sua propriedade, no valor de R$2.000,00.

Os seus gastos mensais são de R$1.000,00 com alimentação, R$500,00 com transporte,
R$500,00 com educação, R$300,00 com lazer e R$700,00 com outras despesas, lhe
sobrando ainda R$2.000,00 para poupar/investir.

Um balancete que expresse seu equilíbrio financeiro mensal ficaria dessa forma :

Débito Crédito
Alimentação R$ 1.000,00 Salário R$ 3.000,00
Transporte R$ 500,00 Aluguel R$ 2.000,00
Educação R$ 500,00
Lazer R$ 300,00
Outras despesas R$ 700,00
Poupança R$ 2.000,00
Total débito R$ 5.000,00 Total crédito R$ 5.000,00

Elaboração: Empiricus

Pensando numa estrutura mais completa, seus créditos são o débito do seu chefe e do
seu inquilino, e seus débitos também entrarão no crédito de outras famílias. Essa será a
lógica principal que utilizaremos daqui para frente.

Como vimos pelo FCR, temos duas contas principais que devem se equilibrar na
economia, a conta da geração de renda (das empresas) e da alocação dessa renda (das
famílias).

Sendo assim, o sistema completo é composto por 5 contas:

• Apropriação (consumo das famílias);


• Produção (das empresas);
• Investimento (do capital);
• Governo; e
• Setor Externo.
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Vamos explorar cada uma delas separadamente agora.

Importante: os 5 balancetes são integrados, dessa forma, todo crédito tem um débito
correspondente mas não necessariamente você o encontrará na mesma tabela.
Utilize os códigos na frente de cada lançamento para encontrar sua respectiva
contrapartida.

A conta de apropriação (consumo)

A conta da apropriação
Débito Crédito
Consumo das famílias (C) Salários pagos (A1)
Poupança das famílias (J) Lucros distribuídos (A2)
Lucros retidos pelas empresas (F) Aluguéis pagos (A3)
Impostos diretos pagos pelas famílias (T1) Juros pagos (A4)
Impostos diretos pagos pelas empresas (T2) Lucros retidos pelas empresas (F)
Outras receitas correntes do governo (V) Outras receitas correntes do governo (V)
Impostos diretos pagos pelas empresas menos subsí-
dios (T2 - N2)
Transferências às famílias (M1)
Transferências às empresas (M2)

Utiizacão da renda nacional líquida a custo de fatores Renda nacional líquida a custo de fatores mais
mais transferências transferências

Fonte: Paulani, Leda Maria. A nova contabilidade social: uma introdução à


macroeconomia.

A conta de apropriação mostra de que maneira as famílias alocam a renda recebida pela
troca dos fatores de produção.

Veja que no crédito temos a renda, ou seja, o recurso total que as famílias e o governo
possuem para consumir, dada pela conta do débito. Devido a igualdade entre crédito e
débito, o que não é consumido da renda vira poupança.
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Aqui nos deparamos com a existência de impostos e subsídios do governo que


incorporam parte da oferta de bens e serviços do SCN.
Os impostos são as transferências realizadas pelas famílias e empresas ao governo,
enquanto que o subsídio é caminho contrário, ou seja, valores transferidos para
empresas e famílias para auxiliar na produção ou, no caso das famílias, redistribuir a
renda.

A conta da produção

Conta da produção
Débito Crédito
Importações de bens e serviços (Mbs) Consumo das famílias (C)
Renda líquida enviada ao exterior (RLEE) Consumo do governo (G)
Salários pagos (A1) Formação bruta de capital fixo (FBKF)
Lucros distribuídos (A2) Variação de estoques
Aluguéis pagos (A3) Exportação de bens e serviços (Xbs)
Juros pagos (A4)
Depreciação (B)

Lucros retidos pelas empresas (F)


Impostos diretos pagos pelas empresas menos subsídios
(T2 - N2)
Impostos indiretos menos subsídios (U-N)
Outras receitas correntes do governo (V)

Oferta total de bens e serviços Demanda total por bens e serviços

Fonte: Paulani, Leda Maria. A nova contabilidade social: uma introdução à macroeconomia.

A conta de produção mostra a identidade entre renda e dispêndio (demanda), assim


como vimos pelo FCR.

A diferença aqui é que são destrinchados do lado do crédito da produção toda a


demanda por bens e serviços e do débito a oferta total, dada pela renda gerada de
cada modalidade de fator de produção utilizado.

Veja que o crédito da conta de apropriação encontra-se no débito da conta de


produção, um lançamento que expressa bem o método das partidas dobradas.
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Isso significa que há uma transferência de recursos da produção para a apropriação


via renda.

A igualdade entre Poupança e Investimento

Conta de capital (investimento)


Débito Crédito
Formação bruta de capital fixo (I.1) Poupança das famílias (J)
Variação de estoques (I.2) Lucros retidos pelas empresas (F)
Depreciação (B)
Saldo do governo em conta corrente (O)
Déficit do BP em transações correntes (K)

Investimento bruto total Poupança bruta total

Fonte: Paulani, Leda Maria. A nova contabilidade social:


uma introdução à macroeconomia.

O investimento é basicamente tudo aquilo que pode ser transformado em produto no


futuro ou armazenado para venda futura. É dividido então entre estas duas contas:
Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF) – investimento de empresas em capital – e
variação de estoques – bens guardados para venda futura.

Ainda é importante considerar a depreciação quando falamos de estoque e capital,


pois os bens perdem valor ao longo do tempo devido a desgastes, perdas ou até
obsolescência tecnológica.

O valor exato da depreciação de cada produto é encontrado ao se dividir o valor pago


pelo seu tempo de vida útil, dado em forma de percentual.

No Brasil estes valores são tabelados pela Receita Federal e podem ser encontrados
facilmente na internet.

Podemos dizer por exemplo que a FBKF é dada pela Formação Líquida de Capital
Fixo (FLKF) mais o valor depreciado:

FBKF = FLKF + Depreciação


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Essa informação é relevante uma vez que todo resultado líquido apresentado no SCN
é a soma de um resultado bruto menos a depreciação. A distinção entre o Produto
Líquido (PL) e o Produto Bruto (PB) é justamente a depreciação.

Entendida sua composição, vale agora a pergunta: de onde vem o dinheiro para o
investimento?

Dos recursos que, ao invés de consumir, poupamos. Dessa forma, a quantidade


investida deve ser igual a quantidade poupada.

No sistema completo, a poupança é composta por quatro partes: pela renda não
consumida das famílias; pelos lucros retidos pelas empresas para reinvestimento (não
distribuídos às famílias); pelo saldo líquido em transações correntes do governo (sua
poupança) e o déficit do balanço de pagamentos (poupança do setor externo).

Vale lembrar que, muitas vezes, no caso do Brasil especialmente, o governo gasta
mais do que poupa ou pode apresentar saldos positivos na balança comercial devido
às exportações de commodities.

Por isso, os termos “saldo” e “déficit” não devem ser considerados de forma literal,
podendo existir valores positivos e negativos em ambas as contas.

A conta do governo

Conta do governo
Débito Crédito
Consumo do Governo (G) Impostos diretos pagos pelas famílias (T1)
Transferências do governo às famílias (M1) Impostos diretos pagos pelas empresas (T2)
Transferências do governo às empresas (M2) Impostos indiretos (U)
Subsídios (N) Outras receitas do governo (V)
Saldo do governo em conta corrente (O)

Utilização da receita corrente Total da receita do governo

Fonte: Paulani, Leda Maria. A nova contabilidade social:


uma introdução à macroeconomia.
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Podemos dizer que a conta do governo é análoga à conta de apropriação, mostrando de


um lado a receita arrecadada pelo governo via tributação e do outro como este valor foi
alocado.

O saldo do governo em conta corrente no lado do débito é lançado pela necessidade


do equilíbrio contábil, assim fica como a parte do recurso que, ao ser recebido, não foi
utilizado (ou foi utilizado a mais no caso de um déficit orçamentário, sendo lançado
como valor negativo).

O consumo do governo (G) pode ser entendido como o valor necessário para operar a
máquina pública, enquanto que as transferências e subsídios fazem parte da sua política
de atuação na redistribuição de renda – pagamento de pensões e aposentadoria – e no
impulsionamento da atividade produtiva.

Ainda podemos classificar, do lado do crédito, os impostos arrecadados em dois tipos:


os diretos e indiretos.

Impostos diretos incidem sobre a renda ou propriedade e são recolhidos diretamente,


como o imposto de renda em nível nacional e o IPTU e IPVA em nível municipal

Os indiretos não são pagos pelas famílias diretamente, mas sim incorporados no preço
de bens e serviços adquiridos. Os mais conhecidos são o IPI e o ICMS, recolhidos pelo
governo federal e estadual respectivamente.

O Setor Externo

Conta do setor externo


Débito Crédito
Exportações de bens e serviços (Xbs) Importações de bens e serviços (Mbs)
Déficit do BP em transações correntes (K) Renda líquida enviada ao exterior (RLEE)

Total do débito Total do crédito

Fonte: Paulani, Leda Maria. A nova contabilidade social: uma introdução à macroeconomia.

Mais a frente neste capítulo iremos destrinchar o Balanço de Pagamentos e todas


as contas que o envolvem. Por agora, o que você precisa saber é que consideramos
somente as transações correntes do BP para o cálculo do SCN, dado pelo Saldo da
Balança de Comércio e de Serviços (SBCS).
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O saldo da balança de rendas – rendas a serem enviadas para o exterior pelo uso de
fatores de produção estrangeiros – e as transferências unilaterais e doações realizadas
fazem parte da Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE).
As importações e a RLEE fazem parte da conta de crédito, pois a ótica da conta do
setor externo é do país estrangeiro, ou seja, aquele que recebe as transferências de
recursos.

No BP veremos que esta lógica é invertida.

O déficit do BP em transações correntes é a poupança do setor externo, em outras


palavras, aquele recurso que não foi utilizado no pagamento das exportações do país
doméstico.

Aqui, podemos inserir mais um conceito de produto: o interno e o nacional.

• Produto Interno (PI): Valor dos bens e serviços produzidos no país, independente do
país proprietário do fator de produção.

Produto Nacional (PN): Valor dos bens e serviços produzidos pelos fatores de produção
do país, independentemente do país onde estes estejam empregados.

Isso significa, por exemplo, que o produto das multinacionais entra no cálculo do PI
mas não do PN.

A conta que distingue efetivamente os dois produtos é a Renda Líquida Enviada ao


Exterior (RLEE):

PI = PN + RLEE

Na maior parte dos casos, os países mais desenvolvidos são grandes exportadores
de capital e, portanto, recebem liquidamente (exportação menos importação) renda do
exterior. Ou seja, o produto nacional é maior que o produto interno, enquanto ocorre o
inverso com os países menos desenvolvidos.

Importante: a conta do setor externo não é nada mais do que a conta do balanço
de pagamentos em transações correntes com os lançamentos invertidos. No
SCN, exportações e importações de bens e serviços são tratados conjuntamente;
no BP estes saldos são tratados separadamente.

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