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Módulo 18 

 
DÉFICIT E DÍVIDA PÚBLICA 
 A arrecadação total de impostos no país corresponde à chamada carga tributária
bruta.  
 A diferença entre a carga tributária bruta e as transferências governamentais é a
carga tributária líquida do governo.  
 Dentro destas transferências governamentais, estão enquadrados os gastos com
programas de transferência de renda, subsídios, assistência e previdência social
e os juros da dívida interna. É com base nesta carga tributária líquida que o
governo pode financiar seus gastos correntes (o chamado consumo do
governo). A diferença entre a carga tributária líquida e os gastos correntes
determina a poupança do governo em conta corrente.  
 Carga tributária bruta (CTB) = Total de impostos arrecadados  
 Carga tributária líquida (CTL) = (CTB) – Transferências do governo  
 Poupança do governo = (CTL) – Gastos correntes  
 A poupança do governo não é o resultado do orçamento público, nem se
constitui em uma medida do déficit público, pois não consideras as despesas de
capital. O que ela mostra é a capacidade de investimento do governo, sem
pressionar outras fontes de financiamento.  
 Deixe-me explicar: quando o governo apresenta poupança positiva (excesso de
carga tributária líquida sobre os gastos correntes) é sinal que sobrou um dinheiro
que poderá ser usado para as despesas de capital, que são os investimentos
públicos (gastos de capital), como construção de escolas, estradas, portos etc.  
 A diferença entre a poupança do governo (ou poupança pública) e o
investimento público fornece o valor do superávit público, ou déficit, se o
resultado for negativo. Se a poupança do governo for maior que o investimento
público, haverá superávit público. Se o investimento for maior que a poupança,
haverá déficit público. Note que a diferença entre poupança do governo e
investimento público significa a diferença entre a arrecadação total e o gasto
total.  
 Assim:  
SUPERÁVIT PÚBLICO = poupança do governo – gastos de capital ou = poupança do governo –
investimentos do governo ou =total de impostos – transferências do governo – gastos
correntes – gastos de capital  
Se o resultado for negativo, há DÉFICIT PÚBLICO 
 Quando há superávit público, isto significa que o governo está arrecadando mais
do que está gastando, logo, está fazendo política fiscal contracionista
(restringindo a demanda agregada). Quando há déficit público, isto significa que
o governo está gastando mais do que está arrecadando, logo, está fazendo
política fiscal expansiva (aumentando a demanda agregada).  
 Devemos nos concentrar agora na situação em que há déficit público (os
investimentos superam a poupança, ou os gastos totais superam a arrecadação
total). Caso o governo incorra em déficit, o gasto que supera a receita deverá ser
financiado de alguma maneira, ou seja, o governo deverá, ou “tirar” dinheiro de
algum lugar para cobrir este déficit, ou ainda, poderá “fabricar” dinheiro. O ato
de “fabricar” dinheiro consiste na emissão de moeda pelo Banco Central. O ato de
“tirar” dinheiro de algum lugar consiste na venda de títulos públicos ao setor
privado (interno e externo).  
 Funciona dessa maneira: o governo, prometendo uma determinada remuneração
(juros), vende títulos ao setor privado. Assim, ocorre uma troca: o setor privado
entrega dinheiro ao governo, que, por sua vez, entrega o título (público) ao setor
privado. Esta operação consiste em uma transferência de poupança do setor
privado para o setor público, onde o setor privado utiliza o seu excedente
(poupança) para comprar os títulos do governo. Assim, o setor privado entrega a
sua poupança ao setor público.  
 Resumimos assim as duas principais maneiras de se obter recursos para financiar o
déficit público:  
 Emitir moeda : o Banco Central (instituição emissora de moeda) emite moeda e a
entrega ao Tesouro Nacional (União). Esta operação também pode ser conceituada
como uma venda de títulos públicos ao Banco Central. Assim, o BC recebe títulos
(emitidos pelo Tesouro Nacional) e entrega moeda ao Tesouro Nacional, e este
utiliza esta moeda para financiar o seu déficit (pagar os credores) elevando a base
monetária da economia.  
 Venda de títulos públicos ao setor privado (interno e externo).  
 A primeira forma de financiamento do déficit (emissão de moeda) tem a
inconveniente consequência de provocar inflação, conforme apregoa a teoria
quantitativa da moeda, sendo que, neste caso, a emissão de moeda
representaria política monetária expansiva. Entretanto, ela tem a vantagem
de não implicar endividamento do governo, pois ele simplesmente “imprime” o
dinheiro de que necessita.  
 A segunda forma tem a inconveniente consequência de aumentar o
endividamento público. Este, por sua vez, traz uma nova categoria de gastos que
é a rolagem e o pagamento dos serviços (juros, custas, emolumentos etc.) dessa
dívida. Contudo, ela tem a vantagem de não provocar pressões inflacionárias
adicionais, além daquelas que foram provocadas em momento anterior pelo
excesso de gastos públicos, uma vez que, vendendo títulos, o governo não estará
criando mais moeda para satisfazer o seu déficit. 
 Os conceitos de déficit e dívida pública não se confundem. Déficit é o excesso de
gastos sobre a arrecadação, enquanto dívida é o acumulado de déficits, ou seja,
é uma espécie de passivo do Estado. Dizemos que o déficit é uma variável “fluxo”
e a dívida é uma variável “estoque”. Este método de apuração do déficit público
explicado acima é o método tradicional, no entanto, ele apresenta algumas
incorreções, porquanto considera o conceito de governo levando em conta
apenas a administração direta (União, Estados, Municípios e DF).  
 Todavia, sabemos que existem outras instituições públicas não enquadradas na
administração direta que auferem receitas e realizam gastos. Temos, por exemplo,
as empresas estatais (empresas públicas e sociedades de economia mista), as
autarquias e as fundações públicas. A fim de solucionar este problema, o Brasil
passou a utilizar a partir do início da década de 1980 um método mais
abrangente utilizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Esse método é o
de Necessidade de Financiamento do Setor Público Não Financeiro (NFSP).  
 Não se assuste com o nome, pois ele próprio sugere o seu significado: necessidade
de financiamento (ou seja, é igual a déficit, pois quando há déficit, há também a
necessidade de financiá-lo, daí o nome “necessidade de financiamento...”). No
entanto, antes de definir as NFSP, devemos saber o que a diferença entre os
critérios “acima” e “abaixo” da linha, bem como entre os conceitos primário,
operacional e nominal. 
 
Déficit Primário, Operacional e Nominal 
 O déficit primário, como o nome sugere, é a mensuração mais básica, pois
considera apenas a diferença entre as despesas não-financeiras e as receitas não-
financeiras. Se o resultado for positivo, temos um déficit primário. O
termo “receitas não-financeiras” pode aparecer como “receitas primárias”, que
dá no mesmo, ok?  
 Os outros dois conceitos irão agregar alguns elementos ao cálculo do déficit. Foi
por isso que partimos do primário.  
 Déficit Primário (DP) = Despesas não financeiras – Receitas não financeiras  
 O Brasil tem buscado obter superávits primários mensurados como uma
porcentagem do PIB, para assim poder reduzir a dívida pública.  
 O déficit operacional leva em consideração o pagamento dos juros reais. Ou seja,
são consideradas as despesas financeiras: 
 Déficit Operacional (DO) = DP + juros reais da dívida pública  
 Por fim, o déficit nominal nada mais é que o déficit operacional corrigido pela
inflação. Ele também pode ser calculado somando as despesas financeiras e não-
financeiras e subtraindo as receitas financeiras e não financeiras.  
 Déficit nominal = DO + inflação ou (Despesas não-
financeiras+despesas financeiras) – (Receitas não-
financeiras+receitas financeiras) = Déficit nominal  
 Como as mensurações do déficit estão relacionadas entre si, surgem diversas
formas de obter uma delas, partindo-se de outra. A figura a seguir ilustra algumas
dessas formas:  
 

 
 
 A mensuração que vimos até agora, na qual são observadas as diferenças entre as
despesas e receitas, é chamada de apuração do resultado fiscal “acima da linha”,
em contraposição à mensuração “abaixo da linha”, que considera a variação da
dívida líquida total. Explicando melhor: segundo o critério “abaixo da linha”,
quando a dívida líquida total aumenta, interpreta-se que houve resultado fiscal
negativo (déficit), do contrário, quando a dívida líquida total diminui, sabe-se que
houve superávit. 
 

 
 
Agora, nos concentraremos na apuração do resultado “abaixo da linha”: as necessidades de
financiamento do Setor Público. 
 
 Mensuração acima da linha ou abaixo da linha 
 Verifique, apenas como exemplo, a estrutura de gastos de “José” no mês de março
de 2020: 
 

 
 
 Fazendo um paralelo entre o orçamento de José, representado acima, e o
orçamento do governo, temos o seguinte acerca dos métodos de mensuração do
déficit público:  
  Acima da linha: ocorre quando se mede o déficit com base na execução
orçamentária das entidades que o geram, isto é, diretamente das receitas e das
despesas. No caso de José, pelo método acima da linha, mediríamos o déficit por
meio da medição do que foi auferido como receita e do que foi gasto como
despesa (pela verificação dos dados que estão acima da linha, como o próprio
nome sugere).  
 No caso do governo, verificamos quais foram os gastos com, por exemplo,
educação, saúde, custeio etc. (enfim, todos os gastos das entidades) e quais
foram as receitas, para, então, verificarmos o déficit ou superávit público.  
  Abaixo da linha: por este método, mede-se o tamanho do déficit pelo lado
do financiamento. Em vez de se preocupar com as receitas e gastos,
simplesmente, faz-se a seguinte pergunta: quanto eu tenho que pagar (quanto
eu tenho que financiar)? A resposta será o próprio déficit público . No caso de
José, pelo método abaixo da linha, mediríamos o seu déficit pela quantia que ele
precisa financiar para fechar as contas do mês (ele precisa financiar 300, logo,
300 é o seu déficit ou sua necessidade de financiamento).  
 Os dados oficiais das necessidades de financiamento do Brasil são gerados pelo
Banco Central e o método utilizado é o “abaixo da linha”, ou seja, a partir das
alterações no valor da necessidade de financiamento (ou na variação do
endividamento). A razão da escolha desse critério é que, se a conferência de
receitas e despesas é diferente da variação do endividamento, o mais provável é
que os dados acima da linha, muito mais trabalhosos e complicados de
contabilizar, estejam errados (algum item talvez não tenha sido corretamente
apurado, gerando, porém, na prática, uma variação na necessidade de
financiamento). 
 Conquanto os dados oficiais sejam mensurados por meio do método “abaixo da
linha”, outras entidades governamentais (geralmente as unidades orçamentárias
de menor escalão) fazem levantamentos “acima da linha”, pois, apesar de mais
imprecisos, eles permitem saber de forma mais apropriada o que exatamente se
passa com a receita e a despesa das unidades orçamentárias (com o que está se
gastando mais, por exemplo). Assim, perceba que nós podemos conceituar as
NFSP utilizando qualquer um dos dois critérios, ainda que o cálculo oficial realizado
pelo BC utilize somente o critério abaixo da linha. Assim, se você vir uma questão
de prova com este formato: “pelo critério acima da linha, conceituam-se as
NFSP...”; não estranhe, pois o critério acima da linha está sendo usado apenas
como meio de conceituação e isto não significa que o BC utilize o critério acima da
linha para apurar as NFSP. 
 
 
1.2.1 As NFSP segundo o critério “acima” da linha 
 Neste ponto, devemos distinguir três conceitos de necessidade de financiamento
do setor público (NFSP):  
 Déficit nominal ou total (Necessidade de Financiamento do Setor Público –
Conceito nominal): engloba qualquer necessidade de novos financiamentos para
fazer frente a qualquer despesa. Podemos então concluir que o déficit nominal
significa: gastos totais menos receitas totais. 
 Déficit primário ou fiscal (Necessidade de Financiamento do Setor Público –
Conceito primário): é medido pelo déficit total, excluindo a correção monetária e
cambial da dívida e os pagamentos de juros de dívidas contraídas anteriormente.
De fato, é a diferença entre os gastos públicos e a arrecadação tributária no
exercício, independente de juros e correções da dívida passada. Podemos então
concluir que o déficit primário significa: gastos não financeiros menos receitas
não financeiras. Pode ser conceituado também como: déficit primário = déficit
nominal – pagamento de juros nominais. Consequentemente, temos: déficit
nominal = déficit primário + pagamento de juros nominais.  
 Déficit operacional (Necessidade de Financiamento do Setor Público – Conceito
operacional): é medido pelo déficit primário acrescido dos pagamentos de juros
da dívida passada. Em outras palavras, é o déficit nominal, excluindo a correção
monetária e cambial. Este é o conceito considerado mais adequado para refletir
as necessidades reais de financiamento do setor público, uma vez que o conceito
nominal se apresenta inconveniente, já que é muito suscetível às variações nas
taxas de inflação (elas causam correção monetária) e às variações na taxa de
câmbio (causam correção cambial). Assim, as cláusulas de correção monetária
(devido à inflação) fazem com que qualquer aumento da inflação eleve as NFSP,
sem que isso signifique maiores gastos. Nos períodos de inflação elevada, era o
conceito para se medir o déficit público. Podemos, então, concluir que o déficit
operacional significa: déficit operacional = déficit primário + pagamentos de
juros reais. Hoje, no entanto, com a inflação e câmbio relativamente estáveis, o
déficit nominal é o mais adequado, pois é o mais amplo (receitas totais – gastos
totais). 
JUROS NOMINAIS X JUROS REAIS  
 A taxa de juros nominal corresponde ao ganho monetário obtido por
determinada aplicação, independente do comportamento do valor da moeda
(independente da inflação). Por exemplo, se eu aplico hoje R$ 100,00 e resgato
daqui a 01 mês R$ 130,00, a taxa de juros nominal foi de 30% a.m., ou seja, os R$
30,00 que eu ganhei em relação aos R$ 100,00 que apliquei. Se eu tivesse
resgatasse R$ 300,00, a taxa de juros nominal teria sido de 200% a.m. A taxa de
juros real corresponde ao ganho que se obtém em termos de poder de
compra. Ou seja, ela corresponde à taxa de juros nominal recebida, descontada a
perda de valor da moeda, isto é, descontada a inflação no período da aplicação.
Ou seja, a taxa de juros real é igual à taxa de juros nominal menos a taxa de
inflação. Suponha que eu tenha aplicado R$ 100,00 e resgatado R$ 130,00; mas a
inflação no período tenha sido de 30%. Neste caso, percebemos claramente que os
30% que eu ganhei nominalmente foram totalmente corroídos pela inflação. Do
ponto de vista real, descontada a inflação, o ganho da aplicação foi de 0%. Assim,
podemos definir que a taxa de juros nominal corresponde à soma entre a taxa de
juros real e a taxa de inflação: juros reais = juros nominais - inflação ou juros
nominais = juros reais + inflação  
 Veja que o conceito de juros nominais é bem mais amplo, e inclui a inflação
(correção dos preços). Esta correção dos preços pode ser resumida nas correções
monetária e cambial, pois tais correções são decorrentes de variações no valor
da moeda (correção monetária e cambial). Assim, quando somamos os juros
nominais ao déficit primário, estamos somando não somente as taxas de juros
sobre a dívida, mas também a correção monetária e cambial. Por isso: déficit
nominal = déficit primário + juros nominais. Os juros reais não incluem a
correção de preços (correção monetária e cambial). Por isso: déficit operacional
= déficit primário + juros reais Desta forma, observe que o déficit operacional
analisa o déficit do ponto de vista “real” (descontando a inflação). Fique atento
quando a questão fala em juros nominais ou reais. Neste caso, apenas se a
questão fizer esta distinção entre "nominais" e "reais", os conceitos que você deve
decorar são os que estão acima. 
 Esta diferenciação é importante, pois muita gente não entende por que o déficit
nominal é igual ao déficit primário (e não o déficit operacional) mais os juros
nominais. A chave está no entendimento da diferença entre juros nominais e
juros reais. Se for falado apenas “juros”, sem especificar se são “nominais” ou
“reais”, você pode adotar o seguinte:  
 déficit nominal = déficit primário + juros + correção monetária e/ou cambial  
 déficit operacional = déficit primário + juros 
 Nota: quando se fala em NFSP, sem especificar se é o conceito nominal,
operacional ou primário, a intenção é tratar do conceito nominal, que é o mais
amplo dos três (receitas totais – gastos totais).O quadro a seguir resume as
principais diferenças entre os conceitos de déficit público: 
 

 
 Os mesmos conceitos se aplicam quando falamos de superávits, assim, temos: 
  Superávit primário: excesso de arrecadação sobre os gastos totais, excluindo os
gastos (ou receitas) com pagamentos de juros sobre a dívida e correção
monetária e cambial. 
 Superávit operacional: resultado primário levando-se em conta, adicionalmente,
os gastos (ou receitas) com pagamentos de juros reais.  
 Superávit nominal: resultado operacional levando-se em conta, adicionalmente,
os gastos (ou receitas) com correção monetária e cambial da dívida
passada. Pode ser também igual ao superávit primário mais os pagamentos de
juros nominais.  
 Ressaltamos também que, quando temos superávits, em qualquer conceito, não
temos Necessidades de Financiamento, ou podemos dizer também que as
Necessidades de Financiamento, neste caso, são negativas. Quando as NFSP são
positivas, há déficit (uma vez que há “necessidade” de financiamento). O
conceito que apresenta maior destaque na mídia é o conceito primário, pois é ele
que mostra efetivamente como está a condução da política fiscal do governo
(apesar do conceito primário ser o mais “badalado”, ele não é o mais relevante; o
mais importante e relevante é o conceito nominal, que é o mais amplo), ao
apurar somente a arrecadação de impostos e os gastos correntes e de
investimento, independentes da dívida pública (que provoca gastos/receitas com
pagamentos de juros e correção monetária). 
 A relevância desse conceito está no fato de separar o esforço fiscal do impacto das
variações nas taxas de juros, o que, dependendo do tamanho da dívida pública,
tem grande influência sobre as necessidades de financiamento do governo. 
 
 
1.2.2 As NFSP “abaixo” da linha (Manual de Finanças Públicas do BCB) 
 Em primeiro lugar, veja que, seguindo o método abaixo da linha, nós temos que a
NFSP será igual à variação da dívida em um determinado período. Por exemplo,
suponha que José (aquele mesmo do quadro que montamos no quadro), antes do
mês de março, não tenha qualquer dívida com quem quer que seja (ou seja, dívida
de José antes de janeiro igual a 0). Em março, entretanto, José teve NFSP de 300
(déficit de 300). A variação de sua dívida, portanto, foi no valor de 300. Você
observa que a dívida variou exatamente no valor da necessidade de financiamento
(NFSP). Por este exemplo, é fácil constatar, de um modo geral, que a NFSP será
sempre igual à variação da dívida. Com o governo, ocorre o mesmo: a NFSP
corresponde à variação da dívida pública. Se o governo, em um período,
apresentar necessidade de financiamento, digamos, no valor de 100, então, isso
é sinal que a sua dívida aumentou em 100 (NFSP=variação da dívida). A partir
desta ideia, podemos verificar mais a fundo como conceituamos as NFSP por meio
do critério abaixo da linha. Ressalto que este é o critério utilizado pelo BC, e que
consta no seu Manual de Finanças Públicas. Seguem os conceitos que foram
retirados quase que literalmente do Manual do BC. Portanto, fique atento, pois o
examinador pode fazer um “copiar”/”colar”, apenas mudando palavras para te
confundir: 
  Resultado nominal sem desvalorização cambial: corresponde à variação nominal
dos saldos da dívida líquida do setor público (DLSP), deduzidos os ajustes
patrimoniais efetuados no período (receitas de privatizações e os
reconhecimentos de dívida). Exclui, ainda, o impacto da variação cambial sobre a
dívida externa e sobre a dívida mobiliária interna indexada à moeda estrangeira
(este ajuste levando-se em conta a indexação à moeda estrangeira é chamado de
“ajuste metodológico”).  
 Abrange o componente de atualização monetária da dívida, os juros reais e o
resultado fiscal primário.  
 A Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) é dada pela soma das dívidas interna e
externa do setor público (governo central, Estados e municípios e empresas
estatais) junto ao setor privado, incluindo a base monetária e excluindo-se ativos
do setor público, tais como reservas internacionais, créditos com o setor privado
e os valores das privatizações. Ou seja, estes últimos (os ativos), por serem
excluídos, reduzem a dívida líquida do setor público.  
 Ajuste patrimonial corresponde a variações nos saldos da dívida líquida não
consideradas no cálculo do déficit público. Inclui as receitas de privatização e a
incorporação de passivos contingentes (esqueletos), que correspondem a dívidas
juridicamente reconhecidas pelo governo, de valor certo, e representativas de
déficits passados não contabilizados (o efeito econômico já ocorreu no
passado).  
 Resultado nominal com desvalorização cambial: corresponde à variação nominal
dos saldos da dívida líquida, deduzidos os ajustes patrimoniais efetuados no
período (privatizações e reconhecimento de dívidas). Exclui, ainda, o impacto da
variação cambial sobre a dívida externa (ajuste metodológico). Abrange o
componente de atualização monetária da dívida, os juros reais, a apropriação da
variação cambial sobre a dívida mobiliária interna – que consiste na dívida
pública representada por títulos emitidos pela União, inclusive os do Banco
Central, Estados e Municípios – e o resultado fiscal primário.  
 Nota 1: veja que, mesmo considerando “com desvalorização cambial”, não se
considera (é excluído) o impacto da variação cambial sobre a dívida externa. Para
a dívida interna, contudo, considera-se a variação cambial.  
 Nota 2: Segundo Fernando Rezende, ainda podemos conceituar a NFSP
nominal como: a variação da dívida fiscal líquida (DFL - A Dívida Fiscal Líquida,
dada pela diferença entre a DLSP e o ajuste patrimonial) entre dois períodos de
tempo.  
 Resultado primário: os juros incidentes sobre a dívida líquida dependem do nível
de taxa de juros nominal e do estoque de dívida, que, por sua vez, é
determinado pelo acúmulo de déficits nominais passados. Assim, a inclusão dos
juros no cálculo do déficit dificulta a mensuração do efeito da política fiscal
executada pelo governo, motivo pelo qual se calcula o resultado primário do setor
público, que corresponde ao déficit nominal (NFSP) menos os juros nominais
apropriados por competência, incidentes sobre a dívida pública. A parcela dos
juros externos e incidentes sobre a dívida mobiliária vinculada à moeda
estrangeira é convertida pela taxa média de câmbio de compra.  
 Nota 3: o Manual do BC realmente “pula” o conceito de resultado operacional. Isto
se deve à atual conjuntura econômica do Brasil, onde, em virtude dos baixos
índices inflacionários, o déficit operacional perdeu sua relevância. A própria LRF
(Lei de Responsabilidade Fiscal), em diversas passagens, faz referência somente
aos resultados nominai e primário, ignorando o resultado operacional. No entanto,
para provas de concursos, é claro, você deve saber os três conceitos. Dos conceitos
acima, extraídos principalmente do Manual de Finanças Públicas do Banco Central
do Brasil, pode-se depreender, de forma esquematizada, que:  
 Resultado nominal s/ desvalorização cambial variação da DLSP – Ajustes
patrimoniais – impacto da variação cambial sobre as dívidas interna e externa  
 Resultado nominal c/ desvalorização cambial variação da DLSP – Ajustes
patrimoniais – impacto da variação cambial sobre dívida externa  
 Resultado nominal variação da DFL entre dois períodos (ver nota 2) Resultado
operacional variação da DFL – correção monetária da dívida*  
 Resultado primário variação da DFL – correção monetária da dívida – Juros reais
DFL = DLSP – ajuste patrimonial  
 *Essa correção monetária da dívida também é chamada de imposto inflacionário,
tendo em vista representar exatamente o impacto negativo que a inflação tem
sobre a moeda.  
 Assim, Resultado operacional = variação da DFL – imposto inflacionário. 
 Portanto, perceba que a variação da DFL entre dois períodos corresponde ao
resultado nominal, de forma que as NFSP correspondem ao déficit nominal
apurado no período considerado. 
 
Regime de contabilização 
 Existem dois tipos de regimes para contabilização do déficit público:  Regime de
competência: os fatos contábeis são registrados de acordo com o período em que
ocorreu o fato gerador (despesa ou receita). Por exemplo, imagine que o governo
brasileiro faça a compra de 10 aviões caça da França, no valor de US$ 150 bilhões.
No regime de competência, a despesa será contabilizada no momento do fato
gerador (momento da compra) e não quando o governo brasileiro efetua o
pagamento ao governo francês.  Regime de caixa: os fatos são registrados
quando se dá o pagamento ou o recebimento. No exemplo acima, segundo o
regime de caixa, a compra dos aviões só seria contabilizada quando houvesse o
pagamento ao governo francês. De acordo com o regime utilizado, pode-se chegar
a diferentes valores de déficit/superávit. No Brasil, As NFSP são apuradas pelo
regime de caixa, à exceção dos resultados de juros, que são apurados pelo regime
de competência. Isso significa que as despesas públicas (exceto os juros) são
consideradas como deficit no momento em que são pagas, e não quando são
geradas. Isso vale para as receitas, que são computadas quando entram no caixa
do governo, e não quando ocorre o fato gerador. Assim, o regime de competência
neste caso torna a despesa de juros mais regular ao longo do tempo, sendo,
portanto, mais consistente com a apuração da dívida do setor público junto ao
sistema financeiro. 
 
1.4 Sustentabilidade do endividamento público 
 De um modo geral, a noção que devemos ter se uma dívida é grande ou não vai
depender muito do devedor de que estamos tratando. Por exemplo, suponha que
uma empresa de pequeno porte (uma loja) deva uns R$ 300.000 a um banco. Se a
empresa é pequena, e fatura pouco, isto representa uma grande dívida. A empresa
pode até decretar falência por causa disso. 
 Com um país (em vez de uma empresa ou pessoa), a situação é semelhante em
alguns aspectos. A diferença está no fato de que um país não precisa de
“autorização” para se endividar. Basta ele emitir (e vender) títulos no mercado e,
pronto, a dívida aumenta. Nesta situação, é diferente de uma pessoa normal, para
a qual é necessário um agente credor (um banco, geralmente) interessado em
emprestar algum dinheiro. A semelhança acontece no que se refere à análise se
uma dívida vai ser grande ou não. O item levado em conta para avaliarmos se
uma dívida é grande ou não é a relação da dívida com o “faturamento” ou a
“renda” do país. Só que um país não possui faturamento, mas sim um “PIB”.
Assim, nós avaliamos a sustentabilidade do endividamento público a partir da
relação dívida/PIB. Se esta relação for baixa, o endividamento é sustentável. Na
medida em que a relação aumenta, o endividamento perde
sustentabilidade. Assim, uma dívida pública de R$ 1,5 trilhão para um país com
PIB de R$ 4,5 trilhões não é tão grave. Ou seja, a relação dívida/PIB seria de 30%, o
que é considerado uma relação muito boa. Dívida sustentável. Já a mesma dívida
(R$ 1,5 bilhão) para um país com PIB bem menor (por exemplo, que possui um PIB
de R$ 1,5 bilhão...) seria mais grave. Ainda em relação ao endividamento público,
apresentamos abaixo alguns conceitos que podem cair em prova (retirado do
trabalho “Sustentabilidade e limites de endividamento público: o caso brasileiro”,
publicado no site do Tesouro Nacional): 
   Solvência;  Liquidez;  Sustentabilidade; e  Vulnerabilidade  
 Um primeiro conceito relacionado à discussão da dinâmica da dívida pública é o
de solvência. Uma entidade qualquer é dita solvente se o valor presente
descontado de seus gastos primários (isto é, exclusive encargos financeiros)
correntes e futuros não é maior que o valor presente descontado de sua renda
corrente e futura, líquida de qualquer endividamento inicial. Ou seja, na análise
da dívida pública, de modo simplificado, podemos entender que a condição de
solvência requer que a previsão de receitas (presentes e futuras) seja maior que
a previsão de despesas (presentes e futuras).  
 Outro conceito é o de liquidez. Uma entidade é dita líquida se seus ativos líquidos
e o financiamento disponibilizado pelo mercado são suficientes para honrar o
pagamento e/ou a rolagem do serviço e das amortizações de suas dívidas.  
 O terceiro conceito é o de sustentabilidade. A posição de endividamento de uma
entidade é dita sustentável se ela satisfaz a condição de solvência sem que sejam
necessárias maiores correções em suas receitas e/ou gastos dados os custos de
financiamento que ela encara no mercado. Portanto, o conceito de
sustentabilidade engloba conjuntamente os conceitos de solvência e liquidez, sem
fazer uma delimitação clara entre eles. 
 Dentro desta ideia de sustentabilidade, existem (existiram) vários estudos sobre o
que seria uma dívida sustentável. Conforme dissemos, hoje, pelo menos para fins
de prova, o que interessa é nós focarmos na relação dívida/PIB. No entanto, ainda
vale a pena expor aqui na aula o argumento de Bohn (o mais relevante, para
concursos): Caso o resultado primário responda positivamente a acréscimos na
dívida pública, então, esta pode ser vista como sustentável (mesmo em
ambiente de incerteza econômica). Por fim, o conceito de vulnerabilidade é
simplesmente o risco de que as condições de solvência e/ou liquidez sejam
violadas e a entidade devedora entre em crise. 
 

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