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Introdução à Economia

VI – Finanças Públicas e Política Orçamental

Ano Letivo 2022/2023


VI. Finanças Públicas e Política Orçamental
Responsabilidades económicas do Estado :
•Definição do quadro legal (definição das “regras do jogo”);
•Promoção duma afetação eficiente dos recursos (obrigando à internalização de externalidades,
compensando falhas na concorrência, combatendo a discriminação, …);
•Redistribuição da riqueza e combate à pobreza, ou seja, promoção da equidade;
•Estabilização da conjuntura (“alisamento” do ciclo económico através da política orçamental e/ou
monetária);
•Promoção do crescimento económico e do desenvolvimento socioeconómico que dele depende.

O Estado precisa de recolher receitas para financiar as despesas inerentes ao cumprimento das suas
funções. O Orçamento Geral do Estado é o documento que prevê as receitas e despesas anuais do Estado.
O OGE detalha as despesas a efetuar e o respetivo valor, bem assim como a forma de as financiar. Em
Portugal é apresentado pelo Governo à Assembleia da República, para aprovação legislativa, até 15 de
Outubro de cada ano. (veja também: https://app.parlamento.pt/comunicar/v1/202210/82/artigos/art1.html)

As principais componentes da despesa pública são:


• Remunerações dos funcionários públicos;
• Transferências para o setor privado (e.g., pensões de reforma, benefícios de assistência social como o
subsídio de desemprego, subsídios pagos às empresas, rendimento social de inserção, …)
• Aquisições de bens e serviços, necessárias ao funcionamento dos organismos públicos;
• Investimentos públicos;
• Juros da dívida pública.

A política orçamental consiste na utilização deliberada da receita e despesa do Estado para realizar
objetivos de política económica
VI. Finanças Públicas e Política Orçamental

A despesa pública pode ser financiada por:


• Receita pública, nomeadamente impostos (T);
• Emissão de Dívida Pública: emissão de bilhetes do tesouro ou obrigações do tesouro que são adquiridos
pelo sector privado (interno ou estrangeiro);
• Emissão de moeda pelo Banco Central (variação da base monetária).

Chama-se Saldo Orçamental Primário (SO primário) à diferença entre Receitas líquidas e Despesas públicas
primárias (não incluem juros da dívida pública), num dado ano. Ou seja, SOprim = T– G
onde
T = Impostos – transferências (ou seja, impostos líquidos de transferências)
G = despesa pública primária (ou seja, consumo + investimento, do estado)

Se G>T há um défice orçamental (défice=T-G) o qual tem que ser financiado com aumento da dívida pública
(porque na Área Euro, a que pertencemos, a lei não permite financiamento através de emissão de moeda)
MAS a dívida pública paga juros (o chamado “serviço da dívida”)

Então, o valor do Saldo Orçamental Total (SOT), num ano t, é o saldo primário deduzido dos juros:
SOTt = (T – G)t – rt .Dt-1
onde
• rt = taxa de juro real em vigor
• Dt-1 = dívida pública passada (em termos reais)
• Rt.Dt-1 = juros da dívida pública (a que se chama “serviço da dívida”)
VI. Finanças Públicas e Política Orçamental

Tendo em conta que SOTt = (T – G)t – rt .Dt-1


e que, na Zona Euro, os défices do setor público não podem ser financiados através de emissão
de moeda pelo banco central, conclui-se:
DD = - SOTt onde DD significa ‘variação da dívida’
então,
- se o saldo orçamental for negativo (défice), a dívida pública aumenta;
- se o saldo orçamental for positivo (superavit), a dívida pública diminui;
- se o saldo orçamental for nulo, a dívida pública mantém o seu valor.

Neste último caso, 0 = (T – G)t – rt Dt-1


isto é, (T – G)t = rt.Dt-1

Ou seja, nesta situação as receitas do estado (ou seja, os impostos líquidos T) são superiores às
despesas primária (G) num montante exatamente igual ao valor dos juros da dívida (rt.Dt-1 )

Na prática, o indicador de dívida pública mais usado não é o seu valor em euros mas o seu peso
no PIB (D/PIB*100) que representa “a dívida pública enquanto proporção do Valor
Acrescentado (rendimento) criado na economia, num dado ano”.
Porque se usa este indicador? Porque a capacidade de um país para pagar a sua dívida depende
do valor da riqueza criada nesse país, ou seja, quando o PIB cresce, aumenta a capacidade de
pagar a dívida.
VI. Finanças Públicas e Política Orçamental
Na generalidade dos países desenvolvidos assistiu-se a um agravamento do peso da dívida pública no
PIB, desde os anos 1970, relacionado, entre outras causas, com:
- desenvolvimento do Estado Providência (agravado, nalguns países, pelo envelhecimento da
população)
- inversão da relação de grandeza entre a taxa de crescimento do PIB e a taxa de juro da dívida.

Vejam-se os exemplos dos EUA e da Alemanha:

Taxa de crescimento média anual do PIB

Taxa de juro média

Dados dívida pública dos países da OCDE: https://data.oecd.org/gga/general-government-debt.htm

Outros fatores explicativos relevantes são também:


• Os ciclos político-económicos (na tentativa para serem reeleitos os governos tendem a aumentar os
gastos públicos em anos eleitorais, mesmo que isso não se justifique em termos económicos);
• O “efeito miopia” dos/as cidadãos eleitores: os benefícios de um défice “hoje” são claros e visíveis
para as/os eleitores, enquanto o custo associado aos impostos a cobrar “amanhã” (para pagar a
dívida) é distante, não totalmente conhecido, e tende a ser relativizado ( importância da
educação económica e cívica!!)
Face ao agravamento das dívidas públicas, a partir dos anos 1990 a estabilização do rácio da dívida
pública no PIB surgiu como preocupação central dos governos. Tal implica a redução/eliminação do
défice orçamental primário e, portanto, a chamada consolidação orçamental ou seja, uma política
orçamental que promove a sustentabilidade do rácio “dívida pública/PIB”.
VI. Finanças Públicas e Política Orçamental
Consolidação Orçamental e Política Orçamental Contra-Cíclica
Desde a chamada “Revolução Keynesiana” (anos 30 do séc. XX) que se percebeu que a política
orçamental tem relevância para conseguir a estabilização da conjuntura económica no curto prazo,
através da suavização dos ciclos económicos.
Para que este objetivo seja conseguido é necessário que ocorra aumento das despesas públicas
durante os períodos de recessão por forma a compensar a quebra da despesa privada (em consumo e
investimento) política orçamental expansionista
Como nos períodos de recessão o rendimento das famílias e das empresas diminuí, os impostos que
estas pagam também diminuem (lembre-se que os impostos são uma percentagem do rendimento ou
da despesa). Ao mesmo tempo, também tendem a aumentar algumas transferências sociais (por ex. o
subsídio de desemprego). Então, com aumento de despesas e redução de receitas, o Saldo
Orçamental primário tende a agravar-se em fases de recessão.
Mas, para que estas intervenções de política não gerem efeitos perversos sobre o endividamento do
Estado é, também necessário que, nas fases de expansão do ciclo económico, o Estado modere as
suas despesas para ‘compensar’ os défices acumulados durante a recessão  política orçamental
contracionista
Esta orientação geral da política orçamental (expansionista em recessão, contracionista em expansão)
diz-se contra-cíclica porque estimula a economia quando a fase do ciclo é negativa e refreia o
crescimento excessivo quando a fase do ciclo económico é de expansão rápida. Deste modo, permite
atenuar as flutuações económicas que causam incerteza e desencorajam o investimento privado.
Por outro lado, esta é a única orientação de política orçamental capaz de garantir consolidação
orçamental, a médio prazo, e evitar acumulação excessiva de dívida, num quadro geral de crescimento
económico a ritmo moderado (como o que se vive na Europa nas últimas décadas).
VI. Euro e Política Orçamental

Veja:

Comissão Europeia (2018) “ O Euro” in A Europa em 12 lições,


pág. 55 – 60.

Pode também consultar:


https://commission.europa.eu/business-economy-euro/economic-and-fiscal-policy-
coordination/european-semester/european-semester-timeline_pt

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